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Introdução aos Sistemas Políticos e Eleitorais

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Prévia do material em texto

Professor autor/conteudista:
MARCELI DEBONIS
É vedada, terminantemente, a cópia do material didático sob qualquer 
forma, o seu fornecimento para fotocópia ou gravação, para alunos 
ou terceiros, bem como o seu fornecimento para divulgação em 
locais públicos, telessalas ou qualquer outra forma de divulgação 
pública, sob pena de responsabilização civil e criminal.
 
SUMÁRIO
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
As ciências sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Origens da ciência política. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7
A gênese do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
O Estado moderno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Organização política do Estado moderno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Forma de Estado: federativo ou unitário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Forma de governo: monarquia ou república. . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Sistema de governo: parlamentarista ou presidencialista. . . . . . . . . 24
 Sistemas partidários: bipartidarismo ou pluripartidarismo. . . . . . . . 25
Regimes políticos: democrático ou totalitário . . . . . . . . . . . . . . . 26
O sufrágio universal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
O sufrágio universal no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Os partidos políticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
O sistema político eleitoral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
O sistema majoritário de representação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
O sistema majoritário e eleições presidenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
O sistema proporcional de representação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Representação proporcional por voto único transferível . . . . . . . . . 59
Representação proporcional pelo sistema de lista . . . . . . . . . . . . . 60
O sistema misto de representação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
O sistema de superposição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
O sistema de correção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Financiamento de campanha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
O financiamento de campanha na atualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
Brasil - financiamento misto de campanha. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .74
O sistema político brasileiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
A (des)proporcionalidade na representação política no Poder Legislativo . . . . 80
Pluripartidarismo e governabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Mandato político, processo de cassação e impedimento de mandato. . . . . . . . 86
O mandato político . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
O processo de cassação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
O impedimento de mandato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
O sistema político europeu e estadunidense . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
O sistema político europeu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
O sistema político estadunidense. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .95
GLOSSÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
 
Pág. 4 de 105
APRESENTAÇÃO
Este material foi produzindo visando estabelecer uma introdução aos estudos sobre os sistemas 
políticos e eleitorais. Dada a complexidade dos diversos temas abordados e a exiguidade temporal, 
a estratégia para a confecção do presente trabalho pautou-se pela apresentação dos conceitos 
principais, fundamentais para o entendimento da temática, isto é, os sistemas políticos eleitorais, 
sem, contudo, estabelecer grandes aprofundamentos ou debates.
Não se trata de uma proposta de trabalho que tenha um caráter de defesa desta ou daquela 
opinião, mas sim de uma visão panorâmica sobre os temas, buscando identificar o ponto de vista dos 
defensores e dos críticos de cada um. Muito mais um manual básico de introdução às discussões 
sobre o tema, o material está estruturado em quatro grandes campos de discussão da ciência 
política, distribuídos ao longo dos capítulos.
Assim, na primeira parte, o foco temático são os elementos constitutivos das ciências sociais e, 
dentro delas, da ciência política, além de uma pequena discussão acerca da origem e da evolução 
do Estado moderno. Em um segundo momento, a organização política do Estado moderno e os 
valores democráticos, como o sufrágio universal, são apresentados e analisados.
Os partidos políticos, os tipos de sistemas eleitorais e temas como o financiamento de campanhas 
políticas são os assuntos abordados na terceira parte do trabalho. Por fim, com a análise dos sistemas 
políticos eleitorais no Brasil e em alguns países selecionados, concluímos nossa abordagem dessa 
importante área de estudo da ciência política.
INTRODUÇÃO
Ao iniciar, consideramos ser importante esclarecer o que vem a ser a ciência política. De maneira 
simplificada, podemos defini-la como a busca de compreensão sobre como se distribui e organiza 
o poder nas sociedades.
 Cabe esclarecer que ciência política e política não são, necessariamente, sinônimos. A ideia 
do “fazer” político está muito associada à ação propriamente dita dos partidos e dos políticos, 
seus integrantes. Tomamos a ciência política como área do conhecimento; é ela que estuda os 
acontecimentos, as instituições e as ideias políticas, tanto em sentido teórico (doutrina) como em 
sentido prático. Abrange, portanto, a necessidade de compreensão do passado e do presente e de 
projeções futuras.
 
Pág. 5 de 105
Considerando-a em termos sociológicos, ciência política é a Teoria Geral do Estado, pois o 
Estado é o fenômeno jurídico por excelência a organizar, nas sociedades, em diferentes tempos, 
as relações de poder. Considerando-se o aspecto filosófico, os fatos e as instituições, além das 
ideias, são matérias do conhecimento dessa área. Já em termos jurídicos, torna-se reduzida ao 
DireitoPolítico, a mero conjunto de normas.
Portanto, analisar e conceituar a formação e o desenvolvimento das diversas formas e sistemas 
de governos, dos regimes políticos e das formas de Estado, dos diversos mecanismos político-
eleitorais, suas singularidades e generalidades são alguns elementos que se constituem em objetos 
de estudo fundamentais para a ciência política.
FIGURA 1 – Sistemas de governo
Fonte: Rawpixel.com/shutterstock
Para que consigamos atingir a maior compreensão acerca desses objetivos, faz-se necessário 
um amplo conhecimento em torno dos principais conceitos e aspectos metodológicos presentes 
na análise a que a ciência política se propõe.
É importante ressaltar que a ciência política representa campo muito vasto do conhecimento. 
Sendo assim, buscaremos trabalhar de forma esclarecedora, sem, no entanto, rebuscar a linguagem, 
para que, por meio da assimilação dos elementos analíticos e conceituais, possamos contribuir ao 
processo de formação do aluno.
Muitos cientistas políticos compreendem que o sentido maior dessa área é que ela é, por 
excelência, a ciência que se ocupa do estudo do Estado. Assim, será também tema fundamental a 
busca de compreensão sobre a origem, a evolução e a estruturação do Estado moderno.
Os elementos constitutivos da atual organização do Estado moderno e os tipos e regras dos 
sistemas de representatividade são elementos extremamente relevantes. Assim, abordaremos ainda 
 
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temas como tipos de sistemas eleitorais, voto obrigatório ou facultativo, critérios para a elegibilidade, 
exigências para a fundação de um partido político, tipos de financiamento de campanhas etc. 
Dada a amplitude das discussões e, por outro lado, o caráter conciso deste material de estudo, os 
diversos temas serão apresentados dando-se ênfase aos aspectos concernentes, no plano teórico, 
à ciência política. Desse modo, a legislação que regula os sistemas eleitorais não será trabalhada 
de forma aprofundada.
Cabe ainda esclarecer o caráter transdisciplinar que a ciência política apresenta, pois não é 
possível, em muitos casos, compreendê-la sem se considerar, por exemplo, as interferências culturais 
ou religiosas em determinadas sociedades. Nessa direção, faz-se necessário que se recorra às 
contribuições de outras ciências sociais. Portanto, na sequência, abordaremos de forma sucinta 
alguns elementos constitutivos, assim como o objeto de análise principal dessas ciências.
AS CIÊNCIAS SOCIAIS
Segundo Debonis e Galvão (2004), denomina-se ciências sociais o conjunto de conhecimentos 
que nos permitem pesquisar e estudar os comportamentos sociais. Ou seja, o objeto de estudo das 
ciências sociais é o comportamento social humano. Assim, podemos dizer que “trata-se do estudo 
sistemático do comportamento social do ser humano em suas várias dimensões e possibilidades” 
(DEBONIS; GALVÃO, 2004, p. 11).
Conforme esses autores, diante da complexidade inerente ao estudo do comportamento social 
humano, as ciências sociais apresentam-se estruturadas em áreas de concentração ou disciplinas, 
além da própria ciência política:
• Economia: basicamente, a economia tem por objeto de estudo principal as atividades humanas 
no que diz respeito à maneira pela qual estão organizadas a produção, a distribuição e o 
consumo das mercadorias. Assim, produção e distribuição de renda e políticas salariais, 
entre outros, são fenômenos estudados por essa ciência. Em geral, a ciência econômica está 
vinculada às áreas de administração, porém, dada a sua relevância para a compreensão de 
questões relativas ao mundo do trabalho, torna-se fundamental para toda e qualquer análise 
político-social.
• Sociologia: como se sabe, trata-se da ciência que estuda as relações sociais e as formas de 
associação, considerando as interações que ocorrem na vida cotidiana. Abrange, portanto, 
estudos relativos aos grupos e às camadas sociais, bem como aos processos de cooperação, 
competição e conflitos na sociedade.
 
