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TCC Finalizado Fernanda

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A ENFERMAGEM FRENTE AO MOVIMENTO ANTIVACINAS E SUAS REFLEXÕES ÉTICAS- SOCIAIS
RESUMO
Este trabalho visa orientar os profissionais da saúde sobre a importância da vacinação já que ele é um elemento fundamental para transmitir informações e dar credibilidade a essa ação tão necessária para manter a saúde e o bem estar das pessoas. Nele foram relembrados a historia da vacina, os mitos, as crenças e os fake new sobre a imunização, e as doenças que vitimaram a população, sendo que hoje, graças à vacina não se conhece. Relatado sobre o risco da não vacinação e os argumentos para a recusa da vacina e as questões relacionadas com os eventos adversos pós-vacinação. Nesse trabalho foi analisado o movimento antivacina e a enfermagem nesse cenário. Os métodos utilizados buscam respaldados em artigos, revistas, documentos, oficiais e leis que se encontram no Google Acadêmico, nas bases de dados do Ministério da Saúde e nas bibliotecas virtuais SCIELO (Scientfic Electronic Library Online) e LILIACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) nos anos de 1980 a 2019, em abordagem qualitativa e análise descritiva. Este estudo se justifica por se tornar uma fonte de consulta para a população de forma geral e para os profissionais da área da saúde que estejam interessados em compreender melhor sobre esse movimento antivacinação e suas consequências para a saúde.
Palavras chave: Enfermagem, Enfrentamento, Movimento antivacinação.
ABSTRACT
 This work aims to guide health professionals on the importance of vaccination since it is a fundamental element to transmit information and give credibility to this action, which is so necessary to maintain people's health and well-being. In it the history of the vaccine, the myths, the beliefs and the fake new about immunization, and the diseases that victimized the population were recalled, and today, thanks to the vaccine, it is not known. There was also talk about the risk of non-vaccination and the arguments for refusing the vaccine and issues related to post-vaccination adverse events. In this work, the anti-vaccine movement and nursing in this scenario were analyzed. Methods: used search supported by articles, magazines, documents, officers and laws found in Google Scholar, in the databases of the Ministry of Health and in the virtual libraries SCIELO (ScientificElectronic Library Online) and LILIACS (Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences) in the years 1980 to 2019, in a qualitative approach and descriptive analysis. This study is justified by becoming a source of consultation for the population in general and for health professionals who are interested in better understanding about this anti-vaccination movement and its health consequences.
Key-words: Nursing, Coping, Anti-vaccination movement.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO	9
2. REVISÃO DE LITERATURA	10
2.1. As vacinas e suas implicaçõeshistórico-sociais	10
2.2 Os riscos da não vacinação e os argumentos para a recusa da vacina	12
2.3 O movimento antivacinas no Brasil e suas reflexões éticas- sociais	18
2.4 Oseventos adversos e a condição de vulnerabilidade dos usuários das vacinas	19
2.5 Os programas de compensação de danos por eventos adversos pós-vacinação	21
2.6 A bioética de proteção na política devacinação	22
2.7 A vacinação e a incidência dos direitos humanos e da dignidade da pessoahumana	23
2.8 A vacinação e o respeito àautonomia	24
2.9 Enfrentamentodoenfermeiro em relação ao movimento da antivacina	26
3. METODOLOGIA	32
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS	33
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	34
1. INTRODUÇÃO
A ciência e o avanço da tecnologia trouxeram importantes contribuições para a melhoria do bem-estar do ser humano, surpreendendo a humanidade a cada dia com criações que buscam prolongar a vida do indivíduo e protegê-lo dos mais diversos tipos de enfermidades(MEADE, 2017).
É bom ressaltar que, a vacinação não trouxe somente benefícios, mas também, problemas, que passaram a ser mais visíveis e questionáveis principalmente após a mudança de foco da atenção da população, antes nas doenças, que se tornaram raras, e agora na segurança e riscos das vacinas e seus eventos adversos, o que dificulta um posicionamento uniforme e absoluto sobre a vacinação (MEADE, 2017).
Assim, os movimentos antivacina vêm se formando, e dessa maneira atrapalhando o desenvolvimento do trabalho do enfermeiro, com isso, exigindo desse profissionais manobras para tentar mostrar à população a importância da vacinação.
Diante disso, este estudo visa orientar os profissionais da saúde sobre a importância da vacinação já que ele é um elemento fundamental para transmitir informações e dar credibilidade a essa ação tão necessária para manter a saúde e o bem estar das pessoas.
Em relação às hipóteses trabalhamos com duas. A primeira é que as informações falsas sobre a vacina divulgadas na internet provocaram a queda na cobertura vacinal em muitos países. Em segundo, compreendemos que a informação e a conscientização dos profissionaisda área da saúde sobre a importância da vacinação pode ajudar a estimular a população de maneira geral sobre a importância da vacina.
Nesse sentido esta pesquisa se justifica por se tornar uma fonte de consulta para a população de forma geral e para os profissionais da área da saúde que estejam interessados em compreender melhor sobre esse movimento antivacinação e suas consequências para a saúde.
Vinculados ao objetivo geral, destacamos como focos específicos: recordar o percurso da história da vacinação; apresentar os riscos da não vacinação e os argumentos para a recusa da vacina; apresentar o enfrentamento da fermagem diante do movimento antivacina.
A partir desta monografia, busca-se verificar a possibilidade de solução para os embates relacionados às vacinas, no sentido de que elas avancem tecnologicamente sem que se deixe desprotegido o maior interessado neste desenvolvimento, ou seja, o serhumano.
2. REVISÃO DE LITERATURA 
2.1. As vacinas e suas implicaçõeshistórico-sociais
Em prefácio escrito por Scliar (2003), notamos que micro-organismos sempre estiveram entre nós e esta convivência foi motivo do surgimento de várias doenças que muitas vezes levaram a óbito milhares de pessoas. Porém até um determinado momento as pessoas não sabiam de onde vinham os causadores das doenças. Somente com o avanço da ciência é que se descobriram a presença dos germes e que eles eram os responsáveis por diversas enfermidades. Além disso, a descoberta de vacinas, que tornavam as pessoas imunes, foi um fator importante para evitar a disseminação de algumas doenças. 
Descobrir que o ambiente e a falta de higiene estavam relacionados à disseminação de doenças foi um passo importante para a ciência. E foi Edwin Chadwick, em 1839, que fez essa relevante contribuição. Segundo Ujvari (2003), Chadwick, desenvolveu um trabalho em Londres que levantava as condições sanitárias das cidades inglesas, evidenciando uma íntima relação entre a incidência de doenças infecciosas nas famílias e a falta de higiene e a imundície. Para o autor, o inquérito reforçou a hipótese de que esses locais insalubres, sujos e sem higiene eram os responsáveis pelo aparecimento de epidemias. Assim, informa que foi a partir desse relatório que nasceram os princípios da reforma sanitária das décadasseguintes.
Outro passo importante que controlou a propagação de doenças foi à descoberta da primeira vacina por Edward Jenner. Conforme explica Ujavari (2003), esse estudioso percebeu que as mulheres que faziam a ordenha não contraia a varíola. Então decidiu fazer sua primeira experiência com um menino de oito anos, James Phipps. O autor relata que Jenner retirou o conteúdo das pústulas das mãos de Sarah Nelmes, que havia adquirido varíola bovina por meio do contato com gado,e o inoculou nesse garoto. Depois do experimento, James Phipps apresentou sintomas leves da varíola ficando recuperado após sete semanas ,inoculando o pus da variola humana no mesmo menino e nada aconteceu comprovando a imunidade. Issofez com que Jenner fizesse o teste em mais oitos crianças. 
Ujavari (2003), explica que apesar de o trabalho de Jenner ter sofrido muitas críticas,posteriormente ganhou reconhecimento. Sua técnica deu origem à vacina queprotege da varíola, e essa denominação é empregada até nossos dias.
Depois dos estudos realizados por Louis Pasteur a microbiologia deu um salto. Pois os germes causadores de doenças, que até então era um mistério para a ciência, foram identificados.
