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Unidade 4 Livro Didático Digital Elaine Christine Pessoa Delgado Marcos Rodolfo da Silva Giselly Santos Mendes Ergonomia e Medicina do Trabalho Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autores ELAINE CHRISTINE PESSOA DELGADO MARCOS RODOLFO DA SILVA GISELLY SANTOS MENDES OS AUTORES Elaine Christine Pessoa Delgado Eu, Elaine, sou formada em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Campina Grande (2007), com uma experiência técnico-profissional na área de gerência de empresas há mais de 10 anos. Aline Pedro Feza Marcos Rodolfo da Silva Eu, Marcos Rodolfo da Silva, sou graduado em Enfermagem, pós-graduado em Enfermagem do Trabalho, técnico em radiologia e instrumentador cirúrgico pelo Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (UNIFEOB), 2010, 2012 e 2008, respectivamente. Além disso, ao longo de minha carreira, participei de cursos na área de urgência e emergência e atuei como enfermeiro supervisor no Pronto Socorro Municipal Dr. Oscar Pirajá Martins; na cidade de São João da Boa Vista, estado de São Paulo, no período de março de 2011 a janeiro de 2014. Atualmente, sou acadêmico do 5° ano do curso de Medicina no Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino Unifae, São João da Boa vista - SP. Além disso, desenvolvo materiais didáticos como professor conteudista nas áreas de saúde pública, saúde do idoso, direito à saúde e a elas correlatas. Giselly Santos Mendes Eu, Giselly, sou mestra em Qualidade Ambiental, tecnóloga em polímeros, administradora e educadora com uma experiência técnico- profissional na área de Processos Gerenciais e Educacionais de mais de 12 anos. Somos apaixonados pelo que fazemos e gostamos de transmitir nossas experiências de vidas àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fomos convidados pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Conceito, legislação da Medicina do Trabalho e impactos do trabalho sobre a saúde e segurança dos trabalhadores ........... 12 Conceito de Medicina do Trabalho .................................................................................... 12 Legislação da Medicina do Trabalho ................................................................................ 14 Impactos do trabalho sobre a saúde e segurança dos trabalhadores .... 19 Atividades perigosas, insalubres e a toxicologia ocupacional conexas com a Medicina do Trabalho ................................................22 Atividades perigosas.....................................................................................................................22 Atividades insalubres ...................................................................................................................26 A toxicologia ocupacional conexa com a Medicina do Trabalho .................28 Medidas preventivas de Medicina do Trabalho e medidas especiais de proteção ...............................................................................32 Medidas preventivas de Medicina do Trabalho ........................................................32 Medidas especiais de proteção ........................................................................................... 36 Acidentes de trabalho, doenças ocupacionais e conduta médico-operacional pertinentes à Medicina do Trabalho ........ 41 Acidentes de trabalho ................................................................................................................. 41 Doenças ocupacionais ................................................................................................................45 Conduta médico-operacional pertinente à Medicina do Trabalho ........... 50 9 LIVRO DIDÁTICO DIGITAL UNIDADE 04 Ergonomia e Medicina do Trabalho 10 INTRODUÇÃO Você sabia que a Medicina do Trabalho não busca apenas a prevenção de doenças de acidentes do trabalho? E que existem várias medidas preventivas de Medicina do Trabalho? A vida dos funcionários e o seu bem-estar são essenciais para conservar um bom ambiente laboral. Para que os locais de trabalho possuam efetivamente ambientes seguros existem medidas obrigatórias que devem ser tomadas, evitando doenças ocupacionais, acidentes de trabalho e auxiliando nos casos de trabalhos insalubres ou perigosos. A Medicina do Trabalho busca a prevenção das doenças e dos acidentes de trabalho, a promoção da saúde, da qualidade de vida com o intuito de possibilitar uma relação das pessoas com o seu trabalho de forma salutar, assim como existem alguns programas que são fundamentais para auxiliar na prevenção às doenças e aos acidentes de trabalho como o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional e o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. Nesta unidade compreenderemos a Medicina do Trabalho e as normas referentes a esse campo; as atividades perigosas e insalubres, a toxicologia ocupacional e as respectivas medidas preventivas e especiais de proteção, como também as doenças ocupacionais, as doenças do trabalho e a atuação médica relacionada com a Medicina do Trabalho. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Ergonomia e Medicina do Trabalho 11 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1.Identificar o conceito de Medicina do Trabalho, explicar a legislação da Medicina do Trabalho e os impactos do trabalho sobre a saúde e segurança dos trabalhadores; 2.Definir as atividades insalubres e perigosas e a toxicologia ocupacional conexas com a Medicina do Trabalho; 3. Descrever as medidas preventivas de Medicina do Trabalho e as medidas especiais de proteção; 4.Analisar os acidentes de trabalho, identificar as doenças ocupacionais e esclarecer a conduta médico-operacional. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Ergonomia e Medicina do Trabalho 12 Conceito, legislação da Medicina do Trabalho e impactos do trabalho sobre a saúde e segurança dos trabalhadores INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de identificar o conceito de Medicina do Trabalho, quem são os médicos do trabalho, explicar a legislação da Medicina do Trabalho e os impactos do trabalho sobre a saúde e segurança dos trabalhadores. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Avante! Conceito de Medicina do Trabalho Macedo (2008) define a Medicina do Trabalho como a especialidade que aborda as relações entre asaúde dos homens e mulheres trabalhadores e seu trabalho, buscando não apenas a prevenção das doenças e dos acidentes de trabalho, como também à promoção da saúde, da qualidade de vida por meio de ações propícias de agilizar a saúde individual e possibilitar uma saudável inter-relação das pessoas e dessas com seu trabalho. Para Prazeres (2018), a segurança e Medicina do Trabalho pode ser conceituada como uma das divisões do Direito do Trabalho encarregada por fornecer condições de proteção à saúde dos empregados no ambiente laboral e de sua recuperação quando não possuir condições de realizar suas atividades ao empregador. • Ela é uma especialidade médica que tem como propósito a promoção, a proteção e a recuperação da saúde das pessoas que laboram nos mais variados trabalhos e com as mais diferentes relações empregatícias, mencionam Bandini et al. (2017). A Medicina do Trabalho está abalizada na ciência e deve buscar comprovadas tecnologias disponíveis como instrumentos de trabalho, Ergonomia e Medicina do Trabalho 13 assim como tem raízes no humanismo pragmático e engloba aspectos de relacionamento humano, ético, jurídico trabalhista e previdenciário, ilustra Souto (2005). A Medicina do Trabalho deve ser compreendida como a arte de estudar, precaver e cuidar das doenças que derivam