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• Antropologia: ocupa-se do estudo e da pesquisa das semelhanças e diferenças culturais entre 
os agrupamentos humanos e preocupa-se também com a origem e a evolução das culturas. 
Atualmente, a maioria dos trabalhos nessa área aponta para a necessidade de compreensão 
da diversidade cultural existente nas sociedades industriais ou pós-industriais. São ainda 
objetos de estudos da antropologia os tipos de organização familiar, as religiões, a magia, as 
gangues de rua, entre outros.
FIGURA 2 – Ciências sociais
Fonte: pogonici/shutterstock
Origens da ciência política
Inserida como está no campo das ciências sociais, a ciência política desenvolveu-se imbricada 
a esse campo do conhecimento.
As primeiras tentativas de compreensão da vida social remontam à Antiguidade e baseavam-se 
muito mais na imaginação. Assim, diversas mitologias – sumérias, gregas, hebreias, entre outras - 
foram criadas buscando explicar certos fenômenos sociais. Durante a Idade Média, sobretudo na 
Europa, a explicação e a compreensão da vida social estavam muito vinculadas principalmente à 
religião, que propunha as regras para a organização social de acordo com seus dogmas e princípios.
Podemos afirmar, no entanto, que já na Antiguidade Oriental e na Antiguidade Ocidental ou 
Clássica, sobretudo na Grécia Antiga, encontramos as primeiras tentativas de estudo sistemático 
da sociedade humana e das relações de poder. Os sumérios, durante o governo do rei Hamurabi 
 
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(1792-1750 a.C.), desenvolveram aquele que é considerado o mais antigo código de leis: o Código 
de Hamurabi. Entre os gregos, merecem destaque os filósofos Platão (427-347 a.C.), em sua obra 
República, e Aristóteles (384-322 a.C.), em seu livro Política. Ambos analisaram a sociedade em que 
viviam e propuseram mudanças na organização sociopolítica de seu tempo. Além disso, deve-se 
também considerar as contribuições de outros povos desse período, como os egípcios e os hebreus.
Durante a Idade Média, como já dissemos, a explicação religiosa da vida social prevalecia: 
todas as normas e regras estavam baseadas no princípio de uma vida sem pecado. Aqui, merecem 
destaque os filósofos Santo Agostinho (354-430), que pregava uma iluminação, na qual a verdade é 
infundida no espírito de Deus, e São Tomás de Aquino (1225-1274), que, recuperando o pensamento 
aristotélico - até então condenado pela Igreja - e adaptando-o à visão cristã, trabalhou a ideia de 
um “ser movente original”, ou seja, Deus.
Ao final da Idade Média (séculos XIV ao XVI), os alicerces da vida social foram abalados pelo 
movimento denominado Renascimento, que buscava explicações para a vida social baseadas na 
racionalidade humana, em vez de atribuí-las somente aos dogmas religiosos. Aqui, merece destaque 
Nicolau Maquiavel (1469-1527), que, em sua principal obra, O príncipe, ao não reconhecer o caráter 
sagrado e, portanto, conceber a política como determinação das ações dos homens e não obra 
divina, inaugura a ciência política moderna, alicerce e, ao mesmo tempo, alicerçada no surgimento 
do Estado moderno.
 Nas palavras de Gramsci (apud SERPA, 2013, p. 274),
é necessário considerar Maquiavel, em grau maior, como expressão necessária de 
seu tempo e como estreitamente ligado às condições e às exigências de sua época... 
[visando a]... organização das monarquias nacionais absolutas, a forma política que 
permite e facilita um novo desenvolvimento das forças produtivas burguesas.
 
Pág. 9 de 105
SAIBA MAIS
Nicolau Maquiavel, além de filósofo, historiador, poeta e dramaturgo, foi também integrante do 
governo da cidade de Florença no final do século XV, sob Lorenzo de Médici, ao qual dedicou sua 
principal obra, O príncipe.
FIGURA 3 – Maquiavel
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Portrait_of_Niccol%C3%B2_Machiavelli_by_Santi_di_Tito.jpg.
Cabe ressaltar que, para o inglês Thomas Hobbes, filósofo moderno pioneiro com sua obra 
Leviatã, de 1651, na articulaçãode uma teoria mais detalhada sobre o contrato social, em estado 
de natureza, “o homem é o lobo do homem”. Assim, para que se evite o conflito infindável entre os 
humanos, a constituição do Estado é condição essencial.
Para Hobbes, a constante incerteza e o medo da morte, representados pela barbárie, fariam com 
que os indivíduos, por intermédio de um contrato social, estabelecessem a sociedade civil, isto é, 
a reunião de indivíduos sob uma autoridade soberana. Eles concordam assim em ceder parte de 
seus direitos naturais visando à proteção, especialmente na forma de garantia dos acordos entre 
indivíduos, estabelecida pelo Estado.
Esses dois autores são considerados os fundadores da ciência política moderna, junto com 
outros do período, Jean Bodin (1530-1596) e Jacques Bossuet (1627-1704). Trata-se dos dois 
 
Pág. 10 de 105
principais teóricos do absolutismo de caráter religioso, isto é, defendiam a centralização do poder 
sob o soberano absolutista, em função do caráter sagrado: a teoria do direito divino dos reis.
Tanto Maquiavel quanto Hobbes defendiam o estado absolutista como forma de governo ideal, 
porém, diferentemente destes, apontavam o laicismo e a concepção da política como resultado das 
relações humanas e baseada na racionalidade. Assim, foram fundamentais para o início do processo 
de dessacralização da política, fato de extrema importância, pois seus desdobramentos conduziram, 
sobretudo nos séculos XVIII e XIX, às chamadas revoluções burguesas, como veremos adiante.
A GÊNESE DO ESTADO
Outra definição válida para o sentido maior da ciência política é que ela é, por excelência, a 
ciência que se ocupa do estudo do Estado. Nesse sentido, é imperativo que compreendamos a 
origem, a evolução e a estruturação do Estado, pois somente dessa forma será possível melhor 
analisar os seus vários mecanismos de funcionamento. Comecemos pela definição de um conceito.
Ressalte-se, entretanto, não se tratar de tarefa fácil, dada a complexidade do tema. Em primeiro 
lugar, envolve diversas áreas do conhecimento, como a filosofia, o Direito, a história, a sociologia, 
a economia, a geografia, dentre outras. Em segundo lugar, por ser objeto dessa ampla gama de 
enfoques teórico-metodológicos, observam-se especificidades conceituais importantes.
Assim, à guisa de definição conceitual, em um primeiro momento, observamos que a discussão 
deve se dar em torno da instituição do poder político como “regulador” das relações sociais. Segundo 
o jurista Dalmo de Abreu Dallari (1998, p. 19):
A maioria dos autores que têm estudado o poder o reconhece como necessário à 
vida social, embora variando enormemente as justificativas para sua existência e 
as considerações sobre aspectos relevantes [...] A observação do comportamento 
humano, em todas as épocas e lugares, demonstra que mesmo nas sociedades mais 
prósperas e bem ordenadas ocorrem conflitos entre indivíduos ou grupos sociais, 
tornando necessária a intervenção de uma vontade preponderante, para preservar 
a unidade ordenada em função dos fins sociais [...].
Observe-se não se tratar ainda do surgimento do Estado propriamente dito, mas tão somente 
do reconhecimento da necessidade nas sociedades humanas, desde tempos imemoriais, de 
organização da vida social.
 
Pág. 11 de 105
FIGURA 4 – Organização social
Fonte: Photobank gallery/shutterstock
Considerando-se as contribuições da antropologia do século XIX, Engels, em sua obra, A origem 
da família, da propriedade privada e do Estado, desenvolve uma interessante discussão em torno 
da imbricação dos três elementos que dão título ao livro. Assim, em consonância com o filósofo 
iluminista suíço J. J. Rousseau, entre outros, observa que o surgimento da propriedade privada está 
na base do aparecimento do poder político centralizado, isto é, o Estado. Segundo ele, no capítulo 
A gênese do estado ateniense:
[...] A riqueza passa a ser valorizada e respeitada como bem supremo e as antigas 
instituições da gens são pervertidas para justificar-se a aquisição de riquezas pelo 
roubo e pela violência. Faltava apenas uma coisa: a instituição que não só assegurasse 
as novas riquezas individuais contra as tradições comunistas da constituição gentílica, 
que não só consagrasse a propriedade privada, antes tão pouco estimada, e fizesse 
dessa consagração santificadora o objetivo mais elevado da comunidade humana, 
mas também imprimisse o selo geral do reconhecimento da sociedade às sovas 
 
Pág. 12 de 105
formas de aquisição da propriedade, que se desenvolviam umas sobre as outras, 
[...] [assim], inventou-se o Estado (ENGELS, 1984, p. 132).
SAIBA MAIS
As comunidades gentílicas, ou genos, formavam a base da organização social grega durante o 
chamado Período Homérico. Com o início do Período Arcaico (700-500 a.C.), as comunidades 
gentílicas, que apresentavam organização social horizontal baseada nas terras comunais, foram 
sendo extintas e, paulatinamente, deram lugar a uma concentração de terras. Isso marcou o 
surgimento da propriedade e da desigualdade econômica, presentes posteriormente na pólis grega.
Assim, para essa linha de pensamento em relação ao nascimento do Estado, observa-se que dois 
elementos são centrais: o viés classista e o aspecto econômico. Nessa direção, o autor corrobora 
a visão marxista, que ajudou a construir, de que o Estado representa o instrumento político das 
parcelas sociais dominantes, visando à manutenção e, portanto, ao domínio dessa classe sobre a 
sociedade. Em outras palavras, o Estado é a organização política que objetiva a defesa dos interesses 
da classe dominante, aquela que, em cada época, em função de concentrar a maior parte da riqueza 
produzida, detém o controle daquele.
Vale lembrar que em Marx, o Estado é visto como a relação entre a infraestrutura e a superestrutura. 
O conjunto das relações de produção representa a infraestrutura, a produção da vida material, 
portanto, a base econômica de toda a sociedade. O conjunto formado pelas instituições jurídicas e 
políticas e pela própria ideologia reinante em uma dada sociedade forma a superestrutura. Assim, 
esta tem como elemento principal o próprio Estado. Nessa direção, concebido como resultante dos 
antagonismos e conflitos de classe, o Estado tem origem nas próprias lutas de classes.
O caráter economicista dessa definição, que coloca todo o peso da análise nas relações de 
produção e nas contradições entre as classes sociais, foi, e é, bastante contestada, exatamente por 
seu determinismo econômico. Um dos maiores expoentes na crítica a essa visão foi, sem dúvida, 
o sociólogo alemão Max Weber, que, segundo Bianchi (2014, p. 84),
[...] interrogou-se a respeito do significado de uma “associação” política (ein politischer 
Verband) e do próprio Estado (Staat). Uma definição não idealizada dessas realidades 
sociais implicava, para o sociólogo alemão, a recusa de conceitos propriamente 
normativos. Descartando assim toda definição que remetesse aos fins do Estado, 
procurou uma definição sociológica nos meios que seriam próprios a este.
 
