Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONTEÚDO DE ABRANGÊNCIA DE TRABALHO (DIREITO PENAL IV) TÍTULO XI: DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CAPÍTULO I – Dos crimes praticados por funcionário público contra a Administração em geral a) Peculato (CP, art. 312); b) Peculato mediante erro de outrem (CP, art. 313); c) Inserção de dados falsos em sistema de informações (CP, art. 313-A); d) Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações (CP, art. 313-B); e) Concussão (CP, art. 316); f) Corrupção passiva (CP, art. 317); g) Facilitação de Contrabando e Descaminho (CP, art. 318); h) Prevaricação (CP, art. 319); i) Prevaricação Imprópria (CP, art. 319-A). CAPÍTULO II – Dos crimes praticados por particulares conta a Administração em geral a) Usurpação de Função Pública (CP, art. 328); b) Resistência (CP, art. 329); c) Desobediência (CP, art. 330); d) Desacato (CP, art. 331); e) Corrupção Ativa (CP, art. 333); f) Descaminho (CP, art. 334); g) Contrabando (CP, art. 334-A). CAPÍTULO III – Dos crimes contra a Administração da Justiça a) Denunciação Caluniosa (CP, art. 339); b) Comunicação falsa de crime ou contravenção (CP, art. 340); c) Autoacusação falsa (CP, art. 341); d) Falso Testemunho ou Falsa Perícia (CP, art. 142). BIBLIOGRAFIA BÁSICA 1. André Estefam; 2. Cezar Roberto Bitencourt; 3. Guilherme de Souza Nucci; 4. Paulo Queiroz; 5. Rogério Greco; 6. Rogério Sanches; Florianópolis/SC, janeiro de 2019. Prof. Airto Chaves Junior, Dr. TÍTULO XI DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CAPÍTULO I DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL DOS CRIMES COMETIDOS PELOS PARTICULARES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Esse Título encerra o atual Código Penal. Ele se divide em: a) Capítulo I: Crimes funcionais (praticados por funcionários públicos). Estão entre os arts. 312 e 327. b) Capítulo II: Crimes praticados por particulares contra a Administração. O funcionário público é vítima. 328 - 337-A c) Capítulo II-A: Crimes praticados por particulares contra a Administração Estrangeira. O bem jurídico protegido é a regularidade na transação comercial internacional. – 337-B - 337-D. d) Capítulo III: Crimes contra a Administração da Justiça - Arts. 338-359. e) Capítulo IV: Crimes contra as finanças públicas – art. 359-A/359-H. OBSERVAÇÕES PRELIMINARES CP, Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. (Incluído pela Lei nº 6.799, de 1980) O art. 327 do Código Penal é norma penal explicativa. Ele traz o conceito de funcionário público para o sujeito ativo dos crimes contra a administração (Capítulo I). A dúvida que pode surgir neste contexto é a seguinte: nos tipos penais previstos neste capítulo II (crimes praticados por particulares contra a Administração Pública) este conceito também serve para se estabelecer o que é “funcionário público” com relação ao sujeito passivo do crime? 1ª corrente (Mirabete e Bitencourt): para o primeiro autor, este conceito previsto no art. 327 do Código Penal funciona tanto para o sujeito ativo quanto para o sujeito passivo. Neste caso, o artigo 327 não se limitaria apenas ao capítulo I, mas ao todo o Código Penal. No mesmo sentido, registra Bitencourt: não há por que fazer a distinção, para fins de aplicação do conceito extensivo de funcionário público, entre sujeito ativo e sujeito passivo do delito. E isso porque o art. 327 emite um nítido comando geral, ainda que inserido no Capítulo I do Título XI do Código Penal, que deve ser aplicado a todas as hipóteses contempladas no ordenamento penal, contidas ou não no Código. 2ª corrente (Magalhães Noronha, Luiz Regis Prado e Hungria): não se pode aplicar o art. 327 ao Capítulo II. Se a intenção do legislador fosse dar um conceito uniforme, ele traria o conceito de funcionário público como final do título, não do capítulo. Essa segunda orientação doutrinária sustenta que só se utiliza o conceito do art. 327 quando o funcionário atuar no polo ativo do crime. Esses autores tratam da topologia do art. 327 do Código Penal, diante do que, há restrição do alcance do texto normativo. O alcance, então, figuraria apenas em relação às hipóteses em que os funcionários das entidades figurem como sujeitos ativos dos delitos funcionais. Pergunta: o defensor dativo é funcionário público? Sim, hoje o STF e o STJ (RHC 2012.01180621, 5ª Turma, 05/06/2013) entendem que o advogado dativo exerce função pública e, portanto, para fins penais, é funcionário público, praticando crimes funcionais. Pergunta: e aquele que exerce múnus público, é considerado funcionário para fins penais? Não, porque esse não exerce função pública. Função importante não é sinônimo de função pública. Assim, os depositários, os curadores, os administradores de bens, por exemplo, não são considerados funcionários públicos. Funcionários públicos por equiparação: Art. 327, § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) O art. 327, § 1º traz o conceito de funcionário público por equiparação. Quem exerce cargo, emprego ou função: a) Em entidade paraestatal; b) Em empresa prestadora de serviço contratada; c) Em empresa conveniada. A letras (b) e (c) são contratadas para a execução de atividade típica da administração pública. Entidade paraestatal: autarquias, sociedades de economia mista, empresas públicas e fundações públicas). Pergunta: o gerente do Banco do Brasil, em razão do desempenho de suas funções, pode ser vítima de desacato? Aos adeptos a 1ª orientação doutrinária, sim. Atenção: não se deve confundir atividade típica da Administração Pública com atividade típica para a Administração Pública. Ou seja, não é porque a Administração está contratando uma atividade que essa atividade contratada passa, automaticamente, a ter caráter de serviço público. Para fins de equiparação a que executa execução de atividade típica da Administração Pública, duas observações merecem destaque, conforme orientação do STJ: a) Para o terceirizado que exerce função de lançamento de informações no sistema de dados da Caixa Econômica Federal (REsp 1023103/CE); b) Para o agente que era médico e administrador de hospital particular conveniado com o sistema único de saúde (REsp 331055/RS). Essa segunda orientação foi ratificada pelo Supremo (HC nº 97710/SC) e está em plena conformidade com a doutrina: o § 1º do art. 327 não dá margem a dúvidas quanto à qualidade de funcionário público quando, por exemplo, determinado hospital, por meio de seus médicos ou administradores,atende pacientes pelo SUS, mediante convênio. Essa atividade, não se pode negar, é tratada como “atividade típica da Administração Pública”, consoante o disposto no art. 194 da CF, que pode ser gerida, complementarmente, pela iniciativa privada (art. 24, parágrafo único, da Lei n. 8.080/90). (Bitencourt) Pergunta: qual a importância desta “equiparação”? Ela alcança o funcionário público vítima? Doutrina Majoritária: o alcance da equiparação não atinge o funcionário público quando vítima do crime. Isso em razão de sua localização (a equiparação está no Capítulo dos crimes funcionais). Fernando Capez1, por exemplo, anota que não comete o delito de desacato o indivíduo que ofende a honra de empregado de uma empresa privada, concessionária de serviço público ou de integrante de uma empresa pública. Para Noronha2, a equiparação constante no § 1º somente é aplicável às hipóteses que os indivíduos sejam sujeitos ativos dos crimes funcionais e não sujeitos passivos. Nesta hipótese, para os autores, o sujeito ativo é particular, pelo que, deverá responder por um dos crimes contra a honra. Jurisprudência: nos tribunais, a situação é dividida. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região decide que não há equiparação ao servidor vítima de crime funcional: TRF-1 - APELAÇÃO CRIMINAL ACR 355211520124013300 (TRF-1). Data de publicação: 08/08/2014. Ementa: PENAL. APELAÇÃO. CRIME DE DESACATO. ART. 331 DO CP. FUNCIONÁRIO PÚBLICO POR EQUIPARAÇÃO. ART. 327, § 1º DO CP. APLICAÇÃO AO SUJEITO PASSIVO DO DELITO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Impossibilidade de se estender o conceito de funcionário público por equiparação aos sujeitos passivos do delito de desacato, nos termos do art. 327, § 1º do Código Penal. 