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BIOETICA ⚫ A Bioética é um ramo da ética que estuda os conflitos, controvérsias, pesquisas e práticas que visam esclarecer e resolver questões éticas dentro da medicina e da biologia. O seu surgimento foi baseado no impacto, por exemplo, das experiências feitas em seres humanos e animais e a utilização de técnicas desumanas como a clonagem. ⚫ Esse tema ganhou maior destaque quando os cientistas decifraram o código genético humano, considerando a responsabilidade dos cientistas com relação as suas pesquisas e práticas. ⚫ Os temas mais polêmicos dentro dessa área são a eutanásia, os testes em animais, o aborto, a fertilização in vitro e a clonagem. A Bioética, não é uma metafísica, mas é um conhecimento pragmático e processual resultante de quase todas as áreas científicas. O seu estudo e aprofundamento podem trazer benefícios inestimáveis, salvar e prolongar vidas humanas. Em contrapartida, ela precisa ser tratada e estudada com responsabilidade, porque tanto pode trazer aplicações vitoriosas, como também pode produzir resultados ambíguos e perigosos. “ética" para a intenção da vida boa realizada sob o signo das ações estimadas boas, e o termo “moral" para o lado obrigatório, marca- do por normas, obrigações, interdições caracterizadas ao mesmo tempo por uma exigência de universalidade e por um efeito de constrição. A Ética, como Filosofia moral, serve para fundamentar ou justificar a forma de comportamento moral. A moral diz sobre o modo de comportar-se do ser humano, que, por natureza, é histórico, ele é um ser de liberdade e responsabilidade ética. É um ser que não nasce perfeito, tem como característica produzir-se e aperfeiçoar-se mediante suas ações. O ser humano vive como uma pessoa quando é senhor de si mesmo; sem liberdade de escolha lhe é impossível a responsabilidade ética. A moral está presente em toda coletividade na forma de regulamento do comportamento social, ela tem uma dimensão social, mas essa realidade não para no binômio homem/sociedade; o ser humano tem interesses pessoais além dos coletivos. A moral, nesse sentido, deve estar baseada na responsabilidade pessoal. A Bioética emerge no contexto científico como uma reflexão sobre tudo o que interfira no respeito à qualidade e dignidade da vida, representando o resgate da ética, da condição plena de cidadania e do respeito às diferenças. Bioética como nova ciência ética que combina humildade, responsabilidade e uma competência interdisciplinar, intercultural, que potencializa o senso de humanidade. Humildade é a consequência apropriada que segue a afirmação "posso estar errado" e exige responsabilidade de aprender com as experiências e conhecimentos disponíveis. “A humildade seria necessária como um antídoto para a ruidosa arrogância tecnológica atual”. (Hans Jonas Ética, medicina e técnica. Lisboa: Vega Passagens, 1994:65). Egoísmo Eu Outro Altruísmo Eu Outro Solidariedade Eu Outro Bioética é a reflexão sobre a adequação ou inadequação de ações envolvidas com a vida. Competência Científica Conhecimento Tecnologia Técnica Competência Humanista Sabedoria Confiança Ética Tecnociência ✓Fonte de complicados dilemas éticos, geradores de angústia, ambivalência e incertezas. ✓ A modernidade nos fez acreditar que a tecnologia tornaria mais feliz a nossa vida e menos penosa a nossa morte. Fatores que contribuíram para o surgimento da bioética: ✓ Tecnicização das formas de vida; ✓ Hegemonia da razão instrumental; ✓ Avanço material vertiginoso; ✓ Novo modelo de civilização; ✓ Isolamento do homem moderno; ✓ Individualismo burguês. Tal cenário suscitou a necessidade de: Mudança dos valores sociais Negação dos avanços desordenados da ciência Repensar a insuficiência da ética médica para resolver os problemas postos pela democratização dos saberes, pelo pluralismo dos valores e pela secularização dos costumes Garantir os espaços de manifestação da liberdade; Conter a ação desordenada do homem sobre o meio ambiente; Criticar o predomínio do modelo instrumental nas ciências da vida; Respeito à vida e aos direitos humanos Negar o modo de vida mecanicista e a despersonalização do indivíduo no mundo sistêmico. A bioética, enquanto disciplina ou campo de reflexão sistemático sobre a relação ciência- consciência, surge em 1970 com a obra Bioethics: bridge to the Future de Van Rensselaer Potter. 