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Direito Contratual Bancário Aula 6: Alienação �duciária – Introdução Apresentação Nesta aula, veremos as características do contrato de alienação �duciária, bem como sua evolução histórica e seu desenvolvimento em solo brasileiro. Estudaremos também os requisitos necessários para sua constituição. Veremos, ainda, a diferença entre o contrato de alienação �duciária e outros institutos do Direito Civil. Compreenderemos os conceitos, as de�nições e os requisitos obrigatórios para a constituição do contrato de alienação �duciária, suas generalidades e a de�nição de propriedade resolúvel. Bons estudos! Objetivos Apontar a evolução histórica do instituto da alienação �duciária; Medir o contrato de alienação �duciária, distinguindo-o de outros institutos do Direito Civil; Esclarecer os conceitos de propriedade resolúvel, seus propósitos e objetivos. Evolução histórica da alienação �duciária O Direito romano conheceu o negócio �duciário sob duas plataformas distintas, a �ducia cum creditore e a �ducia cum amico. Clique nos botões para ver as informações. Consistia na modalidade pela qual o devedor transferiria ao credor uma propriedade, que lhe era entregue como garantia de pagamento de outra obrigação adjacente e, diuturnamente, o credor se obrigava a restituir o bem ao término do prazo ajustado, se a obrigação fosse liquidada. O negócio era realizado por meio da mancipatio ou in iure cessio, com a cláusula de pactum �duciae. Com a transferência de propriedade ao credor pelo devedor, não se lhe era dado o direito de usufruir da coisa, enquanto não fosse extinta a obrigação. Se acaso o credor, �nda a obrigação com a adimplência, não viesse a restituir o devedor do bem, poderia o mesmo propor uma ação designada por actio �duciae, que não possuía o condão de restituir a coisa, mas indenizar o devedor, se o credor tivesse alienado a coisa para terceiro. Fiducia cum creditore Consistia na transferência de bens a outra pessoa, sob o desiderato da plena con�ança, e este, por sua vez, restituiria os bens quando cessasse a causa propulsora da transferência. Nesta modalidade, não havia credores nem devedores, o bem não era dado como garantia de uma obrigação, a pessoa que recebia o bem mantinha a guarda do mesmo, comprometendo-se a restituí-los quando transpassada determinada circunstância. Entre os motivos que justi�cavam a �ducia cum amico, podemos citar inimizades políticas, em que poderia haver certo temor de con�sco, viagens longas, guerras, en�m, qualquer motivo que justi�casse um risco à própria integridade do transferidor. Fiducia cum amico Outros autores vislumbram a aproximação da alienação �duciária com o trust receipt, que tinha por �to propiciar o �nanciamento dos revendedores de bens duráveis, maximizado pelo sistema �oor planning. Por este sistema, o revendedor recebia uma fração em dinheiro, correspondente à parte da operação, dada em con�ança, e se comprometia a resgatar sua obrigação quando realizasse com terceira pessoa a venda do bem. Essa doutrina se encontra superada, não possuindo correspondência com a alienação �duciária em garantia. Alienação �duciária no Direito brasileiro A alienação �duciária foi introduzida em nosso sistema jurídico através da Lei nº 4.728, de 14 de julho de 1965, especi�camente através do artigo 66, instaurada na seção XIV. A referida lei regia as operações do mercado de capitais. Indiretamente, a alienação �duciária encontrou desiderato, pela disciplinada erigida pelo Decreto nº 911, de 1º de outubro de 1969, ainda em vigor. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online javascript:void(0); javascript:void(0); Historicamente, em meados de 1969, quando da promulgação do referido decreto, o país se encontrava sob os domínios da ditadura, precipuamente aos alicerces do Ato Institucional nº 5, responsável pela supressão dos direitos e garantias individuais. Basta analisarmos, em seu preâmbulo, a alusão das autoridades que o proclamaram, in verbis: "Os Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar, usando das atribuições que lhes confere o art. 1º do Ato Institucional nº 12, de 31 de agosto de 1969, combinado com o § 1º do art. 2º do Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, decretam (...)