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LIVRO DE DIREITO PENAL IV MARCADO

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DANIELA DE OLIVEIRA DUQUE-ESTRADA DE LA PEÑA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2017
DIREITO PENAL IV
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Autor do original daniela de oliveira duque-estrada de la peña
Projeto editorial roberto paes
Coordenação de produção gisele lima, paula r. de a. machado e aline karina rabello 
Projeto gráfico paulo vitor bastos
Diagramação rafael moraes
Revisão linguística izabel moreno
Revisão de conteúdo bianca garcia neri
Imagem de capa jiri hera | shutterstock.com
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida 
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em 
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
 L311d La Peña, Daniela de Oliveira Duque-Estrada de
 Direito penal IV / Daniela de Oliveira Duque-Estrada de
 La Peña.
 Rio de Janeiro : SESES, 2017.
 232 p.
 ISBN: 978-85-5548-490-2.
 1. Crimes. 2. Administração pública. 3. Legislação penal especial. 
 4. Organização criminosa. I. SESES. II. Estácio
 CDD 345 
Sumário
Prefácio 9
1. Crimes contra a administração pública 11
Introdução 12
Conteúdo 12
Considerações gerais 12
Bem jurídico tutelado. Conceitos de Administração Pública e 
funcionário público para o Direito Penal 14
Distinção entre crimes funcionais próprios e impróprios 15
Conceitos de funcionário público e funcionário público por 
equiparação, previstos no Código Penal 16
A aplicação do princípio da insignificância aos crimes contra 
a Administração Pública 17
Crimes em espécie 18
Dos crimes praticados por funcionário público contra a 
administração em geral 18
Peculato – Art. 312 do Código Penal 18
Concussão 25
Corrupção passiva 28
Facilitação de contrabando ou descaminho – 
Art. 318 do Código Penal 34
Prevaricação – Art.319 do Código Penal 36
Condescendência criminosa – Art. 320 do Código Penal 39
Advocacia administrativa – Art. 321 do Código Penal 40
Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado – 
Art. 324 do Código Penal 42
Causas de aumento de pena aos crimes praticados por 
funcionário público 43
Dos crimes contra a Administração Pública praticados por particular 43
Usurpação de função pública – Art. 328 do Código Penal 43
Resistência – Art. 329 do Código Penal 45
Desobediência – Art. 330 do Código Penal 47
Desacato – Art. 331 do Código Penal 48
Tráfico de influência – Art. 332 do Código Penal 50
Corrupção Ativa – Art. 333 do Código Penal 52
Contrabando e descaminho – Arts. 334 e 334-A do Código Penal 54
Dos Crimes contra a Administração da Justiça 57
Denunciação caluniosa – Art. 339 do Código Penal 57
Comunicação falsa de crime ou contravenção – 
Art. 340 do Código Penal 58
Autoacusação falsa – Art. 341 do Código Penal 59
Falso testemunho ou falsa perícia – Art. 342 do Código Penal 60
Sujeitos do delito 60
Exercício arbitrário das próprias razões – Art. 345 do Código Penal 62
Fraude processual – Art. 347 do Código Penal 63
Favorecimento pessoal – Art. 348 do Código Penal 65
Favorecimento Real – Art. 349 do Código Penal 67
Exploração de prestígio – Art. 357 do Código Penal 69
Desobediência a decisão judicial sobre perda ou 
suspensão de direito – Art. 359 do Código Penal 70
2. Crimes hediondos e equiparados. 
Política criminal de drogas 77
Introdução 78
Conteúdo 78
Considerações gerais 78
A Lei de Crimes Hediondos – Lei nº 8.072/1990 79
Crimes hediondos: assento constitucional e momento histórico 79
Critérios de tipificação de crimes hediondos e equiparados 
pelo legislador infraconstitucional 80
A Lei nº 8072/1990 e seu controle de constitucionalidade 80
O rol de crimes hediondos 86
Os delitos de homicídio qualificado e o homicídio praticado 
em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido 
por um só agente 86
O delito de latrocínio 88
Os delitos de extorsão qualificado pelo resultado morte e 
extorsão mediante sequestro 89
Os delitos de estupro e estupro de vulnerável 90
O delito de epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º) 91
Os delitos de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração 
de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais 
(art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B, CP) 91
O delito de favorecimento da prostituição ou de outra forma 
de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável 
(art. 218-B, caput, e § 1º e 2º) 91
Crimes equiparados a hediondos. Crime de tortura 92
Bem jurídico-penal tutelado – art. 5°, III, XLIX e XLIII, da Constituição 
da República de 1988 e o art. 4º da Convenção das 
Nações Unidas contra a Tortura 92
Conceito de tortura: alcance da expressão 
“sofrimento físico e mental” 93
A incidência dos institutos repressores previstos na 
Lei nº 8.072/1990 94
Figuras típicas 94
Consectários penais e processuais 98
A Lei de Drogas. Política criminal de drogas e figuras 
equiparadas a delitos hediondos 99
Lei nº 11.343/2006. Política criminal de drogas 99
Do uso indevido de drogas: atividades de prevenção 102
As condutas típicas 103
Caracterização como norma penal do mandato em branco 105
Distinção entre as condutas de uso indevido de drogas e 
tráfico ilícito de drogas 105
Lei nº. 11.343/2006 – Tráfico de drogas 105
3. Estatuto do desarmamento. 
Organização criminosa. Terrorismo 117
Introdução 118
Estatuto do Desarmamento 118
Considerações iniciais 118
Objetividade jurídica 119
A ADI nº 3.112/DF. Controle de constitucionalidade 120
Política criminal e a criação do Sistema Nacional de Armas 120
As figuras típicas 122
Questões controvertidas 130
Organização criminosa 132
As transformações conceituais sobre “organização criminosa” 132
Requisitos para a caracterização da organização criminosa 133
Crimes por natureza e por extensão 133
Dos crimes em espécie 134
Transnacionalidade do crime organizado 137
Confronto com os delitos de associação criminosa e milícia privada 138
A colaboração premiada 138
Questões controvertidas 140
Terrorismo 141
Considerações gerais 141
Bem jurídico-penal 143
Tentativas de conceito 143
Características do terrorismo 144
Figuras típicas: atos de terrorismo, atos preparatórios, iter criminis 144
Causa de aumento 147
Competência 147
Imprescritibilidade 148
4. Código de trânsito brasileiro. 
Lei maria da penha. Criminalidade ambiental 149
Introdução 150
Código de Trânsito Brasileiro – Lei nº 9.503/1997 150
Considerações gerais 150
Crimes de trânsito 153
Crimes em espécie 156
O instituto do perdão judicial e os delitos de trânsito 166
Os delitos de trânsito e a substituição de penas privativas de 
liberdade por restritivas de direitos. Art. 312-A, CTB. 167
Prisão em flagrante delito no caso de acidentes com vítimas 168
Lei Maria da Penha – Lei nº 11.340/2006 168
Política criminal e violência de gênero: distinção entre violência 
de gênero e violência doméstica 169
Competência para processo e julgamento 171
As medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor 
e as medidas protetivas de urgência à ofendida 172
Criminalidade ambiental – Lei nº 9.605/1998 175
Considerações gerais 175
Características gerais da Lei nº 9.605/98 176
Sujeitos do delito, responsabilidade penal da pessoa jurídica 
e sistema da dupla imputação 177
Principais figuras típicas 178
Circunstâncias atenuantes específicas – 
Art. 14 da Lei nº 9.605/1998 186
Circunstâncias agravantes específicas – 
Art. 15 da Lei nº 9.605/1998 187
A possibilidade de aplicação do SURSIS Penal aos crimes 
ambientais.Art. 16 da Lei nº 9.605/1998 187
Questões processuais penais relevantes 187
5. Crimes econômicos 191
Introdução 192
O Direito Penal Econômico 192
Crimes contra as Ordens Tributária e Econômica e Relações 
de Consumo. Lei nº 80.137/1990 193
Considerações gerais 193
Crimes em espécie: arts. 1º a 3º 200
 Crimes contra as Relações de Consumo 208
Considerações gerais 208
Crimes em espécie 211
Lavagem de Capitais (Lei nº 9.613/1998) 218
Considerações gerais 218
Crimes em espécie 220
Crimes de Colarinho Branco – Lei nº 7.492/1986 222
Considerações gerais. Conceito de instituição financeira 222
Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional 223
Crimes em espécie 224
Ação penal 234
Delação premiada 234
9
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),
Este livro tem por objetos de estudo os crimes contra a Administração Pública 
e a introdução ao estudo da legislação penal especial. Será tema e discussão a 
expansão do Direito Penal e consectário surgimento de novas formas de crimina-
lidade, de novos ramos do Direito Penal e, consequentemente, de novas formas 
de controle social introduzidas pelo processo de desenvolvimento sócio-político, 
econômico e de globalização da sociedade. Com base na premissa de que é essen-
cial o debate, a partir dos temas objeto de maior controvérsia no atual contexto 
social serão selecionadas ao longo do livro as principais figuras típicas afetas aos 
citados crimes em espécie. Para tanto, serão estudados critérios de descrição das 
condutas típicas, fixação de pena em abstrato, em concreto e consequente adoção 
de medidas de política criminal pelo Sistema de Justiça Criminal Brasileira para 
fins de controle social penal.
Desta forma, este livro terá dentre seus objetivos gerais o de fazer com que você(s) 
seja(m) capaz(es) de: (i) reconhecer a relevância do estudo integrado entre as teorias do 
delito, da sanção penal e os crimes em espécie, previstos na Parte Especial do Código 
Penal e na Legislação Penal Especial, e sua necessária subsunção aos princípios cons-
titucionais.; (ii) desenvolver o raciocínio crítico-jurídico acerca dos Crimes contra a 
Administração Pública; (iii) identificar os critérios de seleção dos bens jurídico-penais 
a serem tutelados pela Legislação Penal Especial e as medidas de política criminal ado-
tadas pelo Sistema de Justiça Criminal Brasileira para fins de controle social-penal.
