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Indaial – 2021 Portuguesa Profª. Rosangela Marçolla 3a Edição Morfologia da língua Elaboração: Profª. Rosangela Marçolla Copyright © UNIASSELVI 2021 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: M321m Marçolla, Rosangela Morfologia da língua portuguesa. / Rosangela Marçolla – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 214 p.; il. ISBN 978-65-5663-685-6 ISBN Digital 978-65-5663-684-9 1. Língua portuguesa. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 469 Caro acadêmico! Estamos iniciando os estudos de Morfologia da Língua Portuguesa, na modalidade de ensino a distância, em nível de graduação. É uma ótima oportunidade para você ter uma formação acadêmica de alta qualidade, dominando os conteúdos necessários para o seu campo de aprendizagem. O estudo traz os conceitos fundamentais para a compreensão dos aspectos morfológicos da Língua Portuguesa, com leituras e atividades que auxiliarão na fixação do conteúdo. O material será apresentado em três unidades, contendo três tópicos em cada uma delas e ainda as divisões por assunto. Todos os pontos serão explicados, exemplificados para que você entenda de modo fácil, principalmente, na hora de resolver as questões relativas ao conteúdo. A Unidade 1 apresenta os conceitos de Morfologia, o significado dos termos palavra e vocábulo, os estudos de morfologia gerativa, que alterou a forma que se conhecia tradicionalmente e encerramos essa parte com os neologismos, a dinâmica da nossa língua sempre se atualizando. A Unidade 2 aborda as classes gramaticais: substantivo, adjetivo, verbo e advérbio, seus conceitos, flexões, gênero, número e grau. É de suma importância, nessa parte, o conhecimento detalhado dessas classes de palavras e o acompanhamento de leituras e práticas para o melhor entendimento. A Unidade 3 traz mais classes gramaticais: numeral, artigo, pronome, preposi- ção, conjunção e interjeição e, da mesma forma, o estudo minucioso de cada elemento, seus conceitos, tipos, formas, flexões e classificações. Mais uma vez, lembramos que fazem parte do aprendizado as práticas e as leituras para a fixação do conteúdo. Temos a certeza de que vamos caminhar muito bem, lado a lado. Aproveite a leitura! Bons estudos! Profª. Rosangela Marçolla APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. 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Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. QR CODE Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! SUMÁRIO UNIDADE 1 - ESTRUTURA DAS PALAVRAS: PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS ........................................................................................................................ 1 TÓPICO 1 - ESTUDOS DE MORFOLOGIA ...............................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 CONCEITOS DE MORFOLOGIA ............................................................................................3 2.1 PALAVRA E VOCÁBULO .......................................................................................................................8 3 MORFOLOGIA GERATIVA E TEORIA GERATIVA TRANSFORMACIONAL ..........................11 4 NEOLOGISMO .................................................................................................................... 15 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 17 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 19 TÓPICO 2 - APORTES TEÓRICOS DE MORFOLOGIA .......................................................... 23 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 23 2 FORMAÇÃO DE PALAVRAS ............................................................................................. 23 3 MORFEMA ......................................................................................................................... 24 3.1 TIPOS DE MORFEMAS ....................................................................................................................... 27 3.2 MORFEMA, MORFE E ALOMORFE ...................................................................................................28 4 FORMAS LIVRES, FORMAS PRESAS E FORMAS DEPENDENTES ................................. 29 5 ELEMENTOS MORFOLÓGICOS ........................................................................................32 5.1 RADICAL E RAIZ ...................................................................................................................................32 5.1.1 Radicais gregos e latinos ..........................................................................................................32 5.2 VOGAIS TEMÁTICAS ...........................................................................................................................34 5.3 DESINÊNCIAS ......................................................................................................................................35 5.4 VOGAIS E CONSOANTES DE LIGAÇÃO (INFIXOS) ......................................................................36 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 38 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 40 TÓPICO 3 - PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS ................................................. 43 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 43 2 COMPOSIÇÃO ................................................................................................................... 44 2.1 OUTROS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS ...............................................................44 2.1.1 Hibridismo ....................................................................................................................................44 2.1.2 Onomatopeias ............................................................................................................................45 2.1.3 Sigla ..............................................................................................................................................46 3 DERIVAÇÃO .......................................................................................................................47 3.1 TIPOS DE DERIVAÇÃO ........................................................................................................................49 3.1.1 Afixos: prefixos e sufixos ...........................................................................................................49 3.1.2 Parassíntese ...............................................................................................................................52 3.1.3 Derivação regressiva ................................................................................................................53 3.1.4 Derivação imprópria .................................................................................................................53 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................................57 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 58 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................59 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 62 UNIDADE 2 — CLASSES DE PALAVRAS: SUBSTANTIVO, ADJETIVO, VERBO E ADVÉRBIO .............................................................................................................67 TÓPICO 1 — SUBSTANTIVO E ADJETIVO ........................................................................... 69 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 69 2 FLEXÃO NOMINAL ............................................................................................................ 69 2.1 MORFEMAS FLEXIONAIS (DESINÊNCIAS) ...................................................................................... 72 3 SUBSTANTIVO...................................................................................................................75 3.1 CONCEITO DE SUBSTANTIVO ........................................................................................................... 75 3. 2 FLEXÃO DOS SUBSTANTIVOS ....................................................................................................... 76 3.3 GRAU DOS SUBSTANTIVOS .............................................................................................................78 4 ADJETIVO ..........................................................................................................................79 4.1 CONCEITO DE ADJETIVO .................................................................................................................. 80 4.2 FLEXÃO DOS ADJETIVOS .................................................................................................................82 4.3 GRAU DOS ADJETIVOS .....................................................................................................................83 RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................................87 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 88 TÓPICO 2 - VERBO: ESTRUTURA, FLEXÃO E CONJUGAÇÃO ............................................ 