Os micro-organismos foram descobertos, mas surgiam constantemente novas doenças em toda a parte do mundo e no Brasil não foi diferente. As cidades brasileiras cresciam e com ela os problemas comuns de uma grande cidade como o aumento da população e consequentemente aumento do lixo. Ujavari (2003) mostra as condições sanitárias das cidades portuárias naquele período, condicões precárias de saúde publica, falta de saneamento, ratos proliferavam na ruas e epidemias se repetiam todos os anos, sendo uma constante as doenças como a febre amarela, a variola, a peste bubonica e a cólera.
Diante deste cenário no qual as epidemias eram recorrentes todos os anos gerando mortes e prejudicando a economia do país, decidiu-se nomear o médico Osvaldo Cruz para diretor da Saúde Pública do Brasil. Osvaldo tinha, neste momento, como objetivo principal, acabar com a febre amarela. E para isso fez uma forte campanha para combater a doença realizando as seguintes medidas, aterrarar os alagados; retirar os lixos das ruas;esvaziados e demolidos os cortiicos . Combatendo também a peste, Osvaldo Cruz promovia a desratização pagavam-se cerca de trezentos réis por cada rato morto que as pessoas levassem aos agentes sanitários, o que incentivava o apoio da população ao objetivo de se diminuir o número desses animais na cidade (UJAVARI, 2003).
Com essas medidas ele resolveu dois problemas: o da febre amarela e da peste bubônica. Conforme explica Ujavari (2003), outra doença que não estava relacionada a nenhum animal começou a se espalhar fazendo com que Osvaldo Cruz tomasse medidas mais rigorosas, culminando na obrigatoriedade da vacinação.
O governo impunha a obrigatoriedade da vacinação de forma violenta e sem esclarecer para a população sobre a importância da vacina ou da higiene. Assim, esses fatos desencadearam a “Revolta da Vacina”. Depois de quase duas semanas de intensos conflitos, a revolta chega ao fim com a vitória da população, como nos mostra Ujavari (2003).
A revolta em questão, não aconteceu somente porque as pessoas não aceitavam a obrigatoriedade da vacina, havia também um contexto de insatisfação com o atual governo.
Conforme afirma Sevcenko (2018), a Revolta da Vacina foi parte de um movimento mais extenso, que culminou com a reformulação da sociedade brasileira.
Depois que acabaram os conflitos, a vacinação continuou sendo realizada e foi sendo incorporada lentamente ao cotidiano da população. Houve um rápido declínio da mortalidade por varíola, que caiu praticamente a zero no ano de 1906 (HOCHMAN, 2011). 
Em 1973 é criado Programa Nacional de Imunizações (PNI). Esse programa que é hoje referência internacional de política pública de saúde adotou diversas estratégias para erradicar algumas doenças como: a febre amarela urbana, a varíola e a poliomielite. Também controlaram o sarampo, o tétano neonatal, as formas graves da tuberculose, a difteria, o tétano acidental, a coqueluche. Após diversas campanhas para a erradicação da varíola, em 1980 essa doença foi considerada morta, pela Assembleia Mundial da Saúde (HOCHMAN, 2011).
Se em determinados momentos da história a vacinação gerou desconfianças na população, hoje mais do que nunca as pessoas enxergam a sua importância. Em 2019, foi registrada na China uma nova variação do vírus, o SARS-CoV-2 causando a COVID-19. Essa doença já se espalhou por todo o mundo gerando mortes e grandes problemas na economia. O primeiro caso no Brasil foi confirmado em fevereiro de 2020 e até o presente momento já morreram mais de 400 mil pessoas. Há uma corrida contra o tempo para a descoberta de uma vacina contra a covid-19 e a vacinação que estava em descrédito para muitas pessoas, passou a ser uma esperança para salvarvidas.
2.2 Os riscos da não vacinação e os argumentos para a recusa da vacina
 A vacina baseia -se na introdução do agente causador da doença (atenuado ou inativado) têm como objetivo estimular uma resposta imunológica do corpo e, assim, promover a proteção contra diversas doenças ( BRASIL, 2013).
Omedo das vacinas e mitos contra elas não é um fenômeno novo. A oposição às vacinas remonta ao século XVIII, quando, o reverendo Edmund Massey, na Inglaterra, chamou as vacinas de "operações diabólicas" em seu sermão de 1772, "A prática perigosa e pecaminosa da inoculação" (CARRETA, 2015).
Ele criticou essas vacinas como uma tentativa de se opor aos castigos de Deus ao homem por seus pecados. Oposição religiosa semelhante foi vista no “Novo Mundo” ainda mais cedo, como nos escritos do Reverendo John Williams, em Massachusetts, que também citaram razões semelhantes para sua oposição às vacinas, alegando que elas eram obra do diabo (FERNANDES, 2015).
No entanto, a oposição às vacinas não se manifestou apenas em argumentos teológicos; muitos também se opuseram a eles por razões políticas e legais. Após a aprovação de leis na Grã-Bretanha, em meados do século XIX, obrigando os pais a vacinar seus filhos, ativistas antivacinas formaram a Liga Antivacinação em Londres (MASSARANI; MOREIRA, 2014).
A liga enfatizou que sua missão era proteger as liberdades das pessoas que estavam sendo "invadidas" pelo Parlamento e suas leis de vacinação compulsória. Eventualmente, a pressão exercida pela liga e por seus apoiadores obrigou o Parlamento britânico a aprovar uma lei em 1898, que removeu multas por não cumprir as leis de vacinação e permitiu que os pais que não acreditavam que a vacinação fosse benéfica ou segura não tivessem seus filhos vacinados (MEADE, 2017).
Desde a ascensão e disseminação do uso de vacinas, a oposição às vacinas nunca desapareceu completamente, vocalizando intermitentemente em diferentes partes do mundo devido a argumentos baseados em teologia, ceticismo e obstáculos legais (UJAVARI, 2003).
Embora a reação contra a vacina do sarampo, devido ao medo de sua conexão com o autismo, seja o exemplo mais recente que vem à mente, houve outros casos de surtos de doenças anteriormente "extintas" nos tempos modernos. Um exemplo é a recusa de alguns pais britânicos em vacinar seus filhos nos anos 70 e 80 contra a coqueluche em resposta à publicaçãodeumrelatórioem1974quecreditou36reaçõesneurológicasnegativasàvacina contra a coqueluche de células inteiras (EDLER, 2017).
Isso causou uma diminuição na captação da vacina contra coqueluche no Reino Unido de 81% em 1974 para 31% em 1980, resultando em um surto de coqueluche no Reino Unido, colocando pressões severas no Sistema Nacional de Saúde (EDLER, 2017).
Os níveis de captação da vacina foram elevados a níveis normais após a publicação de uma reavaliação nacional da eficácia da vacina que reafirmou os benefícios da vacina, bem como incentivos financeiros para enfermeiros que atingiram a meta de cobertura da vacina. A incidência de doenças diminuiu drasticamente como resultado (CARRETA, 2015).
Vários estudos publicados posteriormente refutaram uma associação causal entre a vacina MMR e o autismo. Wakefield recebeu críticas severas por seus métodos de pesquisa falhos e antiéticos, que ele usou para tirar seus dados e conclusões. Uma investigação jornalística também revelou que havia um conflito de interesses em relação à publicação de Wakefield, porque ele havia recebido financiamento de litigantes contra fabricantes de vacinas, que ele obviamente não divulgou para seus colegas de trabalho nem para as autoridades médicas (CARRETA, 2015).
O dano, no entanto, já estava feito e o mito se espalhou para muitas partes diferentes do mundo, especialmente Europa Ocidental e América do Norte. No Reino Unido, por exemplo, a taxa de vacinação MMR caiu de 92% em 1996para 84% em 2002. Em 2003, a taxa era tão baixa quanto 61% em algumas partes de Londres, muito abaixo da taxa necessária para evitar uma epidemia de sarampo (FERNANDES, 2015).