." - BRASIL, 1969 Ainda, mostrava-se imperativo paras as diretrizes do governo a satisfação do crescimento econômico, que somente poderia ser alicerçada se o governo partilhasse com o capital estrangeiro uma nova política econômica. A alienação �duciária propiciava essa união de capitais para as instituições �nanceiras. Esta signi�cava o retorno de seus investimentos agregados a uma parcela de lucro e as garantias que se estendiam sobre o capital empregado, a �m de alcançar o próprio devedor �duciante, em suas liberdades básicas, como a integridade física. De outro lado, possibilitava, com menor variação de juros, que o mesmo viesse a adquirir um bem móvel a prazo, posto que a garantia repousava sobre o próprio bem e, indiretamente, sobre a pessoa. Dessa feita, ao espírito da época, era perfeitamente possível que houvesse a prisão do devedor �duciante, na medida em que o mesmo poderia ser considerado depositário in�el, consoante o artigo 4º do referido decreto, cuja redação exacerba que: "Se o bem alienado fiduciariamente não for encontrado ou não se achar na posse do devedor, o credor poderá requerer a conversão do pedido de busca e apreensão, nos mesmos autos, em ação de depósito, na forma prevista no Capítulo II, do Título I, do Livro IV, do Código de Processo Civil." - Brasil, 1969 Importante observarmos que, tanto o texto constitucional de 1967, em seu artigo 150, parágrafo 17, bem como a emenda constitucional nº 1, de 1969, em seu artigo 153, parágrafo 17, asseveravam a impossibilidade de prisão por dívidas, excetuando-se o depositário in�el e o devedor de alimentos, semântica mantida em vigor pelo texto constitucional em vigor, especi�camente, enaltecida no art. 5º, Inciso LXVII, de onde extraímos que não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário in�el. Ora, há de se concluir que há possibilidade de se considerar o devedor �duciante depositário do bem e, caso o mesmo não indique a localização do bem, a ação poderia ser convertida em depósito. Ainda, se o mesmo não indicasse a exata localização, poderia ser considerado depositário in�el e, assim, poderia ser preso por dívidas. Isto corresponde a uma medida simétrica ao espírito legislativo que vigia à época, basta veri�car que o referido decreto foi promulgado pelos ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar, quando o Executivo decretou o recesso do Congresso Nacional, sob o desiderato do artigo 2º do parágrafo primeiro do Ato Institucional nº 5. A �nalidade �ducial De per si, na alienação �duciária em garantia, seu próprio vernáculo denuncia precipuamente a existência de um negócio �duciário, e diuturnamente intuitu personae. A perspectiva �ducial vem quando se veri�ca que o credor �duciário transfere ao devedor �duciante a posse direta sobre o objeto da alienação �duciária e, por conseguinte, este se compromete a arcar com os ônus dessa operação, a prazo, e ainda manter incólume o objeto do contrato. A posse é transferida para que seja a res in natura usufruída pelo devedor �duciante, que paulatinamente se obriga aos pagamentos periódicos e, de outro lado, o objeto serve de garantia ao credor �duciante, que poderá readquiri-lo através da busca a apreensão. Quando do término da avença, ou seja, adimplida as obrigações resultantes da alienação �duciária pelo devedor �duciante, o domínio sobre o objeto é transferido ao devedor. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Propriedade resolúvel Consiste na subordinação da propriedade a uma condição ou a um termo. Com a sobreposição desse termo, a propriedade será resolvida a favor daquele que automaticamente recuperará o domíniodo bem. Na alienação �duciária, existirá uma propriedade �duciária a favor do devedor �duciante, que quando sobrevindo o termo, passará a ter o domínio sobre a coisa. A alienação �duciária e outras �guras Dada a proximidade entre a alienação �duciária e outros institutos, deter-nos-emos aos diplomas que possam remeter proximidades ao diploma jurídico da alienação �duciária. Clique nos botões para ver as informações. A en�teuse é um direito real, originada na Grécia, que alcançou o Direito romano, sendo, destarte, uma junção do jus emphyteuticon com o ager vectigalis romano, consagrada expressamente no Código Justinianeu. Dada a própria natureza