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Modalidades de Bens no Direito Brasileiro

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DESCRIÇÃO
Análise dos conceitos e diversas modalidades de bens no Direito brasileiro, à luz da metodologia Civil-Constitucional.
PROPÓSITO
Compreender as principais modalidades de bens e as teorias mais atuais sobre o tema para a formação e para a atuação profissional futura, por meio de uma
perspectiva funcionalizante a partir da axiologia constitucional, sabendo que estes conhecimentos têm sido cada vez mais exigidos dos operadores do Direito.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha em mãos o Código Civil (Lei nº 10.406/2002) e a Lei nº 8.009/1990.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar os principais conceitos de bens, assim como as diferentes modalidades
MÓDULO 2
Descrever as modalidades de bens de família
MÓDULO 3
Identificar a teoria do patrimônio da pessoa humana
INTRODUÇÃO
Abordaremos um assunto que, apesar de tradicional, vem sendo revisitado pela doutrina especializada, sobretudo após o processo de constitucionalização do
Direito e, em especial, do Direito Civil. É assim que vamos, em primeiro lugar, esmiuçar os conceitos e modalidades de bens admitidos pelo nosso ordenamento,
para, em seguida, conhecer um pouco mais sobre as polêmicas que surgem com relação ao chamado bem de família. Por fim, entenderemos a teoria do
patrimônio da pessoa humana, que se ancora na dignidade da pessoa humana e no estatuto do patrimônio mínimo.
Os temas serão analisados isoladamente em módulos e tópicos próprios, mas fica aqui desde já uma questão importante que deve ser objeto de reflexão por
todos nós: qual a importância da axiologia constitucional e, em especial, da dignidade da pessoa humana para o acesso aos bens?
Vamos, então, ao nosso estudo, que compreende o estudo dos artigos 79 a 103 do Código Civil.
MÓDULO 1
 Identificar os principais conceitos de bens, assim como as diferentes modalidades
CONCEITO
O que são bens? Podemos dizer, inicialmente, que não há consenso na doutrina e nos ordenamentos jurídicos ao redor do mundo sobre a diferença entre bens
e coisas. Cada código adota um entendimento. A título de exemplo, verificamos que o Código Civil português designa como coisa aquilo que, como veremos,
entende-se no Brasil como sendo bem.
1. DIZ-SE COISA TUDO AQUILO QUE PODE SER OBJECTO DE RELAÇÕES JURÍDICAS. 
2. CONSIDERAM-SE, PORÉM, FORA DO COMÉRCIO TODAS AS COISAS QUE NÃO PODEM
SER OBJECTO DE DIREITOS PRIVADOS, TAIS COMO AS QUE SE ENCONTRAM NO DOMÍNIO
PÚBLICO E AS QUE SÃO, POR SUA NATUREZA, INSUSCEPTÍVEIS DE APROPRIAÇÃO
INDIVIDUAL.
(CÓDIGO CIVIL PORTUGUÊS, artigo 202)
Já o Código Civil brasileiro não é claro, além de ser assistemático. Essa ausência de rigor terminológico faz com que acabe ficando a cargo da doutrina
diferenciar bens e coisas. Nesse sentido, segundo Tepedino (2011), podemos afirmar que se consideram coisas todas as entidades do universo, algumas das
quais, designadas tecnicamente como bens, são identificadas como ponto de referência objetivo de relação jurídica.
É por isso que, conforme Tepedino (2021), a doutrina somente considera como coisa em sentido jurídico aquelas suscetíveis de se constituir objeto de direito,
coincidindo, nesta acepção estreita, com a noção de bem, corretamente adotada pela codificação atual (muito embora mantenha a designação “Direito das
Coisas” para seu Livro III).
Bem seria tudo aquilo que possa ser objeto de direito, ou seja, tudo aquilo que, direta ou indiretamente, satisfaça um interesse ou necessidade humano e como
tal possa ser tutelado pelo Direito. Deve existir palpavelmente ou ser tangível.
ATIVIDADE: DIVISIBILIDADE
VAMOS VER SE VOCÊ COMPREENDEU O CONCEITO DE BEM? MARQUE TODAS
AS ALTERNATIVAS QUE PODEM SER BENS.
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Falso
Verdadeiro
Verdadeiro
Verdadeiro
Verdadeiro
Verdadeiro
---------- a) Um carro 
---------- b) Uma conduta 
---------- c) Uma criação 
---------- d) A lua 
---------- e) A honra 
---------- f) Os direitos autorais
RESPOSTA
Um carro, uma conduta e uma criação são bens. A lua é uma coisa, embora não seja um bem. Por seu turno, a honra e os direitos autorais são bens que não
são coisas.
Verdadeiro a) Um carro 
Verdadeiro b) Uma conduta 
Verdadeiro c) Uma criação 
Falso d) A lua 
Verdadeiro e) A honra 
Verdadeiro f) Os direitos autorais
De acordo com Tepedino (2021), diz-se, finalmente, que coisa se constitui em gênero, que abrange todos os elementos perceptíveis, sendo bem a espécie, a
traduzir aquilo que pode consubstanciar objeto de direito, e que pode ser considerado coisa em sentido jurídico.
A coisa é algo corpóreo, com existência física e os bens, que são espécies de coisas, são tudo aquilo que seja objeto de direito e satisfaça uma necessidade ou
interesse humano.
/
 ATENÇÃO
Precisamos ainda fazer dois alertas importantes:
1) Não podemos confundir o objeto do direito com o conteúdo do direito, uma vez que, segundo Tepedino (2021), o mesmo bem jurídico pode servir de
referência objetiva para direitos com conteúdos distintos, ou seja, com modalidades de utilização peculiares aos interesses em jogo. Conteúdo do direito é a
utilidade que se extrai do bem jurídico para propiciar determinado aproveitamento econômico. Pensemos, por exemplo, que sobre um mesmo bem imóvel
incidam diversos direitos de titularidades distintas, a exemplo dos direitos de propriedade, servidão e até mesmo a proteção ambiental.
2) Tepedino (2021) diz que não podemos circunscrever a análise dos bens jurídicos à lógica proprietária, ou seja, à suscetibilidade de apropriação privada. Isso
porque há muitos interesses, sobretudo aqueles coletivos e difusos, como o meio ambiente, que são dignos de proteção do ordenamento mesmo sendo
insuscetíveis de comercialização.
Ainda nesta parte introdutória, cabe enunciarmos a noção de patrimônio, que retomaremos mais adiante, no terceiro módulo. Podemos recorrer aqui à clássica
definição de Clóvis Beviláqua (2001), para quem o patrimônio seria o complexo das relações jurídicas de uma pessoa que tiverem valor econômico.
Assim, compreendem-se no patrimônio tanto os elementos ativos quanto os passivos, isto é, os direitos de ordem privada economicamente apreciável e as
dívidas. É a atividade econômica de uma pessoa, sob o seu aspecto jurídico, ou a projeção econômica civil.
Para finalizarmos, precisamos ainda reproduzir um importante alerta feito, sobretudo, pela Escola de Direito Civil Constitucional da UERJ. Trata-se da ideia de
que, embora a noção de bens jurídicos “se situe na estrutura da relação jurídica, só poderá ser compreendida de acordo com a função desempenhada pela
situação jurídica de que serve de objeto” (TEPEDINO, 2021, p.185). Em outras palavras: Deve-se superar uma análise meramente estrutural dos bens jurídicos,
preferindo-se, antes, uma visão que atente para a função desempenhada em concreto.
Essa noção será importantíssima para a análise que vem a seguir, relativa às modalidades de bens jurídicos.
BENS CORPÓREOS, INCORPÓREOS, CONSIDERADOS EM SI MESMO E
RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS
Em muitas situações, é a doutrina que se ocupa de fazer classificações, que nem sempre têm relevância prática. Aqui, a situação é distinta: é o próprio Código
Civil que traz as classificações ou modalidades de bens, conferindo regimes distintos para cada uma delas. Daí a importância de analisarmos a fundo este
assunto.
O nosso Código se estrutura da seguinte forma: no Livro II (Dos Bens), traz o título único: “Das Diferentes Classes de Bens” e, dentro deste título, traz três
capítulos:
(I) DOS BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS
Abarca: bens imóveis, móveis, fungíveis, consumíveis, divisíveis, singulares e coletivos.
(II) DOS BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS.
Cuida do tratamento dos bens principais, pertenças, frutos e benfeitorias.
(III) DOS BENS PÚBLICOS
Compreende os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno, quais sejam: União, estados, DF, municípios, Autarquias e Fundações
Públicas.
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BENS CORPÓREOS E INCORPÓREOSAntes de seguir o nosso estudo conforme a ordem apresentada acima, cabe analisar rapidamente a diferença entre os chamados bens corpóreos e bens
incorpóreos. Trata-se de classificação que não escapa de polêmicas e controvérsias doutrinárias.
BENS CORPÓREOS
BENS INCORPÓREOS
BENS CORPÓREOS
Na definição de Gustavo Tepedino e Milena Donato Oliva (2021), são bens de natureza corpórea não só os objetos tangíveis, identificados no Direito romano
como aqueles que poderiam ser tocados com os dedos — quae tangi possunt —, mas os de qualquer modo perceptíveis sensorialmente. Ou, na definição mais
sucinta de Clóvis Beviláqua (2001), são os que ocupam lugar limitado no espaço.
BENS INCORPÓREOS
Os bens incorpóreos seriam aqueles que adquirem vida (jurídica) no mundo ideal ou espiritual, provindos por vez de valores essenciais à pessoa humana. Como
exemplos, podemos citar “a energia motriz em que resulta a atividade prestacional (obrigação de fazer e não fazer), que tem por objeto o comportamento
humano” (TEPEDINO, 2021).
Além disso, com a evolução tecnológica, a cada dia podemos identificar novos bens jurídicos, notadamente imateriais, como as criações intelectuais, a
informação, o know-how, os interesses difusos, a reclamarem disciplina jurídica.
 
