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Aula 01 - Uma introdução a História do Direito_ Pré-história, Direito nas sociedades ágrafas e Direito arcaico

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Aula 01 - Uma introdução a História do
Direito: Pré-história, Direito nas sociedades
ágrafas e Direito arcaico.
Prof. Ulisses Melo (ulissesgdm@live.com),
Advogado graduado pela Universidade Federal
de Pernambuco, Mestre e Doutorando em Ciência
Política pela UFPE.
Literatura Básica:
CASTRO, Flávia Lages de. História do direito
geral e Brasil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, v.
7, 2007.
WOLKMER, Antonio Carlos. Fundamentos de
história do direito. Editora del Rey, 2007.
GILISSEN, John; HESPANHA, António Manuel;
MALHEIROS, Macaísta. Introdução histórica
ao direito. 1988.
ANGELOZZI, Gilberto Aparecido. História do
direito no Brasil. Freitas Bastos Editora, 2009.
WOLKMER, Antonio Carlos. História do Direito
no Brasil. 8ª edição. Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2015.
Literatura complementar
DIAMOND, Jared. O mundo até ontem. O que
podemos aprender com as sociedades
tradicionais. Rio de Janeiro: Record, 2014.
BENJAMIN, Walter et al. Sobre o conceito de
história. Magia e técnica, arte e política, v. 7, p.
222-232, 1994.
FONSECA, Ricardo Marcelo. Introdução
teórica à história do direito. Curitiba: Juruá,
2009.
SALDANHA, N. O. Direito Romano e a noção
ocidental de “Direito”. Revista Inf. Legisl, v. 20,
n. 80, p. 119-124, 1983.
1 - O conceito de História
“A história é a memória da
humanidade, mas não é suficiente recordar para
ser historiador”.
A transformação é a essência da história
e somente o ser humano pode executar tal tarefa,
de se transformar e modificar seu ambiente. O
estudo do nosso planeta e suas mudanças através
das eras é um assunto tratado por outros
acadêmicos, como geólogos e paleontólogos. Não
se estuda a história das baleias, mas sim seu
processo evolutivo.
O objeto da História, por outro lado, é o
homem e suas transformações no mundo, isto é, o
estudo da História concentra-se no Ser Humano e
na sucessão temporal de seus atos. A partir dela
verificamos como a humanidade interagiu com
seu meio ambiente, suas ferramentas e entre si.
Se não existe uma "história das baleias” é
possível prover um estudo histórico sobre a caça
das baleias. O objeto da análise deixa de ser o
animal e passa a ser uma interação entre homem
e cetáceo.
Por fim, não cabe ao historiador apenas
recordar o que aconteceu, é seu dever
problematizar os fatos analisados, inserindo-os
em um devido contexto e apresentando as
possíveis narrativas distintas e fragilidades, tanto
metodológicas como de fontes. O historiador
trabalha, portanto, para apresentar um debate que
vai muito além dos relatos históricos,
destrinchando costumes, comportamentos e
pensamentos dos seres humanos através dos
tempos.
Vídeo complementar: O QUE É
HISTÓRIA? - YouTube
mailto:ulissesgdm@live.com
https://www.youtube.com/watch?v=iS4wgCEZhaE
https://www.youtube.com/watch?v=iS4wgCEZhaE
- O Direito a partir de uma perspectiva
histórica
Dentro desse contexto histórico, o
conceito de direito deve se adaptar de forma a
garantir uma aplicação eficiente e ampla ao
estudo da História do Direito. Não podemos
exigir da norma jurídica um caráter formalista, tal
como utilizamos atualmente. Dentro da
perspectiva histórica um direito é um fenômeno
normativo verificado nas interações humanas de
modo formal e informal.
“O Direito é, portanto, o conjunto de
normas para a aplicação da justiça e a
minimização de conflitos de uma dada
sociedade”.