Pág. 13 de 105
Como se pode concluir, Weber não procura focar sua análise em nenhum tipo de determinismo, 
não se preocupa em responder sobre a finalidade do Estado. Dessa forma, diferentemente da visão 
marxista, o Estado não é tratado como um elemento objetivo completamente separado da vida.
Weber, que defende a ação racional individual, considera que o Estado “consiste em relações 
de vontade de uma variedade de homens. Formam o substrato desse Estado homens que mandam 
e homens que obedecem” (JELLINEK, 2000, p. 190). Para que se estabeleça e seja real, faz-se 
necessário que ele esteja fundado em uma espécie de pacto de legitimidade,1 isto é, a legitimidade 
da existência do Estado é que faz com que os indivíduos a ele se submetam. No limite, “o Estado é 
aquela comunidade humana que, dentro de determinado território – este, o ‘território’, faz parte de 
suas características– reclama para si (com êxito) o monopólio da coação física legítima” (WEBER, 
1982, p. 98).
FIGURA 5 – Concepção de Estado
Fonte: PowerUp/shutterstock
Compreendida como associação política, a concepção de Estado em Weber difere diametralmente 
da de Marx. O enfoque principal não se relaciona com as relações de produção e os antagonismos de 
classe. Weber era um teórico da ação, não enxergava a dominação como inconsciente e resultante 
1 Weber, em sua metodologia, procurou criar categorias gerais que pudessem ser aplicadas a todos os períodos 
históricos. São os chamados tipos ideais. Com relação ao Estado, especificamente, estabeleceu três tipos de 
dominação:
- a dominação tradicional, aplicável às antigas sociedades patriarcais, por exemplo;
- a dominação carismática;
- a dominação legal, ou seja, por meio das leis, elemento central da própria concepção do Estado moderno.
 
Pág. 14 de 105
das contradições de classe. Em sua visão, a dominação é sempre presente, e o que importa é a 
compreensão de sua aceitação e legitimidade. Segundo Bianchi (2014, p.100):
O conceito de legitimidade referia-se, para Weber, à aceitação da validade de uma 
ordem de dominação. Tal definição não dizia respeito, portanto, a questões de 
ordem normativa baseadas em padrões morais e éticos considerados adequados 
ou aceitáveis na condução do governo. O que definiria a legitimidade de um sistema 
de dominação seria a disposição subjetiva de seus sujeitos e, nesse sentido, a 
capacidade desse sistema apresentar-se como consensual (cf. MOMMSEN, 1992, 
p. 21; Vincent, 1998, p. 71).
A partir da contribuição de Norberto Bobbio (2004), que, de certa forma estabelece uma espécie 
de “meio termo”, podemos compreender o Estado como a representação sistematizada dos interesses 
individuais. Portanto, o poder presente nas instituições políticas visa promover a própria dinâmica 
em que o poder político apresenta forma coativa e se impõe sob a vontade de seu detentor (classe 
dominante), sob o argumento da legitimidade.
Utilizamo-nos das contribuições de dois dos principais representantes das ciências sociais, Marx 
e Weber, para a definição de um conceito a partir do qual possamos melhor localizar a discussão 
acerca do Estado. Assim, percebe-se claramente que, embora em perspectivas diferentes, as duas 
linhas de análise convergem em pelo menos um ponto: o Estado, a partir do momento em que 
definitivamente se consolida, é, na prática, o mecanismo fundamental a permitir a dominação, a 
organização e a estruturação de determinada sociedade.
O ESTADO MODERNO
Em termos práticos, o objetivo maior deste trabalho é a compreensão dos sistemas políticos em 
vigência no mundo contemporâneo, suas especificidades e mecanismos de funcionamento. Assim, 
não realizaremos uma longa e aprofundada discussão acerca do surgimento do chamado Estado 
moderno. Vamos nos limitar tão somente a estabelecer os principais elementos constitutivos do 
processo de formação dele e suas características gerais.
O Estado romano, que em seu auge possuía um território de mais de cinco milhões de quilômetros 
quadrados e governava cerca de 80 milhões de pessoas, apresentava uma característica política 
fundamental: a centralização do poder político. Ao lado das contradições sociais referentes ao 
estatuto da escravidão, à marginalização dos povos considerados bárbaros e à crise econômica 
 
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generalizada, nos dois últimos séculos de sua existência, foram exatamente as dificuldades em 
manter a centralização política que levaram ao progressivo esfacelamento do “mundo romano”.
Como se sabe, a partir desse evento, a Europa viveu um processo de fragmentação política 
que caracterizou a chamada Idade Média (476-1453). Apesar de algumas ações que visavam 
ao restabelecimento da centralização política, como o caso do Império Carolíngio (732-987), 
predominaram as relações políticas de fidelidade, representadas, principalmente, pela suserania 
e pela vassalagem. Do ponto de vista econômico, o feudo era a unidade básica de produção da 
subsistência, e aos servos, que formavam a imensa maioria, eram reservadas as atividades laborativas.
A partir do século XI, com o início das Cruzadas e o posterior restabelecimento do comércio 
inter-regional entre o Ocidente e o Oriente, lentamente, conduziram-se importantes alterações, não 
só no modo de vida, mas também na constituição da própria sociedade medieval. Esse contexto 
sugere um processo de transição em que
as deficiências da sociedade política medieval determinaram as características 
fundamentais do Estado Moderno. [...] Os senhores feudais, já não toleravam as 
exigências de monarcas aventureiros e de circunstância, que impunham uma tributação 
indiscriminada e mantinham um estado de guerra constante, que só causavam 
prejuízo à vida econômica e social. Isso tudo foi despertando a consciência para a 
busca da unidade, que afinal se concretizaria com a afirmação de um poder soberano, 
no sentido de supremo, reconhecido como o mais alto de todos dentro de uma 
precisa delimitação territorial. Os tratados de paz de Westfália2 tiveram o caráter de 
documentação da existência de um novo tipo de Estado, com a característica básica 
de unidade territorial dotada de um poder soberano. Era já o Estado Moderno [...] 
(DALLARI, 1998, p. 29).
2 Os Tratados de Paz de Vestfália, de 1648, foram um conjunto de acordos que puseram fim a diversas disputas 
territoriais em Alemanha, Suíça, Países Baixos e Europa Central. Pode ser considerado o primeiro passo para o 
surgimento do Estado moderno. 
 
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FIGURA 6 – Tratados de Paz de Vestfália
Fonte: http://estudosdiplomacia.blogspot.com.br/2015/03/a-guerra-dos-30-anos-e-paz-de-vestfalia.html.
Segundo a literatura a respeito desse momento crucial para o desenvolvimento da civilização 
ocidental, desde os liberais até os marxistas, para que tais mudanças fossem possíveis, fundamental 
a lenta emergência de uma nova força social, no contexto da crise da chamada Baixa Idade Média. 
Trata-se da lenta constituição da chamada burguesia.
 
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CURIOSIDADE
A partir do desenvolvimento do processo histórico conhecimento como Cruzadas (séculos XI a 
XIII), observa-se na Europa a lenta reativação do comércio entre o Oriente e o Ocidente. Nas rotas 
comerciais que foram se desenvolvendo, verifica-se o surgimento de cidades fortificadas, chamadas 
burgos. Nelas, homens livres que se dedicavam às atividades comerciais e bancárias, portanto 
independentes da lógica estamental medieval, tornaram-se, paulatinamente, “indivíduos embriões” da 
futura classe burguesa.
FIGURA 7 – Cidade de Estrasburgo, entre França e Alemanha
Fonte: Netfalls Remy Musser/shutterstock
FIGURA 8 – Estrasburgo em 1580
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Wolf-Dietrich-Klebeband_St%C3%A4dtebilder_G_096_III.jpg.
Inicialmente, a burguesia encontrou no seio do Estado absolutista as condições mínimas para o 
desenvolvimento de seus interesses. A centralização do poder representada pelo monarca absoluto 
garantia o estabelecimento de uma relativa paz político-territorial. Diferentemente da fragmentação 
medieval, a nova ordem nascente necessitava de estabelecimento de limites territoriais, sistema de 
pesos e medidas, algum tipo de monetarização da economia etc. Todas essas necessidades iam 
ao encontro dos anseios da nova classe burguesa.
 