jurídica da en�teuse e o seu distanciamento com sua origem, o Código Civil de 2002 afastou os dispositivos que vigoravam em 1916 aplicáveis à en�teuse, que vinham de forma expressa nos artigos 679 e seguintes. Difere a en�teuse da alienação �duciária, porquanto o devedor en�teuta exerce sobre o bem imóvel perpetuamente todos os poderes inerentes ao domínio. Na alienação �duciária, o devedor �duciante exerce a posse direta, que se afasta bastante do domínio e, destarte, por prazo deferido. En�teuse O Direito romano conheceu o penhor, sendo esta �gura um desdobramento da penhora, pignoris capio. No penhor, o devedor pignoratício transfere a posse de um bem móvel como garantia ao credor pignoratício, a �m de oferecer uma garantia ao pagamento de uma obrigação. O penhor se distancia da alienação �duciária, posto que o domínio do bem pertence ao credor, e este, por seu turno, autoriza aquele, o devedor �duciante, a exercer sobre o bem a posse direta. No penhor, o domínio do bem móvel ou mobilizável pertence ao devedor e a garantia �ca sob a cautela do credor. Penhor Por seu turno, a anticrese consiste na possibilidade de o credor reter bem imóvel do devedor e explorar os frutos que o mesmo possa gerar, até a purgação da dívida do devedor. Em confronto com a alienação �duciária, facilmente podemos aferir que, nesta hipótese, o credor retém o bem imóvel do devedor anticrético ou hipotecário, não havendo transferência de domínio, mas usufruto pelo credor. De todo o exposto, diante das várias �guras acima articuladas que são garantias reais, há que se concluir que divergem da alienação �duciária em garantia, precipuamente pela entonação de dois grandes elementos. Primeiro, na alienação �duciária o domínio do bem pertence ao credor �duciário, que diuturnamente permite que o devedor �duciante explore a coisa e, segundo, ao término do contrato, adimplida todas as obrigações principais e acessórias, o objeto da �dúcia pertencerá ao devedor �duciante. Nas garantias reais, essa possibilidade somente poderá acontecer se houver a inadimplência do devedor. Posto isso, as garantias reais representam exatamente o oposto do engendrado na alienação �duciária em garantia, não obstante parte de nossa doutrina enfeixar a alienação �duciária em garantia como sendo um direito real. Em verdade, os institutos se aproximam sob o quesito da segurança, porquanto imprimem ao credor uma garantia sobre a inadimplência. Ademais, nos contratos com garantia real, instituídos pelo Código Civil, a tradição é pré-requisito para o aperfeiçoamento dos mesmos. Na alienação �duciária, a esmiúce do arrendamento mercantil, não se exige que o objeto exista à época da celebração do contrato, podendo recair, portanto, sobre coisa futura. Anticrese Alguns autores veri�cam certa simbiose entre o mandato e a alienação �duciária, não guardando pertinência essa inclusão, pois, no mandato, o mandante confere ao mandatário poderes de representação, para que este obre em nome daquele. Ademais, em geral, o mandato é um contrato unilateral, sendo bilateral quando oneroso, ou seja, quando mercantil, destarte, na alienação �duciária, o contrato será sempre bilateral, basta veri�carmos que o credor �duciário também possuirá obrigações, a exemplo da manutenção da posse direta do devedor �duciante. Mandato Generalidades da alienação �duciária em garantia A alienação �duciária em garantia é um contrato bilateral ou sinalagmático, posto que decorrem obrigações para o credor �duciário, que deve manter o devedor �duciante sob a posse direta, desde que o mesmo se mantenha adimplente, e para o devedor �duciante, subsistirá a obrigação pecuniária, menoscabada nas contraprestações. Vejamos mais algumas de suas características: 1 É oneroso, posto sua precípua �nalidade econômica. Representa um importante meio de concentração de divisas e de aquisição de bens. Sob seu vértice, haverá o encontro de interesses, posto que propiciará ao devedor a possibilidade de aquisição do domínio de um bem, com valores menores que o de um �nanciamento tradicional, já que o risco do negócio é minimizado pela reserva de domínio a favor do credor. 2 De outro lado, permite que o credor possa se consolidar no setor �nanceiro, propiciando a aquisição de bens para quemse socorrer desse subterfúgio. 