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Estudo dirigido - Psicologia e Políticas Públicas de Saúde Mental

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2022/2 
 Isabella Rocha Baihense 
 @isabellabaihense.psi 
 
Estudo dirigido – 1 bimestre (Textos de 1 ao 6) 
Disciplina: Psicologia e Políticas em Saúde Mental – 2022/ 2 
Profª: Camila Mariani 
 
1 – Qual a importância da insituição hospitalar até meados do século XVIII? A quem servia? 
Qual era seu público? 
A importância da instituição hospitalar até meados do século XVIII é de “assistência aos 
pobres”, ou melhor, de segregação, exclusão; para onde se levavam aqueles que estavam 
morrendo nas ruas, para evitar o “contagio” e a “periculosidade”. Os hospitais eram tidos 
como locais de salvação, e tinham como função, garantir que o perigo dos corpos doentes 
estivessem longe da população, a salvação da alma do pobre no momento da morte e do 
pessoal hospitalar que cuidava dos pobres. 
 
2 – Foucault nos apresenta mudança importante no saber-poder da medicina a partir de 
meados do século XVIII, inclusive mudança de espaço de atuação. Discuta esta afirmação. 
Até meados do século XVIII, eram as figuras religiosas que administravam os grandes 
hospitais. A partir de então, o médico passou a assumir a responsabilidade de organização 
e poder dos hospitais, ganhando status e poder. Dessa forma, os hospitais passaram a não 
ser apenas um local de cura, mas também de registro, acúmulo e formação do saber, sendo 
um local essencial para a formação médica. Antes do século XVIII, o médico que as 
comunidades religiosas chamavam para fazer visitas aos hospitais era, geralmente, o pior 
dos médicos. Depois que houve a mudança no saber-poder da medicina, o grande médico 
do hospital, isto é, o médico tido como mais sábio, era aquele que tinha mais experiência 
hospitalar, o que foi uma grande mudança no espaço de atuação médica daquela época. 
 
3 – Qual a importância do hospital para o surgimento da psiquiatria? 
Primeiramente, no período da grande internação, criaram-se pseudo-hospitais, que ficavam 
afastados dos centros urbanos e abrigavam a todos que, em ordem da razão e da moral, 
não deveriam fazer parte da sociedade (loucos, pobres, deficientes, etc). No século XVIII, a 
sociedade começa a se estruturar e denunciar essas internações arbitrárias, por conta da 
forma de assistência. Dessa forma, esses locais de internação ficaram reservados apenas 
aos loucos. 
A psiquiatria só surgiu a partir desses manicômios, que eram aonde os dito “loucos” da 
época eram exilados; segregados da sociedade. Os manicômios eram instituições 
disciplinares para reeducação do paciente e onde começa-se a pensar na internação com 
um outro significado, a partir do momento em que os médicos veem uma oportunidade para 
entenderem o fenômeno da loucura. Dessa forma, entende-se que, somente a partir dos 
hospitais, é que foi possível que a psiquiatria surgisse. 
 
4 – Explique o processo em que a loucura passou a ser considerada doença mental. 
A Revolução Francesa trouxe várias transformações, entre elas, na instituição que 
conhecemos como hospital, Isto, pois, na Idade Média, o hospital era uma instituição de 
caridade, administrada pela igreja. Após a Revolução Francesa, passou a ser administrada 
pelas autoridades reais e judiciárias. Nela, eram acolhidos, alojados e alimentados, todos 
aqueles que se apresentavam ou eram encaminhados pela autoridade real ou judiciária. 
Nessa transição entre o hospital de caridade e o hospital com funções mais sociais e 
políticas, muitos médicos foram atuar no sentido de humaniza-las e adequá-las, 
2022/2 
 Isabella Rocha Baihense 
 @isabellabaihense.psi 
 