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O monopólio do poder na figura do soberano permitiu o desenvolvimento de uma política 
econômica baseada no rígido controle, por parte do Estado, dos mais amplos aspectos da vida 
social, econômica e política. Embora detivesse uma expressiva importância econômica, a classe 
burguesa via-se limitada em seus propósitos pelo mercantilismo e, ao mesmo tempo, era achacada 
pelos altos tributos cobrados pelo Estado absolutista.
Além disso, em termos sociais, a lógica estamental medieval, predominante ainda na sociedade 
europeia da época, criava empecilhospara uma vigorosa mobilidade social. Esse contexto conduziu 
a uma inevitável contradição socioeconômica, que, em torno do século XVIII já seria insustentável. 
Em análise bastante pontual, Norbert Elias (1993, p. 170) ensina:
O governo monopolista, fundamentado nos monopólios da tributação e da violência 
física, atingira assim, nesse estágio particular, como monopólio pessoal de um único 
indivíduo, sua forma consumada. Era protegido por uma organização de vigilância 
muito eficiente. O rei latifundiário, que distribuía terras ou dízimos, tomara-se O rei 
endinheirado, que distribuía salários, e este fato dava à centralização um poder e 
uma solidez nunca alcançados antes. O poder das forças centrífugas havia sido 
finalmente quebrado. Todos os possíveis rivais [inclusive a burguesia] do governante 
monopolista viram-se reduzidos a uma dependência institucionalmente forte de sua 
pessoa. Não mais em livre competição, mas apenas numa competição controlada 
pelo monopólio, apenas um segmento da nobreza, o segmento cortesão, concorria 
pelas oportunidades dispensadas pelo governante monopolista, e ela vivia ao mesmo 
tempo sob a constante pressão de um exército de reserva formado pela aristocracia 
do interior do país e por elementos em ascensão da burguesia. A corte era a forma 
organizacional dessa competição restrita.
 
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QUADRO 1 – Monopólio político e econômico no contexto do absolutismo
Fonte: http://www.modernidade.histosofi a.com.br/2010/09/o-mercantilismo-e-burguesia.html.
Cabe ressaltar que essas limitações ao pleno desenvolvimento da burguesia conferiram a essa 
classe, na transição do Estado feudal para o Estado moderno, o seu teor revolucionário. Nas palavras 
de Marx e Engels (2007, p. 41), “vemos, pois, que a própria burguesia moderna é o produto de um 
longo processo de desenvolvimento, de uma série de revoluções no modo de produção e de troca”.
Como sabemos, Marx é considerado o crítico maior do sistema socioeconômico capitalista, mas, 
mesmo assim, não deixou de reconhecer a importância da burguesia nesse processo de transição, 
quando afirma que “a burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os 
instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações 
sociais” (MARX; ENGELS, 2007, pp. 43).
Essa força revolucionária da classe burguesa torna-se mais visível quando observamos o 
conjunto das chamadas revoluções burguesas, processos políticos que tiveram início ainda no 
final do século XVII, com a Revolução Inglesa, composta de diversas fases e que culminou com a 
consolidação da Monarquia constitucional, a partir da Revolução Gloriosa de 1688. Seguiram-se 
a Independência dos Estados Unidos, que surgiu da reação contra a tentativa de maior rigor de 
controle colonial por parte da Inglaterra, a partir de 1776, e a Revolução Francesa, que, sem dúvida, 
representa o processo de maior repercussão em todo o mundo. Iniciada em 1789, consolidou seu 
caráter burguês durante a chamada Era Napoleônica (1799-1815).
 
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Ao longo do século XIX, os ideais iluministas/liberais representaram o verdadeiro combustível de 
diversos processos revolucionários por toda a Europa. Assim ocorreram as jornadas revolucionárias 
de 1820, 1830 e 1848, durante a chamada Primavera dos Povos. Na segunda metade do século 
XIX, as chamadas Unificações Tardias de Alemanha e Itália consolidaram, com suas revoluções 
liberais, o projeto de Estado burguês. Elas estavam, no entanto, sob o comando de setores da própria 
nobreza (Bismarck e Reino Sardo-Piemontês, respectivamente), visto que as respectivas burguesias 
nacionais não estavam suficientemente fortalecidas para conduzir os processos.
Cabe destacar, por fim, que a força política dos movimentos revolucionários pôde ser observada 
também na disseminação dos ideais liberais/burgueses para fora do continente europeu. Além da 
Independência dos Estados Unidos, em 1776, a América Latina, como um todo, principalmente nas 
primeiras décadas do século XIX, vivenciou diversos processos de independência alicerçados no 
“novo” ideário.
Como se pode compreender, embora o Estado moderno tenha suas origens ainda no período 
absolutista europeu,3 sua configuração burguesa somente ganhou as feições finais a partir do 
triunfo das revoluções liberais, ao longo do século XIX. Ideais como nacionalismo, como ensinam 
Hobsbawm e Ranger (1984), ensejam o nascimento da “religião cívica”, ou seja, a legitimação 
do Estado como uma espécie de novo dogma que comporá o novo quadro da realidade político 
organizacional do nascente Estado burguês.
3 Para delimitar esse período, utilizamos como referência inicial a consolidação do Estado português, em 1385, em que 
se podem perceber os elementos constitutivos da aliança inicial entre os interesses burgueses e o Estado absolutista. 
Evidentemente, o evento de magnitude maior a pôr fim ao Antigo Regime (absolutismo), que deu início à definitiva 
derrocada dos resquícios feudais, foi a Revolução Francesa, iniciada em 1789.
 
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FIGURA 9 – Burguesia francesa medieval
Fonte: Marzolino/shutterstock
Para Benedict Anderson (1993), em sua obra Comunidades imaginadas, ao longo do século XIX, 
em função das novas demandas por matérias-primas, fontes energéticas e mercados consumidores 
- derivadas dos desdobramentos da Revolução Industrial em andamento -, a necessidade de 
delimitação territorial ganhou enorme dimensão. Assim, o “novo” Estado deveria, em primeiro lugar, 
firmar-se sobre uma base territorial, diferentemente do que ocorria nos chamados reinos dinásticos. 
Segundo Anderson (1993, p. 39):
Pode ser difícil imaginar agora enfaticamente em um mundo onde o reino dinástico 
apareceu para a maioria dos homens como o único sistema “político” imaginável 
[...]. Em alguns aspectos fundamentais, a monarquia “formal” se opõe a todas as 
concepções de [Estado] moderno. O reino organiza em torno de um centro elevado. 
Deriva da legitimidade da divindade, e não de populações [...]. Na concepção moderna, 
a soberania do Estado funciona como completo, pleno e uniformemente em cada 
centímetro quadrado legalmente demarcado de território.
 
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Percebe-se, portanto, que todo o processo acerca da constituição do Estado moderno se 
assentou em um conjunto de transformações políticas, econômicas e socioculturais que, aos 
poucos, permitiram a configuração e legitimidade de três elementos fundamentais (GUIMARÃES, 
2012) que o definem:
• Território: é a base espacial do poder do Estado, onde este exerce o poder coercitivo estatal 
sobre os indivíduos humanos. É materialmente composto pela terra firme, incluindo o subsolo e 
as águas internas (rios, lagos e mares internos), pelo mar territorial, pela plataforma continental 
e pelo espaço aéreo.
• Nação: como entidade moral, é um grupo de indivíduos que se sentem unidos pela origem 
comum, pelos interesses comuns e, principalmente, por ideias e princípios comuns. Assim, 
legitimam, a partir do princípio da autodeterminação dos povos, a existência do Estado. É uma 
comunidade de consciência, unida por um sentimento complexo, indefinível e poderosíssimo: 
o nacionalismo/patriotismo.
• Governo: é o conjunto das funções necessárias à manutenção da ordem jurídica e da 
administração pública. A palavra governo tem dois sentidos: coletivo e singular. O primeiro, 
como conjunto de órgãos que orientam a vida política do Estado. O segundo, como Poder 
Executivo, ou seja, aquele que tem como função a colocação em prática das determinações 
estabelecidas pelo Poder Legislativo.
Assim, o Estado moderno pode ser definido como o conjunto das instituições que, em nome do 
povo/nação e da soberania nacional que o legitima, detém o poder para organizar e regulamentar 
o funcionamento de determinada sociedade em um território delimitado. Como vimos em Weber, 
o Estado, como organização que possui o monopólioda violência legítima, dispõe de instituições 
que lhe conferem autoridade e poder, assim como funções de governança. Já na propositura de 
Marx, é justamente por essas características que o Estado moderno detém o poder necessário para 
a manutenção dos interesses da classe dominante.
Organização política do Estado moderno
Para que se estruture e exerça suas funções e prerrogativas, o Estado moderno apresenta-se de 
forma laica - livre da influência religiosa - e constitucional. Isto é, o Estado torna-se o “ente soberano” 
não mais na perspectiva do poder divino dos reis, mas sim em função da soberania popular e do 
estabelecimento do conjunto de regras maiores da nação, isto é, a Carta Magna ou Constituição 
do país. Em geral, é por meio da Constituição que se estabelecem os elementos e as instâncias 
para o exercício do poder.
 