91 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 91 2 ASPECTO VERBAL ............................................................................................................ 91 3 ESTRUTURA VERBAL ...................................................................................................... 94 4 FLEXÃO VERBAL ...............................................................................................................96 5 PADRÃO GERAL DE FLEXÃO VERBAL ........................................................................... 101 6 FORMAS NOMINAIS DOS VERBOS .................................................................................103 7 CONJUGAÇÃO VERBAL ..................................................................................................105 7.1 VERBOS REGULARES ...................................................................................................................... 107 8 MODO INDICATIVO ..........................................................................................................109 9 MODO SUBJUNTIVO ....................................................................................................... 110 10 VERBOS IRREGULARES ................................................................................................ 113 11 VERBOS REGULARES E IRREGULARES: TEMPOS COMPOSTOS ................................ 114 12 MODO IMPERATIVO ....................................................................................................... 116 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................120 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................122 TÓPICO 3 - ADVÉRBIO: VALORES MORFOLÓGICOS E SEMÂNTICOS .............................125 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................125 2 CONCEITO DE ADVÉRBIO ...............................................................................................125 3 CLASSIFICAÇÃO DOS ADVÉRBIOS ................................................................................129 4 O GRAU DO ADVÉRBIO ................................................................................................... 131 5 LOCUÇÃO ADVERBIAL ...................................................................................................132 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................134RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................135 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................136 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................138 UNIDADE 3 — CLASSES DE PALAVRAS: NUMERAL, ARTIGO, PRONOME, PREPOSIÇÃO, CONJUNÇÃO E INTERJEIÇÃO .................................................................. 141 TÓPICO 1 — NUMERAL E ARTIGO ......................................................................................143 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................143 2 NUMERAL ........................................................................................................................143 2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS NUMERAIS ..................................................................................................146 2.2 FLEXÃO DOS NUMERAIS ................................................................................................................ 147 2.3 UTILIZAÇÃO DOS NUMERAIS .........................................................................................................148 3 ARTIGOS ..........................................................................................................................150 3.1 ARTIGOS DEFINIDOS ..........................................................................................................................151 3.2 ARTIGOS INDEFINIDOS .................................................................................................................... 152 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 157 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................158 TÓPICO 2 - PRONOMES ..................................................................................................... 161 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 161 2 CLASSIFICAÇÃO DOS PRONOMES ................................................................................ 161 2.1 PRONOMES INDEFINIDOS ...............................................................................................................167 2.2 PRONOMES PESSOAIS ....................................................................................................................168 2.3 PRONOMES POSSESSIVOS ............................................................................................................ 171 2.4 PRONOMES DEMONSTRATIVOS .................................................................................................... 172 2.5 PRONOMES DE TRATAMENTO ....................................................................................................... 175 2.6 PRONOMES INTERROGATIVOS .......................................................................................................177 2.7 PRONOMES RELATIVOS ................................................................................................................... 178 3 PRONOMES ADJETIVOS E PRONOMES SUBSTANTIVOS ............................................. 179 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................182 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................183 TÓPICO 3 - PREPOSIÇÃO, CONJUNÇÃO E INTERJEIÇÃO ...............................................187 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................187 2 VALORES SEMÂNTICOS DAS PREPOSIÇÕES ...............................................................187 2.1 TIPOS DE PREPOSIÇÕES ................................................................................................................188 2.2 LOCUÇÕES PREPOSITIVAS .............................................................................................................191 2.3 USO DAS PREPOSIÇÕES ................................................................................................................. 192 3 CONJUNÇÕES .................................................................................................................195 3.1 CONCEITO DE CONJUNÇÕES ......................................................................................................... 195 3.2 TIPOS DE CONJUNÇÕES ................................................................................................................ 197 3.2.1 Conjunções coordenativas e subordinativas ................................................................... 197 4 INTERJEIÇÕES ...............................................................................................................201 4.1 CONCEITO ............................................................................................................................................201 4.2 TIPOS DE INTERJEIÇÕES............................................................................................................... 202 4.3 UTILIZAÇÃO DE INTERJEIÇÕES NO TEXTO ............................................................................... 203 4.4 INTERJEIÇÕES COMO MARCADORES ORAIS ........................................................................... 204 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 206 RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 207 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 208 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 211 1 UNIDADE 1 - ESTRUTURA DAS PALAVRAS: PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer o significado da Morfologia e sua evolução dentro do campo científico; • aprender a estrutura de palavras da Língua Portuguesa, diferenciando os processos de flexão, composição e derivação; • entender os fundamentos da classificação de palavras, formação de palavras e dos morfemas e conseguir analisar morfologicamente as palavras; • dominar o conteúdo para utilizá-los em atividades práticas. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ESTUDOS DE MORFOLOGIA TÓPICO 2 – APORTES TEÓRICOS DE MORFOLOGIA TÓPICO 3 – PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 ESTUDOS DE MORFOLOGIA 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Iniciaremos nossos estudos de morfologia para que você entenda a dinâmica de nossa língua, perceba a evolução das pesquisas nessa área do conhecimento, partindo de apontamentos tradicionais até chegar à morfologia gerativa. Para cumprir a proposta deste tópico, vamos conhecer as características dos termos “palavra” e “vocábulo”, mostrando suas diferenças e suas especificidades e, em seguida, mostrar a atualização do modo de expressão da língua portuguesa por meio de neologismos. Esperamos que você perceba a importância desses estudos de Morfologia da Língua Portuguesa e aproveite ao máximo as indicações de leituras para complementar os conceitos, além de refletir sobre eles por meio dos exercíciospropostos. TÓPICO 1 - UNIDADE 1 2 CONCEITOS DE MORFOLOGIA FIGURA 1 – ESCRITA ANTIGA FONTE: <https://bit.ly/38Eqi4A>. Acesso em: 2 fev. 2021. 