Na Irlanda, em 1999-2000, o nível nacional de imunização caiu abaixo de 80% e, em parte do norte de Dublin, o nível ficou em torno de 60%. Nos EUA, a controvérsia após a publicação do estudo levou a um declínio de cerca de 2% em termos de pais que receberam a vacina MMR para seus filhos em 1999 e 2000. Mesmo depois de estudos posteriores, desmascarar explícita e completamente o suposto vínculo entre MMR e autismo, a queda nas taxas de vacinação persistiu (MEADE, 2017).
Como resultado, vários surtos de sarampo ocorreram em diferentes partes do mundo ocidental, infectando dezenas de pacientes e até causando mortes. No Reino Unido, em 1998, 56 pessoas contraíram sarampo; em 2006, esse número aumentou para 449 nos primeiros cinco meses do ano, com a primeira morte desde 1992 (MASSARANI; MOREIRA, 2014).
Em 2008, o sarampo foi declarado endêmico no Reino Unido pela primeira vez em 14 anos. Na Irlanda, ocorreu um surto em 2000 e 1.500 casos e três mortes foram relatadas. Foi relatado que o surto ocorreu como resultado direto de uma queda nas taxas de vacinação apósa controvérsia da MMR. Na França, foram registrados mais de 22.000 casos de sarampo de 2008 a 2011. Os Estados Unidos não foram uma exceção, com surtos ocorrendo mais recentemente em 2008, 2011 e 2013 (MEADE, 2017).
Talvez o exemplo mais infame de um surto de sarampo nos Estados Unidos tenha ocorrido em 2014-2015. Acredita-se que o surto tenha origem no Disneyland Resort, em Anaheim, Califórnia, e resultou em cerca de 130 pessoas contraindo a doença (MEADE, 2017).
Foi estimado que as taxas de vacinação MMR entre a população exposta na qual ocorreram casos secundários podem ser tão baixas quanto 50% e provavelmente não superiores a 86%. Os enfermeiros da região foram criticados por se desviarem do cronograma de vacinação recomendado pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) e / ou por desencorajar a vacinação. Como resultado, a Califórnia aprovou o Projeto 277 do Senado, uma lei obrigatória de vacinação em junho de 2015, proibindo isenções pessoais e religiosas para se abstiver de vacinas (FERNANDES, 2015).
O acesso a informações médicas on-line mudou drasticamente a dinâmica do setor de saúde e as interações paciente-médico. O conhecimento médico que antes era vinculado a livros e revistas, ou mantido principalmente por profissionais da área médica, agora está acessível ao leigo, que mudou o poder dos médicos como gerentes exclusivos de atendimento de pacientes para os próprios pacientes. Isso levou ao recente estabelecimento de tomadas de decisão compartilhadas entre pacientes e médicos (MASSARANI; MOREIRA, 2014).
Embora isso seja benéfico em alguns aspectos, à disseminação de informações falsas e enganosas encontradas na Internet também pode levar a consequências negativas, como pais que não consentem em vacinar seus filhos. Quando se trata de vacinas, as informações falsas são abundantes e fáceis de encontrar (CARRETA, 2015).
Uma análise dos vídeos do YouTube sobre imunização constatou que 32% se opunham à vacinação e que tinham classificações mais altas e mais visualizações do que os vídeos pró-vacina. Uma análise dos blogs do Myspace sobre a imunização contra o HPV constatou que 43% retrataram a imunização de forma negativa; esses blogs fizeram referência a organizações críticas à vacina e citaram dados imprecisos (MEADE, 2017).
Um estudo semelhante com usuários canadenses da Internet acompanhou o compartilhamento de informações sobre vacinas contra influenza em redes de mídia social, como Facebook, Twitter, YouTube e Digg. Dos principais resultados de pesquisa durante operíodo do estudo, 60% promoveram sentimento antivacinação. Um estudo que examinou o conteúdo dos 100 primeiros sites Antivacinação encontrados após a pesquisa de "vacinação" e "imunização" no Google concluiu que 43% dos sites eram antivacinação, incluindo todos os 10 primeiros(MEADE, 2017).
Os autores on-line de antivacinação usam inúmeras táticas para promover suas agendas. Essas táticas incluem, mas não está limitado a distorcer a ciência, mudar hipóteses, censurar a oposição, atacar críticos, alegando serem “vacinas pró-seguras” e não “antivacinas”, alegando que as vacinas são tóxicas ou não naturais e muito mais (MEADE, 2017).
 Um estudo que avaliou a eficácia com que os usuários avaliaram a precisão das informações médicas sobre vacinas online concluiu que 59% dos estudantes participantes pensaram que os sites recuperados eram inteiramente precisos; no entanto, dos 40 sites que receberam apenas 18, eram realmente precisos, enquanto 22 eram imprecisos (MASSARANI; MOREIRA, 2014).
Esses locais não eram baseados em evidências e as vacinas argumentadas eram perigosas e sem nenhum argumento baseado em mérito. Mais da metade dos participantes (53%) deixou o exercíciocomconceitoserrôneossignificativossobre vacinas. Pesquisas também mostraram que a visualização de um site antivacina por apenas 5 a 10 minutos aumentou as percepções dos riscos de vacinação e diminuíram as percepções dos riscosdeomissãodavacina,emcomparaçãocomavisitaaumsitede controle (MASSARANI; MOREIRA, 2014).
O estudo também descobriu que os sentimentos antivacinas obtidos coma visualização dos sites ainda persistiam cinco meses depois, fazendo com que os filhos desses pais obtivessem menos vacinas do que o recomendado. O papel do acesso on-line a informações falsas antivacinação não pode ser subestimado no exame da ascensão e disseminação do movimento antivacinação (FERNANDES, 2015).
A oposição à vacina MMR entre os pais leva a um dilema ético que pode ser analisado usando a ética médica e os princípios morais. A ética médica exige que os profissionais de saúde obedeçam a um código de bioética que defenda autonomia, não maleficência, beneficência e justiça. Os mais relevantes no mandato de vacinação sãoautonomia e não maleficência (CARRETA, 2015).
Os pacientes têm o direito de recusar a vacinação usando “nossos filhos, nossa escolha” com base em sua autonomia, enquanto os prestadores de serviços de saúde são moralmente obrigados a tratar todos com não maleficência e evitar danos à sociedade a todo custo (CARRETA, 2015).
No nível individual, a religião é um motivo comum para recusar a vacinação. A vacina MMR especificamente foi a causa de instigar debates entre as comunidades hindu, protestante, judaica ortodoxa e testemunha de Jeová. Opiniões religiosas específicas sobre vacinas em geral, no entanto, normalmente não é motivo de debate, mas os componentes da vacina MMR (CARRETA, 2015).
A vacina MMR, combinada com a vacina contra a rubéola, foi originalmente derivada das células do tecido fetal abortado. As comunidades hindu, protestante, muçulmana e judaica geralmenteseopõemaoabortoporrazõesmoraisbaseadasemensinamentosreligiosos; assim, indivíduos dessas crenças podem citar razões religiosas para registrar isenções de vacina (FERNANDES, 2015).
Além disso, a vacina MMR contém gelatina porcina como estabilizador, um meio para garantir um armazenamento eficaz. Os ingredientes suínos são diferentes das gelatinas usadas para consumo oral e purificados em pequenos peptídeos, comumente usados também em cápsulas de medicamentos. Como existe uma ampla variedade de preferências práticas em todas as religiões, alguns indivíduos pertencentes a religiões, como judaísmo, islamismo e hinduísmo, podem se opor a injetar um produto porcino em seu corpo junto com a vacina (MEIHY; FILHO, 2015).
Além disso, outras visões religiosas, como as defendidas pelas congregações protestantes holandês-cristã, consideram a vacinação “uma intromissão inadequada na obra de Deus”. Esses grupos, portanto, acreditam que não devemos mudar o destino predestinado de alguém que fica doente (MEADE, 2017).
Embora o exercício da autonomia e a recusa da vacinação sejam válidos para questões pessoais sensíveis, causará mais danos do que benefícios se uma certaporcentagem da população não receber vacinas, fazendo com que a taxa de imunização caia abaixo do limiar de imunidade do rebanho. Esse limiar varia em todas as doenças. O desenvolvimento de vacinas é considerado um dos maiores avanços da medicina devido aos enormes benefícios para toda uma população. Do ponto de vista da ética, alcançar a imunidade do rebanho em minimizar a quantidade de “freeloaders” é do melhor interesse da sociedade como um todo (MEADE, 2017).