transformando-as em instituições médicas. Desta forma, o hospital passou a ser um espaço 
de exame (o que permitiu um contato empírico com as doenças e os doentes) espaço de 
tratamento (enquadramento das doenças e doentes, disciplina do corpo terapêutico e das 
tecnologias terapêuticas) e espaço de reprodução do saber médico (hospital-escola, 
residência médica, local privilegiado de ensino e aprendizagem). O saber sobre o hospital, 
permitiria ao médico, agrupar as doenças e, assim, observá-las de uma forma diferente, em 
seu curso e evolução. 
Quando o médico Philippe Pinel iniciou sua grande obra de medicalização do Hospital Geral 
de Paris, quatro anos após o início da Revolução, ele propõe a construção pineliana de 
liberdade subtraída pela alienação. Ele defendeu que era necessário observar para 
conhecer (descrever, acompanhar, analisar, classificar) e, sendo assim, que os loucos 
deveriam ser libertados das correntes e mantidos em um espaço para que suas doenças 
fossem conhecidas e tratadas sem interferência externa (basicamente isolar para conhecer; 
conhecer para tratar). Ele elaborou uma primeira classificação das enfermidades mentais e 
consolidou o conceito de alienação mental, e a profissão do alienista, não elegendo o termo 
“doença mental”, mas “alienação mental”. Entende-se, desta forma, que “alienação mental” 
(mais tarde substituída por “doença mental”) seria um distúrbio no equilíbrio das paixões e 
que o hospital de alienados de Pinel seria uma instituição terapêutica. O Alienismo foi o 
estudo sobre os alienados (criado por Pinel) – alienados foram mais tarde chamados de 
doentes mentais. 
 
5 – O que foi chamado de “trabalho terapêutico”? Esta proposta foi usada no Brasil? 
Explique. 
O “trabalho terapêutico” foi o trabalho o qual foram submetidos os internos, dentro das 
próprias colônias de alienados, construídas em grandes áreas agrícolas. Essa proposta foi 
usada no Brasil a partir do século XX, pois considerava-se que o trabalho seria “o meio 
terapêutico mais precioso”, que estimulava a vontade e a energia, e consolidava a 
resistência cerebral tendendo fazer desaparecer “os vestígios do delírio”. 
 
6 – Explique as principais características do que Paulo Amarante chamou de psiquiatrias 
reformadas (Comunidades Terapêuticas, Psicoterapia Instituicional, Psiquiatria Preentiva/ 
Comunitária, Psiquiatria de Setor). E o motivo deste autor diferenciá-las da Antipsiquiatria 
e da Psiquiatria Democrática. 
o Comunidades Terapêuticas: 
 Luta contra a hierarquização ou verticalidade dos papeis sociais (horizontalidade e 
“democratização” das relações) 
 Ênfase na comunicação livre entre equipes e grupos de pacientes e nas atitudes 
permissivas que encorajam a expressão de sentimentos, o que implica numa 
organização social democrática igualitária e não numa organização social do tipo 
hierárquico tradicional. 
 Proposta iniciada na Inglaterra em 1946 com Main e Reichman e depois Maxwell 
Jones. 
 Acreditava-se que a solução era melhorar a organização e funcionamento do hospital; 
não questionavam a internação e buscavam qualificar, melhorar o tratamento 
psiquiátrico hospitalar. 
 Percebiam o potencial de internos e elaboraram estratégias para que todos 
(pacientes e funcionários) pudessem propor, planejar, trabalhar juntos – iniciando o 
debate sobre a relação social-psiquismo. 
 
 
 
 
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 Isabella Rocha Baihense 
 @isabellabaihense.psi 
 
o Psicoterapia Institucional 
 Propõe a “transversalidade”, ou seja, o encontro e ao mesmo tempo o confronto dos 
papéis profissionais e institucionais com o intuito de problematizar as hierarquias 
hegemoniais. 
 Na França, François Tosquelles deu início ao Coletivo Terapêutico, só depois 
chamado de Psicoterapia Institucional. 
 Acreditava-se que o hospital tinha perdido sua função terapêutica e que seria 
necessário “tratar” a instituição hospitalar. 
 Buscaram instituir mudanças no funcionamento do hospital sem questionar a 
internação. 
 Através da escuta polifônica (sem priorizar uma abordagem ou referencial teórico) 
acreditam que a instituição e a equipe devem ser importantes referências para os 
pacientes. 
 Clube terapêutico – profissionais e internos organizavam festas, passeios, ateliês, 
feiras de arte, etc. 
 