Para tanto, seu estudo terá por objeto os seguintes temas: Crimes contra a 
Administração Pública; Legislação Penal Especial; Lei de Crimes Hediondos e equi-
parados (Lei nº 8.072/1990); Lei de Tortura (Lei nº 9.455/1997); Terrorismo (Lei 
nº 13.260/2016); Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006); Organização Criminosa 
(Lei nº 12.850/2013); Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/2003); Código 
de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/1997); Crimes contra as Ordens Tributária e 
Econômica e Relações de Consumo (Lei nº 80.137/1990 e Lei nº 8.078/1990); 
Lavagem de Capitais (Lei nº 9.613/1998) e Crimes de Colarinho Branco (Lei nº 
7.492/1986); Lei Maria da Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006); e Criminalidade 
Ambiental (Lei nº 9.605/98).
Bons estudos!
Crimes contra a 
administração 
pública
1
capítulo 2 • 12
Crimes contra a administração pública
Introdução
Neste capítulo, você estudará os crimes praticados contra a Administração 
Pública. Para tanto, há uma série de indagações a serem respondidas antes de você 
identificar as principais figuras típicas contra a Administração Pública, tais como 
“Qual é o conceito de Administração Pública para fins penais?” e “Quem pode ser 
considerado funcionário público para fins penais?”. Através da compreensão destes 
conceitos, você poderá identificar o bem jurídico-penal tutelado e os critérios uti-
lizados pelo legislador para fins de tipificação das condutas contra a Administração 
Pública e posteriormente identificar e confrontar as principais figuras típicas.
OBJETIVOS
• Definir Administração Pública para fins penais;
• Definir funcionário público para fins penais;
• Analisar a aplicação dos princípios constitucionais aos crimes contra a Administração Pública;
• Identificar os delitos contra a Administração Pública praticáveis por funcionário público e 
por particular;
• Identificar os crimes contra a Administração da Justiça.
Conteúdo
Considerações gerais
Inicialmente, precisamos conceituar Administração Pública e funcionário pú-
blico para fins penais, pois nestes crimes o Estado tanto figura como sujeito passi-
vo direto – titular do bem jurídico-penal lesionado – quanto indireto, na medida 
em que exerce o controle social penal.
Com relação à definição de Administração Pública para fins penais, podemos 
identificar dois aspectos: de um lado como atividades exercidas pelo Estado e, 
de outro, os órgãos e agentes que realizam as referidas atividades. A distinção 
entre funções típicas e atípicas da administração pública, definidas pelo Direito 
capítulo 2 • 13
Administrativo, bem como os regimes de trabalho celetista ou estatutário entre o 
agente público e o Estado não possuem relevância para o nosso estudo. 
ATENÇÃO
A consecução da atividade administrativa tem por finalidade o bem comum da coletivi-
dade, ou seja, o poder-dever de atuar em prol do interesse público – proteção e efetivação.
CURIOSIDADE
Ainda que não tenha relevância para fins penais, é interessante que você identifique 
algumas definições de Direito Administrativo:
• Em decorrência da divisão de poderes, podemos considerar que incumbe ao Poder 
Executivo, precipuamente, a administração pública, seja federal, estadual, municipal ou 
do Distrito Federal.
• A Administração Pública possui dois aspectos: material e formal. O sentido material ou fun-
cional tem por objeto a atividade exercida, classificada em quatro espécies: serviço público, 
atividade de intervenção, atividade de fomento e polícia administrativa. O sentido material ou 
subjetivo, por sua vez, tem por foco o órgão e agentes que exercem a atividade administrativa.
• A Administração Pública é regida pelos princípios da legalidade, impessoalidade, moralida-
de, publicidade e eficiência. Legalidade, aqui, significa que o agente público somente pode 
atuar de acordo com o que estiver previsto em lei. A impessoalidade denota que a conduta 
do agente público deva ser voltada ao bem comum, independentemente de seus interesses 
pessoais e convicções e, portanto, dotada de finalidade legal. A moralidade pública, por sua 
vez, não se confunde com a noção de moral nas relações de natureza privada e relaciona-se 
à probidade administrativa, ou seja, pautada nas normas, mas também aos valores éticos 
estabelecidos para o bem comum. 
Em relação à publicidade, parte-se da premissa de que se o bem comum é a finalidade 
da atuação administrativa, os atos praticados por ela deverão ser de conhecimento da co-
letividade. Por fim, o princípio da eficiência, que é extremamente controvertido, uma vez que 
estabelece que a conduta do agente público deva ser a mais eficiente possível.
capítulo 2 • 14
Bem jurídico tutelado. Conceitos de Administração Pública e funcionário público 
para o Direito Penal
Quando questionamos os conceitos de Administração Pública, dois deles sur-
gem como relevantes para os nossos estudos: um de natureza constitucional e ad-
ministrativa e outro específico para fins penais. O primeiro diz respeito às funções 
essenciais para o funcionamento do Estado e tem por premissa a divisão de pode-
res e o respeito ao Estado Democrático de Direito. O segundo, específico para fins 
penais, é muito mais abrangente, e de acordo com Luiz Regis Prado, caracteriza-se 
como “toda a atividade funcional do Estado, seja subjetivamente (órgãos instituí-
dos para a concreção de seus fins), seja objetivamente (atividade estatal realizada 
com fins de satisfação do bem comum)” (PRADO: 2010, p. 387 e 388).
Conforme dispõe o art. 37 da CRFB/1988, a Administração Pública é regida 
pelos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidadee eficiên-
cia. Logo, nos delitos contra a Administração Pública, o agente público atuando 
isoladamente ou em unidade de desígnios com pessoas estranhas à Administração 
Pública atua de forma contrária aos referidos princípios e sua conduta pode ser ca-
racterizada como desvio de poder de modo a lesionar a probidade administrativa, 
na medida em que o interesse particular se sobrepõe ao interesse público.
ATENÇÃO
Questão importante a ser analisada é a possibilidade do concurso de pessoas e conse-
quente comunicabilidade da elementar funcionário público ao particular, quando este concor-
re para a prática do delito contra a Administração Pública. Consoante interpretação do o art. 
30 do Código Penal, podemos concluir que as elementares objetivas ou subjetivas se comu-
nicam desde que o outro agente tenha ciência desta elementar. Lembremos que a elementar 
funcionário público possui natureza subjetiva, pois se refere à condição específica do agente.
Para fins de exemplificação, vejamos algumas narrativas hipotéticas:
Narrativa 1: O agente A, funcionário público de determinada repartição pú-
blica, com o fim de subtrair um notebook da sua seção, decide ir ao prédio no qual 
trabalha na noite de sexta-feira e, aproveitando-se do fato de o vigia o reconhe-
cer, mente informando que irá buscar sua mochila que havia esquecido. Ainda, 
pede a seu cunhado B que o acompanhe com o fim de auxiliá-lo caso haja algum 
capítulo 2 • 15
problema. Nessa situação, podemos afirmar que A praticou o delito de peculato 
furto, previsto no art. 312, §1º, do Código Penal, sendo a mesma conduta típica 
aplicável a seu cunhado, uma vez que este tinha conhecimento da condição de 
funcionário público utilizada por A.
Narrativa 2: Suponhamos que A pratique a mesma conduta com o auxílio 
de uma nova namorada que desconheça sua condição de funcionário público. 
Neste caso, teremos o rompimento da teoria monista ou unitária do concurso de 
agentes, na medida em que sua namorada desconhecia a elementar funcionário 
público, razão pela qual sua conduta restará tipificada como furto, e não peculato.
Narrativa 3: A, com o auxílio de seu cunhado, decide arrombar a janela de sua 
seção para que ninguém o veja subtraindo o notebook. Neste caso, como o agente 
em momento algum se utilizou da condição de funcionário público, não há que 
se falar no delito de peculato, mas no delito de furto qualificado pelo concurso de 
agentes e pelo rompimento de obstáculo, majorado pelo repouso noturno.
Distinção entre crimes funcionais próprios e impróprios
Conceitos importantes a serem identificados são os de crimes funcionais 
próprios e crimes funcionais impróprios, pois em muitos casos concretos haverá 
o confronto e necessidade de distinção entre os crimes contra a Administração 
Pública e, por exemplo, os crimes contra o patrimônio. Na narrativa 3, sobre con-
curso de pessoas, identificamos a possibilidade de um funcionário público ter sua 
conduta tipificada como furto, e não como delito de peculato, pois ele não se uti-
lizou da condição de funcionário público para a prática do delito. Assim, podemos 
definir crimes funcionais como aqueles praticados por funcionário público no 
exercício de suas funções ou em decorrência destas, podendo ser esses classificados 
como próprios ou impróprios (mistos).
• Crimes funcionais próprios são aqueles em que, caso não esteja presente 
a elementar do tipo “funcionário público”, a conduta será considerada atípica, 
como o delito de prevaricação, previsto no art. 319 do Código Penal. Uma vez 
retirada a elementar funcionário público, a conduta será atípica. Por outro lado, 
crimes funcionais impróprios são aqueles nos quais, uma vez excluída a elementar 
funcionário público, a conduta será tipificada como outro crime, como o exemplo 
citado no qual podemos confrontar os delitos de peculato (art. 312, CP) e apro-
priação indébita (art.168, CP) ou furto (art.155, CP).
capítulo 2 • 16
Conceitos de funcionário público e funcionário público por equiparação, previstos 
no Código Penal
Vimos que os conceitos de Administração Pública englobam, sob o aspecto 
subjetivo ou material, os agentes que realizam as suas funções típicas. Entretanto, 
para fins penais, em decorrência do princípio da legalidade, o art. 327 do Código 
Penal estabeleceu seu conceito. Desta forma, compreende-se como funcionário 
público, para fins penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, 
exerce cargo, emprego ou função pública. Significa dizer que o Código Penal 
adotou o critério unitário, ou seja, um critério lato sensu de funcionário públi-
co, independentemente das distinções estabelecidas pelo Direito Administrativo 
(funcionário público, empregado público, ocupantes de cargos em comissão ou 
servidores temporários).