do trabalho, fazendo uso dos fundamentos técnicos e científicos da Medicina em suas execuções pessoais e coletivas, tendo como ponto inicial as relações mútuas que conectam os problemas de saúde (Figura 1) ou doença dos trabalhadores ao ambiente físico e social no qual trabalham ou convivem, esclarece Souto (2005). Figura 1: Problemas de saúde Fonte: Freepik Macedo (2008) afirma que compete ao Serviço de Medicina do Trabalho adotar os variados instrumentos e mecanismos de que possui conhecimento e que estão ao seu alcance, com o propósito de resguardar a saúde dos trabalhadores, seja resolvendo os problemas existentes, seja na prevenção de futuros. O médico do trabalho possui um campo de atuação muito amplo, extrapolando o âmbito tradicional da prática médica. Não basta ao médico do trabalho ter conhecimento apenas na Ergonomia e Medicina do Trabalho 14 sua área, ele também necessita de uma noção ampla de outras áreas como Clínica Médica e Saúde Pública, por exemplo, para que possa realizar programas de prevenção ou mesmo chegar a diagnósticos mais precisos. Também o médico do trabalho deve trabalhar com uma equipe multidisciplinar. Para isso, deve contar com o crucial auxilio de engenheiros de segurança do trabalho, técnicos em segurança do trabalho, fonoaudiologistas, fisioterapeutas e outros profissionais capacitados para a promoção da saúde no ambiente laboral. Vários são os campos de atuação para o médico do trabalho. Entre os principais destacam-se as empresas, perícia médica da previdência social e judicial, assessoria sindical, consultoria privada e toxicologia. (MACEDO, 2008, p. 23) Todas as ações médico-sanitárias operacionalizadas dentro de uma coletividade de trabalho devem ser incentivadas pela compreensão de que a saúde do trabalhador é um meio imprescindível ao desenvolvimento econômico e social, um motivo de valorização do homem e que, desse modo, garante sua participação efetiva no progresso e na paz social, expõe Souto (2005). Legislação da Medicina do Trabalho Conforme Oliveira (2017), para que o Estado cumpra seu papel fundamental para a garantia dos direitos relacionados aos ambientes do trabalho, é imprescindível que sejam exigidos dos empregadores o zelo pela segurança e saúde dos trabalhadores em observância ao ordenamento jurídico. A legislação da Medicina do Trabalho é bem ampla, incluindo vários diplomas legais que vão desde a Constituição Federal a leis, convenções, normas regulamentadoras, dentre outros. A Constituição Federal é a Carta Magna (lei soberana), destinada a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, Ergonomia e Medicina do Trabalho 15 a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos. Os demais dispositivos (CLT, Código Civil, Código de Processo Civil e legislação previdenciária) são as leis infraconstitucionais, típicas ou comuns, aprovadas pela maioria dos parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado Federal presentes durante a votação. As normas regulamentadoras, por sua vez, constituem normas infralegais que tratam da segurança e saúde do trabalhador. (OLIVEIRA, 2017, p. 16) A Constituição Federal estabelece o direito à vida e à saúde como um direito de todos, de acesso universal e igualitário, que deve ser garantida por políticas sociais e econômicas que busquem a redução dos riscos de acidentes inerentes ao trabalho, demonstra Oliveira (2017). • Merece destaque o art. 7º da CF que estabelece os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estatui as normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho, especialmente relativas à segurança e Medicina do Trabalho previstas em seu Capítulo V, explicita Oliveira (2017). Prazeres (2018) menciona que a CLT trouxe muitos benefícios aos empregados, isto é, cada vez mais garantias de saúde, integridade física e outros benefícios são garantidos, através da lei, para que os empregados possam desempenhar suas tarefas de maneira segura e correta. A legislação previdenciária, através do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), tem como propósito garantir os benefícios acidentários (auxílio-doença acidentário, auxílio doença, aposentadoria por invalidez, aposentadoria especial, pensão por morte e reabilitação). Em resposta aos problemas que os acidentes de trabalho (Figura 2) manifestam, o Ministério da Previdência Social tem elaborado uma série de normas com a finalidade de estimular o investimento em saúde e segurança no Ergonomia e Medicina do Trabalho 16 trabalho, prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, ilustra Oliveira (2017). Figura 2: Acidente de trabalho Fonte: Freepik As normas regulamentadoras referentes à segurança e saúde do trabalhador são disposições complementares à Consolidação das Leis Trabalhistas, fundamentando-se em obrigações, direitos e deveres a serem seguidos por empregadores e trabalhadores com o objetivo de assegurar um trabalho seguro e sadio, prevenindo a ocorrência de doenças e acidentes de trabalho, esclarece Oliveira (2017). Pretti (2011) destaca que a Portaria nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho aprovou as normas que normatizam os compromissos relacionados com a segurança e Medicina do Trabalho, que ao longo do tempo sofreram modificações de toda ordem, e mais cinco normas regulamentadoras para o trabalhador rural. Dentre essas normas, destacam-se: • NR 2 — Inspeção prévia. • NR 5 — Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. • NR 6 — Equipamentos de Proteção Individual — EPI. Ergonomia e Medicina do Trabalho 17 • NR 7 — Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional. • NR 9 — Programas de Prevenção de Riscos Ambientais. • NR 15 — Atividades e Operações Insalubres. • NR 16 — Atividades e Operações Perigosas. Essas normas regulamentadoras são de cumprimento obrigatório pelas empresas públicas e privadas, órgãos da administração direta e indireta e dos Poderes Legislativo e Judiciário que tenham empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho, relata Pretti (2011). Existem também diversas convenções da Organização Internacional do Trabalho que abordam direitos dos trabalhadores e que foram ratificadas pelo Brasil. Essas convenções são Tratados Internacionais que estabelecem padrões e pisos mínimos a serem verificados e realizados por todos os países que os ratificam. ACESSE:Aprofunde-se nesse tema conhecendo as convenções ratificadas pelo Brasil disponível em https://bit.ly/34aHBZE (Acesso em: 11/09/2020). O Código Civil assegura o direito a indenizações por danos resultantes de acidentes ou doenças do trabalho, o Código de Processo Civil determina regras e procedimentos legais para o cumprimento de perícias judiciais acidentárias, aposentadoria, insalubridade e periculosidade, dentre outros tópicos aplicáveis, e o Código Penal possibilita a responsabilização criminal do empregador por sujeitar a vida Ergonomia e Medicina do Trabalho 18 ou a saúde do trabalhador a perigo direto ou iminente, explana Oliveira (2017). Figura 3: Perigo direto Fonte: Pixabay Cabe ainda destacar que a Consolidação das Leis Trabalhistas determina a obrigação do cumprimento dessas normas, tanto pelo empregador quanto pelo trabalhador: Art. 157 - Cabe às empresas: I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente; IV - facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente. Ergonomia e Medicina do Trabalho 19 Art. 158 - Cabe aos empregados: I - observar as normas de segurança e medicina do trabalho, inclusive as instruções de que trata o item II do artigo anterior II - colaborar com a empresa na aplicação dos dispositivos deste Capítulo. III - conhecer, em segunda e última instância, dos recursos