Foto: Shutterstock.com
De acordo com Gonçalves (2013), a controvérsia doutrinária aqui se dá porque o critério distintivo para os romanos era a tangibilidade ou possibilidade de serem
tocados. Atualmente, porém, esse procedimento seria inexato, por excluir coisas perceptíveis por outros sentidos, como os gases, que não podem ser atingidos
materialmente com as mãos e nem por isso deixam de ser coisas corpóreas. Atualmente consideramos como sendo bens materiais ou corpóreos “as diversas
formas de energia, como a eletricidade, o gás, o vapor” (GONÇALVES, 2013).
Essa distinção costuma ter relevância prática quando consideramos que alguns institutos só se aplicam aos bens corpóreos, como é o caso dos direitos reais,
que, em geral, só têm por objeto bens desta natureza. Além disso, no que diz respeito “à forma de transferência, estes são objeto de compra e venda, doação,
permuta. A alienação de bens incorpóreos, todavia, faz-se pela cessão. Daí falar-se em cessão de crédito” (GONÇALVES, 2013).
 VOCÊ SABIA
Segundo Schreiber (2020), a jurisprudência admite excepcionalmente a proteção possessória de bens incorpóreos, e o exemplo mais notável é a admissão de
usucapião de linha telefônica, cuja possibilidade ficou reconhecida na Súmula 193 do Superior Tribunal de Justiça (1997): o direito de uso de linha telefônica
pode ser adquirido por usucapião.
BENS MÓVEIS E IMÓVEIS
Passando à classificação dos bens considerados em si mesmos, uma primeira divisão diz respeito à diferença entre os bens móveis e bens imóveis. Em
ambas as figuras, o Código dá uma definição geral e depois cria ficções jurídicas, isto é, situações que, pela definição legal seriam móveis, por força de lei são
imóveis e vice-versa.
BENS MÓVEIS
BENS IMÓVEIS
BENS MÓVEIS
Segundo o artigo 79: “São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente”. Por outro lado, de acordo com o artigo 82: “São móveis
os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.” Mais uma vez, a
distinção aqui tem relevância, pois certos institutos, como a hipoteca (direito real de garantia), só são admitidos, em princípio, para bens imóveis.
O regime jurídico aplicável a cada tipo de bem difere, como no caso do artigo 108 do Código, segundo o qual: “Não dispondo a lei em contrário, a escritura
pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor
superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.” Ou seja: bens móveis acima do valor estipulado pela lei só podem ser a sua propriedade
transferida por meio de escritura pública.
BENS IMÓVEIS
A doutrina sintetiza que o bem imóvel é “aquilo que não se pode transportar sem destruí-lo ou alterá-lo em sua substância” (TEPEDINO, 2021). Podemos ainda o
subdividir em três classes:
(i) Bens imóveis por natureza ou por acessão física natural;
(ii) Bens imóveis por acessão física artificial;
(iii) Bens imóveis por determinação legal.
Antes, um esclarecimento necessário: tudo aquilo que se incorpora permanentemente ao solo é chamado de acessão, que por seu turno se subdivide em:
Acessões naturais
Aluvião e avulsão

Acessões industriais
Há interferência decisiva da atividade humana
Pensemos, por exemplo, em construções (como uma casa ou um edifício) e até mesmo plantações. O Código Civil de 1916 tratava ainda das acessões
intelectuais, mas elas foram convertidas no que hoje se compreende como pertenças (artigos 93 e 94 do Código Civil atual).
A disciplina da aluvião está prevista no artigo 1.250 do Código Civil, que disciplina que os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos
e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização.
 Foto: Shutterstock.com
A disciplina da avulsão está no artigo 1.251, dispondo que quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a outro,
o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver reclamado.
 Imagem: Pedro Tamburro
Vejamos os dois tipos de bens imóveis por acessão:
 
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Bens imóveis por natureza ou por acessão física natural
“O solo e tudo que a ele adere como parte integrante da natureza e que se fixa ao solo pela raiz” (TEPEDINO, 2021).
Como exemplos, podemos citar lagos, lagoas, árvores e frutos pendentes (desde que naturalmente gerados e até que sejam colhidos e separados do solo).
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Foto: Shutterstock.com
Bens imóveis por acessão artificial
As plantações, assim como as construções erguidas permanentemente, ou de forma tendencialmente definitiva, isto é, aquelas que se prendem ao solo por
engenhos fixos de modo a se incorporarem à terra, imobilizando-se (TEPEDINO, 2021).
 ATENÇÃO
Nessa linha, segundo o artigo 81 do Código, não perdem o caráter de imóveis as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem
removidas para outro local, assim como os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem.
Isso significa, segundo Tepedino (2021), que não é preciso que a remoção seja impossível, mas, como dispunha o Código de 1916, que não se possa retirar sem
destruição, modificação, fratura ou dano, ou mais modernamente, sem alteração de sua destinação econômica. Registro importante é que “prédio” não significa
necessariamente uma construção vertical com vários andares, sendo aqui sinônimo de construção.
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Por fim, temos os bens imóveis por determinação legal, que obedecem ao artigo 80 do Código. Segundo Tepedino (2021), em função dessa ficção jurídica,
passam a ter natureza imobiliária:
I
Os direitos reais sobre coisa alheia, previstos no art. 1.225 do Código Civil, como o usufruto de bens imóveis, a servidão predial, o direito de superfície.
II
As ações para sua tutela, como a reivindicatória, hipotecária, negatória de servidão e assim por diante.
III
O direito à sucessão aberta, mesmo se o acervo hereditário for composto exclusivamente por bens móveis, separando o legislador, nitidamente, os bens do
acervo hereditário do direito à transmissão em si considerado.
Os bens móveis, na definição de Clóvis Beviláqua (2001), são os bens que, sem deterioração na substância ou na forma, podem ser transportados de um lugar
para outro, por força própria ou estranha. Além dos animais, que, por ora são considerados semoventes (existe discussão no Congresso para retirar-lhes desta
categoria), o artigo 82 “abarcamobiliário inanimado abrangente, tendo por limite legal a preservação da destinação econômico-social do bem em seu
deslocamento” (TEPEDINO, 2021).
O legislador aqui, tal como nos bens imóveis, também fez surgir a categoria dos bens móveis por determinação legal.
CONSIDERAM-SE MÓVEIS PARA OS EFEITOS LEGAIS: I - AS ENERGIAS QUE TENHAM
VALOR ECONÔMICO; II - OS DIREITOS REAIS SOBRE OBJETOS MÓVEIS E AS AÇÕES
CORRESPONDENTES; III - OS DIREITOS PESSOAIS DE CARÁTER PATRIMONIAL E
RESPECTIVAS AÇÕES.
(CÓDIGO CIVIL, artigo 83)
 COMENTÁRIO
Segundo Tepedino (2021), “Cuida-se aqui de opção legislativa, própria da tradição romano-germânica, de subtrair do controle típico do direito imobiliário bens
que, ao ver do legislador, mereceriam circulação mais dinâmica e menos solene”.
Em seguida, o artigo 84 traz que: “Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de móveis;
readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio”.
Pensemos, por exemplo, na madeira que vai ser utilizada para construir uma casa. Até a sua construção, ela é considerada móvel. Caso haja demolição
definitiva, isto é, esta não seja mero desmonte para posterior reconstrução, ela também será considerada um bem móvel.
 
Foto: Shutterstock.com
Por fim, esgotando esta classificação, temos a noção dos bens móveis por antecipação, constante do artigo 95 do Código, que consagra que, apesar de ainda
não separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico. Esta figura é admitida “para a hipótese de imóveis que, mercê de sua
destinação econômica, tendente a fazê-los objeto de negócio jurídico como coisas móveis, são tratados como bens móveis, assim mobilizados por expressão da
autonomia privada” (TEPEDINO, 2021).
 
Foto: Shutterstock.com
Podemos citar o caso de uma safra que tenha sido “antecipadamente alienada, por exemplo, ainda que se mantenha vinculada ao solo por certo período, nos
termos contratuais fixados entre vendedor e comprador. De fato, conforme ressaltado em doutrina, a qualidade imobiliária dura enquanto durar a imobilização”
(TEPEDINO, 2021).
BENS FUNGÍVEIS E INFUNGÍVEIS
Passamos agora à classificação que divide os bens em fungíveis e infungíveis. Aqui, o Código é mais sucinto, ao dispor em seu artigo 85 o seguinte:
BENS FUNGÍVEIS
São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Como exemplo de fungíveis, podemos citar o dinheiro e
os gêneros alimentícios em geral.
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BENS INFUNGÍVEIS
São infungíveis os bens que não podem ser substituídos por outros da mesma espécie, quantidade e qualidade. São exemplos de bens infungíveis pinturas e
livros raros.
 ATENÇÃO
Cabe observar que a identificação quanto à (in)fungibilidade de um bem deve ser feita em concreto. Isso porque uma moeda que hoje pode ser claramente
identificada como fungível, com o passar do tempo pode se tornar infungível em razão de sua raridade e de eventual interesse de colecionadores. Nesse caso, é
a vontade humana que transforma em infungível algo que, por sua própria natureza, seria fungível.
Além disso, embora normalmente a fungibilidade seja característica de bens móveis (que, como visto, podem ser infungíveis), pode ocorrer que,
excepcionalmente e para se privilegiar a função dos bens, em certos negócios, ela alcance também os imóveis, “como, por exemplo, no ajuste, entre sócios de
um loteamento, sobre eventual partilha em caso de desfazimento da sociedade, quando o que se retira receberá certa quantidade de lotes. Enquanto não
lavrada a escritura, será ele credor de coisas fungíveis, determinadas apenas pela espécie, qualidade e quantidade” (GONÇALVES, 2013).
Podemos identificar a importância dessa classificação, por exemplo, na distinção entre dois tipos contratuais semelhantes:
Mútuo
Empréstimo de coisas fungíveis – artigo 586 do Código Civil

Comodato
Empréstimo gratuito de coisas não fungíveis – artigo 579
Por fim, podemos destacar que a fungibilidade abrange não apenas os objetos de direito, mas também as prestações, isto é, de obrigações de fazer ditas
infungíveis, como a que contrata um pintor de parede. Diferente seria se a pintura fosse de uma tela retratando uma pessoa.
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Foto: Shutterstock.com

 
Foto: Shutterstock.com
BENS CONSUMÍVEIS E NÃO CONSUMÍVEIS (OU INCONSUMÍVEIS)
Outra classificação é aquela que diferencia os bens entre consumíveis e não consumíveis ou inconsumíveis, presente no artigo 86, que dispõe que são
consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.
Diferentemente do Código de Defesa do Consumidor, que não acolhe tal classificação (lá se distingue entre bens duráveis e não duráveis), o Código Civil a
adota e ainda a subdivide em duas espécies:
 
Foto: Shutterstock.com
(I) CONSUNTIBILIDADE/CONSUMIÇÃO FÍSICA
Por exemplo: biscoito que ao ser comido importa a destruição imediata da sua própria substância).
 