2. Não merece reforma a sentença que determinou a extinção do processo em razão da ilegitimidade ativa do Ministério Público, ao fundamento de que o delito em questão é o de injúria - art. 140 do CP. 3. Apelação a que se nega provimento. Nos Tribunais Superiores, porém, tanto STJ (HC 52989/AC, 2006) quanto STF (HC 79.823-RJ - 2000) admitem a equiparação para o sujeito passivo da infração (exemplo: desacato). Neste caso, o gerente do Banco do Brasil poderia responder por crime de peculato e também figurar como vítima (sujeito passivo) de crime de desacato (equiparações que seriam advindas do § 1º, do art. 327, do CP). Acompanha esse entendimento o Tribunal de Justiça de Santa Catarina: APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE DESACATO PRATICADO CONTRA SERVIDOR PÚBLICO POR EQUIPARAÇÃO (ART. 331, CAPUT, C/C ART. 327, AMBOS DO CÓDIGO PENAL). SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DA DEFESA INSURGÊNCIA QUANTO AO FATO DA VÍTIMA NÃO SER FUNCIONÁRIA PÚBLICA. COBRANÇA DE ESTACIONAMENTO ROTATIVO NÃO É ATIVIDADE TÍPICA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DESCABIMENTO. OFENDIDA QUE É CONTRATADA DE EMPRESA CONCESSIONÁRIA PARA PRESTAR ATIVIDADE ESTATAL. SERVIDORA PÚBLICA POR EQUIPARAÇÃO. EXEGESE DO ART. 327 DO CÓDIGO PENAL. ALEGADO QUE A VÍTIMA DEMONSTROU INTERESSE EM ACEITAR A RETRATAÇÃO DA APELANTE DESCONSIDERADA PELO ÓRGÃO MINISTERIAL. IMPOSSIBILIDADE. CRIME DE AÇÃO PENAL PÚBLICA QUE NÃO PERMITE RETRATAÇÃO. OFENSA IRROGADA A VÍTIMA NA PRESTAÇÃO DO LABOR E COM O INTUITO DE MENOSPREZAR SERVIDOR PÚBLICO. CRIME DE DESACATO PERFEITAMENTE CARACTERIZADO. DESCONTROLE EMOCIONAL DA APELANTE QUE NÃO SERVE PARA JUSTIFICAR AS OFENSAS PERPETRADAS CONTRA A VÍTIMA. CONDENAÇÃO MANTIDA. 1 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal; parte especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 386. 2 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 208. DOSIMETRIA DA PENA IRREPARÁVEL. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Criminal n. 2015.025091-7, de Seara, rel. Des. Ernani Guetten de Almeida, Terceira Câmara Criminal, j. 23-06-2015). Observem, porém, que prevalece na doutrina que essa equiparação do § 1º só alcançaria o sujeito ativo da infração penal, não o passivo. O principal argumento é a localização do dispositivo ao final do capítulo que trata dos crimes funcionais. (Ano: 2016 Banca: FGV Órgão: MPE-RJ Prova: FGV - 2016 - MPE-RJ - Analista do Ministério Público – Administrativa). O conceito de funcionário público para fins penais não se confunde com o conceito para outros ramos do Direito. Em sendo crime próprio praticado por funcionário público contra a Administração, aplica-se o artigo 327 do Código Penal, que apresenta um conceito amplo de funcionário público para efeitos penais. Por outro lado, o artigo respeita o princípio da legalidade, disciplinando expressamente em que ocasiões determinado indivíduo será considerado funcionário público para fins de definição do sujeito ativo de crimes próprios. Sobre o tema ora tratado e de acordo com o dispositivo acima mencionado, é correto afirmar que: a) Exige-se o requisito da permanência para que seja reconhecida a condição de funcionário público no campo penal; b) Somente pode ser considerado funcionário público aquele que recebe qualquer tipo de remuneração no exercício de cargo, emprego ou função pública; c) Aquele que exerce cargo em autarquias, entidades paraestatais ou fundações públicas, não é considerado funcionário público para efeitos penais; d) O perito judicial não é considerado funcionário público para efeitos penais, já que apenas exerce a função transitoriamente; e) É equiparado a funcionário público, para efeitos penais, aquele que trabalha para empresa contratada para a execução de atividade típica da Administração Pública. (Redação de parte do art. 327, § 1º, do CP). Resposta “E”. Pergunta: e quanto ao particular que atua em concurso com o funcionário público, pode ele responder pelo crime funcional? A resposta a essa questão deve ser avaliada a partir da leitura do art. 30 do Código Penal: Circunstâncias incomunicáveis Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. Circunstâncias tem origem em circum stare, que significa “estar ao redor”. São dados, fatos, elementos ou peculiaridades que apenas “circundam” o fato principal. As circunstâncias não integram a figura típica, podendo contribuir, contudo, para aumentar ou diminuir a sua gravidade (Bitencourt). A falta de uma circunstância não faz, portanto, com que desapareça o crime. Em regra, as circunstâncias influenciam no quantum da pena. Elas podem ser: CIRCUNSTÂNCIAS OBJETIVAS CIRCUNSTÂNCIAS SUBJETIVAS Referem-se ao fato objetivamente considerado, à qualidade e condições da vítima, ao tempo, lugar, modo e meios de execução do crime Dizem respeito referem ao agente, às suas qualidades, estado, parentesco, motivos do crime, etc. As circunstâncias objetivas e as elementares do tipo (sejam elas objetivas ou subjetivas) se comunicam, mas desde que estejam na esfera de conhecimento dos participantes Essas circunstâncias e condições de caráter pessoal não se comunicam entre coautores e partícipes, por expressa determinação legal (CP, art. 30) Elementares são dados essenciais à figura típica, sem os quais ou ocorre uma atipicidade absoluta, ou uma atipicidade relativa. Exemplo de elementar: o crime de furto é descrito como o fato de alguém “subtrair”, para si ou para outrem, “coisa alheia móvel”. Aí temos os seus elementos. Faltando, por ex., o elemento “alheia”, sendo própria a coisa móvel subtraída, o fato é atípico, não constituindo crime (salvo o disposto no art. 346 do CP). A ausência de uma elementar pode produzir dois efeitos. 1º EFEITO ATIPICIDADE ABSOLUTA 2º EFEITO ATIPICIDADE RELATIVA Ocorre quando, excluída a elementar, o sujeito não responde por infração alguma. Ocorre quando, excluída a elementar, não subsiste o crime do qual se cuida,havendo a desclassificação para outro delito. Exemplo: Processado o sujeito por prevaricação (CP, art. 319), prova-se na instrução criminal que ele não era funcionário público ao tempo da prática do crime. Não responde pelo crime de que trata o art. 319 e nem por qualquer outra infração (atipicidade absoluta) Exemplo: processado o sujeito por crime de peculato (CP, art. 312), prova-se na instrução criminal que não era funcionário público ao tempo da prática da conduta. Desaparece o crime de peculato, mas subsiste o crime de apropriação indébita (CP, art. 168) ou furto (CP, art. 155) Conclusão: não se pode confundir elementar com circunstância. As elementares interferem na qualidade do crime, as circunstâncias interferem na quantidade da sanção. Então, a resposta é a seguinte: a circunstância de funcionário público se comunica ao coautor ou partícipe, respondendo o particular pelo crime funcional contra a Administração – art. 30, CP. Circunstância de caráter pessoal quando elementar do crime é comunicável. Assim, o particular poderá responder por peculato, concussão, etc. Vejam a questão: (Ano: 2014 Banca: CESPE Órgão: MPE-AC Prova: CESPE - 2014 - MPE-AC - Promotor de Justiça). Miguel, Abel e Laerte, ocupantes de cargos de direção em determinada câmara municipal, previamente ajustados e em união de esforços com Pires, empresário, todos agindo consciente e voluntariamente, associaram-se permanentemente com vistas à apropriação de verbas públicas, simulando operações comerciais entre a referida casa legislativa e empresa de fachada. Para tanto, os referidos servidores públicos determinavam que seus subordinados emitissem ordens de pagamento em valores superiores aos efetivamente contratados. O grupo foi objeto de investigação, que resultou em denúncia pela prática dos crimes de peculato doloso e de quadrilha, recebida por juízo criminal. Antes da prolação da sentença, os acusados efetuaram a reparação do dano ao erário. Com relação a esse caso hipotético: ( ) O crime de peculato é delito próprio de agente na função de servidor público, de modo que Pires, por ser empresário, deve responder por delito diverso do praticado pelos servidores da câmara municipal. FALSA Vejam que a expressão “funcionário público” é elementar do crime de peculato. Se é elementar, de acordo com a parte final do art. 30 do Código Penal, será estendida ao coparticipante que dela tenha conhecimento. Por isso, Pires responderá, mesmo sendo pessoa estranha à Administração Pública, pelo mesmo crime cometido pelo funcionário público. CAUSA DE AUMENTO DE PENA: CP, art. 327, § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. (Incluído pela Lei nº 6.799, de 1980) A pena aumenta-se de 1/3 quando o agente for ocupante de: a) Cargo em comissão; b) Função de direção; c) Assessoramento em: 1. Órgão da administração direta; 2. Sociedade de economia mista; 3. Empresa pública; 4. Fundação pública (espécie de autarquia). ATENÇÃO: não abrange autarquias em geral. IMPORTANTE: o STF decidiu que os chefes do executivo exercem função de direção de órgão da administração direta. Logo, em caso de prática de crime funcional, sempre responderão com majorante do art. 327, § 2º do Código Penal. Peculato Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá- lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Peculato culposo § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Trata-se de crime funcional impróprio. Classificação