voluntários ou de ofício, das decisões proferidas pelos Delegados Regionais do Trabalho em matéria de segurança e higiene do trabalho. (BRASIL, 1943) Oliveira (2017) afirma que a legislação de segurança e saúde do trabalhador tem como propósito a promoção da saúde, a melhoria da qualidade de vida do trabalhador e a prevenção de acidentes e de danos decorrentes à saúde referentes ao trabalho ou que aconteçam durante este, através da extinção ou diminuição dos riscos no local de trabalho. Impactos do trabalho sobre a saúde e segurança dos trabalhadores O meio ambiente de trabalho é o campo primordial dos riscos profissionais e é nele em que deve estar o foco das orientações dos trabalhadores referentes à segurança e saúde no trabalho, com o propósito de alcançar melhorias necessárias, informa Stonoga (2020). De acordo com Macedo (2008, p. 65), a “Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um perfeito estado de bem-estar físico, psíquico e social ”. Embora a saúde seja a meta de todos, pode o trabalhador em seu ambiente de trabalho submeter-se a situações que o prejudiquem. Contudo, se o trabalho também é fundamental à sociedade e ao próprio indivíduo, a perda da saúde apresenta-se como um motivo Ergonomia e Medicina do Trabalho 20 da redução da capacidade laborativa e, no decorrer do tempo, pode ocasionar a diminuição da qualidade de vida. Muitos profissionais são acometidos por acidentes em seu local de trabalho ou por doenças que têm origem no próprio ambiente laboral, sejam eles ergonômicos, de intoxicações, psíquicos, dentre vários outros. Além dos perigos de ambiente de trabalho característicos, trabalho e saúde são relacionados a outros modos de desenvolvem provavelmente até maiores impactos em saúde (Figura 4), pois condições de trabalho, tipo de trabalho, estado profissional e localização geográfica do ambiente de trabalho e emprego também possuem um impacto intenso no estado social e bem-estar dos trabalhadores, elucida Stonoga (2020). Figura 4: Impactos em saúde Fonte: Freepik Stonoga (2020) afirma que é verificado que muitos dos serviços de Medicina Ocupacional são limitados ao desempenho associado a atendimento a acidentes de trabalho e, ocasionalmente, consultas médicas admissionais, periódicas e demissionais. Entretanto, Macedo (2008) explica que o Serviço de Medicina do Trabalho deve transcender Ergonomia e Medicina do Trabalho 21 esses serviços, com funções de prevenção, protegendo a saúde do trabalhador e, consequentemente, a conservação da força produtiva de trabalho. A grande pluralidade de problemas de saúde ocupacional relacionados com os riscos para a saúde e suas repercussões na esfera global possuem uma quantificação muito complexa. Determinadas estimativas são fundamentadas nos danos profissionais e doenças informadas em estatísticas oficiais. Mas um grande número de danos e doenças originados no ambiente de trabalho não são informados, lembra Stonoga (2020). RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Neste capítulo você deve ter entendido que a Medicina do Trabalho aborda as relações entre a saúde dos homens e mulheres trabalhadores e seu trabalho, promovendo a saúde, qualidade de vida e prevenção de doenças e acidentes de trabalho e que a saúde do trabalhador é um meio imprescindível ao desenvolvimento econômico e social, um motivo de valorização do homem e que, desse modo, garante sua participação efetiva no progresso e na paz social. Viu também que a legislação da Medicina do Trabalho é bem ampla, incluindo vários diplomas legais que vão desde a Constituição Federal a leis, convenções, normas regulamentadoras, dentre outros. Por fim, compreendeu que muitos profissionais são acometidos por acidentes em seu local de trabalho ou por doenças que têm origem no próprio ambiente laboral, sejam eles ergonômicos, de intoxicações, psíquicos, dentre vários outros, e que a Medicina do Trabalho não deve se limitar a apenas atendimento a acidentes de trabalho e, ocasionalmente, consultas médicas admissionais, periódicas e demissionais, mas deve também possuir funções de prevenção, protegendo a saúde do trabalhador e, consequentemente, a conservação da força produtiva de trabalho. Ergonomia e Medicina do Trabalho 22 Atividades perigosas, insalubres e a toxicologia ocupacional conexas com a Medicina do Trabalho INTRODUÇÃO: Neste capítulo definiremos as atividades insalubres e perigosas e a toxicologia ocupacional, compreendendo seus principais pontos e como ela é encontrada no ambiente laboral. Atividades perigosas As atividades perigosas são aquelas que, por seu caráter ou processos de trabalho, põem em risco a vida dos trabalhadores diante da intensa exposição permanente sofrida. De acordo com a Norma Regulamentadora 16, são classificadas como atividades e operações perigosas aquelas que compreendem o trabalho associado com explosivos, produtos inflamáveis, segurança pessoal ou patrimonial, energia elétrica, locomoção em motocicletas, radiações ionizantes ou substâncias radioativas, demonstram Barsano e Barbosa (2018). A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) traz apenas as situações de inflamáveis, explosivos, energia elétrica, roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial e as atividades de trabalhador em motocicleta. Contudo, a OJ — SD11 — 345 do TST reconhece como atividade perigosa a exposição à radiação ionizante ou substâncias radioativas. • A Constituição Federal de 1988, em seu art. 7º, XXXIII, veda expressamente o trabalho em condições de periculosidade a menores de dezoito anos. A Norma Regulamentadora 16 estabelece que são indicadas como atividades ou operações perigosas as realizadas com explosivos Ergonomia e Medicina do Trabalho 23 submetidos a: degradação química ou autocatalítica; ação de agentes exteriores, tais como calor, umidade, faíscas, fogo, fenômenos sísmicos, choque e atritos. Barsano e Barbosa (2018) destacam que as atividades de transporte de inflamáveis (Figura 5) líquidos ou gasosos liquefeitos, em todos os tipos de recipientes ea granel, são classificadas como situações de periculosidade, salvo para o transporte em pequenas quantidades, até o limite de duzentos litros para os inflamáveis líquidos e cento e trinta e cinco quilos para os inflamáveis gasosos liquefeitos. Figura 5: Transporte de inflamáveis Fonte: Freepik Correia (2018) afirma que o adicional de periculosidade é cabido quando a exposição ao risco é permanente ou intermitente (com intervalos), mas é indevido se o contrato for puramente casual ou se, mesmo que habitual, acontecer por tempo muito reduzido, ou seja, o Ergonomia e Medicina do Trabalho 24 trabalhador adquire o direito de adicional de periculosidade mesmo se na sua jornada tiver intervalos, contudo não possuirá caso passe pouco tempo sujeito à condição perigosa. Mas o que é esse adicional de periculosidade? O adicional de periculosidade é uma porcentagem paga ao trabalhador como uma forma de compensação no desempenho dessas atividades perigosas. O adicional de periculosidade consistirá no percentual de 30% calculado sobre o salário-base, sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios etc. (CLT, art. 193, § 1º). SUM 132 — O adicional de periculosidade, pago em caráter permanente, integra o cálculo de indenização e de horas extras (ex-Prejulgado nº 3). (ex-Súmula nº 132 — RA 102/1982, DJ 11.10.1982/ DJ 15.10.1982 — e ex-OJ nº 267 da SBDI-I — inserida em 27.09.2002) II - Durante as horas de sobreaviso, o empregado não se encontra em condições de risco, razão pela qual é incabível a integração do adicional de periculosidade sobre as mencionadas horas. (ex-OJ nº 174 da SBDI-I — inserida em 