Com o crescimento da terceirização (privatização) de alguns serviços públicos, 
tais como concessionárias de serviços públicos, durante o governo do presidente 
Fernando Henrique Cardoso foi promulgada a Lei nº 9.983/2000, que acrescen-
tou o §1º ao art. 327 do Código Penal, segundo o qual são considerados funcio-
nários públicos por equiparação “quem exerce cargo, emprego ou função em enti-
dade paraestatal e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou 
conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública”. Ainda 
com relação aos servidores temporários, podemos citar os mesários eleitorais, ju-
rados e até mesmo conselheiros (Lei nº 8.069/1990). Todavia, não podemos con-
fundir serviço público temporário com múnus público, pois aquele exerce função 
pública, enquanto este exerce encargo público, a exemplo dos inventariantes judi-
ciais e síndicos (administradores) de massa falida.
CURIOSIDADE
A distinção entre funcionário público, empregado público, ocupantes de cargos em co-
missão ou servidores temporários reside, dentre outros aspectos, na forma com a qual o 
agente passou a integrar a administração pública (concurso público, cargo em comissão, 
contrato de trabalho celetista) ou, ainda, nos regimes de trabalho (celestista, estatutário ou 
até mesmo, sem que haja qualquer remuneração).
capítulo 2 • 17
CURIOSIDADE
Para enriquecer seus conhecimentos acerca do conceito de funcionário público, é im-
portante diferenciá-lo do conceito de autoridade pública, previsto na Lei nº 4.898/1965, 
que, ao regular os crimes praticados por autoridade pública, bem como as condutas ilícitas 
extrapenais, reconheceu como autoridade pública, em seu art. 5º, quem exerce função pú-
blica, de natureza civil ou militar, diferentemente do conceito previsto no Código Penal, que 
compreende tão somente a função de natureza civil. Em síntese, podemos diferenciá-los pela 
natureza das funções exercidas. Desta forma, no caso de confronto entre os dispositivos 
previstos no Código Penal e na Lei nº 4.898/1965, e consequente ocorrência de conflito 
aparente de normas, este deverá ser solucionado pelo do princípio da especialidade, bem 
como veremos neste capítulo a derrogação tácita de dispositivos do Código Penal no caso 
de conflito intertemporal, como o art. 322 do Código Penal (violência arbitrária), pelo disposto 
no art. 3º, i, da Lei nº 4.898/1965.
A aplicação do princípio da insignificância aos crimes contra a Administração Pública
O questionamento acerca da incidência do princípio da insignificância visa, 
em última análise, à exclusão da responsabilidade jurídico-penal mediante o reco-
nhecimento da exclusão da tipicidade da conduta.
• Como estudamos em Direito Penal I, para a aplicação do princípio da insig-
nificância, consoante o entendimento do Supremo Tribunal Federal, é indispensável 
o preenchimento de determinados requisitos: (a) mínima ofensividade da conduta 
do agente; (b) nenhuma periculosidade social da ação; (c) reduzidíssimo grau de re-
provabilidade do comportamento e (e) inexpressividade da lesão jurídica provocada.
• No que concerne aos crimes contra a Administração Pública, o entendimento 
do Superior Tribunal de Justiçaé no sentido de que não há que se cogitar a inci-
dência do referido princípio para fins de exclusão da tipicidade da conduta, ainda 
que em alguns casos sejam atendidos os requisitos afetos à lesão patrimonial, pois, 
segundo o melhor entendimento, busca-se tutelar não apenas o erário (patrimônio) 
público, mas, principalmente, a moralidade e a probidade da Administração Pública 
no exercício de suas funções. Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal já se ma-
nifestou no sentido da possibilidade da aplicação do referido princípio (Habeas 
Corpus 112.388/SP; 107.638/PE; 107.370/SP; 104.286/SP; 92.634/PE).
capítulo 2 • 18
Crimes em espécie
Para que possamos melhor identificar os crimes em espécie contra a 
Administração Pública, utilizaremos a divisão estabelecida pelos capítulos do 
Código Penal, de acordo com o conteúdo de nossa disciplina. A saber: 
• Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral; 
• Dos crimes praticados por particular contra a administração em geral; 
• Dos crimes contra a Administração da Justiça.
Percebam que nosso conteúdo programático não contém todas as infrações 
constantes no Título XI do Código Penal, Dos Crimes contra a Administração 
Pública, mas aqueles selecionados como indispensáveis à construção do raciocínio 
jurídico. Vejamos, a seguir, cada um deles.
Dos crimes praticados por funcionário público contra a 
administração em geral
Peculato – Art. 312 do Código Penal
A expressão “peculato” tem origem no direito romano, na derivação peculatus, 
advinda de pecus, “consistente na subtração de coisas pertencentes ao Estado” 
(PAGLIARO,1999 apud SANCHES, 2014, p.740), na medida em que o comér-
cio era realizado sobre determinadas mercadorias (pecus), tais como carneiros e 
bois. Tem por objeto jurídico a própria moralidade da Administração Pública e, 
indiretamente, seu patrimônio; e por objeto material todo e qualquer bem móvel, 
dinheiro ou valor.
Análise do tipo penal
O delito de peculato se caracteriza como delito funcional impróprio ou mis-
to, pois as condutas dolosas previstas descrevem figuras especiais dos delitos de 
apropriação indébita (caput) e de furto (§1º), uma vez que excluída a elementar 
funcionário público da figura típica, esta será caracterizada como um destes delitos 
contra o patrimônio.
capítulo 2 • 19
Por outro lado, no caso da conduta culposa, prevista no parágrafo segundo, o 
agente público, por meio da quebra do dever objetivo de cuidado (portanto cul-
pa), concorre para a prática de peculato doloso por outrem.
Sujeitos do delito
Configura-se como delito próprio, mas admite o concurso de pessoas, des-
de que o estranho à Administração Pública tenha conhecimento da condição do 
sujeito ativo. No que concerne ao sujeito passivo, o Estado figura tanto como 
sujeito passivo indireto quanto direto, na medida em que ocorre a lesão ao seu 
patrimônio (inclusive ao patrimônio moral). Ou seja, também será considerado 
sujeito passivo de direto na medida em que se configure como titular do bem 
jurídico-penal lesionado.
ATENÇÃO
Questão relevante a ser analisada é a possibilidade da ocorrência do denominado pecu-
lato de uso e, consequentemente, exclusão da tipicidade material da conduta do agente, a 
exemplo do que ocorre quando no delito de furto o agente utiliza-se de bem infungível, sem o 
especial fim de agir de assenhoreamento definitivo, e o restitui de forma completa e integral. 
No caso de uso de bem público, discute-se se o denominado peculato caracterizar-se-ia 
como mero ilícito administrativo.
EXEMPLO
Vejamos a seguinte narrativa hipotética:
Suponha que agente público tenha se utilizado de automóvel que lhe estava confiado 
pela Administração Pública para levar seu filho ao colégio e realizar compras pessoais em 
supermercado, tendo logo em seguida restituído o veículo sem qualquer dano, bem como 
com a mesma quantidade de combustível que havia nele quando o pegara. Nesta situação, 
o melhor entendimento doutrinário é no sentido da configuração do peculato de uso – irre-
levante penal. Cabe salientar, entretanto, que a responsabilização na seara administrativa 
poderá subsistir, conforme o disposto nos arts. 9º, 10 e 11 da Lei nº 8.429/1992, sendo a 
conduta caracterizada como improbidade administrativa. 
capítulo 2 • 20
É importante destacar ainda duas exceções nas quais não haverá a caracteriza-
ção do peculato de uso para fins de exclusão de responsabilidade penal: quando a 
conduta for praticada por prefeito, haverá crime conforme expressa o art. 1º, II, 
do Decreto-Lei nº 201/67. Sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal já se mani-
festou no sentido de que o referido artigo foi recepcionado pela Constituição da 
República de 19881; e quando a conduta for praticada por militar, delito previsto 
no art. 303 do Código Penal Militar (Decreto-lei nº 1.001/69), não há que se 
cogitar a aplicação do peculato de uso, conforme entendimento majoritário na 
doutrina e jurisprudência. 
Classificação doutrinária
O delito de peculato pode ser classificado como crime próprio (exige qua-
lidade especial de seu sujeito ativo); unissubjetivo (pode ser praticado por um 
único agente); de forma livre (admite qualquer meio executório); instantâneo e 
plurissubsistente (seu iter criminis é fracionável), logo admite a tentativa nas mo-
dalidades dolosas.
Figuras típicas
• Peculato apropriação (art. 312, caput, 1ª parte, CP) - Pena: reclusão de 2 
(dois) a 12 (doze) anos e multa;
• Peculato desvio (art. 312, caput, parte final, CP) - Pena: reclusão de 2 (dois) 
a 12 (doze) anos e multa;
• Peculato furto (art. 312, §1º, CP) - Pena: reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) 
anos e multa;
• Peculato culposo (art. 312, §2º, CP) - Pena: detenção de 3 (três) meses a 
1 (um) ano;
• Peculato mediante erro de outrem (art. 313, CP) - Pena: reclusão de 1 (um) 
a 4 (quatro) anos e multa;
• Peculato eletrônico (arts. 313-A e 313-B, CP) - Pena: reclusão de 2 (dois) 
a 12 (doze) anos e multa; e detenção de 3 (três) meses a 2 (dois) anos e multa, 
respectivamente.