dos Crimes funcionais: a) Crimes funcionais Próprios (ou propriamente dito): faltando a qualidade de servidor do agente, o fato passa a ser tratado como indiferente penal. Está-se diante de um caso de atipicidade absoluta. Particular praticando o mesmo comportamento não interessa para o direito penal. b) Crimes Funcionais Impróprios: desaparecendo a qualidade de servidor do agente, desaparece o crime funcional. Há, então, uma desclassificação para um crime não funcional. Está-se diante de um caso de atipicidade relativa. Ato de Improbidade: todo agente que pratica crime funcional incorre, também, em ato de improbidade administrativa. Isso porque a prática de crime funcional é ato lesivo à Administração Pública e ofende os seus princípios norteadores (legalidade, moralidade, eficiência, etc.). Agora, atenção: nem todo ato de improbidade configura crime. CRIMES FUNCIONAIS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Os Crimes funcionais do Código Penal estão previstos nos artigos 312 a 326. São, em regra, dolosos. A única exceção é o PECULATO CULPOSO. Os Atos de Improbidade Administrativa estão previstos nos artigos 9, 10 e 11 da Lei de Improbidade Administrativa. Deve-se lembra que os ATOS DE IMPROBIDADE podem ser dolosos e culposos. Objetividade jurídica: em todas as modalidades de peculato, figuram como objetos jurídicos a Administração Pública, a propriedade pública e particular e a probidade administrativa. Espécies de peculato: a) PECULATO DOLOSO. Divide em: 1. Peculato próprio (duas modalidades): * Peculato-apropriação; * Peculato-desvio. Ambos são previstos no art. 312, caput, do Código Penal. Tipo Objetivo: trata-se de tipo misto-alternativo, já que pode ser praticado mediante duas condutas alternativamente previstas no tipo: “apropriar-se” ou “desviar”. “Apropriar-se” é tomar como seu, agindo como verdadeiro proprietário. Neste caso, a conduta pode ser comissiva ou omissiva. No primeiro caso (forma comissiva – ação), haveria apropriação propriamente dita. Aqui é possível a tentativa. Já, no segundo caso (forma omissiva – omissão em restituir), há negativa na restituição (não fazer). Neste caso, não se admite a tentativa. Então, resumidamente, a tentativa do crime de peculato doloso é possível, salvo quando se tratar de “peculato-apropriação” por meio de “negativa de restituição”, já que, nesse caso, o crime tem natureza unissubsistente. Bens públicos ou particulares: no peculato-apropriação a conduta é de apropriar-se de bens móveis que são públicos ou particulares custodiados pela Administração Pública. Pergunta: então é possível peculato de bem particular? Claro que sim, mas desde que este esteja custodiado pela Administração Pública. Já no peculato-desvio a conduta é desviar estes mesmos bens. Desviar, nada mais é do que alterar o destino do bem, neste caso, em proveito próprio ou alheio. Pergunta: se a alteração do destino ocorre em favor da própria administração, há peculato? Jamais. Para caracterização desse crime, é necessário que o desvio seja em proveito próprio ou alheio, e não em proveito da própria vítima. Mas atenção: em qualquer caso do “peculato próprio”, é pressuposto destas duas modalidades de peculato a posse anterior e lícita dobem. Pergunta: e se o funcionário não tiver a posse lícita do bem? Neste caso, praticará o peculato-furto, previsto no § 1º (modalidade de peculato impróprio). Pergunta: e se o agente visa, com o apoderamento do bem, ressarcir-se de eventual crédito que tenha para com o Estado (compensação), pode-se dizer que há “exercício arbitrário das próprias razões”? Não. Neste caso, há peculato. Pergunta: e se o servidor atuar mediante violência ou grave ameaça contra a pessoa e por conta disso, obtiver a posse do bem? Neste caso, poderá haver roubo (157) ou extorsão (158). Agora, imagine que o servidor recebe a posse do bem em razão do cargo e dele se utiliza, sem qualquer autorização, mas o restitui. Imagine um delegado de polícia que se utiliza de veículo apreendido em inquérito policial para fins particulares. Pergunta: o funcionário comete o crime de peculato? Não. Aqui há o chamado “peculato-uso”, que não se subsumi ao tipo, justamente por ausência de ânimo de apropriação, de assenhoramento. O fato, portanto, é atípico. Improbidade Administrativa: conforme anotado anteriormente, ainda que seja o fato atípico, pode o agente ter cometido ato de improbidade administrativa (art. 9º, IV, da Lei 8.429/92). Prefeito Municipal: em se tratando de Prefeito Municipal, tipifica-se o delito previsto no art. 1º, II, do Decreto-Lei 201/67. 2. Peculato impróprio (duas modalidades): * Peculato-furto (CP, art. 312, parágrafo 1º) * Peculato mediante erro de outrem (CP, art. 313). O peculato impróprio é o peculato do funcionário público que, não tendo a posse do bem, aproveita-se facilidade que proporciona a condição de funcionário público (que facilita) para a prática do crime, para subtrair, ou, ainda, para concorrer para que terceiro subtraia. XXXVII CONCURSO DE INGRESSO NA CARREIRA DO MINISTÉRIO PÚBLICO PROCESSO SELETIVO PREAMBULAR OBJETIVO - FASE MATUTINA - 21ª QUESTÃO ( ) O peculato impróprio ou peculato-furto ocorre quando o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se da facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. VERDADEIRA. Mas, atenção: neste último caso (concorre para que terceiro subtraia) deve o agente concorrer dolosamente. Isso porque a concorrência culposa vai levar para o peculato culposo). Isso é importante porque o funcionário que retira do patrimônio público determinado bem para si, sem se aproveitar de qualquer modo de facilidades decorrentes do cargo, comete o crime de FURTO. No Peculato Mediante Erro de Outrem, a conduta é apropriar-se do que recebeu por erro de outrem. Aqui, o terceiro erra espontaneamente, por conta própria. Lembrar que o “erro” dever ser ESPONTÂNEO. Se for o erro provocado pelo funcionário, poderá existir crime de estelionato. Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. XXXVII CONCURSO DE INGRESSO NA CARREIRA DO MINISTÉRIO PÚBLICO PROCESSO SELETIVO PREAMBULAR OBJETIVO - FASE MATUTINA - 21ª QUESTÃO ( ) O peculato impróprio ou peculato-furto ocorre quando o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se da facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. VERDADEIRA b) PECULATO CULPOSO (CP, art. 312, parágrafo 2º): Ocorre quando o servidor, por imprudência, negligência ou imperícia, coopera culposamente ou contribui para o crime doloso (funcional ou não) de outrem (particular ou servidor) contra a administração. Pergunta: qual a razão dessa construção típica? Deve-se ter em mente que não se pune a participação culposa de crime doloso. Assim, criou-se um tipo específico para quem, por culpa, colabora para com o resultado do crime doloso, em prejuízo da administração. Reparação dos danos: opera efeitos extremamente benéficos no peculato culposo: § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Assim, pode regrar a extinção da punibilidade ou a redução da pena pela metade. Pergunta: e a reparação dos danos na prática do peculato doloso, traz ela alguma vantagem ao infrator? XXXIX CONCURSO DE INGRESSO NA CARREIRA DO MINISTÉRIO PÚBLICO - PROVA PREAMBULAR FASE MATUTINA: 78ª QUESTÃO ( ) O crime de peculato, disposto no Código Penal Brasileiro, possui apenas modalidades dolosas. Não há em nenhuma das modalidades previsão para extinção da punibilidade em caso de ocorrer a reparação do dano pelo funcionário público antes do recebimento da denúncia, entretanto, cabe-lhe, em tendo reparado o prejuízo de forma voluntária, o direito ao instituto do arrependimento posterior. FALSA Princípio da Insignificância: Pergunta: mas o que é insignificante no plano concreto? No Brasil, em 2008, os Tribunais Superiores consolidaram critérios para o reconhecimento do princípio da insignificância. São 4 (quatro) os critérios: 1º Critério: mínima ofensividade da conduta do agente. 2º Critério: nenhuma periculosidade social da ação. 3º Critério: reduzido grau de reprovabilidade do comportamento. 