08.11.2000) Histórico: Súmula mantida — Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 Nº 132 Adicional de periculosidade — O adicional de periculosidade pago em caráter permanente integra o cálculo de indenização (ex-Prejulgado nº 3). Redação original — RA 102/1982, DJ 11.10.1982 e DJ 15.10.1982 Nº 132 — O adicional de periculosidade pago em caráter permanente integra o cálculo de indenização (ex-Prejulgado nº 3) (TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, 2020). Segundo a Súmula 132 do TST, quando o trabalhador estiver de sobreaviso, ou seja, de plantão ou esperando o chamado para o serviço ou qualquer momento, não é considerado o adicional de periculosidade, pois ele não está em contato direto com a atividade perigosa. A mesma Ergonomia e Medicina do Trabalho 25 súmula determina ainda que esse adicional deverá incorporar o cálculo de indenizações e horas extras caso seja pago em caráter permanente. A OJ-SDI1-259 do Tribunal Superior do Trabalho estabelece que o adicional de periculosidade deve fazer parte da base de cálculo do adicional noturno, pois neste horário o trabalhador também continua sob as condições de risco. Mas como se identifica a periculosidade de uma atividade? A atividade perigosa é atestada através de perícia. Barsano e Barbosa (2018) informam que é opcional às empresas e aos sindicatos das categorias profissionais interessadas solicitarem ao Ministério do Trabalho, através das Delegacias Regionais do Trabalho, a efetuação de perícia na organização ou setor da empresa com a finalidade de distinguir e especificar ou determinar a atividade perigosa (Figura 6). Figura 6: Atividade perigosa Fonte: Freepik Ergonomia e Medicina do Trabalho 26 Existem, entretanto, muitas situações em que o trabalhador ingressa na justiça para requerer o adicional de periculosidade, e para isso, durante o curso da ação, é chamado um perito, pois apenas através da prova técnica é que poderá ser atestado se o ambiente põe em risco a integridade física do trabalhador. Atividades insalubres Conforme Correia (2018), as atividades insalubres são aquelas que sujeitam o trabalhador a agentes nocivos à sua saúde e que excedem o seu limite de tolerância, sendo exemplos os agentes químicos (chumbo), biológicos (bactérias) e físicos (ruídos). Art. 189 - Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos. (BRASIL, 1943) O adicional de insalubridade é pago ao funcionário como uma maneira de compensar o trabalho em condições mais gravosas à sua saúde. O direito do trabalho, com seu caráter protetivo, beneficia a saúde do trabalhador, de forma que o adicional de insalubridade não se integra, de maneira definitiva, ao patrimônio do empregado, pois quando interrompido o agente insalubre, também acabará o pagamento de adicional, esclarece Moura (2017). Para a aquisição do adicional de insalubridade, existe a obrigação de que dois requisitos sejam preenchidos, segundo Correia (2018): • Atividade nociva deverá ser averiguada através de perícia por profissional habilitado, médico ou engenheiro do trabalho; • É obrigatório que o agente esteja compreendido na relação oficial do Ministério do Trabalho e Emprego. Ergonomia e Medicina do Trabalho 27 SAIBA MAIS: Quer se aprofundar nesse tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: NR 15: Atividades e Operações Insalubres, acessível pelo link https:// bit.ly/359iHce (Acesso em: 08/09/2020). Ao contrário da periculosidade, que possui apenas uma porcentagem para todos os casos, na insalubridade são estabelecidos graus de estabilidade como máximo no qual incidirá um adicional de 40% sobre o salário, médio com adicional de 20% sobre o salário, e mínimo com adicional de 10% sobre o salário. A Súmula nº 47 do Tribunal Superior do Trabalho dispõe que o trabalho realizado em condições insalubres, em caráter intermitente, não afasta, só por essa circunstância, o direito à percepção do respectivo adicional, ou seja, mesmo que o trabalhador possua horários com intervalos, ele possui o direito de receber o adicional. Esse entendimento, contudo, não é válido para o trabalhador eventual, pois este não possui o adicional de insalubridade (Figura 7). Figura 7: Insalubridade Fonte: Freepik Ergonomia e Medicina do Trabalho 28 A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu art. 191, estabelece que a extinção ou a neutralização da insalubridade acontecerá com: • a tomada de medidas que mantenham o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerância. • o emprego de equipamentos de proteção individual ao trabalhador, que reduzam a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância. Diante dessa normativa, devemos observar duas súmulas do Tribunal Superior do Trabalho que são importantes, a Súmula 80, que impõe que “A eliminação da insalubridade mediante fornecimento de aparelhos protetores aprovados pelo órgão competente do Poder Executivo exclui a percepção do respectivo adicional”; e a Súmula 289, que determina que o apenas o fornecimento do aparelho de proteção pelo empregador não o desobriga do pagamento do adicional de insalubridade, pois devem- se ainda ser adotadas as medidas que levem à redução ou à eliminação da nocividade, dentre as quais as referentes à utilização efetiva do equipamento pelo trabalhador. • Para que seja excluído o adicional de insalubridade, não basta apenas a entrega dos equipamentos de proteção, mas sim que a insalubridade seja considerada eliminada. Correia (2018) informa que o adicional de insalubridade integra as demais verbas trabalhistas, quando ele for pago com habitualidade, sendo incluído no décimo terceiro salário, nas férias, no FGTS e no aviso- prévio, ficando excluído o descanso semanal remunerado. A toxicologia ocupacional conexa com a Medicina do Trabalho Para Buschinelli (2020), a possibilidade de um trabalhador ficar doente pela exposição a um agente químico em um ambiente laboral é a preocupação inicial da toxicologia ocupacional; por esse motivo,as análises dos ambientes e dos processos produtivos dos trabalhadores Ergonomia e Medicina do Trabalho 29 devem ser realizadas com cautela, buscando sempre diminuir essa possibilidade a um valor muito baixo. Macedo (2008, p. 26) define a intoxicação como sendo “toda e qualquer manifestação clínica ou laboratorial de efeitos adversos”. É um estado doentio, originado pelo contato de um agente químico com o organismo, que causa o desequilíbrio desse organismo, provocando desde simples distúrbios de saúde até o óbito. A toxicologia pesquisa as consequências danosas de substâncias químicas nos organismos vivos, levando em consideração a prevenção e, em situações de falha, ao tratamento dos atingidos, entretanto não existem substâncias químicas (Figura 8) com ou sem efeitos danosos, mas sim quantidades de substâncias com potencial nocivo, sendo essa quantidade aquela efetivamente absorvida pelo organismo a ponto de poder afetá-lo, explicita Buschinelli (2020). Figura 8: Substâncias químicas Fonte: Freepik A toxicologia ocupacional é altamente preventiva, sendo-lhe imprescindível a adequada avaliação do risco a que o trabalhador está exposto. Para isso, o primeiro passo é a informação qualitativa, verificando Ergonomia e Medicina do Trabalho 30 quais substâncias estão sendo empregadas ou produzidas no processo, menciona Buschinelli (2020). • É imprescindível que o profissional de saúde e segurança do trabalho, em específico o médico do trabalho e o higienista, entenda um pouco de química para tratar de modo correto os riscos químicos nos ambientes de trabalho (BUSCHINELLI, 2020). O ambiente de trabalho pode proporcionar vários fatores de risco para o trabalhador, contudo a emissão de gases