3 Dada a essência do negócio, que é o �nanciamento, diversamente do que acontece com o leasing, onde a opção decompra subtrai da operação o per�l do �nanciamento, na alienação �duciária é proibida a cláusula compromissória. 4 Ainda, é comutativo, porquanto proporcionalmente afere sacrifício distribuído entre os signatários do contrato dearrendamento mercantil em garantia. 5 É um contrato intuitu personae, posto que a �gura do devedor �duciante é de sobremaneira importante para o credor �duciário. Basta frisar que, havendo interesse de cessão do contrato pelo devedor �duciante, prescindirá de autorização do credor para ser levada a termo. Partes O credor �duciário adquirirá o bem, e destarte, será designado por proprietário ou credor �duciário, sendo que, de outro lado, aquele que se dispõe a adquirir o bem com periódicos pagamentos será designado como devedor �duciante. O credor manterá o domínio resolúvel do bem, bem como a posse indireta sobre a coisa. De outro lado, o devedor �duciante exercerá a posse direta do objeto alienado �duciariamente, independentemente da efetiva tradição do bem. No arrendamento mercantil, o arrendatário, aquele que busca uma instituição �nanceira, designada como arrendador, para que possa adquirir um bem e lhe entregar para o uso, possui precípua correspondência com o aluguel, não obstante as peculiaridades, porquanto, ao término do contrato, exercerá a sua opção de compra, diversamente do que ocorre com a alienação �duciária, que mais se aproxima de um �nanciamento, posto que o devedor �duciante ao adimplemento de suas obrigações será o proprietário do bem, independentemente de qualquer manifestação de compra que não exista nessa espécie de contrato. Em verdade, o credor �duciário participa do negócio na condição de alienante e, de outro lado, o devedor �duciante como comprador. Conceito A esmiúce do esposado no contrato de leasing, na alienação �duciária, o bem permanecerá sob o domínio do credor �duciário até que o contrato seja implementado pelas partes, e o devedor �duciante manterá a posse do bem. Trata-se de um contrato com propriedade resolúvel, que é veri�cada com o adimplemento das obrigações, precipuamente pelo devedor �duciante. Portanto, a alienação �duciária é a operação pela qual alguém, recebendo um �nanciamento para aquisição de bem móvel durável, aliena esse bem ao �nanciador, como garantia do pagamento da dívida contraída. A pessoa que recebe o �nanciamento e aliena o bem em garantia tem o nome de alienante ou �duciante; o credor ou �nanciador que adquire o bem em garantia é chamado de �duciário. Com efeito, nos contratos de alienação �duciária, o proprietário �duciário aliena �duciariamente um bem infungível para o devedor �duciante, que passará a exercer a posse direta sobre o bem, em contrapartida, obrigando-se, ao término do contrato, em havendo adimplemento das obrigações e dos encargos assumidos pelo devedor �duciante, a transferir o domínio da coisa, motivo pelo qual ele possuirá o domínio resolúvel sobre a coisa. Objeto Exige que o bemseja móvel, basta veri�car o disposto no artigo 66, do Decreto-Lei 911, de 1969, donde assevera que a alienação �duciária em garantia transfere ao credor o domínio resolúvel e a posse indireta da coisa móvel alienada, independentemente da tradição efetiva do bem, tornando-se o alienante ou devedor em possuidor direto e depositário com todas as responsabilidades e encargos que lhe incumbem, de acordo com a lei civil e penal. No mesmo sentido prima nosso atual Código Civil, exacerbando em seu artigo 1.359 que considera-se �duciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor. A Lei nº 9.514, de 1997, instituiu a alienação �duciária de bens imóveis e, portanto, não se confunde com o Decreto 911, de 1969 que, por sua vez, somente terá aplicação quando o objeto redundar em bem móvel, daí ser designado por alienação �duciária em garantia, não obstante também haver a propriedade resolúvel sobre bem imóvel, desde que sob os aríetes da Lei nº 9.514, de 1997. Insta observar que a alienação �duciária em garantia deve ainda recair sobre coisa infungível. Todavia, a jurisprudência já vinha assentando a possibilidade de alienação �duciária sobre coisa fungível, graças à redação preconizada no parágrafo 3º, do artigo 