Além disso, os estudos comparam a decisão de se opor à vacinação aos rascunhos do serviço militar. Para os objetores de consciência, o dever militar e o recebimento de uma vacina têm os mesmos custos: liberdade, risco pessoal e utilidade em termos de tempo (EDLER, 2017).
Naturalmente, os custos do serviço militar são mais exigentes e exigem mais de um indivíduo do que receber uma vacina. Em termos de imunidade do rebanho e dependendo da gravidade das doenças iminentes, esses custos são aqueles que eles devem incorrer para o benefício de si mesmos e da sociedade (FERNANDES, 2015).
Na linha de frente das complicações legais, estão às vacinas regulamentadas pelo estado para todas as crianças que frequentam a escola. Os defensores da vacinação argumentam que isso é uma violação da autonomia; no entanto, os formuladores de políticas de saúde pública justificam suas ações usando o utilitarismo das regras (CARRETA, 2015).
O utilitarismo das regras é a ideologia de que uma regra para a sociedade deve ser estabelecida com o melhor resultado para a maior quantidade de pessoas na sociedade. Além disso, o ensaio de John Stuart Mill, “On Liberty”, explica o Princípio de Danos, que é frequentemente usado para justificar métodos obrigatórios de controle de doenças infecciosas, incluindo vacinas (MEADE, 2017).
O Princípio do Dano justifica interferir com a autonomia e as liberdades individuais, contra sua vontade, se for feito de modo a evitar danos a outros. Um exemplo disso foi visto na Califórnia em 2014 / 2015, depois que um surto de sarampo levou à aprovação do Projeto de Lei 277 do Senado pedindo vacinações obrigatórias pelo estado para todos - sem exceções pessoais (MEIHY; FILHO, 2015).
A raiz do problema, no entanto, provavelmente contribuiu para as descobertas fraudulentas de Wakefield que atingiram o medo de um vínculo entre vacinação e autismo nos pais, o que levou a uma baixa taxa de pessoas recebendo a vacinaMMRdetodosos tempos. A fraude tem sido chamada de fraude médica mais prejudicial em 100 anos, após provocar surtos de doenças erradicadas de outra maneira (MEIHY; FILHO, 2015).
Nos tempos em que alcançamos imunidade derebanho, ainda perguntas. As isenções legais ainda podem ser justificadas? E essas isenções devem ser limitadas a razões religiosas ou devem incluir também um raciocínio secular. Muitos cientistas e especialistas médicos sugerem que as isenções devem ser consideradas apenas se a sociedade estiver dentro dos limites da imunidade do rebanho. Quanto ao debate religioso versus secular, é difícil ignorar objeções seculares, pois a maioria delas está enraizada em visões pessoais espirituais ou holísticas (MASSARANI; MOREIRA, 2014).
Como a imunidade do rebanho é cumulativa, conclui-se que a capacidade de dispensar imunizações é difícil, mas não impossível. Se as dispensas forem concedidas a um pequeno número de indivíduos que precisam sinceramente deles, e não àqueles que são incomodados por elas, as dispensas podem ser ética e legalmente válidas (FERNANDES, 2015).
2.3 O movimento antivacinas no Brasil e suas reflexões éticas- sociais
No Brasil, o movimento antivacinas conta com um número ainda pequeno de adeptos, sendo pouco expressiva a sua força. Isso talvez ocorra, porque em países como o Brasil, onde a maioria de sua população vive abaixo da linha da pobreza, sem acesso à saúde eao saneamento básico de qualidade, a vacinação ainda seja a melhor e mais barata política pública de saúde coletiva, capaz de manter a segurança detodos(BARBIERI, 2015).
Apesar dos antivacinas atuarem em pequeno número ainda no Brasil, os mesmos merecem a atenção das autoridades em saúde do Estado, principalmente agora, com o reaparecimento de doenças antes silenciadas pelas vacinas, como o sarampo e a febre amarela (BARBIERI, 2015).
Na cidade de São Paulo, recentemente, no ano de 2011, surgiram 16 casos de sarampo, no bairro de Vila Madalena. Tudo começou com uma criança, que por opção familiar, não foi vacinada contra a doença e acabou contraindo a mesma e espalhando o vírus pela vizinhança (MASSARANI; MOREIRA, 2014).
Os casos de sarampo no país, já sob a influência do movimento antivacinas, segundo dados do ano de 2012, aumentaram em 135%. Entre os anos de 2010 e 2012, a incidência da doença passou de 0,5 casos por 100 mil habitantes, para 8,1 casos por 100 mil habitantes (MASSARANI; MOREIRA, 2014).
O tempo, aos poucos, vem demonstrando à população brasileira que a vacinação éuma política pública em saúde bastante eficaz no combate às doenças infecciosas e na defesa dos interesses da coletividade, pois pouco ainda são os investimentos em saneamento básico e saúde pública e a grande maioria da população é pobre e vulnerável (MARTINS,2013).
O surto de febre amarela em que vive o Brasil nos dias atuais é uma prova disso. Segundo dados do início do ano da Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais, o Brasil já tem registrado 189 casos de febre amarela, dos quais 68 acabaram em morte. Além desses casos confirmados, ainda há 732 casos suspeitos, sendo investigados. Esse é o maior surto de febre amarela registrado na série histórica do Brasil, desde 1980, o que chama a atenção das autoridades públicas em saúde do país (LEVI, 2018).
Os Estados mais afetados são Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Tocantins, a o risco da doença se alastrar para outros estados e países já é alertado pelo Ministério da Saúdee pela Organização Mundial da Saúde, razão pela qual já se intensificaram a vacinação no país (LEVI, 2017).
Os casos de febre amarela registrados até janeiro de 2017 eram todos do tipo rural, não havendo registro de febre amarela urbana no Brasil desde 1942, o que, entretanto, não se é descartado. Por isso, a importância da vacinação em massa, como garantia do direito fundamental à saúde da coletividade, devendo movimentos como estes antivacinasser analisados com cautela pela população, principalmente as pertencentes aos países da América Latina, como o Brasil (MARQUES; LEÃO, 2018).
A discussão trazida pelo movimento antivacinas sobre o conflito de interesses individuais e coletivos, que vem surgindo dentro da política de vacinação, criou um grande conflito moral a ser resolvido. Importante à intervenção da Bioética nesses casos, contribuindo para o alcance de um equilíbrio entre o interesse individual daqueles que não querem se vacinar e o interesse da coletividade em manter a saúde pública, necessário para uma vida harmoniosa e segura em coletividade (BARBIERI, 2015).
A Bioética está para discutir e analisar de forma crítica os problemas existentes entre o direito à autonomia dos indivíduos e os conceitos de benefício e dano, objetivando contribuir para uma solução justa, calcada no respeito aos direitos humanos.
2.4 Os eventos adversos e a condição de vulnerabilidade dos usuários das vacinas	
O tema segurança dos usuários das vacinas é bastante importante, pois ligado diretamente, conforme pôde ser vista pela análise dos movimentos antivacinas, com o sucesso da política de vacinação. As vacinas não são totalmente seguras, podendo causar perigo e risco à saúde e à vida dos seus usuários, através dos seus eventos adversos, considerado estes como um problema de qualidade no cuidado com a saúde do vacinado, que causam mudanças indesejadas no estado de saúde do mesmo, podendo, inclusive, causar-lhe a morte (MARQUES; LEÃO, 2018).
A Classificação Internacional de Segurança do Paciente conceitua o evento adverso como sendo um incidente com lesão, sendo incidente um evento ou circunstância que causou ou poderia causar um dano desnecessário ao indivíduo.Pode-se ainda citar o conceito trazido por Barbieiri (2015) e colaboradores, segundo os quais evento adverso é um dano não intencional que pode causar uma incapacidade definitiva ou temporária e até mesmo a morte como consequência de um cuidado com a saúde recebida.
