Buscar

QUESTÃO SOCIAL UNI3

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

QUESTÃO SOCIAL NO
CONTEXTO BRASILEIRO E
LOCAL
CAPÍTULO 3 - O QUE SÃO AS
MÚLTIPLAS EXPRESSÕES DA
QUESTÃO SOCIAL?
Suziane Hermes de Mendonça Soares
INICIAR 
Introdução
O Serviço Social insere-se na sociedade capitalista entre a produção, a reprodução
da força do trabalho do capitalismo e a distribuição desigual da riqueza produzida
nesse processo; entre a necessidade e as ações públicas e/ou privadas que
respondam às expressões da questão social e o planejamento e/ou implantação
dessas ações em seus locais de trabalho.
Quais as particularidades da sociedade brasileira e as desigualdades presentes no
país? Qual a relação da pobreza com a exclusão social? De que forma tem ocorrido
as mudanças nas relações de trabalho? Este capítulo é dividido em quatro tópicos
que responderão a tais questionamentos, tratando das expressões das
desigualdades e as particularidades brasileiras, da exclusão social, da precarização
do trabalho e das violências sofridas pelos trabalhadores, das tendências e
perspectivas da desigualdade social atual e da inclusão social com suas demandas e
intersecionalidades.
O Serviço Social não evolui da caridade, filantropia ou de uma solidariedade repleta
de valores morais. Ele surge e se mantém em função do conflito de interesses das
classes constitutivas do sistema capitalista. Atuando nas mediações entre as classes
se situa o Estado e, por meio de suas intervenções, foram ampliadas as políticas
sociais e com elas os espaços socio-ocupacionais do Serviço Social.
Após o estudo deste capítulo, espera-se que você seja capaz de identificar o contexto
histórico nacional e local em que se desenvolve a questão social a partir dos
processos sociais e institucionais que se interpenetram na subjetividade e nos
processos particulares dos sujeitos sociais. 
3.1 As expressões das desigualdades e
as particularidades brasileiras
O Estado vem se remodelando em face das diversas expressões da questão social
encontradas principalmente devido à expansão do capitalismo monopolista, isto é,
o crescimento na produção industrial e a concentração produtiva. Dessa forma,
surge a necessidade de minimizar os impactos desse tipo de desenvolvimento,
contudo, o Estado continua sendo o maior empregador de assistentes sociais em
suas políticas públicas enquanto o crescimento da desigualdade não é freado.
As intervenções profissionais contemporâneas ocorrem nos mais variados espaços
socio-ocupacionais e o objeto do Serviço Social se apresenta nas diferentes
manifestações da questão social.
E você, consegue pensar em quais são as expressões da questão social em sua
cidade? Como intervir nas diferentes expressões da questão social? O que seria uma
expressão da questão social na sociedade brasileira?
A partir deste tópico, você será capacitado a desenvolver as competências
necessárias à intervenção sobre as expressões da questão social.
O termo intervenção, que quer dizer “ato ou efeito de intervir”, “tomar parte em”, é
muito utilizado no Serviço Social dada a especificidade do trabalho do profissional
sobre as expressões da questão social e, sobretudo, pela vertente hegemônica da
teoria crítica. 
3.1.1 Breve histórico das desigualdades no Brasil
De acordo com Ribeiro (1995), a modernização brasileira torna-se incompleta com a
estagnação econômica e os diversos problemas sociais do país. Ela gerou uma
espécie de ideologia provinciana que identifica o moderno com o equipamento
técnico de última geração, o chamado “coisa de Primeiro Mundo”. Essa operação
ideológica serve para impedir a visão do que seria uma modernização integral da
sociedade, a qual transformaria não apenas o equipamento técnico, mas,
sobretudo, a enorme diferença de classes do Brasil, um país rico, mas desigual.
O esclarecimento sobre o tipo de modernização que o Brasil experimentou permite
entender melhor a situação anômala do país — dinâmico em termos econômicos,
mas extremamente desigual em termos sociais. Essa situação contraditória indica
que o Brasil não pode ser incluído entre os países pobres. Como isso se explica? A
única explicação para o fato de ele apresentar um cenário de desigualdade com
destaque para a pobreza tão grave e extensa é que a riqueza está muito mal
distribuída. Diversos índices dos mais variados organismos de pesquisa social e
econômica comprovam esse aspecto. Por exemplo, o Brasil tinha em 2007 a sexta
economia do planeta, mas no ano anterior, segundo o IBGE (2010), apresentava a
décima pior distribuição de renda entre 126 países e territórios. Ou seja,
caracterizava-se pela alta concentração de renda e ao mesmo tempo por uma parte
considerável da população vivendo na pobreza.
A renda dos ricos era em média trinta vezes maior que a dos pobres. Para que esses
índices sejam reveladores é interessante compará-los com os índices relativos a
outros países. Na Suécia, por exemplo, a renda dos ricos é no máximo seis vezes
maior que a dos pobres. No vizinho Uruguai essa diferença é de no máximo dez
vezes (PIKETTY, 2014).
A população pobre do Brasil é maior que a população total de muitos países. Em
2010, segundo o IBGE, no seu censo demográfico, 53,9 milhões de brasileiros eram
considerados pobres, ou seja, tinham renda familiar inferior a um salário mínimo.
Destes, 20,3 milhões viviam em situação de miséria com uma renda familiar inferior
a um quarto do salário mínimo. Um dado inquietante: aproximadamente 50% da
população infantil com menos de dois anos de idade está na linha de pobreza.
Esses índices apresentados pelo IBGE (2010) e as comparações estabelecidas
indicam que o Brasil não pode ser considerado um país pobre. A conclusão mais
correta é considerá-lo um país que apresenta alto índice de pobreza atingindo parte
significativa da população. A carência resulta não da falta de recurso, mas da
repartição desigual.
A que conclusão chegamos? A má distribuição de renda é a responsável pela geração
e pela reprodução da pobreza. 
VOCÊ SABIA?
Você sabia que expressões do tipo “pobre não gosta de trabalhar” ou ainda “pobre não sabe fazer
nada e não consegue compreender nada”, muito comuns, resultam do preconceito que é sempre
socialmente produzido? Essas frases operam uma naturalização do social, isto é, elas apagam o
caráter histórico e social de um fato reduzindo-o a um acontecimento natural. 