Foto: Shutterstock.com
(II) CONSUNTIBILIDADE/CONSUMIÇÃO JURÍDICA
Aqui, o bem não se destrói ao primeiro uso, embora seja, em essência, consumível.
 DICA
Basta pensar que o mesmo pacote de biscoito enquanto estava à venda na prateleira do supermercado era consumível juridicamente, porque o artigo 86 em sua
parte final diz que os bens destinados à alienação serão consumíveis.
Beviláqua (2001) traz o elucidativo exemplo dos livros, que nas prateleiras de uma livraria, serão consumíveis por se destinarem à alienação e, nas estantes de
uma biblioteca, serão inconsumíveis, porque aí se acham para serem lidos e conservados.
 
Foto: LubosHouska / Pixabay.
Apesar de na realidade prática qualquer objeto poder ser consumido um dia, ainda que isso leve bastante tempo, juridicamente o critério para o Código é o
desaparecimento no primeiro uso.
Dito diversamente, segundo Gonçalves (2013): se uma roupa não desaparece no seu primeiro uso, por mais que vá se gastando lentamente com a utilização,
ela será reputada como inconsumível para os fins da legislação.
 
Foto: islandworks / Pixabay.
Aqui, a relevância da distinção pode ser notada, por exemplo, na ideia de que, em regra, certos direitos não podem recair sobre bens consumíveis, como se dá
com o usufruto, que, se recair sobre bens desta natureza passa a ser considerado um “quase usufruto” ou “usufruto impróprio” a atrair regulamento específico,
conforme o artigo 1.392, §1º (GONÇALVES, 2013).
BENS DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS
O Código ainda classifica os bens em divisíveis e indivisíveis, ao dispor em seu artigo 87 que: “Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração
na sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam”.
Em princípio, todo bem/corpo pode ser dividido, ainda que para isso seja preciso utilizar ferramentas potentes. No entanto, para o Direito, o conceito de
(in)divisibilidade é outro, pois indivisível será o bem, caso seu fracionamento, embora fisicamente possível, importar menoscabo ou desnaturar a vocação
econômica a que se destina. O bem divisível pode ser fracionado em parcelas homogêneas, que conservam todas as características equivalentes, compatíveis
com o todo originário (TEPEDINO; OLIVA, 2021).
A indivisibilidade pode se dar por três formas:
I
Por natureza (indivisibilidade física). Por exemplo: um relógio.
II
Por determinação legal (indivisibilidade jurídica). Por exemplo: hipoteca (segundo o artigo 1.421).
III
Por vontade das partes (indivisibilidade convencional). Por exemplo: quando as partes tornam a coisa indivisa (como na hipótese do artigo 1.320, §1º)
É nesse sentido a dicção do artigo 88: “Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei ou por vontade das partes.”
ATIVIDADE: O QUE SÃO BENS
A RESPEITO DA DIVISIBILIDADE, MARQUE TODAS AS ALTERNATIVAS EM QUE
FOR POSSÍVEL AFIRMAR QUE ALGO É DIVISÍVEL:A) ARROZ
 Divisível
 Indivisível
B) FEIJÃO
 Divisível
 Indivisível
C) RELÓGIO
 Divisível
 Indivisível
D) CAFÉ
 Divisível
 Indivisível
E) LIVRO
BENS SINGULARES E COLETIVOS
 Divisível
 Indivisível
ATENÇÃO !
O feedback para essa atividade é baseado no conjunto de suas respostas, dessa forma, só pode ser visualizado na versão online.
Em seguida, o Código diferencia os bens entre singulares e coletivos. Preceitua o artigo 89: “São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de
per si, independentemente dos demais.”
SINGULAR É O BEM CONSIDERADO (FUNCIONALMENTE) EM SUA INDIVIDUALIDADE,
INDEPENDENTEMENTE DE SE ENCONTRAR REUNIDO COM OUTROS DA MESMA
NATUREZA. COLETIVO OU UNIVERSAL, AO REVÉS, É O BEM CONSTITUÍDO PELO TODO
UNITÁRIO E ORGÂNICO RESULTANTE DA REUNIÃO DE OBJETOS (UNIVERSALIDADE).
(TEPEDINO; OLIVA, 2021)
Há um exemplo que facilita a visualização: uma árvore e um livro são bens singulares. No entanto, uma floresta e uma biblioteca são bens coletivos, ou, como o
Código esmiúça: universalidades.
BENS SIMPLES E COMPOSTOS
A doutrina ainda subdivide os bens singulares em duas espécies: simples e compostos.
OS SIMPLES CONSIDERAM-SE EM SUA INTEIREZA: O VASO, O BOI, A FACA. JÁ OS
COMPOSTOS SÃO FORMADOS POR PARTES AUTÔNOMAS QUE, SEM PERDEREM SUA
AUTONOMIA, SE TORNAM ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO OBJETO CONSIDERADO: UM
AVIÃO, UM AUTOMÓVEL, UM EDIFÍCIO.
(TEPEDINO; OLIVA, 2021).
Por outro lado, são coletivas as coisas que “sendo compostas de várias coisas singulares, se consideram em conjunto, formando um todo” (BEVILÁQUA, 2001).
Nesse contexto, distinguimos os bens coletivos em dois tipos de universalidades: de fato e de direito.
DE FATO
Segundo o artigo 90: “Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária. Parágrafo
único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de relações jurídicas próprias.”
DE DIREITO
O artigo 91 dispõe que: “Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor econômico.”
 EXEMPLO
Pensemos no caso do lobo, que existe per si, entretanto, uma alcateia é uma universalidade de fato, assim como um rebanho. Quando há uma universalidade de
fato, podem-se criar relações jurídicas que a envolvam, ou seja, pode-se vender tanto uma única vaca como todo o rebanho como algo unitário. Em razão de tê-
las coligado, elas podem até mesmo servir como garantia, no chamado penhor pecuário: não são 20 bois, mas todo o rebanho. Daí decorre que a
universalidade pode ser objeto de direito.
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Por outro lado, a universalidade de direito é aquela criada e imposta pela própria lei, que atribui caráter de unidade a uma pluralidade de bens. É o caso da
herança, da massa falida, do patrimônio e do fundo de comércio.
BENS PRINCIPAIS E ACESSÓRIOS
Prossegue então o Código para a classificação dos Bens Reciprocamente Considerados, que nada mais é do que a relação que se dá entre os bens.
A primeira delas é a que os divide entre bens principais e bens acessórios.
O artigo 92 do Código Civil define que “principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal”.
De acordo com Gustavo Tepedino e Milena Donato Oliva (2021), “a ideia aqui é de que diante de dois ou mais bens reciprocamente considerados, reputa-se
principal o bem cuja função pode ser realizada independentemente de qualquer outro, tendo-se, em contrapartida, como acessório o bem cujo destino depende
do principal”.
Precisamos ter cuidado com o substantivo existe utilizado pelo legislador, de tal sorte que ele deve ser compreendido “no sentido de sua justificativa funcional,
na medida em que sua finalidade econômica não é própria senão a do bem principal, para cujo alcance devota inteiramente sua existência jurídica” (TEPEDINO;
OLIVA, 2021).
Essa relação de acessoriedade pode ocorrer tanto entre coisas, como entre direitos, sejam eles pessoais/de crédito ou reais. Como exemplos, segundo
Gonçalves (2013), podemos pensar na árvore, que é acessória ao solo, assim como no contrato de fiança, que pode vir como acessório a um contrato principal
de locação.
 
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A principal repercussão é aquela que diz respeito ao princípio da gravitação jurídica, representado pelo brocardo latino accessorium sequitur principale: o
acessório segue o principal. Dito diversamente: “o bem acessório, por sua destinação servil ao principal, não recebe do ordenamento tratamento autônomo,
permanecendo subordinado à finalidade econômica e ao destino do bem em cuja órbita gravita” (TEPEDINO; OLIVA, 2021). Implicações dessa classificação na
legislação podem ser observadas, por exemplo, nos seguintes dispositivos do Código Civil: artigos 1.209, 233, 287, 822, 823, 824, 837, 404 e 407, além do artigo
322, §1º do Código de Processo Civil.
Nos artigos 93 e 94, o legislador disciplina as pertenças. Vejamos:
ARTIGO 93
“São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.”
ARTIGO 94
“Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das
circunstâncias do caso.”
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Podemos definir as pertenças como “os bens móveis que, não constituindo partes integrantes (como o são os frutos, produtos e benfeitorias), estão afetados por
forma duradoura ao serviço ou ornamentação de outro, como os tratores destinados a uma melhor exploração de propriedade agrícola e os objetos de
decoração de uma residência, por exemplo" (GONÇALVES, 2013).
 
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Aqui, o que existe é uma relação de pertinencialidade, já que as pertenças “não são acessórios (já que têm finalidade econômica autônoma) ou partes
integrantes (eis que valorados em separado em relação ao bem principal)” (TEPEDINO; OLIVA, 2021).
 ATENÇÃO
Vale ressaltar que é possível que haja “pertença de bem móvel em relação a bem imóvel (como é o caso da maquinaria de certa planta industrial ou dos quadros
que adornam as paredes da casa), de bem móvel em relação a bem móvel (como é o caso do aparelho avulso de rádio em relação ao carro)” (Idem, 2021).
De acordo com o artigo 94, podemos extrair que, caso o bem principal seja vendido (exemplo: casa), não se presume automaticamente que as pertenças
(exemplo: quadros de decoração) serão vendidas conjuntamente, a menos que o contrário resulte da lei ou possa ser inferido tanto da vontade das partes, como
das circunstâncias do negócio.
Na sequência, o Código traz no artigo 95 os frutos e os produtos, prevendo que, apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem
ser objeto de negócio jurídico.
Produtos
Segundo Clóvis Beviláqua (2001), os produtos são as utilidades que se retiram da coisa, diminuindo-lhe a quantidade, porque não se reproduzem
periodicamente, como as pedras e os metais, que se extraem das pedreiras e das minas.
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Frutos
A principal distinção dos frutos em relação aos produtos é que “a colheita destes não diminui o valor nem a substância da fonte, e daquele sim” (GONÇALVES,
2013).
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Podemos observar a relevância dessa distinção, sobretudo, na disciplina do usufruto, já que por força do artigo 1.394, este só dá direito à percepção dos frutos.
Contudo, “quando a relação jurídica se estabelece em atenção à exploração de alguma pedreira ou mina, e quando o usufruto se constitui sobre mina ou
pedreira em exploração, os produtos consideram-se frutos. São, nesses casos, produtos normais da coisa” (BEVILÁQUA, 2001).
 