Atualmente, vem se discutindo muito sobre a segurança das vacinas, o que antes não se via com tanta intensidade. A preocupação é importante, pois não se pode permitir que uma medicação, que veio para causar o bem, possa proporcionar algum tipo de dano a alguém. As vacinas, quando causam eventos adversos, podem se tornar uma imposição desumana, que impõe um sofrimento físico e mental muito grande ao vacinado e a toda sua família, razão pela qual, a atenção do Estado a estas vítimas de eventos adversos pós-vacinação precisa ser integral eefetivo.
No caso das vacinas, a propagação dessa cultura de segurança deve ser vista como obrigatória e essencial no intuito de diminuir ao máximo os eventos adversos, principalmente através de um aprendizado proativo a partir dos mesmos, que pode proporcionar o redesenho da política de vacinação e incentivar a criação de um sistema de prevenção e compensação dos danos ocasionados por referidos eventos adversos (BARBIERI, 2015).
O conceito de risco que interessa à Bioética e será tratado neste estudo está umbilicalmente ligado com o de vulnerabilidade, se referindo o risco à situação de fragilidade em que vive a sociedade de hoje em razão dos efeitos que as novas tecnologias e os seus usosvêm produzindo; e a vulnerabilidade às condições do indivíduo dentro dessa sociedade (MARTINS, 2013).
Na política de vacinação, o vacinado passa a ser o sujeito central na qualidade de receptor das vacinas, subjugando-se a uma “medicação” estranha, sobre a qual ainda não sabe quase nada e cujos efeitos ainda não se sabe quais são ao certo, que se dando assim numa situação de vulnerável perante o seio social em que vive merecedora da devida proteção, como sujeito de direitos humanos (MARQUES; LEÃO, 2018).
O indivíduo, uma vez vacinado, entra num verdadeiro estado de risco, pois as vacinas podem ocasionar, a qualquer momento, algum tipo de evento adverso pós-vacinação imprevisível e alguns inevitáveis. Assim, o vacinado vive um constante estado de fragilidade, logo de vulnerabilidade, que exige uma proteção especial do Estado e da sociedade (MARTINS, 2013).
A Bioética vem analisando sujeitos vulneráveis com uma visão focada nos direitos humanos, protegendo os indivíduos tanto das vulnerabilidades próprias do ser humano,quanto das vulnerabilidades acidentais, visando sempre uma política de proteção baseada nos preceitos da Bioética de proteção. A Bioética descreve que um indivíduo susceptível de ser exposto a danos físicos ou morais devido à sua fragilidade deve ter uma política de proteção do ser humano de acordo com o contexto histórico e social em que vive e está inserido (BARBIERI, 2015).
Os eventos adversos acabam por se a causado indivíduo entrar num estado de “sofrimento”, enfraquecimento e desgaste emocional, que se estende por toda a sua vida familiar e social. No caso das vacinas essa sofrimento que é abribuido ao sujeito em razão dos eventos adversos se torna ainda mais delicado por conta de que a maioria dos afetados acaba sendo crianças, por conta da política de vacinação na infância adotada pelo Brasil.
2.5 Os programas de compensação de danos por eventos adversos pós-vacinação
As reparações de danos ocorridas à saúde, via de regra, são efetivadas por meio de ações judiciais fundadas na legislação sobre responsabilidade civil, sendo necessária a comprovação do dano, do nexo causal e do responsável pelo atodanoso(LEVI, 2017).
Na política de vacinação, a reparação dos danos se torna um pouco mais complicada, porque não há uma conduta culposa ou ilícita propriamente dita por parte dos envolvidos, já que os eventos adversos são, via de regra, imprevisíveis e não estão diretamente relacionados com as condições de fabricação, armazenamento e distribuição das vacinas (LEVI, 2017).
Apesar disso, no Brasil, os usuários das vacinas, quando vítimas dos eventos adversos pós-vacinação, não têm outra opção senão a Judicialização da demanda, já que o País não dispõe de um programa de compensação dos danos causados por eventos adversos pós-vacinação (BARBIERI, 2015).
O primeiro país a reconhecer a necessidade e criar um programa de compensação de eventos adversos pós-vacinação foi a Alemanha, em 1961. Segundo o programa alemão, a sociedade beneficiada pela imunização das vacinas era responsável pela compensação das vítimas de EAPV, devendo repartir com elas os bônus e os ônus da vacinação (LEVI, 2018).
Os programas de compensação de EAPV foram originários de pressões públicas ocorridas em relação à segurança das vacinas, tendo sido os principais argumentos, as pressões políticas e econômicas; isentar os laboratórios fabricantes das vacinas das ações judiciais, garantindo o abastecimento das vacinas nos países e reforçar a confiança da população na política de vacinação (MARQUES; LEÃO, 2018).
Nos programas de compensação de EAPV é importante frisar que todo o procedimento ocorre de forma administrativa, visando com isso dar uma maior transparência, participação, equidade e justiça às vítimas dos EAPV. Referidos programas seguem um modelo de compensação sem culpa, onde profissionais especialistas na área avaliam se os danos causados foram ocasionados pelas vacinas,não precisando as vítimas se dirigirem ao Poder Judiciário nem provar a existência de culpa para ver seu dano reparado.
2.6 A bioética de proteção na política devacinação
A teoria Principialista da Bioética abrange boa parte da discussão relacionada à redução dos conflitos éticos da política de vacinação. Apesar disso, Principialismo, já tem algum tempo, vem sendo questionado por bioeticistas de países com alto grau de exclusão social, como o Brasil e outros da América Latina, que buscam meios de desenvolver uma bioética contextualizada com a realidade dos países em desenvolvimento, para de maneira eficaz e justa, solucionar seus problemas morais, persistentes e emergentes, que não são poucos (LESSA, 2018).
A política de vacinação brasileira, para ser moralmente justa e eficaz, necessita ser estudada com um enfoque social e político, o que não é feito pela Bioética Principialista, daí porque a importância dessa nova visão da Bioética trazida pelos países latino americanos, denominadas por eles de Bioética de Proteção, que fazem essa nova análise ampla e crítica dos fenômenos éticos e morais (LEVI, 2017).
A bioética da Proteção inicia-se com inquietações formuladas por estudiosos latino-americanos, tornando visíveis os conteúdos que perpassam a ética desde sua origem na Grécia antiga até a reflexão sobre os problemas morais que abrangem as práticas que dizem respeito ao desamparo humano (LESSA, 2018).
Nessa perspectiva, prioriza a atenção aos sujeitos vulnerados desprovidos dos meios para atingir seu potencial máximo de saúde. No âmbito da saúde, visa implementar políticas públicas a partir da aplicação e adaptação das ferramentas do saber bioético aos conflitos e dilemas morais que surgem em saúde pública constatando os limites da bioética tradicional (LESSA, 2018).
Assim sendo, a Bioética de Proteção torna-se um meio de preservar o reconhecimento de todos como pessoa e como consequência o respeito às garantias e direitos fundamentais inerentes a condição humana (LEVI, 2018).
Pela proteção, fundamenta do Estado Mínimo, mas também fundamenta moral do Estado do bem-estar social contemporâneo busca-se alcançar uma ética da responsabilidade, ou seja, uma ética da proteção preocupada em garantir o direito à cidadania para todos, inclusive para as minorias vulneráveis, como as vítimasdoseventos adversos pós-vacinação, ora estudadas, para com isso alcançar um ambiente social saudável e equitativo (LEVI, 2017).
A política de vacinação brasileira, de acordo com a Bioética de Proteção, para ser justa com o coletivo e com o individual, precisa abarcar outros valores morais,tais como a solidariedade, a responsabilidade e a justiça social, que permitirá entender que as vítimas dos eventos adversos pós-vacinação também precisam ser protegidas, já que o princípio da bioética da proteção existe, nem que implicitamente, dentro das obrigações do Estado e da sociedade para com seus cidadãos, obrigação esta, de protegê-los contra ameaças que possam vir a prejudicá-los em suas existências (LESSA, 2018).