mediante vazamentos de alguns equipamentos é uma das principais causas de intoxicação no trabalho. Fatores como o armazenamento feito de forma inapropriada dos produtos tóxicos podem provocar acidentes que acarretam a intoxicação. Outro fator importante é a resistência física do trabalhador, pois quanto mais baixa a resistência, maior o risco de contaminação, afirma Macedo (2008). Macedo (2008) lembra que o próprio trabalhador pode cometer alguns erros que acabam provocando a intoxicação, como a falta ou o uso incorreto dos equipamentos de proteção individual (EPIs), por exemplo. Outra situação é quando em um ambiente aberto trabalhadores aplicam produtos tóxicos contra o vento, o que também pode provocar intoxicações. RESUMINDO: Neste capítulo você deve ter compreendido que as atividades perigosas põem em risco a vida dos trabalhadores através da exposição intensa e permanente em atividades associadas com explosivos, produtos inflamáveis, segurança pessoal ou patrimonial, energia elétrica, locomoção em motocicletas, radiações ionizantes ou substâncias radioativas; e por causa desse risco, os trabalhadores têm direito a um adicional de 30% nos casos de exposição permanente ou intermitente. Viu também que as atividades insalubres sujeitam o trabalhador a agentes nocivos à sua saúde, excedendo o seu limite de tolerância, podendo ser os agentes químicos, biológicos e físicos; e nessas situações o trabalhador receberá adicionais de 40, 20 ou 10 por cento, dependendo do grau Ergonomia e Medicina do Trabalho 31 RESUMINDO (continuação): de insalubridade detectado. Por fim, compreendeu que a toxicologia ocupacional é altamente preventiva, sendo- lhe imprescindível a adequada avaliação do risco a que o trabalhador está exposto e que o ambiente de trabalho pode proporcionar vários fatores de risco para o trabalhador, contudo a emissão de gases mediante vazamentos de alguns equipamentos é uma das principais causas de intoxicação no trabalho. Ergonomia e Medicina do Trabalho 32 Medidas preventivas de Medicina do Trabalho e medidas especiais de proteção INTRODUÇÃO: Neste capítulo descreveremos as medidas preventivas de Medicina do Trabalho e as medidas especiais de proteção. Então vamos lá. Medidas preventivas de Medicina do Trabalho Segundo Pretti (2011), a segurança e Medicina do Trabalho abrange uma série de medidas preventivas seguidas no ambiente de trabalho, buscando tornar mínimos os acidentes, as doenças ocupacionais, como também proteger a integridade e a capacidade de trabalho do empregado. Quais são essas medidas, você sabe? A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), em seu art. 168, determina que os empregadores deverão providenciar, obrigatoriamente, exame médico em caso de admissão, demissão e periodicamente, respeitando as condições estabelecidas na lei e nas instruções emitidas pelo Ministério do Trabalho em casos de demissão e em situações complementares. O Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional é proposto à prevenção e ao controle de saúde dos empregados, sendo realizado através da gestão de inspeções médicas permanentes e tem como finalidade a prevenção dos casos de doenças ocupacionais. Refere-se a um programa de caráter de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao trabalho, inclusive daqueles que acontecem sem manifestação de sintomas, além da verificação da existência de casos de doenças profissionais ou danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores, desse modo, seu planejamento e implementação Ergonomia e Medicina do Trabalho 33 devem ser baseados nos riscos à saúde dos trabalhadores, explica Oliveira (2018). É através desse programa que são executados e acompanhados os resultados dos exames médicos obrigatórios, segundo as atividades desenvolvidas na empresa. Mas como são executados esses exames? Gattai (2020) esclarece que o exame admissional deve ser efetuado antes da contratação efetiva do novo empregado e tem como propósito avaliar o estado de saúde física e psíquica indispensável ao desempenho do cargo que o novo funcionário executará. Outro intuito é o de oferecer orientação nos casos de pessoas em situações especiais de saúde que ocuparão as vagas de emprego. Além do mais, o exame admissional é uma forma de a organização se proteger e comprovar que está contratando uma pessoa inteiramente capaz àquele trabalho. • Médicos especializados em Medicina do Trabalho são os encarregados de realizarem os exames admissionais, demissionais e periódicos e são eles que detectam as enfermidades ocupacionais. Os exames devem ser renovados a cada ano, sendo, nessas circunstâncias, chamados de exames periódicos. O exame médico (Figura 9) também é obrigatório na demissão de empregados, sendo, neste caso, chamado de exame demissional, menciona Gattai (2020). Figura 9: Exame médico Fonte: Freepik Ergonomia e Medicina do Trabalho 34 O exame demissional, de acordo com Rojas (2015), apresenta- se como uma garantia para o trabalhador, que necessita demonstrar ser capaz de receber suas atividades em outras empresas; e para o empregador, que fica informado das condições de saúde em que se depara o ex-funcionário, impedindo, dessa forma, futuros problemas com reclamações trabalhistas e ações indenizatórias. Todo exame efetuado pelo médico do trabalho deve ser seguido do atestado de saúde ocupacional (ASO) e, conforme a Norma Regulamentadora 7, deverá compreender, no mínimo: • O nome completo do trabalhador, o número de registro de sua identidade e sua função. • Os riscos ocupacionais específicos existentes, ou a ausência deles, na atividade do empregado, de acordo com as instruções técnicas expedidas pela Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho — SSST. • Apontamento dos procedimentos médicos a que foi submetido o trabalhador, abrangendo os exames complementares e a data em que foram realizados. • O nome do médico coordenador, quando existir, com o devido CRM. • Indicação de apto ou inapto para a função específica que o trabalhador vai ocupar, ocupa ou ocupou. • Nome do médico responsável pelo exame e endereço ou meio de contato.• Data e assinatura do médico responsável do exame e carimbo, assim como seu número de inscrição no Conselho Regional de Medicina. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) encara como principal finalidade dos exames médicos ocupacionais a verificação da efetividade das medidas de controle do ambiente de trabalho, sendo complementados por outros propósitos, que são: a constatação de anormalidades clínicas ou pré-clínicas em um momento em que uma intervenção é benéfica à saúde dos indivíduos; a prevenção de um futuro Ergonomia e Medicina do Trabalho 35 desgaste da saúde dos trabalhadores; a contribuição do aconselhamento relativo aos métodos de trabalho seguros e de manutenção da saúde; a avaliação da aptidão para um verificado tipo de trabalho, sendo a preocupação presente à adequação do ambiente de trabalho para o trabalhador, explícita Buschinelli (2020). A Consolidação das Leis Trabalhistas ainda determina que deverá ser mantido, no estabelecimento, o material indispensável à prestação de primeiros socorros médicos (Figura 10), conforme o risco da atividade. Figura 10: Primeiros socorros médicos Fonte: Pixabay Outro ponto importante é sobre a realização de exames toxicológicos, pois a Consolidação de Leis Trabalhistas estabelece que serão exigidos esses exames antes da admissão e em casos de demissões de trabalhadores que atuem como motoristas profissionais, sendo resguardado o direito à contraprova caso o resultado tenha sido positivo e que esses resultados sejam confidenciais. Ergonomia e Medicina do Trabalho 36 