o Psiquiatria Preventiva/Saúde Mental Comunitária 
 Redirecionamento da política de assistência psiquiátrica dos EUA, que passou a ter 
como objetivo, reduzir as doenças mentais na comunidadee promover o estado de 
saúde mental das mesmas. 
 Deram visibilidade às precárias condições de assistência, violência e aos maus-tratos 
a que eram submetidos os pacientes internados em todo o país. 
 Prevenção primária: prevenção do que pode causar a doença mental; 
 Prevenção secundária – diagnóstico precoce e tratamento rápido; 
 Prevenção terciária – reabilitação e readaptação à vida social. 
 Conceito de CRISE como desadaptação social. Crise pode ser: 
Evolutiva – relacionadas ao processo de desenvolvimento, que se não for bem 
elaborada pela pessoa pode levar a transtornos mentais. 
Acidental – a partir de alguma perda ou risco – se tratada logo poderia 
ser crescimento para o indivíduo, não adoecimento 
 
o Psiquiatria de Setor 
 Iniciado na França, nos anos 50 com Lucien Bonnafé, buscando medidas 
terapêuticas após alta hospitalar. 
 Consideravam hospitais obsoletos e haveria necessidade de se criar outros espaços 
de cuidado e assistência. 
 Foram criados Centos de Saúde Mental (CSM) nos diferente “setores 
administrativos”, para que recebessem os egressos do manicômio, com equipe de 
cuidado, não ambulatorial e fragmentado 
 Adoção de medidas de continuidade terapêutica após alta hospitalar (centros de 
saúde mental), para evitar a reinternação ou internação de novos casos. – Pela 
primeira vez na história da assistência psiquiátrica, se falou em regionalização. 
 Subdivisão do espaço interno do hospital, destinando para cada setor, uma 
enfermaria correspondente. Quando recebessem alta médica, seriam encaminhados 
para o CSM existente no mesmo setor. 
 O acompanhamento nos CSM se daria pela equipe multiprofissional que tratara o 
sujeito quando internado (sem prioridade médica). 
 O hospital era visto como uma fase do tratamento. 
 
Para a antipsiquiatria e a psiquiatria democrática, o termo “reforma” se mostra inadequado. 
Ambas entendem a necessidade de se colocar em cheque todo o saber psiquiátrico. Para a 
antipsiquiatria, a doença mental seria patológica, devido a relação do indivíduo com o 
ambiente, pois seria o social, o responsável pela patologização da doença mental. Para essa 
corrente, o indivíduo deveria se ver livre para expressar seus sintomas e somente assim 
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haveria algum tipo de terapêutica. Ao terapeuta, caberia apenas auxiliar a pessoa a auxiliar 
os processos, protegendo-a inclusive da própria psiquiatria. 
A psiquiatria democrática, teorizada por Basaglia, haveria a ideia de uma superação do 
aparato manicomial no sentido de conjunto de saberes e práticas que fundamentavam a 
existência do isolamento e patologização. 
 
7 – Explique o que é chamado de horizontalidade dos saberes e como algumas propostas 
de mudança no cuidado à loucura trabalharam esta questão. 
A horizontalidade dos saberes era constituída pela noção de que a função terapêutica era 
uma tarefa que deveria ser assumida por todos (técnicos, familiares e pacientes); e não mais 
apenas o psiquiatra (ideia de hierarquização e verticalidade dos papeis sociais). O processo 
de horizontalidade constituía em uma democracia das relações sociais que imprimia em 
todos os atores sociais uma verve terapêutica, onde as diferentes categorias profissionais, 
os usuários e os familiares tem saberes que são usados no tratamento do indivíduo. 
 