- A História do Direito
Sabendo disso, podemos chamar tudo
aquilo que o homem transforma e cria de
“cultura”. A cultura é temporal, e portanto,
histórica. Ela depende do momento em que
determinado indivíduo ou comunidade está
vivendo para ter as características que a definem.
“O Homem se parece mais com seu
tempo que com seus pais” (Ditado árabe)
Sendo assim, a História do direito
auxilia na compreensão das conexões que
existem entre a sociedade, suas características, e
o direito que produziu, “treinando-o” para uma
melhor visualização e entendimento do próprio
direito.
"Conhecer-se a si mesmo significa saber
o que se pode fazer. E como ninguém sabe o que
pode antes de tentar, a única indicação para
aquilo que o homem pode fazer é aquilo que já
fez. O valor da história está então em
ensinar-nos o que o homem tem feito e, deste
modo, o que o homem é." (COLLINGWOOD)
Vídeo complementar: História do
Direito - O que é e por que estudá-la? - YouTube
- Fases históricas do Direito
(Michael Gagarin)
Sociedade pré-legal: Não possui
qualquer procedimento estabelecido para lidar
com as disputas que surgem em seu meio.
Pequenas sociedades podem permanecer neste
estágio por algum tempo, mas quando a
densidade populacional atinge determinado
ponto, haverá muitas pessoas que não se
conhecem e passam a ter necessidade de um
sistema de resolução de disputas;
Sociedade proto-legal: Existem regras e
procedimentos bem determinados para a
administração de disputas. Durante este estágio
não há distinções entre regras e leis.
Sociedade legal: Há previsão de
procedimentos e resposta institucional a ações
específicas dos indivíduos e da sociedade como
um todo. Necessita portanto de uma forma de
escrita bem desenvolvida.
2 - Direito dos povos ágrafos
O Direito praticado pelos povos ágrafos
foi ignorado por muitos teóricos e historiadores
do direito. Seja por falta de fontes escritas ou por
desinteresse, esses sistemas normativos eram, por
muitas vezes, desconsiderados no estudo da
História do Direito. Hoje, contudo, o direito dos
povos ágrafos faz parte do substrato de diversos
dogmas jurídicos que possuímos.
https://www.youtube.com/watch?v=rQKmrgkRmv4
https://www.youtube.com/watch?v=rQKmrgkRmv4
É importante salientar que o Direito dos
povos ágrafos não se refere apenas aos sistemas
de normas compartilhados pelos povos
pré-históricos, mas também os regimes
normativos presentes nas interações de
populações que até hoje desconhecem formas de
escrita. Esses povos, inclusive, vem sendo uma
fonte fundamental para análises comparativas no
direito contemporâneo.
Deve-se dizer que esta área de estudo
interage substancialmente com a antropologia
jurídica, já que o estudo das culturas nômades e
ágrafas se faz necessário para a construção de
hipóteses mais robustas.
Existem - existiram - milhares de
populações que desconheciam a técnica da escrita
mas já possuíam sociedades e línguas complexas
o suficiente para desenvolver formas e processos
normativos capazes de manter e controlar a paz
social. Na grande maioria dessas comunidades,
contudo, se via uma forte influência da
religiosidade na construção do direito.
É importante ter consciência de que a
imensa maioria dessas sociedades era composta
de comunidades pequenas, ligadas por laços
familiares e tribais, tendo um modo de produção
econômico baseado na coleta e caça ou em um
modelo agrário limitado. Essas características
impedem que os indivíduos rompam laços sociais
e se tornem desconhecidos entre si, como em
uma sociedade complexa. Nas comunidades
tribais os laços familiares são extremamente
fortes e a norma sobrevive através dessa
premissa, em conjunto com a religiosidade.
Por fim, é importante salientar que tais normas
eram transmitidas, na maioria das vezes, através
de provérbios e adágios.