Considerado na perspectiva descrita, um fato como a pobreza deixa de ser encarado
como resultado das práticas sociais ou da estruturação da sociedade para ser
considerado um atributo natural de uma pessoa, de um grupo, de uma classe e até
mesmo de um povo. É o que a natureza reserva para alguém ou para um conjunto de
pessoas, marcando e determinando sua existência. Não se pode lutar contra o que é
natural, pois a natureza é regida por leis imutáveis que escapam ao controle
humano, tornando impotente qualquer ação para transformá-la decisivamente. A
naturalização informal induz ao conformismo, à aceitação passiva e resignada do
que é histórico e socialmente produzido. 
O filme Memórias do cárcere (SANTOS, 1984), dirigido por Nelson Pereira dos Santos e baseado no livro de
Graciliano Ramos de mesmo nome, conta a história do autor que foi preso na década de 1930 por ser
associado ao partido comunista. Na prisão, ele é submetido a condições insalubres, passa fome e convive
com outros presos.  
VOCÊ QUER VER?
Uma operação ideológica mantém uma determinada ordem social e uma
configuração da vida econômica. Então, como devemos tratar a pobreza? O que se
deve fazer, em primeiro lugar, é criticar os preconceitos que a cercam. É
fundamental abandonar qualquer tentativa de explicar o que é social e histórico por
meio do uso do conceito de natureza humana, pois isso configuraria a naturalização
do social. 
3.1.2 O Brasil e suas particularidades
A pobreza que costuma estar relacionada à exclusão social não diminuiu com a
industrialização estimulada a partir dos anos 1930. Embora o país conhecesse
grande crescimento econômico entre as décadas de 1950 e o início da década de
1970, a primeira crise mundial do petróleo, em 1973,seguindo um processo de
financeirização da economia nos países desenvolvidos provocou no Brasil sensível
desaceleração da economia gerando desemprego (SANTOS, 2012). 
Os pobres foram objeto de muitas representações na literatura brasileira, a exemplo de “Vidas Secas”, de
Graciliano Ramos, em que a pobreza foi configurada em seus traços mais perversos equivalendo a uma
análise sociológica sem deixar de abordar a injustiça social, a luta pela sobrevivência e a esperança. 
Os anos 1980 assistiram à intensificação no ritmo do crescimento da pobreza e da
exclusão social. Os índices de crescimento econômico baixaram sensivelmente
passando de 2,4 para 1,9 no final da década. A taxa de investimento recuou de 18,4%
do PIB para 17,7%, caindo para 15,6% na década de 1990 (IBGE, 2010). O
desemprego cresceu na mesma proporção. Diminuiu o número de trabalhadores
inseridos na economia formal.
O modelo de modernização excludente fundamentado na importação de produto e
de equipamentos tecnológicos oriundos da terceira Revolução Industrial gerou
desemprego em massa. Grandes contingentes viram-se condenados a viver de
pequenos expedientes ou a desenvolver trabalhos ocasionais sem vínculo formal. A
situação agravou-se nos anos 1990 com a introdução das políticas neoliberais, as
VOCÊ QUER LER?
quais aproveitaram a escassez de oferta de postos de trabalho para promover a
desregulamentação das leis trabalhistas, que acabou conhecida como “flexibilização
do trabalho” (SANTOS, 2012).
As transformações iniciadas na década de 1970 permitem identificar um novo
mecanismo gerador da exclusão social que consiste em um processo econômico que
substitui o trabalho humano por máquinas sofisticadas, ao mesmo tempo em que
emprega mão de obra ocasionalmente e de maneira flexível, ou seja, sem
obediência às leis trabalhistas (SANTOS, 1994).
Por meio da demissão de empregados legalmente contratados ou estáveis
substituídos por mão de obra eventual, contratada por tempo determinado ou por
tarefas sem vínculos ou direitos trabalhistas, produz-se uma constante
“precarização” na esfera profissional. A exclusão, nesse caso, implica a eliminação
de postos de trabalho.
Por esse motivo, a dinâmica da modernização capitalista no Brasil gera um tipo novo
de exclusão, tão intenso que pode acabar provocando o aparecimento de uma
“apartação social” — expressão associada ao regime de apartheid de segregação
racial que vigorou na África do Sul —, ou seja, a geração de duas classes muito
distintas: uma economia com maioria de despossuídos e uma minoria de
proprietários ricos enclausurados em territórios fechados, apartados da cidade.
De certo modo, já é esse o cenário predominante nas grandes e nas médias cidades
do país. Os ricos tendem a morar em condomínios fechados e a locomover-se em
automóveis blindados, de modo a evitar todo e qualquer contato com a população
mais pobre. A apartação social gera e fortalece o preconceito, como é visível nas
práticas sociais já descritas. Ela produz intensa discriminação contra o pobre a qual
se estende até a recusa do rico em frequentar espaços públicos ao alcance de todos.
Esse fenômeno perverso também tende a provocar uma rápida deterioração das
vastas regiões das cidades maiores, com o crescimento desmedido da violência e do
narcotráfico. A falta de perspectivas para os jovens, nesse cenário, vem agravar
ainda mais a pobreza e a exclusão social.
Podemos dizer que a pobreza é um fenômeno histórico e social. E o que isso
significa? Significa que ela está relacionada à estrutura da sociedade e ao modo com
que cada classe social se apropria dos bens produzidos ou da riqueza gerada. A
pobreza não é recente, e teve seu sentido redefinido com a sociedade de classes: ser
pobre na Idade Média não é o mesmo que ser pobre na época da Revolução
Industrial, na medida em que a pobreza era relacionada à escassez, à falta, na Idade
Média, e a partir da Revolução Industrial passa a ser relacionada à ausência do bem
de consumo e não mais à sua escassez.
Não é fácil delimitar ou definir a pobreza, já que se trata de um fenômeno
multifacetado. Um modo de configurá-la é o que recorre aos índices relativos à
renda pessoal ou familiar — o critério oficialmente adotado no Brasil. Na verdade,
ele é mais adequado para medir o consumo, não a pobreza. A renda não é fixa,
estando submetida a expressões de toda sorte. Além disso, é difícil auferir o
rendimento das pessoas ou das famílias, visto que nem todo trabalhador possui
carteira assinada. Muitos se dedicam a atividades informais sem controle efetivo de
renda.
Nas últimas décadas, diversos projetos foram criados para o combate à pobreza no
Brasil. A pobreza não é algo a ser aceitável na sociedade, apesar de ser recorrente,
pois alguns seguem acreditando que a pobreza é algo produzido pelo próprio
indivíduo em vez de considerarem as relações sociais e suas reproduções sociais
capitalistas como determinantes e relativas, que culminam na falta de autonomia
econômica, insegurança alimentar, problemas habitacionais, dificuldade de
tratamento de saúde, ausência de reconhecimento social e baixa formação, entre
outros. Apenas por meio de ações coletivas e pressões sociais será possível
transformar as circunstâncias econômicas e culturais fundamentais que deflagram a
pobreza. As pressões sociais são transformadas pela ordem institucional — recebem
as características da instituição (hierarquia, burocracia, cultura, disciplina). 