1º momento: reflexão aplicada às ciências da vida. 2º momento: disciplina, domínio, campo de discussão. Hoje A bioética é um universo multidisciplinar Dimensão pluralista, aberta, multifacetada Bioética Ponte entre o saber científico e o saber humanista; Reflexão sobre o dever-ser em ciência; Fruto da evolução do saber e das novas concepções geradas pela biologia, sociologia, medicina, teologia, direito, filosofia... OBJETIVO Humanizar o progresso científico e a visão técnico- instrumental que os indivíduos têm do mundo, uma vez a o uso inapropriado da ciência pode conduzir a uma desumanização do homem. A bioética possui um caráter especulativo (crítico- questionador) e normativo-prescritivo (visa a elaboração de normas e critérios para resolver problemas específicos). Princípios da Bioética Alguns autores não distinguem estes dois princípios, mas há diferença em fazer o bem e evitar fazer o mal Evitar submeter o paciente a intervenções cujo sofrimento resultante seja muito maior do que o benefício eventualmente conseguido. Evitar intervenções que determinem desrespeito à dignidade do paciente como pessoa. Os princípios da bioética O princípio da autonomia, frente ao paciente terminal, está secundariamente situado em relação à beneficência e à não-maleficência. Estes pacientes apresentam algumas peculiaridades em relação à aplicação deste princípio. Alguns estudos demonstraram que no máximo 23% desses pacientes, devido ao grave comprometimento de sua doença, apresentam condições de sensório adequadas para realizar a opção. O exercício do princípio da autonomia na situação do paciente terminal, em razão da dificuldade e abrangência de tal decisão, mesmo para aqueles que não estejam emocionalmente envolvidos, deve ocorrer de uma maneira evolutiva e com a velocidade adequada a cada caso. Em nenhum momento, essa decisão deve ser unilateral, muito pelo contrário, ela deve ser consensual da equipe e da família. O princípio da justiça deve ser levado em conta na decisão final, embora não deva prevalecer sobre os princípios da beneficência, da não-maleficência e da autonomia. Se é consenso que um paciente, mesmo em estado crítico, será beneficiado com um determinado tipo de medicação, a despeito de que o produto esteja escasso no hospital, preservam-se os princípios da beneficência e da autonomia sobre os da justiça. Se o paciente está na fase de morte inevitável, e são oferecidos cuidados desproporcionais, estaremos utilizando recursos que poderiam ser aplicados em outros pacientes. Questões fundamentais da bioética Inseminação artificial/fecundação in vitro / Clonagem / manipulação genética/ experimento com embriões; A intervenção sobre o cérebro e a manipulação da personalidade; A questão da identidade dos indivíduos/ o eugenismo e o ideal de perfeição humano; O aborto, a eutanásia e a questão acerca do direito de viver e morrer; A relação entre profissionais de saúde e enfermos/ a mercantilização da medicina; A relação entre poder-saber-dever/ o surgimento do homem maquinal; O respeito à dignidade humana e as populações excluídas pelo modelo de civilização ocidental. ✓ A bioética é a expressão teórico-prática da consciência moral de um novo tipo de homem no seio de uma nova civilização; ✓ Os problemas morais não encontram respostas no seio da cultura científica em que nascem; ✓ A essência do bem escapa a toda definição científica. A bioética revela: O conflito entre naturezae cultura; O fato de que nem tudo que é cientificamente possível é humanamente desejável; Que não existem valores universais ou fórmulas acabadas capazes de resolver todos os dilemas referentes à relação conhecimento- liberdade-responsabilidade. Porém, deve-se reconhecer que: Não se pode eliminar da consciência da humanidade o desejo de progresso e crescimento materiais A razão instrumental, não obstante os malefícios causados pelo seu mau emprego, é imprescindível às sociedades humanas modernas. A dinâmica do progresso científico é irrefreável. Impasses e incertezas Mudança do genótipo → repercussões psico- somáticas e espirituais; Problemas referentes ao modo de estruturação da personalidade (crise de identidade); A reprodução humana tende a tornar-se uma questão de