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Teoria Geral dos Direitos Humanos

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Material elaborado por Leonardo Leonel 
DIREITO HUMANOS 
PROFESSORA FLÁVIA PIOVESAN 
AULA I 
Parte 1/2 
 
1. INFORMAÇÕES INICIAIS 
 
 Na aula de hora enfocaremos na teoria geral dos direitos humanos. Iremos 
estruturar nossa conversa a partir de três vértices, iniciando pelo marco introdutório com 
ideias preliminares a respeito dos direitos humanos, expondo o seu sentido, significado e 
desenvolvimento histórico. 
 
 No segundo momento, vamos concentrar na concepção contemporânea dos 
direitos humanos, analisando qual é o legado, o alcance e o significado da Declaração 
Universal de 1948, quando são inaugurados um novo olhar e uma nova narrativa acerca dos 
direitos humanos. 
 
 Fecharemos com desafios contemporâneos e a perspectiva multinível que 
orientará as nossas conversas. 
 
2. INTRODUÇÃO. TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS 
 
 Iniciaremos o tópico de introdução lançamento perspectivas preliminares de 
direitos humanos (o que são direitos humanos?). 
 
 Nos ensinamentos de Joaquín Herrera Flores, os Direitos Humanos traduzem 
como processos que abrem e consolidam espaços de luta pela dignidade humana. Para o 
professor Herrera flores, os direitos humanos se dividem em três dimensões históricas: 
 
 
 
Material elaborado por Leonardo Leonel 
• Primeira dimensão: direitos humanos como processos; 
• Segunda dimensão: direitos humanos que abre e consolidam espaços de lutas; 
• Terceira dimensão: direitos humanos que luta pela dignidade humana. 
 
2.1. Primeira dimensão (direitos humanos como processos) 
 
 Para Hannah Arendt a cidadania não é um dado, mas sim um construído. Para 
Norberto Bobbio, os direitos humanos nascem quando podem, quando devem nascer, não 
nascem todos de uma vez, nem de uma vez por todas, são reinvindicações morais. 
 
 Portanto, há de se ter essa visão dos direitos humanos como processos 
complexos, vivos, multifacetados, não lineares, dinâmicos, em que atuam diversos atores, 
como processos normativos, jurídicos, políticos, sociais, culturais, que invocam a abertura da 
construção dinâmica dos direitos humanos, nesse processo de afirmação a refletir. 
 
 A segunda ideia é a de que não há direitos humanos sem lutas emancipadoras, 
portanto, as lutas pelos direitos humanos são incessantes. Cada ponto de chegada, é um novo 
ponto de partida. Assim, há de se ter essa visão dinâmica, complexa, plural e aberta do 
processo de construção dos direitos humanos. 
 
 Agora, se há um ícone valorativo que move essa pauta, que move essa travessia 
história dos direitos humanos, é o fundamento ético da dignidade humana. Sobre isso, Kant 
traçou uma reflexão sobre o valor infinito de cada indivíduo, sendo os seres humanos como 
seres essencialmente morais, únicos, irrepetíveis, únicos capazes de atribuir um juízo ético às 
nossas ações, possuindo razão, capacidade de reflexão em separar o certo do errado, o justo 
do injusto, o ético do aético. 
 
 Enquanto o mundo animal se inspira muito no mimetismo, que se fizéssemos 
pesquisas desde voo de pássaro até o comportamento mimético de algumas espécies, 
perceberíamos o grau de inventividade, de unicidade, de liberdade, de autonomia, que tem 
 
 
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cada pessoa. Portanto, para Kant, o ser humano é um fim de si mesmo, e jamais pode ser 
utilizado como meio, e rechaça a ótica utilitarista. 
 
 Para Santiago Nino, os direitos humanos seria o melhor invento século XX, sendo 
direitos morais pautados na autonomia, na independência, na inviolabilidade e na dignidade 
humana. 
 