1 Sobre o tema, veja a seguinte decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal: ARE 944531/MG – Minas 
Gerais. Recurso Extraordinário com Agravo. Relator: min. DIAS TOFFOLI. Julgamento: 4/2/2016. Disponível em: 
http://www.stf.jus.br/jurisprudencia.
capítulo 2 • 21
Peculato próprio 
As condutas de peculato previstas, respectivamente, na primeira e última par-
te do caput do art. 312 do CP classificam-se em peculato apropriação e peculato 
desvio, também denominado malversação.
O peculato apropriação, como dito anteriormente, diferencia-se do delito de 
apropriação indébita em decorrência da elementar funcionário público, pois se 
configura como a apropriação de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, 
público ou particular, do qual o funcionário público tenha a posse em razão do 
cargo. Desta forma, consuma-se no momento em que o funcionário inverte o 
animus sobre a res e passa a agir como se seu titular fosse, caracterizando-se como 
delito material.
COMENTÁRIO
Guilherme de Souza Nucci esclarece que dinheiro corresponde à moeda em vigor no país, e 
valor corresponde a tudo o que possa ser convertido em dinheiro (NUCCI: 2014, p.1.036).
Peculato furto 
Também denominado peculato impróprio, previsto no §1º do art. 312 do 
Código Penal, configura-se como a conduta do funcionário público que, embora 
não tenha a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, para si ou para outrem, 
prevalecendo-se da condição de funcionário público. Podemos perceber que o 
núcleo do tipo “subtrair” denota que o funcionário público não tem a posse sobre 
o bem, dinheiro ou valor, mas tão somente se aproveita da sua condição para ter 
acesso ao objeto material do delito. Logo, somente se consuma quando o agente 
efetivamente subtrai o bem, independentemente do fato da posse ser mansa ou 
pacífica, da mesma forma estudada para a consumação do delito de furto (teoria 
da Amotio). Ainda, sendo o iter criminis fracionável, torna-se possível a tentativa.capítulo 2 • 22
ATENÇÃO
• Por se tratar de crime funcional impróprio, é imprescindível que o agente se valha da fun-
ção pública para a prática do delito. Caso contrário, sua conduta poderá ser caracterizada, por 
exemplo, como apropriação indébita ou furto. 
• Ainda, no caso de concurso de pessoas, para que haja a comunicabilidade da elementar 
funcionário público, é imprescindível que o particular que concorra para a prática do crime te-
nha conhecimento de que o outro agente é funcionário público e esteja se aproveitando des-
ta condição para a prática do delito, sob pena de rompimento da teoria unitária do concurso 
de pessoas, prevista no art. 29 do Código Penal, de modo ao particular ser responsabilizado 
por outro delito que não o de peculato, tal qual o delito de furto.
Peculato culposo
A figura típica de peculato culposo, prevista no §2º do art. 312 do Código 
Penal, se configura quando o funcionário público quebra o seu dever objetivo de 
cuidado de modo a facilitar a prática do crime de outrem. Na verdade, trata-se 
de participação culposa em crime doloso tratado como crime autônomo face aos 
princípios norteadores da Administração Pública e ao bem jurídico penal protegido.
CURIOSIDADE
Questiona-se na doutrina se a expressão “crime”, prevista na figura típica, somente é afe-
ta a crimes contra a Administração Pública ou se também se aplica a crimes não funcionais. O 
entendimento majoritário é no sentido de que se aplica somente a crimes funcionais. Rogério 
Sanches Cunha, entretanto, sustenta a aplicação a crimes não funcionais (comuns), sob o 
argumento de que a lesão ao bem jurídico penal seria a mesma (CUNHA: 2014, p.746). É 
interessante destacar ainda que esta conduta se configura como plurissubjetiva, pois exige a 
concorrência de mais de um agente.
capítulo 2 • 23
ATENÇÃO
Nos casos de peculato culposo, a reparação do dano pelo funcionário público pode se 
caracterizar como causa de extinção de punibilidade (perdão judicial) ou causa de diminui-
ção de pena (da metade), respectivamente, se for realizada anteriormente à sentença penal 
transitada em julgado ou posteriormente a esta.
Peculato mediante erro de outrem
Esta figura típica, prevista no art. 313 do Código Penal, também é conhecida 
como peculato estelionato, na medida em que o funcionário público se utiliza de 
ardil ou fraude para a apropriação de dinheiro ou qualquer outra utilidade recebi-
da face ao erro de outrem, ou seja, terceiro. Para ilustrar: particular, mediante uma 
falsa percepção da realidade, entrega dinheiro ou utilidade – qualquer vantagem 
ou lucro – a funcionário público que não esteja autorizado a recebê-lo e este do-
losamente não informa ao terceiro e tampouco à Administração Pública acerca do 
erro, com o fim de assegurar a sua apropriação.
Além dos casos nos quais o funcionário público não seja o competente para 
receber o valor, dinheiro ou utilidade, há casos em que, embora seja de sua com-
petência tal atividade, o funcionário aproveita-se do erro de terceiro, por exemplo, 
apropriando-se dolosamente da diferença de pagamento feito a maior por este. 
CURIOSIDADE
Confronto entre o delito de peculato e os delitos falsificação de documento e uso de 
documento falso. A partir da análise do caso concreto da concorrência entre a prática dos 
delitos de peculato e uso de documento falso, surge a seguinte controvérsia: será caracteri-
zado concurso de crimes (material ou formal imperfeito) ou conflito aparente de normas a ser 
solucionado pelo princípio da absorção?
Peculato eletrônico
Diferenciaremos as figuras típicas denominadas pela doutrina de “peculato 
eletrônico”, acrescentadas pela Lei nº 9983/2000, segundo a expressa disposição 
dos artigos 313-A e 313-B do Código Penal.
capítulo 2 • 24
Inserção de dados falsos em sistema de informações
A figura típica se encontra prevista no art. 313-A do Código Penal. Configura 
forma especial do delito de peculato e se consuma quando o funcionário público, 
autorizado ou competente para as alterações no sistema informatizado ou ban-
co de dados de determinado órgão público, realiza a inserção ou facilitação de 
inclusão de dados falsos ou a exclusão de dados corretos do sistema de dados da 
Administração Pública com o especial fim de agir de obtenção de vantagem inde-
vida para si ou para outrem.
É importante destacar que o delito se consuma no momento em que há a alte-
ração dos dados constantes no banco de dados da Administração Pública, seja pela 
inclusão ou facilitação de inserção de dados falsos, seja pela alteração ou exclusão 
de dados corretos, sendo irrelevante a efetiva produção de dano à Administração 
Pública de modo a configurar delito formal.
EXEMPLO
Para fins de esclarecimentos, vejamos a seguinte ilustração: funcionário público da Re-
ceita Federal que exclui informações contábeis de determinadas empresas mediante com-
pensação ilícita de débitos com o fim de obter vantagem indevida dos administradores destas 
pratica a conduta descrita no art. 313-A do Código Penal.
Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações
Diferentemente da figura prevista no art. 313-A, para que se caracterize esta, 
o funcionário público que realiza qualquer modificação no sistema de dados da 
Administração Pública não necessita ser o agente autorizado ou competente para 
as alterações no sistema informatizado ou banco de dados de determinado órgão 
público. Logo, a prática da conduta exige apenas a ausência de autorização ou de 
solicitação de autorização para a respectiva modificação dos dados. 
Nesta figura típica, não há o especial fim de agir de obtenção de vantagem in-
devida. Razão pela qual, em respeito ao princípio da proporcionalidade das penas, 
esta é bem menor do que a prevista na figura constante no art. 313-A.
Segundo Antônio Lopes Monteiro, podemos diferenciar os delitos previstos 
nos arts. 313-A e 313-B do Código Penal sob o seguinte argumento:
capítulo 2 • 25
No primeiro, o computador é o meio utilizado. No segundo, será ele 
próprio o objeto material. Aquele é conhecido como crime de informática 
comum, enquanto este seria o crime de informática autêntico, visto 
que o computador é essencial para a existência do delito (MONTEIRO 
apud CAPEZ: 2014, p. 630). 
Concussão
O delito de concussão, previsto no art. 316 do Código Penal, descreve figura 
especial do delito de extorsão, caracterizando-se, portanto, como delito funcional 
impróprio ou misto.
Análise do tipo penal
A descrição da figura típica possui como ação nuclear a conduta do funcio-
nário público que, em razão da função pública, exige de outrem, direta ou indi-
retamente, vantagem indevida. Vejamos os elementos: (a) a conduta de exigir se 
configura como verdadeiro constrangimento ilegal, na medida em que visa obrigar 
o sujeito passivo a fazer o que não quer – fornecer a vantagem indevida; (b) a con-
duta caracteriza-se como subjetivamente complexa, pois possui o dolo genérico, 
vontade livre e consciente de exigir e o especial fim de agir de obter vantagem 
indevida para si ou para outrem.
Questiona-se na doutrina acerca da natureza jurídica da elementar normativa 
“vantagem indevida”, ou seja, se teria somente natureza econômica ou patrimo-
nial. Apesar de a questão ser controvertida, pois parte da doutrina sustenta que 
somente possui natureza econômica2, o entendimento que prevalece é no sentido 
de que a vantagem indevida pode ser de qualquer natureza: econômica ou patri-
monial, moral, sexual, entre outras3.
Quando a lei se refere à possibilidade de a conduta ser praticada direta ou 
indiretamente pelo funcionário público, podemos compreender a expressão “in-
diretamente” refere-se a quando o funcionário público utiliza interposta pessoa 
para a prática da conduta.
2 Neste sentido, Rui Stoco (STOCO, Rui; Franco, Alberto Silva (coords.). Código Penal e sua interpretação: 
doutrina e jurisprudência. 8ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 3.854).