As modificações introduzidas pelas políticas sociais brasileiras já demonstram
projeções sociais e algum tipo de mobilidade social conquistado pela participação
da população em Conselhos, articulações de movimentos sociais e fortalecimento
Quadro 1 - As instituições exercem ações favoráveis à manutenção da ordem capitalista. Fonte:
Elaborado pela autora, baseado em SANTOS, 1994.
da participação social como um todo. O assistente social entra nesse cenário para
proporcionar o acesso aos direitos sociais e o fortalecimento da cidadania
atualizada na potencialidade do indivíduo.
Como a ação do profissional ganharia mais força para sua articulação e fomento dos
mínimos sociais? Aliado à ação profissional é necessário focar nas instituições que
são atores sociais e fazem parte da rede de intervenção em situações, por exemplo,
como a pobreza, para que esta situação como outras enfrentadas pelos
trabalhadores não sejam naturalizadas e o trabalhador não seja culpabilizado por
sua condição.
A pressão social aumenta rapidamente com o surgimento de movimentos sociais,
associações e outras formas de organização popular, num quadro paradoxal de
crescente participação corporativa de vários setores e decrescente capacidade de
decisão do sistema político. É nesse clima de crise política de grandes proporções
que se dá também o complexo processo constituinte que irá gestar a nova
Constituição e uma legislação social ganhará espaço. Vejamos o exemplo do
“Estatuto da Criança e do Adolescente” que vem substituir o “Código de Menores”.
Na década de 1980 foram propostos debates após organizações populares e
reivindicações de atores sociais como o Movimento dos Meninos e Meninas de Rua,
OIT e CNBB, que culminaram na reformulação da lei. 
Figura 1 - O cenário político e social no Brasil passou por diversas transformações, incluindo a atenção
às crianças e aos adolescentes. Fonte: Elaborado pela autora, baseado em RIBEIRO, 1995.
Quanto à Assistência Social, a elaboração da sua Lei Orgânica vai ocorrer com atraso
e muitas dificuldades para aprovação. Com o escândalo das subvenções surgiram
também atos moralizadores cancelando o registro e o certificado das entidades
sociais e determinando exceções. Finalmente tem-se promulgada a Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS), que extingue o CNSS e cria o Conselho Nacional da
Assistência Social (CNAS), que foi instituído pela Lei Orgânica de Assistência Social n.
8.742/93. 
O site do Conselho Federal de Serviço Social disponibiliza diversas legislações de caráter social para
leitura. Basta acessar para aprofundar o conhecimentosobre: SUAS, ECA, LOAS, “Constituição de 1988”,
“Política Nacional do Idoso”, “Estatuto da Juventude”, “Lei de Segurança Alimentar”, “Lei Orgânica da
Saúde” e “Política Nacional de Saúde Mental”, entre outros. Disponível em:
<http://www.cfess.org.br/visualizar/menu/local/legislacoes-sociais
(http://www.cfess.org.br/visualizar/menu/local/legislacoes-sociais)>. 
Assim, a assistência social pública se voltou historicamente para a introdução de
mecanismos de apoio às organizações e não diretamente à população. O
reconhecimento estatal das necessidades da população permaneceu, portanto,
mediado por organizações truncando a possibilidade da efetivação da cidadania dos
segmentos fragilizados. 
VOCÊ QUER LER?
3.2 Exclusão social, precarização do
trabalho e violências
            Ao entender que a questão social é identificada nas desigualdades sociais
geradas pelo capitalismo, as manifestações que buscam a superação dessas
desigualdades devem ser discutidas para que compreendamos as expressões da
questão social (CASTEL, 2009). 
http://www.cfess.org.br/visualizar/menu/local/legislacoes-sociais
Com a Constituição de 1988, todos os problemas sociais foram sanados? Deixamos
de ter exclusão social, precarização do trabalho e violências? A existência de uma
legislação social mudou a sociedade?
Ao fim deste tópico, você será capaz de identificar pontos de conflitos entre capital e
trabalho, observando as características que demonstram as possibilidades de
exclusão social. 
3.2.1 Intervenção profissional diante da exclusão social
A intervenção profissional diante da exclusão social nos leva a examinar a pobreza
cada vez mais como um fator excludente do mundo do trabalho, pois o indivíduo
não se integra por não conseguir entrar na escola. Consequentemente, não terá uma
formação adequada para aprender e, assim, numa espiral de lógica deturpada, não
consegue se adaptar aos novos insumos tecnológicos inseridos no trabalho.
Por outro lado, a degradação do mundo do trabalho com menores salários e
maiores esforços cria cada vez mais doenças provocadas pelos seus excessos de
cobrança e de números a serem cumpridos sem jamais serem alcançados causando
desconforto, sensação de inutilidade, impossibilidade e irresponsabilidade para
aqueles que pensavam ter formação suficiente para lidar com os novos meios de
trabalho. 
Os call centers seriam exemplares de um trabalho informacional com alto controle, o
que os colocaria entre as esperanças do pós-taylorismo e os temores do
neotaylorismo. O neoteylorismo se faria notar por: submissão ao tempo e à estrutura
dos so�wares; controle racional do tempo e do trabalho por meio da informática;
Quadro 2 - As expressões da questão social como sinais de desigualdades. Fonte: Elaborado pela
autora, baseado em SANTOS, 2012.
produtividade máxima em detrimento das boas condições físicas e psicológicas dos
trabalhadores — ver as lesões por esforço repetitivo e depressão, há um script rígido e
mínimo (como chamar o cliente pelo nome ter o ‘sorriso na voz’ além de fornecer as
informações mínimas definidas a priori), que deve ser associado a uma margem de
autonomia (adaptação ao cliente: idade, região, escolaridade, humor, interação)
(ROSENFIELD, 2007, p. 173). 
Contudo, sempre despertam formas de resistir, mesmo num ambiente profissional.
As resistências se dão por meio de lideranças entre os próprios iguais ou entre as
minorias. 