Essa perspectiva ampliada da Bioética sobre a vacinação permitirá entender melhor esse tema tão complexo, ampliando o senso de responsabilidade solidária dos membros da sociedade, possibilitando ao estado repensar a política de compensação das vítimas dos danos dos eventos adversos pós-vacinação, muitas das vezes forçadas a se vacinar, para cumprir uma obrigação do Estado de promover a saúde de todos (LESSA, 2018).
2.7 A vacinação e a incidência dos direitos humanos e da dignidade da pessoahumana
Os Direitos Humanos são enunciados que permitem aos seres humanos uma vida digna, protegida do abuso estatal e que proporciona a cada indivíduo uma área de proteção intransponível, inclusive perante terceiros (ALBUQUERQUE, 2016).
No Brasil, além desses direitos serem reconhecidos pela Constituição Federal Brasileira de 1988, coaduna-se, também, com os direitos fundamentais previstos nesta mesma norma, sendo, entretanto, a forma mais eficaz de lhes conferir conteúdo, a aplicação dos mesmos nos casos concretos (LEVI, 2018).
Os direitos humanos são universais e inerentes a todas as pessoas, não importando cor, religião, sexo, etnia e orientação sexual. Referidos direitos têm como principal parâmetro a dignidade da pessoa humana e como principal objetivo garantir o respeito e proteger todos os seres humanos de qualquer espécie de dano e tratamento desumano e cruel (MARQUES; LEÃO, 2018).
Adentrando na dignidade humana pode-se dizer que esta, proporciona a cada indivíduo uma série de direitos fundamentais capazes de garantir ao ser humano uma proteção contra todo e qualquer ato degradante e desumano e a fruição de uma vida saudável e digna, com o mínimo necessário à sua existência, participando ativamente das decisões que traçarão o destino de suas vidas e da mesma em sociedade (ALBUQUERQUE, 2016).
Assim, a dignidade humana, na qualidade de pilar dos Direitos Humanos, é quem impõe o respeito a todos os seres humanos, como consequência de um valor intrínseco que cada um carrega consigo valor este que precisa e deve ser respeitado e protegido, principalmente pelo Estado, que existe e foi criado para o indivíduo.
Da mesma forma, ao que se refere ao direito à saúde, a Bioética também se socorre dos direitos humanos para se ver aplicada, já que preceitos morais isolados não dispõem de força normativa capaz de assegurar o cumprimento e a efetividade dos direitos dos pacientes/vacinados (ALBUQUERQUE, 2016).
Assim sendo, quando se fala em saúde, logo em vacinação, cabe ao Estado primar pelo cumprimento e eficácia dos Direitos Humanos e da dignidade da pessoa humana, devendo adotar todas as medidas, inclusive legislativas, para prevenir aviolação a referidos direitos do paciente/vacinado, pois sobre ele recairá praticamente toda e qualquer forma de responsabilização (BRASIL, 2015).
Nos casos em que ocorrer o descumprimento dos Direitos Humanos em saúde, como acontece nos eventos adversos pós-vacinação, mesmo que o Estado tenha adotado todas as medidas preventivas para evitá-lo, não pode o mesmo se isentar de responsabilidade e permanecer inerte, devendo mais do que tudo agir para assegurar de forma efetiva a reparação do dano causado, pois, como dito, a ele compete à proteção e execução de referidos direitos (ALBUQUERQUE, 2016).
2.8 A vacinação e o respeito àautonomia
O termo autonomia tem origem grega, advindo das palavras autos, que significa próprio e nomos, que quer dizer regra, governo. Foi a partir desses termos que a autonomia posteriormente foi usada também em relação aos indivíduos, passando a significar autogoverno, liberdade da vontade e escolha individual. Ser autônomo é poder pensar, decidir e agir de forma livre e independente, sem nenhum tipo de intervenção, seja ela interna ou externa. Ser autônomo é o direito de ter opinião própria, de fazer suas próprias escolhas e agir de acordo com seus próprios valores (SANTOS, 2017).
A autonomia para Moulin (2016) tem suas raízes no valor incondicional que todo o ser humano possui e violá-la é desrespeitar essa pessoa em sua própria dignidade, pois assim agindo a estaria tratando como meio, sem levar em consideração seus próprios interesses.
A noção de autonomia de vontade, extraída da Bioética, fundamenta a ideia de autogoverno do indivíduo sobre sua própria vida, cabendo a ele fazer suas próprias escolhas, as quais conduzirão o rumo de sua vida. A discussão sobre a noção e abrangência do conceito de autonomia é bastante importante para o presente estudo sobre a vacinação, pois no Brasil, as maiorias das vacinas são de cunho “obrigatório”, surgindo assim o questionamento sobre a possibilidade da mitigação deste tão importante princípio da Bioética (UNESCO, 2005).
Na visão da teoria Principialista, dos bioeticistas Beachamp e Childress, a autonomia é um conjunto de significados, englobando a autodeterminação, o direito a escolha individual e a livre vontade e, principalmente, o direito de ser uma pessoa propriamente dita. Além de defender a autonomia de todos os seres humanos, referidos bioeticistas também defendem a ideia de que os indivíduos com a autonomia diminuída devem ser protegidos, tais como as crianças e os recém-nascidos, estes principais receptores das vacinas, cabendo a autonomia ser exercida pelos pais ou responsáveis (UNESCO, 2005).
É bom frisar, que existe certa polêmica quanto à autonomia das crianças, tendo posicionamentos que defendem que as mesmas têm apenas sua autonomia reduzida em razão de suas vulnerabilidades, estando a mesma ainda em construção, já que crianças são seres humanos em desenvolvimento (MARQUES; LEÃO, 2018).
Um problema que precisa ser enfrentado e solucionado em relação à autonomia dos indivíduos é no tocante a política de vacinação, pois nestes casos, a autonomia de cada indivíduo pode se chocar com o objetivo fim da vacinação, que é promover a proteção individual e de um coletivo de certa forma, já que a decisão de se não vacinar pode trazer implicações negativas para toda a sociedade (OMS, 2016).
A vacinação enquadra-se dentre as políticas pública em saúde, ou seja, é uma ação do estado que visa a proteção da coletividade, assim sendo, no Brasil, tanto as vacinas quanto a restrição da autonomia do indivíduo passam a ser considerados um ato de proteção, de poder elevado e fundamentado no princípio da responsabilidade social e em prol da justiça sanitária brasileira (LEVI, 2018).
No caso das vacinas, que aqui é estudado, o enfoque bioética tem que ser feito sob o viés da autonomia relacional, buscando-se assim um equilíbrio entre os interesses individuais e coletivos. A presente análise não busca com isso neutralizar o direito do indivíduo/usuário da vacina de tomar as decisões sobre a sua própria vida, mas reconhecer que o indivíduo não se encontra sozinho, mas inserido num meio social, e que suas decisões, escolhas e condutas podem causar sérias influências neste meio e para toda a coletividade e vice e versa (MARTINS, 2013).
Segundo a autonomia relacional, o indivíduo ao tomar uma decisão, tal como a de se vacinar ou não, além de pensar em si, deve analisar o que sua decisão pode gerar nas outras pessoas em termos de consequência, pois, cada indivíduo tem uma responsabilidade solidária para com todos que compõem a comunidade em que vive. Com base nisso, que em alguns casos, como na vacinação, se permite o cerceamento da autonomia em benefício de um bem maior e coletivo, que é a saúde de todos (COUTO, 2015).
Assim sendo, a autonomia do indivíduo, no caso da vacinação, abre espaço para um novo conceito de responsabilidade social em saúde pública, permitindo seja imputado a todos os indivíduos, pormeio do Estado, a obrigação de se vacinar em prol da saúde da coletividade, mesmo que as vacinas, por meio de seus eventos adversos, possam causar mal a alguns indivíduos (BRASIL, 2018).
No Brasil, considerando a escassez de recursos financeiros e a vulnerabilidade econômica da maioria da população, que não tem acesso aos bens primários em saúde e saneamento básico, as vacinas funcionam como uma política de saúde necessária para garantir a saúde e o direito à vida da população (BRASIL, 2018).