3 Neste sentido, Rogério Greco (GRECO,Rogério. Código Penal Comentado. 10ª ed. Niterói: Impetus, 2016, 
p.1.072); Rogério Sanches Cunha (op. cit., p.760); Fernando Capez (op. cit., p. 634) e Guilherme de Souza Nucci 
(op. cit., p.1.048).
capítulo 2 • 26
ATENÇÃO
Diferencia-se do delito de corrupção passiva, previsto no art. 317 do Código Penal, pois 
neste o núcleo do tipo descreve a conduta de “solicitar”, diferentemente do delito de concussão, 
no qual o agente “exige” para si ou para outrem a vantagem indevida, ou seja, impõe à vítima a 
prática de uma conduta que o beneficie, e esta cede por temor a possíveis represálias. Tem por 
objeto jurídico a Administração Pública e por objeto material a vantagem indevida.
Sujeitos do delito
Configura-se como delito próprio porque a condição de funcionário público 
como sujeito ativo do delito é elementar do tipo. Entretanto, não é necessário que 
ele esteja no exercício da função pública, mas que se valha dela, mesmo antes de 
assumi-la, como forma de constranger o sujeito passivo.
ATENÇÃO
A figura típica prevista no §1º do art. 316 do Código Penal (excesso de exação) somente ad-
mite como sujeito ativo o funcionário encarregado da arrecadação do tributo ou contribuição social.
No que concerne ao sujeito passivo, o Estado figura tanto como sujeito pas-
sivo indireto quanto direto, na medida em que ocorre a lesão ao seu patrimônio 
moral e patrimonial.
Da mesma forma que no peculato, admite o concurso de pessoas e consequen-
te comunicabilidade da elementar funcionário público, desde que o particular que 
concorra para a prática da infração penal tenha ciência da elementar, conforme 
estabelece o disposto no art. 30 do Código Penal.
Classificação doutrinária
O delito de concussão pode ser classificado como crime próprio, unissubjeti-
vo, doloso, de forma livre, plurisubsitente e instantâneo.
capítulo 2 • 27
Consumação e tentativa
Configura-se, em regra, como delito formal, ou seja, se consuma com a con-
duta de exigir, para si ou para outrem, mas em razão da função, a vantagem in-
devida; caso esta ocorra, será caracterizada como mero exaurimento da conduta. 
Da mesma forma que a extorsão, o delito de concussão é plurissubsistente, 
logo, admite tentativa quando não ocorrer o efetivo constrangimento, ou seja, 
quando a vítima não se sentir coagida. 
Figuras típicas
• Simples – art. 316, caput, Código Penal - Pena: reclusão de 2 (dois) a 8 
(oito) anos e multa.
• Excesso de exação – art. 316, §1º, Código Penal - Pena: reclusão de 3 (três) 
a 8 (oito) anos e multa.
• Figura qualificada – art. 316, §2º, Código Penal - Pena: reclusão de 2 
(dois) a 12 (doze) anos e multa.
Excesso de exação
Previsto no §1º do art. 316 do Código Penal, pode ser compreendido como 
a exigência rigorosa de tributos (imposto, taxa ou contribuição de melhoria) ou 
contribuição social (CAPEZ: 2010, p. 491) e se perfaz mediante duas modalidades: 
exigência indevida do tributo ou contribuição social e cobrança vexatória ou gravosa 
não autorizada em lei. Na primeira modalidade, parte-se da premissa de que o agen-
te saiba ou deva saber que o tributo ou contribuição social são indevidos. Estamos 
nos referindo, portanto, às condutas dolosas, seja dolo direto ou eventual.
É importante destacar que há entendimento minoritário no sentido de que 
a expressão “deva saber que o tributo ou contribuição social são indevidos” con-
figura culpa por parte do funcionário público, não dolo eventual (MIRABETE: 
2016, p. 323). Por outro lado, a segunda modalidade se configura com a prática 
da cobrança vexatória ou gravosa não autorizada em lei. Neste caso, ainda que o 
tributo ou contribuição social sejam devidos, a forma com a qual foram cobrados 
pelo funcionário público tipifica a conduta. 
As duas modalidades se consumam independentemente do recebimento de 
qualquer valor corresponde ao tributo ou contribuição social, logo se classificam 
como delito formal.
capítulo 2 • 28
Por fim, cabe salientar que configuram-se como norma penal do manda-
to em branco, na medida em que necessitam de complementação pelo Código 
Tributário Nacional para fins de conceituação e classificação de tributos, dentre 
eles a contribuição social e os impostos.
A figura qualificada prevista no §2º do art. 316 do Código Penal 
Esta figura qualificada, também considerada norma penal do mandato em 
branco, descreve a conduta na qual o funcionário público que tenha recebido 
indevidamente valores cobrados os desvie em proveito próprio ou alheio. Ou seja, 
ainda que recebidos indevidamente, os valores cobrados deveriam ser recolhidos 
aos cofres públicos e, neste caso, além do recebimento indevido dos tributos ou 
contribuições sociais, o funcionário público apropria-se destes valores em benefí-
cio próprio ou alheio. 
ATENÇÃO
Caso o agente desvie a quantia (valores) após sua inclusão nos cofres públicos, o de-
lito será caracterizado como peculato. Em outras palavras, o momento no qual os valores 
são desviados é imprescindível para a distinção entre os delitos de peculato e concussão 
qualificada. Em síntese, se o desvio for realizado antes dos valores ingressarem nos cofres 
públicos, a conduta será a prevista no §2º do art. 316; caso os valores sejam desviados após 
o recolhimento dos cofres públicos, restará caracterizado o peculato.
Corrupção passiva
O delito de corrupção passiva encontra-se previsto no art. 317 do Código 
Penal, sendo a moralidade pública o bem jurídico penal protegido. A expressão 
“corrupção” (do latim, corrupta) na sociedade brasileira é muito associada ao 
conhecido “jeitinho brasileiro”, na medida em esta expressão contempla a ob-
tenção de qualquer vantagem indevida mediante um “acordo” entre as partes. 
Logo, tem por objeto jurídico a administração pública e por objeto material a 
vantagem indevida.
Os Tribunais Superiores já firmaram entendimento no sentido de que, embora 
não envolva violência ou grave ameaça à pessoa, o delito de corrupção passiva traz 
capítulo 2 • 29
consequências nefastas e devastadoras à sociedade, pois os danos não se limitam à 
Administração Pública, mas atingem um número indeterminado de pessoas, lesio-
nando bens públicos de interesse geral, razão pela qual têm se mostrado reticentes 
acerca da possibilidade do reconhecimento da atipicidade da conduta em decor-
rência da adoção do princípio da insignificância (STJ, HC 337048/PR, Quinta 
Turma. Relator: Ministro Reynaldo Soares da Fonseca. Julgado em: 14/02/2017. 
Disponível em: http://bit.ly/2tiJuSR). Por outro lado, a doutrina tem sustentado 
que as gratificações usuais de pequena monta e as pequenas doações ocasionais 
relacionadas às festas de fim de ano não configurariam a figura típica do art. 317 
do Código Penal face à incidência do princípio da adequação social (neste sentido, 
Fernando Capez e Guilherme de Souza Nucci).
CURIOSIDADE
Os Ministérios Públicos ibero-americanos se uniram para lançar a campanha #COR-
RUPÇÃONÃO. Caso queira saber mais acesse o site: http://bit.ly/2sNJcSz.
O ordenamento jurídico prevê condutas típicas tanto para o agente que se cor-
rompe quanto para o terceiro à Administração Pública que o corrompe – corrupção 
passiva e corrupção ativa. Todavia, ocorreu o rompimento à teoria unitária do con-
curso de pessoas previsto no art. 29 do Código Penal, pois a conduta praticada pelo 
funcionário público será tipificada no art. 317, enquanto a conduta praticada pelo 
particular, no art. 333 do Código Penal. Importante destacar que a bilateralidade de 
condutas nem sempre ocorrerá, ou seja, haverá situações nas quais somente o fun-
cionário público praticará infração penal e outras, somente o particular. 
Análise do tipo penal
 O delito de corrupção passiva configura-se como tipo penal de ação múltipla 
ou tipo misto alternativo face à possibilidade da realização de mais de uma condu-
ta, sendo considerado crime único, ainda que haja a prática de mais de uma con-
duta no mesmo contexto fático. Vejamos as condutas nucleares previstas no caput 
do art.317 do Código Penal:(a) solicitar vantagem indevida – a proposta emana 
do agente público e consuma-se independentemente da entrega da vantagem; (b) 
receber vantagem indevida – a proposta emana do terceiro e consuma-se no 
capítulo 2 • 30
momento em que o agente recebe a vantagem indevida e (c) aceitar promessa de 
tal vantagem: neste caso, não é necessário o recebimento da vantagem; o delito 
restará consumado com o mero consentimento do agente público.
ATENÇÃO
Nas condutas de receber vantagem indevida ou aceitar promessa de tal vantagem, have-
rá bilateralidade de condutas – corrupção ativa e passiva.
Da mesma forma que no delito de concussão, são elementares do delito de 
corrupção passiva: a vantagem indevida (elementar normativa que não se restringe à 
vantagem de natureza econômica, podendo ser de natureza sentimental, sexual etc.), 
a possibilidade de a conduta ser praticada diretamente pelo funcionário público ou 
indiretamente (através de interposta pessoa, por exemplo, se a vantagem for percebi-
da por um familiar seu), bem como não há necessidade de que o funcionário esteja 
no exercício da função pública, mas que se valha dela para a prática da conduta.
ATENÇÃO
A conduta obrigatoriamente deve guardar relação com a função exercida pelo funcioná-
rio público. Significa dizer que deve existir relação de causalidade entre a solicitação, o rece-
bimento ou o aceite da promessa de vantagem indevida com a contraprestação do agente 
público, seja por meio de uma conduta comissiva ou omissiva, de sua competência específica.