8 – Quais alguns fatores importantes no processo de reforma psiquátrica brasileira? 
No Brasil, o processo da Reforma Psiquiátrica teve como base principal da Reforma 
Democrática Italiana, que propõe colocar a doença mental entre parênteses e cuidar da 
pessoa considerada louca, em sofrimento. Mudar a forma de tratamento manicomial é 
fundamental, mas isso deve ser consequência ao transformar a modo de lidar com 
a loucura. 
A proposta da Antipsiqiuatria, da Psiquiatria Democrática e da Reforma Psiquiátrica no Brasil 
é cuidar do sujeito, “abandonar o conceito de doença mental” (p.68), construir uma outra 
forma de lidar com a loucura e com o sujeito dito louco, que não isolando e prendendo. 
Utilização da expressão “em sofrimento mental/psíquico”, ao invés de “portador de 
transtorno ou doença”, já que transmite a ideia de carregar um fardo eterno; ao invés de 
pessoa com transtorno, que traz a ideia de pessoas transtornada continuamente; ao invés 
de desordem mental, que remete a uma ordem, a um jeito bom ou normal de ser. 
Lei 10.216 de 2001 – lei da Reforma Psiquiatra Brasileira que “dispõe sobre a proteção e os 
direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial 
em saúde mental”. 
O projeto de lei foi apresentado em 1989, tendo ficado 12 anos em tramitação no Congresso 
Nacional, e não foi aprovado na íntegra (ex: não abordou a extinção progressiva dos 
manicômios). 
A Reforma Psiquiátrica está intimamente ligada à luta por direitos humanos, pela “inclusão 
de novos sujeitos de direito e de novos direitos para os sujeitos em sofrimento mental” (p69-
70): direito ao trabalho, ao lazer, à cultura, à cidade. 
 
9 – O que significa dizer que Reforma Psiquátrica é um processo social complexo? 
A Reforma Psiquiátrica é um processo social complexo, à partir do momento em que é 
pensada no campo da saúde mental, não como um modelo ou sistema fechado, mas sim 
como um processo; um processo social complexo; é permanente. Quando pensamos em 
um processo, pensamos em movimento, em algo que caminha e se transforma 
permanentemente. Neste caminhar, vão surgindo novos elementos, novas situações a 
serem enfrentadas. Novos elementos, novas situações, pressupõem que existam novos 
atores sociais, com novos (e certamente conflitantes) interesses, ideologias, visões de 
mundo, concepções teóricas, religiosas, éticas, étnicas, de pertencimento de classe social... 
Enfim, um processo social complexo se constitui enquanto entrelaçamento de dimensões 
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 Isabella Rocha Baihense 
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simultâneas, que ora se alimentam, ora são conflitantes; que produzem pulsações, 
paradoxos, contradições, consensos, tensões. 
 
10 – Podemos afirmar que o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil está completo e 
consolidado? Justifique sua resposta 
Não! É um processo e é sobre um outro modo de lidar com a loucura que a Reforma 
Psiquiátrica vem instaurar, uma maneira em que a pessoa em sofrimento possa ser acolhida, 
que o diferente não precise ser afastado e isolado; que a diversidade habite todos os 
espaços. Os princípios da Reforma Psiquiátrica (também no Brasil) são: democratização, 
participação social, envolvimento, acolhimento, corresponsabilização, escuta polifônica, 
transversalidade (cuidado em saúde mental não é especifico de um espaço, de uma 
instituição). Ainda não está completo e consolidado pois ainda precisam existir movimentos 
(como por exemplo a luta antimanicomial) para a desinstitucionalização da loucura. 
 
11 – O que significa dizer “colocar a doença mental entre parênteses”? 
Colocar a doença mental entre parênteses foi uma proposta feita por Basaglia para que o 
sujeito e sua experiência de vida fossem pensadas e cuidadas em primeiro lugar, não sua 
doença. Colocar a doença entre parênteses não é negar a experiência de mal estar, dor e 
sofrimento, mas é não lidar com isso antes de lidar com o sujeito que sofre e que estava 
sendo reduzido à esses sintomas. Cuidar do sujeito (e a doença mental entre parênteses) é 
contribuir nas questões de vida da pessoa, seus problemas relacionados ao trabalho, renda, 
família, vizinhos, projetos de vida, estudo, anseios, etc. 
 