 Importante, também, citar Ronald Dworkin, para quem a ética dos direitos 
humanos é bastante singela, é ver no outro um igual em consideração e respeito. Com isso, 
compartilha com Nancy Fraser os direitos humanos como idioma da alteridade, portanto, ver 
no outro um igual, não um menor não um maior, mas um igual, em consideração e respeito. 
 
 Até constituições, como a lei fundamental alemã de 1949, traz esse direito tão 
potente, que é o direito de desenvolver a personalidade humana de forma livre, autônoma e 
plena. Portanto, todos os seres humanos são dotados desse direito. 
 
 Com isso, necessário insistir na dimensão histórica dos direitos humanos. É muito 
emocionante perceber as novas pautas. Na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, 
hoje estamos enfocando muito em direitos digitais, analisando qual alcance do direito à 
privacidade digital; como combater o discurso de ódio online; como combater às fakes news; 
como combater online discrimination; qual seria a melhor maneira de trazer uma regulação 
para as redes sociais, lembrando sempre o norte valorativo dos direitos humanos, estado, 
direito e democracia; como trabalhar o tema da corrupção à luz dos direitos humanos, os 
câmbios climáticos; o tema da vacina à luz dos direitos humanos. 
 
 Recentemente foi lançado pela Comissão Interamericana um comunicado de 
imprensa, enfocando o tema da vacina no caso da vacina da Covid-19 à luz dos direitos 
humanos. Analisando sob a ótica no campo da acessibilidade, da igualdade, da não 
discriminação; de uma distribuição equitativa; como assegurar o direito a gozar dos benefícios 
da ciência; o direito a saúde coletiva como tema da cooperação internacional. 
 
 
 
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 Foi também lançado pela Comissão Interamericana, uma publicação sobre o 
acesso à internet como direito humano. E hoje cada vez mais estamos no mundo virtual, como 
homeschooling, a internet não só no nosso olhar é um direito humano, mas é requisito para 
outros direitos, como por exemplo, o direito à educação. 
 
 Assim, é muito fascinante perceber a trajetória dos direitos humanos, ler com a 
lupa os trinta artigos da Declaração Universal de 1948, e perceber quais são os novos temas 
emergentes nestas últimas décadas que não estão estampados na Declaração, como o direito 
ao desenvolvimento, ao acesso à água, da diversidade sexual, da tecnologia, portanto, novos 
temas, novas pautas, novos olhares, direitos humanos é vida, é processo, vivaz, pulsante, com 
avanços e com recuos, e sem uma linearidade. 
 
 Uma vez mais, citemos Nancy Fraser, para quem os direitos humanos simbolizam 
a ética da alteridade, ver no outro um igual, não um menor não um maior, mas um igual, em 
consideração e respeito. 
 
 Martha Nussbaum nos traz um olhar muito sensível quando afirma que “imaginar 
a dor de outra pessoa e perguntar o seu significado, é um modo poderoso de compreender a 
realidade humana, e de adquirir uma motivação para transformá-la”. Portanto, a ética da 
solidariedade, da empatia, se colocar no lugar do outro, e trabalhar com o tema diversidade 
e da igualdade. 
 
 Destaca-se, Hannah Arendt, quando afirmava que todos somos únicos e diversos 
dos que existem hoje no mundo, dos que existiram ontem e dos que existirão amanhã. Assim, 
se hoje temos sete bilhões no planeta, cada ser humano é único diverso, portanto, cada ser 
humano tem a sua trajetória. Toda essa unicidade existencial honra toda a ideia do valor 
infinito de cada pessoa humana e da dignidade como valor que lhe é intrínseco. 
 Podemos observar pelas mais nefastas, sórdidas e graves violações dos direitos 
humanos que já tivemos na história (por exemplo: a escravidão que coisificou os afros 
descentes por séculos; o nazismo com seus campos de concentração com toda a ótica de 
extermínio e de destruição da pessoa humana; sexismo; racismo; apartheid; homofobia; 
 
 
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xenofobia), todas estas intolerâncias compartilham da mesma lógica que é a lógica da 
intolerância, que nega ao outro a condição de sujeito de direitos. 
 