zootecnia; A era do artifício, do in vitro. Triagem genética de embriões (fascínio/fascismo do belo); A questão da purificação étnica; Nem todo direito de escolha é saudável; O controle da natureza e de seus acidentes; O conhecimento mortífero do ser humano; A ação desmesurada da potência tecnocientífica. Bioética e direitos humanos O que é a verdade em matéria de ciência e tratamento? Certas verdades científicas podem se sobrepor às verdades sociais e culturais? É moralmente correto obrigar uma pessoa a seguir um tratamento que lhe pode salvar a vida? Qual a fronteira entre a obrigação profissional e o direito do indivíduo de escolher o pior para si mesmo? A vida humana deve ser preservada independentemente de sua qualidade? Temos o direito de escolher o modo de morrer? Pode o desejo de morrer ser excluído do projeto humano de viver? É lícito adiar o morrer prolongando o sofrer? Vale a pena prolongar a vida física de quem já perdeu a dignidade de viver? A Bioetica possui principios...... ⚫ Princípio da Beneficência: consiste em assegurar o bem estar dos indivíduos, afim de evitar danos e garantindo que sejam supridas suas necessidades e interesses. ⚫ Princípio da Autonomia: o profissional deve respeitar as crenças, a vontade e valores morais do sujeito e do paciente. ⚫ Princípio da Justiça: igualdade da repartição dos benefícios e bens em qualquer área da ciência. Princípio da Não Maleficência: assegura a possibilidade mínima ou inexistente de danos físicos aos sujeitos da pesquisa (pacientes) de ordem psíquica, moral, intelectual, espiritual, cultural e social. Princípio da Proporcionalidade: defende o equilíbrio entre os benefícios e os riscos, sendo maior benefício às pessoas. O objetivo de estudo da bioética é a criação de uma ponte entre o conhecimento científico e humanístico, a fim de evitar os impactos negativos sobre a vida Há um leque para tentar dividir, classificar e descrever as fronteiras dos diversos campos do conhecimento da Bioética com relação aos demais campos do conhecimento. A Bioética e as fronteiras com a Teologia. Os teólogos estão fundamentados na sua fé, que é algo íntimo, interior, e os cientistas estão embasados no empirismo positivista; ambos, convencidos da posse da verdade, assumiram, durante séculos, uma postura rígida, excludente e antagônica. Precisamos destacar que os cientistas, em geral, acreditam demasiadamente na potencialidade da ciência: como se ela pudesse trazer as soluções mais variadas e avançadas, na tentativa de superar problemas e limites até hoje existentes e, portanto, apostam todas as suas fichas nesse campo. Em contrapartida, os teólogos têm consciência de que o ser humano não é um ser pronto e acabado, e que ainda não se conhece o seu o pleno desenvolvimento mental e espiritual. Mais do que nunca, há uma percepção e um certo consenso do exagerado expansionismo material, econômico e financeiro e uma extrema pobreza espiritual do homem contemporâneo. Em outras palavras, há, na prática, um enorme descompasso entre o avanço da ciência e da tecnologia, em detrimento dos valores humanos e do crescimento interior. O diálogo entre a ciência e a religião será objeto de estudo e aprofundamento na próxima unidade, contudo, será enfatizado agora também. A Bioética e as fronteiras com a Política. A Ciência Política é a esfera do poder, isto é, do poder de decisão para adotar esse ou aquele caminho a trilhar. As fronteiras entre a Bioética e a Política precisam conter uma constante vigilância e uma análise crítica vigorosa: o avanço da ciência e da tecnologia pode abrir portas e gerar benefícios para toda a sociedade, mas pode, também, trazer e produzir graves abusos e destruições. Nessa direção, as campanhas de vacinação obrigatórias realizadas no Brasil e em outros países do mundo são as responsáveis pelo quase desaparecimento de doenças como varíola, difteria, poliomielite entre outras doenças e epidemias. Em contrapartida, as fábricas e indústrias bélicas, os enormes investimentos em estratégias de guerra, a medicina esteticista e as derrubadas criminosas das florestas estão, todos os dias, exibindo os seus milhões de dólares de lucros escandalosos e imorais. A violação das fronteiras da Bioética e da Política é trágica para a maioria da humanidade, pois os cientistas (que não estão neutros nesse jogo de interesses) produzem teorias, conhecimentos, paradigmas que passam a ser dogmas científicos para pautar e fundamentar sua ação predatória generalizada. Nunca é demais perguntar quais são as políticas públicas, quanto de investimento é feito nos seres humanos e na gestão social e quanto é a fatia orçamentária para a pesquisa tecnológica. É razoável aceitar, por exemplo, a morte de um bebê que não tem cérebro, mas é totalmente inaceitável que morram milhões de crianças no mundo inteiro pelo fato de não possuírem um prato de comida. As fronteiras entre a Bioética e o Direito, no entanto, ainda são muito imprecisas e nebulosas. Nem todas as leis são passíveis de interpretação dúbia ou conflituosa e, em se tratando de problemas novos da Bioética, em que não se estabeleceu uma jurisprudência, torna-se mais difícil um posicionamento. Num primeiro momento, o Direito pode adotar uma atitude silenciosa, isto é, enquanto não pode prever os progressos da ciência e da tecnologia, é razoável uma postura de cautela. A Bioética e as fronteiras geográficas. Segundo Bernard (1993), as fronteiras geográficas, sem dúvida, são fatores preponderantes para se entender os difíceis contornos da Bioética. Cada país, região e seu povo caracterizam- se por possuir língua, costume, tradição, valores próprios que vão imprimir certa solidez organizativa daquele grupo humano específico. Há, hoje, uma riqueza e, ao mesmo tempo, um problema que engloba o multiculturalismo: o pluralismo e a diversidade cultural que geram preconceitos, xenofobia e discriminações profundas e injustas. No Japão, por exemplo, é proibido por lei extrair um órgão de uma pessoa, logo após a constatação da sua morte; os japoneses ricos, porém, atravessam o Oceano Pacífico para efetuarem, em São Francisco, um transplante de fígado ou de coração Há, atualmente, uma tendência no sentido de se criar “Comitês de Ética” nas instituições, nas empresas, nos Estados e em regiões estratégicas que deverão discutir, elaborar e divulgar, pela mídia, suas decisões e posicionamentos, tentando aproximar as pessoas das organizações jurídicas e civis, buscando sempre ações mais convergentes. MORAL Vásquez (2007, p. 19) diz que os problemas éticos se caracterizam por sua generalidade e se diferenciam dos problemas morais da vida cotidiana, que são os que têm relação com as situações concretas. A Ética, como Filosofia moral, serve para fundamentar ou justificar a forma de comportamento moral. A moral diz sobre o modo de comportar-se do ser humano, que, por natureza, é histórico, ele é um ser de liberdade e responsabilidade ética. É um ser que não nasce perfeito, tem comocaracterística produzir-se e aperfeiçoar-se mediante suas ações. O ser humano vive como uma pessoa quando é senhor de si mesmo; sem liberdade de escolha lhe é impossível a responsabilidade ética. A moral está presente em toda coletividade na forma de regulamento do comportamento social, ela tem uma dimensão social, mas essa realidade não para no binômio homem/sociedade; o ser humano tem interesses pessoais além dos coletivos. A moral, nesse sentido, deve estar baseada na responsabilidade pessoal. As normas impõem um comportamento moral e esses atos devem estar em consonância com elas. Também devemos considerar que a Ética não cria a moral; ela procura determinar a essência da moral. A Ética é concebida como a ciência da moral. A moral é fundamental para garantir a ordem ou a harmonia da sociedade, ela regulamenta a conduta entre os homens. Os indivíduos que compõem a sociedade aceitam os valores, as normas que a distinguem, e se submetem livremente a eles. As teorias morais são sistematizações de algum conjunto de valores: princípios ou normas, como é o caso da moral cristã, da laicista, moral protestante etc. Ante a pergunta: “qual moral deve ser cultivada?", existem diferentes teorias: egoístas, utilitaristas, as teleológicas ou deontológicas, formalistas etc. Todas as teorias morais partem de uma concepção de homem. Muitas vezes essa concepção é abstrata e a teoria derivada será também abstrata; em outros casos, estará relacionada às ideias de sociedade e em concordância com a História. Contudo, seja qual for a concepção de homem, a humanidade sempre admitirá a obrigatoriedade da moral.