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93 4.2 INTRODUÇÃO Como estamos falando de processos diferenciados de educar, em virtude das exigências técnicas dos AVAs, e estes estão orien- tados para o atendimento às novas demandas sociais, é preciso, em primeiro lugar, identificarmos o contexto político, econômi- co e social em que estamos vivendo, como forma de estabelecer uma “base” referencial para a análise que se segue. É ponto pacífico entre os educadores que vivemos uma época (Modernidade) de profundas transformações sociais, em todos os níveis da nossa existência. Porém, apenas afirmarmos isso não nos dá condições de “enxergarmos” realmente o que de fato acontece à nossa volta, que é determinante para o desen- volvimento da nossa personalidade, para a definição de políticas públicas e para a “alimentação” do nosso patrimônio simbólico. Identifiquemos, pois, os elementos essenciais das trans- formações citadas: a) Os avanços tecnológicos – sem dúvida, após a II Guerra Mundial, a humanidade experimentou (e tem experimentado) um crescimento no campo da ciência e tecnologia que não encontra precedentes em nenhum momento anterior da sua história. A velocidade com que os conhecimentos estão atu- alizando-se, modificando e mesmo mudando, é vertiginosa, o que exige grande adaptabilidade do Homem às tecnologias, que surgem a cada período. É óbvio que devemos ter uma res- posta a essa “característica” da atualidade, no campo teórico- -metodológico da Educação. PROCESSOS DE ENSINAR E APRENDER NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 94 A título de curiosidade histórica - Marx definiu a modernidade em uma frase antológica que resume qualquer ex- planação sobre a sociedade contemporânea: “Tudo que é sólido desmancha no ar.” Reflita sobre isso!!! b) Reestruturação dos sistemas de produção – é comum ouvir- mos, no campo da produção, que o trabalhador de hoje deve ser “flexível” e “polivalente”, o que significa que os processos de ensinar e aprender devem assimilar o desenvolvimento, nos educandos, de novas habilidades cognitivas e novas competên- cias sociais e pessoais. Isto exige adequações de ordem meto- dológica, para os processos educacionais. Afinal, ainda persiste, nos meios acadêmicos, políticos e econômicos, a ideia de que as finalidades da escola devem estar compatíveis com os interesses do mercado. (Será esse o papel exclusivo da escola?) c) O papel do Estado – tema sempre atual – e, curiosamente, ainda não resolvido – o papel do Estado sempre é objeto de controvérsias entre convicções ideológicas antagônicas. A histó- ria político-econômica da humanidade, principalmente a partir do século XX, encontra sempre este embate entre concepções privatistas (liberais) de um lado e, do outro, posições estatizantes ou que defendem uma participação maior do Estado nas deci- sões que interessam à sociedade. Belo embate teórico-político que tende a manter-se indefinidamente, se não adotarmos posi- ções claras e decisivas sobre o assunto. d) Modificações no sistema financeiro – novos atores econô- micos entrando em cena, crises econômicas cíclicas, a inserção de países em desenvolvimento (caso do Brasil) e outras afins, provocam modificações profundas nas relações econômicas internacionais; consequentemente redimensionando as rela- ções entre os países, redesenhando o mapa político das rela- ções internacionais. e) Modificações na organização do trabalho – a variabilidade 95 nas formas de trabalho, tanto em termos de novas atividades e profissões, como nas novas maneiras de realizar as mesmas tarefas, representa um dos marcos desse período, posto que isso signifique a ampliação de conhecimentos técnicos e científicos, o que vai impactar na elaboração de projetos de formação. For- mar em quê? Quem formar? Ao conjunto dos itens acima citados corresponde uma gama de fatores econômicos, sociais, políticos e culturais que expressam o espírito da época: processo de integração e de re- estruturação capitalista. O que também pode ser denominado como “Globalização”. É o caso de perguntarmo-nos: como esse conjunto de fatores pode afetar os processos educacionais? Além dos elementos citados anteriormente – a bus- ca de um trabalhador flexível e polivalente, que exige novas habilidades cognitivas e competências sociais e pessoais e as finalidades da escola compatíveis com os interesses do merca- do – podemos encontrar pelo menos mais três aspectos que estão na origem do ato de ensinar e aprender: ocorrem mo- dificações nos objetivos e nas finalidades das instituições de ensino, de acordo com a sua orientação político-pedagógica; as práticas “escolares” precisam ser revistas à luz do desen- volvimento tecnológico das Tecnologias da Informação e da Comunicação; e, por fim, o professor mesmo precisa rever – urgentemente – a sua prática docente, para adequar-se às no- vas demandas socioeconômicas do grupo a que pertence. Porque, nesse “novo” contexto: a) os espaços de aprendizagem são enormemente ampliados (principalmente se considerarmos os “espaços digitais” do mundo virtual) e b) a escola (academia) já não é o único meio de socialização dos conhecimentos técnico-científicos e de desenvolvimento de habilidades cognitivas e de competências sociais requeridas 96 para a vida prática. Nesse sentido, identificamos