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Sobre esse tema, vale lembrar a importância de compreendê-lo como resultado do longo processo 
de desenvolvimento das ideias de pensadores como o iluminista francês Montesquieu (1689-1755). 
Este, em sua principal obra, O espírito das leis, já demonstrava, como crítica à organização política 
absolutista, grande preocupação em se definirem limites e equilíbrio ao poder. Sua proposta de divisão 
tripartite (Executivo, Legislativo e Judiciário) está presente no próprio cerne do Estado moderno.
A partir desse princípio e de valores como o republicanismo e a democracia, ao longo do tempo, 
foram se definindo diversos conceitos e elementos que constituem as formas e os sistemas de 
governo.
FIGURA 10 – Executivo, Legislativo e Judiciário
Fonte: Ilya Zlatyev/shutterstock
A seguir, de forma sucinta, apresentaremos os principais pares de oposição acerca da estruturação 
e organização do poder político do Estado presentes na sociedade contemporânea.
Forma de Estado: federativo ou unitário
No Estado federativo, adotado em países como o Brasil e os Estados Unidos, cada unidade da 
federação (estado, província, departamento) tem peso de ente federativo e dispõe de certa autonomia. 
Assim, nessa forma, além da Constituição Federal, observa-se uma sua Constituição local (no caso 
do Brasil, estadual ou municipal), o que confere certo grau de autonomia a essas unidades.
Já no caso do Estado unitário ou centralizado, observa-se a validade da lei única para seu 
conjunto. Esse modelo, evidentemente, somente pode ser viável em países de territorialidade exígua, 
como é o caso da Dinamarca e da Colômbia, por exemplo.
 
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SAIBA MAIS
Todos já ouvimos dizer que nos Estados Unidos existem leis acerca de temas polêmicos, como a 
pena de morte, que são vigentes em algumas unidades federativas e em outras não. A razão para 
tal situação relaciona-se, exatamente, com a forma de Estado federativa, que, ao garantir maior 
autonomia política, permite que leis específicas vigorem em determinados estados em detrimento de 
outros.
Forma de governo: monarquia ou república
Em uma monarquia, observa-se o princípio da tradição como elemento central a legitimar a 
organização do Estado. Na maioria dos casos, o chefe de Estado é o monarca, e a efetiva condução 
do governo fica a cargo do líder do parlamento, em geral denominado primeiro-ministro.
Na forma republicana, a função de guardião do país pertence ao Estado, organização pública, que 
tem seu poder legitimado na soberania popular. Para que o Estado exerça essa função, é necessário 
que alguém assuma sua direção. Em geral, nesse caso, temos a figura política do presidente da 
República, como é o caso de países como Argentina e Uruguai.
Sistema de governo: parlamentarista ou presidencialista
O sistema de governo parlamentarista organiza-se tendo por base o princípio da separação entre 
a chefia de Estado (presidente ou monarca) e a chefia de governo (primeiro-ministro ou premier). 
Considerando-se a ideia de soberania popular, a população elege seus representantes (deputados), 
e os partidos que obtiverem a maioria irão constituir o governo e indicar o primeiro-ministro.
Já no presidencialismo, não existe a separação das duas esferas. Assim, a chefia de Estado 
e a de governo são exercidas pela mesma pessoa, o presidente, que é escolhido diretamente pelo 
eleitorado, por intermédio do sufrágio universal.
Para que possamos entender melhor a diferença, o governo presidencial é organizado 
autonomamente pelo presidente e chefiado por ele. Já o governo parlamentar é organizado pelo 
parlamento e chefiado por um parlamentar aceito pela maioria dos demais.
 
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 Sistemas partidários: bipartidarismo ou pluripartidarismo
Embora exista uma complexidade de formas organizacionais de processos eleitorais, cabe lembrar 
que a maneira pela qual efetivamente ocorrerá a representação, isto é, como os representantes 
eleitos para o exercício do Poder Legislativo se organizarão para estabelecer a governabilidade do 
Estado, tem fundamental importância. Nessa direção, os dois modelos ou formas principais são o 
bipartidarismo e o pluripartidarismo.
Em muitos países, como Estados Unidos e Reino Unido, vigora o bipartidarismo. Neste caso, 
embora existam diversas legendas partidárias, atendendo ao princípio democrático de ampla 
representatividade, a adoção do sistema majoritário para a composição do Poder Legislativo, na 
prática, conduz a disputa eleitoral a permanecer entre os dois partidos mais representativos.
No caso brasileiro, como estabelece o Código Eleitoral, em seu art. 2º, temos a adoção do 
pluripartidarismo, considerado, do ponto de vista ideal, aquele que propicia o mais amplo exercício 
do direito democrático.
CURIOSIDADE
No Brasil, temos a adoção do presidencialismo pluripartidário e do sistema proporcional de eleição, o 
que possibilita, em termos ideais, o exercício pleno da democracia. Porém, segundo alguns analistas, 
entre os quais Mainwaring (1993), é justamente essa formatação política que mais contribui para 
as negociatas em torno de ministérios, cargos de alto escalão em geral e “mensalões” em busca de 
apoio político e governabilidade. Assim, como discutiremos adiante, para muitos especialistas, a 
reforma política é mais que urgente em nosso país.
 
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FIGURA 11 – Pluripartidarismo
Fonte: julie deshaies/shutterstock
Regimes políticos: democrático ou totalitário
Embora existam diversas variantes, vejamos os aspectos principais dos dois regimes mais 
diametralmente opostos.
No regime democrático, vigora o princípio de que o governo deve ser exercido em nome da 
vontade popular. Esse sistema, presente na maior parte dos Estados modernos, ocorre em sistemas 
de governos presidencialistas ou parlamentaristas e sob a forma de governo republicana ou 
monárquica constitucional.
O regime totalitário estabelece-se quando o Estado passa a ser comandado em nome de interesses 
de uma classe social, um partido único ou mesmo uma única pessoa. Em geral, a perseguição de 
opositores e o cerceamento a liberdades democráticas são recorrentes. Muitas vezes, observa-se 
 
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também o culto ao dirigente máximo (personalismo) e a propaganda abrangente divulgada pelos 
meios de comunicação controlados pelo Estado, fortemente marcada pelo discurso nacionalista/
militarista.
O SUFRÁGIO UNIVERSAL
De origem latina (suffragari), o vocábulo sufrágio pode ser traduzido como “apoio ou suporte”, 
nesse caso específico, “apoio pelo voto”. O sufrágio universal representa a forma de participação 
dos indivíduos na vida pública, pois, segundo o conceito maior expresso na ideia democrática, o 
poder emana do povo, e o sufrágio é a maneira pela qual ele exerce esse poder. Cabe ressaltar que 
a definição e a aceitação atual desse conceito representaram um longo processo histórico marcado 
por importantes debates políticos e intensos conflitos sociais/classistas. Buscaremos em seguida, 
muito mais do que simplesmente definir o conceito, compreender minimamente esses eventos rumo 
à conquista do sufrágio universal.No século XIX, como vimos, as várias conquistas na área dos direitos políticos marcaram 
profundamente o período. Em um contexto de grandes mudanças, devido aos desdobramentos da 
Revolução Industrial e das revoluções liberais/burguesas, sobretudo a partir de 1848 (Primavera 
dos Povos), uma grande questão colocou-se de forma mais evidente: qual era a profundidade das 
mudanças? Isto é, qual o grau de compromisso dos novos governos (burgueses) que se formavam 
com o estabelecimento de uma nova ordem social?
Dentre os vários elementos que permeavam essa discussão, talvez o mais relevante seja o 
real estabelecimento de uma das mais importantes bandeiras da burguesia em sua luta contra 
os governos absolutistas e pela abolição de privilégios feudais, como a desigualdade por origem. 
Nas revoluções do século XVIII, alicerçadas em ideias liberais/iluministas de liberdade e igualdade, 
predominaram as lutas pelos direitos civis. Estes, segundo o escopo jurídico, trata-se dos direitos 
de primeira geração, como a liberdade de expressão, de imprensa, de religião, de associação e de 
reunião e o direito de propriedade. Assim, o conceito revolucionário de igualdade jurídica deveria, 
para muitos, nortear o desenvolvimento de uma nova forma de participação nos processos políticos.
CURIOSIDADE
Uma das primeiras vozes a contestar a sociedade capitalista e propor princípios socialistas foi o 
inglês Gerrard Winstanley (1609-1652). Comerciante falido, responsabilizava a “arte fraudulenta 
de comprar e vender” pelas mazelas sociais. Escreveu um livro no qual associava a existência da 
propriedade privada ao não cumprimento de um dos 10 mandamentos: “Não roubarás”.
 
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FIGURA 12 – Direitos políticos
Fonte: Nowik Sylwia/shutterstock
Nesse contexto, já sob a influência dos movimentos de crítica ao “novo regime” burguês, 
representado pelos ideólogos da construção de uma sociedade assentada também na igualdade 
econômica e social, que, no conjunto, desenvolveriam a proposta socialista, a luta pelos direitos 
políticos intensificou-se. Isso teve como desdobramento o surgimento dos chamados direitos de 
segunda geração.
É facilmente perceptível que os chamados direitos políticos, que foram sendo 
lentamente conquistados nos séculos XIX e XX, a despeito de terem uma configuração 
muito distinta das liberdades públicas [direitos civis], podem também ser inseridos na 
ideia de direitos de liberdade. [...] Liberdade, nesse sentido, é sinônimo de participação 
na tomada de decisões, o que os direitos políticos, ainda que indiretamente, 
propiciam. Esses novos direitos, chamados de direitos sociais e econômicos, e que 
são considerados como a segunda geração dos direitos fundamentais, surgem, 
contudo, não só em decorrência de uma maior participação dos cidadãos nas 
decisões políticas, mas, sobretudo, por causa da pressão dos movimentos sociais (e 
socialistas) [...]. Não é o caso aqui de narrar as lutas socialistas do século XIX, de resto 
conhecidas por todos, e que foram em grande parte responsáveis pela consagração 
dos direitos sociais e econômicos [...]. Importante aqui é ressaltar que, ao contrário 
do que afirmava Schmitt, os direitos sociais não podem ser considerados como 
direitos “socialistas”, pois são, na verdade, uma forma de garantir a estabilidade e 
 