- Características gerais do Direito dos
povos ágrafos
- São Simples: como são direitos não escritos,
a possibilidade de abstração fica limitada. As
regras devem ser decoradas e passadas de
pessoa para pessoa da forma mais clara
possível.
- São Numerosos: cada comunidade tem seu
próprio costume e vive isolada no espaço e,
muitas vezes, no tempo. Os raros contatos
entre grupos vizinhos (que porventura vivem
no mesmo tempo e dividem o mesmo
espaço) têm como objetivo a guerra .
- São Relativamente Diversificados: Esta
distância (no tempo e no espaço) faz com
que cada comunidade produza mais
dissemelhanças do que semelhanças em seus
direitos .
- São Impregnados de Religiosidade: como a
maior parte dos fenômenos são explicados,
por estes povos, através da religião, a regra
jurídica não foge a este contexto. Na maior
parte das vezes a distinção entre regra
religiosa e regra jurídicatorna-se impossível.
- São Direitos em Nascimento: não ocorre
uma diferenciação efetiva entre o que é
jurídico e o que não é jurídico.
Vídeo Complementar: História do Direito -
Pré-História (Povos Ágrafos) - YouTube
Gostou do assunto? Quer se aprofundar? Faça
uma revisão:
História do Direito pt. 1 | Povos Ágrafos
3 - Direito Arcaico: Mesopotâmia e Egito
Antigo
Os povos mesopotâmicos e egípcios da
antiguidade são tradicionalmente estudados em
conjunto, já que se tratam das mais antigas
sociedades humanas que atingiram um nível de
complexidade invejável.
Entretanto, esses dois povos possuíam
características diversas entre si. Vejamos algumas
das similaridades e diferenças entre os dois:
Similaridades
- Dependência de grandes fluxos fluviais;
- Desenvolvimento de escrita;
- Desenvolvimento de grandes centros
urbanos;
- Falta de matérias primas básicas;
- Preponderância da religião como fonte de
legitimidade jurídica.
Diferenças
- Instabilidade das enchentes dos rios Tigre
e Eufrates x Estabilidade das cheias do
Nilo;
- Cidades Estado mesopotâmicas x Reino
unificado egípcio;
- Escrita cuneiforme em placas de argila x
Hieróglifos em papiro;
- Rei como representante de deus x O faraó
é um deus;
- O direito no Egito Antigo
Apesar de ter se estabelecido como um reino
durante quase três mil anos, conhecemos pouco
sobre o regime jurídico em vigor no Antigo
Egito. Isso se deve, prioritariamente, devido ao
uso do papiro como ferramenta de arquivamento
dos atos burocráticos e processuais.
O papiro, diferentemente da argila, se
deteriora com o tempo, mais rapidamente que o
papel, por exemplo. O que conhecemos sobre as
normas jurídicas daquele povo remetem a alguns
poucos atos jurídicos que perduraram ou foram
transcritos, o que outros povos escreveram e suas
inscrições em grandes obras arquitetônicas como
templos e tumbas.
Nesta sociedade o faraó era o poder central de
todas as instâncias, seja religiosa, política, militar
ou jurídica. Cabia a ele os principais julgamentos
e decisões do reino.
Entretanto a ideia de justiça era vinculada à
deusa maat. Além de ser uma divindade, maat
também era uma ideia de justiça, quase um
princípio do bom direito. A seguir vemos uma
representação dessa deusa.
https://youtu.be/hgVC3Wybwd4
https://www.youtube.com/watch?v=ICtpRV8sf-4
https://www.youtube.com/watch?v=ICtpRV8sf-4
Os egípcios possuíam, contudo, um forte
corpo burocrático formado pelos escribas, que
possuíam certa ascensão social. Essa
característica importante construiu um corpo
técnico minimamente afastado do âmbito
religioso, o que permitiu a construção de
procedimentos e atos jurídicos complexos. A
seguir vemos uma escultura representando um
escriba.