12 – Explique o lema “Por uma sociedade sem manicômios”, que vem sendo utilizado no 
Brasil desde final dos anos 80 (atenção para a diferenciação de desospitalização e 
desinstitucionalização da loucura e ao conceito de manicômios mentais). 
O lema “Por uma sociedade sem manicômios” se refere justamente à luta 
antimanicomial, que defende a desospitalização e desinstitucionalização, onde acredita-
se que o cuidado em saúde mentalpor meio da retirada da comunidade e inserção em 
hospitais psiquiátricos, não é uma particularidade deste momento histórico e nem a 
única terapêutica ou a mais adequada. A luta antimanicomial existe para justamente 
substituir os manicômios por terapêuticas mais humanizadas e inclusivas, onde o doente 
mental possa fazer parte da sociedade. 
A desospitalização é um processo que consiste na retirada do paciente do ambiente 
hospitalar para prosseguir com um tratamento domiciliar. Ela melhora a qualidade na 
recuperação do paciente e reduz os custos do atendimento para o hospital. No âmbito 
psiquiátrico, consiste na retirada da internação psiquiátrica para uma ressocialização, 
um tratamento que permita que esse indivíduo não seja excluído da sociedade; pelo 
contrário, esteja incluído na sociedade. 
A desisntitucionalização consiste na desconstrução do pensamento de que o “louco” é 
perigoso, que precisa ser contido ou precisa ficar recluso da sociedade, que não pode 
viver com os demais pois é apresenta um risco; e todos os outros pensamentos arcaicos 
sobre a loucura. É um processo de desconstrução de saberes, práticas e perspectivas que 
levem à segregação, estigma e destituição de direitos da pessoa com transtorno mental. 
 
13 – Paulo Amarante apresenta quatro dimensões no processo de reforma psiquiátrica. 
Quais são eles? Explique-as. 
2022/2 
 Isabella Rocha Baihense 
 @isabellabaihense.psi 
 
o Dimensão Teórico-conceitual: Questiona a ideia positivista de que a ciência traz a 
verdade sobre um objeto e que apenas a ciência pode determinar uma ação ou 
intervenção. A partir do questionamento do saber-poder da psiquiatria, percebe-se a 
importância de considerar que outros saberes interferem na organização social, nos 
modos de vida, e nas nossas ações e intervenções, e eles precisam ser considerados; 
a saber: ideologia, política, ética, religião e muitos outros. A proposta da Antipsiqiuatria, 
da Psiquiatria Democrática e da Reforma Psiquiátrica no Brasil é cuidar do sujeito, 
“abandonar o conceito de doença mental” (p.68), construir uma outra forma de lidar com 
a loucura e com o sujeito dito louco, que não isolando e prendendo. 
 
o Dimensão Técnico-assistencial: Tendo a necessidade de lidar com o sujeito em 
sofrimento como um todo, os serviços de cuidado não podem mais ser fechados e 
estáticos. Os equipamentos/ serviços devem ampliar o modo de cuidado e intervenção 
para conseguir contribuir naquilo que o sujeito precisa, no território – diferentes modos 
de atuação dos profissionais, não apenas atendimentos e intervenções individuais e pré-
determinadas. Serviços que lidam com as pessoas, com acolhimento dos incômodos, 
das dúvidas, das dificuldades; espaço de sociabilidade e produção de subjetividades. 
 
o Dimensão jurídico-política: Em diferentes leis e documentos oficiais vemos 
“referências nocivas aos sujeitos em sofrimento psíquico e representam obstáculos 
significativos ao exercício da cidadania”. A Reforma Psiquiátrica está intimamente ligada 
à luta por direitos humanos, pela “inclusão de novos sujeitos de direito e de novos 
direitos para os sujeitos em sofrimento mental” (p69-70): direito ao trabalho, ao lazer, à 
cultura, à cidade. Ter a legislação, contudo, não basta. Para de fato termos direitos 
garantidos e cidadania, as discussões e transformações devem abarcar todos os setores 
da sociedade. A ideia construída, principalmente pela psiquiatria, de que o “louco é 
perigoso”, ou que “lugar de doido é no hospício” e a fala de internação como tratamento 
está, ainda, muito arraigada na nossa sociedade. Não basta tolerar o diferente, suportar 
o considerado louco, mas de fato tê-lo na sociedade, na cidade – respeitar, estar junto, 
sem medo, sem estigmas, preconceitos e discriminações. 
 