4 A língua portuguesa é dinâmica e se modifica de tempos em tempos. A lín- gua falada tem uma evolução mais rápida, atualiza-se por meio de expressões novas com o intuito de comunicar-se com seu público determinado, ao passo que a língua escrita permanece mais arraigada às suas origens, apesar de também sofrer algumas mudanças. É importante lembrar, caro acadêmico, que conhecer o passado das estruturas formais da língua faz parte da compreensão da forma como nos expressamos hoje. Com isso, vamos dar início aos nossos estudos. A morfologia é um campo diferente na área da Linguística porque seu estudo deriva não só dos fatos da morfologia em si mesma, mas da maneira como ocorre a interação com os outros ramos da Linguística como o Léxico, a Fonologia e a Sintaxe. O estudo da morfologia e sua relação com outras áreas da Gramática, como a Fonologia, a Sintaxe e a Semântica tem sido o principal motivador pelos estudos morfológicos nos últimos anos. Isso se deve ao fato de não entender o morfema como elemento isolado sem relacioná-lo a outros termos de diversas naturezas. Pesquisadores se debruçam sobre os estudos para facilitar a compreensão dessa interação de áreas, o que faz que surjam controvérsias. Como consequência, ressalta-se a questão da existência da morfologia como componente autônomo ou dependente de outros componentes gramaticais. Vamos entender a morfologia como uma área de estudos da Linguística, com suas ideias tradicionais e, posteriormente, suas mudanças de concepções. Morfologia significa morphe, ‘forma’ (do grego) e logos, ‘estudo’, ‘tratado’. Morfologia é o estudo da forma e, no campo linguístico, a forma das palavras. O termo morfologia tem registro no século XIX, apesar de a palavra sempre se posicionar no centro da gramática, principalmente nos estudos tradicionais. A Morfologia tem uma história recente no Brasil. A sua relevância se dá pela influência do Estruturalismo, que coloca a morfologia como objeto de estudo de forma sistêmica, valorizando sua importância na compreensão da língua portuguesa. 5 Para entender o estruturalismo: O Estruturalismo surge nas primeiras décadas do século XX como uma teoria que interpreta os elementos da cultura humana como unidades que se relacionam entre si em uma estrutura sistêmica. Uma característica que distingue o estruturalismo de outras propostas teóricas está em ter sido utilizado em vários campos das ciências humanas, tais como a antropologia e a sociologia, além, naturalmente, da linguística. Ademais, a concepção estruturalista do mundo e dos fenômenos atinentes à vida humana deu oportunidade para que suas teses também fossem agasalhadas nas artes visuais, de tal sorte que hoje se pode entender o estruturalismo como um efetivo movimento filosófico que integra a episteme do século XX. Embora as bases do estruturalismo linguístico tenham-se fundado nas primeiras décadas do século, sobretudo com as teses de Ferdinand de Saussure (1857- 1913) e os trabalhos subsequentes da Escola de Praga – notadamente Roman Jakobson (1896- 1982) e Nikolai Trubetzkoy (1890-1938) –, o estruturalismo somente chegou ao Brasil nos últimos anos da década de 1930, mais especificamente em 1938, quando Joaquim Mattoso Câmara Júnior (1904-1970) ministra o primeiro curso de linguística geral na universidade brasileira – Universidade do Distrito Federal. Com a publicação do volume Princípios de linguística geral (1941), Mattoso Câmara consolida em órbita bibliográfica a inserção das teses estruturalistas no cenário acadêmico brasileiro, inspirado, sobretudo, em Roman Jakobson e em Leonard Blomfield (1887-1949). A partir desse momento, os estudos linguísticos brasileiros cingem-se em uma bifurcação que põe em caminhos distintos, de um lado, os estudos histórico-comparativos, de base diacrônica e caráter empírico, que vinham predominando na descrição do português desde as últimas décadas do século XIX, e, de outro, os estudos estruturalistas, de base sincrônica e caráter formal, pautados na concepção sistêmica da língua. Ao longo de pelo menos três décadas, vários textos sobre linguística geral e descrição do português, inspirados nas teses estruturalistas, multiplicaram-se de maneira tão avassaladora que muitos linguistas contemporâneos chegam a afirmar equivocadamente que se deve a Joaquim Mattoso Câmara Jr. a introdução da ciência linguística no Brasil (CAVALIERE, 2018, p. 1-2). NOTA A morfologia ganhou espaços nos estudos formais, em termos linguísticos, e passou a ser estudada com mais afinco. Para se entender melhor, é o momento de se conceituar as denominações que serão utilizadas ao longo deste material didático. Os estudos da língua portuguesa evoluíram ao longo das décadas, mostrando caminhos diferentes de entendimento em todos os níveis. Aprendemos que a língua escrita é diferente da falada, pois segue preceitos rígidos aprendidos principalmente nas escolas. Apesar da mudança de pensamento dos linguistas e de suas pesquisas mais atuais, ainda se preserva certo engessamento no ensino da língua. A norma culta aos poucos vai dividindo seu espaço com outras formas de expressão. 6 No campo da morfologia, as classes de palavras são estudadas e utilizadas para fins didáticos para facilitar a classificação dos vocábulos. Hoje, sabe-se que essa classificação não é mais tão hermética assim, verificando-se termos em deslocamento: verbos, adjetivos que ocupam o lugar de substantivos, por exemplo. O pesquisador Marcos Bagno (2013) partilha seus conhecimentos dizendo que o professor deve ser um profundo conhecedor da gramática normativa para poder mediar a análise linguística de maneira apropriada. Verifica que: É essa necessidade semântico-pragmática o motor de tudo quanto fazemos com a linguagem. Por esse caráter, é que as classificações gramaticais da língua não devem ser tomadas como fixas e defini- tivas. ‘Teorias linguísticas contemporâneas tentam mostrar que as palavras navegam pela nebulosa da língua sem respeitar frontei- ras rígidas, sem se encaixar nessa ou naquela classe gramatical’. [...] As classes gramaticais não são mesmo campos fechados, ‘mas, sim, domínios conceituais com um centro definido e bordas fluidas, por onde as palavras podem entrar e sair sem dificuldade’ (BAGNO, 2013, p. 108-109). Essa ideia mostra que há abertura para entendermos as palavras não apenas a partir de classificações como se dá em outras áreas de estudos. As ciências naturais definem as classificações de animais, vegetais e minerais, por exemplo. Nos estudos de língua portuguesa, percebemos mobilidade nos termos já classificados morfologicamente, que podem ser utilizados pelos seus sentidos, pela sua função em uma frase etc. Quando se trata do ensino da gramática nas escolas, principalmente para os alunos de educação básica, que estão recebendo as primeiras noções, é importante prestar atenção nas palavras do pesquisador Fábio Araújo Oliveira (2021, p. 3). Para um ensino de morfologia bem-sucedido, é necessário considerar vários fatores, e um deles diz respeito à formação do professor e ao seu letramento profissional, ou seja, as práticas de leitura e escrita que o auxiliam no exercício profissional. Ensinar morfologia é ensinar gramática, e para ensinar gramática é necessário tanto um conhecimento de mundo e interdisciplinar, quanto ter acesso a teorias e documentos que orientam ou regulam o ensino de língua. Além disso, é preciso ter acesso a conhecimentos específicos, a saber: a gramática normativa; teorias linguísticas que descrevem a língua e o seu uso, e que normalmente contribuem para aprimorar o conteúdo da gramática normativa; teorias linguísticas sobre a construção do sentido etc. Tais conhecimentos devem ser mobilizados para orientar o aluno no uso da língua oral ou escrita, em suas práticas de escuta, leiturae produção, bem como de reflexão gramatical propriamente dita, considerando o nível de aprendizagem do aluno. E, ainda, nas palavras de Oliveira (2021, p. 8), os alunos devem ter mais informações sobre todos os fatos que o cercam, ler, buscar saber, pesquisar, pois: 7 saber gramática normativa não garante que se saiba trabalhar a gramática funcionando no texto em sala de aula. É preciso mais. É preciso conhecimento de mundo, de análise de textos, de análise de discursos etc. É preciso conhecimento de Literatura, Artes em geral, História, Antropologia, Sociologia etc. É preciso ter um letramento profissional realmente amplo, elástico, com circuito em várias áreas. A perspectiva da gramática funcionando no texto também se aplica para a produção de textos, pelos mesmos motivos que abordamos quanto à interpretação textual. A morfologia antes ensinada de maneira desvinculada das outras áreas ganhou enfoques mais amplos. Partiremos da base, das conceituações necessárias para o entendimento da estrutura da língua portuguesa. Vamos conferir o que diz o pesquisador Coneglian (2020, p. 6) sobre os estudos de gramática numa abordagem mais atual. As definições das classes, como observam Croft (2001) e Neves (2016), são, em sua maioria, nocionais, fundamentadas em critérios de ordem semântica e não em seu comportamento