Caso o agente pratique quaisquer destas condutas sem que tenha competência 
específica, mas valendo-se de sua função, podemos discutir a caracterização de sua 
conduta como advocacia administrativa, prevista no art. 321 do Código Penal, ou 
até mesmo como tráfico de influência, art. 332 do Código Penal.
Sujeitos do delito
Com relação ao sujeito ativo, configura-se como delito próprio. No que con-
cerne ao sujeito passivo, o Estado figura tanto como sujeito passivo indireto quan-
to direto, à medida que ocorre a lesão ao seu patrimônio (inclusive moral). Já o 
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capítulo 2 • 31
sujeito passivo é o Estado e, secundariamente, a pessoa que possa vir a ser preju-
dicada pela corrupção.
Classificação doutrinária
O delito de corrupção passiva classifica-se como crime próprio, formal, de for-
ma livre, unissubjetivo, misto alternativo e instantâneo. Com relação aos crimes 
funcionais, caracteriza-se como crime funcional próprio.
Figuras típicas
• Corrupção passiva simples – Art. 317, caput, do Código Penal - Pena: reclu-
são de 2 (dois) a 12 (doze) anos e multa.
• Corrupção passiva majorada – Art. 317, §1º, do Código Penal - Pena: a 
pena é aumentada de um terço se, em consequência da vantagem ou promessa, 
o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica 
infringindo dever funcional.
• Corrupção passiva privilegiada – Art. 317, §1º, do Código Penal- Pena: 
detenção de 3 (três) meses a um 1 (ano) ou multa.
Corrupção passiva simples – Art. 317, caput, do Código Penal.
Os elementos, sujeitos e momento consumativo foram analisados no início 
deste tópico.
ATENÇÃO
Importante destacar que na figura típica simples, não obstante o funcionário público te-
nha solicitado, recebido ou aceito promessa de vantagem indevida, ele pratica o ato de ofício 
para o qual era competente.
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capítulo 2 • 32
EXEMPLO
Para fins de esclarecimentos, vejamos a seguinte narrativa hipotética:
Um advogado oferece vantagem indevida, consistente em determinada quantia em di-
nheiro, para determinar que um dado funcionário público retarde a prática de ato de ofício de 
sua competência com o fim de beneficiar seu cliente. Suponhamos que o funcionário público 
aceite a vantagem e, ainda assim, pratica o ato de ofício que era de sua competência.
Corrupção passiva majorada – Art. 317, §1º, do Código Penal
Também é denominada equivocamente como qualificada. Nesta figura típica, 
diferentemente do que ocorre na figura simples, se, além de aceitar a promessa ou 
receber a vantagem indevida, efetivamente deixar de praticar ou retardar a prática 
de ato de ofício de sua competência, a pena é aumentada de um terço, na medida 
em que há efetiva lesão ou dano à Administração Pública ou, indiretamente, tam-
bém a algum particular.
Em síntese, nesta conduta o agente público realiza o prometido ao terceiro na 
conduta prevista no caput do referido artigo. Neste caso, o exaurimento do delito 
foi considerado fato punível, caracterizado como causa de aumento da figura típi-
ca. Entretanto, caso esta conduta, no caso concreto, configure delito autônomo, 
restará caracterizado o concurso de delitos entre a corrupção passiva e esta suposta 
conduta, sem, contudo, a incidência da majorante do §1º, sob pena de incidência 
de bis in idem.
COMENTÁRIO
A doutrina também a denomina de corrupção exaurida, haja vista o delito classificar-se 
como formal (NUCCI: 2014, p.1.052).
Corrupção passiva privilegiada – Art. 317, §2º, do Código Penal
Nesta figura típica, diferentemente das figuras previstas no caput e no §1º o 
funcionário público não visa atender a interesse próprio, mas cede à solicitação de 
terceiro “comum na reciprocidade do tráfico de influência” (CUNHA: 2014, p. 
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capítulo 2 • 33
769). Em outras palavras, significa dizer que o funcionário público não retarda ou 
deixa de praticar qualquer ato de ofício em decorrência da obtenção de vantagem 
indevida, mas porque cede à solicitação de outrem (interesse de outrem), razão 
pela qual sua pena passa a ser de detenção, de três meses a um ano, ou multa.
CURIOSIDADE
Comumente são reportadas pela mídia prisões decorrentes dos delitos de concussão 
e corrupção passiva, nos quais a exigência ou solicitação de vantagem indevida são reali-
zadas em um dia e o pagamento, por exemplo, no dia seguinte. Como vimos ao estudar as 
referidas condutas, em regra, por serem delitos formais, consumam-se independentemente 
da obtenção da vantagem indevida pelo funcionário público. Desta forma, surge a seguinte 
indagação: é possível a prisão em flagrante delito, por exemplo, no dia posterior ao qual foi 
realizada a exigência ou solicitação no momento da entrega da vantagem indevida ou seria 
caracterizado o flagrante forjado, vedado em entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal 
Federal, segundo o qual, “não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna 
impossível a sua consumação” (verbete de súmula nº 145 do Supremo Tribunal Federal). O 
melhor entendimento é no sentido de que a prisão em flagrante não seria possível, uma vez 
que a entrega da vantagem indevida caracteriza mero exaurimento dos delitos. Por outro 
lado, é possível indagar-se acerca da caracterização de outra prisão cautelar, a exemplo da 
prisão preventiva, prevista no art. 312 do Código de Processo Penal. De forma contrária, 
argumenta Paulo Rangel que esta prisão seria manifestadamente ilegal e passível de rela-
xamento pela autoridade judiciária em respeito ao disposto no art. 5º, LXV, da CRFB/1988. 
(RANGEL: 2009, p. 633).
MULTIMÍDIA
Assista aos filmes:
• EDISON – Poder e Corrupção.
• Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro.
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capítulo 2 • 34
Questões relevantes
• Confronto com o delito de concussão: a conduta prevista no delito de cor-
rupção passiva compreende a “solicitação” do agente público sem que haja qual-
quer forma de constrangimento ou coação, diferentemente da conduta prevista no 
tipo penal de concussão.
• Confronto entre o delito de corrupção passiva privilegiada e o delito de pre-
varicação: neste caso, a conduta do agente público tem por motivo determinante 
a satisfação de interesse ou sentimento pessoal, enquanto na corrupção passiva o 
agente visa a obtenção de vantagem indevida.
EXEMPLO
Para fins de esclarecimentos, vejamos as seguintes narrativashipotéticas:
Narrativa 1: Joana, delegada de polícia, negou-se a registrar ocorrência de estupro de 
vulnerável contra o filho de sua empregada doméstica, Marilza, a pedido desta, que alegou 
conhecer o rapaz que praticara a conduta, bem como concordava com o namoro de ambos. 
Nesta situação, a delegada de polícia, cedendo a pedido de outrem e sem o dolo de obtenção 
de vantagem indevida, praticou a conduta de corrupção passiva privilegiada, prevista no art. 
317, § 2º, do Código Penal.
Narrativa 2: Suponhamos que a delegada de polícia, sob o argumento de que conhecia o 
jovem e que a suposta vítima, de 13 anos à época dos fatos, era, como afirmado pela mãe do 
suposto autor dos fatos, namorada deste, por ato voluntário, negou-se a registrar a referida 
ocorrência de estupro de vulnerável. Nesta situação, sua conduta será caracterizada como 
prevaricação, prevista no art. 319 do Código Penal.
Cabe salientar que nas duas narrativas hipotéticas não nos preocupamos em discutir o 
dissídio jurisprudencial acerca da configuração do delito de estupro de vulnerável quando a 
menor já possui experiência sexual e consente a relação sexual.
Facilitação de contrabando ou descaminho – Art. 318 do Código Penal
Nesta figura típica, o legislador rompeu com a teoria unitária do concurso de 
pessoas na medida em que optou por tipificar a conduta do agente que, na verda-
de, realiza conduta acessória às condutas de contrabando ou descaminho. Antes 
de analisarmos as elementares do tipo, é importante identificar os conceitos de 
contrabando e descaminho.
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capítulo 2 • 35
CONCEITO
A expressão contrabando compreende toda a “importação ou exportação cujo ingresso 
ou saída do país seja absoluta ou relativamente proibida”. Por outro lado, a expressão desca-
minho, compreende “toda fraude empregada para iludir, total ou parcialmente, o pagamento 
de impostos de importação, exportação ou consumo (cobrável na própria aduaneira antes do 
desembaraço das mercadorias importadas)” (PRADO: 2010, p. 448 - 449).
Análise do tipo penal
O delito em exame descreve a conduta de funcionário público que colabora 
ou concorre para a prática das condutas de descaminho ou contrabando praticadas 
por particular. Da mesma forma que os demais delitos contra a Administração 
Pública, possui a própria administração pública como objeto jurídico, seja pelo as-
pecto moral ou patrimonial. Em relação ao objeto material da conduta, podemos 
considerar os produtos ou mercadorias contrabandeados ou dos quais os impostos 
não foram recolhidos.
A conduta nuclear de “facilitar”, através de conduta comissiva ou omissiva, 
a prática de contrabando ou descaminho exige que o funcionário público que a 
cometa seja o responsável pelo controle, fiscalização e impedimento da entrada 
de mercadoria proibida, no caso do contrabando, ou pelo controle, fiscalização e 
arrecadação do imposto devido, no caso do descaminho.
• Pena: reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos e multa. 
Sujeitos do delito
O sujeito ativo do delito será o funcionário público que possuir competência 
específica para o controle, fiscalização, arrecadação do tributo ou proibição. Caso 
contrário, sua conduta será tipificada como participação à conduta do particular 
que praticar o descaminho (art. 334 do Código Penal) ou o contrabando (art. 
334-A do Código Penal). A Administração Pública figura como sujeito passivo.
Classificação doutrinária
Configura-se como delito próprio, doloso, de forma livre, unissubjetivo, ins-
tantâneo, unissubstente ou plurissubsistente e formal.