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Os frutos, por outro lado, são aquelas utilidades que uma coisa periodicamente produz, de tal modo que eles podem nascer e renascer da coisa sem que isso
acarrete a destruição no todo ouem parte. Pensemos, por exemplo, nas frutas que brotam das árvores e nos vegetais que o solo espontaneamente fornece.
Seus elementos caracterizadores, segundo Gonçalves (2013), são, portanto, a (i) periodicidade, (ii) a inalterabilidade da substância da coisa principal, e, por fim,
(iii) a separabilidade da coisa principal.
Os frutos se subdividem em três modalidades:
 
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FRUTOS NATURAIS
Produzidos de maneira periódica, orgânica ou naturalmente.
 
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FRUTOS INDUSTRIAIS
Resultantes do lavor humano para a sua obtenção.
 
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FRUTOS CIVIS
Correspondem à remuneração oferecida pela utilização do bem (rendas, alugueis, juros) e, por isso, designam-se rendimentos.
As duas primeiras categorias podem ser reunidas no gênero frutos in natura, por oposição aos frutos civis, que se reputam in pecunia. (TEPEDINO; OLIVA,
2021).
A doutrina ainda os classifica segundo o estado em que se encontram, sendo:
I
Pendentes, enquanto estiverem unidos ao bem que os produz.
II
Percebidos ou colhidos, a partir do momento da separação.
III
Estantes, se, depois de separados, mantêm-se armazenados para a alienação.
IV
Percipiendos, se, estando já maduros ou em condições de separarem-se do bem que os produziu, mantêm-se a este vinculados.
V
Consumidos, se já foram separados e utilizados.
Por fim, o legislador trouxe a categoria das benfeitorias, que nada mais são do que “as obras que se fazem num móvel ou num imóvel para conservá-lo ou
melhorá-lo ou simplesmente embelezá-lo” (BEVILÁQUA, 2001).
Dispõe o artigo 96 que as benfeitorias podem ser:
VOLUPTUÁRIAS
São as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.
ÚTEIS
São as que aumentam ou facilitam o uso do bem.
NECESSÁRIAS
São as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore.
À luz disso, é necessária a benfeitoria que repare a tubulação rompida de uma casa, é útil a construção de um banheiro e é voluptuária a construção de uma
estátua no jardim. A repercussão da classificação pode ser observada, por exemplo, nos artigos 1.214, 1.219 e 1.221 do Código Civil.
 ATENÇÃO
De acordo com o artigo 97: “Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor
ou detentor.” Nestes casos, o legislador se refere aos acréscimos de que já tratamos: as chamadas acessões naturais, a exemplo da aluvião, da avulsão, da
formação de ilhas e do álveo abandonado (artigo 1.248) (GONÇALVES, 2013).
No vídeo a seguir, o professor Filipe Medon faz uma abordagem das diferentes classificações dos bens. Vamos assistir!
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BENS DE DOMÍNIO PÚBLICO
 
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Para finalizarmos este primeiro módulo, precisamos analisar, ainda, os bens de domínio público, que, de acordo com o artigo 98 do Código, são os bens do
domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.
No artigo 99, o legislador distinguiu os bens públicos em três categorias:
I - OS DE USO COMUM DO POVO, TAIS COMO RIOS, MARES, ESTRADAS, RUAS E PRAÇAS; 
II - OS DE USO ESPECIAL, TAIS COMO EDIFÍCIOS OU TERRENOS DESTINADOS A SERVIÇO
OU ESTABELECIMENTO DA ADMINISTRAÇÃO FEDERAL, ESTADUAL, TERRITORIAL OU
MUNICIPAL, INCLUSIVE OS DE SUAS AUTARQUIAS; 
III - OS DOMINICAIS, QUE CONSTITUEM O PATRIMÔNIO DAS PESSOAS JURÍDICAS DE
DIREITO PÚBLICO, COMO OBJETO DE DIREITO PESSOAL, OU REAL, DE CADA UMA
DESSAS ENTIDADES. 
PARÁGRAFO ÚNICO. NÃO DISPONDO A LEI EM CONTRÁRIO, CONSIDERAM-SE DOMINICAIS
OS BENS PERTENCENTES ÀS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO A QUE SE
TENHA DADO ESTRUTURA DE DIREITO PRIVADO.
A relevância dessa distinção é verificada, sobretudo, no regime jurídico de direito público, que traz disciplina específica para cada espécie. Nada obstante, o
Código Civil também trouxe algumas normas, que passamos a examinar a seguir.
Em primeiro lugar, determina o artigo 100 que os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua
qualificação, na forma que a lei determinar. Por outro lado, segundo o artigo 101, os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da
lei. Trata-se, como podemos perceber, de um efeito importante da classificação, já que somente estes últimos podem ser alienados aos particulares. Os
requisitos para tal alienação, na esfera federal, podem ser encontrados no artigo 17 da Lei nº 8.666/1993.
A inalienabilidade não é absoluta, portanto.
OS BENS DOMINICAIS, POR INTEGRAREM O PATRIMÔNIO DAS PESSOAS JURÍDICAS DE
DIREITO PÚBLICO, CONSIDERAM-SE BENS DO DOMÍNIO PRIVADO DO ESTADO. POR ESSE
MOTIVO, AO CONTRÁRIO DOS BENS INTEGRANTES DAS DEMAIS CATEGORIAS, PODEM
SER ALIENADOS POR AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA, DESDE QUE NÃO TENHAM SIDO
ANTES AFETADOS OU, SE O FORAM, NOS TERMOS DA RESPECTIVA LEI DE DESAFETAÇÃO
(CC, ART. 101). A DESAFETAÇÃO É O MECANISMO DE QUE SE VALE O DIREITO
ADMINISTRATIVO PARA SE ALTERAR A DESTINAÇÃO DO BEM PÚBLICO, DE MODO A
INSERI-LO NA CATEGORIA DOS BENS DOMINICAIS.
(TEPEDINO; OLIVEIRA, 2021)
Por fim, dispõe o artigo 102 que os bens públicos não estão sujeitos a usucapião. Este dispositivo é consentâneo com o disposto nos artigos 183, §3º e 191,
parágrafo único da Constituição da República e parece solapar a discussão acerca da possibilidade de usucapião de bens dominicais, apesar de ainda haver
doutrina neste sentido (DI PIETRO, 2015). Por derradeiro, estabelece o artigo 103 que: “O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído,
conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem”.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ESTUDAMOS NESTE MÓDULO OS CONCEITOS E MODALIDADES DE BENS. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA A
ESSE RESPEITO:
A) A categoria das acessões intelectuais do Código Civil de 1916 é hoje compreendida como frutos.
B) Os bens coletivos somente se configuram universalidades de direito.
C) Os bens acessórios seguem a sorte dos principais.
D) A fungibilidade só pode ser característica aplicável aos bens móveis.
E) A relação de acessoriedade entre bens apenas pode se dar entre coisas.
2. SÃO AFIRMATIVAS CORRETAS ACERCA DOS BENS PÚBLICOS, EXCETO:
A) Os bens públicos de uso comum do povo são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação.
B) Os bens públicos de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação.
C) Os bens públicos não se sujeitam a usucapião.
D) A inalienabilidade dos bens públicos não é absoluta.
E) Os bens públicos dominicais excepcionalmente se sujeitam a usucapião.
GABARITO
1. Estudamos neste módulo os conceitos e modalidades de bens. Assinale a alternativa correta a esse respeito:
A alternativa "C " está correta.
 
Os bens acessórios acompanham a sorte do principal, o que significa dizer que acompanham este último. Sua existência supõe a do principal.
2. São afirmativas corretas acerca dos bens públicos, exceto:
A alternativa "E " está correta.
 