o Dimensão sociocultural: Necessidade de construir um outro lugar social para a loucura 
e para sujeitos em sofrimento psíquico, de solidariedade e reciprocidade, não de rejeição 
ou apenas tolerância. Necessidade de questionar tudo o que afasta o sujeito em 
sofrimento mental das relações, da cidade, da sociedade. Importante trazer a sociedade 
(o máximo possível) para o debate sobre a reforma psiquiátrica, sobre internação, 
loucura, uso do território. Dimensão esta que se aproxima das inventividades, da cultura, 
das diferentes formas de arte. Anos 90 – início, por exemplo, de blocos carnavalescos 
com participação de usuários, familiares, profissionais, voluntários; ou mesmo parte em 
blocos famosos; alas em escolas de samba; temas de samba-enredo. Músicas, artistas, 
poemas que instigavam a sociedade a pensar sobre os loucos, a loucura, a chamada 
doença mental. Isso contribuiu muito para os debates acerca do tratamento e cuidado 
em saúde mental, sobre as internações e preconceitos. Amarante cita vários grupos 
musicais, de teatro, rádios, programas em TVs comunitárias, exposições de artistas 
usuários de serviços de saúde mental, dentre outras estratégias que fazem o debate 
circular. 
 
14– Diferencie o modo de atenção asilar e o modo de atenção psicossocial. 
No modo de atenção asilar, o objeto de estudo/análise era simples e chamado apenas de 
doença mental; já no novo modelo de atenção psicossocial, o objeto é muito mais complexo 
e há o entendimento da existência do sofrimento na doença mental. Quando falamos de 
estratégias de intervenção, o modelo asilar era baseado no isolamento e 
predominantemente biológico; já no modelo de atenção psicossocial, há predominância da 
diversidade e da intervenção. A instituição asilar era o hospital e a instituição de atenção 
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 Isabella Rocha Baihense 
 @isabellabaihense.psi 
 
psicossocial é de rede ou intersetorialidade. A prática social adotada pelo modo de atenção 
asilar era de exclusão e violência, já a prática social adotada pelo modo de atenção 
psicossocial é de inclusão e solidariedade. 
15 – Atenção psicossocial e a chamada psiquiatria tradicional cuidam e lidam com as crises 
em saúde mental de maneiras diferentes. Que diferenças são essas? 
No modelo clássico da psiquiatria, entende-se a crise como uma situação de grave disfunção 
que ocorre exclusivamente em decorrência da doença e, como consequência dessa 
concepção, a resposta pode ser agarrar a pessoa em crise a qualquer custo; amarrá-la, 
injetar-lhe fortes medicamentos intravenosos de ação no SNC a fim de dopá-la e aplicar-lhe 
ECT ou (eletrochoque). Já no contexto da saúde mental e atenção psicossocial, a crise é 
entendida como o resultado de uma série de fatores que envolve terceiros, sejam estes 
familiares, vizinhos, amigos, ou mesmo desconhecidos. Também entende-se que pode ser 
resultado de uma diminuição do limiar de solidariedade de uns para com outros ou 
precariedade de recursos para tratar a pessoa, ou seja, uma situação mais social do que 
biológica ou psicológica, tratando-se então de um processo social. Por isso, é necessário 
que existam serviços de atenção psicossocial que possibilitem o acolhimento das pessoas 
em crise, e que todas as pessoas envolvidas possam ser ouvidas, expressando suas 
dificuldades, temores e expectativas. É importante que sejam estabelecidos vínculos 
afetivos e profissionais com essas pessoas e que elas se sintam realmente acolhidas, isto 
é, ouvidas e cuidadas. 
A principal diferença, então, é que na psiquiatria, a relação médico-paciente é mais 
estabelecida como médico-doença, já na atenção psicossocial, o que se pretende é uma 
rede de relações entre sujeitos que escutam e cuidam (médicos, enfermeiros, psicólogos, 
TOs, assistentes sociais, dentre muitos outros atores que são evidenciados nesse processo 
social complexo), com sujeitos que vivenciam as problemáticas (os usuários e familiares, e 
outros atores sociais – amigos, colegas de trabalho, vizinhos, etc). 
 