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capítulo 2 • 36
Consumação e tentativa
Por caracterizar-se como delito formal, se consuma no momento em que o 
agente pratica a conduta de facilitação, por meio de conduta comissiva ou omissi-
va, infringindo dever funcional, sendo, portanto, irrelevante se o particular logrou 
êxito no descaminho ou contrabando. Não obstante trata-se de crime formal, por 
admitir o fracionamento do iter criminis (plurissubsistente). É possível a caracte-
rização da tentativa como causa de diminuição de pena. 
Questões relevantes
• Consoante dispõe o art. 144, §1º, II, da CRFB/1988, incumbe à Polícia 
Federal prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o con-
trabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos 
públicos nas respectivas áreas de competência, razão pela qual a competência para 
processo e julgamento desta infração penal será da Justiça Federal. Ainda, confor-
me entendimento sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça, “a competência 
para o processo e o julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-
-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens” (verbete de 
súmula nº 151).
Prevaricação – Art.319 do Código Penal
A figura típica de prevaricação traz nitidamente em sua descrição típica a si-
tuação na qual o agente público sobrepõe seu interesse ou sentimento pessoal ao 
interesse público, independentemente da obtenção de qualquer vantagem indevi-
da, na medida em que sua conduta de deixar de praticar ou retardar a prática de 
ato de ofício tem por motivação ou especial fim de agir a satisfação de interesse ou 
sentimento pessoal.
O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido de que para a con-
figuração do delito prevaricação não basta afirmar a transgressão ao princípio da 
moralidade, sendo imprescindível para sua configuração a indicação do dispositi-
vo de lei infringido pela ação ou inação do servidor público, bem como o elemen-
to subjetivo específico (especial fim de agir), qual seja a motivação do autor do ato 
de ofício. (STJ, APn 505-CE, rel. min. Eliana Calmon, julgada em 18/6/2008, 
disponível em http://bit.ly/2sXvMlr).
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capítulo 2 • 37
Configura-se como delito especial próprio e admite o concurso de pessoas por 
particular, na modalidade de participação.
Análise do tipo penal 
Antes de analisarmos as elementares do tipo, é importante identificarmos os 
conceitos de interesse ou sentimento pessoal. Por “interesse ou sentimento pes-
soal” compreende-se o interesse que não tenha caráter econômico, mas pelo qual 
o agente público coloca seu interesse acima do interesse público. Guilherme de 
Souza Nucci sustenta que interesse pessoal “é qualquer proveito, ganho ou vanta-
gem auferida pelo agente e que não tenha natureza econômica”, enquanto senti-
mento pessoal “é a disposição afetiva do agente em relação a algum bem ou valor” 
(NUCCI: 2014, p. 1.054).
A ação nuclear contempla as condutas de retardar ou deixar de praticar, inde-
vidamente, ato de ofício, ou, ainda, praticá-lo contra disposição expressa de lei. O 
ato de ofício, por sua vez, caracteriza-se como objeto material do delito.
CONCEITO
Rogério Greco conceitua ato de ofício como “todo aquele que se encontra na esfera de atri-
buição do agente que pratica qualquer dos comportamentos típicos” (GRECO: 2016, p.1.081).
Configura-se como tipo subjetivamente complexo, pois contempla o dolo ge-
nérico de retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício ou praticá-lo 
contra disposição expressa de lei e o especial fim de agir ou especial motivação de 
atender a interesse ou sentimento pessoal.
Sujeitos do delito
O Estado, na figura da Administração Pública, é o sujeito passivo direto do 
delito. Como sujeito ativo figura o funcionário público com a incumbência da 
prática do ato de ofício.
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ATENTAR-SE AO INTERRESE OU SENTIMENTO PESSOAL
capítulo 2 • 38
Classificação doutrinária
Classifica-se como delito próprio, funcional impróprio, subjetivamente com-
plexo, de forma livre, instantâneo, unissubjetivo, unissubsistente ou plurissubsis-
tente, bem como formal.
Consumação e tentativa 
Por tratar-se de delito formal, consuma-se no momento em que o funcionáriopúblico retarda ou deixa de praticar indevidamente ato de ofício ou ainda quando 
o pratica contra disposição expressa de lei, ou seja, consuma-se independentemen-
te da efetiva satisfação de interesse ou sentimento pessoal.
Ainda que caracterizado como delito formal, admite a modalidade tentada nas 
condutas comissivas.
Figuras típicas
• Prevaricação própria – Art. 319 do CP -Pena : detenção de 3 (três) meses a 
1 (um) ano e multa
• Prevaricação imprópria – Art. 319-A do CP - Pena: detenção de 3 (três) 
meses a 1 (um) ano.
Configuram-se como infrações penais de menor potencial ofensivo e admitem 
a aplicação de pena alternativa (transação penal) e suspensão condicional do pro-
cesso (arts. 76 e 89 da Lei nº 9.099/1995)
Questões relevantes 
• Prevaricação imprópria 
Configura-se como a prevaricação de agente penitenciário que permite, atra-
vés da quebra de seu dever funcional, que o preso tenha acesso a aparelho telefô-
nico, de rádio ou similar, possibilitando a comunicação com outros presos ou com 
o ambiente externo.
Este funcionário público deve ser o responsável pelo impedimento ao acesso a 
aparelhos de comunicação.
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capítulo 2 • 39
Conforme descreve Rogério Sanches Cunha, o que se pretende não é proibir 
a comunicabilidade do preso com o mundo exterior, mas a sua intercomunica-
bilidade, ou seja, a transmissão de informações entre um preso e demais pessoas 
(CUNHA: 2014, p. 775).
Importante destacar que é irrelevante se a conduta do agente público, por 
exemplo, agente penitenciário, configura-se pelas condutas de impedimento ao 
acesso, recolhimento do aparelho encontrado em posse do detento ou mesmo a 
entrega do aparelho, cabendo ao magistrado, quando da fixação da pena-base, di-
ferenciar as circunstâncias e meios de prática da conduta pelo funcionário público.
• Confronto com o delito de corrupção passiva privilegiada – Art. 317, §2º, CP
Na prevaricação, o agente pratica a conduta comissiva ou omissiva visando à 
satisfação de interesse próprio, sem que haja qualquer pedido por parte de tercei-
ro; no delito de corrupção passiva privilegiada, o agente público atende ao pedido 
ou influência de outro.
Condescendência criminosa – Art. 320 do Código Penal 
Diferentemente do que ocorre nos demais crimes contra a Administração 
Pública praticados por funcionário público estudados até o momento, nesta in-
fração penal a relação entre a quebra do dever funcional pelo funcionário pú-
blico se dá em decorrência da conduta de outro funcionário público, não de 
particular (como nos demais delitos praticados por funcionário público contra a 
Administração Pública).
O elemento normativo “indulgência” pode ser compreendido como “clemên-
cia, tolerância para com a falta de subalterno” (PRADO: 2010, p. 462).
Análise do tipo penal 
Configura-se como delito especial próprio. O núcleo do tipo contempla duas 
condutas, a saber: deixar de responsabilizar subordinado que cometeu infração no 
exercício do cargo ou deixar de comunicar o fato ao conhecimento da autoridade 
competente para a respectiva responsabilização. Desta forma, possui como objeto 
material a infração não punida ou não comunicada.
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capítulo 2 • 40
Sujeitos do delito
Por se tratar de crime funcional, o funcionário público será o sujeito ativo. 
Por outro lado, o Estado, na condição de Administração Pública, figura como 
sujeito passivo.
Classificação doutrinária
Classifica-se como delito próprio, doloso, omissivo, formal, de forma livre, 
unissubjetivo e unissubsistente.
Consumação e tentativa
Por se tratar de crime formal, se consuma quando da prática da conduta 
omissiva pelo funcionário público hierarquicamente superior, independentemen-
te da impunidade do subalterno. Ainda, por ser unissubsistente, não admitirá 
a tentativa.
Confronto com o delito de prevaricação
Não se confunde com o delito de prevaricação, pois neste a conduta omissiva 
do agente público visa satisfazer interesse ou sentimento pessoal próprio, enquan-
to no delito de condescendência criminosa a conduta do agente público tem por 
motivação a indulgência em relação a terceiro.
Advocacia administrativa – Art. 321 do Código Penal
Análise do tipo penal
A expressão “patrocinar” compreende as condutas de proteger, beneficiar ou 
defender, direta ou indiretamente, interesse privado, que pode ser legítimo ou não 
(NUCCI: 2014, p. 1.060). Cabe salientar que o patrocínio pode configurar-se 
como mero “favor”, não sendo exigido, portanto, que o agente público receba 
qualquer vantagem.
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capítulo 2 • 41
Desta forma, podemos concluir ser possível o concurso formal de crimes com 
os delitos de concussão (art. 316, CP), corrupção ativa (art. 317, CP) e corrupção 
passiva (art. 333, CP). Possui por objeto material o interesse privado patrocinado.
Sujeitos do delito
Como os demais delitos até aqui estudados, teremos o funcionário público 
como sujeito ativo e a Administração Pública na qualidade de sujeito passivo.
Classificação doutrinária
Classifica-se como delito próprio, doloso, comissivo, formal, de forma livre, 
unissubjetivo e plurissubsistente.
Consumação e tentativa
Por tratar-se de crime formal, se consuma quando da prática da conduta 
comissiva pelo funcionário público, independentemente de efetivo prejuízo à 
Administração Pública. Por ser plurissubsistente, em tese, admitirá a tentativa.
Confronto com o delito de prevaricação
No delito de advocacia administrativa, o agente público não tem competência 
para a prática de determinado administrativo e se vale de sua função para in-
fluenciar aquele que possui a referida competência com o fim de auferir qualquer 
benefício a terceiro estranho à Administração Pública.
Questões relevantes
• Admite-se o concurso formal de crimes com os delitos de concussão (art. 