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a manutenção do capitalismo, se não liberal, pelo menos daquele de cunho social 
(SILVA, 2005, pp. 547-9, grifos nossos).
Essa articulação entre o movimento socialista e a conquista dos direitos fundamentais pode 
ser mais bem compreendida quando observamos o desenvolvimento do movimento operário na 
Inglaterra do século XIX.
O desenvolvimento de novas técnicas produtivas, possível graças à Revolução Industrial, permitiu 
a expansão e a generalização da mecanização da produção. Enfim a humanidade, por meio da 
produção cada vez mais eficaz de gêneros industriais, alcançaria a emancipação, era a expectativa 
dos mais otimistas. Porém, sob o “novo regime burguês”, o que se viu foi o aprofundamento da 
exploração aos trabalhadores. Uma verdadeira superexploração teve início.
As condições de vida de uma minoria sofreram melhora sensível, porém horas excessivas de 
trabalho (chegava-se a trabalhar 18 horas diárias), situações subumanas de moradia, condições 
insalubres das fábricas, exploração do trabalho infantil e feminino, entre tantos outros problemas, 
criaram a necessidade urgente de melhora para a maioria, ou seja, os trabalhadores.4
Por volta de 1813, operários mais instruídos começaram a propor um novo método de luta em 
oposição à forma conhecida como luddismo, em que havia a quebra de máquinas visando paralisar 
a produção. Isso porque destruir as máquinas não eliminava a exploração, visto que em semanas 
estavam novamente aptas ao trabalho. Além disso, esse tipo de ação acabava por agravar a situação 
dos trabalhadores, na medida em que gerava desemprego, pois provocava interrupções no processo 
produtivo e eliminava pela prisão suas lideranças mais importantes.
Esse novo método de luta partia do princípio de que a mais eficaz arma dos trabalhadores era 
ferir a “espinha dorsal” do processo de produção: o lucro. Assim, em 1815, surgiu a mais importante 
forma de pressão dos trabalhadores: a greve. Podemos considerar esse momento como o início 
do moderno sindicalismo.
4 Para compreender melhor a situação dos trabalhadores nesse período, ver, entre outros, A situação da classe 
trabalhadora na Inglaterra, de Friedrich Engels.
 
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FIGURA 13 – Greve de servidores públicos no Rio de Janeiro
Fonte: CP DC Press/shutterstock
As lutas, a partir daí, intensificaram-se e extrapolaram a esfera de reivindicações meramente 
econômicas. Em 1832, sob pressão popular, o Parlamento britânico concedeu o direito de voto às 
camadas médias urbanas e aos pequenos proprietários. No entanto, isso não foi estendido aos 
trabalhadores. Assim, em 1838, foi criada a Associação dos Operários, organização que reivindicava 
direitos políticos a eles.
O documento inaugural da Associação dos Operários, a Carta ao povo, assinado por mais de 1 
milhão de pessoas, deu origem ao chamado cartismo, que apresentava como principais reivindicações:
• sufrágio universal masculino;
• representação igualitária para todos os distritos eleitorais;
• direito de trabalhadores candidatarem-se ao Poder Legislativo;
• eleições anuais para o Parlamento.
Entre 1838 e 1848, o cartismo teve grande força na vida política inglesa, porém foi sufocado pela 
repressão governamental. Somente em 1865 é que algumas de suas propostas foram incorporadas 
à legislação, como o direito de voto aos trabalhadores urbanos e rurais (CUNHA; HOLANDA; CAIRO, 
[2017]).
 
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CURIOSIDADE
Veja a Carta de 1837, na qual os trabalhadores ingleses esclarecem a população sobre seus 
propósitos, sobretudo o direito ao sufrágio universal.
FIGURA 14 – Carta de 1837
Fonte: http://artepolitica.com/comunidad/los-salarios-de-los-diputados-y-la-antipolitica.
Segundo González (1989), em outros países centrais do capitalismo industrial em formação, 
como França e Alemanha, a situação não era muito diferente. Sobretudo na França, o século XIX 
foi marcado por grande instabilidade política, o que resultou, em 1871, na primeira grande vitória, 
embora efêmera, dos ideais socialistas. A capacidade crescente de organização dos trabalhadores 
foi demonstrada quando trabalhadores parisienses tomaram o poder e instituíram um governo 
popular que durou dois meses: a Comuna de Paris.
 
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Em 1870, iniciou-se a guerra entre a França e a Prússia. Com a derrota e a consequente rendição 
do imperador francês, Napoleão III, ao exército prussiano, Paris ficou cercada pelas tropas inimigas. 
Em um clima tenso, foi constituído um governo provisório, e, na eleição para a Assembleia Constituinte, 
em abril de 1871, os monarquistas saíram vitoriosos.
Toda essa situação acabou por aprofundaras tensões políticas. Já em 18 de março de 1871, o 
proletariado, incluindo mulheres e crianças, reagiu à tentativa do governo de desarmar a Guarda 
Nacional, que na prática era o povo armado (300 mil a 350 mil homens, desde que o alistamento 
geral fora convocado em 1870, após as derrotas francesas na guerra contra a Prússia). Tinha início 
a Comuna de Paris, que duraria até maio.
Segundo Marx (1999, p. 84), a proclamação do Comitê Central da Guarda Nacional de 18 de 
março era clara quanto ao caráter de classe e aos objetivos do poder que nascia:
Os proletários da capital, em meio aos desfalecimentos e as traições das classes 
governantes, compreenderam que para eles tinha chegado a hora de salvar a situação 
tomando em mãos a direção dos negócios públicos [...]. Compreenderam que era seu 
dever imperioso e seu direito absoluto tomar em mãos os seus destinos e assegurar-
lhes o triunfo conquistando o poder.
De acordo com Chasin (1992), estas foram as principais ações da Comuna:
• Em 26 de março, foi eleita a Comuna.
• A Comuna aboliu o recrutamento e o exército permanente e proclamou a Guarda Nacional, à 
qual deviam pertencer todos os cidadãos capazes de pegar em armas.
• A Comuna isentou todos os pagamentos de rendas de casa de outubro de 1870 até abril de 
1871, pôs em conta para o prazo de pagamento seguinte as quantias de arrendamento já pagas 
e suspendeu todas as vendas de penhores no montepio municipal.
• Os estrangeiros eleitos para a Comuna foram confirmados nas suas funções, assegurando o 
caráter internacionalista do movimento.
• Foi decidido que o vencimento mais elevado de um empregado da Comuna não poderia exceder 
6.000 francos.
• Foi decretada a separação da Igreja e do Estado e a abolição de todos os pagamentos estatais 
para fins religiosos.
• Os bens da Igreja foram confiscados, e proibiram-se nas escolas todos os símbolos religiosos, 
imagens, dogmas e orações.
 
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• A guilhotina, símbolo maior do poder burguês, foi queimada publicamente.
• Foram derrubados os símbolos referentes ao poder burguês, sobretudo os referentes a 
Napoleão III.
• Determinou-se um levantamento estatístico das fábricas paralisadas pelos proprietários, e 
elaboraram-se planos para o funcionamento delas com operários que as ocupavam, por meio 
da organização de cooperativas.
• Ordenou-se a supressão das casas de penhores, que eram uma exploração privada dos operários.
• Nas eleições de 26 de março, a abstenção nos bairros burgueses foi superior a 60%, o que 
demonstrava o caráter realmente popular da Comuna.
• Os membros eleitos formavam um único coletivo sem presidente (colegiado) e eram revogáveis 
a qualquer momento.
• Organizava-se a Comuna em nove comissões (militar, trabalho, ensino etc.). De cada uma, saía 
um delegado, que formavam uma comissão executiva.
• Ao contrário do Estado centralizado, como é o Estado burguês, repressivo e voltado para o 
controle social, a Comuna era, como Marx observou, uma forma totalmente expansiva, que 
permitia a liberação das energias e da criatividade da sociedade.
Conforme González (1989), apesar do caráter socialista e revolucionário das medidas da Comuna, 
ela não se consolidou. A burguesia francesa, desde o primeiro momento, ocupou-se em preparar 
uma reação e esmagar a experiência revolucionária. A alta burguesia e o alto clero, insatisfeitos com 
a Comuna, por intermédio de suas forças policiais e militares mais bem organizadas e armadas e 
com apoio, veja só, de forças prussianas (alemãs), iniciaram a “contrarrevolução”.
Em 20 de maio, após mais de um mês de confrontos e bombardeios à cidade, cerca de 130 mil 
soldados de Versalhes começam a entrar em Paris. Em 28 de maio, caía a última barricada dos 
revolucionários.
 
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ACONTECEU
A repressão à Comuna
FIGURA 15 – Charge sobre a “barricada” de fuzilados
Fonte: https://mfprio.files.wordpress.com/2014/03/comuna-6.jpg.
FIGURA 16 – A repressão contra os comuneiros
Fonte: http://parissempreparis.com.br/wp-content/uploads/2016/05/COMUNA.jpg.
Mesmo para os padrões de violência atuais, os números impressionam:
- 4.000 comuneiros morreram na batalha; mais de 30 mil foram fuzilados em Paris e cerca de 1.900 
em La Roquette.
- 36.309 foram presos, dos quais 93 condenados à morte.
- 251 condenações a trabalhos forçados.
- 1.169 deportações em fortificações.
- 3.417 deportações simples.
- 1.247 reclusões.
- 3.113 penas de prisão.
Fonte: Debonis e Galvão (2004).
 