CASO
No atendimento de telemarketing, a exploração ocorre até mesmo nas pequenas coisas, como
controle de pausas para utilização de banheiro. Tentando burlar estas e outras situações, os
operadores finalizam ligações sem a supervisão ficar sabendo, transferem-nas para outros setores,
se desconectam do sistema e informam que este está inoperante. Certamente você já passou por
algum atendimento em que aconteceu uma dessas situações. Isso pode ser considerado resistência
(ROSENFIELD, 2007). 
Observamos que a luta por direitos está cada vez menos acirrada. A novidade da
hora, como dizem alguns, é que ser cidadão é ter poder de compra. Ganha a
passagem para os direitos de cidadão quem puder e quiser comprar objetos que
garantam status social perante os outros. Cidadão é quem mora “no asfalto”, como
dizem os moradores dos morros cariocas. Cidadão é quem anda “na beca”, ou seja,
“bem-vestido” ou “usando roupa da moda atual”, segundo a gíria. Isso não garante
que a pessoa deixou de estar excluída socialmente, só tenta se sentir incluída em
seu grupo de convívio.
O que peculiariza boa parcela desses segmentos é que, situados nas bordas da
sociedade oficial, eles se veem e são vistos como uma “não sociedade”, ou uma
“contrassociedade” — e assim interatuam com a ordem. 
Sendo assim, a concepção de projeto ético-político da profissão está intimamente
ligada à história da sociedade e suas implicações sociais e políticas que serão
traduzidas nesse processo. Como vimos anteriormente, a cidadania é concedida
pelo acesso aos bens e quiçá aos serviços técnicos operativos com profissionais
qualificados. A assistência social, atualmente, deixou de ser uma política de segunda
categoria para se inscrever no quadro das estratégias governamentais vinculada,
entretanto, aos projetos monopolistas do capitalismo. 
José Paulo Netto, considerado intelectual marxista clássico, militante histórico do Partido Comunista
Brasileiro e escritor na área de Serviço Social, para a qual trouxe contribuições relevantes à práxis do
assistente social, principalmente por debater a história do Serviço Social no período da ditadura militar.
O assistente social usa da dialética marxista para atuar na mediação do Estado com
os setores excluídos e subalternizados situado em um campo de interesses
contrapostos. Categorias analíticas: pobreza, exclusão e subalternidade (IAMAMOTO,
2001) são referências porque propiciam uma leitura das vidas dos usuários, já que
existem diferentes níveis de exclusão.
Quadro 3 - Vetores de flexibilização da cultura capitalista. Fonte: Elaborado pela autora, baseado em
IAMAMOTO, 2001.
VOCÊ O CONHECE?
O filme A história das coisas (LEONARD, 2007), conta como o consumo traz impactos diretos ao meio
ambiente, o custo real dos objetos e os estágios da economia. Todas as fases da produção até o descarte
são abordadas de forma instrutiva. Uma animação apresentada por Annie Leonard, disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=zlaiQwZ2Bto (https://www.youtube.com/watch?v=zlaiQwZ2Bto)>. 
A exclusão integrativa (SOUZA, 2010) é inerente ao capital. A assistência expressa o
não acesso dos usuários à riqueza produzida. As políticas de assistência não
contribuem para uma superação do usuário e, como as outras políticas sociais, não
contribuem para a alteração das relações da vida da população. Esse texto tem uma
análise teórica diferente da de Sposati (1999). A autora considera a questão do
caráter contraditório das políticas públicas e pensa essas políticas pela óptica das
relações de classe e também do cotidiano das classes subalternas. Ela se pergunta
sobre a potencialidade da assistência social: ela pode ser o protagonismo político
das classes subalternas. 
3.2.2 Precarização do trabalho, violências diante da proteção social
nos espaços público e privado
A proteção social como um “campo teórico de interesse profissional” é apresentada
por Suely Costa (2009) como fio analítico para o exame do Serviço Social e das
transformações operadas na cultura profissional em um norte alternativo. Para a
autora, desde os seus primórdios, é “parte de processos civilizadores que incluem
experiências e estado de consciência voltados para a proteção social” (COSTA, 2009,
p. 25).
Sendo esta uma regularidade histórica, revela muitos significados na vida humana.
Foi da proteção social que os assistentes sociais sempre se ocuparam, o que
demarca seu campo profissional. Segundo Costa (2009), a proteção social envolve
múltiplas dimensões dos processos históricos, pois a vida humana não se move
apenas de tensões interclassistas, sendo a luta de classes um dentre muitos
processosque a impulsionam. Essa concepção exige “mudança de paradigmas
envelhecidos”, de que “tudo parece explicar” — por exemplo, a polarização das
classes sociais — nos quais não se sustém a abordagem proposta. A autora investe
contra a “onipotência das explicações genéricas”; e as posições que veem a
profissão circunscrita às formas de controle social inspiradas num dado legado
marxista de raízes economicistas (COSTA, 2009).
VOCÊ QUER VER?
https://www.youtube.com/watch?v=zlaiQwZ2Bto
A concepção de proteção social na perspectiva de longa duração é o campo teórico
de interesse profissional que abrange padrões de proteção social de formulações
pré-industriais, industriais e pós-industriais — para além do Estado de Bem-Estar
Social — envolvendo processo de autoajuda de diferentes redes de solidariedade e
sobrevivência no interior de vários momentos de vida. Essa concepção preconiza o
reencontro do Serviço Social com suas “velhas tradições” que devem ser atualizadas
e reinventadas.
Costa (1995) considera rica a abordagem marxista que inclui a proteção social no
âmbito das continuidades dos modos de organização social e coletiva agrupados no
conjunto teórico denominado reprodução social. Para a autora, existem cautelas
teóricas a serem observadas, uma vez que a noção de reprodução se vincula à teoria
da produção em Marx, derivando daí um pesado legado economicista que desde os
anos 1960 está sob crítica.
Atribuir a identidade de Marx ao economicismo é adensar a fogueira do
antimarxismo, ainda que em nome do resgate das particularidades culturais e da
experiência dos sujeitos no âmbito do pensamento marxista.
Conforme a concepção de proteção social, Costa (2009, p. 75) 
[...] não a considera como política pública, e sim de experiências autogestionárias ou
não de proteção social que restaurem o aparato assistencial com as redes de
solidariedade e os grupos de autoajuda admitidos como capazes de conduzir as ações
de defesa dos interesses coletivos. 
Em tempos neoliberais, pensar em práticas de proteção social, exclusivamente nas
chamadas “relações intrassociais”, pode servir aos interesses no poder: a restrição
de responsabilidade do Estado no campo das políticas públicas em resposta à
questão social em nome das indicativas solidárias da sociedade civil.