Medidas especiais de proteção A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) estabelece outras medidas especiais de proteção, sendo a primeira delas referente ao uso de equipamentos de proteção individual em obras de construção, demolição ou reparos, e as medidas de prevenção de acidentes. Oliveira (2017) explica que podem ser empregados equipamentos de proteção coletiva ou equipamentos de proteção individual, contudo deve-se dar prioridade à proteção coletiva sempre. Ao implantar as medidas de proteção, as organizações devem verificar cada local de trabalho e procurar a opção mais apropriada para oferecer ao trabalhador uma boa condição de trabalho. A NR 6 define que os equipamentos de proteção individual (EPI) são os dispositivos ou produtos de uso individual utilizados pelo trabalhador e adotados na proteção de riscos predispostos a ameaçar a segurança e saúde dos trabalhadores, além disso, regulamenta o uso dos equipamentos de proteção individual e estabelece: 6.3 A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, EPI adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento, nas seguintes circunstâncias: a) sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho; b) enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; e, c) para atender a situações de emergência. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 1978) Outra medida está relacionada com os depósitos, armazenagem e manuseio de combustíveis, inflamáveis e explosivos, além do trânsito e continuação nas áreas relativas. Assim como o trabalho em escavações, túneis, galerias, minas e pedreiras, especialmente quanto à prevenção de Ergonomia e Medicina do Trabalho 37 explosões, incêndios, desmoronamentos, soterramentos, eliminação de poeiras e gases, dentre outros. SAIBA MAIS: Aprofunde-se nesse tema lendo a NR 19, que trata dos explosivos; e a NR 20, que aborda as segurança e saúde no trabalho com inflamáveis e combustíveis, disponível em: https://bit.ly/2HfSvUW (Acesso em: 13/09/2020). Deve existir proteção contra insolação, calor, frio, umidade e ventos, especialmente no local de trabalho a céu aberto, com o fornecimento de água potável, alojamento e profilaxia de endemias, determina a Consolidação das Leis trabalhistas. A NR 21 regulamenta os trabalhos realizados a céu aberto (Figura 11) e determina que “serão exigidas medidas especiais que protejam os trabalhadores contra a insolação excessiva, o calor, o frio, a umidade e os ventos inconvenientes”. Figura 11: Céu aberto Fonte: Freepik A CLT, em seu art. 200, VI, ainda prevê a proteção do trabalhador que esteja exposto a substâncias químicas nocivas, radiações ionizantes e não ionizantes, ruídos, vibrações e trepidações ou pressões anormais ao Ergonomia e Medicina do Trabalho 38 ambiente de trabalho, cabendo ao Ministério do Trabalho regulamentar a especificação das medidas cabíveis para extinção ou diminuição desses efeitos, limites máximos quanto ao tempo de exposição à intensidade da ação ou de seus efeitos sobre o organismo do trabalhador, exames médicos obrigatórios, limites de idade, controle permanente dos locais de trabalho e das demais exigências que se façam imprescindíveis. Um programa muito importante para a saúde dos trabalhadores é o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, e, de acordo com a NR 9, é estabelecido que: Esta Norma Regulamentadora — NR — estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais — PPRA —, visando à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 1978) Os riscos ambientais são os agentes físicos, químicos e biológicos presentes no ambiente de trabalho que podem causar danos à saúde quando existentes acima dos limites considerados como toleráveis. Deve existir também proteção contra incêndios com a medidas preventivas adequadas, como, por exemplo, que as portas e paredes possuam revestimentos especiais, construção de paredes contra fogo, saídas amplas e protegidas, dentre outras, estabelece a CLT. • A NR 23 — Proteção contra incêndio — estabelece que os empregadores devem seguir as medidas de prevenção de incêndios disponibilizadas pelos respectivos estados e as normas técnicas correspondentes. Não se deve esquecer, ainda, a higiene nos locais de trabalho, devendo existir medidas como, por exemplo, instalações sanitárias, Ergonomia e Medicina do Trabalho 39 fornecimento de água potável, condições de limpeza no ambiente laboral, tratamento de resíduos industriais, dentre outras, determina a CLT. Souto (2005) informa que na política de Medicina do Trabalho, subordinada à aprovação da direção superior da empresa ou instituição, devem estar contidos, pelo menos, os seguintes princípios e propósitos, através dos quais a direção demonstra o seu compromisso com a comunidade de trabalho de possibilitar proteção a todas as pessoas que trabalham na empresa mediante medidas preventivas, buscando: • Trocar, controlar ou diminuir as situações adversas do trabalho. • Determinar requisitos para o atendimento imediato de acidentes, ofertar possibilidade de rápido e efetivo transporte de acidentados para atendimento médico-hospitalar. • Apresentar formas para tratar das manifestações transitórias de doenças que aconteçam na empresa durante o período de trabalho. • Seguir as medidas que fazem parte da legislação específica de Medicina do Trabalho; se apropriado, oferecer apoio aos programas disponibilizados por ações voluntárias extramuro; e se for o caso, fazer desempenhar a negociação coletiva de trabalho na existência de condições determinadas sobre Medicina do Trabalho; oferecer os meios para efetuação de outras ações que sejam aceitas e acordadas pela empresa. • Oferecer garantia de que os trabalhadores serão ouvidos e incentivados a contribuirem todas as fases do processo de gestão de Medicina do Trabalho. • Possibilitar os meios administrativos e financeiros para que exista uma contínua preocupação de aperfeiçoar o sistema de gestão de Medicina do Trabalho da empresa. Todas as medidas adotadas no ambiente de trabalho devem levar em consideração que a saúde do trabalhador é muito importante para os trabalhos efetuados nas organizações. Ergonomia e Medicina do Trabalho 40 RESUMINDO: Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que as medidas preventivas visam diminuir os acidentes, as doenças ocupacionais e proteger a integridade e a capacidade de trabalho do empregado, sendo uma dessas medidas a obrigatoriedade de exame médico em casos de demissão, admissão e periódicos, conhecendo o programa de controle médico de saúde ocupacional. Compreendeu também que deverá existir nos estabelecimentos materiais de primeiros socorros e a realização de exames toxicológicos. Viu que existem várias medidas especiais de proteção, como o uso de equipamentos de proteção individual; os trabalhos com depósitos, armazenagem e manuseio de combustíveis e líquidos inflamáveis; trabalho com escavações, túneis, galerias, minas e pedreiras, especialmente quanto à prevenção de explosões, incêndios, desmoronamentos, soterramentos, eliminação de poeiras, gases; trabalhos realizados a céu aberto; exposição a substâncias químicas, radiações, ruídos, vibrações e trepidações; prevenção contra incêndios; e a higiene no local de trabalho. Por fim, entendeu alguns princípios que devem estar contidos nos ambientes laborais relativos à Medicina do Trabalho. Ergonomia e Medicina do Trabalho 41 Acidentes de trabalho, doenças ocupacionais e conduta médico- operacional pertinentes à Medicina do Trabalho INTRODUÇÃO: Neste capítulo analisaremos os acidentes de trabalho, identificaremos as doenças ocupacionais e esclareceremos a conduta médico-operacional. Acidentes de