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A busca do controle do movimento cartista, assim como a sangrenta repressão aos comuneiros 
em Paris, demonstram claramente que a burguesia, apesar do discurso libertário e da defesa da 
igualdade, não estava disposta em abrir mão do poder político. Assim, observa-se uma incoerência 
em sua conduta. Na verdade, essa posição em relação a evitar maior participação popular no “novo 
regime burguês”, por meio do direito de representação, não era novidade:
A chegada da alta burguesia ao poder estabeleceu a plena igualdade fiscal para todas 
as classes, mas a igualdade civil e social ficou restrita ao novo grupo dominante. 
Além das desigualdades na distribuição de renda, havia o fato de as camadas mais 
baixas da sociedade não terem acesso aos órgãos de decisão política, já que o voto 
censitário impedia sua participação (PAZZINATO, 2002, p. 129).
A confirmação dessa “limitação democrática”, na sequência de eventos, pode ser identificada 
na fase mais conturbada da Revolução Francesa, a Convenção Nacional (1792-1794/95). Durante 
a chamada República Jacobina (1793), os princípios estabelecidos atendiam aos interesses da 
população, mas, conforme afirma o historiador Eric Hobsbawm (2015), “depois de 1794, ficaria claro 
para os moderados [sobretudo os girondinos] que o regime jacobino tinha levado a revolução longe 
demais para os objetivos e comodidades burgueses [...]”.
Isso porque a Constituição de 1792 garantia ao povo seus direitos e o poder de decisão, pregava 
uma ampla liberdade política e o sufrágio universal aos homens maiores de 21 anos. Essa Carta, 
inspirada nas ideias de Rousseau, era uma das mais democráticas da história até então. Entretanto, 
em nome da defesa de seus interesses, negando a própria ideia de direitos do homem e do cidadão e 
contrários à extensão de direitos civis e políticos ao conjunto da população, os girondinos retomaram 
o poder por intermédio da Reação Termidoriana de 1795. Tais eventos repetiram-se ao longo de 
todo o século XIX e parte do século XX. Qual seria a razão?
Para responder a essa indagação, deve-se levar em conta que, no modelo eleitoral da nascente 
sociedade burguesa, o direito a “votar e ser votado” era parametrado por diversas restrições. Segundo 
Paes (2013), as mais comuns relacionavam-se à exigência de certo rendimento ou propriedade, 
portanto, um sufrágio censitário. Havia ainda outras modalidades que, na prática, impediam a 
participação política da maior parte da população, por exemplo, a exigência da capacidade de ler 
ou escrever, o chamado sufrágio capacitário. Havia ainda formas de exclusão baseadas em gênero, 
profissão e etnia.
 
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FIGURA 17 – Exclusão pelo voto
Fonte: nullplus/shutterstock
Pode-se perceber então que o ideal democrático, na plenitude do termo “governo do povo”, nunca 
esteve entre as prioridades burguesas. Mesmo assim, as lutas operárias, os movimentos libertários 
e a pressão popular foram, ao longo do século XIX, impondo a ampliação da participação eleitoral.
[...] A Revolução de 1848 demonstrava que essas massas numerosas poderiam se 
levantar contra o Estado burguês, forçando-o à abertura de espaços para a participação 
política dessas camadas da população, especialmente da crescente parcela dos 
trabalhadores industriais. Ademais [...] o liberalismo, que formava a base da ideologia 
burguesa, ao defender os ideais de igualdade legal, não tinha justificativa para opor 
se a essas demandas de participaçãopopular na política (MATOS, 2002, p. 90).
Dessa maneira, o sufrágio universal foi sendo instaurado, paulatinamente, nas democracias 
europeias e, posteriormente, no mundo ocidental. Por outro lado, a própria burguesia via-se diante de 
uma grande contradição, pois os próprios princípios defendidos por ela, isto é, “a liberdade individual 
e a igualdade legal de todos os indivíduos”, exigiam um sistema representativo mais abrangente, 
como aponta Matos (2002, p. 90):
Esse avanço dos governos representativos na maior parte da Europa e na América do 
Norte (Estados Unidos) deveu-se, portanto, à forma de hegemonia da burguesia na 
sociedade ocidental; pois, ao contrário da aristocracia feudal ou do monarca absoluto, 
a burguesia necessitava angariar o apoio das massas à medida em que seu poder 
 
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não se fundava em instituições que poderiam, como coloca o autor, “salvaguardá-
la” do voto; ao contrário da anteriormente citada aristocracia feudal, cujo poder era 
baseado em uma rígida hierarquia estamental. O próprio ideário burguês (embasado 
na doutrina liberal) tornava essa salvaguarda impraticável, pois defendia a liberdade 
individual e a igualdade legal de todos os indivíduos e, portanto, era incompatível 
com o total afastamento das massas do processo político (grifos nossos).
A partir da segunda metade do século XIX, essa contradição tornou-se cada vez mais evidente. 
Assim, a burguesia liberal, focada nas relações de mercado, viu-se obrigada, ante o temor de uma 
insurreição das massas que a alijasse do poder, a ceder em suas pretensões “monocráticas” rumo 
à construção de mecanismos que possibilitassem certa estabilidade e consequente continuidade 
de sua supremacia no comando do Estado. O elemento que a legitimou nessas condições foi o 
sufrágio universal.
Por paradoxal que pareça, a adoção do sufrágio universal masculino, longe de ameaçar a 
burguesia em seu propósito de se manter como classe dominante, possibilitou, ao atender a anseios 
tão arduamente defendidos pelos movimentos sociais, um arranjo político que permitiu a sua 
legitimação como tal. Segundo Schumpeter (1984, p. 336), um dos mais importantes economistas 
do século XX, esse arranjo democrático permitiu criar um método, “acordo institucional, para se 
chegar a decisões políticas em que os indivíduos adquirem o poder de decisão através de uma luta 
competitiva pelos votos da população”.
Portanto, na prática, segundo Vitullo e Scavo (2013),
a democracia [e o mecanismo do sufrágio universal] fica reduzida a uma simples 
técnica de autorreprodução das relações de poder e de separação entre representantes 
e representados via mecanismos de representação e assim, segundo os mesmos 
autores, isto dá lugar a uma teoria democrática profundamente pautada pelas noções 
de governabilidade e estabilidade, em oposição a qualquer proposta que venha a 
desafiar o status quo.
Portanto, pode-se observar que a própria concepção de democracia, dessa forma modificada, 
demonstra, na visão dos autores, “um claro caráter elitista, que transforma o conceito originário 
de democracia em uma técnica constituída por normas que visam garantir a eleição rotativa das 
lideranças políticas” (VITULLO; SCAVO, 2013).
 
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Nessa mesma direção, Giovanni Sartori (1965) faz uma crítica à expressão dos ideais democráticos 
por intermédio do sufrágio universal e da democracia indireta ou representativa, baseada no princípio 
da soberania popular. Para o autor, eles representam a fórmula que possibilitou com segurança 
à burguesia construir um sistema político no qual a participação popular, em uma perspectiva 
positivista que vê no Estado a busca do “bem comum”, fica restrita ao processo de escolha de 
representantes, em geral, do próprio seio da burguesia.
Ao se restringir somente ao processo eleitoral, o processo de individualização representado 
pelo voto promove o enfraquecimento de mecanismos de solidariedade de classe (lutas político/
sindicais). Isso, na prática, põe abaixo a própria mobilização política, pois alimenta a esperança 
de transformação sistêmica via parlamento. Em outras palavras, o sufrágio universal, posto em 
prática de forma pioneira pela República Jacobina em 1792 e tão duramente combatido pela alta 
burguesia de então, tornou-se, ao longo dos séculos XIX e XX, o elemento central, como ideologia 
da participação política ativa, para a estabilização, ao menos em parte, das tensões relativas ao 
controle de classe no Estado burguês.
ACONTECEU
FIGURA 18 – Protesto das sufragistas, 1915, São Francisco
Fonte: Everett Historical/shutterstock
De início, o conceito de sufrágio universal era restrito aos homens. Somente no século XX, 
mesmo nas democracias mais avançadas, após grandes pressões e lutas memoráveis, é que ele 
se estendeu também às mulheres. No caso brasileiro, após grandes abalos políticos no início da 
 
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Era Vargas, o Código Eleitoral de 1932 e depois a Constituição de 1934 estabeleceram o direito das 
mulheres ao voto, embora ainda com várias restrições.
O sufrágio universal no Brasil
Demorou muito para que o conceito de sufrágio universal, em seu princípio maior da universalidade, 
realmente se consolidasse em nosso país. Segundo Ferreira (2001), a história do Brasil tem três 
períodos: Colônia (1500-1822), Império (1822-1889) e República (a partir de 15 de novembro de 1889). 
Não se objetiva neste momento retomar todo o processo de desenvolvimento da organização política 
do país. Nosso foco será sobre o período republicano, e o interesse é estabelecer a discussão 
mínima sobre o desenvolvimento e a consolidação do sufrágio universal.
A primeira Constituição da República Federativa dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 
24 de fevereiro de 1891, estabeleceu, balizando-se pelo conceito de que a sociedade política deve 
ser dirigida e eleita pelos mais capazes, os critérios para o estabelecimento do sufrágio. Assim, 
pelo art. 70, §§ 1º e 2º, instituiu-se:
Art. 70 - São eleitores os cidadãos maiores de 21 anos que se alistarem na forma da lei.
§ 1º - Não podem alistar-se eleitores para as eleições federais ou para as dos Estados:
1º) os mendigos [maioria absoluta dos ex-escravos];
2º) os analfabetos [cerca de 90% da população];
3º) as praças de pré, excetuados os alunos das escolas militares de ensino superior;
4º) os religiosos de ordens monásticas, companhias, congregações ou comunidades 
de qualquer denominação, sujeitas a voto de obediência, regra ou estatuto que importe 
a renúncia da liberdade individual.
§ 2º - São inelegíveis os cidadãos não alistáveis [entre eles, todas as mulheres] 
(comentários nossos entre colchetes).
Como se pode perceber, a ideia de sufrágio do início da República brasileira era de que dele 
poderiam participar todos os cidadãos do sexo masculino, alfabetizados, maiores de 21 anos e 
que possuíssem certa renda (censitário). Para ser eleitor de primeiro grau (votante), era preciso a 
percepção de uma renda líquida anual de 100 mil réis por ano, e, para ser eleitor de segundo grau 
 