Por outro lado, Costa (1995) chama atenção para a questão da sociabilidade
cotidiana das classes subalternas, as indicativas solidárias no âmbito das classes
trabalhadoras como estratégias culturais e políticas para a garantia de sua
sobrevivência em uma sociedade desigual.
À forma de combinação de instituições “capitalistas” e “pré-capitalistas” articulam-
se as formas pública e privada. As subvenções públicas, as nacionalizações foram
abrangendo as atividades anteriormente entregues à ação localizada da Igreja ou
dos municípios. Em geral, as igrejas assumem os serviços não lucrativos, tendo
como categoria alvejada as camadas mais pobres da população e assumindo os
serviços mais caros, como os equipamentos hospitalares de alto custo.
Realiza-se assim uma verdadeira socialização dos custos. As organizações privadas
possuem clientelas que podem pagar os serviços prestados, quando não são
financiadas diretamente por elas, por intermédio dos poderes públicos. Os serviços
habitacionais, de saúde, de educação combinam os financiamentos públicos,
pagamentos particulares, propriedade pública, propriedade privada e
intermediários privados.
Os intermediários (hospitais, financeiras, despachantes, escolas) que são
financiados pelo poder público têm um mercado garantido por este que recolhe os
fundos globais necessários a seu financiamento de forma compulsória (fundos de
garantia por tempo de serviço, contribuições aos seguros sociais, impostos e taxas).
Esta divisão social do trabalho implica não só duplicidade, mas uma divisão
qualitativa.
Os serviços públicos são, em muitos países, de segunda qualidade, burocratizados e
lentos. Os serviços privados aparecem como eficazes e rápidos. Contudo, na
realidade, há uma complementação. Uns dependem dos outros para certos serviços.
De que forma isso se dá? A tendência é a utilização dos setores privados como canais
do poder público, como já acontecem com os bancos para o recolhimento e
pagamento de impostos e taxas. Assim se mantém um processo de reprodução das
desigualdades sociais por meio dos canais institucionais estabelecidos e de seus
mecanismos de funcionamento.
A modernização das instituições, no contexto que acabamos de expor, implica
também a “modernização” de seus profissionais e técnicos. Daí a adoção de
inúmeras estratégias de administração, planejamento e análise institucional. Os
profissionais devem ser capazes de ordenar os recursos, elaborar meios eficazes e
alcançar objetivos propostos pelas instituições.
O desafio de apresentar teoricamente a questão da prática institucional e a
intervenção profissional contemporânea é tão complexo quanto a própria atuação.
Já se conhecem as matrizes e os matizes das discussões teóricas sobre a prática
profissional, mas os profissionais de campo estão ansiosos por vislumbrar
alternativas de ação que se possam viabilizar. É, no entanto, necessário lembrar que
viabilização implica conflitos e confrontos de poderes e saberes (FALEIROS, 2011).
E quanto ao caso brasileiro? Como deve ser entendida a atribuição de recursos pelas
instituições? Ela deve ser, pois, entendida de forma específica, no contexto de um
capitalismo dependente marcado pelo autoritarismo, pelo clientelismo e pela
burocracia.
O clientelismo se caracteriza por uma forma de espoliação do próprio direito do
trabalhador de ter um acesso igual aos benefícios sociais pela intermediação de um
distribuidor que se apossa dos recursos ou dos processos de consegui-los trocando-
os por formas de obrigações que se tornam débitos da população. Elas são
cobradas, por exemplo, em conjunturas eleitorais ou mesmo para serviços pessoais
aos intermediários. Eliminando-se a igualdade de acesso, característica do próprio
direito burguês, o clientelismo gera a discriminação, a incompetência, o
afilhadismo.
O autoritarismo implica o fechamento de todo o processo de elaboração das
políticas públicas à negociação vindo impostas de cima para baixo unilateralmente.
O autoritarismo não aceita a contestação, o questionamento, a divergência,
utilizando a repressão como meio privilegiado de manter a ordem social. Por
paradoxal que pareça, o clientelismo e o autoritarismo se articulam com formas
burocráticas de atribuição dos recursos, enquanto estabelecimento de uma
panóplia administrativa regulamentadora que implica uma tramitação enredada e
complicada dos famosos “processos” ou “prontuários”.
Os processos vão de mão em mão, engordando suas páginas com pareceres e
assinaturas e enchendo as gavetas de funcionários que nada mais fazem que o
despacho para outro funcionário. 
3.3 Tendências e perspectivas da
desigualdade social atual
O Estado burguês, ao lado da exclusão econômica e política, deve assegurar uma
distribuição de benefícios e o atendimento às demandas da força de trabalho, ainda
que se contraponham a certos interesses do capital. É, portanto, um Estado de
alianças, inclusive de interesses conflitantes que se modificam no curso do processo
histórico. Nesse movimento, são as políticas sociais o espaço de concretização dos
interesses populares, embora absorvidos no limite do pacto de dominação.
As práticas assistenciais governamentais, como produtoras de bens e serviços, são
um espaço para a constituição de uma nova forma de cidadania para as classes
subalternizadas. Não basta a constatação empírica dos assistentes sociais de que a
assistência que acontece se reveste de um caráter paliativo, não resolvendo os
problemas da força de trabalho, que aumentam a cada dia. É impossível uma leitura
da assistência de per si sem atentar para as determinações sociais e históricas do
significado da assistência como política governamental, de sua imbricação com as
relações de classe e destas com o Estado.
3.3.1 OEstado e as tendências atuais
A prestação de serviços é meramente reprodutora, paternalista e opressora. Isso
significa afirmar que a prática profissional é unidirecional, realizando somente o
interesse do capital. Há que se recuperar no âmbito da ação profissional os
interesses dos setores populares. Há que se ter presente que esses serviços atendem
a necessidades concretas da população.
O caráter assistencialista quando presente na prática do assistente social não é
decorrência simples e direta da tarefa, da atividade que cumpre, mas sim da direção
que imprime a ela. Consequentemente, a questão não se reduz ao objeto, mas a
como ela se desenvolve. Dessa forma, como devem ser compreendidas as
finalidades das ações? Elas devem ser compreendidas para além delas mesmas em
relação aos elementos políticos, sociais e econômicos que as determinam e às
circunstâncias históricas em que se desenvolvem.
O assistencialismo não é uma leitura particular da profissão, mas uma das
atividades sociais que historicamente as classes dominantes implementaram para
reduzir a miséria que geravam e para perpetuar o sistema de exploração do
trabalhador (ALAYON, 1995). É, pois, uma parte da lógica capitalista. O assistencial
torna-se a única face possível do capitalismo a justificar as desigualdades sociais.