trabalho O processo de trabalho deve ser devidamente planejado, pois quando isso não acontece, acaba gerando perdas de várias formas, principalmente relacionadas com seus trabalhadores, que afetam a saúde e bem-estar desses, através de acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais. Mas o que vem a ser um acidente de trabalho? A Lei nº 8.213/91 define o acidente do trabalho como sendo toda lesão corporal ou perturbação funcional que acontece com o empregado durante suas atividades a serviço da empresa, provocando a morte, a perda ou redução, temporária ou permanente, da capacidade para o trabalho. “Essa lesão pode ser caracterizada apenas pela redução da função de determinado órgão ou segmento do organismo, como os membros, por exemplo” (MACEDO, 2008, p. 117). Monteiro e Bertagni (2016) afirmam que se refere a um episódio único, inesperado, imprevisto, bem configurado no espaço e no tempo e de resultados, na maioria das vezes, imediatos. • Adversidades no ambiente de trabalho podem acabar resultando em danos graves e até fatais meses ou anos após o seu acontecimento, Ergonomia e Medicina do Trabalho 42 sendo exigido o nexo de causalidade e a lesividade, explana Macedo (2016). Dessa forma, para que seja considerado como acidente de trabalho, deve existir a lesão, como também deverá existir a relação entre esse dano causado e o trabalho (Figura 11). Figura 11: Dano causado e o trabalho Fonte: Freepik Mattos e Másculo (2011) afirmam que hoje em dia entende-se que o acidente de trabalho começa a ocorrer quando algum componente do processo laboral passa a não funcionar como planejado, isto é, quando ele apresenta uma alteração. Essa alteração não se apresenta somente como originária de falhas ou quebras, ou seja, não é decorrência apenas do não alcance completo do resultado principal do produto, mas pode acontecer também de um Ergonomia e Medicina do Trabalho 43 resultado secundário, que não possua função positiva no processo de produção, informa Mattos e Másculo (2011). De acordo com a Lei 8.213: Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei: I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação; II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de: a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho; c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho; d) ato de pessoa privada do uso da razão; e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior; III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho: a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa; b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; Ergonomia e Medicina do Trabalho 44 c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado; d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. (BRASIL, 1991) Assim, Macedo (2008) separa os tipos de acidentes em três, sendo eles: • O acidente típico, que é aquele resultante da natureza da atividade profissional que o trabalhador desempenha. • O acidente de trajeto, que acontece no trajeto entre a residência do trabalhador e o lugar de trabalho e vice-versa. • As doenças profissionais ou do trabalho que são provocadas pela execução de determinada função, peculiar a um emprego específico. A caracterização do acidente de trabalho ocorre por meio de uma observação pericial, que deve determinar uma relação direta entre o acidente e a lesão gerada. Quando isso acontecer, o médico perito examinará o paciente e poderá determinar se esse trabalhador poderá voltar ou não às atividades normais designadas ao seu cargo. Caso o perito determine o afastamento, será definido também a partir de sua avaliação clínica se o funcionário permanecerá em afastamento temporário ou definitivo do emprego, explicita Macedo (2008). • O afastamento definitivo ou temporário dependerá do grau da lesão sofrida, se essa lesão será revertida com o tempo ou se é um tipo de lesão definitiva, impossibilitando, assim, a atividade laboral. Ergonomia e Medicina do Trabalho 45 Mattos e Másculo (2011) destacam o fato de que se preocupar exclusivamente com o agente causador da lesão pode ser uma atitude limitada com relação à prevenção de acidentes. Villela (2010) nos lembra de que a culpa do empregado não impossibilita a qualificação do acidente de trabalho, contudo, o dolo do empregado, que ocorre quando ele se acidenta propositalmente e de forma espontânea, retira as consequências ocupacionais do fato. Doenças ocupacionais As doenças ocupacionais se dividem em doença profissional e doença do trabalho. De acordo com Râmissa (2019), a doença profissional e a doença do trabalho são classificadas como espécies do gênero de doença ocupacional, que, por sua vez, é espécie de acidente do trabalho. Vejamos a diferença entre elas. Segundo Monteiro e Bertagni (2016), as doenças profissionais também são chamadas de ergopatias, tecnopatias oudoenças profissionais típicas, e são aquelas produzidas ou desencadeadas pelo exercício profissional peculiar à determinada atividade. Derivam de microtraumas que habitualmente acometem e vulneram as defesas biológicas, e através do efeito cumulativo, acabam vencendo-as, provocando o processo doentio. Já as doenças do trabalho (Figura 12), também conhecidas como mesopatias ou moléstias laborais atípicas, são aquelas desencadeadas em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacionam diretamente. Elas também derivam de microtraumas, mas por serem atípicas, determinam a constatação do nexo de causalidade com o trabalho, normalmente através da vistoria do ambiente de trabalho, esclarecem Monteiro e Bertagni (2016). Ergonomia e Medicina do Trabalho 46 Figura 12: Doenças do trabalho Fonte: Freepik Furtado et al. (2016) explicam que na esfera da saúde do trabalhador é comum a utilização da classificação de Schilling para caracterizar a relação existente entre as doenças ocupacionais. Schilling assegurou que o trabalho poderia se relacionar com as doenças, agrupando-os de três formas distintas, sendo: • GRUPO I: engloba as doenças em que o trabalho é causa necessária, representadas pelas doenças profissionais, em seu sentido literal, e pelas intoxicações agudas de procedência ocupacional, como, por exemplo, quando há a intoxicação por chumbo. • GRUPO II: compreende as doenças em que o trabalho pode ser um fator de risco, podendo contribuir, entretanto, não essencialmente, como nos casos das doenças triviais, mais regulares ou que ocorrem mais cedo em certos grupos ocupacionais e para as quais o nexo causal é de natureza eminentemente epidemiológica, como, por exemplo, em casos de neoplasias malignas (cânceres), em alguns grupos ocupacionais ou profissões. • GRUPO III: abrange as doenças em que o trabalho é motivador de um possível distúrbio ou até mesmo intensifica uma doença já instituída Ergonomia e Medicina do Trabalho 47 ou preexistente, isto é, caracterizada pelas doenças alérgicas de pele e respiratórias e pelos distúrbios mentais, em certos grupos ocupacionais ou profissões, como, por exemplo, a asma e as doenças mentais. A Lei 8.213/ determina alguns casos que não são considerados como doença do trabalho: § 1º Não são consideradas como doença do trabalho: a) a doença degenerativa; b) a inerente a grupo etário; c) a que não produza incapacidade laborativa; d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho. (BRASIL, 1991) Nos casos em que a doença não provoca o afastamento do trabalho, não é reconhecido o acidente do trabalho, pois a cobertura do seguro acidentário está atrelada à atividade laborativa, esclarece Villela (2010). Macedo (2008) afirma que as doenças ocupacionais podem ser provocadas por alguns agentes existentes no ambiente laboral que causam