16 – O que é medicalização – considerando que é diferente de medicamentalização. 
Medicalização é quando a medicina se apropria do que não é exclusivamente 
médico; tratar como de caráter médico o que é social, políticoe/ou econômico, por 
exemplo, uma violência. Ou seja, “fazer com que as pessoas sintam que os seus 
problemas são problemas de saúde e não próprios da vida humana” (p.95). 
*Se diferencia do uso de medicamento em qualquer situação, entendida como patológica – 
isso é medicamentalização ou farmacologização. 
 
17 – O que o processo de reforma psiquiátrica brasileira pretende com a implantação de 
serviços residenciais terapêuticos? Como dever ser acompanhamento das pessoas nessas 
moradias? 
A implantação de serviços residenciais terapêuticos foi feita, destinada aos internos em 
instituições psiquiátricas por um período de, no mínimo, dois anos. Essa iniciativa vem 
contribuindo para a superação do modelo psiquiátrico predominantemente asilar ainda 
hegemônico. Esses serviços configuram-se como ponto de atenção do componente de 
desinstitucionalização, sendo estratégicos no processo de desospitalização e reinserção 
social de pessoas longamente internadas nos hospitais psiquiátricos. Caracterizam-se como 
moradias inseridas na comunidade destinadas a pessoas com transtorno mental, egressas 
de hospitais psiquiátricos e/ou hospitais de custódia. 
Cada módulo residencial deverá estar vinculado a um serviço/equipe de saúde mental de 
referência que dará o suporte técnico profissional necessário ao serviço residencial. O 
acompanhamento dos moradores das residências deve estar em consonância com os 
respectivos projetos terapêuticos individuais que focalizam-se no processo de reabilitação 
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 Isabella Rocha Baihense 
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psicossocial e inserção dos moradores na rede social existente (trabalho, lazer, educação, 
entre outros). 
 
18 – O que é Projeto Terapêutico Singular (PTS)? Como deve ser construído? Com que 
propósito? 
O Projeto Terapêutico Singular é “uma proposta de um conjunto de ações pactuadas entre 
diferentes atores: o usuário, seus familiares, integrantes da equipe e profissionais de outros 
serviços, ativados a partir da necessidade do usuário” (p.149). É negociação de nova rotina, 
de responsabilizações, de compartilhamento de tarefas. - “quanto maior a diversidade e a 
quantidade de ferramentas, teremos mais possibilidades de construir projetos de cuidado 
adequados à complexidade de nosso ofício” (p.150). Acredita-se, nesse projeto, que a 
disponibilidade potencializa a capacidade de produção e invenção. 
Hoje em dia, entende-se que cabe aos serviços de cuidado em saúde mental cuidar do 
sujeito em sofrimento, não da doença. Por isso, é proposto um modelo usuário-centrado, 
que não se repetirá, ou seja, que é único para cada um. Sendo assim, o PTS é projeto 
singular, único, mas não solitário, já que deve articular diversos saberes e projetos, talvez 
em diversos espaços, em muitos encontros. Para construção do PTS deve-se começar 
investindo na aproximação, no acolhimento, no conhecimento do sujeito e seu contexto, seu 
entorno, para que vínculos sejam construídos – o que não é um processo rápido (exemplo 
de vínculos referenciados). 
A construção de PTS não é simples, é sempre desafio, porque pede a participação de 
diferentes pessoas, e não temos certeza do que acontecerá. “No entanto, só é possível 
produzir quaisquer efeitos se arriscarmos, se ousarmos, se damos um passo à frente” 
(p.152). Uma ação simples pode ser complexa para o cuidado com a pessoa. Trata-se de 
uma clínica de cuidado ao sujeito, não à doença; que compreende o processo saúde-doença 
como resultante de múltiplos fatores; que busca ética da autonomia através do diálogo 
constante – clínica ampliada / clínica antimanicomial / clínica do sujeito / clínica 
transdisciplinar. 
 
19 – Qual a noção de território adotada pela atenção psicossocial? Como se difere de 
espaço geográfico? 
Território, a partir do modo de atenção psicossocial, não é espaço geográfico, mas é onde 
há experiências, onde acontece o cuidado e trata-se das relações que constituímos, do 
contexto-histórico de vida. 
 