Por fim, as práticas jurídicas que conhecemos
indicam um direito surpreendentemente paritário,
principalmente nos períodos de apogeu da
sociedade egípcia, garantindo poderes à
população feminina, aos não primogênitos. a
sociedade egípcia também não conhecia a pena
de morte. Além disso, não existiam grandes
distinções jurídicas quanto aos estamentos da
sociedade egípcia, o que permitia que grande
parte da sociedade tivesse acesso a julgamentos e
realização de contratos.
Vídeo Complementar: História do Direito -
Egito Antigo - YouTube
- Direito na Mesopotâmia
Diferentemente dos egípcios, parte dos
diversos povos mesopotâmicos se utilizavam de
tabletes de argila para a escrita cuneiforme. Essa
técnica permitiu que muitos dos seus atos
jurídicos e textos legais perdurassem até o nosso
tempo. Os códigos mesopotâmicos são, portanto,
as normas escritas mais antigas que conhecemos.
É importante ter a ideia de que os
mesopotâmicos, tal qual os gregos, viviam em
cidades-estado, e que não foram um povo coeso
durante toda a história antiga. Dentre os povos
mais produtivos juridicamente estavam os
sumérios, acádios e amoritas (babilônios).
É importante ter ciência, contudo, de que boa
parte dos códigos que vamos estudar são
https://www.youtube.com/watch?v=BLJDSpALLsE
https://www.youtube.com/watch?v=BLJDSpALLsE
transcrições de costumes compartilhados por
esses povos, não sendo especificamente uma
produção jurídica particular de uma comunidade
política específica.
- Códigos mesopotâmicos
● Código de Ur-Nammu (2140-2004 a.C.):
Escrito em língua suméria em tabuletas,
buscava legislar sobre casos habituais e
extraordinários da sociedade suméria.
● Código de Eshnunna (1930 a.C.): trazia
consigo 60 artigos, misturando direito penal
e civil. Foi a base para o Código de
Hamurabi, compartilhando temas que seriam
tratados pelo direito sumério, babilônico e
assírio.
● Código de Lipit-Ishtar (1934-1924 a.C):
escrito em língua suméria, também contém
em seus anais a história do reino de
Lipit-Ishtar e como ele expulsou os amoritas
da região.
● Código de Hamurabi (1772 a.C.): É o código
mais famoso do período mesopotâmico
devido à completude de sua documentação,
que foi mantida em um grande bloco de
rocha de diorito encontrado por uma
expedição francesa na cidade de Susa, no Irã,
em 1901, e ao seu tamanho, já que possuía
mais de 200 artigos.
O direito mesopotâmico é um exemplo de
sistema jurídico proto-legal. Ele se baseia em
exemplos práticos para produzir uma legislação,
a partir da seguinte estrutura:
- Se um indivíduo x praticar a conduta y, a
pena z deve incidir sobre ele (ou alguém
próximo, ou a seus bens)
Note que, diferentemente dos sistemas legais,
onde conceitos penais são construídos
(homicídio, furto, casamento, impessoalidade), os
sistemas proto-legais eram construídos a partir de
hipóteses específicas de comportamentos sociais.
É de se esperar que boa parte do direito das
primeiras sociedades organizadas seguia esse
modelo, mas não possuímos muitas informações
além das fornecidas pelos mesopotâmicos, já que
a maioria dos documentos legais se perderam
através dos tempos.
Diferentemente do direito egípcio, no direito
mesopotâmico as penas e procedimentos
individuais dependiam do estamento (posição
social) dos indivíduos ligados ao “processo”.
Vídeo Complementar: História do Direito -
Direitos Cuneiformes (Mesopotâmia - Hamurabi)
- YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=zWnGlHVVw-Y&t=90s
https://www.youtube.com/watch?v=zWnGlHVVw-Y&t=90s
https://www.youtube.com/watch?v=zWnGlHVVw-Y&t=90s
4. Direito Hebreu
O estudo do direito hebreu tem sua importância
por motivos bem diferentes dos já estudados.