Romper o assistencialismo e se tornar presente não é romper o serviço em si, mas
com o engodo, com o mágico que é reificado em sua mediação. Não há uma
subordinação plena nem uma inclusão plena na constituição/implementação das
políticas sociais. Romper com práticas assistenciais é romper com o vínculo do
conformismo na relação entre possuído/ despossuído. Reorientar a prática
assistencial da direção da luta pela constituição da cidadania implica ir além do
aparente, de modo a fazer emergir a relação particular-universal, a vinculação entre
o destino singular vivido e os determinantes gerais da classe a que pertence.
A partir desta leitura, a construção do Sistema Único de Assistência Social — SUAS
—, segundo Sposati (1999), exige que se tenha como ponto de partida a unidade de
concepção quanto ao âmbito e seu conteúdo, da política de assistência social sob o
paradigma do direito e da cidadania, o que traz a necessidade de ruptura com o
paradigma conservador que organiza a assistência social pela fragmentação de
serviços sociais, passando a operar a assistência social como política pública
visando assegurar direitos consistentes em prestações pelo Estado e pela sociedade
aos segmentos em situação de vulnerabilidade e devendo manter rede de serviços
para garantia de proteção social ativa.
Costa (2009) apresenta como modelo de gestão descentralizado uma nova lógica de
organização das ações socioassistenciais com base no território e foco prioritário na
atenção às famílias. O SUAS introduz uma concepção de sistema orgânico em que a
articulação entre as três esferas de governo constitui-se elemento fundamental,
tendo como uma das questões básicas a retomada da centralidade do Estado na
garantia da existência de serviços estatais como articuladores dos serviços
socioassistenciais necessários. Para tanto, parte-se do pressuposto de que o acesso
à política de assistência social se dará na condição de sujeitos de direitos.
A organização dos seus serviços aponta para a necessidade de garantir a qualidade
de acesso na condição de direito e de enfrentar o grande desafio de romper com
uma cultura instalada e enraizada na sociedade brasileira — o que para Sposati
(1999) só será possível se superarmos as “formas de acesso seletivo aos serviços
socio-assistenciais e a aplicação de formas vexatórias de comprovação da
necessidade pelo usuário”. 
A construção descentralizada do SUAS implica a distribuição de recursos e poder,
uma vez que o “SUAS busca integrar as políticas de assistência social em um modelo
racional, equitativo, descentralizado, participativo e com financiamento partilhado
entre os entes federados” (SOUSA, 2010, p. 25). Outro ponto inovador é a
matricialidade sociofamiliar que coloca a família como alvo das ações. 
3.3.2 Tendências e propostas
Partindo do princípio histórico deve-se ressaltar que “o SUAS não é produto do
inesperado, da genialidade ou da prepotência da equipe do governo federal. Ele
resulta de quase 20 anos de luta na assistência social e do aprendizado com a gestão
da saúde, em particular o SUS” (SPOSATI, 1999, p. 80).
Os serviços de proteção social devem prover um conjunto de seguranças que
cubram, reduzam os riscos e vulnerabilidades sociais, bem como necessidades
emergentes ou permanentes decorrentes de problemas pessoais ou sociais de seus
usuários. De acordo com a PNAS/2004, o sistema deve garantir: segurança de
acolhida, segurança social de renda, segurança de desenvolvimento da autonomia e
segurança de benefícios materiais.
Quadro 4 - Construção descentralizada do SUAS e seus desdobramentos. Fonte: Elaborado pela autora,
baseado em PNAS, 2004.
Outros conceitos básicos para se entender os termos necessários no cotidiano da
intervenção na Política de Assistência Social são apresentados a seguir.
Avaliação de desempenho: acompanhamento constante do desempenho do
trabalhador considerando os desempenhos coletivo e individual. O contexto
da análise institucional deve ser garantido como um espaço de trabalho
adequado às contribuições ao cargo exercido para a superação do
desempenho. 
Educação permanente: favorecimento de ambientes para estudo,
capacitações e orientações direcionadas à função exercida. O complemento
da formação do trabalhador deve ser estimulado para que o cargo ocupado
seja exercido com eficiência e eficácia.
Controle social: a participação da sociedade civil organizada por meio de
conferências nacionais e estaduais de Assistência Social, conselhos de
Assistência Social e os respectivos fóruns como caráter essencial para a
implementação do SUAS. 
Descentralização dos serviços de assistência social: a execução de ações e
da prestação de serviços passa a ser exercida por instâncias de gestão e
decisão locais. A descentralização deve ser articulada pelo município, estado e
governo federal. 
Desenvolvimento do trabalhador para o SUAS: a ação volta-se ao pleno
desenvolvimento humano, à satisfação do trabalhador, ao reconhecimento, à
responsabilização com compromisso ético e pelos direitos sociais dos
usuários. 
Empregadores do SUAS: se referem aos gestores públicos dos serviços de
Assistência Social e às instituições ligadas a ela. 
Família referenciada: unidade familiar da localidade referenciada que
necessita de apoio, proteção e promoção de cidadania diante de um quadro
de vulnerabilidade.
FNAS: Fundo Nacional de Assistência Social, conforme o artigo 28 da LOAS,
regulado pelo Decreto n. 1.605, de 25 de agosto de 1995.  
Gestão do trabalho no SUAS: necessário ao funcionamento da organização
do sistema.
LOAS: Lei Orgânica de Assistência Social – Lei n. 8742, de 7 de dezembro de
1993.
 Figura 2 - Todas as formas de construção familiar são permitidas.
Fonte: VoodooDot, Shutterstock.
3.4 Inclusão social, demandas e
intersecionalidade
O Serviço Social avança em novos debates e a profissão entende que hoje lida com
novos padrões societários, os quais exigem novas formas de inclusão social diante
das demandas propostas. Uma abordagem que se segue na atualidade é a
compreensão da intersecionalidade.
O Serviço Social consegue manter um direcionamento teórico e intersecional? A
inclusão social exige novas formas de organização da sociedade? O controle social
se apresenta de que forma?
Ao fim deste tópico, você será capaz classificar os meios de inclusão social
identificando as atitudes necessárias para os atores sociais contemporâneos e as
formas de opressão que se atravessam. 
3.4.1 Demandas
Com o objetivo de compreensão das formas sistemáticas das mediações teóricas
que compõem os espaços explicativos da política social para a inclusão social em
meio às intersecionalidades existentes, fica clara a importância de apresentar com
maior propriedade as principais mediaçõesutilizadas dentro da política social. São
elas: o controle social e a promoção social.