4º Critério: inexpressividade da lesão provocada. SUPEERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL No estudo do que é ou não insignificante, o STJ analisa a insignificância da lesão para a vítima. No estudo do que é ou não insignificante, o STF analisa a insignificância conforme a realidade econômica do país O STJ não aplica o princípio da insignificância aos crimes contra a Administração Pública. A alegação é que o bem jurídico não é o patrimônio público, mas a moralidade administrativa (Súmula 599) Admite a aplicação do princípio da insignificância aos crimes contra a Administração pública, inclusive ao descaminho. Prevalece em ambos os Tribunais que não se aplica o princípio da insignificância aos crimes contra a fé pública, por exemplo, falsificação de moedas Dúvida: é possível o reconhecimento da atipicidade material da conduta do “peculato” pelo Princípio da Insignificância? Aí vem o problema: 1ª Corrente: não se aplica ao crime de peculato, visto que dentre os bens tutelados se encontra a probidade administrativa, cuja ofensa independe do valor do objeto material. Conforme esta corrente, não é possível o reconhecimento de dito princípio para os crimes contra a Administração Pública. Essa corrente prevalece no STJ (REsp 1060082/PR, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 17/06/2010, DJe 28/06/2010). O Superior Tribunal de Justiça, aliás, no dia 20 de novembro de 2017, aprovou a Súmula 599, a qual contempla o seguinte teor: Súmula 599-STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a Administração Pública. Pergunta: e, para o STJ, há exceção? A jurisprudência é pacífica em admitir a aplicação do princípio da insignificância ao crime de descaminho (art. 334 do CP) que, topograficamente, está inserido no Título XI do Código Penal, que trata sobre os crimes contra a Administração Pública. Conforme o Superior Tribunal de Justiça, “a insignificância nos crimes de descaminho tem colorido próprio, diante das disposições trazidas na Lei n. 10.522/2002”, o que não ocorre com outros delitos, como o peculato, etc. (AgRg no REsp 1346879/SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/11/2013). Relativização da Súmula pelo próprio Tribunal: vejam, ainda, queem setembro de 2018, o próprio STJ afastou a incidência da Súmula 599 em caso específico de dano ao patrimônio público (Ver RHC 85272). 2ª Corrente: para o Supremo Tribunal Federal, é possível desde que: a) o objeto material esteja em desuso, em situação precária, sendo de valor irrisório; e b) seja devolvido; c) que a conduta não provoque interrupção do serviço público. HC 107370/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 26.4.2011. Fonte: Informativo n. 624, STF. No mesmo sentido, também do STF: HC 87.478, HC 77.003-PE, HC 95.758, HC 98.159, HC 92.438 e HC 62.012-CE. No ano de 2011, a 1ª Turma do Supremo concedeu habeas corpus para aplicar o princípio da insignificância em favor de militar denunciado pela suposta prática do crime de peculato-furto. Na espécie, foram apreendidos gêneros alimentícios na posse do paciente, avaliados em R$ 215,22, pertencentes à organização militar em que trabalhava como cozinheiro. Consignou-se que a jurisprudência do STF, mesmo no caso de delito militar, admite a aplicação do aludido postulado desde que, presentes os pressupostos gerais, não haja comprometimento da hierarquia e da disciplina exigidas dos integrantes das forças públicas. Ressaltou-se, por fim, que na situação dos autos, não houvera lesividade ao patrimônio, pois os bens permaneceram no local. No tocante à hierarquia e à disciplina, assinalou-se que estas não foram comprometidas, uma vez que ocorrera o desligamento do denunciado das Forças Armadas. HC 107638/PE, rel. Min. Carmen Lúcia, 13.9.2011. (HC-107.638). No mesmo sentido, HC 112388 / SP - SÃO PAULO. Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI. Relator(a) p/ Acórdão: Min. CEZAR PELUSO. Julgamento: 21/08/2012. Órgão Julgador: Segunda Turma. Dúvida: então, o Supremo Tribunal Federal não segue a orientação da Súmula 599 do STJ? Isso mesmo. No STF, há julgados admitindo a aplicação do princípio mesmo em outras hipóteses além do descaminho, como foi o caso do HC 107370, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 26/04/2011 e do HC 112388, Rel. p/ Acórdão Min. Cezar Peluso, julgado em 21/08/2012. Segundo o entendimento que prevalece no STF, a prática de crime contra a Administração Pública, por si só, não inviabiliza a aplicação do princípio da insignificância, devendo haver uma análise do caso concreto para se examinar se incide ou não o referido postulado. Tese Institucional do Ministério Público do Estado de São Paulo: só se aplica o princípio da insignificância aos fatos que correspondem a crimes contra o patrimônio. Formas anômalas de Peculato 1. Peculato por equiparação: CLT, art. 552. A CLT equipara a peculato doloso quaisquer atos que acarretem malversação (desvio de dinheiro) ou dilapidação do patrimônio das associações ou entidades sindicais. Art. 552 - Os atos que importem em malversação ou dilapidação do patrimônio das associações ou entidades sindicais ficam equiparados ao crime de peculato julgado e punido na conformidade da legislação penal. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 925, de 10.10.1969) Pergunta: e neste caso, de quem é a competência para processo e julgamento? A competência, em regra, é da Justiça Estadual, salvo se a prática atingir bem, serviço ou interesse da União (CRFB/88, art. 109, IV). 2. Peculato eletrônico: Código Penal, art. 313-A. Inserção de dados falsos em sistema de informações (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000): Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) – crime formal de consumação antecipada. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Observação: é uma espécie de falso ideológico, pois só pode praticar o crime o funcionário autorizado, ou seja, quem tem legitimidade para incluir ou excluir a informação. Objetividade Jurídica: este crime visa a proteção da confiabilidade e integralidade dos sistemas informatizados sob a responsabilidade do Estado. Tipo Objetivo: é tipo misto alternativo. Na primeira parte, há dois núcleos: “inserir” ou “facilitar” a inserção de dados falsos em sistemas informativos; na segunda, outros dois: “alterar” ou “excluir” (indevidamente) dados corretos (verdadeiros) no sistema de informação. Objeto material: é o dado, falso ou verdadeiro, ou seja, o elemento de informação. Vejam que o “sistema de informação” é o gênero. As espécies são: a) sistemas informatizados; b) bancos de dados. O que difere o primeiro do segundo é apenas o “local” em que o elemento de informação é armazenado. O “Eletrônico”, como um computador, uma rede de informática ou meio semelhante; o físico, como arquivos impressos, livros, fichas cadastrais, etc. O tipo fala em “funcionário autorizado”. É, portanto, crime próprio (há autores que sustentam ser crime de “mão própria” – Delmanto, por exemplo). Classificação quanto ao resultado (natural): é crime formal de consumação antecipada, sendo desnecessário que se logre a vantagem indevida objetivada ou então, que provoque efetivo dano. A tentativa é possível, pois se trata de conduta cindível. Atenção: a Lei 9.504/97, que trata das normas gerais das eleições, em seu art. 72, incrimina conduta semelhante a esta, mas desde que a fraude se refira ao resultado do pleito eleitoral. Em atenção ao princípio da especialidade, nestes casos, aplica-se a norma eleitoral: Art. 72. Constituem crimes, puníveis com reclusão, de cinco a dez anos: I - Obter acesso a sistema de tratamento automático de dados usado pelo serviço eleitoral, a fim de alterar a apuração ou a contagem de votos; (…) 3. Peculato Hacker: Código Penal, art. 313-B. Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000): Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000). Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Tipo Objetivo: “modificar” ou “alterar” sistema de informação ou programa de informática. “Modificar” quer dizer mudar por completo o sistema de informações ou programa de informática; “alterar” significa efetuar mudanças parciais. Relevância da conduta: é necessário que essa alteração seja potencialmente prejudicial à Administração ou a terceiros, sem o que não se poderá reconhecer mais do que uma infração administrativa, dada a atipicidade material da conduta (Estefam). Não é necessário, contudo, que cause efetivo dano, deve GERAR ESSA POSSIBILIDADE. Pergunta: e se haver dano? Neste caso, incide o aumento de pena previsto no parágrafo único. Objeto material: são dois: a) Sistemas de Informações, conforme se estudou no artigo anterior, trata-se o “sistema de informação” de gênero. As espécies são: a) sistemas informatizados; b) bancos de dados. b) Programa de informática (ou software), conceito que deve ser emprestado do art. 1º da Lei 9.609/98: Art. 1º Programa de computador é a expressão de um conjunto organizado de instruções em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer natureza, de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da informação, dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados em técnica digitalou análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados. Agora, atenção: esse dispositivo não delimita expressamente que o comportamento do hacker deva recair sobre sistemas de informação ou programa de informática da Administração Pública, tal como faz o art. 313-A. Diante disso, pergunta-se: é possível a prática desta infração contra o particular? Não. Apesar de não trazer expressamente, está ele inserido no Capítulo I, do Título XI da Parte Especial do CP, o qual trata dos crimes cometidos por funcionário público conta a Administração em Geral. Tipo Subjetivo: é o dolo, que pode ser direto, ou eventual. Classificação quanto ao resultado (natural): é crime de formal e se consuma antecipadamente (antes de qualquer dano efetivo), já que o tipo não exige qualquer resultado naturalístico. Tentativa: prevalece na doutrina que é possível, embora de difícil caracterização prática. Concussão Art. 316, caput. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Trata-se de crime funcional impróprio. Neste tipo penal, pune-se o funcionário público que exige vantagem indevida, em razão do cargo (ainda que fora de sua função ou antes de assumi-la, mas em razão dela), para si ou para outrem. É uma espécie de extorsão, mas praticada por funcionário público com abuso de autoridade contra o particular. Rogério Greco diz que a Concussão é “delito irmão” do crime de Corrupção Passiva. Pergunta: então, qual a diferença entre a corrupção passiva e a concussão? A diferença entre ambos está nos NÚCLEOS: na concussão temos o exigir, enquanto na corrupção passiva o funcionário solicita, pede (não coage, não intimida), ou seja, o agente negocia (a corrupção passiva envolve negociação). O verbo, portanto, é que define se é concussão ou corrupção passiva. Atenção quanto a entrega da coisa em razão da prática de concussão: quando a outra parte entrega a vantagem exigida, ela é vítima. Neste ponto, é atípica a conduta daquele que entrega a coisa ao autor da concussão. Ou seja, na concussão, o verbo é EXIGIR, o que pressupõe iniciativa do servidor público. O verbo exigir denota imposição, intimidação. Há, neste caso, um constrangimento, uma ameaça (é o que distingue da corrupção passiva). Mal grave e injusto: não é preciso que o autor do fato prenuncie mal grave e injusto, sendo suficiente o temor que o cargo inspira. Elemento subjetivo do tipo: a conduta exigir deve “ser para si ou para outrem”, que é o elemento subjetivo específico do crime. Pergunta: a exigência, necessariamente, precisa ser feita pelo funcionário? Não. A exigência pode ser feita pelo próprio agente diretamente, ou por interposta pessoa, de forma indireta. Pode, ainda, ser verbal ou escrita, explícita ou implícita. Nexo causal entre a exigência e a função exercida: é imprescindível. Sempre deve haver nexo causal entre a exigência e a função exercida. Este nexo causal é fundamental para que se diferencie a concussão da extorsão. O aluno deve lembrar que a concussão pode ser praticada por qualquer pessoa, inclusive pelo funcionário público ou por pessoa a seu mando (autoria mediata). Quando a exigência não tem nexo de causalidade com a função exercida pelo funcionário público, não se trata de concussão, mas pode caracterizar crime de extorsão. Não é necessário estar no exercício da função: o tipo prescreve “ainda que fora da função, ou antes de assumi-la”. Objeto Material: vantagem indevida. Pergunta: e se a vantagem for devida? Natureza da vantagem: 1ª corrente: parte da doutrina e jurisprudência exige que a natureza tenha origem patrimonial. Isso em virtude do paralelo entre os crimes de concussão e extorsão. 2ª Corrente (prevalece): a concussão não é delito contra o patrimônio, logo, não se exige vantagem patrimonial (Bitencourt, Nucci, Rogério Greco, Estefam). Exemplo: concessão de título honorífico, a conferência a título de graduação, enfim, a vantagem indevida pode não ter necessariamente valor econômico. Pergunta: a pessoa que aceita a exigência e entrega a vantagem indevida pratica algum crime? Pratica corrupção ativa? Não. Quando há a exigência, quem a aceita e entrega a vantagem é vítima, porque a corrupção ativa (art. 333, CP) tem as condutas de oferecer e prometer, ou seja, pressupõe a iniciativa de corromper. Além disso, se o particular entregou a vantagem, o fez em razão de prévia ameaça praticada pelo servidor público. Mas, atenção: a conduta de entrega pode configurar crime se restar configurado um prévio ajuste de vontades entre o servidor e o particular (liame subjetivo entre ambos). Vantagem em proveito próprio ou de terceiro: é elementar do tipo. Se for em favor da Administração, não há concussão. Neste caso, pode haver excesso de exação (CP, art. 316, § 1º). Consumação e tentativa: a concussão se consuma no momento da exigência. Considera-se consumado o crime no momento em que a vítima toma dela conhecimento. Neste caso, será possível a tentativa? Há três situações: 1ª Situação: concussão praticada na forma verbal e direta (face a face): não é possível, pois se trata de crime unissubsistente. 2ª Situação: concussão praticada por intermédio de outra pessoa. Neste caso, o iter criminis pode ser interrompido antes que a exigência chegue ao conhecimento do ofendido e, por isso, é possível a tentativa. 3ª Situação: concussão realizada por escrito em hipótese que o documento é extraviado ou interceptado antes de chegar às mãos do particular, destinatário da exigência. Também é possível. QUESTÃO RELACIONADA Ano: 2007 Banca: FCC Órgão: TRE-PB Prova: FCC - 2007 - TRE-PB - Analista Judiciário - Área Judiciária. Mário, policial militar, em uma "diligência" de rotina encontra João, foragido da Justiça. Quando descobre tratar de criminoso foragido, Mário exige de João a quantia de R$ 10.000,00 para não o conduzir à prisão. Pedro, policial militar parceiro de Mário, vê a cena e prende Mário e João, antes que João entregasse o dinheiro exigido para Mário. Neste caso, Mário cometeu crime de tentativa de concussão: ( ) FALSA. O crime é de concussão consumado. Concussão por médico: o médico “X”, atendendo pelo SUS (equiparado a funcionário público para fins penais) que exige vantagem indevida condicionando-a ao atendimento do paciente. Que crime pratica? A questão da Prisão em Flagrante: o aluno deve atentar é a classificação desse crime quanto ao resultado naturalístico. Trata-se de crime formal, ou seja, que prescinde de resultado naturalístico para consumação. Crime formal é aquele crime de consumação antecipada, ou seja, é aquele em que existe um resultado previsto expressamente no tipo, mas esse resultado não precisa ocorrer para que se verifique a consumação do delito. Então, ATENÇÃO: a prisão em flagrante em crimes formais é plenamente possível, mas desde que ocorra enquanto o agente estiver em situação de flagrância, e não no momento do exaurimento do delito. Prisão em Flagrante (CPP, art. 302): I – está cometendo a infração penal (1ª modalidade de flagrante próprio ou real): O agente está no local praticando o núcleo do tipo. II – que acaba de cometer a infração penal (2ª modalidade de flagrante próprio): O agente continua no local do crime, apesar de já haver cessado a execução. III – Perseguido “logo após” (flagrante impróprio): O agente não está mais no local, porém é perseguido após rápidas diligências. IV – Encontrado “logo depois” (flagrante presumido): O agente também abandonou o local,mas é encontrado em situação que faz presumir ser o autor da infração. Se o flagrante não ocorreu NA exigência, a prisão somente poderá ocorrer em virtude de mandado. Isso é muito explorado em concursos. Não se precisa do recebimento da vantagem para consumação do crime, precisa-se apenas da exigência. O recebimento da vantagem é mero exaurimento típico. Então, resumidamente, a prisão em flagrante no momento do recebimento (se este ocorrer num contexto temporal diverso da exigência) não é válida, devendo ser objeto de RELAXAMENTO (prisão ilegal). Apesar disso, a apreensão daquilo que se entregou ao agente é válido para comprovar a prática da infração. Não confundam os institutos! Corrupção Passiva Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Verbos do tipo: a) Solicitar; b) Receber; c) Aceitar promessa. (...) para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida. ATENÇÃO: nas práticas de “receber” e “aceitar promessa”, pressupõe-se a prática de corrupção ativa por parte do particular (que oferece ou promete). Classificação: a) Corrupção Passiva Própria: é aquela que tem como objetivo um ato ilícito pelo funcionário público. b) Corrupção Passiva Imprópria: é aquela que tem como objeto um ato lícito da parte do funcionário público. Pergunta: E por que isso é crime? Porque o funcionário público já é remunerado pelo seu trabalho, de forma que não pode haver de forma nenhuma ingerência, interferência do particular. Pergunta: é possível a aplicação do princípio da insignificância para o crime de corrupção passiva? Para o crime de Corrupção Passiva, melhor dizer que não é cabível a aplicação do princípio da insignificância. A jurisprudência dos Tribunais Superiores é neste sentido. Consumação e tentativa: Solicitar: esta modalidade estará consumada no momento da solicitação, ou seja, quando a vítima tomar conhecimento dela. Trata-se de crime formal de consumação antecipada. Receber: esta modalidade se consuma no momento em que o agente entra na posse da coisa, no momento em que recebe em que se apodera da coisa. Aqui o crime é material. Aceitar promessa: estará consumado o crime no momento em que o funcionário concorda com a promessa. A aceitação pode ser feita desde por escrito ou mesmo, por um simples sinal afirmativo com a cabeça de que aceitou a promessa. A tentativa é possível nas três formas. É de difícil caracterização, no entanto, nas primeira e terceira hipóteses. Atenção para o Flagrante Delito: na corrupção passiva existe flagrante no recebimento, porque este não é mero exaurimento e sim conduta típica. Pergunta: o jurado pode incorrer na prática esse crime? Vejam que o art. 445 do Código de Processo Penal, diz que o jurado, no exercício da função ou a pretexto de exercê-la, será responsável criminalmente nos mesmos termos em que são os juízes togados, a exemplo do que ocorre com o crime de corrupção passiva. Pergunta: e quanto à questão da gravação da conversa feita por um dos interlocutores, envolvido no crime de corrupção passiva. Imagine que o particular grava clandestinamente conversa que mantém com o servidor quando este lhe solicita vantagem indevida. Essa prova é válida em Processo Penal? Corrupção exaurida: é o que a doutrina reconhece como a majorante do §1º. Há autores, porém, que não concordam com essa nomenclatura (Rogério Greco, por exemplo), especialmente porque o exaurimento relativo ao crime de corrupção não ocorre quando o funcionário faz ou deixa de fazer alguma coisa a que estava legalmente obrigado, mas, sim, quando recebe a vantagem indevida. Incidência da majorante do § 1º: essa causa especial de aumento de pena só pode ser aplicada ao caput do art. 317 do Código Penal, haja vista que, além de sua situação topográfica, para que reste configurada a infração penal prevista pelo § 2º do mencionado artigo, o agente não poderá atuar com a finalidade de obter vantagem indevida, para si ou para outrem. Facilitação de contrabando ou descaminho Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334): Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. Bem jurídico tutelado: a Administração Pública e a Moralidade Administrativa. Especialmente, no que tange aos específicos deveres funcionais ligados à coibição de contrabando ou descaminho. Tipo Objetivo: é “facilitar”, no sentido de “desimpedir”, “auxiliar”. O agente que pratica esse crime visa tornar fácil, afastar as dificuldades do contrabando e/ou do descaminho. Essa conduta pode ser comissiva ou omissiva. Mas atenção: essa facilitação precisa ser com infração de dever funcional do agente, pois, se não houver a transgressão funcional, poderá haver participação no crime do art. 334 do Código Penal, jamais neste caso estará presente a figura do art. 318. CONTRABANDO DESCAMINHO Importa ou exporta mercadoria absoluta ou relativamente proibida Toda fraude empregada para iludir no todo ou em parte pagamento de impostos de importação ou exportação Então, para não confundir: o crime do particular é o de praticar o contrabando ou descaminho; o crime do funcionário público é o de facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho. Sujeito ativo: trata-se de crime próprio do funcionário público e com o dever funcional de repressão ao contrabando ou descaminho. Então, além de ser servidor público, deve estar entre as atribuições do agente o dever de prevenir contrabandos e descaminhos. Funcionário público que tenha por missão a prevenção ou repressão do contrabando ou descaminho. É possível a participação de funcionários que não tenham essa missão ou mesmo de particulares. Pergunta: e o servidor que não apresenta tal qualidade (não comporta a missão de repressão do contrabando ou descaminho), que crime pratica? Não. Neste caso, deverá ser considerado concorrente do contrabando ou descaminho, ou seja, a ele se imputará coautoria ou participação da prática do art. 344 ou 344-A do Código Penal. Sujeito passivo: o Estado, por meio da União. Elemento Subjetivo: o dolo, somente. É o dolo genérico (não há fim especial). Pergunta: a consumação dessa infração está condicionada ao sucesso do contrabando ou descaminho? Não está. A consumação se dá com a efetiva facilitação, ainda que não se consume o contrabando ou descaminho. Tentativa: é possível, desde que a facilitação seja realizada por ação; se for por omissão não há possibilidade, pois, a omissão própria não admite o fracionamento da conduta. Vejam agora essa questão: João, funcionário da alfândega, sabedor que seu amigo Pedro irá chegar de viagem repleto de componentes eletrônicos na bagagem que deveriam extrapolar o valor da isenção, propõe ficar de plantão nesse dia, para viabilizar a passagem de Pedro sem que seja importunado. Pedro chega de viagem, com as mercadorias, mas depois de passar por João pelaalfândega, é pego por outro funcionário, sendo instaurado o competente inquérito. O Ministério Público deixa de denunciar Pedro por entender que o valor não chegava a lesionar o interesse do Estado (princípio da insignificância). Qual seria a situação em relação a João? Resposta: a conduta é atípica, ou seja, a inexistência do injusto de contrabando ou de injusto de descaminho, que são os elementos objetivos do tipo de facilitação de contrabando ou descaminho, descaracteriza o crime de facilitação. Aplica-se, neste caso, o PRINCÍPIO DA ACESSORIEDADE LIMITADA. Competência: é da Justiça Federal. Competência em razão da matéria. É absoluta. Pergunta: e se o agente for servidor público estadual ou municipal, qual a competência? Ainda que o agente seja estadual, municipal ou distrital, a competência será da Justiça Federal, isso por conta do interesse direto da União. Pergunta: será que a extinção da punibilidade do crime de descaminho pelo pagamento dos tributos alcança o crime do art. 318 do Código Penal que lhe é conexo? Não se estende a esse crime, ou seja, mesmo que a punibilidade daquele crime seja extinta, o agente que praticou a facilitação responderá pela infração, pois isso afeta a punibilidade, não o injusto penal. Prevaricação E prevaricação imprópria Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007). Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. Antes de passar a análise dos crimes de “prevaricação”, vamos ver as principais diferenças entre corrupção passiva (CP, art. 317), tráfico de influência (CP, art. 332) e exploração de prestígio (CP, art. 357, CP): CORRUPÇÃO PASSIVA (CP, art. 317, caput) CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA (CP, art. 31, § 2º) TRÁFICO DE INFLUÊNCIA (CP, art. 332) EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO (CP, art. 357) Os verbos são: Solicitar, receber e aceitar promessa de vantagem indevida em razão da função. Os verbos são: Pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, Os verbos são: Solicitar, exigir, cobrar, obter, a vantagem ou promessa de vantagem, sob pretexto de influir em ato de funcionário público. Os verbos são: Solicitar ou receber, dinheiro ou outra vantagem, a pretexto de influir em ato de juiz, jurado, MP, funcionários da Justiça É crime de funcionário público contra a administração, ou seja, dos 3 aqui estudados, é o único que é cometido em razão da função. Por isso, é o crime mais grave (com pena maior). É crime de servidor público contra a administração. Mas, neste caso, o funcionário cede a pedido ou influência de outrem É crime de particular contra a administração pública. É crime contra a administração da Justiça. Tanto o tráfico de influência como a exploração de prestígio são os chamados crimes de venda de fumaça – porque ele age a pretexto de influir. Trata-se de uma fraude. Diferença relacionadas ao crime de prevaricação (art. 319, CP) e corrupção passiva privilegiada (CP, art. 317, § 2º): a prevaricação descreve a conduta de retardar ou deixar de praticar indevidamente ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. O que distingue os tipos é o elemento subjetivo do tipo – a intenção especial do agente (que na prevaricação age para satisfazer interesse ou sentimento pessoal). Consumação do crime de prevaricação: a consumação se dá no momento em que o funcionário praticar, deixar de praticar ou retardar ou ato de ofício. Concurso de Pessoas: a prevaricação é crime de mão própria, só admitindo participação do particular (não coautoria). Conflito aparente de normas: a prevaricação é crime subsidiário em relação à concussão e à corrupção passiva. Condescendência criminosa x prevaricação: a condescendência se parece com a prevaricação, mas tem uma importante diferença. Na condescendência criminosa do art. 320 do Código Penal, a relação é entre chefe e subordinado. Neste caso, o chefe deixa de tomar medida em relação ao seu subordinado por condescendência. PREVARICAÇÃO IMPRÓPRIA: art. 319-A, do Código Penal: Deixar o Diretor de penitenciária ou agente público de cumprir o seu dever de vedar aos presos acesso a aparelhos telefônicos, de rádio ou similar que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo. A conduta aqui é omissiva própria. Vejam que não configura este crime ingressar com o celular no presídio. Essa conduta (entrar com aparelho de comunicação móvel no presídio) caracteriza a prática do crime do art. 349-A, do Código Penal: Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional. (Incluído pela Lei nº 12.012, de 2009). Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (Incluído pela Lei nº 12.012, de 2009). XXXVIII CONCURSO DE INGRESSO NA CARREIRA DO MINISTÉRIO PÚBLICO PROCESSO SELETIVO PREAMBULAR OBJETIVO - FASE MATUTINA 68ª QUESTÃO ( ) Na hipótese do acusado, processado pelo delito de prevaricação, restar provado durante a instrução criminal que ele não era funcionário público ao tempo do cometimento do fato, a ausência de uma elementar leva a atipicidade na modalidade relativa. FALSA, pois seria “absoluta” a atipicidade. TÍTULO XI DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CAPÍTULO II DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL Usurpação de função pública Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Atenção ao conflito aparente de normas penais (5 SITUAÇÕES BASTANTE COBRADAS EM PROVAS): a) fingir-se funcionário público: art. 45 da Lei de Contravenções Penais (Lei 3.688/41). b) exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem preencher as condições a que por lei está subordinado o seu exercício - art. 47 da Lei de Contravenções Penais (Lei 3.688/41). c) agente titular de cargo público temporariamente suspenso por determinação judicial: art. 359 do Código Penal. d) Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica: CP, art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa. e) Conflito com Abuso de Autoridade (Lei 4.898/65): a usurpação de função pública não se confunde com o abuso de autoridade: com efeito, uma coisa é exceder-se no exercício da função pública (abuso), e outra, completamente distinta, é investir-se na que não possui. Bem jurídico tutelado: o bom funcionamento da Administração Pública, já que pessoas sem atribuição legal para exercer determinada atividade atuam de forma ilícita. Sujeito ativo: qualquer pessoa, geralmente o particular. Pergunta: o servidor público, em serviço, pode praticar esse crime? Sim, quando se investe em função que absolutamentenão possui. Sujeito passivo: o Estado. Tipo Subjetivo: é o dolo. A ausência do ânimo (dolo) de usurpar impossibilita o juízo de tipicidade. Exemplo: Escrivão de Polícia que procede o interrogatório do autuado para acelerar os trabalhos na delegacia. Consumação: é crime formal. O momento consumativo corresponde, então, a prática do primeiro ato de ofício relativo à atribuição usurpada. Pergunta: será que a mera ostentação da função satisfaz o tipo? Não, é necessária a prática de algum ato neste sentido. Mas a ostentação pode caracterizar a contravenção penal do art. 45 da LCP. Tentativa: é possível, pois o iter criminis pode ser fracionado em vários atos. Parágrafo único: incorre na qualificadora. Se o agente aufere vantagem com o fato, a pena é maior. Essa vantagem pode ser patrimonial ou não. Aqui o agente pratica o ato de oficio, usurpando a função pública, movido por essa finalidade que é determinada vantagem, em regra, econômica. Além disso, como a lei prevê apenas o aferimento de vantagem, não é necessária sua fruição, podendo, pois, a vantagem auferida destinar-se a outrem (Bitencourt). Crime formal: trata-se de crime formal que não exige o resultado material para se consumar; excepcionalmente, porém, a obtenção de vantagem não representa o simples exaurimento do crime, mas, ao contrário, ante previsão expressa, qualifica a figura delituosa, sendo digna de maior reprovação social (Bitencourt). Competência: depende da função usurpada. Se for função de natureza federal, o processo e julgamento competem à Justiça Federal; do contrário, a competência será da Justiça Estadual. Resistência Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: Pena - detenção, de dois meses a dois anos. § 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de um a três anos. § 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. Bem jurídico: preservação da autoridade e prestígio da Administração Pública. Sujeito ativo: pode praticar o crime de resistência qualquer pessoa que resistir ao ato, não necessariamente a pessoa destinatária do ato. Sujeito passivo: são dois: a) Primário: o Estado, ferido no desenvolvimento regular de suas atividades. b) Secundário: funcionário público incumbido de cumprir o ato, bem como o particular que o auxilia. Tipo objetivo: a) OPOR-SE, NO SENTIDO DE RESISTIR. Assim, o agente resiste à execução do ato legal, ou seja, ato que está sendo executado naquele momento. A violência ou ameaça tem que ser empregada no momento da execução do ato. Pergunta: será que a violência empregada por particular contra particular para evitar a prisão em flagrante (flagrante facultativo) caracteriza o crime de resistência? Jamais. Se uma pessoa do povo efetua prisão em flagrante, fazendo uso de seu direito previsto no art. 301 do CPP, e o preso opõe resistência ao ato, não comete resistência, mas crime contra a pessoa (lesão, ameaça, etc.). Essa oposição deve ser empregada com “violência à pessoa” e / ou ameaça. Atenção: não se exige “GRAVE” ameaça. Assim, para caracterizar o crime, é suficiente que ocorra lesão corporal leve ou simples vias de fato. Pergunta: a ofensa (não é violência) dirigida ao servidor ou ao particular caracteriza o crime? Não. A ofensa verbal pode caracterizar desacato ou injúria, conforme proferido contra o servidor ou contra o particular. b) ATO LEGAL: essa legalidade é indispensável, não só formal (meio e forma de execução do ato) mas, também, material. Outra coisa: não confundir ILEGALIDADE com INJUSTIÇA do ato. Se for justo ou não, isso não é, por vezes, critério para ser avaliado pelo servidor que cumpre a ordem. O ato ilegal gera atipicidade da conduta; o ato injusto, por ser discutido, configurará resistência. Pergunta: e se o ato for ilegal? A ilegalidade do ato do servidor público torna LEGÍTIMA a resistência e afasta a tipicidade do comportamento. Veja-se, porém, que essa resistência deve ser proporcional, na forma do art. 25 do Código Penal (legítima defesa), pois aí, o ato do servidor passa a ser, nada mais, nada menos do que uma injusta agressão. c) FUNCIONÁRIO COMPETENTE: o executor do ato deve ter efetiva competência funcional. Essa qualidade estende-se ao particular que assiste o funcionário, em sua presença (EXIGE-SE A PRESENÇA DO ASSISTIDO). Pergunta: esse auxílio deve ser obrigatoriamente, solicitado pelo servidor? Não, a elementar é o auxílio, não o auxílio solicitado. Já disse que é imprescindível que se solicitado ou não tem que estar auxiliando. Tem-se então como elementares do crime: 1. Oposição mediante violência ou ameaça; 2. À execução de ato legal; 3. Contra funcionário público ou particular que lhe preste auxílio. Pergunta: caracteriza o crime a resistência passiva? Jamais. Vejam que essa “resistência” deve ser, SEMPRE, ATIVA. E não se pune a resistência passiva justamente porque não exercida mediante violência ou ameaça a pessoa. Exemplos: não há crime de resistência se o sujeito: a) sai correndo a fim de evitar sua prisão; b) demora para franquear a entrada de oficial de justiça que cumpre mandado de busca e penhora; c) deixar de abrir a porta ao servidor; d) agarrar-se a uma árvore para evitar ser conduzido à Delegacia; e) atirar-se no chão com o mesmo objetivo. Em alguns desses casos, pode caracterizar o crime de desobediência, mas jamais resistência. Pergunta: a mera fuga a perseguição policial configura resistência? Também não, pois a oposição só pode ser positiva, mediante violência ou ameaça. Violência contra a coisa: o Direito Penal Brasileiro só pune a violência à pessoa. Pluralidade de servidores: o emprego de ameaça ou violência contra a pluralidade de servidores não desnatura o crime único. O juiz deve considerar essa pluralidade na dosimetria da pena. Elemento Subjetivo: é crime punido somente a título de DOLO. Pergunta: e se o destinatário da medida comportar séria dúvida acerca da legalidade do ato? Neste caso, depende do que motivou sua dúvida. Duas situações: 1ª Situação: se estiver em dúvida se o ato é legal ou ilegal, não pode o agente resistir. Se resistir, isso pode configurar crime de resistência a título de dolo eventual. 