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(eleitor), a renda exigida era de 200 mil réis. Já para se eleger deputado, era preciso comprovar 
renda anual de 400 mil réis, e, para ser senador, 800 mil réis (PORTO, 2002, p. 43).
Deve-se lembrar que, na ocasião, a abolição da escravatura tinha ocorrido havia pouco mais de 
um ano e meio, que no país não existia um sistema universalizante e que a renda exigida para poder 
participar do processo eleitoral não era factível para, pelo menos, 96% da população. O resultado, 
é óbvio, só poderia ser a instituição de um sufrágio excludente.
Entre 1894, eleição de Prudente de Morais, até 1930, eleição de Júlio Prestes, durante a chamada 
República do Café com Leite, a porcentagem de votantes sobre a população nunca foi maior que 
5,6%, e a média ao longo do período, em que foram eleitos 11 presidentes, ficou em torno de 3% da 
população (RAMOS, 1961).
FIGURA19 – Votantes na população
Fonte: Photobank gallery/shutterstock
Na direção do sufrágio efetivamente universal, o passo inicial foi dado com a criação do primeiro 
Código Eleitoral Brasileiro, em 1932, quando houve o surgimento da Justiça Eleitoral para organizar 
os mecanismos eleitorais. O Código também estabeleceu o voto secreto e o voto feminino. Isso 
ocorreu antes mesmo de países como França, Itália e Japão, sendo o segundo país da América Latina 
a garantir o direito à mulher, atrás apenas do Equador. Entretanto, os analfabetos permaneceram 
excluídos de processos eleitorais no Brasil até 1985.
 
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SAIBA MAIS
Negligenciando o fato de que o acesso à educação é um dever do Estado, o Brasil somente quase um 
século depois da Proclamação da República garantiu o direito ao voto para os analfabetos. Leia mais 
a respeito no link: http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/voto-feminino-conquistado-nos-
anos-30-mas-direito-do-analfabeto-sai-so-em-1985-14128281.
Todas as prerrogativas do Código Eleitoral de 1932 foram corroboradas na Constituição de 
1934. Infelizmente, como sabemos, em 1937, valendo-se da força e da “política anticomunista”, 
Getúlio Vargas, “rasgou” a Constituição de 1934 e mergulhou o país em oito anos de ditadura, com 
uma nova Carta. Todos os avanços estabelecidos foram retirados, principalmente porque a Justiça 
Eleitoral deixou de existir, e ao país foi imposto um governo totalitário. Somente com a renúncia de 
Vargas, em 1945, a Justiça Eleitoral foi restituída, e uma tímida democracia foi reinstalada no país.
Em 1955, com a promulgação da Lei nº 2.250/55, foram introduzidos novos avanços, como folha 
individual de votação, que garantia a liberdade e o sigilo do voto. Mas, em 31 de março de 1964, o 
então presidente João Goulart foi deposto, com a instauração da Ditadura Militar, que vigoraria até 
1985. Com o golpe e sua consolidação, foi imposto o fim do voto direto para presidente e outros 
cargos majoritários. O conceito de pluripartidarismo foi extinto, e, para atenuar o caráter totalitário 
do governo, instituiu-se a oposição consentida por meio do bipartidarismo. A eleição do comandante 
da nação era realizada pela Junta Militar.
A partir de 1984, o grande desgaste dos governos militares, somado aos efeitos da recessão 
econômica do início dos anos 1980, levou milhões de brasileiros às ruas em busca do retorno da 
democracia. O movimento Diretas Já, composto por diversas forças políticas, tornou-se o carro-
chefe das reivindicações, e, em 1985, o Brasil se redemocratizou.
Instalada no início de 1987, a Assembleia Nacional Constituinte apresentou, em 1988, a nova 
Constituição do Brasil. Finalmente, na essência de sua proposição, o sufrágio universal foi instituído 
no Brasil. No art. 14, § 1º, da CF/88 fica estabelecido:
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto 
e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
 
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III - iniciativa popular.
§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II - facultativos para:
a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
O referido artigo trata ainda de diversos outros aspectos, como grupos inelegíveis, idade mínima 
para cargos políticos, entre outros Mas o trecho apresentado é mais do que suficiente para que se 
caracterize, de fato, a instituição do sufrágio universal no país.
OS PARTIDOS POLÍTICOS
FIGURA 20 – Partidos políticos
Fonte: Photographee.eu/shutterstock
Segundo diversos autores, em especial Bonavides (2000), partidos políticos representam entidades 
burocráticas que se constituem visando organizar, coordenar e instrumentalizar a vontade popular, 
 
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objetivando influenciar a orientação política do país e, pela ascensão ao poder do Estado, colocar 
em prática o seu programa de governo.
Portanto, não podem ser somente considerados “partes da sociedade” que se organizam tendo 
em vista suas demandas específicas. Dessa forma, poderíamos cair numa visão “romântica” tendente 
à harmonização social, que não permite ver a questão como elemento de disputa política, como 
fica sugerido no fragmento a seguir:
É um corpo de pessoas (físicas, humanas, não jurídicas) unidas para promover, 
mediante o esforço conjunto, o interesse nacional com base em alguns princípios 
especiais (representação da vontade política e obtenção do poder político), ao redor 
dos quais todos se acham de acordo (CEAP, [2017], p. 25).
Uma definição mais complexa de partidos é a do o sociólogo Nildo Viana (2003, p. 12):
Os partidos políticos são organizações burocráticas que visam à conquista do Estado 
e buscam legitimar esta luta pelo poder através da ideologia da representação e 
expressam os interesses de uma ou outra classe ou fração de classe existentes. 
Assim, os quatro elementos principais que caracterizam os partidos políticos são:
a) organização burocrática;
b) objetivo de conquistar o poder do Estado;
c) ideologia da representação como base de sua busca de legitimação; e
d) expressão dos interesses de classe ou fração de classe.
Pelo senso comum, a palavra burocracia tem sentido pejorativo. Isso porque ela é comumente 
utilizada para se referir à ineficácia de órgãos públicos em geral, que, pelo excesso de exigências 
de documentos, trava todo o processo de prestação de serviços ao contribuinte. Não é esse o 
significado que se quer empregar aqui.
Em sentido weberiano, o conceito é completamente diverso e mesmo oposto. A burocracia deve 
notabilizar-se pela busca da máxima eficiência das organizações, no caso, os partidos políticos. 
Visando alcançá-la, os partidos devem, portanto, primar pelos critérios de eficiência, planejamento 
e eficácia em suas instâncias administrativas e diretivas.
 
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Imbuídos do objetivo estratégico de conquista do poder do Estado, os partidos, necessariamente, 
como afirmamos, têm que apresentar uma rígida estrutura burocrática, que se constitui na relação 
entre dirigentes e dirigidos. Nesse sentido, só é possível ousar a conquista do poder estatal se 
elementos políticos como programa partidário, coerência para com este e fidelidade aos ideais ali 
estabelecidos forem compromissos de todos os integrantes.
Cabe lembrar que, para que a “máquina” partidária funcione, os partidos políticos precisam de 
enormes quantias de dinheiro para o financiamento das campanhas eleitorais. Por último, mas não 
menos importante, o elemento disciplina interna também deve ser considerado. Dessa forma, a 
burocracia, como controle das ações, torna-se novamente fundamental.
Em sistemas democráticos nos quais os eleitores são “convidados” a escolher seus representantes 
(democracia representativa), é fundamental que os partidos políticos possuam uma boa “base 
popular”. Afinal, será ela que garantirá os votos necessários ao projeto partidário. É nesse contexto 
que a ideologia partidária tem papel essencial.
Se tomarmos o conceito ideologia em seu sentido “menor”, trata-se do discurso que articula as 
propostas dos partidos. Por outro lado, em seu sentido “forte”, na definição marxista, a ideologia 
integra a superestrutura e visa “maquiar” as contradições sociais. Dessa maneira, a maioria dos 
partidos, visando somente à chegada ao poder, produzem discursos ideologizados, isto é, construídos 
dando a entender que atendem às demandas de suas respectivas bases. Entretanto, na prática 
política posterior à eleição, ocupam-se, por exemplo, fr atender aos interesses de seus financiadores 
de campanha (SAMUELS, 2003, apud BENEVIDES; VANUCCHI; KERCHE, 2003).
Depreende-se então, acerca do teor ideológico (em “sentido forte”), que os partidos se mostram 
muito mais preocupados em, a partir da capacidade maior ou menor de influenciar suas bases e 
a sociedade em geral, garantir

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