Diferentemente dos mesopotâmicos e egípcios, os
hebreus não foram um povo que obteve grande
sucesso político e militar durante seu tempo, não
estabeleceram grandes domínios durante a
antiguidade ou criaram novas tecnologias, pelo
contrário, os hebreus por muito tempo foram
povos ligados ao pastoreio como cultura de
subsistência. O ponto sobre os hebreus reside na
sua religião.
Os hebreus são o primeiro povo conhecido a
desenvolver uma religião monoteísta. Essa
religião, se desenvolveu até criar o que hoje
conhecemos como judaísmo, mas não só isso.
Todas as grandes três religiões monoteístas da
atualidade (judaísmo, cristianismo e islamismo)
sofrem influência da cultura hebraica.
Além disso, a ideia de direito e religião para esse
povo estava fortemente interligada, pecado e
crime se confundem dentro dessa cultura. Boa
parte dos chamados “textos sagrados”, a Torá, é
formada por normas que tratam de matérias
penais e civis.
Muitas dessas características virão a influenciar
parte do direito ocidental, principalmente a partir
da incidência do cristianismo no direito romano e
medieval, como veremos mais à frente.
- Lei Mosaica
Após uma grande seca em sua terra natal por
volta de 1800 a.C. os hebreus se viram obrigados
a migrar para o Egito, que à época era
comandado pelos Hicsos. A retomada do poder
pelos egípcios, contudo, implicou na perseguição
do povo hebreu, que se viu obrigado a pagar
impostos (algo raro na antiguidade, destinado
unicamente a povos estrangeiros, populações
dominadas e escravos) e à escravidão.
É apenas em 1250 a.C. que Moisés, líder
religioso e político consegue iniciar o êxodo para
a Palestina, ao mesmo tempo que implementaos
Dez Mandamentos, que junto com outras normas,
presentes principalmente no livro do
Deuteronômio, formulam a Torá.
Posteriormente, após o cativeiro na Babilônia e as
interações com outros povos, como gregos e
romanos, os judeus passaram a produzir novas
normas jurídicas, muitas delas baseadas na
interpretação das leis mosaicas. Tais normas eram
transmitidas por via oral, até sua codificação em
192 d.C., que ficou conhecida como Mishná.
A Mishná em conjunto com a Guemará, um
compilado de discussões sobre a Mishná e outros
escritos, são conhecidas como Talmud, que
complementa o corpo da legislação hebraica.
Representação de Moisés e as tábuas dos dez mandamentos
A seguir apresentamos algumas das
características presentes no direito hebraico:
● Ideia de princípio da imparcialidade para
os processos;
● Ideia de devido processo legal,
prestando-se contas ao procedimento
estabelecido na lei;
● Individualidade das penas, ou seja, outras
pessoas não poderiam ser punidas pelo
crime ou falta de terceiros, como previsto
em diversos casos nos direitos arcaicos;
● Lapidação (apedrejamento) em certos
crimes;
● Construção da ideia de homicídios
involuntários, que não devem ser tratados
da mesma forma que os voluntários.
Nascimento da ideia de culpa e dolo;
● Previsão da possibilidade de divórcio,
concubinato e do direito de herança para
primogênitos.
Vídeo Complementar: História do Direito -
Direito Hebraico - YouTube
5. Direito na Grécia Antiga
Apesar de ter marcado profundamente a história
geral do mundo ocidental, os gregos antigos não
são marcantes da mesma forma dentro do estudo
da história do direito. Isso não significa, contudo,
que algumas de suas produções legais marcaram
o mundo antigo e influenciaram em outras
sociedades, principalmente com o Direito
Romano.
Antes de mais nada é importante apontar algumas
características do povo grego e da Grécia antiga.
O primeiro ponto é a sua geografia, marcada por
muitas terras montanhosas e alguns poucos vales
férteis, presentes principalmente no litoral das
muitas penínsulas que marcam a região, bem
como no incontável número de ilhas que
pontilham o Mar Egeu.