2ª Situação: se o sujeito não sabia (ou não poderia saber) que a ordem derivava de servidor público (o erro, então, está na qualidade de ser o agente funcionário público), tem-se afastado o dolo por ERRO DE TIPO. O fato, neste caso, é atípico. O disparo de arma de fogo no curso de perseguição policial à paisana não configura o crime de resistência, quando o sujeito do delito não tem consciência de que está resistindo a ato legal do funcionário. (TJSP, Ap. Criminal, 4ª Câmara de Direito Criminal. Pub. em 23/04/2008) Pergunta: e, se o agente estiver o agente totalmente embriagado ao momento da resistência, há crime? Neste caso, predomina a orientação de que a embriaguez completa (aquela que gera um estado de inconsciência) exclui o dolo e, por consequência, o crime de resistência. Vejam, porém, que essa orientação desconsidera a regra contida no art. 28 do Código Penal (que trata da exclusão da culpabilidade, tão somente, em casos de embriaguez decorrente de caso fortuito ou força maior). Rogério Greco, por exemplo, diz que se deve analisar o caso concreto com cautela, de modo que se o agente estiver embriagado a ponto de não saber o que faz, não se terá condições de identificar o dolo, principalmente com relação a eventual ameaça proferida. Mas, atenção: se a embriagueznão for completa, haverá crime. Classificação quanto ao resultado natural: o crime é formal. Se há o sucesso na resistência, o sucesso gera a qualificadora do §1º. Tentativa: admite-se, pois, o crime é plurissubsistente. Revista pessoal: verificar critérios de legitimidade. A prova do crime: prevalece (STJ) que não se pode sustentar um decreto condenatório pela prática do crime de resistência se a única testemunha da infração é exatamente o policial que figurara vítimas (sujeito passivo secundário) do crime. (VER AÇÃO PENAL 359 – 2002/0083637-7, de 26/03/2009 – Delegado de Polícia. Conforme o STJ, neste caso, o Delegado não é testemunha). Situações que envolvem o parágrafo 2º: a) A mera contravenção de vias de fato e a de ameaça ficam absorvidas; b) Entre a pena da resistência e a da lesão corporal há a previsão concurso de crimes (“sem prejuízo da violência”). Assim, quando da violência praticada no ato de resistir resultarem lesões corporais ou morte, haverá a aplicação cumulativa das penas correspondentes à resistência e as decorrentes de dita violência (lesões corporais ou homicídio). Somente nessas hipóteses haverá aplicação cumulativa de penas (Bitencourt). Pergunta: e quanto ao desacato cumulado com a resistência? Há três correntes: 1ª Corrente (Jurisprudência): se o agente desacata e ameaça o servidor público no exercício das funções, só responde pelo delito mais grave, neste caso, pelo desacato. 2ª Corrente (Nucci e TJ/SC): a resistência, mesmo possuindo uma pena inferior, absorve o delito de desacato. Neste caso, a competência seria do JECrim. Do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, tem-se essa orientação (Apelação Criminal n. 2014.023965-9, de São Miguel do Oeste, Rela. Desa. Marli Mosimann Vargas, j. em 03/02/2015). 3ª Corrente (Rogério Greco e Lélio Braga Calhau): o desacato não é meio para que o agente resista à execução do ato legal, tal como ocorre quando pratica violência ou ameaça ao funcionário ou aquele que auxilia. Por isso, há concurso material de infrações, vez que há mais de uma conduta produzindo mais de um resultado. DESOBEDIÊNCIA Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. Bem jurídico: o prestígio da ordem administrativa. Sujeito Ativo: qualquer pessoa. Pergunta: o funcionário público pode figurar no polo ativo desse crime? Dependendo da natureza da ordem, é possível, mas só em duas situações bem específicas: a) O funcionário Público destinatário da ordem não se encontra no exercício de suas funções: a ordem não tem nexo funcional. b) Quando a questão envolver desatendimento de ordens judiciais proferidas em decisão de ação de mandado de segurança (Art. 26 da Lei do MS diz isso – 12.016/2009, SALVO SE SE ESTIPULAR PENA DE MULTA EM CASO DE DESCUMPRIMENTO DA ORDEM – STJ 96655, 2008). Pergunta: e a questão do oficial de justiça que deixa de cumprir ordem judicial, pratica ele esse crime? Vejam a questão: (MP-MG, promotor, 2005). Um oficial de justiça não promove o despejo de pessoa pobre, no prazo estabelecido pelo juiz no mandado, por ficar com pena de seus filhos menores que ficariam na rua. Depois de alguns dias, após constatar que a pessoa providenciou abrigo para seus filhos, o oficial cumpre o mandado. Considerando o não cumprimento do mandado no prazo estabelecido, o promotor acusa o oficial por crime de desobediência. No caso, a acusação deve ser acolhida, pois houve a intenção de contrariar o mandado do juiz. ( ) FALSA, pois somente o particular pratica esse crime ou então, o funcionário que aja como particular. Pode praticar, em tese, prevaricação, dependendo do motivo. Igualmente, não há crime de desobediência se o PERITO deixa de atender a requisição feita pela Autoridade Policial, pois o Perito é equiparado a funcionário público e esse “não cumprimento do dever” refere-se ao cargo que ele ocupa. Sujeito passivo: a) Principal: o Estado; b) Secundário: o funcionário público desprestigiado na sua ordem. Tipo Objetivo: é “desobedecer” (núcleo do tipo), que possui o sentido de não cumprir, não atender. Elementares: a) O funcionário público deve emitir uma ordem diretamente ao destinatário. Não há desobediência, por exemplo, se a polícia fez mera solicitação ou pedido. Trata-se de fato atípico. Tem que ser ORDEM. (RT/492.398). O policial tem que valer-se do poder de polícia. b) A ordem deve ser individualizada, substancial e formalmente legal. c) O destinatário deve ser obrigado a atendê-la. Neste caso, ele pode recusar expressamente, inclusive: STJ, Súmula nº. 319/2005: Encargo de Depositário – Recusa: O encargo de depositário de bens penhorados pode ser expressamente recusado. Pergunta: pode este crime ser praticado por omissão? Sim. O crime pode ser comissivo (se a ordem configura um não fazer e o sujeito faz) ou omissivo (se a ordem configura um fazer e o sujeito não faz). Atenção: para existir crime de desobediência, é imprescindível que não exista sanção especial como consequência do seu descumprimento. Assim, se a desobediência gerar infração administrativa, não há de se falar em crime de desobediência, salvo se expressamente assim a lei prever. Conforme o Supremo: A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que não há crime de desobediência quando a inexecução da ordem emanada de servidor público estiver sujeita à punição administrativa, sem ressalva de sanção penal. Hipótese em que o paciente, abordado por agente de trânsito, se recusou a exibir documentos pessoais e do veículo, conduta prevista no Código de Trânsito Brasileiro como infração gravíssima, punível com multa e apreensão do veículo (CTB, artigo 238). (HC 88.452, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 2-5-2006, Segunda Turma, DJ de 19-5-2006.) Isso é muitíssimo importante para fins de responsabilidade penal. Vejam, por exemplo, o teor do art. 195 do CTB: “Desobedecer às ordens emanadas da autoridade competente de trânsito ou de seus agentes: infração grave. Penalidade: multa”. A pena é tão somente a de multa, pois não há qualquer referência a eventual responsabilização pelo crime de desobediência na penalidade do art. 195 do CTB. A sanção é a pena de MULTA. Diferente é a redação do art. 219 do Código de Processo Penal: CPP, Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa prevista no art. 453, sem prejuízo do processo penal por crime de desobediência, e condená-la ao pagamento das custas da diligência. O art. 219 do Código de Processo Penal traz que se a testemunha recebe ordem para comparecer em juízo, e não comparece, além da multa, pode responder por desobediência. Resumidamente, só configura o crime de desobediência se a sanção (administrativa ou civil) faz referência expressa ao art. 330 do Código Penal (ressalvando-o). Pergunta: a fuga à voz de prisão configura o crime? Duas posições na jurisprudência: 1ª Posição: não, pois é instinto de liberdade e não vontade de desobedecer (não haveria dolo, portanto). 2ª Posição: se o agente é cientificado da ordem dada pela autoridade, deixa de atendê-la e procura se retirar do local, há crime de desobediência (STJ/STF). Pergunta: e se a “desobediência” ocorreu em observância ao direito ao silêncio, há crime? Neste caso, não. Não se pode enxergar crime de desobediência no descumprimento de uma ordem que, caso cumprida, geraria prova contra si mesmo. Isso é desdobramento da autodefesa. Essa “não obrigação” de produzir prova contra si mesmo decorre do Princípio do Nemo Tenetur se Detegere. Conforme este princípio, ninguém é obrigado a produzir
Compartilhar