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BIOSSEGURANÇA AULA 3 Profª Sabrina Calado A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula abordaremos um tema de grande preocupação: a infecção dos trabalhadores e a transmissão de patógenos pela manipulação de agentes biológicos. Sendo assim, o primeiro tema abordará a importância da descontaminação nos ambientes de trabalho, seguida pela limpeza, desinfecção e esterilização. No segunda e terceiro tema discutiremos sobre os resíduos sólidos urbanos e hospitalares, abordando um pouco sobre a legislação e o manejo correto de descarte desses resíduos. No Tema 4 discutiremos os possíveis acidentes no ambiente de trabalho e as doenças ocupacionais comuns hoje em dia. Para finalizar, o Tema 5 será sobre as medidas de emergência em laboratórios. TEMA 1 – DESCONTAMINAÇÃO EM SERVIÇOS AMBIENTAIS E DA SAÚDE Um dos problemas que enfrentamos nos diferentes meios de trabalho da área ambiental e principalmente da área da saúde é a transmissão de agentes biológicos ou mesmo patógenos, os quais, além de contaminar os trabalhadores, podem ser levados para outros ambientes e contaminar outras pessoas. Sendo assim, trabalhadores desses setores que manipulam agentes infecciosos, assim como os materias utilizados nesses ambientes, podem agir como vetores na transmissão de doenças. A descontaminação se relaciona à prática de tornar um material, instrumento ou superfície seguro para manipulação e uso. Para isso, é necessário saber quais agentes químicos e físicos levarão a uma completa descontaminação, a depender de alguns fatores: i) natureza dos agentes biológicos; ii) carga microbiana; iii) concentração das susbtâncias químicas; iv) tempo; v) fatores físicos e químicos (temperatura, pH); vi) presença de matéria orgânica; vii) natureza da superfície a ser descontaminada. A descontaminação correta dos materiais e a higiene pessoal são essenciais para evitar as transmissões de agentes biológicos. Para evitar tais problemas, é necessário seguir as boas práticas de limpeza, desinfecção e esterelização nesses ambientes. A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 3 1.1 Limpeza A limpeza do ambiente de trabalho e a higienização das mãos (como já vimos) são a primeira linha de descontaminação, o conjunto de ações para remover sujeiras, com a finalidade de manter os ambientes ou materiais limpos. São ações simples, que podem ser realizadas com a fricção de água e sabão, utilizando esponja, escovas ou panos. Além disso, alguns equipamentos de lavagem de instrumentos também podem ser utilizados, como as máquinas de ultrassom. 1.2 Desinfecção A desinfecção é um dos métodos de descontaminação que devem ser realizados em ambientes expostos a agentes biológicos. Note que alguns agentes na forma de esporos não são eliminados com a desinfecção e, por isso, outro método deve ser utilizado também. A desinfecção pode ser feita com duas diferentes metodologias: desinfecção física e química. Desinfecção física: exposição de matérias e ambientes a agentes físicos, como: temperatura (calor); pressão; radiação; e sistemas automatizados (lavadoras termocicladoras). A desinfecção física, além de ser uma metodologia eficiente para eliminar diferentes agentes biológicos, também tem suas vantagens: não é tóxica, tem baixo risco e baixo custo operacional; Desinfecção química: devido à forma e resistência de alguns agentes biológicos, apenas a desinfecção física não é suficiente para eliminá-los. Sendo assim, é necessário usar a desinfecção química. Para isso, podemos utilizar diversos agentes químicos, e a escolha deles irá depender do tipo de contaminação com que estamos trabalhando. Alguns agentes que podemos utilizar são: álcool; clorexidina; cloro; formaldeído; peróxido de hidrogênio; glutaraldeído; ácido peracético; ortoftalaldeído. É necessário lembrar que, para a desinfecção química, muitos cuidados devem ser tomados, devido à toxicidade dos agentes e ao risco operacional. É necessário sempre utilizar EPIs e EPCs adequados, conhecer a natureza da substância química, além de estar atento às especificações do produto, como as A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 4 restrições de uso e o princípio ativo. Escolha agentes químicos de fácil descarte e com tratamento de resíduos eficaz para preservar o meio ambiente. 