Por intermédio do Controle Social, a sociedade se organiza formal e informalmente,
não apenas para monitorar os comportamentos individuais, mas, principalmente,
para monitorar as organizações públicas. 
VOCÊ SABIA?
Quando falamos em intersecionalidade, estamos falando do cruzamento ou sobreposição das
identidades sociais e, ao mesmo tempo, encontramos opressão.
Exemplo: mulher brasileira, negra e pobre — a intersecionalidade está presente na condição de ser
mulher e sofrer pelo machismo enraizado na sociedade brasileira e pela história socioeconômica da
população negra, que compõe a maioria dos pobres no país. Observe que trata-se de, ao menos,
duas problemáticas ligadas. 
Lisboa e Oliveira (2015) comentam sobre o Serviço Social e a intersecionalidade,
pois o assistente social deve direcionar sua luta contra todas as formas de
exploração, discriminação e preconceito. A intersecionalidade atravessa questões de
gênero, classe, raça/etnia, corpo, sexualidade, geração, deficiência, entre outras.
Na década de 1980, a sociedade brasileira experimentou o significado do controle
pela população em relação às ações do Estado. São novos atores sociais ou atores
antigos com novas organizações no sentido de atender aos interesses da maioria da
população. Essa concepção do termo foi concretizada pelo processo de
democratização, principalmente com a institucionalização dos mecanismos de
participação nas políticas sociais, conselhos e conferências.
Nessa percepção, o controle social representa o poder de fiscalizar o cumprimento
das leis e a aplicação dos recursos públicos dentro de um cenário voltado para a
possibilidade de responsabilizar governantes pelos atos de interesse público.
Com base nessa referência, verifica-se, então, que, como instrumento de controle
social está a participação, que pode exercer, por intermédio de diversos sujeitos
políticos, um controle sobre as ações do Estado, definindo critérios e parâmetros na
orientação da ação pública como afirma Teixeira (2002).
Apenas opinar não basta para que se considere a efetivação do exercício do controle
social na gestão das políticas. Diante disso, o que sinaliza a prática do controle
social? Sinaliza o acompanhamento da agenda pública, há que se saber onde e
como será gasto o fundo das políticas públicas e, assim, interferir no projeto
societário que o Estado desenvolverá, mediante controle da sociedade civil.
A efetivação do controle social pode ocorrer por meio das diversas organizações:
partidos políticos, conselhos locais, sindicatos, movimentos sociais, conselhos
gestores, orçamentos participativos, fóruns etc.
Com a descaracterização dos direitos sociais, os serviços sociais passam a ser
proporcionados pelas organizações não estatais, que passam a compor o chamado
“Terceiro Setor” regido pela lógica da filantropia, do voluntariado e da
solidariedade.
É mister que se aborde o Terceiro Setor, apresentado de maneira interposta na sua
relação com o Estado, o mercado e a comunidade para a regulação de bens comuns
de proteção social, as instituições que o estruturam para a sua intervenção social,
nelas coexistindo diversos sensos e recursos derivados da relação com o Estado, o
mercado e a comunidade.
A definição como espaço não estatal possibilita reconhecer as tendências presentes
na lógica neoliberal nesse campo e deixa claro o desafio para a gestão social diante
das questões sociais. O terceiro setor promove uma distinção de organizações
voluntárias sem fins lucrativos, as quais agregam desde associações comunitárias
até organizações em redes globais, participantes na área dos direitos humanos, na
defesa das minorias, na defesa do meio ambiente, no desenvolvimento local, entre
outras. Tais organizações traduzem particularidades polarizadas constantes na
sociedade contemporânea. 
A gestão da política social, nesse modelo neoliberal, está amparada na parceria
entre Estado, sociedade civil e iniciativa privada e num valor social que é o da
solidariedade, marca da própria lógica capitalista neoliberal contemporânea. Há
também consciência de que não bastam políticas. Um dos maiores desafios da
gestão de políticas sociais atuais, e também das organizações do terceiro setor que
entram na efetivação das políticas, são o caráter universalista e focalista das
políticas. 
3.4.2 Novas respostas às expressões da questão social no Brasil
Diante dos diversos campos socioprofissionais é visível na contemporaneidade um
volume significativo das chamadas organizações sociais ou organizações não
governamentais, sobretudo das ONGs, instituições privadas sem fins lucrativos,
instituições filantrópicas e de cunho caritativo. Nessas organizações tem-se por base
o princípio da seletividade no atendimento social — apenas os usuários que
preenchem aqueles requisitos serão contemplados —, por isso atuam em serviços
focalizados.
Um aspecto fundamental e de expansão nas práticas dessas organizações é o
voluntariado que representa ainda o crescimento do terceiro setor como um campo
alternativo abordado pelo discurso neoliberal como substituto do Estado já que este
é tido como insuficiente para atender às demandas.
Em consequência da expansão das ONGs na década de 1990 no Brasil, na atuação e
gestão de projetos e programas sociais que são desenvolvidos na sociedade nas
mais diversas áreas, e com a mudança nas prioridades dos grupos financiadores de
Quadro 5 - Especificidades das organizações do terceiro setor nas sociedades contemporâneas. Fonte:
Elaborado pela autora, 2017.
tais organizações, observa-se, na contemporaneidade, que tais organizações
passam a desenvolver atividades voltadas para o seu autofinanciamento, bem como
recorrem ao Estado como fonte de financiamento por meio de parcerias.
Logo, o Estado financia e fomenta a continuidade dos projetos desenvolvidos por
essas organizações não governamentais, e como provedor de tais atividades, vai
definir os serviços sociais desenvolvidos por essas organizações. É de suma valia
recordar que o desenvolvimento dessas ações se configura ainda como forma de
terceirização dos serviços prestados à sociedade, o que confirma os interesses
governamentais em financiar tais instituições, pois sai mais barato aos cofres
públicos investir em projetos temporários do que ampliar os serviços e a
contratação de funcionários na esfera governamental.
Ao tratar sobre o que vem se consolidando no cenário atual como campo de
expansão das organizações não governamentais, devido à expansão da ideologia
que compreende a suposta presença de um terceiro setor na sociedade, cabe
ressaltar que ela não se dá de forma neutra, mas está inserida em interesses de
classes.
A compreensão do que vem a ser o terceiro setor, suas características, desafios e
forma de gestão se constitui em um desafio primordial para todos aqueles que
desejam atuar nesse contexto. As transformações políticas, sociais, econômicas e
legais ocorridas ao longo dos últimos anos direcionaram para novos rumos que
trouxeram o indispensável ordenamento do modelo funcional e organizacional
dessas instituições.