Dispõe o artigo 102 que: “Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.” Este dispositivo é consentâneo com o disposto nos artigos 183, §3º e 191, parágrafo
único, da Constituição da República e parece solapar a discussão acerca da possibilidade de usucapião de bens dominicais, apesar de ainda haver doutrina
neste sentido.
MÓDULO 2
 Descrever as modalidades de bens de família
DIMENSÃO CONSTITUCIONAL-CIVIL
Antes de entendermos o que é bem de família na perspectiva contemporânea, precisamos identificar aquilo que se concebe como Direito Civil-Constitucional,
que é a metodologia que permite que façamos uma releitura do instituto.
A grande verdade é que o Direito Civil patrimonialista, do império da vontade e do liberalismo econômico como razão máxima de ser não mais existe. Os direitos
não são mais tidos como absolutos como um dia fora a propriedadeprivada. Há limites internos e externos a esses direitos, que devem ser constantemente
relidos à luz da Constituição da República e de toda a sua axiologia, fundada na valorização e promoção da dignidade da pessoa humana.
Segundo a metodologia Civil-Constitucional, devemos não só reler o Direito Civil à luz da Constituição, através da interpretação, como também devemos
reconhecer que as normas constitucionais devem e podem ser diretamente aplicadas nas relações privadas, de forma a garantir a máxima realização dos
valores constitucionais também nessa seara. (PERLINGIERI, 1999 apud KONDER; SCHREIBER, 2016).
A premissa fundamental é a superioridade normativa da Constituição, do que decorre a unidade e a complexidade do ordenamento jurídico (PERLINGIERI, 1999
apud KONDER; SCHREIBER, 2016), cujas normas devem ser integradas a partir de uma interpretação que tenha como norte a pessoa humana. A partir disto,
rompe-se com as divisões estanques entre os ramos e os direitos, os quais devem ser sempre reconduzidos à matriz agregadora do ordenamento: a
Constituição.
Esta metodologia demanda que abandonemos as análises meramente estruturais dos direitos e das situações jurídicas, passando-se, assim, a privilegiar uma
abordagem que atente para o aspecto funcional do direito. Dessa maneira, o merecimento de tutela de um direito passa a ser condicionado não mais à sua
qualificação abstrata enquanto direito, mas ao papel por ele desempenhado em concreto. Ou seja: até mesmo os direitos tidos como vazios de contraprestação
se inserem numa perspectiva relacional, numa situação subjetiva complexa, que impõe deveres e não só prerrogativas favoráveis.
Daí decorre, segundo Tepedino (2009), que até mesmo a propriedade, para ser tutelada, tem que cumprir uma função constitucional, isto é, um objetivo que
atenda e privilegie valores instituídos pela axiologia da Carta.
 ATENÇÃO
A pessoa deve prevalecer sobre qualquer valor patrimonial. Os institutos patrimoniais não são imutáveis: é preciso adequá-los aos novos valores, na passagem
de uma jurisprudência civil dos interesses patrimoniais a uma mais atenta aos valores existenciais, que não servem só de limite ou finalidade: eles incidem,
portanto, sobre a função do instituto e sobre sua natureza. Assim, permite-se reconstruir o sistema (e o próprio Direito Civil) segundo o valor da pessoa, não
aumentando ou reduzindo a tutela das situações patrimoniais, mas com uma tutela qualitativamente diversa (PERLINGIERI, 2002).
Precisamos, portanto, averiguar sempre em concreto, a partir dessa tutela qualitativamente diversa, o merecimento de tutela de cada uma das situações jurídicas
e dos direitos, uma vez que nem mesmo as situações ditas reais são merecedoras de proteção simplesmente por atenderem aos comandos de forma e
taxatividade: é preciso, pois, qualificar cada direito “à luz de todo o ordenamento, com vistas a verificar se merece tutela jurídica” (OLIVA; RENTERÍA, 2016).
Compreendemos, também, que a autonomia privada somente pode ser determinada em concreto à luz do ordenamento em que se insere. Dessa
maneira, ela “não é, portanto, um valor em si. Revela-se indispensável o reexame da noção à luz do juízo de valor (giudizio di meritevolezza) de cada ato
realizado, de modo tal que se possa deduzir se estes, individualmente considerados, podem ser regulados, pelo menos em parte, pela autonomia privada”
(PERLINGIERI, 2002).
Gustavo Tepedino (2009), analisa que a autonomia privada sofreu uma alteração qualitativa, nos seus três aspectos. Assim, do ponto de vista subjetivo, deixou-
se para trás a prevalência do sujeito de direito enquanto categoria abstrata, para a análise da pessoa concretamente considerada, com suas singularidades, que
a inferiorizam e vulneram com uma igualdade não mais só formal, mas agora também material. Do sujeito de direito passou-se à criança, ao consumidor e, por
que não dizer, ao internauta, ao cidadão conectado e integrado à rede mundial de computadores.
No aspecto formal, a forma, que antes servia para a segurança patrimonial das transferências, passa a ter “papel delimitador da autonomia privada em favor de
interesses socialmente relevantes e de pessoas em situações de vulnerabilidade” (Idem, 2009).
Por fim, a autonomia privada passou por uma transformação no seu aspecto objetivo: novos interesses existenciais passaram a se sobrepor aos patrimoniais.
Tem-se, assim, verdadeira reconstrução das categorias do Direito Privado a partir do surgimento de situações jurídicas completamente inéditas, vindas muitas
vezes do progresso tecnológico. Cabe ao Direito tutelar a pessoa diante desses novos bens jurídicos que passam a ser objeto de situações existenciais.
Passamos, então, agora à análise do bem de família e de suas modalidades.
BEM DE FAMÍLIA CONVENCIONAL OU VOLUNTÁRIO
O bem de família é um instituto de origem norte-americana (o chamado homestead) e representa significativo avanço na tutela de direitos fundamentais,
sobretudo o direito à moradia, não só no Brasil e nos EUA, como em diversos outros ordenamentos. Entre nós, ele pode ser:
Convencional/voluntário
Fruto de ato voluntário das partes
OU
Legal/involuntário/obrigatório:
Imposto pela lei
Em cada situação será regido por normas específicas. O legal é regido pela Lei nº 8.009/1990 e o voluntário pelos artigos 1.711 a 1.722 do Código Civil, além
dos artigos 260 a 265 da Lei nº 6.015/73.
Ambas as espécies incidem tanto sobre bens imóveis, como os móveis que estejam a eles vinculados. No entanto, o voluntário, segundo Gonçalves (2017), só
se verifica quando o proprietário tem dois ou mais imóveis residenciais e deseja optar por um deles, para mantê-lo protegido, e o fizer mediante escritura pública
ulteriormente registrada. A doutrina ainda aponta que a minuciosa regulamentação feita pelo Código Civil tem pouca aplicação prática, na medida em que esta
espécie é raramente instituída.
 DICA
Uma diferença significativa entre as espécies diz respeito ao alcance e à eficácia. Uma vez que o bem de família legal independe de qualquer manifestação de
vontade das partes, ele se revela como um “expediente de elevado alcance social, apresentando eficácia imediata e automática para todos os beneficiados. De
acordo com o Enunciado nº 205 da Súmula do STJ, a Lei nº 8.009/1990 aplica-se inclusive à penhora realizada antes de sua vigência” (TEPEDINO; OLIVA,
2021). Por outro lado, o bem de família convencional ou voluntário só projetará seus efeitos a partir da sua instituição formal.
O Código Civil autoriza no artigo 1.711 a instituição do regime convencional pelos cônjuges, pelos integrantes da entidade familiar ou, ainda, por terceiro (pelo
parágrafo único o terceiro poderá instituí-lo por testamento ou doação, mas a eficácia do ato dependerá da aceitação expressa de ambos os cônjuges
beneficiados ou da entidade familiar beneficiada), mediante escritura pública ou testamento, desde que a destinação do patrimônio para instituição do bem de
família não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial
estabelecida em lei especial.
 
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Importante notarmos que o Código, “assim como a Lei 8.009/1990, não restringe a proteção do bem de família a imóvel estaticamente considerado, mas amplia,
dentro de certos limites, para ativos que se vinculem ao direito fundamental à moradia e, ainda mais amplamente, à subsistência familiar” (TEPEDINO; OLIVA,
2021), o que se encontra disciplinado pelo artigo 1.712. Além disso, segundo o artigo 1.716, “a proteção do bem de família convencional perdurará enquanto
viver um dos cônjuges ou conviventes ou, na falta destes, até que os filhos completem a maioridade” (Idem, 2021).
COMPROVADA A IMPOSSIBILIDADE DA MANUTENÇÃO DO BEM DE FAMÍLIA NAS
CONDIÇÕES EM QUE FOI INSTITUÍDO, PODERÁ O JUIZ, A REQUERIMENTO DOS
INTERESSADOS, EXTINGUI-LO OU AUTORIZAR A SUB-ROGAÇÃO DOS BENS QUE O
CONSTITUEM EM OUTROS, OUVIDOSO INSTITUIDOR E O MINISTÉRIO PÚBLICO.
(CÓDIGO CIVIL, artigo 1.719)
Esse mecanismo permite que o novo bem de família passe a ocupar o mesmo lugar do predecessor, de tal modo que ele se torna igualmente “insuscetível de
ataque pelos credores posteriores à instituição do bem de família original, sendo irrelevante, para fins de marco temporal, a mutação objetiva ocorrida, vez que o
novo bem ocupa, para todos os efeitos jurídicos, a posição do anterior” (TEPEDINO; OLIVA, 2021). Ou seja: se a pessoa precisar por alguma razão se desfazer
daquele bem, substituindo-o por outro, a garantia de ser bem de família também será aplicável ao novo bem.
Como passaremos a analisar com mais vagar no tópico seguinte, a importância da configuração de determinado bem como bem de família está relacionada à
impenhorabilidade, que, como vimos, também se aplica à modalidade convencional por força da dicção expressa do artigo 1.711 do Código Civil.
Nada obstante, tal impenhorabilidade se mostra relativa, em dois sentidos:
SELETIVAMENTE
TEMPORARIAMENTE
SELETIVAMENTE
Só exime o bem da execução por dívidas subsequentes à constituição do bem de família, não podendo ser utilizado o instituto de proteção desta como um
vínculo defraudatório dos credores que já o sejam no momento de seu gravame, e é então requisito de sua validade a solvência do pater familias. Da mesma
forma a impenhorabilidade não se estende às dívidas provenientes dos impostos e taxas condominiais incidentes sobre o próprio imóvel.
TEMPORARIAMENTE
Somente subsiste enquanto viverem os cônjuges e até que os filhos completem maioridade. Tratando-se de filho maior incapaz, estabelece o art. 1.722CC,
perdura o bem de família se existirem filhos sujeitos à curatela (PEREIRA, 2017).
Por fim, as principais causas de extinção do bem de família são:
(i) Falecimento dos cônjuges instituidores e o alcance da maioridade civil pelos filhos (CÓDIGO CIVIL, artigo 1.722);
(ii) Quando “as despesas para a manutenção do imóvel são desproporcionais e acabam gerando graves prejuízos à entidade familiar” (TEPEDINO; TEIXEIRA,
2020).
 ATENÇÃO
Em princípio, a dissolução da sociedade conjugal ou da união estável não extingue o bem de família (artigo 1.721), contudo, pelo parágrafo único deste
dispositivo: “Dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, o sobrevivente poderá pedir a extinção do bem de família, se for o único bem do
casal”.
BEM DE FAMÍLIA LEGAL
Para finalizarmos este segundo módulo, precisamos analisar o bem de família legal, também chamado de obrigatório ou involuntário, cuja disciplina se concentra
na Lei nº 8.009/1990, que já em seu artigo 1º dispõe:
O IMÓVEL RESIDENCIAL PRÓPRIO DO CASAL, OU DA ENTIDADE FAMILIAR, É
IMPENHORÁVEL E NÃO RESPONDERÁ POR QUALQUER TIPO DE DÍVIDA CIVIL,
COMERCIAL, FISCAL, PREVIDENCIÁRIA OU DE OUTRA NATUREZA, CONTRAÍDA PELOS
CÔNJUGES OU PELOS PAIS OU FILHOS QUE SEJAM SEUS PROPRIETÁRIOS E NELE
RESIDAM, SALVO NAS HIPÓTESES PREVISTAS NESTA LEI. PARÁGRAFO ÚNICO. A
IMPENHORABILIDADE COMPREENDE O IMÓVEL SOBRE O QUAL SE ASSENTAM A
CONSTRUÇÃO, AS PLANTAÇÕES, AS BENFEITORIAS DE QUALQUER NATUREZA E TODOS
OS EQUIPAMENTOS, INCLUSIVE OS DE USO PROFISSIONAL, OU MÓVEIS QUE GUARNECEM
A CASA, DESDE QUE QUITADOS.
Na sequência, o artigo 2º determina que estão excluídos da impenhorabilidade:
 