66, com a redação trazida pelo Decreto-Lei 911, de 1969, de 1969, in verbis: "Se a coisa alienada em garantia não se identifica por números, marcas e sinais indicados no instrumento de alienação fiduciária, cabe ao proprietário fiduciário o ônus da prova, contra terceiros, da identidade dos bens do seu domínio que se encontram em poder do devedor." - BRASIL, 1969 Ainda não bastasse, a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, passou a referendar a possibilidade de alienação �duciária de bens fungíveis. Forma do negócio jurídico Proscreve o texto legal, que a alienação �duciária deve ser celebrada de forma escrita, não se exigindo que o ato seja solene, ou seja, pode ser celebrada através de documento particular, não se exigindo escritura pública. Todavia, nada impede que seja o documento regrado à solenidade e, destarte, seja celebrado por documento público. O resultado produzido será o mesmo alcançado pelo documento particular. Eis que reza o parágrafo 1º, do artigo 66, do Decreto 911, de 1969, que: "A alienação fiduciária somente se prova por escrito e seu instrumento, público ou particular, qualquer que seja o seu valor, será obrigatoriamente arquivado, por cópia ou microfilme, no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do credor, sob pena de não valer contra terceiros, e conterá, além de outros dados, os seguintes." - BRASIL, 1969 javascript:void(0); javascript:void(0); A alienação �duciária somente se prova por escrito, e seu instrumento, público ou particular, qualquer que seja o seu valor, será obrigatoriamente arquivado, por cópia ou micro�lme, no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do credor, sob pena de não valer contra terceiros, e conterá, além de outros dados, os seguintes: No que se refere ao registro, não o é imprescindível, todavia, seus efeitos não serão erga omnes, porquanto, paraser oponível em face de terceiros, é condição sine qua non seu registro no Cartório de Títulos e Documentos. O registro deve ser lavrado no domicílio do credor �duciário que, dessa feita, otimiza as operações do alienante, posto que concentrará todas as suas atividades no mesmo nicho empresarial que desenvolve suas atividades mercantis. Urge salientar que a não observância do registro no Cartório de Títulos e Documentos não pode de per sidescaracterizar o contrato de alienação �duciária, mas apenas e tão somente não produzirá os efeitos erga omnes. No que se refere aos veículos automotores, exige-se que o registro conste das escrituras do veículo, sendo necessária a constatação nos documentos de porte obrigatório. A inobservância desse preceito não autorizará o credor �duciário à propositura da ação de busca e apreensão, se houver a inadimplência. Nesse diapasão, a Quarta Turma do STJ, sob o relato do ministro Athos Gusmão Carneiro, em várias oportunidades, assentou que: "Alienação Fiduciária de veículo automotor. Necessidade de sua anotação no certificado de registro, previsto no artigo 52 do Código Nacional de Trânsito. Tutela a boa-fé de terceiros adquirentes. Lei 4.728/65, art. 66, par. 10, com a redação dada pelo Decreto-Lei 911/69. A Alienação Fiduciária de veículo automotor não é eficaz perante terceiros, de boa-fé, se não constar do certificado de registro previsto no artigo 52 do CNT. A lei deve ser aplicada com atenção aos fins sociais a que se dirige e as exigências do bem comum. A regra do questionado par. 10 apresenta-se cogente, e busca tutelar a boa-fé dos adquirentes de veículos, ante a impossibilidade prática de pesquisa nos ofícios de títulos e documentos do domicílio de eventuais credores fiduciários do vendedor do veículo. Recurso especial conhecido pela alínea c, mas ao qual se nega provimento." - REsp 1774/SP; Recurso Especial 1989/0012949-0. j. 10/04/1990 Na constância do exposto, a mesma compreensão foi declarada pela Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, cujo relator foi o ministro Nilson Naves. Nestes termos, assentou a colenda Câmara que: "Alienação fiduciária de veículo automotor. Terceiro de boa-fé. Para que a alienação fiduciária tenha validade contra terceiros, de boa-fé, impõe-se que tal conste, também, do certificado expedido pela repartição de trânsito. Lei nº 4.728/65, art. 66, par. 10, na redação do Decreto-Lei nº 