morfossintático, fato do qual decorrem a impropriedade e a inadequação desse tipo de definição na caracterização das classes. Um exemplo de definição nocional das classes de palavras é oferecido em: (01) Substantivos denotam pessoas, coisas ou lugares. Adjetivos denotam propriedades. Verbos denotam ações. Guiando-se pelos critérios em (01), uma palavra como sonegação não denota nenhuma das propriedades que lá vêm postas, no entanto seria errôneo afirmar que essa palavra não pertence à classe dos substantivos. De semelhante modo, um verbo como considerar, que não expressa nem uma ação nem um evento, não pertenceria à classe dos verbos. No caso de palavras como cadeira e correr, que, respectivamente, denotam uma coisa e uma ação, elas pertencem às classes dos substantivos e dos verbos. Ora, as definições nocionais geralmente captam as propriedades dos membros prototípicos de uma determinada classe, isto é, aqueles membros que melhor representam uma determinada classe de palavras, e, a todos os membros da classe são atribuídas as propriedades dos protótipos. [ ...] Ainda que dominantes na caracterização das classes de palavras, as definições nocionais podem ser acompanhadas por definições funcionais, que privilegiam justamente o papel que as palavras desempenham na construção da oração. Os estudos de gramática têm sido direcionados para uma nova visão dos termos que compõem uma frase. Trata-se de análise e de reflexão das palavras para a compreensão das mensagens. Assim, autores se debruçam em pesquisas que tentam explanar conceitos, principalmente para os profissionais que se encaminham para a docência da língua portuguesa. Uma ideia para quem ensina língua portuguesa é trabalhar todos os conceitos utilizando textos próprios para cada faixa etária, principalmente estabelecendo comunicação com os alunos a partir do grau de interesse que se pode oferecer a eles. 8 Os textos eleitos para o trabalho em sala de aula devem ser textos autênticos, falados ou escritos. Textos produzidos para uma dada finalidade. Textos funcionais. Textos facilmente encontrados em diversificados suportes porque “toda manifestação real da língua se dá na forma de textos” (BAGNO, 2012, p. 78), que se apresentam de diferentes formas e estilos e que passamos a tomar consciência deles na educação básica como gêneros textuais, uns mais monitorados que outros porque assim exige o gênero. São esses textos que devem servir de base para as reflexões, levantadas pelo professor nas aulas de português (GOMES, 2019, p. 48). Oferecemos aqui as classificações das palavras, que partem dos estudos da gramática normativa, para o encontro de outras linhas de pensamento, pois facilitam o trabalho se partirmos de um ponto já determinado outrora para entendermos os novos caminhos. A ideia é fazer com que não nos apeguemos exclusivamente ao ensino das classes de palavras, percebendo a sua fruição livre dentro do texto. E que você possa conhecer a língua portuguesa e transformar os seus ensinamentos em atividades dinâmicas e interessantes para seus alunos. Como sugestão, indicamos o texto Como as palavras se organizam em classes, de Maria Helena de Moura Neves, resultado de palestra proferida no Museu da Língua Portuguesa. Acesse em: <https://bit. ly/3zIbi1r>. Sugerimos, também, assistir à entrevista com a pesquisadora Maria Helena de Moura Neves sobre sua atuação nos estudos linguísticos do Brasil, incluindo seu papel como funcionalista e suas contribuições para o ensino e a pesquisa. Acesse em: <https://www.youtube.com/watch?v=_ O9CW7fSmDk>. DICAS Para avançar nos conhecimentos linguísticos é importante resgatar os estudos que deram sustentação a novos conceitos. Vamos ver como se definem palavra e vocábulo, essenciais para a compreensão da análise morfológica. 2.1 PALAVRA E VOCÁBULO Segundo o dicionário Michaelis (PALAVRA..., 2021, s.p.), a definição de palavra: https://www.youtube.com/watch?v=_O9CW7fSmDk https://www.youtube.com/watch?v=_O9CW7fSmDk 9 1 LING. Unidade mínima com som e significado que, sozinha, pode constituir um enunciado; vocábulo. 2 Unidade da língua composta de um ou mais fonemas que, em língua escrita, se transcreve entre dois espaços em branco, ou entre um espaço em branco e o sinal de pontuação. 3 GRAM. Unidade que pertence a uma das grandes classes gramaticais, como substantivo (quando expressa um objeto), verbo (quando expressa uma ação), adjetivo (quando expressa uma qualidade), preposição (quando expressa relação) etc. Considerando apenas seu significado, sem levar em conta as modificações que nela ocorrem com as marcações flexionais; vocábulo. A palavra serve para expressar uma ideia. Pensamos em uma mesa. Aí vem a imagem desse objeto imediatamente. FIGURA 2 – MESA FONTE: <https://bit.ly/3kUHjx0>. Acesso em: 2 fev. 2021. Então, podemos entender que a palavra nomeia os objetos e as pessoas. É uma forma de facilitar o entendimento das conversas e a comunicação entre as pessoas. E, mais importante que isso, permite o reconhecimento dos objetos, das pessoas e assim por diante. A palavra é o primeiro sentido da evolução humana. Não apenas emitimos sons, mas pronunciamos palavras e nos comunicamos por meio delas, o que nos difere dos outros animais. Está muito fácil de entender até agora. E quando definimos vocábulo? Vocábulo é a palavra considerada apenas quanto à sua forma, independentemente da significação que nela se encerra. [Gramática] Cada uma das partes átonas que fazem referência ao léxico, nomeadamente as conjunções, as preposições, os pronomes oblíquos e os artigos que, não possuindo a capacidade de formar um enunciado, se juntam a outros dando origem a um termo fonético. Gramática] Unidade linguística com significado; palavra. [Linguística] Entrada de dicionário; termo, verbete (VOCÁBULO..., 2021, s.p.). 10 O vocábulo é a palavra usada para demonstrar objetos, pessoas, sentimentos. O ato de atribuir um nome é o que significa etimologicamente um vocábulo. Vem do latim vocare e quer dizer chamar ou dar um nome. Melhor dizendo, o vocábulo equivale a uma palavra. Os dois termos têm semelhanças e causam dúvidas sempre. Podemos dizer que toda palavra é um vocábulo, mas nem todo vocábulo é uma palavra, isto é, só são palavras os vocábulos que apresentam significação lexical. O vocábulo é neutro e a palavra pode ser flexionada. O vocábulo é uma palavra que pode ser nome ou verbo. Quando acrescentamos uma desinência, nem que seja apenas “s” formador de plural, criamos uma nova palavra, mas não um novo vocábulo. Quando consultamos o dicionário não o fazemos por palavras, e sim porvocábulos. Não procuramos a palavra “cantassem” e sim o vocábulo "cantar”. Vocabulário seria, então, o conjunto de vocábulos. E dizemos que conhecer uma quantidade razoável de vocábulos facilita a dinâmica da comunicação entre as pessoas, enriquecendo o diálogo. IMPORTANTE Há dois tipos de vocábulos, o lexical e o gramatical. Vocábulos lexicais são aqueles que representam ideias e vocábulos gramaticais os que não traduzem ideias, mas, servem para estabelecer relações entre as palavras, o que chamamos também de funções dentro de um contexto. Temos o seguinte exemplo: O copo é de cristal. Entendemos o que significa copo, cristais separadamente, mas o, de não carregam significados por si só. Eles ligam os termos para a compreensão da mensagem. No caso, o artigo o é definido e significa que estou falando de um determinado copo e a preposição de leva a pensar no material de que o copo é feito. Vamos ainda esclarecer mais alguns pontos. A palavra é constituída de elementos materiais (vogais, consoantes, semivogais, sílabas, acento tônico) a que se dá um sentido e que se permite uma classificação. Representamos graficamente cada palavra separada por um espaço. Exemplo: “o menino ganhou uma bola”, temos cinco palavras, ou seja, o, menino, ganhou, uma, bola, mas, podemos ver outro exemplo: meu guarda-chuva é preto. Nesse caso, temos cinco palavras, porém com o sentido de quatro. Assim: meu, guarda-chuva, é, preto. Portanto, se estudarmos as palavras apenas no seu sentido morfológico não teremos a clara noção do contexto. O direcionamento para que se entenda essa questão é agregar a função da palavra à morfologia. 11 Outro ponto importante diz respeito à fonologia. Ao dizer detergente (produto) e deter gente (prender gente), molho (de tomate), molho (de molhar), os sons ou as grafias podem ser iguais ou parecidos restando entender o contexto em que se inserem para que percebam a diferenças entre elas. Vamos avançar mais, entendendo os meandros da nossa língua portuguesa, passando para o estudo da morfologia gerativa e teoria gerativa transformacional, que vai nos mostrar como se reformulam as ideias dentro do campo científico. 