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VEÍCULOS DE TRANSPORTE
 
A Noite Estrelada, Vincent van Gogh, 1889. Imagem: Wikimedia commons / Domínio público.
OBRAS DE ARTE
 
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ADORNOS SUNTUOSOS
O parágrafo único do artigo 2º dispõe que: “No caso de imóvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos bens móveis quitados que guarneçam a residência e
que sejam de propriedade do locatário, observado o disposto neste artigo.” Este parágrafo é uma prova de que o que se tutela, na verdade, não é o direito real
de propriedade, mas, antes, o direito fundamental à moradia, daí porque a extensão dessa prerrogativa também ao locatário. (TEPEDINO; OLIVA, 2021).
 ATENÇÃO
A análise dos bens a serem excluídos ou incluídos na regra de impenhorabilidade deve ser realizada em concreto e não em abstrato, isto é: devemos privilegiar
uma avaliação funcional dos bens (TEPEDINO; OLIVA, 2021). Foi assim que o Superior Tribunal de Justiça em um mesmo ano considerou impenhorável um
piano utilizado para a educação musical dos filhos do casal, assim como supérfluo e penhorável outro piano quando este servia como peça de decoração da
residência.
 
Foto: Sbringser / Pixabay.
PIANO
“Piano – bem de família (...) insuscetível de penhora” (STJ, 3ª T., REsp 207.762/SP, Rel. Min. Waldemar Zveiter, julg. 27.3.2000, publ. DJ 5.6.2000); “Piano
– não coberto pela proteção do bem de família, suscetível de penhora” (STJ, 3ª T., REsp 198.370/MG, Rel. Min. Waldemar Zveiter, julg. 16.11.2000, publ.
DJ 5.2.2001).
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A Lei estabelece ainda em seu artigo 5º a possibilidade de o casal ou entidade familiar utilizar múltiplos imóveis como residência, estabelecendo que para os
efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia
permanente. Assim, na forma do parágrafo único do mesmo artigo, na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como
residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art. 70
do Código Civil. Fundamental também olhar para as exceções à impenhorabilidade que constam dos incisos do artigo 3º da Lei.
O artigo 4º regula, por sua vez, a invalidade de atos praticados em fraude: “Não se beneficiará do disposto nesta lei aquele que, sabendo-se insolvente, adquire
de má-fé imóvel mais valioso para transferir a residência familiar, desfazendo-se ou não da moradia antiga”.
 COMENTÁRIO
À luz desse dispositivo, a doutrina questiona se ao bem luxuoso “deve ser conferida a proteção integral do bem de família legal ou se, ao revés, pode ser
excutido o bem, com a reserva de montante para a aquisição de outro mais modesto, onde a família possa residir com dignidade” (TEPEDINO; OLIVA, 2021).
Apesar de críticas na doutrina, tem prevalecido “na jurisprudência do STJ, o entendimento sobre a irrelevância do valor do bem de família, ressalvada a hipótese
de fraude. Assim, os bens luxuosos desfrutam de igual proteção legal” (Idem, 2021).
Por derradeiro, vale fazermos menção à Súmula nº 486 do STJ:
É IMPENHORÁVEL O ÚNICO IMÓVEL RESIDENCIAL DO DEVEDOR QUE ESTEJA LOCADO A
TERCEIROS, DESDE QUE A RENDA OBTIDA COM A LOCAÇÃO SEJA REVERTIDA PARA A
SUBSISTÊNCIA OU A MORADIA DA SUA FAMÍLIA.
No vídeo a seguir, o professor Filipe Medon comenta sobre características, extensão e limites do bem de família legal. Vamos assistir!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA A ESSE RESPEITO DO BEM DE FAMÍLIA:
A) Dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, o sobrevivente somente poderá pedir a extinção do bem de família caso este seja o único
bem do casal.
B) A proteção ao bem de família se ancora em doutrina advinda do Direito Asiático.
C) A vontade das partes não pode criar bem de família.
D) É vedada a sub-rogação de bens de família.
E) A impenhorabilidade do bem de família é absoluta.
2. SÃO PRESSUPOSTOS DA METODOLOGIA CIVIL-CONSTITUCIONAL, EXCETO:
A) Prevalência de análise funcional em detrimento de estrutural.
B) A unidade e complexidade do ordenamento jurídico.
C) Aplicação de normas constitucionais às relações privadas, desde que acompanhadas de normas infralegais.
D) A necessidade de avaliar em concreto o merecimento de tutela de situações jurídicas.
E) A alteração qualitativa da autonomia privada.
GABARITO
1. Assinale a alternativa correta a esse respeito do bem de família:
A alternativa "A " está correta.
 
O art. 1.721 do Código Civil e seu parágrafo único estipulam:
“Art. 1.721. A dissolução da sociedade conjugal não extingueo bem de família
Parágrafo único. Dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, o sobrevivente poderá pedir a extinção do bem de família, se for o único bem
do casal”.
Desse modo, uma vez restando apenas um cônjuge, por consequência lógica não haverá a necessidade do expresso consentimento doutro cônjuge.
2. São pressupostos da metodologia civil-constitucional, exceto:
A alternativa "C " está correta.
 
A metodologia civil-constitucional defende justamente o oposto, isto é, a plena aplicabilidade direta das normas constitucionais nas relações jurídicas.
MÓDULO 3
 Identificar a teoria do patrimônio da pessoa humana
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
 
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A dignidade da pessoa humana está prevista no inciso III do artigo 1º da Constituição como um dos fundamentos da República. Seu conteúdo concreto, no
entanto, é alvo de diversas teorias tanto entre os constitucionalistas, como entre os civilistas, uma vez que o constituinte se limitou a enunciá-la. Como se verá
no tópico seguinte, a dignidade humana é o principal fundamento para a teoria do patrimônio mínimo.
Esclarece o Ministro Luís Roberto Barroso que, após a Segunda Guerra Mundial, a dignidade se tornou:
(...) UM DOS GRANDES CONSENSOS ÉTICOS DO MUNDO OCIDENTAL, MATERIALIZADO EM
DECLARAÇÕES DE DIREITOS, CONVENÇÕES INTERNACIONAIS E CONSTITUIÇÕES.
APESAR DO GRANDE APELO MORAL E ESPIRITUAL DA EXPRESSÃO, SUA GRANDE
VAGUEZA TEM FEITO COM QUE ELA FUNCIONE, EM EXTENSA MEDIDA, COMO UM
ESPELHO: CADA UM PROJETA NELA A SUA PRÓPRIA IMAGEM, OS SEUS VALORES E
CONVICÇÕES. ISSO TEM FEITO COM QUE A IDEIA DE DIGNIDADE SEJA FREQUENTEMENTE
INVOCADA PELOS DOIS LADOS DO LITÍGIO, QUANDO ESTEJAM EM DISPUTA QUESTÕES
MORALMENTE CONTROVERTIDAS.
(BARROSO, 2020)
Segundo Anderson Schreiber (2020), a dignidade humana é o valor-síntese que reúne as esferas essenciais de desenvolvimento e realização da pessoa
humana. Seu conteúdo não pode ser descrito de modo rígido; deve ser apreendido por cada sociedade em cada momento histórico, considerando seu próprio
substrato cultural.
O Ministro Barroso (2020) nos esclarece que há três elementos que integram o conteúdo mínimo da dignidade:
 
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O valor intrínseco de todos os seres humanos.
O valor intrínseco de todos os seres humanos.
 
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A autonomia de cada indivíduo.
A autonomia de cada indivíduo.
 
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Algumas restrições legítimas impostas à autonomia de cada indivíduo em nome de valores sociais ou interesses estatais (valor comunitário).
Algumas restrições legítimas impostas à autonomia de cada indivíduo em nome de valores sociais ou interesses estatais (valor comunitário).
Ou seja: valor intrínseco da pessoa humana, autonomia individual e valor comunitário.
Segundo Barroso (2020), a dignidade enquanto autonomia envolveria, dentre outras coisas, a capacidade de autodeterminação do indivíduo, de decidir os rumos
da própria vida e de desenvolver livremente a sua personalidade. Significa o poder de fazer valorações morais e escolhas existenciais sem imposições externas
indevidas.
E o pressuposto apontado por ele como necessário para o exercício da autonomia, tanto em sua dimensão pública, quanto em sua dimensão privada, seria o
chamado mínimo existencial:
PARA PODER SER LIVRE, IGUAL E CAPAZ DE EXERCER PLENAMENTE A SUA CIDADANIA,
TODO INDIVÍDUO PRECISA TER SATISFEITAS AS NECESSIDADES INDISPENSÁVEIS À SUA
EXISTÊNCIA FÍSICA E PSÍQUICA. O MÍNIMO EXISTENCIAL CORRESPONDE AO NÚCLEO
ESSENCIAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS E SEU CONTEÚDO EQUIVALE ÀS PRÉ-
CONDIÇÕES PARA O EXERCÍCIO DOS DIREITOS INDIVIDUAIS E POLÍTICOS, DA AUTONOMIA
PRIVADA E PÚBLICA.
(BARROSO, 2020)
É precisamente nesse contexto que se insere a discussão sobre a teoria do estatuto patrimônio mínimo.
ESTATUTO DO PATRIMÔNIO MÍNIMO
Antes de compreendermos esta teoria, é imperioso que nós busquemos a definição de patrimônio em geral. Como vimos logo no primeiro tópico do primeiro
módulo, na definição clássica de Clóvis Beviláqua (2001), o patrimônio seria o complexo das relações jurídicas de uma pessoa que tiverem valor
econômico. Assim, compreendem-se no patrimônio:
Elementos ativos
Direitos de ordem privada economicamente apreciável

Elementos passivos
Dívidas
Patrimônio é a atividade econômica de uma pessoa, sob o seu aspecto jurídico, ou a projeção econômica civil. Segundo Gonçalves (2013), o patrimônio, como
se depreende, traduz conceito quantitativo, relativo ao conjunto de direitos de uma pessoa suscetíveis de avaliação pecuniária. Ou, ainda, em sentido amplo, o
conjunto de bens, de qualquer ordem, pertencentes a um titular, constitui o seu patrimônio. Em sentido estrito, tal expressão abrange apenas as relações
jurídicas ativas e passivas de que a pessoa é titular, aferíveis economicamente.
 