Em derivação, há a urgência de meios e métodos de gestões institucionais
específicas do terceiro setor. Conhecimentos teóricos e metodológicos da gestão
pública dão a contribuição necessária à gestão desse setor. Esta ainda é um recurso
em finalização.
A atuação de profissionais compromissados é primordial, nesse contexto, para
oferecer de maneira equilibrada, crítica e construtiva, a contribuição que o
assistente social pode trazer para um trabalho de qualidade social no âmbito do
terceiro setor. O terceiro setor auxilia a manutenção do projeto neoliberal, pois a sua
função ideológica mascara seus efeitos. Ele consegue despolitizar os atores sociais
desarticulando-os da luta em setores e priorizando a sociedade civil.
É de extrema relevância aos neoliberais conseguir que a sociedade civil se ocupe
com as atividades solidárias em vez de lutas e movimentos sociais. Oterceiro setor
assemelha-se ao Estado nas ações, contudo como doação e não como direito. Ele
não tem a responsabilidade de oferecer a qualidade, ou até mesmo a frequência dos
serviços voltados às manifestações da questão social.
O assistente social que trabalha no terceiro setor preenche suas ações voltadas para
o fomento de parcerias promovendo articulações na rede. As competições entre as
organizações não estatais para conseguir recursos é muito grande, deixando de fora
a luta pelos direitos da população usuária.
O modelo de mobilização encontrado no terceiro setor é gerencial, sendo primordial
à manutenção da ordem. Ela reproduz a construção da política social, serviços
sociais e assistenciais como resultado do privilégio ofertado pelo Estado e sustenta a
ideia de solidariedade individual.
Portanto, no seu caminho contrário à maioria dos países do mundo, nos quais as
reformas neoliberais foram sucedidas pelo descaso da legislação de proteção social,
no Brasil foi possível conciliar a expansão formal dos direitos humanos com a
consolidação do neoliberalismo. Muitos são os motivos que concorrem para a
formação dessa intrínseca sociedade brasileira. 
Síntese
Concluímos o capítulo.  Agora podemos responder às questões sobre as múltiplas
expressões da questão social e alguns exemplos de intervenção profissional,
mecanismos e legislações sociais para a garantia de direitos.
A consequência da intervenção estatal descentralizada, privatizada e terceirizada,
desresponsabilizando o Estado e transmitindo para a comunidade a
responsabilidade da gestão e execução das políticas sociais vão de encontro à
mitigação das expressões da questão social.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
reconhecer conjunturas políticas e socioeconômicas do país;
aprender sobre conflitos entre capital versus trabalho e as consequências da
exclusão social;
relacionar o desenvolvimento do capitalismo no país com o cenário
contemporâneo;
identificar as atitudes necessárias para os atores sociais contemporâneos e as
formas de opressão que se atravessam.
Referências bibliográficas
ALAYÓN, N. Assistência e assistencialismo: controle dos pobres ou erradicação da
pobreza? 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995. 
BRASIL. Política Nacional de Assistência Social – PNAS/2004. Norma Operacional
Básica – NOB/SUAS. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome – Secretaria Nacional de Assistência Social, 2004. 
CASTEL, R. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. 8. ed. Rio
de Janeiro: Vozes, 2009. 
COSTA, S. G. Centralidade e magnitude da assistência social. In: Serviço Social e
Sociedade. São Paulo: Cortez, 2009. 
FALEIROS, V. P. Estratégias em Serviço Social. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2011. 
IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação
profissional. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001. 
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Demográfico
2010. Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br
(http://www.censo2010.ibge.gov.br)>. Acesso em: 19/12/2017. 
LEONARD, A. A história das coisas "The story od stuff". Diração: Louis Fox.
Produção: Free Range Studios. canal Nina Garcia, YouTube. EUA: 2007. Disponível
em: < https://www.youtube.com/watch?v=zlaiQwZ2Bto
(https://www.youtube.com/watch?v=zlaiQwZ2Bto)>. Acesso em: 15/02/2018.     
LISBOA, T. K.; OLIVEIRA, C. N. de. Serviço Social com Perspectiva de Gênero: o que a
“cegueira ideológica” não permite ver. Revista Feminismos. v. 3, n. 2 e 3, maio-dez.
2015. Disponível em:
<http://www.feminismos.neim.ufba.br/index.php/revista/article/view/312/183
(http://www.feminismos.neim.ufba.br/index.php/revista/article/view/312/183)>.  Ac
esso em: 22/12/2017. 
MARTINS, J. S. Exclusão social e a nova desigualdade. São Paulo: Paulus, 2009. 
PIKETTY, T. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. 
http://www.censo2010.ibge.gov.br/
https://www.youtube.com/watch?v=zlaiQwZ2Bto
http://www.feminismos.neim.ufba.br/index.php/revista/article/view/312/183
RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Cia. das
Letras, 1995. 
ROSENFIELD, C. L. Paradoxos do capitalismo e trabalho em call centers: Brasil,
Portugal e Cabo Verde. Caderno de Recursos Humanos, v. 20, n. 51, dez. 2007. 
SANTOS, J. S. “Questão social”: particularidades no Brasil. São Paulo: Cortez, 2012. 
SANTOS, N. P. Memórias do Cárcere. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Produção:
Luís Carlos Barreto; Nelson Pereira dos Santos. Brasil, 1984. 
SANTOS, W. G. dos. Cidadania e justiça: a política social na ordem brasileira. 3. ed.
Rio de Janeiro: Campus, 1994. 
SOUZA, M. T.; SILVA, M. D.; CARVALHO, R. Revisão integrativa: o que é e como fazer.
São Paulo: Einstein, 2010. 
SPOSATI, A. Exclusão social abaixo da linha do Equador. In: VERAS, M. P. B. (ed. e
org.). Por uma sociologia da exclusão social: o debate com Serge Paugam. São
Paulo: Educ, 1999. 
TEIXEIRA, E. C. O papel das políticas públicas no desenvolvimento local e na
transformação da realidade. Revista AATR, 2002. Disponível em:
<http://pt.scribd.com/doc/57253448/03-Aatr-Pp-Papel-Politicas-Publicas
(http://pt.scribd.com/doc/57253448/03-Aatr-Pp-Papel-Politicas-Publicas)>.  Acesso
em: 02/02/2018. 
http://pt.scribd.com/doc/57253448/03-Aatr-Pp-Papel-Politicas-Publicas

Continue navegando