3 MORFOLOGIA GERATIVA E TEORIA GERATIVA TRANSFORMACIONAL Dando início aos estudos de gramática, que por definição tratam de um sistema de regras, unidades e estruturas de que o falante de uma língua (emissor) tem conhecimento e a utiliza para expressar suas ideias. A partir da leitura do artigo de Lima e Neves (2019), podemos conceituar os tipos de gramática: • Normativa: tem como regra algo que deve ser seguido como norma geral. Não se admite variações linguísticas, pois serão consideradas como erros gramaticais. São regras ensinadas nas escolas de uma forma geral e encontradas nos textos acadêmicos, científicos e etc. • Descritiva: a sua utilização deve corresponder à fala dentro de um grupo específico. A forma como as pessoas se expressam são variáveis, específicas que devem ser respeitadas dentro desses limites, pois o que não faz parte do vocabulário da comunidade transforma-se em erro. Aqui podemos realçar os regionalismos, a forma de expressão e as palavras utilizadas em locais diferentes, como mandioca, macaxeira, aipim, que são conhecidas por seus nomes em cada região determinada. • Internalizada: considerada a forma nata de linguagem, a forma inicial de expressão que se aprende e se consolida com o passar do tempo. É a forma como o indivíduo, principalmente a criança, se comunica com as pessoas em seu entorno apenas pelo conhecimento básico de sua língua materna. Exemplo: eu cabo no carrinho, eu sabo... Esse tipo de conhecimento deve ser ampliado por meio da aprendizagem de outros vocábulos, sua construção dentro de um pensamento lógico e o domínio da expressão de seu próprio idioma. QUADRO 1 – TIPOS DE GRAMÁTICA 12 FONTE: <https://bit.ly/3td8abo>. Acesso em: 14 jun. 2021. Vamos, em primeiro lugar, falar de gramática normativa: aquela que prescreve as regras, normas gramaticais de uma língua. Serve-se das regras gramaticais tradicionais e o uso da língua utilizando termos considerados clássicos e formais, encontrados em obras literárias mais antigas, textos científicos, discursos de autoridades etc. A gramática normativa é um conjunto de conhecimentos, para construir e interpretar unidades como, frases, orações e períodos. Entretanto, essas instruções, isto é, as regras são distinguidas em quatro tipos tais como: regras fonológicas, é que descrevem a pro- núncia das formas da língua; regras morfológicas, que descrevem a estrutura das palavras; regras sintáticas, que descrevem a organiza- ção das sentenças; regras semânticas (ou regras de interpretação), que relacionam as formas descritas pelas regras morfológicas e sin- táticas com seus respectivos significados (BEZERRA, 2013, p. 5-6). Dentro dessa linha de raciocínio, tudo o que foge das regras da gramática normativa se considera forma errada. Sabemos hoje que evoluímos nossa maneira de ver a comunicação entre pessoas e passamos a aceitar formas diferentes de fala, expressões regionais, neologismos. A escrita é mais inflexível, pois exige de quem escreve certos conhecimentos da norma tradicional, mesmo que informal. Essas concepções relacionam-se aos estudos do que denominamos de gramática funcional, a que tem por finalidade facilitar o intercâmbio de ideias entre os interlocutores. Com o avanço dos estudos nessa linha, podemos observar que a simples classificação das palavras de maneira definida perde o sentido para as novas descobertas nessa área de conhecimento. Temos, então, as gramáticas descritivas que surgiram, principalmente, pela limitação da gramática normativa em descrever a realidade de um idioma, uma vez que as pessoas se comunicam de forma diferente da tradicional, da normativa e, ainda, a internalizada, que nasce com o indivíduo como forma de comunicação natural de sua língua materna. 13 E, assim, as pesquisas evoluem e se direcionam para outros caminhos. Os es- tudos linguísticos ditos tradicionais realizados até o século XVIII mantêm o foco na gra- mática tradicional. Já no século XIX, a novidade passa a ser com a fonologia, por conta da similaridade entre as línguas e isso terá continuidade com os estudos estruturalistas (da primeira metade deste século). As pesquisas relacionadas à linguística moderna foram muito importantes e decisivas para o estudo dos conceitos de gramática e apresentaram novos métodos de análise dentro da ciência da linguística, discutindo ideias, buscando a interpretação em pontos ainda incompreensíveis. É o caso dos estudos da linguagem que passam a contribuir para o entendimento da gramática gerativa. A aquisição da linguagem, bastante estudada por pesquisadores de vários campos do conhecimento, é o fator importante nessa linha de entendimento. Um dos estudiosos dessa área e defensor da linguagem como instinto humano foi o linguista Noam Chomsky. Na década de 1950 criou a Teoria Gerativa, afirmando que a aquisição da língua vem de um órgão mental, tal qual uma faculdade psicológica já existente nas pessoas. A ideia da gramática gerativa era mesmo a de gerar frases com inúmeras possibilidades de sentidos e entendimentos de acordo com a criatividade de cada um. A proposta de Chomsky era entender uma gramática universal como o fun- cionamento das estruturas linguísticas da aquisição e a capacidade de uso da língua através do estudo das faculdades mentais. A partir desse pensamento, nasce a ideia do gerativismo, que se define como um modelo teórico capaz de descrever e explicar a natureza e o funcionamento da construção de sentidos por meio das palavras. A gramática gerativa pressupõe dois pilares: a competência e o desempenho dos indivíduos. Por competência, entende-se a habilidade inata do ser humano, o saber interiorizado e o desempenho, o desenvolvimento de uma habilidade e armazenamento desses conhecimentos em sua memória ao longo do tempo.A pesquisa de Chomsky ainda pressupõe a existência de uma Gramática Universal (GU), inata no ser humano, possibilitando a aquisição de uma ou mais línguas. Para ele, seria possível investigar esse estado inicial, geneticamente determinado, com o objetivo de descobrir a base sobre a qual a língua se desenvolve, para entender como se dá o processo de aquisição de língua. Para Chomsky e sua gramática universal, a atividade do linguista é descrever a competência do falante. Com esse foco, o mesmo considera que a língua é um conjunto infinito de frases e que se define não só por essas já existentes, mas também pelas possíveis, ou aquelas que se podem criar a partir da interiorização das regras da língua, tornando os falantes aptos a produzir frases que até mesmo nunca foram ouvidas por ele. 14 Isso significa que, para ele, o termo gramática é usado de forma dupla: é o sistema de regras possuído pelo falante e, ao mesmo tempo, é o artefato que o linguista constrói para caracterizar esse sistema. As- sim, a gramática é ao mesmo tempo, um modelo psicológico da ativi- dade do falante e uma máquina de produzir frases (SILVA, 2020, p. 37). A gramática transformacional é uma teoria da gramática que explica as construções de uma língua por meio de transformações linguísticas e estruturas de frases. Também conhecida como gramática geradora transformacional. Para Chomsky, todas as línguas apresentam uma estrutura superficial ou aparente, representando a forma em que aparece a oração, e outra estrutura profunda ou latente, que vai de encontro ao conteúdo semântico da oração e, a partir daí, forma o corpo gramatical básico pertencente ao falante de uma língua. Nada mais interessante que saber do próprio pesquisador o que realmente ele pensa em relação à morfologia gerativa e à teoria gerativa transformacional. Com você, Noam Chomsky, em texto compilado de entrevista e publicado por Adriano e Corôa (2010, s.p.) no blog #Linguística: Como aprendemos uma língua? A grande pergunta de Noam Chomsky. Você provavelmente já passou anos lendo livros ou tendo aulas sobre como aprender uma língua estrangeira. Morar num país estrangeiro ajuda, mas ainda assim o processo de organização mental das palavras e estruturas da língua é bem demorado. Mas e as crianças? Você já parou para se perguntar como elas conseguem organizar mentalmente o funcionamento de sua língua de maneira tão rápida e inconsciente? Reparem que elas não têm ainda uma primeira língua pra se basear e que, por não estarem em um curso de línguas com evidências e instruções concretas, elas têm evidências bem limitadas de como funciona a estrutura das línguas que as pessoas falam a sua volta. Assim, surge o argumento da pobreza de estímulo, que, basicamente, afirma que os dados disponíveis à criança na língua que a rodeia não são suficientes o bastante para definir uma gramática. Por muitos anos, Noam Chomsky, linguista americano nascido em 7 de dezembro de 1928, na Filadélfia, tentou responder a tal pergunta, conhecida como Problema lógico da aquisição da linguagem (também chamado de problema de Platão). Esse problema é baseado no diálogo Ménon, de Platão, na qual o personagem Sócrates demonstra para Ménon que, se desafiado de maneira correta, mesmo um escravo sem instrução possui noções inatas de matemática. Esses conhecimentos permitiriam que o escravo fizesse, de maneira intuitiva, alguns cálculos geométricos. Essa pergunta continua sendo o elemento norteador das investigações científicas assumidas por Chomsky desde a sua graduação na Universidade de Pennsylvania. A contribuição de Noam Chomsky foi fundamental para a mudança de pensamento dos estudiosos, pois ao iniciar as pesquisas sobre a Teoria Gerativa, mostra a pertinência dos símbolos e regras para a análise das estruturas de frases. Para Chomsky, segundo Adriano e Corôa (2020), as regras dividem as sentenças em partes menores e, quando se combinam essas partes por meio de