316, CP), corrupção ativa (art. 317, CP) e corrupção passiva (art. 333, CP).
• Nos casos de crimes contra a ordem tributária ou relacionados a licitação 
pública, reger-se-ão pelas regras especiais contidas, respectivamente, na Lei nº 
8137/1990 (art. .3º) e na Lei nº 8.666/1993 (art. 91).
capítulo 2 • 42
Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado – Art. 324 do Código Penal
Análise do tipo penal
Configura-se como norma penal do mandato em branco no que concerne à 
expressão “exigências legais”. A figura apresenta-se como dolosa e contempla ape-
nas o dolo genérico, todavia para a caracterização da expressão “sem autorização”, 
elementar normativa do tipo a ser valorada no caso concreto, necessário, nos casos 
de exoneração, remoção, substituição ou suspensão, para a caracterização do delito 
que o agente público tenha sido comunicado pessoalmente pela autoridade superior, 
não sendo a publicação em Diário Oficial suficiente para a configuração do delito.
Sujeitos do delito
São os mesmos dos demais crimes praticados por funcionário público contra 
a Administração Pública.
Classificação doutrinária
Classifica-se como delito próprio, doloso, comissivo, formal, de forma livre, 
unissubjetivo e plurissubsistente.
Consumação e tentativa
Configura-se como delito formal, sendo admissível a tentativa por tratar-se de 
delito plurissubsistente.
Questões relevantes
Competência para processo e julgamento dos crimes praticados por fun-
cionário público federal
Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra fun-
cionário público federal quando relacionados ao exercício da função, consoante 
interpretação do art.109, IV, da CRFB/1988. 
Distinção entre exoneração, remoção, substituição e suspensão: (a) exone-
ração é perda do cargo; (b) remoção é a mudança do funcionário de um posto para 
capítulo 2 • 43
outro, sendo mantido o cargo; (c) substituição é a colocação de um funcionário 
em local de outro; e (d) suspensão é a sanção disciplinar na qual o funcionário é 
afastado temporariamente de cargo ou função (NUCCI: 2014, p.1064- 1065).
Causas de aumento de pena aos crimes praticados por funcionário público
Encontram-se previstos no §2º do art. 327 do Código Penal e se aplica ao 
funcionário público ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou 
assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, 
empresa pública ou fundação instituída pelo poder público, situações nas quais a 
pena será aumentada da terça parte.
Dos crimes contra a Administração Pública praticados por particular
Usurpação de função pública – Art. 328 do Código Penal
Análise do tipo penal
O delito de usurpação de função pública compreende a conduta de exercício 
indevido, ou seja, a efetiva prática de ato específico de determinada função pública 
e, por tratar-se de delito formal, consuma-se independentemente da ocorrência de 
efetivo prejuízo à administração.
A expressão “usurpar” compreende a conduta de exercício indevido, ou seja, a 
efetiva prática de ato específico de determinada função pública. Para a configura-
ção do delito em exame, é imprescindível a presença do funcionário público, ou 
seja, que este tome ciência da conduta desrespeitosa no momento de sua prática.
Sujeitos do delito
O sujeito ativo deste delito, em regra, é o particular. Todavia, pode ser pratica-
do por funcionário público, quando este praticar conduta que não tenha qualquer 
relação com suas funções ou cargo.
Com relação ao sujeito passivo, continua sendo a Administração Pública, seja 
pelo aspecto patrimonial ou moral.
capítulo 2 • 44
Classificação doutrinária
Classifica-se como delito comum, doloso, comissivo, formal, de forma livre, 
unissubjetivo e plurissubsistente.
Consumação e tentativa
Delito formal que se consuma no momento em que o agente pratica algum 
ato de ofício inerente ao exercício da função pública, independentemente da ocor-
rência de efetivo prejuízo à administração.
Figuras típicas
(a) Figura simples – art. 328, caput, CP – Pena: detenção de 3 (três) meses a 2 
(dois anos) e multa; (b) Figura qualificada – art. 328, parágrafo único, CP – Pena: 
reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa.
Questões relevantes
• Caso a conduta seja praticada, no mesmo contexto fático, contra mais de 
um funcionário público, será caracterizado crime único, haja vista o Estado figurar 
como sujeito passivo direto (CAPEZ: 2010, p. 565);
• Agente que se encontra temporariamente suspenso de suas funções por for-
ça de ordem judicial: face ao princípio da especialidade, sua conduta será incursa 
no tipo penal do art. 359 do Código Penal;
• Distinção do delito de estelionato (art.171 do CP) e da contravenção penal 
prevista no art. 45 do Decreto-lei nº 3.688/41: no delito de estelionato, o agente 
se faz passar por funcionário público para induzir a vítima a erro e obter alguma 
vantagem ilícita de caráter patrimonial; já na contravenção penal de fingir-se de 
funcionário público, o agente não pratica qualquer ato de atribuição do funcioná-
rio público. Por outro lado, no caso de usurpação de função pública, caso o agente 
venha a auferir alguma vantagem ilícita, esta será decorrente do exercício indevido 
de função pública e restará caracterizada a figura qualificada prevista no parágrafo 
único do art. 328 do Código Penal.
capítulo 2 • 45
Resistência – Art. 329 do Código Penal
Análise do tipo penal
Também denominado resistência ativa, na medida em que o agente se opõe ao 
cumprimento de ato legal mediante o emprego de violência ou ameaça. A violên-
cia deve ser praticada durante a prática do ato legal com a finalidade de impedir 
sua execução. Caso seja praticada em momento anterior ou posterior à execução 
do referido ato legal, a conduta poderá configurar-se como outro delito, tal como 
lesão corporal (CAPEZ: 2010, p. 545). Caso a violência seja praticada contra a 
coisa, não há que se falar no delito em exame, mas na figura típica de dano quali-
ficado (art.163, parágrafo único, III, do Código Penal).
Além do dolo genérico, possui o especial fim de agir voltado ao impedimento 
da execução de ato legal pelo funcionário público, razão pela qual se denomina 
subjetivamente complexo.
A pessoa vítima da violência ou ameaça se configura objeto material do delito.
Sujeitos do delito
O particular é considerado sujeito ativo. Por outro lado, figuram no polo 
passivo o funcionário público competente para executar o ato legal e tercei-
ro que lhe esteja prestando auxílio, ainda que seja um particular estranho à 
Administração Pública.
Classificação doutrinária
Classifica-se como delito comum, subjetivamente complexo, comissivo, for-
mal, de forma livre, unissubjetivo e plurissubsistente.
Figuras típicas
• Figura simples – Art. 329, caput, do CP - Pena: detenção de 2 (dois) meses 
a 2 (dois) anos.
• Figura qualificada – Art. 329, §1º, do CP - Pena: reclusão de 1 (um) a 3 
(três) anos (aplicável nos casos em que, em decorrência da ameaça ou da violência, 
o funcionário público não consegue praticar o ato legal de sua competência).
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capítulo 2 • 46
• Importante destacar que o §2º expressamente estabelece que também serão 
cominadas ao autor do delito de resistência as penas correspondentes aos resulta-
dos lesivos provocados ao funcionário público ou ao terceiro que o auxiliou.
Consumação e tentativa
Por tratar-se de delito formal, se consuma no momento em que é empregada 
a ameaça ou a violência, não importando se o ato legal deixou de ser praticado, 
pois, caso isto ocorra, estaremos diante da figura qualificada prevista no §1º. Por 
ser delito que admite o fracionamento do iter criminis (plurissubsistente), em tese, 
a tentativa é admissível.
Questões relevantes
• Questiona a doutrina se a embriaguez excluiria o delito de resistência. O 
melhor entendimento é no sentido de que, salvo nos casos de embriaguez comple-
ta e oriunda de caso fortuito ou força maior, consoante dispõe o art. 28 do Código 
Penal, não há que se cogitar da exclusão de culpabilidade do agente. O ponto 
nodal reside na caracterização da “seriedade” da conduta do agente.
• A prática do delito de resistência em seguida ao delito de roubo e a possi-
bilidade de concurso de crimes.
Para fins de exemplificação, vejamos as seguintes narrativas hipotéticas: (a) 
a violência é empregada contra o agente público após a consumação do roubo. 
Neste caso, haverá concurso de crimes entre a figura do roubo próprio (art.157, 
caput, do CP) e o delito de resistência; (b) o agente subtrai a res e, em seguida, 
emprega violência ou grave ameaça contra policial a fim de evitar sua prisão em 
flagrante. Neste caso, a violência ou grave ameaça integram a figura típica do rou-
bo impróprio (art.157, §1º, do CP). Assevera Guilherme de Souza Nucci que “a 
violência para assegurar a posse da coisa é uma, não se podendo confundir com a 
outra usada para afastar o funcionário público do exercício de sua função, ainda 
que no mesmo contexto” (NUCCI: 2014, p. 1.075).
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capítulo 2 • 47
Desobediência – Art. 330 do Código Penal
Análise do tipo penal
Também denominado pela doutrina como resistência passiva, pois, neste deli-
to, o agente não emprega violência ou ameaça ao se opor ao cumprimento de ato 
legal. É essencial para a caracterização do delito que haja o descumprimento de or-
dem legal por quem tem, diretamente, o dever legal de cumpri-la. Diferentemente 
do delito de resistência, na desobediência o objeto material do delito é a ordem 
legal não cumprida.
Sujeitos do delito
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do delito de desobediência, inclusive o 
funcionário público, desde que a ordem não seja relacionada ao exercício de suas 
funções ou atribuições. 
Classificação doutrinária
Classifica-se como delito comum, doloso (há apenas o dolo genérico), comis-
sivo ou omissivo, formal, de forma livre, unissubjetivo e uni ou plurissubsistente, 
conforme o caso concreto.
Consumação e tentativa
Trata-se de delito formal que se consuma no momento em que o agente

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