1.3 Esterilização A esterilização é um processo de descontaminação com a função de eliminar todos os agentes biológicos. Geralmente é utilizada para agentes mais resistentes, que não são eliminados com as outras formas. Pode ser aplicada com agentes físicos e químicos. Três diferentes métodos de esterilização podem ser empregados: por calor seco, por vapor e com agentes químicos. A mais utilizada, devido à eficácia, rapidez e segurança operacional, é a esterilização a vapor, com o uso de autoclaves. Assim como em todos os métodos de descontaminação, é necessário o uso correto de EPIs e EPCs, além de seguir as boas práticas de laboratório. TEMA 2 – RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E HOSPITALARES Como já discutimos, o aumento populacional e as atividades humanas modernas contaminam mais os ecossistemas. Uma das fontes dessa contaminação é a produção de resíduos sólidos urbanos (RSU), os quais devem ter um correto destino e tratamento para prevenir tanto a contaminação dos ecossistemas quanto os problemas para a saúde humana. Os resíduos de serviços de saúde (RSS), que também abrangem os resíduos hospitalares, são considerados como RSU, os quais também devem ser corretamente destinados e tratados. Além disso, esse tipo de resíduo precisa de atenção diferenciada, devido à presença de diversos agentes infecciosos e à quantidade de fármacos presentes, como as antibióticos. Em relação aos RSS, os quais abordaremos futuramente, o Brasil conta com legislações sanitárias e ambientais para seu gerenciamento. Podemos citar a Resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa – RDC n. 222/2018) e a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama n. 358, de 29 de abril de 2005). Além do correto descarte e tratamento, a biossegurança tem uma grande preocupação com o profissional que participa desses procedimentos. Sendo assim, todos os processos devem evitar a contaminação de seus envolvidos. A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 5 Para isso, é novamente necessário o segmento das normas e boas práticas de conduta e manejo. TEMA 3 – MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E GERENCIAMENTO DE DESCARTE Os RRS, para um correto manejo e gerenciamento do descarte, são classificados em cinco diferentes categorias, facilitando o procedimento para o profissional e o meio ambiente. Elas estão listadas a seguir: Grupo A: resíduos biológicos. Também são separados em cinco diferentes subgrupos (A1, A2, A3, A4 e A5), de acordo com o tipo de agente biológico. Esses resíduos devem ser embalados em plásticos com identificação de “risco biológico” e tratados de acordo com o subgrupo a que pertencem. Após o tratamento, a maioria pode ser descartada como resíduo comum; Grupo B: resíduos químicos em geral, incluindo fármacos. Se esse resíduo for sólido e não for tratado, deve ser encaminhado para um aterro de resíduos perigosos; se for líquido, deve ser tratado e acondicionado em recipientes com identificação adequada; Grupo C: resíduos radioativos. Devem ser acondicionados em recipientes resistentes, com identificação e símbolo internacional de radiação; Grupo D: resíduos comuns, que não apresentam risco biológico, químico nem radioativo. Podem ser: resíduos da áreaadministrativa, restos de alimento; papel de uso sanitário; entre outros. O acondicionamento desses resíduos deve estar de acordo com os serviços de limpeza urbana; Grupo E: resíduos perfurocortantes. Exemplos: lâminas, lamínulas, agulhas, bisturi, tubos capilares, vidros quebrados no geral, desde que não tenham sido contaminados por resíduos dos grupos anteriores. Para o descarte, devem ser acondicionados em recipientes resistentes e devidamente identificados. 