transformações (nome dado 15 às regras), é possível gerar todas e apenas as sentenças gramaticais (válidas) de uma dada língua, que são ilimitadas em número. Esse estudo denominou-se Gramática Gerativo-Transformacional. Os estudos de gramática evoluem em cada pesquisa em que a inserem como objeto, mostrando a sua versatilidade nas formas de comunicação contemporâneas. A evolução das pesquisas desde a utilização das normas cultas às novas possibilidades de expressão se tornou presente neste momento dos nossos estudos. Vimos, também, por meio desta abordagem, o processo dinâmico da língua falada e escrita. É claro que a falada permite maior agilidade e formação de palavras novas de acordo com o cotidiano e isso explica a importância e a funcionalidade dos estudos que permitem a compreensão dessas atualizações linguísticas sem ficar aprisionado aos modelos tradicionais. Indicamos a leitura de textos para ampliar o conhecimento a respeito do assunto: Gramática normativa: movimentos e funcionamentos do “diferente” e “do mesmo”, de autoria de Márcia Ione Surdi. Acesse em: <https://bit.ly/38G9Px0 e Gramática normativa: ensino, consciência e liberdade, artigo das pesquisadoras Neusa Maria Oliveira Barbosa Bastos e Regina Pires de Brito, publicado em 2018. Acesse em: <file:///D:/Meus%20Documentos/Downloads/274-931-1-PB%20(1). pdf>. Além desses, temos A gramática gerativa na escola: o pensar linguisticamente, de Ronald Taveira da Cruz, publicado em 2017. Acesse em: file:///D:/Meus%20Documentos/Downloads/51981-Texto%20do%20 Artigo-184235-1-10-20180109%20(1).pdf. DICA Vamos aos neologismos; criação de palavras novas ou nova roupagem para pala- vras antigas, com alteração de sentido. O dinamismo da língua traz novidades a todo ins- tante, principalmente, nos dias de hoje, com o vocabulário próprio das tecnologias digitais. 4 NEOLOGISMO Neologismo Beijo pouco, falo menos ainda. Mas invento palavras Que traduzem a ternura mais funda E mais cotidiana. Inventei, por exemplo, o verbo teadorar. Intransitivo: Teadoro, Teodora (BANDEIRA, 2002) 16 Você se lembra de termos falado sobre a língua ser dinâmica? Principalmente a língua falada? Agora, nós veremos isso mais a fundo conhecendo os estudos sobre o neologismo. Para começar, neologismo pode ser uma palavra nova, criada ou uma palavra que já existe com significado diferente, adaptado. E aí vem a pergunta: por que usamos neologismos durante as nossas conversas? Principalmente para melhorar o nível de diálogo, para simplificar ideias etc. Um primeiro exemplo: vossa mercê – vosmeçê – você – cê – vc... Na figura a seguir, você pode ver um exemplo de neologismo, quer por meio de palavras ou por interpretação de símbolos, que percebemos como a nossa língua vai se alterando a todo instante. FIGURA 3 – NEOLOGISMO FONTE: <https://bit.ly/3sL9Rgj>. Acesso em: 5 fev. 2021. O neologismo pode ser comparado à informalidade da língua, em que as palavras não são as mesmas que encontramos nos dicionários, ou se as encontramos podem ter significados diferentes. Exemplos de neologismos: dar um google, deletar, escanear, clicar, linkar, site (esses termos são conhecidos por pessoas que utilizam computadores, notebooks, celulares) petista, mensalão, panelaço, showmício, mimimi, lacração, cancelamento da pessoa, bioterrorismo, skate, shopping, arara (ficar uma arara). Neste tópico, nós apresentamos os conceitos básicos da morfologia e sua evolução considerando-se novos aspectos na redefinição das ideias iniciais, a partir dos estudos de morfologia gerativa, que nos explica as mudanças de abordagens e classificações das palavras. É importante também entender as definições de palavra e vocábulo, além de saber como a nossa língua se altera com o tempo, principalmente em grupos específicos da sociedade. O neologismo tem seu espaço aqui por ser uma das formas de transformação da nossa língua. RESUMO DO TÓPICO 1 17 Neste tópico, você aprendeu: RESUMO DO TÓPICO 1 • Morfologia define-secomo: o estudo da forma e, no caso da linguística, a forma das palavras; o estudo da estrutura, da formação e da classificação das palavras. A palavra fica em evidência por si mesma, sem que se analise as suas funções em períodos. • A palavra serve para expressar uma ideia; nomeia os objetos e as pessoas. É uma forma de facilitar o entendimento das conversas e a comunicação entre as pessoas. E, mais importante que isso, permite o reconhecimento dos objetos, das pessoas e assim por diante. • O vocábulo é neutro e a palavra pode ser flexionada; é a palavra usada para demons- trar objetos, pessoas, sentimentos. O ato de atribuir um nome é o que significa eti- mologicamente um vocábulo. • Há dois tipos de vocábulos: o lexical e o gramatical. Vocábulos lexicais representam ideias e vocábulos gramaticais os que não traduzem ideias. • A gramática normativa tem como regra algo que deve ser seguido como norma geral. Não se admite variações linguísticas, pois serão consideradas como erros gramaticais. • A utilização da gramática descritiva deve corresponder à fala dentro de um grupo específico. A forma como as pessoas se expressam são variáveis específicas e devem ser respeitadas dentro desses limites. • A gramática internalizada: considerada a forma nata de linguagem, a forma inicial de expressão que se aprende e se consolida com o passar do tempo. • A Teoria Gerativa compreende que a aquisição da língua vem de um órgão mental, tal qual uma faculdade psicológica já existente nas pessoas. A ideia da gramática gerativa era mesmo a de gerar frases com inúmeras possibilidades de sentidos e entendimentos de acordo com a criatividade de cada um. • A gramática gerativa apresenta dois pilares: competência: a habilidade inata do ser humano e desempenho: o desenvolvimento de uma habilidade. 18 • A gramática universal compreende o funcionamento das estruturas linguísticas da aquisição e a capacidade de uso da língua através do estudo das faculdades mentais. • A Gramática transformacional é uma teoria da gramática que explica as construções de uma língua por meio de transformações linguísticas e estruturas de frases. • Neologismo é criação de palavras ou expressões novas ou a atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente. É um exemplo do dinamismo de nossa língua, sobretudo a falada. 19 1 (ENADE, 2010) Para preservar a língua, é preciso o cuidado de falar de acordo com a norma padrão. Uma dica para o bom desempenho linguístico é seguir o modelo de escrita dos clássicos. Isso não significa negar o papel da gramática normativa; trata-se apenas de ilustrar o modelo dado por ela. A escola é um lugar privilegiado de limpeza dos vícios de fala, pois oferece inúmeros recursos para o domínio da norma padrão e consequente distância da não-padrão. Esse domínio é o que levará o sujeito a desempenhar competentemente as práticas sociais; trata-se do legado mais importante da humanidade. PORQUE A linguagem dá ao homem uma possibilidade de criar mundos, de criar realidades, de evocar realidades não presentes. E a língua é uma forma particular dessa faculdade [a linguagem] de criar mundos. A língua, nesse sentido, é a concretização de uma experiência histórica. Ela está radicalmente presa à sociedade. XAVIER, A. C.; CORTEZ, S. (Orgs.). Conversas com Linguistas: virtudes e controvérsias da Linguística. Rio de Janeiro: Parábola Editorial, 2005, p. 72-73 (com adaptações). Analisando a relação proposta entre as duas asserções acima, assinale a opção CORRETA: a) ( ) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira. b) ( ) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira. c) ( ) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma proposi- ção falsa. d) ( ) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição verdadeira. e) ( ) As duas asserções são proposições falsas. 2 Leia o trecho a seguir: [...] Mas D. Pequitibota bancava milionários trens de vida ante a crise começada para fazendeiros comprometidos [...] Enquanto nos casarões ramazevedos das avenidas, despeitadas solitárias metiam ronca nas de morfino viver que parisiavam aventuras com velhos meninos domésticos e outros. [...] ANDRADE, O. Memórias Sentimentais de João Miramar, 2001. AUTOATIVIDADE 20 O autor utilizou a palavra “parisiavam” no texto. Essa palavra corresponde a um(a): a) ( ) Estrangeirismo: uso de termos emprestados de outra língua para designar termos que não existem na nossa própria língua, como exemplo: parisiar. b) ( ) Neologismo: criação de termos novos na língua, usando o verbo “parisiar”, que deriva do nome próprio “Paris”, para dar a ideia desse cenário rico e luxuoso. c) ( ) Gíria: uma forma de colocar termos falados em uma comunidade para o enten- dimento da mensagem, como no caso de “parisiar”. d) ( ) Regionalismo: uso de termos próprios de uma região geográfica, como por exemplo “parisiar”, utilizados apenas por essa população determinada. e) ( ) Termo técnico: uso de palavras definidas por determinada área específica de conhecimento, como exemplo: “parisiar”. 