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Para além dessas conceituações clássicas e tradicionais, segundo Schreiber (2020), nas últimas décadas tem-se falado na ideia de um “patrimônio mínimo, a
que todas as pessoas humanas fariam jus como instrumento necessário a garantir o exercício de seus direitos fundamentais”. Essa discussão se insere,
portanto, na lógica subjacente à proteção ao bem de família e à garantia de um mínimo existencial necessário para garantir a autonomia inerente à dignidade da
pessoa humana.
Como esclarece Carlos Roberto Gonçalves, existe uma forte tendência no sentido de se adotar uma nova postura em face ao patrimônio, uma vez que a sua
tutela jurídica deve ter como finalidade precípua a dignidade:
A PROTEÇÃO DE UM PATRIMÔNIO MÍNIMO VAI AO ENCONTRO DESSA TENDÊNCIA, COMO
SE PODE VERIFICAR, VERBI GRATIA, NA PROTEÇÃO AO BEM DE FAMÍLIA (LEI N. 8.009/90 E
CC, ARTS. 1.711 A 1.722); NO ÓBICE À PRODIGALIDADE MEDIANTE A VEDAÇÃO DA
DOAÇÃO DA TOTALIDADE DO PATRIMÔNIO, SEM QUE SE RESGUARDE UM MÍNIMO (CC,
ART. 548); NA PREVISÃO DA IMPENHORABILIDADE DE DETERMINADOS BENS (...) E EM
OUTROS DISPOSITIVOS QUE RECONHECEM COMO NECESSÁRIA TAL PROTEÇÃO, PARA O
DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES HUMANAS.
(GONÇALVES, 2013)
 SAIBA MAIS
De acordo com um dos mais importantes defensores desta teoria, o Ministro Luiz Edson Fachin (2006), seria possível defender que fosse assegurado um
patrimônio mínimo a toda pessoa natural, ou seja, uma garantia patrimonial que integra sua esfera jurídica, sendo mensurado consoante parâmetros
elementares de uma vida digna e do qual não pode ser expropriada ou desapossada. Segundo o Ministro, “por força desse princípio, independente de previsão
legislativa específica instituidora dessa figura jurídica, e, para além da mera impenhorabilidade como abonação, ou inalienabilidade como gravame, sustenta-se
existir essa imunidade juridicamente inata ao ser humano, superior aos interesses dos credores” (Idem, 2006).
A ideia, como vimos, é a garantia do mínimo existencial, ou seja, “condições materiais básicas para que a dignidade humana não seja princípio meramente
formal, possibilitando-se a todos oportunidades reais de exercício de seus direitos fundamentais” (TEPEDINO; OLIVA, 2021).
Como esclarecem Gustavo Tepedino e Milena Donato Oliva (2021), apesar de ter havido no Direito brasileiro uma mudança de paradigma na Responsabilidade
Civil, que passa a focar menos na figura do ofensor e mais na reparação integral na vítima:
A REPARAÇÃO DO DANO NÃO PODE LEVAR O OFENSOR À RUÍNA, DEIXANDO-O SEM O
MÍNIMO NECESSÁRIO À SUA SUBSISTÊNCIA DIGNA. EIS A RATIO CONTIDA NOS
PARÁGRAFOS ÚNICOS DOS ARTS. 928 E 944 DO CÓDIGO CIVIL, EM QUE SE DEVE
PONDERAR A PRESERVAÇÃO DO MÍNIMO EXISTENCIAL DO CAUSADOR DO DANO COM O
DIREITO À REPARAÇÃO INTEGRAL DA VÍTIMA, QUE MUITAS VEZES SE ASSOCIA AO
MÍNIMO EXISTENCIAL DESTA, DE MANEIRA A SE PROMOVER A DIGNIDADE DE AMBOS NA
JUSTA MEDIDA. DESSA FORMA, NO DIREITO BRASILEIRO, O DEVEDOR – SEJA DA
OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO EXTRACONTRATUAL, SEJA DA PRESTAÇÃO QUE
TENHA COMO FONTE O CONTRATO –NÃO TEM RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL
ILIMITADA. AO REVÉS, O LEGISLADOR, DE DIVERSAS MANEIRAS, BUSCA GARANTIR A
PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO MÍNIMO DO DEVEDOR, SEM PREJUÍZO DA MAIS AMPLA
POSSÍVEL REPARAÇÃO DA VÍTIMA E DA SATISFAÇÃO DO CRÉDITO DO CREDOR. PARA
TANTO, EXCLUI OU PERMITE A EXCLUSÃO DE CERTOS ATIVOS DO ATAQUE DOS
CREDORES, AO QUE SE SOMA A NECESSÁRIA VALORAÇÃO JUDICIAL, A SER
CONCRETAMENTE EFETUADA, COM O INTUITO DE SE PRESERVAR O MÍNIMO EXISTENCIAL
DO DEVEDOR.
(TEPEDINO; OLIVA, 2021)
Como podemos notar, a ideia de um patrimônio mínimo ecoa na doutrina. Cabe-nos verificar como ela tem repercutido na jurisprudência.
No vídeo a seguir, o professor Filipe Medon faz uma abordagem das características do patrimônio mínimo. Vamos assistir!
A JURISPRUDÊNCIA SOBRE O ESTATUTO DO PATRIMÔNIO MÍNIMO
Antes de finalizarmos nosso estudo relativo aos bens, precisamos colher na jurisprudência algumas informações sobre a aplicabilidade prática dessa teoria do
Estatuto do Patrimônio Mínimo.
A partir da análise da jurisprudência, podemos observar alguns aspectos interessantes, como o fato de a teoria do estatuto do patrimônio mínimo ser utilizada
como uma espécie de reforço argumentativo à aplicação de normas jurídicas como a do artigo 548 do Código Civil.
Nessa linha, vejamos a seguinte ementa do STJ, com grifos nossos.
 
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RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE NEGÓCIO JURÍDICO. ART. 548 DO CC. RENÚNCIA DO CÔNJUGE VIRAGO À
INTEGRALIDADE DE SUA MEAÇÃO NA SEPARAÇÃO CONSENSUAL DO CASAL. ACORDO HOMOLOGADO POR SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO.
CARACTERIZAÇÃO DE DOAÇÃO. NULIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO. INOCORRÊNCIA. DOADORA COM RENDA SUFICIENTE PARA PRESERVAR
PATRIMÔNIO MÍNIMO À SUA SUBSISTÊNCIA.
O art. 548 do Código Civil estabelece ser nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador. A ratio
da norma em comento, ao prever a nulidade da doação universal, foi a de garantir à pessoa o direito a um patrimônio mínimo, impedindo que se
reduza sua situação financeira à miserabilidade. Nessa linha, acabou por mitigar, de alguma forma, a autonomia privada e o direito à livre
disposição da propriedade, em exteriorização da preservação de um mínimo existencial à dignidade humana do benfeitor, um dos pilares da
Carta da República e chave hermenêutica para leitura interpretativa de qualquer norma.
É possível a doação da totalidade do patrimônio pelo doador, desde que remanesça uma fonte de renda ou reserva de usufruto, ou mesmo bens
a seu favor, que preserve um patrimônio mínimo à sua subsistência (CC, art. 548). Não se pode olvidar, ainda, que a aferição da situação econômica
do doador deve ser considerada no momento da liberalidade, não sendo relevante, para esse efeito, o empobrecimento posterior do doador.
Assim, na situação em concreto é que se poderá aferir se a doação universal (omnium bonorum) deixou realmente o doador sem a mínima disponibilidade
patrimonial para sua sobrevivência.
Na hipótese, a pretensão não merece prosperar, tomando-se em conta os limites do recurso especial e o somatório das seguintes circunstâncias do caso
em concreto: i) reconhecimento da suficiência de fonte de renda à época apta a manter condições mínimas de sobrevivência digna; ii) não ter sido
comprovado que a recorrente voltou a residir no imóvel objeto do litígio em razão de sua miserabilidade; iii) o lapso temporal do pedido de nulidade da
doação - quase 20 anos após -, o que enfraquece o argumento de estar vivendo por tanto tempo em situação indigna; e iv) o fato de que a separação foi
homologada em juízo, sob a fiscalização do Superior Tribunal de Justiça representante do Ministério Público.
No tocante à doação inoficiosa, como sabido, há nulidade em relação ao quantum da deixa quando se exceder aquilo que poderia ser disposto em
testamento (CC, art. 549). No presente caso, o Tribunal de origem chegou à conclusão de que a recorrente não trouxe provas de que o imóvel doado ao
cônjuge varão excedia a parte a que a doadora, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento. Entender de forma diversa demandaria o
revolvimento fático-probatório dos autos, o que encontra óbice na Súmula. 7 do STJ.
Recurso especial não provido. (REsp nº. 1.183.133 - RJ (2010/0039641-4), Relator Min. Luis Felipe Salomão).
Nesse caso, o STJ entendeu, com base nessa teoria e no artigo 548, que só é possível a doação da totalidade do patrimônio pelo doador, caso remanesça uma
fonte de renda ou reserva de usufruto, ou mesmo bens a seu favor, que preserve um patrimônio mínimo à sua subsistência.
Neste outro, a Corte associa a teoria à proteção conferida ao bem de família:
 