3.1 Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) O PGRSS é um documento que deve ser obrigatoriamente elaborado pelas instituições que geram RSS. Deve ser elaborado de acordo com a legislação sanitária e ambiental vigente federal e estadual. A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 6 Esse documento deve abordar as ações relacionadas ao manejo de resíduos, desde sua geração até a disposição final. Para a elaboração, é necessário seguir algumas etapas: Identificação da instituição; Diagnóstico da situação dos RRS; Definição das etapas de implementação (Figura 1); Avaliação do PGRSS. Figura 1 – Etapas de implementação do PGRSS Fonte: Adaptado de Hirata; Hirata; Mancini Filho, 2012. TEMA 4 – ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS Você viu até agora que os profissionais que trabalham em laboratórios, empresas e indústrias estão expostos a diversos riscos, dentre eles os agentes biológicos, devido a uma possível exposição a acidentes e à aquisição de doenças. Por isso, sempre devemos discutir a importância das boas práticas no trabalho, as quais podem evitar tais acidentes. Porém, mesmo com todas as regras e normas da biossegurança, problemas podem acontecer. Neste tema, A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 7 iremos abordar os principais acidentes e doenças ocupacionais enfrentadas pelos profissionais e as principais maneiras de preveni-las. O acidente de trabalho é qualquer acidente na execução do trabalho ou serviço que resulte em dano ou lesão corporal temporária ou permanente, que cause perda ou redução da capacidade de continuar trabalhando e, em casos extremos, pode levar à morte. Dentre os acidentes de trabalho, podemos destacar: cortes; ingestão de material infeccioso; aquisição de doenças por exposição a agentes biológicos; incêndios; inalação de gases ou contato com produtos químicos. Os principais acidentes de trabalho notificados são com perfurocortantes e atividades que envolvem atendimento hospitalar. A preocupação com esses acidentes é que os trabalhadores podem contrair alguma doença ocupacional, como aids, hepatite B e C e tuberculose. É necessário o acompanhamento sorológico dos profissionais para minimizar problemas à saúde. Todo acidente de trabalho deve ser notificado à Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) (Ministério do Trabalho e Emprego), conforme Lei n. 3.214, de 8 de julho de 1978). Entretanto, nem todos os acidentes são notificados, trazendo uma lacuna no conhecimento clínico geral desses casos. Doenças ocupacionais também podem ser adquiridas ao longo dos anos, trabalhando na mesma função ou mesmo pela exposição contínua a riscos ergonômicos. Para prevenir esses acidentes e doenças, são necessárias várias ações integradas de empregados e empregadores, as quais devem seguir as regras da biossegurança. Quando existe a integração de todos os profissionais do local, com condutas baseadas nas regras de biossegurança, os acidentes são cada vez mais escassos. TEMA 5 – MEDIDAS DE EMERGÊNCIA EM LABORATÓRIOS Como vimos, apesar de todas as práticas de biossegurança e treinamento, acidentes podem acontecer. Muitas vezes, quando ocorrem, medidas de emergência precisam ser tomadas para evitar sérios danos aos profissionais. Neste tema, iremos abordar algumas medidas de emergência em laboratórios: A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 8 Ferimentos: a pessoa acidentada deve retirar os EPIs, lavar as mãos e a área afetada, consultar um médico e notificar a causa do acidente e os agentes biológicos que podem estar presentes; Ingestão de material infeccioso: a pessoa acidentada deve consultar um médico, notificar a causa do acidente e a natureza do material infeccioso. Cada tipo de material ingerido terá um procedimento diferenciado; Aerossóis: se aerossóis se formarem fora da câmara de segurança, todos devem evacuar a área, e quem for exposto deve consultar um médico. A entrada na área impactada só pode ser feita após a completa regularização. Até esse momento, avisos de “entrada proibida” devem ser colocados; Tubos quebrados e derramamento de material infeccioso: panos ou papel absorvente devem ser colocados em cima dos materiais e regados com desinfetante por tempo determinado, de acordo com a substância em questão. Depois, os materiais devem ser removidos, e os pedaços de vidro, retirados com pinça. Os resíduos devem ser colocados em local adequado, e os materiais utilizados devem ser esterilizados. Dependendo do tipo de substância derramada, é necessário chamar a equipe de segurança, evacuar a área e ligar a exaustão; Derramamento de substâncias tóxicas e/ou inflamáveis no profissional: usar o chuveiro de emergência e retirar as roupas que estiverem com a substância. Lavar