Essas características geraram uma grande
dificuldade de união entre os diversos povos que
historicamente ocuparam a Grécia, além de ter
influenciado na tendência marítima desse povo,
já que era mais fácil viajar de barco entre as
cidades litorâneas que pelo terreno árido e
montanhoso que marcava o continente.
https://www.youtube.com/watch?v=dZXWXL1Vs50
https://www.youtube.com/watch?v=dZXWXL1Vs50
- Uma breve história da Grécia Antiga
Mesmo com essas dificuldades, um povo
específico ocupou de forma unificada boa parte
da península grega: os Micênicos (2000 - 1200
a.C.). Isso foi possível devido à baixa densidade
populacional encontrada na região nesse período.
Máscara de Agamemnon
Sabemos pouco sobre essa civilização pois ela foi
devastada por crises internas e pelas invasões de
povos estrangeiros, principalmente dos Dórios,
povo que viria a criar a cidade de Esparta.
Após a queda dos micênicos, a Grécia vive o
período conhecido como “Idade das trevas
grega”, também conhecida por Período
Homérico, onde boa parte do desenvolvimento
artístico e científico dos micênicos foi perdido.
Após esse momento há o ressurgimento de
comunidades políticas complexas, mas dessa vez
isoladas, que viriam a marcar a história grega, as
cidades-estado. Duas delas se destacaram
política, militarmente e socialmente: Esparta e
Atenas.
A seguir veremos algumas das características
sociais e jurídicas dessas duas comunidades.
- Esparta
Esparta é até hoje conhecida como exemplo de
sociedade militarista e tradicionalista. Essas
características refletiam na hierarquia social, na
administração política e jurídica da cidade.
Grande parte da população espartana era
composta por escravos (hilotas), outra camada
social, chamada de periecos, era formada por
artesãos e comerciantes, funções desvalorizadas
pela sociedade espartana, que não os considerava
cidadãos. Apenas os espatíatas, que
representavam 5% da população, tinham direitos
políticos e podiam participar dos órgãos
legislativos e de administração. Todos os
espartíatas eram donos de terras, cedidas pelo
Estado, e eram treinados desde a infância para a
função militar.
Politicamente Esparta era administrada por
diversos órgãos, todos compostos por homens
espartíatas. Eram elas:
● Reis: Esparta sempre teve dois reis,
tratava-se de uma diarquia. Contudo estes
possuíam pouco poder administrativo,
sendo muito mais generais que líderes
políticos. O poder de fato estava
concentrado na Gerúsia;
● Gerúsia: também chamada de senado
espartano, era composta por 28 anciões,
ou gerontes, cidadãos com mais de 60
anos. A eles competia o poder de legislar
e tomar decisões importantes para a
administração da cidade;
● Assembleia: também chamada de Ápela,
era composta por cidadãos com mais de
30 anos. Ratificava as propostas da
Gerúsia por aclamação.
● Éforos: era composto por 5 cidadãos
eleitos anualmente pela Assembleia,
tinham a função de fiscalizar as atividades
estatais.
Por fim, vale a pena pontuar alguns quesitos
sobre a organização da sociedade espartana.
Primeiro, a situação dos escravos, marcadamente
uma das mais degradantes do mundo antigo,
sendo utilizados como abate em testes de
capacidade militar dos jovens espartanos.
Além disso, o modelo de distribuição de terras
pelo Estado entre uma pequena elite é um dos
modelos mais particulares de distribuição
fundiária da história.
- Atenas
A cidade de Atenas ficou marcada na história por
motivos bem diferentes de Esparta. Lá, para
muitos historiadores, nasceu a democracia,
mesmo que a escravidão fosse praticada e que
outras sociedades mais antigas possuíssem regras
mais igualitárias entre os seus cidadãos.