uma busca dos profissio- nais que atuam na área, no sentido de estabelecer parâmetros de “comportamento educacional” para professores e alunos, com o objetivo de maximizar e qualificar os processos de en- sino e de aprendizagem. BELLONI (2009), por exemplo, a respeito do “novo papel” do professor nesse contexto, afirma categoricamente: Em EaD como na aprendizagem aberta e autônoma da Educa- ção do futuro, o professor deverá tornar-se parceiro dos estudantes no processo de construção do conhecimento, isto é, em atividades de pesquisa e na busca da inovação pedagógica. É justamente esta mudança radical no enfoque do processo educativo – do profes- sor para o aprendente, do ensino para a aprendizagem – que precisa ser conscientizada e estudada de modo a tornar possível a criação de novos métodos para o trabalho docente, de práticas inovadoras, mais apropriadas às características dos aprendentes e às mudanças sociais, e, portanto, mais efetivos. (pág. 81) Para refletir: Será que a Educação a Distância exige uma metodologia diferenciada em relação à Educação presen- cial? Não seria uma questão de fundamentos filosóficos co- muns? (veremos, mais adiante, como responder a essa questão) Observemos o que nos diz BELLONI (op. cit.) a res- peito da “função” do professor em EaD: • Professor formador: orienta o estudo e a aprendizagem, dá apoio psicossocial ao estudante, ensina a pesquisar, a processar a informação e a aprender; corresponde à função propriamente pedagógica do professor no ensino presencial (grifo nosso). • Conceptor e realizador de cursos e materiais: prepara os planos 97 de estudos, currículos e programas; seleciona conteúdos, elabora textos de base para unidades de cursos (disciplinas); esta função – didática – corresponde à função didática, isto é, à transmissão do conhecimento realizada em sala de aula, geralmente através de aulas magistrais, pelo professor do ensino presencial. • Professor pesquisador: pesquisa e atualiza-se em sua disciplina específica, em teorias e metodologias de ensino/aprendizagem, reflete sobre sua prática pedagógica e orienta e participa da pes- quisa de seus alunos. • Professor tutor: orienta o aluno em seus estudos relativos à disciplina pela qual é responsável, esclarece dúvidas e explica questões relativas aos conteúdos da disciplina; em geral partici- pa das atividades de avaliação. • Tecnólogo educacional: [...] é responsável pela organização pe- dagógica dos conteúdos e por sua adequação aos suportes téc- nicos a serem utilizados na produção dos materiais; sua função é assegurar a qualidade pedagógica e comunicacional dos mate- riais de curso, e sua tarefa mais difícil é assegurar a integração das equipes pedagógicas e técnicas(pág. 83). Como afirma a própria autora, a lista de funções não é “exaustiva e muito menos definitiva”, posto que, além de ser uma atuação bastante recente no mercado educacional, as suas funções ainda estão em fase de “desenho”, pelas circunstâncias históricas que engendraram a modalidade. O que significa que você, caro aluno, pode incluir novas atuações nessa lista, atuali- zando-a, conforme as demandas do seu contexto social. Importa reiterar, aqui, que as funções do professor em EaD acima apontadas, de forma genérica, sintetizam, com mui- ta propriedade, aquilo que se espera dos novos ingressantes. Quanto aos alunos da modalidade, pode-se perceber claramente que a sua postura não poderá ser de um receptor passivo, meramente “respondedor” das questões levantadas 98 pelo professor, conforme o ensino clássico que tem caracteriza- do a Educação presencial. O aluno, nesse contexto, exercerá uma função de pes- quisador e produtor de conhecimento e deverá utilizar-se de um elemento que será, provavelmente, o maior desafio para o seu exercício: dedicar-se ao autoestudo, ou seja, será o grande res- ponsável pela regularidade do processo, pelo acesso aos ambien- tes virtuais de aprendizagem, pelo encaminhamento das tarefas solicitadas e pelo contato com o professor, em caso de dúvidas sobre os assuntos pesquisados. Por isso mesmo, reconhece-se a “função psicossocial” do professor, sugerida por BELLONI, uma vez que a retroali- mentação realizada pelo professor é que manterá os altos níveis de motivação do aluno, o que garantirá o sucesso das disciplinas e, consequentemente, do curso. Mesmo assim, com as funções de professor e aluno devidamente estabelecidas e compreendi- das; com as questões estruturais dos cursos amplamente deline- adas, ainda existe uma lacuna, a nosso ver, que deverá ser preen- chida, nesta Unidade Temática, que é de ordem epistemológica. Trata-se do conceito de Metodologia à luz da Filosofia, para que possamos entender o “Método” não apenas no seu sentido estrutural-funcionalista, porém, na sua acepção verda- deiramente histórico-etimológica. Só aí, “fecharemos” a disci- plina com uma reflexão incisiva sobre este tema que, reiteramos, tem sido relegado a plano secundário nos bancos acadêmicos, causando grande perda aos processos educacionais, porque os circunscreve aos limites do ativismo pedagógico e da moderni- zação da base tecnológica. Passemos, portanto, à próxima seção, para tentarmos uma “aproximação” do Método como fundamento epistemoló- gico de análise da realidade.
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