3 Nos estudos da linguagem, a morfologia destaca-se como uma das áreas da linguística que se detém mais especificamente sobre o estudo da forma das palavras. A partir dessa reflexão, é correto afirmar que: a) ( ) Embora seja um campo de estudos da linguística, a morfologia prescinde de qualquer relação com outras áreas da linguagem. b) ( ) Tendo sua origem etimológica no verbete grego "morphe", tal fato confere à morfologia um viés filosófico que a torna autônoma em relação aos outros estudos gramaticais. c) ( ) Por ser uma área da linguística, a morfologia deve se relacionar com a dinâmica da própria língua que se modifica continuamente, embora jamais se modifiquem as estruturas das palavras. d) ( ) Ao refletir sobre as estruturas das palavras, os estudos de morfologia devem observar as modificações da linguagem relacionando a dinâmica das estruturas das palavras com outras áreas da linguística, como a sintaxe, a semântica e a fonologia. 4 (ENADE, 2017) Esteticar (Estética do Plágio) Tom Zé Pense que eu sou um caboclo tolo boboca Um tipo de mico cabeça-oca Raquítico típico jeca-tatu Um mero número zero um zé à esquerda Pateta patético lesma lerda Autômato pato panaca jacu Penso dispenso a mula da sua ótica Ora vá me lamber tradução interssemiótica 21 Se segura milord aí que o mulato baião (tá se blacktaiando) Smoka-se todo na estética do arrastão [...] Com base no trecho da letra da música, faça o que se pede nos itens a seguir. a) Explique a formação dos neologismos “esteticar¨, ¨blacktaiando¨ e ¨smoka-se¨. b) Explique o modo como a formação dos neologismos contribui para a construção de sentidos na letra da música. 5 Leia o texto a seguir, explique a evolução dos estudos de morfologia, a partir dos estudos do estruturalismo em face das novas abordagens sobre a morfologia gerativa. “No início do século XX, surge uma nova corrente linguística – o estruturalismo. As bases sistemáticas e objetivas dessa nova corrente foram fornecidas por Saussure (1916), que rejeita a precedência da língua escrita sobre a língua falada e a relação língua/pensamento, distingue a gramática normativa da gramática descritiva e assume a primazia da Linguística sincrônica sobre a diacrônica. Apesar da ampla aceitação desses princípios defendidos no âmbito da obra saussuriana, surgem várias escolas estruturalistas (ou, como tem sido referido na literatura mais recente, vários estruturalismos), entre as quais se destaca o descritivismo americano – a escola contra a qual surge, então, na década de 50, a Gramática Gerativa” (NICOLAU; LEE, 2004, p. 122-123). 22 23 APORTES TEÓRICOS DE MORFOLOGIA 1 INTRODUÇÃO Vimos, no Tópico 1, os conceitos básicos de morfologia, sua evolução de pen- samentos críticos,até chegar aos estudos de morfologia gerativa e, por fim, o uso de neologismo na nossa língua. Agora, você vai conhecer um pouco mais sobre a palavra, sua formação, os conceitos de morfema, como unidade mínima da palavra, seus tipos e classificações, além das definições de morfe, alomorfe e as formas livres, presas e dependentes. Vamos, por fim, conhecer os elementos morfológicos, raiz e radical, para a compreensão do processo de formação das palavras e sua utilização no sentido prático. UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 2 FORMAÇÃO DE PALAVRAS Para Evanildo Bechara (2000, p. 333), “toda palavra deve ser classificada: a) pelo seu aspecto material, fônico; b) pela sua significação gramatical; c) pela sua significação lexical”. Há palavras primitivas, palavras derivadas, palavras simples e palavras compostas. Entendemos palavras primitivas como aquelas que não vêm de outra palavra. Ex.: flor, dor, pedra. Palavras derivadas são as que vêm de outra palavra. Ex.: floricultura, dolorido, pedreiro. Palavras simples são as que possuem um só radical. Ex.: cavalo. Palavras compostas são as que possuem mais de um radical. Ex.: beija-flor, aguardente. 24 A palavra não pode ser observada apenas pela sua constituição formal, melhor dizendo, somente as letras ou os fonemas que a formam. Faz-se necessário entender as unidades mínimas significativas para o estudo do vocábulo. Essas unidades são denominadas de morfemas. Isso significa que ele é a menor unidade de sentido que constitui a estrutura de uma palavra. As palavras são formadas e estruturadas por elementos mórficos: radical, raiz, tema, afixos (prefixos e sufixos), desinências (nominais e verbais), vogal e/ou consoante de ligação e vogal temática. Cada elemento ou partícula é importante para a compreensão das palavras, uma vez que representa uma unidade mínima de significação chamada de morfema. 3 MORFEMA Radical é o elemento comum às palavras da mesma família, as palavras cognatas. É o radical a parte que dá o significado básico da palavra. O radical é a parte fixa, para fins de conjugação, de um verbo, ou seja, não há radical em formas nominais: substantivo, adjetivos etc. A vogal temática é uma das partes que formam as palavras e tem a função de ligar o radical às desinências, constituindo o tema. A vogal temática é um morfema que liga o radical às desinências que formam as palavras. Essa união constitui o tema (radical + vogal temática), ao qual são acrescentadas as desinências. Tanto os verbos quanto os nomes apresentam vogais temáticas. Por isso, elas podem ser classificadas em nominais e verbais. Vogais temáticas nominais: quando são átonas e se encontram no final das palavras, as vogais /A/, /E/ e /O/ são consideradas nominais. As vogais temáticas nominais juntam-se à desinência indicadora de plural. Vogais temáticas verbais: há três grupos de conjugações verbais, sendo a primeira marcada pela Vogal Temática –A, a segunda é marcada pela Vogal Temática –E, e a terceira, pela Vogal Temática –I. No campo da morfologia, os vocábulos são decomponíveis em morfemas. Vamos ver esse exemplo: criança pula. Exemplos: 25 Os morfemas se organizam e cumprem papel importante no processo de formação de um vocábulo. Assim, a palavra, aqui com a ideia de vocábulo: a) deve ser observada como significante ou expressão material da língua (falada ou escrita); b) apresenta-se sob o seu aspecto formal, isto é, deve ser observada segundo uma classificação morfológica; c) deve ser observada em relação a outra. Vamos conhecer outras formas de definição de morfema: LING Unidade linguística mínima que tem significado. EXPRESSÕES Morfema derivacional, LING: elemento que modifica, de modo preciso, o sentido do radical ao qual se une, criando uma nova palavra. São morfemas derivacionais os prefixos, como, por exemplo, re- na palavra renovar, e os sufixos -eria, em leiteria, e -oso, em leitoso. Morfema flexional, LING: morfema empregado na flexão dos substantivos, adjetivos e verbos, não alterando a classe da palavra, como, por exemplo, o sufixo -mos, nos verbos estudamos e visitamos, que indicam apenas a primeira pessoa do plural. Morfema gramatical, LING: morfema que tem significação interna, porque se origina nas relações e categorias gramaticais que fazem parte da língua. São morfemas gramaticais o -a, como marca de feminino, em palavras como bela, e o -s, como marca de plural, em palavras como pás e dias. Morfema lexical, LING: elemento invariável, que é responsável pela base do significado. A significação do morfema lexical diz respeito aos fatos do mundo extralinguístico; radical. Morfema livre, LING: aquele que tem existência autônoma, figurando sozinho como um vocábulo, como, por exemplo, as palavras pá e dia. Morfema preso, LING: aquele que não tem existência independente, como o -s nas palavras pás e dias (MORFEMA..., 2021, s.p.). Morfema é a menor partícula com significado existente de uma palavra e, que se acoplada a um radical lhe confere outro sentido. Os morfemas podem ser classificados em dois grupos: morfemas gramaticais e morfemas lexicais. Morfemas lexicais: os substantivos, os adjetivos, os verbos e os advérbios de modo. São aqueles cuja significação nos remete a noções do mundo objetivo e subjetivo (ações, estados, qualidades, seres). Representam a própria significação externa dos vocábulos e é encontrado no seu núcleo de significação, denominado radical. Exemplos: 26 o verbo beber apresenta o morfema lexical (beb-): beb-er, beb-ida, beb-errão. Todas as derivações do vocábulo recorrem a um mesmo morfema lexical, e diz-se então que o radical da palavra beber é sua parte invariável (beb-). Morfemas gramaticais: os artigos, os pronomes, os numerais, as preposições, as conjunções e os advérbios, bem como os elementos mórficos que indicam número, gênero, modo, tempo e aspecto verbal. São aqueles que só possuem significação no universo da língua. Representam um contexto semântico específico interno à enunciação. Exemplo: o morfema lexical do vocábulo “casa”, independentemente de suas variações, é cas-: cas-a, cas-arão, cas-ebre, cas-inha. Enquanto o morfema lexical permanece o mesmo, os morfemas gramaticais variam de acordo com a significação específica que atribuem ao vocábulo. Morfemas, por definição, são as unidades mínimas de significação, sendo elementos constituintes dos vocábulos. São os elementos que compõem a estrutura lexical e gramatical dos vocábulos. As palavras são constituídas de morfemas que, por sua vez, possuem classificações distintas. Os morfemas são a unidade mínima de significação, ou seja, o elemento significativo que não pode ser decomposto. Vamos apresentar os conceitos de morfema, morfe e alomorfe, que, apesar da estreita relação de sentido, representam noções distintas. Sabemos que a morfologia estuda a forma ou a estrutura dos vocábulos. A estrutura é constituída de unidades formais menores reunidas e com significados que se denominam morfemas. Os morfemas são formados por um ou mais fonemas, mas se diferenciam deles por apresentarem significado. Os fonemas, quando pronunciados isoladamente, não possuem significado. Por fonema entende-se o menor elemento sonoro capaz de estabelecer uma distinção de significado entre as palavras. QUADRO 2 – FONEMA, LETRAS E MORFEMAS FONTE: <https://bit.ly/3zObVGU>. Acesso em: 3 fev. 2021. 