Da mesma forma que não se pode permitir que o individual se sobrepusesse ao coletivo, também não se pode permitir que o coletivo se isentasse de responsabilidade perante o individual. Assim, nos casos de vacinação, ao se cercear a autonomia do indivíduo em nome do benefício da saúde da coletividade, advindo evento adverso, o Estado deve assumir a responsabilidade e criar políticas públicas que dêem a devida assistência moral, jurídica, financeira, social e psicológica, às pessoas acometidas pelos possíveis dolos pós-vacinação e suas famílias (LEVI, 2018).
Atualmente, no Brasil, não existe um sistema de compensação de eventos adversos causados pelas vacinas, tendo as “vítimas” que buscar auxílio junto ao Poder Judiciário para efetivar seus direitos. Entretanto, se questiona até que ponto o Poder Judiciário está preparado para solucionar esses conflitos morais envolvendo a vacinação (MARQUES; LEÃO, 2018).
Nas vacinas, a proteção do direito individual deverá se dar não pela garantia do direito imediato à autonomia de vontade, mas sim pela garantia da existência de políticas que garantam acesso equitativoe universal aos bens e serviços de saúde, inclusive para as vítimas de eventos adversos, o que se chama de lado público e coletivo do interesse individual.
2.9 Enfrentamentodoenfermeiro em relação ao movimento da antivacina
O cuidado preventivo é uma parte importante da manutenção da boa saúde. Isso inclui imunizações, que protegem bebês e crianças de doenças evitáveis por vacina. O CDC informou recentemente que as vacinas de rotina na infância realizadas entre 1994 e 2013 salvaram cerca de 732.000 vidas, impedirão 322 milhões de doenças e 21 milhões de hospitalizações ao longo da vida das crianças. A vacinação também reduz os custos em saúde, economizando US $ 295 bilhões em custos diretos e US $ 1,38 trilhão em custos sociais devido a doenças impedidas de vacinar (UNESCO, 2005).
Esses benefícios são vistos como resultado direto do programa nacional de VacinasparaCrianças (VFC), desenvolvido para promover vacinas infantis. Implementado em 1994 para ajudar a fornecer vacinas para crianças cujos pais ou responsáveis talvez não possam pagar, o programa VFC contribuiu diretamente para um aumento substancial nos níveis de cobertura de imunização infantil e contribuiu significativamente para a eliminação de disparidades na cobertura vacinal entre crianças pequenas (UNESCO, 2005).
O CDC estima que as taxas de vacina subiram para perto ou acima de 90% para várias vacinas de rotina, incluindo a vacina contra sarampo, caxumba e rubéola; vacina contra poli vírus; vacina contra hepatite B; e vacina contra varicela (LEVI, 2018).
Como parte dos cuidados de rotina, todos os pais devem ser informados sobre o que é avacina, asdoenças evitáveis pela vacina, bem como os riscos e benefícios das imunizações. Os enfermeiros de sempenham um papel fundamental nesse processo (OMS, 2016).
Os esforços de educação devem incluir uma discussão sobre reações adversas associadas à vacina e o fornecimento de Declarações de Informações sobre Vacinas (VISs), conforme exigido pela lei federal. A Lei Nacional de Lesões por Vacinas na Infância exige que todos os profissionais de saúde forneçam cópias dos VISs aos pais antes de administrar cada dose das vacinas listadas no cronograma (OMS, 2016).
Como parte do atendimento diário ao paciente, os enfermeiros podem desempenhar um papel fundamental na formação das atitudes dos pais em relação às vacinas e influenciar os pais que hesitam em vacinar. A comunicação eficaz e crítica, pode abordar as preocupações dos pais e mudar atitudes e comportamentos, resultando na aceitação e cumprimento dos cronogramas de vacinação (LEVI, 2018).
Com isso em mente, as seguintes recomendações são fornecidas para ajudar os enfermeiros a se comunicarem com os pais em relação às vacinas, bem como às doenças infecciosas que eles previnem:
· Crie relacionamento e ouça respeitosamente, incentive perguntas e reconheça as preocupações dospais.
· Forneça informações precisas sobre os riscos e benefícios das imunizações. Isso deve incluir uma discussão completa e precisa dos riscos associados à permanência não vacinada e ao atraso de certas vacinas, bem como um lembrete de que as vacinas são importantes em parte porque não existem tratamentos eficazes para a maioria das doenças evitáveis pela vacina.
· Tentar dissuadir os pais de dividir as vacinas combinadas, pois pode ser difícil levar os pais e a criança de volta ao consultório em tempo hábil para concluir o regime devacinação.
· Esteja ciente de que os pais que intencionalmente não vacinam seus filhos também podem criar problemas secundários ao optar por não receber suas próprias vacinações, como as necessárias para a coqueluche, que é altamente contagiosa e pode ser grave para os bebês. Os pais (e todos os familiares ou cuidadores envolvidos com bebês) que não estão atualizados com a vacina contra tétano, difteria, coqueluche (dtpa) devem ser vacinados pelo menos duas semanas antes de entrar em contato próximo com uma criança. As mulheres grávidas também são incentivadas a serem vacinadas no terceiro trimestre. Assim como as preocupações com imunizações para crianças, os enfermeiros devem ouvir a preocupação dos pais ou de outros cuidadores sobre suas próprias vacinas, fornece informações sobre o valor de um reforço, como o dtpa, e incentivar avacinação.
· Evite debates contraditórios. Se os pais manifestarem preocupação, acompanhe- os alguns dias após a visita ou agende uma consulta de acompanhamento.
· Documente as perguntas e preocupações dos pais, bem como todas as informações fornecidas.
Fornecer boas informações é essencial. Existem inúmeros recursos disponíveis, incluindo guias da Associação Nacional de Enfermeiros Pediátricos e do CDC para ajudar a avaliar as necessidades dos pais, identificar o papel que eles querem desempenhar na tomada de decisões para a saúde de seus filhos e depois se comunicar de maneira a atender às suas necessidades (LEVI, 2018).
É inevitável que os enfermeiros encontrem pais que se recusem a vacinar seus filhos em suas práticas. Os enfermeiros devem considerar as seguintes sugestões sobre como lidar com os pais nessa situação:
· Forneça aos pais informações suficientes sobre doenças preveníveis por vacina (verbalmente e por escrito). Isso inclui informações sobre as apresentações clínicas dessas doenças e sintomas precoces, especialmente importantes para coqueluche e sarampo, que são altamente contagiosos e podem se apresentar precocemente como uma doença respiratória inespecífica. 
· Aconselhe os pais de uma criança não imunizada que, se levarem o filho doente ao consultório de um profissional, clínica de atendimento urgente ou outro estabelecimento, devem telefonar com antecedência para que possam ser implementadas as devidas precauções de isolamento para proteger outros pacientes e funcionários.
· Informe aos pais que o diálogo sobre vacinas está em andamento e será retomado novamente na próxima visita do consultório.
Finalmente, enquanto boa comunicação e relacionamento são parte essencial das interações com os pais que se recusam a vacinar seus filhos, também é importante documentar todas as ações e discussões médicas como parte de uma estratégia sólida de gerenciamento de riscos e mitigar a responsabilidade (OMS, 2016).
Se, após discussões com os pais, eles optarem por pular as vacinas para seus filhos, os pais devem assinar um formulário de recusa em vacinar (assinar um novo formulário cada vez que uma vacina for recusada, para quehaja um registro no prontuário médico da criança). A Academia Americana de Pediatria tem uma forma que pode ser facilmente incorporada à prática (UNESCO, 2005).
As vacinas são uma das maiores histórias de sucesso em saúde pública uma medida preventiva de saúde responsável por salvar milhões de vidas. Recusar imunizações pode colocar uma criança em risco de contrair uma doença evitável, além de transmitir a doença a outras pessoas, incluindo aquelas jovens demais para serem vacinadas ou com problemas imunológicos. Para algumas doenças, como sarampo, um caso é suficiente para causar preocupação (SANTOS, 2017).
Os enfermeiros pediátricos e familiares podem trabalhar com os pais que hesitam em vacinar usando linguagem clara para apresentar evidências precisas dos riscos e benefícios da vacina. O objetivo é garantir o cumprimento oportuno e completo do cronograma de vacinas recomendado, a fim de proteger as crianças das doenças evitáveis pela vacina (SANTOS, 2017).