911/69. Precedente do STJ: REsp 1.774. Recurso Especial conhecido pelo dissídio, mas improvido. " - REsp 13958/SP; Recurso Especial 1991/0017517- 0. j. 19/11/1991 Nestes termos, colacionamos como supedâneo, proferido também pela Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, cujo relato desprendido da lavra do ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, donde, no mesmo sentido, exacerba que: "Alienação Fiduciária de veículo automotor. Validade contra terceiro de boa-fé. Necessidade de que conste do certificado do registro previsto no art. 52, do Código Nacional de Trânsito. Precedente. Agravo desprovido. Não encontra ressonância na jurisprudência da Quarta Turma o entendimento de que, para valer contra terceiro de boa-fé, basta que o contrato de alienação fiduciária, de veículo automotor, seja inscrito no Cartório de Títulos e Documentos, adotada a orientação de ser indispensável constar do certificado do registro, previsto no art. 52 do Código Nacional de Transito. " - AgRg no Ag. 22669/BA; Agravo Regimental no Agravo de Instrumento 1992/0012595- 6. j. 27/10/1992 Com efeito, em se tratando de veículos automotores, devem constar no CRV todos os ônus que pesam sobre o veículo, não bastando apenas o registro no Cartório de Títulos e Documentos. Insta que, além desse registro, conste no documento que o mesmo se encontra com restrição real, acentuada pela alienação �duciária em garantia, de forma inequívoca, pois, caso contrário, também não será o assento legal para produzir seus efeitos erga omnes. Nesse diapasão, preceitua o Código Nacional de Trânsito, em seu artigo 121, correspondente ao antigo artigo 52 da disposição revogada, que: "Registrado o veículo, expedir-se-á o Certificado de Registro de Veículo- CRV, de acordo com os modelos e especificações estabelecidos pelo CONTRAN, contendo as características e condições de invulnerabilidade à falsificação e à adulteração." - BRASIL, 1992 A justi�cativa para exigir esse duplo substrato vem ao encontro de que não seria compatível com a dinâmica do comércio que o comprador percorresse todos os Cartórios de Títulos de Documentos do país, a �m de investigar acerca da existência de algum ônus sobre o veículo, posto que o registro deve ser propiciado no domicílio do credor �duciário. Havendo no país várias instituições com esse predicado, não haveria segurança jurídica aos negócios celebrados no país em que se envolvessem veículos automotores. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdoonline Atividade 1 - (OAB– XXVII, 19/07/2015). Tommy adquiriu determinado veículo junto a um revendedor de automóveis usados. Para tanto, fez o pagamento de 60% do valor do bem e �nanciou os 40% restantes com garantia de alienação �duciária, junto ao banco com o qual mantém vínculo de conta-corrente. A negociação transcorreu normalmente e o veículo foi entregue. Ocorre que Tommy, alguns meses depois, achou que a obrigação assumida estava lhe sendo excessivamente onerosa. Procurou, então, você como advogado(a), a �m de saber se ainda assim seria possível questionar o negócio jurídico realizado e pedir revisão do contrato que ele sequer possuía. A esse respeito, assinale a a�rmativa correta: a) A questão versa sobre alienação fiduciária em garantia, que transfere ao credor o domínio resolúvel e a posse indireta do bem alienado, não havendo aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor e, portanto, nem o pedido de revisão na hipótese, haja vista que a questão jurídica está submetida unicamente à leitura da norma geral civil, sem a inversão do ônus da prova. b) A questão comporta aplicação do CDC, mas para propor ação revisional, a parte deve ingressar com medida cautelar preparatória de exibição de documentos, sob pena de extinção da medida cognitiva revisional por falta de interesse de agir. c) A questão versa sobre alienação fiduciária em garantia, que transfere para o devedor a posse direta do bem, tornando-o depositário, motivo pelo qual a questão jurídica rege-se exclusivamente pelas regras impostas pelo Decreto-Lei nº 911, de 1969, que estabelece normas de processo sobre alienação fiduciária. d) A questão comporta aplicação do CDC, e a ação revisional pode ser proposta independentemente de medida cautelar preparatória de exibição de documentos, já que o pleito de exibição do contrato poderá ser formulado incidentalmente e nos próprios autos. e) Nenhuma das respostas acima. 