20 – Silvio Yasui (e outros autores) apresenta conceitos ferramentas importantes para a 
atenção e o cuidado em saúde mental. Explique o que ele chama 
de acessibilidade e acolhimento. 
A acessibilidade e acolhimento é destacada pelos autores através da proposta “porta 
aberta”, que é, muito mais do que um sentido simbólico de oposição às formas de contenção 
e controle das instituições asilares (como muros, grades, etc), mas propondo um significado 
positivo: o da garantia da universalidade do acesso ao serviço. A acessibilidade é discutida 
por Alves e Guljor como critério de qualidade dos serviços de saúde mental: O critério de 
qualidade é a acessibilidade, que é determinada por três quesitos. O primeiro é a localização 
geográfica, se o serviço está perto ou não das pessoas – o que chamamos de território. O 
segundo é o tempo que ele permanece aberto. Se o funcionamento se dá 24, 12 ou 8 horas 
por dia; se funciona todos os dias ou apenas três vezes por semana – isso pode espelhar a 
qualidade do serviço. O outro quesito de qualidade integrante da formulação de 
acessibilidade diz respeito a quais programas estão acessíveis às pessoas que procuram o 
serviço. No caso de nossa clientela, programas propriamente assistenciais, de inserção 
2022/2 
 Isabella Rocha Baihense 
 @isabellabaihense.psi 
 
social, lazer, hospitalidade assistida, trabalho assistido, dentre outros. (Alves & Guljor, 2004: 
230). Ainda, o acolhimento é abordado pelo seu significado de “Ato ou efeito de acolher, de 
receber; hospitalidade, local seguro”. Deste modo, é destacado que “Na dor, na fragilidade, 
no sofrimento psíquico, o que se deseja é ser olhado e escutado por inteiro, como uma 
pessoa com vida e com história. Ser acolhido integralmente (...)... é necessário encontrar 
uma porta aberta, adentrar o serviço e ser recebido” (p.139). Nesse sentido, a chegada do 
sujeito ao serviço, qualquer serviço, deve ser acolhedora e não burocrática; ele deve ser 
ouvido em toda sua complexidade. É com o acolhimento que tem início a construção de 
vínculos e de ideias para o projeto singular de acompanhamento e de vida do sujeito. O 
acolhimento na saúde mental se diferencia, portanto, do acolhimento tradicional em uma 
triagem médica, por exemplo. É você sentar e escutar, conversar, ouvir, se dedicar ao que 
esse paciente e sua família tem a dizer. É sobre como você cuida do sujeito... Você cuida 
sem olhar pra cara dele? Não! você cuida dele olhando pra ele, conversando, entendendo 
sobre ele, sua história, suas conquistas, dúvidas, condições sociais, econômicas e culturais. 
Cuidar, segundo os autores, é tecer projetos de vida. É uma relação. Contudo, ainda 
percebemos a lógica racional e medicalizante em muitos espaços de cuidado. 
 
21 – Explique a importância do trabalho intersetorial no cuidado em saúde mental. 
A importância do trabalho intersetorial no cuidado em saúde mental é, além dos 
equipamentos de saúde que devem conversar entre si, conhecer e utilizar os diversos 
recursos sociais, (Saraceno utiliza o termo “recursos escondidos”), aqueles que não 
havíamos pensado como importantes para a saúde, mas que muito podem contribuir 
(intersetorialidade). “... construir um processo que envolve intenso diálogo, o qual pressupõe 
reconhecer e respeitar as especificidades e as diversidades de cada campo; explicitar 
conflitos (...); unir potências, produzir encontros (...) [para] a melhoria da qualidade de vida, 
a inclusão social e a construção da cidadania da população” (p.155). – dimensão política 
do cuidado. 
O que é dimensão política? 
- reconhecimento de construir coletivamente ações de cuidado; 
- articulação dos saberes/fazeres (intersetorialidade e transversalidade) 
- ações de produzam efeitos em todos os atores envolvidos, construindo, assim, sujeitos 
coletivos. 
O CAPS deve ser pensado como estratégia, não como serviço independente e responsável 
único pela atenção psicossocial (não ‘encapsular’). Buscar construir uma rede ampla atravésde “um conjunto de ações que provoque, instigue, convide o território, a cultura, a construir 
coletivamente novas formas de convivência com a diferença (...)”.

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