Localizada na península Ática, Atenas foi
construída pelos Jônios, povos com
características culturais diferentes dos Dórios, ela
tinha como órgãos políticos originais o
Areópago, ou Conselho de Anciões e a
Assembleia do Povo e um Rei. Posteriormente
outro órgão, o Arcontado substitui o poder real e
passa a concretizar as competências
administrativas da cidade.
A sociedade ateniense era dividida da seguinte
forma:
● Eupátridas (aristocracia);
● Geomores (pequenos proprietários rurais
e servos);
● Demiurgos (artesãos);
● Metecos (estrangeiros);
● Escravos.
Com o passar do tempo a concentração fundiária
entre os eupátridas e a permissão da escravidão
por dívidas acabou por submeter muitos
camponeses a esse regime, o que gerou uma série
de protestos e revoltas na cidade, além de ter
incentivado a colonização de outras terras, já que
as próximas da cidade eram dominadas por uma
pequena aristocracia, que também dominava a
política local.
Essa situação de insatisfação popular piorava
diante da administração do direito, que era
aplicado pelos eupátridas baseados em costumes
orais. Isso colocou à prova o sistema social e
político ateniense. Uma das principais demandas
da população era, justamente, a transcrição das
normas utilizadas pela aristocracia em suas
decisões. É esse processo político que vai gerar
as legislações atenienses.
- Leis draconianas e as reformas de
Sólon
As primeiras codificações foram elaboradas por
pelo Arconte (membro do Arcontado) Drácon. As
leis draconianas, até hoje consideradas sinônimos
de legislações duras, foram possivelmente a
transcrição de muitos dos costumes jurídicos já
praticados pela aristocracia ateniense.
Essas normas já reconheciam a ideia de
homicídio voluntário e involuntário, bem como a
possibilidade de legítima defesa. No entanto, tal
legislação mantinha a escravidão por dívida, o
que perpetuava o sistema de concentração
fundiária.
Foi apenas após novas revoltas sociais de setores
da sociedade que um novo processo de
compilação legislativa foi promovida pelos
Arcontes. Neste caso, a nova legislação foi
escrita por Sólon, e ficou marcada pela abertura e
inovação econômica, pelo fim da escravidão por
dívida e supressão da primogenitura. Além disso,
a legislaçãode Sólon é uma das primeiras a
prever um sistema monetário.
Busto de Sólon
- A ideia de processo em Atenas
Atenas, contudo, ficou marcada pela construção
de um processo legal que viria a influenciar a
tradição processual de outros povos. O direito
ateniense já compreendia a diferença entre leis
materiais e processuais. Além disso, era possível
promover ações públicas (graphé) e privadas
(diké).
Dentro do processo ateniense, contudo, a retórica
era peça fundamental, tanto que boa parte dos
julgamentos eram construídos a partir da retórica.
Nesse sentido, o julgamento por júri popular era
uma das principais ferramentas decisórias,
havendo um Tribunal Popular (Heliaia) onde
eram realizados os julgamentos.
O processo ateniense, contudo, era
fundamentalmente oral. Essa característica, aliada
ao uso do papiro e a forma de escrita grega
limitaram a transcrição de boa parte da legislação
e dos procedimentos jurídicos desse povo.
Vídeo Recomendado: História do Direito -
Direito Grego (Esparta e Atenas) - YouTube
Vamos nos aprofundar?: História do Direito
pt.6 | Grécia Antiga 1 - YouTube e História do
Direito pt.6 | Grécia Antiga 2 - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=kZ2gYc2z5U4
https://www.youtube.com/watch?v=kZ2gYc2z5U4
https://www.youtube.com/watch?v=L7YYIeSdYp0
https://www.youtube.com/watch?v=L7YYIeSdYp0
https://www.youtube.com/watch?v=OkEQQHw8cIs&t=46s
https://www.youtube.com/watch?v=OkEQQHw8cIs&t=46s

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