2 - (OAB– XIV, 2014). A alienação �duciária, regulada pela Lei nº 9.514/1997, é o negócio jurídico pelo qual o devedor ou �duciante, com o escopo de garantia, contrata a transferência ao credor ou �duciário, da propriedade resolúvel de coisa imóvel. Sobre este tipo de contrato, assinale a a�rmativa correta: a) Constitui-se a propriedade fiduciária de coisa imóvel mediante registro do contrato que lhe serve de título no Registro de Imóveis competente. b) Somente poderá ser contratada por pessoa jurídica que integre o Sistema de Financiamento Imobiliário– SFI. c) Não pode ter como objeto a propriedade superficiária do imóvel do fiduciante. d) O fiduciante poderá transmitir os direitos de que seja titular sobre o imóvel objeto da alienação fiduciária independentemente da anuência do fiduciário. e) Nenhuma das respostas acima. 3 - Por meio do contrato de alienação �duciária em garantia, o proprietário de um bem móvel: a) Aliena-o a outra pessoa, em garantia de uma dívida com esta contraída, mas permanece com a posse direta do bem. b) Aliena-o a outra pessoa, em garantia de uma dívida com esta contraída, e lhe transfere a propriedade plena do bem, recuperando-a após o pagamento da dívida. c) Oferece-o em penhor ao credor do financiamento obtido para a aquisição do próprio bem. d) Transfere a sua posse direta a outra pessoa, em garantia de uma dívida com esta contraída, mas permanece com a propriedade plena do bem. e) Transfere a sua posse indireta a outra pessoa, em garantia de uma dívida com esta contraída, mas permanece com a propriedade plena do bem. 4 - A respeito do contrato de alienação �duciária em garantia, assinale a a�rmativa incorreta: a) No caso de inadimplemento de obrigação garantida por alienação fiduciária em garantia, o credor fiduciário somente poderá vender a coisa a terceiros se autorizado judicialmente, hipótese em que deve aplicar o preço da venda no pagamento de seu crédito e das despesas decorrentes da cobrança, e entregar o saldo remanescente, se houver, ao devedor fiduciante. b) O credor fiduciário detém a posse indireta do bem objeto do contrato. c) O credor fiduciário pode requerer a conversão do pedido de busca e apreensão em ação de depósito, se o bem alienado fiduciariamente não for encontrado ou não se achar na posse do devedor. d) A constituição do direito real decorrente do contrato de alienação fiduciária em garantia depende do registro da avença no órgão competente. e) O direito real que decorre do contrato de alienação fiduciária em garantia é a propriedade fiduciária. 5 - (FGV- 2018- AL- RO- Analista Legislativo- Engenharia Elétrica). Considere o seguinte caso hipotético: João deseja comprar um apartamento vendido por uma construtora. Como João possuía apenas 50% do valor necessário para a compra do imóvel, optou por dar uma entrada de 50% e �nanciar o restante do valor através de uma linha de crédito imobiliário disponibilizado por uma determinada instituição bancária. Nesta modalidade de �nanciamento, João se compromete a pagar sua dívida em 120 parcelas mensais, de�nidas a partir de uma certa taxa de juros. Durante o prazo em que perdurar a dívida, o apartamento permanece como propriedade temporária do banco, podendo o banco reavê-lo plenamente, em caso de inadimplência no pagamento das parcelas. Após o pagamento completo da dívida, a propriedade é transferida de maneira plena a João. A situação em questão é um exemplo de: a) Empréstimo bilateral b) Hipoteca direta c) Locação prestamista d) Alienação fiduciária e) Mútuo discretizado Notas Referências ABRÃO, Nelson. Direito Bancário. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. MAXIMILIAN, Paulo. Contratos Bancários. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. RIZZARDO, Arnaldo. Contratos de Crédito Bancário. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. Próxima aula Contrato de alienação �duciária em sua generalidade; Interpretação dada pela nossa jurisprudência no que tange à possibilidade de prisão por dívidas do devedor �duciante. Explore mais p Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.
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