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DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. LEVANTAMENTO DE PENHORA INCIDENTE SOBRE BEM DE
FAMÍLIA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS REQUISITOS DA PROTEÇÃO LEGAL. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS.
INADMISSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ. FRAUDE CONTRA CREDORES. INOCORRÊNCIA. ELEVADO VALOR DO IMÓVEL CONSTRITO.
AFASTAMENTO DA IMPENHORABILIDADE. DESCABIMENTO. PRECEDENTES DO STJ. MULTA DO ART. 1.021, § 4º, DO CPC/2015. NÃO INCIDÊNCIA.
DECISÃO MANTIDA.
O recurso especial não comporta o exame de questões que impliquem revolvimento do contexto fático-probatório dos autos (Súmula n.7/STJ).
No caso, a Corte local assentou que estavam presentes os requisitos necessários ao enquadramento do imóvel constrito como bem de família.
Para modificar tal entendimento seria imprescindível nova análise da matéria fática, inviável em recurso especial.
Segundo a jurisprudência do STJ, "[...] quando se trata da alienação ou oneração do próprio bem impenhorável, nos termos da Lei n. 8.009/90, entende-se
pela inviabilidade ‒ ressalvada a hipótese prevista no art. 4º da referida Lei ‒ de caracterização da fraude à execução, haja vista que, consubstanciando
imóvel absolutamente insuscetível de constrição, não há falar em sua vinculação à satisfação da execução, razão pela qual carece ao exequente interesse
jurídico na declaração de ineficácia do negócio jurídico. O parâmetro crucial para discernir se há ou não fraude contra credores ou à execução é verificar a
ocorrência de alteração na destinação primitiva do imóvel ‒ qual seja, a morada da família ‒ ou de desvio do proveito econômico da alienação (se
existente) em prejuízo do credor. Inexistentes tais requisitos, não há falar em alienação fraudulenta" (REsp n. 1.227.366/RS, Relator Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 21/10/2014, DJe 17/11/2014).
No caso, as premissas assentadas no acórdão recorrido não indicam a existência da fraude contra credores imputada ao agravado, o que
inviabiliza a mitigação da referida impenhorabilidade.
Conforme o entendimento do STJ, "[...] a lei não prevê qualquer restrição à garantia do imóvel como bem de família relativamente ao seu valor, tampouco
estabelece regime jurídico distinto no que tange à impenhorabilidade, ou seja, os imóveis residenciais de alto padrão ou de luxo não estão excluídos,
em razão do seu valor econômico, da proteção conferida aos bens de família consoante os ditames da Lei 8009/90. O momento evolutivo da
sociedade brasileira tem sido delineado de longa data no intuito de salvaguardar e elastecer o direito à impenhorabilidade ao bem de família, de
forma a ampliar o conceito e não de restringi-lo, tomando como base a hermenêutica jurídica que procura extrair a real pretensão do legislador e, em
última análise, a própria intenção da sociedade relativamente às regras e exceções aos direitos garantidos, tendo sempre em mente que a execução de
crédito se realiza de modo menos gravoso ao devedor consoante estabelece o artigo 620 do CPC/73, atual 805 no NCPC. 5. A variável concernente ao
valor do bem, seja perante o mercado imobiliário, o Fisco, ou ainda, com amparo na subjetividade do julgador, não afasta a razão preponderante
justificadora da garantia de impenhorabilidade concebidapelo legislador pelo regime da Lei nº 8.009/90, qual seja, proteger a família, garantindo-
lhe o patrimônio mínimo para sua residência" (REsp n. 1.351.571/SP, Relator p/ Acórdão Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em
27/9/2016, DJe 11/11/2016).
No caso, verifica-se não prosperar a alegação da empresa, de afastar a impenhorabilidade do imóvel descrito na exordial devido ao valor elevado
dele.
Conforme orienta a jurisprudência das Turmas que compõem a Segunda Seção do STJ, "a aplicação da multa prevista no § 4º do art. 1.021 do CPC/2015
não é automática, não se tratando de mera decorrência lógica do não provimento do agravo interno em votação unânime. A condenação do agravante ao
pagamento da aludida multa, a ser analisada em cada caso concreto, em decisão fundamentada, pressupõe que o agravo interno mostre-se
manifestamente inadmissível ou que sua improcedência seja de tal forma evidente que a simples interposição do recurso possa ser tida, de plano, como
abusiva ou protelatória, o que, contudo, não ocorreu na hipótese examinada" (AgInt nos EREsp n. 1.120.356/RS, Relator Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 24/8/2016, DJe 29/8/2016).
Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no REsp 1806654/SP, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em
09/12/2019, DJe 13/12/2019) (grifo nosso).
Em ambos os julgados, o que se observa é a aplicação da teoria condicionada à presença de alguma outra fonte normativa.
Por fim, neste julgado foi utilizada para limitação da responsabilidade civil de menor de idade:
 
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DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO DE OUTREM ‒ PAIS PELOS ATOS PRATICADOS PELOS FILHOS MENORES. ATO ILÍCITO
COMETIDO POR MENOR. RESPONSABILIDADE CIVIL MITIGADA E SUBSIDIÁRIA DO INCAPAZ PELOS SEUS ATOS (CC, ART. 928). LITISCONSÓRCIO
NECESSÁRIO. INOCORRÊNCIA.
A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária e mitigada (CC, art. 928).
É subsidiária porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios para ressarcir a vítima; é condicional e mitigada porque não
poderá ultrapassar o limite humanitário do patrimônio mínimo do infante (CC, art. 928, par. único e En. 39/CJF); e deve ser equitativa, tendo em
vista que a indenização deverá ser equânime, sem a privação do mínimo necessário para a sobrevivência digna do incapaz (CC, art. 928, par.
único e En. 449/CJF). (...)
(REsp 1436401/MG (2013/0351714-7), Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/02/2017) (grifo nosso)
 COMENTÁRIO
Como se pode notar, ainda que às vezes por meio indireto, a teoria do estatuto do patrimônio mínimo também é, em alguma medida, reconhecida pela
jurisprudência, sobretudo no âmbito do Superior Tribunal de Justiça.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A RESPEITO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) Trata-se de princípio constante do Direito Internacional, incorporado ao Direito brasileiro por meio de tratado.
B) Seu surgimento data do século XIX no contexto da Revolução Francesa e dos ideais liberais.
C) O mínimo existencial está previsto expressamente pela Constituição.
D) A dignidade enquanto autonomia envolve a capacidade de autodeterminação do indivíduo.
E) É precondição para a dignidade no Brasil a cidadania.
2. ACERCA DA TEORIA DO ESTATUTO DO PATRIMÔNIO MÍNIMO DA PESSOA HUMANA É INCORRETO AFIRMAR QUE:
A) Trata-se de teoria que repercute na doutrina e na jurisprudência, sobretudo do STJ.
B) Dentre seus principais defensores encontra-se o Ministro do STF Luiz Edson Fachin.
C) É utilizada como argumento de reforço pela jurisprudência.
D) Associa-se à proteção ao mínimo existencial e à dignidade
E) Aplica-se indistintamente à pessoa jurídica e à pessoa natural.
GABARITO
1. A respeito da dignidade da pessoa humana, assinale a alternativa correta:
A alternativa "D " está correta.
 
É isto que afirma o Ministro Luís Roberto Barroso: segundo ele, a dignidade enquanto autonomia envolveria, dentre outras coisas, a capacidade de
autodeterminação do indivíduo, de decidir os rumos da própria vida e de desenvolver livremente a sua personalidade. Significa o poder de fazer valorações
morais e escolhas existenciais sem imposições externas indevidas.
2. Acerca da teoria do Estatuto do Patrimônio Mínimo da Pessoa Humana é incorreto afirmar que:
A alternativa "E " está correta.
 
Trata-se de atributo exclusivo da pessoa humana (natural), associado à proteção da sua dignidade.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos, a teoria dos bens recebe a cada dia mais os influxos da constitucionalização do Direito, com a aplicação direta de normas constitucionais, como
aquela constante do artigo 1º, inciso III, que traz a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da República.
São exemplos dessa constitucionalização a proteção do bem de família (e consequentemente do direito à moradia), bem como o patrimônio mínimo da pessoa
humana. Ambos se associam à ideia de que é preciso que haja a funcionalização dos institutos e situações jurídicas subjetivas à axiologia constitucional.
A releitura da teoria dos bens é, assim, fundamental nesse processo, de tal modo que estes devem ser compreendidos sempre à luz de uma perspectiva
funcional que privilegie menos a sua estrutura e mais a sua aplicação prática.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
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Educação, 2020 (versão digital).
BEVILÁQUA, C. Teoria Geral do Direito Civil. Campinas: Red Livros, 2001.
CÓDIGO CIVIL PORTUGUÊS. IGAC. Consultado em meio eletrônico em: 25 fev. 2021.
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Rio de Janeiro: Renovar: 2002, v. I.
DI PIETRO, M. S. Z. Direito Administrativo.28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
FACHIN, L. E. Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro: Direito de família.14. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro: parte geral. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
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PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil: vol. V. 25. ed. revista e atualizada por Tânia da Silva Pereira. Rio de Janeiro: Forense, 2017 (versão digital).
PERLINGIERI, P. Perfis do Direito Civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.
PERLINGIERI, P. Perfis do Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 12 apud KONDER, C. N.; SCHREIBER, A. Uma agenda para o Direito Civil-
Constitucional. Revista Brasileira de Direito Civil, v. 10, out/dez 2016.
SCHREIBER, A. Manual de Direito Civil Contemporâneo. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020 (versão digital).
SENADO. Senado aprova projeto que cria natureza jurídica para os animais. Agência Senado, 07 ago. 2019. Consultado em meio eletrônico em: 25 fev.
2021.
TEPEDINO, G. Normas constitucionais e Direito Civil na construção unitária do ordenamento. In: Temas de Direito Civil. t. III. Rio de Janeiro: Renovar,
2009.
TEPEDINO, G.; OLIVA, M. D. Fundamentos do Direito Civil: volume 1. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021.
TEPEDINO, G; TEIXEIRA, A. C. B. Fundamentos do Direito Civil: volume 6. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos tratados neste tema, assista aos vídeos:
Gustavo Tepedino comenta, disponível no canal GEN Jurídico, no YouTube, o caso do capítulo X do livro Fundamentos do Direito Civil – Teoria Geral do
Direito Civil ‒ Vol. 1, sobre a Teoria dos Bens Jurídicos.
O professor Rodrigo da Cunha Pereira comenta, disponível no canal GEN Jurídico, no YouTube, parte integrante do livro

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