27 3.1 TIPOS DE MORFEMAS Há duas unidades distintas que compõem o centro de interesse dos estudos da Morfologia: o morfema ou a palavra. A noção de morfema relaciona-se com o estudo das técnicas de apresentação de palavras em unidades constitutivas mínimas, enquanto os estudos que destacam a conceituação da palavra preocupam-se com o modo pelo qual a forma das palavras reflete suas interações com outras palavras dentro de contextos mais complexos. Os morfemas são as unidades de significação que formam as palavras. Podemos entender os morfemas sob dois modos: os gramaticais que só apresentamsignificação no universo da língua ao passo que os lexicais apresentam significação no contexto objetivo e subjetivo, que envolve ações, estados, qualidades etc. São eles: • Morfemas gramaticais: são aqueles que possuem um significado interno à sua estrutura gramatical. Exemplo: s é o morfema gramatical que dá a ideia de plural. Os morfemas gramaticais também podem ter a função de reunir, nas frases, os vocábulos constituintes. Exemplo: cadeira de rodas. Os morfemas gramaticais relacionam-se às funções gramaticais dos vocábulos e podem ser divididos em três grupos: ◦ morfemas derivacionais: são os afixos (prefixos e sufixos) que permitem a forma- ção de novas palavras. Exemplos: (gato) gatinho, (casa) casarão, (responsável) irresponsável. ◦ morfemas flexionais: são os que carregam as flexões (gênero e número nos nomes; modo/tempo e número/pessoa nos verbos). Exemplos: menino (masculino), meni- na (feminino), comprei (verbo no pretérito perfeito do indicativo, 1ª pessoa do sin- gular), andariam (verbo no pretérito imperfeito do indicativo, 3ª pessoa do plural). ◦ morfemas classificatórios: são as vogais temáticas dos verbos e dos nomes. Exemplos: cadeira (substantivo), sair (verbo). • Morfemas lexicais: apresentam o sentido básico da palavra e gramaticais: quando indicam noções gramaticais. Expressam uma significação diferente, com um contexto de mundo fora do eixo linguístico. Exemplo: amor, flor. Podemos, ainda, exemplificar com o vocábulo livro, livr é o morfema lexical que traz a significação do vocábulo livro. As formas se relacionam ao sentido transmitido em uma mensagem, tanto externo à língua (morfemas lexicais), quanto interno (morfemas gramaticais). Por léxico, entendemos o sentido básico que se repete em todas as palavras a partir de um mesmo radical. Temos, por exemplo: belo, bela, belos, belas, embelezar, embelezo, embelezas, embeleza, embelezamento, beleza, beldade, belamente etc., dependendo do sentido modificado pelos prefixos e sufixos. Por forma gramatical, compreendemos o sentido que distingue os diversos termos, como o número: singular e plural, gênero: masculino e feminino, além das pessoas e os tempos, no caso dos verbos. 28 3.2 MORFEMA, MORFE E ALOMORFE Vamos ver agora os três conceitos básicos e fundamentais em Morfologia: morfema, morfe e alomorfe. Morfema, como já dissemos, é a unidade básica da Morfologia, sendo uma forma significativa recorrente mínima abstrata, melhor dizendo, apresenta um traço semântico que se repete em outras estruturas e não pode ser dividida em formas menores. É abstrato porque é representado por um morfe, o segmento mínimo significativo recorrente. Morfe constitui a concretização do morfema. Muitos morfemas são resultados de um único morfe; por exemplo, na palavra comer, temos o morfe {com-} que se mantém ao longo da conjugação: como, comi, comia; na palavra cantar, temos o morfe {cant-}, que se desenvolve assim: canto, cantei, cantava. Alomorfe seria, então, a ocorrência de dois morfes que indicam um único mor- fema – duas formas para um único significado. Define-se alomorfia como a alteração na forma de um morfema, conservando-se o seu significado. Alomorfes seriam, então, as di- ferentes formas que um morfema pode apresentar quando sofre o processo de alomorfia. Veja o exemplo citando o caso dos prefixos IN-infeliz e I-irresponsável. São palavras que começam com “in” e “i” indicando negação. Uma observação a ser feita nos casos de “i” no início da palavra que só ocorrem diante de determinadas consoantes (l-, m- ,r-, como nas palavras ilegítimo, imoral e irresponsável), portanto, “in” é considerada a forma básica. Assim sendo, “i” é alomorfe da forma básica (morfema) “in”. Outro exemplo: as variadas formas de plural, como mesa/mesas e “raiz/raízes”, em que há alomorfes do plural, sendo um -s e o outro -es. Vamos conhecer outros casos de alomorfia: Alomorfia na raiz. Os morfemas lexicais. Exemplos: ordem, orden- , ordin- têm a mesma significação em ordem, ordenar e ordinário; ouro / áureo: our ~ aur são duas formas para um significado da palavra ouro; cabra / caprino: [cabr] ~ [capr]. Alomorfia no prefixo. O prefixo / in / passa a / i / em inapto / ilegal ou injusto / ilegal: [in] ~ [i] → duas formas para um significado (algo negativo). Alomorfia no sufixo. Aqui temos casinha / xícara: [inha] ~ [zinha] duas formas para um significado que indica algo que é menor. Casarão / vidraça: [arão] ~ [aça] são duas formas para representar objetos de tamanho grande. Alomorfia na vogal temática. Em pão / pães, a vogal temática /o /transforma-se em/ e /; em mar / mares: as duas formas são distintas, mas não modificam a definição da palavra mar. Oferecimento / oferecer: temos as duas formas distintas, mas não modificam a definição da palavra oferecer. 29 Alomorfia na desinência de gênero. Em avô ≠ avó, os traços distintivos / ô / e / ó / podem ser considerados alomorfes das desinências: masculino e feminino. Alomorfia na desinência modo-temporal. Em faláramos / faláreis, a desinência modo-temporal / ra / passa a/ re /. Alomorfia na desinência verbal. Temos canto / sou: [o] ~ [ou]: duas formas para indicar a primeira pessoa do singular. Vamos passar para os conceitos das formas livres, presas e dependentes que possibilitam acrescentar informações para os estudos da análise morfológica. 4 FORMAS LIVRES, FORMAS PRESAS E FORMAS DEPENDENTES Para dar início a essas definições de formas devemos saber que unidades formais de uma língua são livres e presas. Definem-se livres as unidades formais que podem funcionar isoladamente como meio de comunicação eficiente. São formas independentes que podem constituir frase sem precisar de outros elementos. A ideia de forma diretamente nos leva à ideia de estrutura das palavras, isto é, um leque de interações que fornece a cada elemento sua função e sentido. Nos estudos de Morfologia, temos as formas livres, presas e dependentes. FIGURA 4 – FORMAS FONTE: <https://bit.ly/3kV4ozK>. Acesso em: 2 fev. 2021. 30 • Formas livres são vocábulos formais que podem ser pronunciados isoladamente e mesmo assim expressam ideias são considerados palavras. Elas têm autonomia semântica. Podem ser utilizadas de forma isolada, pois mesmo assim estabelecem comunicação entre as pessoas. Podemos dizer, ainda, que se encaixam nessa classificação os substantivos, adjetivos, verbos, advérbios e numerais. Exemplos: Se alguém disser em voz alta a palavra bala, as pessoas entenderão a palavra por si só, apesar de seus significados. Ou ainda, a palavra fogo, que sabemos o que significa: incêndio, tiroteio, e assim por diante. • Formas presas só têm valor quando combinadas com outras formas livres ou presas. Não têm sentido sozinhas. Formas que se apresentam fixas a um vocábulo, pois não existem isoladamente em enunciados. São também chamadas de não- vocábulo. São os afixos, os radicais, as desinências, as vogais temáticas. Exemplo: O prefixo “re”, que precisa de palavras como: fazer, criar, agir para adquirir sentido e criar outras palavras como: refazer, recriar, reagir, que traz um sentido de repetição. Então, nos lembramos da música Refazenda, de Gilberto Gil. Refazenda (Gilberto Gil) Abacateiro acataremos teu ato Nós também somos do mato como o pato e o leão Aguardaremos brincaremos no regato Até que nos tragam frutos teu amor, teu coração Abacateiro teu recolhimento é justamente O significado da palavra temporão Enquanto o tempo não trouxer teu abacate Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão Abacateiro sabes ao que estou me referindo Porque todo tamarindo tem o seu agosto azedo Cedo, antes que o janeiro doce manga venha ser também Abacateiro serás meu parceiro solitário Nesse itinerário da leveza pelo ar Abacateiro saiba que na refazenda Tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar Refazendo tudo Refazenda Refazenda toda Guariroba FONTE: <https://www.letras.mus.br/gilberto-gil/16131/>. Acesso em: 28 jun.
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