riscos, podendo ser caracterizados como físicos, ergonômicos, biológicos ou químicos. Os riscos físicos são aqueles originados por agentes que possuem a capacidade de alterar as propriedades físicas do meio ambiente, que, posteriormente, originará agressões em quem estiver nele presente, explicita Mattos e Másculo (2011). Exemplo: Os ruídos capazes de gerar danos ao aparelho auditivo, iluminação, calor, vibrações, radiações etc. Ergonomia e Medicina do Trabalho 48 Macedo (2008) destaca que algumas das consequências indesejadas dos ruídos podem ser psicológicas (Figura 13), nervosismo, neuroses, perda de audição, dor de cabeça, vômitos, diminuição do controle muscular, dentre outras. Nos casos das vibrações, elas podem originar síndromes dolorosas de origem vertebral, desordens gastrintestinais, aumento da frequência cardíaca etc. Já as radiações podem acarretar conjuntivites e cataratas, além de queimaduras e lesões cutâneas. Figura 13: Psicológica Fonte: Freepik Os riscos químicos compreendem substâncias, compostos ou produtos que possam adentrar no organismo através da exposição crônica ou acidental, assim, o contato com esses produtos pode causar várias consequências, tais como o aparecimento de câncer, mutações, doenças sistêmicas, dentre outras, informa Mattos e Másculo (2011). Barsano e Barbosa (2013) definem os riscos ergonômicos como aqueles que podem provocar distúrbios psicológicos e fisiológicos nos trabalhadores, como nos casos de esforço físico intenso, levantamento e Ergonomia e Medicina do Trabalho 49 transporte manual de peso, exigência de postura inapropriada, monotonia e repetitividade etc. Já os riscos biológicos abrangem os agentes que contaminam os ambientes ocupacionais que são os micro-organismos como vírus, bactérias, protozoários, fungos, artrópodes, parasitas e derivados de animais vegetais (agentes que causam alergias). Geralmente, eles estão em hospitais, ambientes de serviços de saúde em geral, matadouros, laboratórios de análises e pesquisas, empresas de coleta e reciclagem de lixo, dentre outros, descreve Brevigliero et al.(2020). Mattos e Másculo (2011) ainda trazem os riscos mecânicos, que são aqueles que se caracterizam por agir em pontos específicos do ambiente laboral, geralmente atuando sobre usuários diretos do agente causador do risco e acarretando, algumas vezes, lesões agudas e imediatas. Exemplo: Os materiais cortantes, aquecidos, os perfurocortantes, os que estão em movimento, os energizados etc. • Existem diversas doenças ocupacionais que atingem os trabalhadores, vamos observar apenas algumas delas que são muito recorrentes, conforme Rojas (2015): • O distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho (DORT), que atinge os membros superiores em torno do ombro e da região cervical por causa do uso repetitivo dos músculos ou de postura imprópria na execução das atividades profissionais. • Perda auditiva induzida pelo ruído ocupacional (PAIR), surge com a redução gradual da audição resultante da exposição contínua a níveis elevados de ruídos. • Dermatoses ocupacionais, podem ser causadas por agentes biológicos, físicos e mecânicos, e podem aparecer através de dermatite irritativa de contato, que é aquela causada pela manipulação de detergentes, solventes orgânicos e inorgânicos, resinas, óleos de corte e outros produtos; como também através da dermatite alérgica de contato, que é a ocasionada pelo contato com borracha e seus aditivos, cromatos, resinas, metais, plásticos, tintas, pigmentos, madeiras. Ergonomia e Medicina do Trabalho 50 • Distúrbios neurológicos que podem ser causados por toxinas que estão no ambiente laboral, como solventes orgânicos, por metais e por pesticidas. • Doenças associadas ao estresse, que podem ser a irritabilidade, fadiga, medo de acidente, de assalto e de desemprego, sonolência, ansiedade, depressão, tensão, distúrbios do sono. Râmissa (2019) menciona uma dessas doenças, que é a síndrome do esgotamento profissional (Burnout), que é o resultado de um estresse sem fim, que provoca uma exaustão emocional e física quando existe um trabalho muito desgastante, no qual a exigência é alta ou as metas são quase impossíveis de serem atingidas, ou, ainda, quando existe uma carência de reconhecimento do profissional, o que pode colaborar para o desenvolvimento dessa síndrome. O Burnout nos dias atuais tem sido objeto de definições em diversas áreas, contudo todos concordam que o campo profissional é o ambiente mais favorável para o aparecimento do esgotamento. Conduta médico-operacional pertinente à Medicina do Trabalho Os médicos desempenham um papel muito importante no auxílio ao trabalhador com relação à Medicina do Trabalho. Macedo (2008) explica que muitos dos serviços de medicina ocupacional limitam-se ao desempenho associado ao atendimento deacidentes de trabalho e, eventualmente, consultas médicas admissionais e demissionais. Figura 14: Medicina Ocupacional Fonte: Freepik Ergonomia e Medicina do Trabalho 51 Outra atuação que merece destaque é quanto ao médico perito. Barros e Teixeira (2015) afirmam que, em geral, os médicos peritos do trabalho são responsáveis por verificar se o trabalhador está ou esteve doente, determinar se a doença tem nexo de causalidade com o trabalho, como, também, avaliar se existem sequelas que diminuam a capacidade laborativa. • Em litígios na justiça que envolvam trabalhadores são constantes os diagnósticos relacionados com depressão, síndrome do pânico, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno de ansiedade generalizada, síndrome de Burnout e assédio moral, informa Barros e Teixeira (2015). O Conselho Federal de Medicina, em sua resolução nº 2.183, de 21 de junho de 2018 determina que: Art. 13. São atribuições e deveres do médico perito judicial e assistentes técnicos: I - examinar clinicamente o trabalhador e solicitar os exames complementares, se necessários; II - o médico perito judicial e assistentes técnicos, ao vistoriarem o local de trabalho, devem fazer-se acompanhar, se possível, pelo próprio trabalhador que está sendo objeto da perícia, para melhor conhecimento do seu ambiente de trabalho e função; III - estabelecer o nexo causal, considerando o exposto no artigo 2º e incisos (redação aprovada pela Resolução CFM nº 1.940/2010) e tal como determina a Lei nº 12.842/2013, ato privativo do médico. Macedo (2008) ainda lembra que é fundamental que a atividade desenvolvida pelo serviço de Medicina do Trabalho tenha o seu trabalho Ergonomia e Medicina do Trabalho 52 abalizado nos Códigos de Ética Médica e de Conduta do Médico do Trabalho. RESUMINDO: Neste capítulo você deve ter compreendido que o acidente de trabalho é toda lesão corporal ou perturbação funcional que acontece com o empregado durante suas atividades laborais; que os tipos de acidentes podem ser acidente típico, acidente de trajeto e doenças profissionais ou do trabalho. Viu que as doenças profissionais são aquelas produzidas ou desencadeadas pelo exercício profissional peculiar à determinada atividade e que as doenças do trabalho são aquelas desencadeadas em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacionam diretamente, assim como também entendeu que elas podem ser provocadas pelos agentes físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e mecânicos. Por fim, conheceu como deve ser a conduta do médico do trabalho e do perito, devendo ser sempre pautada na ética e na conduta médica do trabalho. Ergonomia e Medicina do Trabalho 53Ergonomia e Medicina do Trabalho Elaine Christine Pessoa Delgado Marcos Rodolfo da Silva Giselly Santos Mendes Ergonomia e Medicina do Trabalho
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