Os enfermeiros têm a responsabilidade de estar atualizados sobre as vacinas de rotina recomendadas. Uma imunização promove a saúde ideal e protege os pacientes e a comunidade das doenças evitáveis pela vacina. Os enfermeiros trabalham em ambientes onde estão expostos a muitas doenças e infecções transmissíveis, por isso é especialmente importante ter as seguintes vacinas:
· Gripe sazonal;
· Tétano, Difteria e Coqueluche (Tdap) - especialmente para enfermeiras que trabalham com recém-nascidos ou bebês comprometidos;
· Sarampo, caxumba erubéola;
· Hepatite B;
· Varicela;
· Meningocócico - CDC recomenda uma dose se você é frequentemente exposto a isolados de N.meningitidis.
Existem muitos elementos de imunização que os enfermeirosprecisam conhecer. Desde os locais anatômicos corretos para dar as injeções, até o cronograma de imunização cada vez mais complexo, até saber onde arquivar um Relatório de Eventos Adversos de Vacinas, até a maneira como as vacinas atuam na ativação do sistema imunológico (OMS, 2016).
Por meio de cursos de educação continuada, fichas técnicas, vídeos e webcasts, esta página oferece aos enfermeiros uma variedade de oportunidades educacionais para aumentar seu conhecimento e competência em imunização (SANTOS, 2017).
Como muitas preocupações com a saúde, as pessoas têm duvidas sobre o que ouvem ou leem on-line sobre vacinas. Como a profissão mais confiável, os enfermeiros podem ser críticos para ajudar a melhorar a confiança nas vacinas e ajudar as pessoas a se sentirem bem com a decisão de serem vacinadas ou com a vacinação de seus filhos ou entesqueridos (OMS, 2016).
Os enfermeiros devem entender o conceito de comunicação de risco, pois é uma ferramenta vital para ajudar a discutir as imunizações com pacientes, familiares e comunidades. Ser capaz de se comunicar sobre riscos é muito importante, especialmente agora que muitas doenças evitáveis por vacinação, como a poliomielite e a difteria, estão praticamente extintas em alguns países. Os profissionais da saúde precisam ajudar aspessoas a entender o risco das doenças ainda é muito real e a confiança cada vez menor nas vacinas e as quedas subsequentes na cobertura da imunização causaram o ressurgimento de doenças e, em alguns casos, a morte (LEVI, 2018).
Aprender sobre as imunizações ,conhecer como funcionam as vacinas no corpo humano, como a segurança das vacinas é monitorada e saber se comunicar efetivamente sobre o risco de doença versus o risco de um efeito colateral da vacina (OMS, 2016).
Pensar criticamente sobre o que ouve ou lê sobre os riscos da vacinação. Importante lembrar que nem sempre se aborda a conversa em termos de risco ajude as pessoas a entender os benefícios das vacinas, tanto para os indivíduos quanto para a comunidade emgeral (LEVI, 2018).
Use esses recursos para ajudar a educar e aconselhar os pacientes e suas famílias para ajudá-los a tomar as melhores decisões possíveis usando todas as informações disponíveis.
Enfermeiros fazem mais do que administrar vacinas,eles solicitam o fornecimento da vacina, garantem que as vacinas sejam armazenadas e manuseadas corretamente, documentam as vacinas e avaliam o histórico de imunização do paciente para determinar as necessidades da vacina (LEVI, 2018).
Os enfermeiros, que mantêm contato direto e frequente com os pais, desempenham um papel fundamental na manutenção da confiança na vacina e são considerados a principal e mais confiáveis fonte de informação para os pacientes.Com a crescente disponibilidade de novas vacinas e as frequentes atualizações dos horários das vacinas, manter-se atualizado e conhecer as indicações, precauções e possibilidade de eventos adversos são desafios constantes para esses profissionais. Além disso, considerando sua exposição ocupacional, eles são suscetíveis a adquirir e transmitir doenças infecciosas, o que exige que eles mantenham atualizado seu próprio esquema de vacinação, o que não ocorre como desejado (OMS, 2016).
3. METODOLOGIA 
Neste estudo realizou-se uma abordagem qualitativa na qual a interpretação e análise dos dados ganham relevância. Sendo assim, podemos dizer que o foco não está na quantificação, mas sim, na análise. Bogdan & Biklen (2010) explicam que nesse tipo de investigação os dados são obtidos por meio de palavras e não números.
Para alcançarmos os objetivos propostos realizamos uma análise descritiva que segundo (TRIVIÑOS, 1987) “[...] exigem do pesquisador uma série de informações sobre o que se deseja pesquisar”. O autor explica ainda, que esse estudo pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade, exigindo do pesquisador uma precisa delimitação de técnicas, métodos, modelos e teorias que orientarão a coleta e interpretação dos dados.
Dessa forma, feito um levantamento bibliográfico buscando respaldos em artigos, revistas, documentos, oficiais e leis que se encontram no Google Acadêmico, nas bases de dados do Ministério da saúde e nas bibliotecas virtuais SCIELO (Scientfic Electronic Library Online) e LILIACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) nos anos de 1980 a 2019. A partir da seleção dos documentos analisamos fundamentos conceituais e embasamentos teóricos sobre a “ história da vacina”, “fake news”, “importância da vacinação”, “eventos adversos”, “risco de não vacinar e seus benefícios”, “movimento antivacina e suas consequências” e “importância da enfermagem nesse contexto”.
Os artigos foram catalogados e analisados buscando-se uma síntese sobre o tema, achados 96 trabalhos, destes estudos encontrados, foram descartados aqueles que não condiziam com os objetivos deste trabalho. Após a leitura dos resumos e trabalhos completos, elegermos 24 artigos que estavam de acordo com o tema do trabalho.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prevenção de doenças por meio de vacinas é uma estratégia mundial que é conduzida pelas autoridades sanitárias e enfermeiros. Através dessa ação, alcança-se a erradicação de algumas doenças como também a diminuição de mortes.
Dessa maneira, é importante que haja reflexão sobre a decorrência do movimento antivacinação, pois enfraquece a imunização popular, ocorrendo o retorno de algumas doenças que já não se tinham notícias há algum tempo.
Diante desses fatos o enfermeiro tem um papel fundamental, pois acaba sendo o responsável por prezar pela saúde da população, orientando e mostrando a importância da vacinação para adultos e crianças.
Mesmo diante desse evento da antivacina, a vacinação segue se destacando como o principal meio protetor de doenças alcançando grandes grupos depessoas e evitando a propagação de doença napopulação.
A enfermagem é a profissão protagonista para a atenção básica de atenção a saúde, onde um de seus objetivos é minimizar dificuldades ou erros referentes ao afastamento da população para proteção oriunda da imunização.
A prevenção de doenças por meio de vacinas é uma estratégia mundial que é conduzida pelas autoridades sanitárias e enfermeiros. Através dessa ação, alcança-se a erradicação de algumas doenças como também adiminuição de mortes.
Dessa maneira, é importante que haja reflexão sobre a decorrência do movimento antivacinação, pois enfraquece a imunização popular, ocorrendo o retorno de algumas doenças que já não se tinham notícias há algum tempo.
Diante desses fatos o enfermeiro tem um papel fundamental, pois acaba sendo o responsável por prezar pela saúde da população, orientando e mostrando a importância da vacinação para adultos e crianças.
Mesmo diante desse evento da antivacina, a vacinação segue se destacando como o principal meio protetor de doenças alcançando grandes grupos depessoas e evitando a propagação de doença napopulação.
A enfermagem é a profissão protagonista para a atenção básica de atenção a saúde, onde um de seus objetivos é minimizar dificuldades ou erros referentes ao afastamento da população para proteção oriunda da imunização.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBUQUERQUE, A. Direitos Humanos dos Pacientes. Curitiba: Juruá; 2016. p. 80 205.
BARBIERI, C. Cuidado infantil e (não) vacinação no contexto de famílias de camadas médias em São Paulo/SP. 2015. Tese (Doutorado)– Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
BOGDAN, R; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto, 2010. 336 p, il(Coleção Ciências da Educação).
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