a área afetada por 15 minutos ou enquanto houver dor ou ardência. Se a substância atingir os olhos, lave- os por 15 minutos e consulte um médico; Incêndios: é necessário ter sempre um serviço de socorros e treinamento dos profissionais para evacuar a área de laboratório. O alarme de incêndio deve ser ligado, a chave de eletricidade deve ser desligada, e o corpo de bombeiros deve ser acionado. É necessário ter sempre contatos de emergência de fácil acesso, como: da instituição, de hospitais, bombeiros, polícia, médicos; além de serviços de água, gás e eletricidade. A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 9 NA PRÁTICA Vimos aqui que é de extrema necessidade o gerenciamento e manejo de resíduos sólidos, principalmente os que são gerados pelos serviços de saúde. Porém, nem todas as instituições contam com uma estrutura correta, podendo contaminar ecossistemas e causar problemas futuros de saúde pública. Quando esses resíduos, tanto sólidos quanto líquidos, não são corretamente descartados, podem chegar aos aterros sanitários ou mesmo em estações de tratamento convencional, as quais não conseguem lidar com diversas substâncias presentes neles. Um exemplo é a presença de diferentes fármacos, como os antibióticos. O tratamento convencional não consegue remover esses fármacos, podendo chegar ao meio ambiente e causar efeitos deletérios. Essas substâncias são chamadas de “contaminantes emergentes”, e hoje em dia se fala muito neles, como os antimicrobianos nas águas dos rios e até mesmo na água de consumo humano. Estudos já mostram a possibilidade de efeitos tóxicos para a saúde ambiental, além do problema da resistência microbiana nesses ambientes, podendo resultar em um problema para a saúde pública. Saiba mais Para mais informações sobre os contaminantes emergentes, assista ao vídeo “Perspectiva: contaminantes emergentes” e compreenda um pouco mais sobre o problema dessas substâncias para o meio ambiente e para a saúde humana. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=YmXuVKBltWk>. Acesso em: 29 out. 2019. A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 10 FINALIZANDO Nesta aula discutimos primeiramente a importância da descontaminação de materiais e dos ambientes de trabalho para evitar a transmissão de agentesbiológicos. Além disso, abordamos o manejo e gerenciamento de resíduos urbanos e de serviços de saúde, os quais, se não tiverem uma boa conduta, podem contaminar os profissionais e o meio ambiente. Para fechar este encontro, também falamos um pouco sobre acidentes de trabalho, doenças ocupacionais e medidas de emergência em laboratório. Também vimos a importância das boas práticas de biossegurança, as quais podem evitar problemas futuros e trazer o bem-estar dos profissionais. A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 11 REFERÊNCIAS ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC n. 222/2018 comentada. Brasília, DF: Anvisa, 2018. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33852/271855/RDC+222+de+Mar%C3% A7o+de+2018+COMENTADA/edd85795-17a2-4e1e-99ac-df6bad1e00ce>. Acesso em: 29 out. 2019. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Portaria n. 3.214, de 8 de julho de 1978. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 jul. 1978. Disponível em: <https://www.natal.rn.gov.br/sms/covisa/nucleos/medicamentos/Drogaria/Portar ia%203214.pdf>. Acesso em: 29 out. 2019. BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução Conama n. 358, de 29 de abril de 2005. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 maio 2005. Disponível em: <http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=46 2>. Acesso em: 29 out. 2019. CARVALHO, P. R. Boas práticas químicas em biossegurança. Rio de Janeiro: Interciência, 2013. HIRATA, M. H.; HIRATA, R. D. C.; MANCINI FILHO, J. Manual de biossegurança. Barueri: Manole, 2012. OMS – Organização Mundial da Saúde. Manual de segurança biológica em laboratório. 3. ed. Genebra: WHO, 2004. PERSPECTIVAS – Contaminantes emergentes. Unifesp – Universidade Federal de São Paulo, 19 jan. 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=YmXuVKBltWk>. Acesso em: 29 out. 2019. A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com
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