 Quando é tomada a diferença, e a partir dela construídas doutrinas de 
superioridade de alguns e inferioridade de outros, estará lançado o palco para as grandes e 
atrozes violações. Se avaliarmos as violações dos direitos humanos, essa ótica da intolerância 
encampauma relação assimétrica de poder (por exemplo: entre adultos e crianças; brancos e 
afrodescendentes; homens e mulheres; heterossexuais e homossexuais; etc.). 
 
 Esse é o ponto central. Para quem abraça a ótica dos direitos humanos, a 
diversidade é enriquecedora, e a diferença deve ser visibilizada e protegida. Temos que 
proteger a igualdade em respeito a diversidade, sendo que jamais a diferença poderá ser fator 
para encampar doutrinas de superioridade baseadas em diferenças raciais, de idade, de 
nacionalidade, de gênero, de orientação sexual ou qualquer outra. 
 
 Feito este introito, passaremos a percorrer a segunda reflexão: concepção 
contemporânea dos direitos humanos. 
 
2.1.1. Concepção contemporânea de Direitos Humanos 
 
 Nós fixamos como ponto de partida essa história plural, dinâmica, aberta dos 
direitos humanos. Aqui temos a lente histórica e quando se vai analisar a evolução história 
dos direitos humanos, vários e diversos podem ser os pontos de partida. Poderíamos recorrer 
à Magna Carta de 1215, do século XIII, ou poderia recorrer as modernas declarações do final 
século XVIII ou ainda as declarações do início do século XX. De todo modo, o nosso olhar será 
concentrado na Declaração Universal de 1948, lembrando que ela é fruto de toda uma 
trajetória histórica. 
 
 Antes, cabe acenar, às declarações modernas de direitos do final do século XVIII, 
à declaração francesa dos direitos do homem e do cidadão de 1789, a declaração americana 
do bom povo de Virginia de 1776, declarações estas que se apropriavam de uma narrativa 
 
 
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liberal. O cerne era o indivíduo e a sua liberdade. A partir desta ideologia, direitos civis, 
sobretudo, eram assegurados (direito à liberdade, à segurança, à propriedade (sagrada para 
a declaração francesa), e a resistência à opressão). Essas declarações surgem como repúdio 
ao arbítrio. Como no caso da declaração francesa, surge como uma resistência ao estado 
absolutista. 
 
 Mas, previram, cada qual, destas declarações estabelecer uma ótica liberal, em 
que o indivíduo ganha centralidade e os direitos clássicos (liberdade, propriedade e 
segurança), são os direitos ali contemplados. 
 
 Caminhando na história, indo ao outro extremo, chegaremos à declaração do 
povo trabalhador e explorado, da República Soviética Russa, do início do século XX. Nesta 
declaração, a percepção é oposta, onde não há uma linha sequer prevendo liberdades. O 
tema sensível é o combate à exploração econômica, com a abolição da propriedade privada 
como meio de produção, que para a declaração francesa era um direito sagrado. Portanto, o 
norte era o combate à exploração econômica, abolição da sociedade de classes, tendo como 
bandeira a justiça social para todos e, portanto, o tema era a igualdade, uma ótica coletivista, 
sem qualquer espaço para proteção das liberdades. 
 
 Então, até a Declaração Universal de 1948, havia este antagonismo: ou liberdade 
ou igualdade. Termos estes que tensionavam nas suas narrativas: a narrativa liberal versus a 
narrativa social da cidadania. 
 
 Em resposta à barbárie totalitária das duas guerras, Hannah Arendt, traz a 
simbologia da segunda guerra mundial como a grande ruptura dos direitos humanos. Traz 
toda a toda memória histórica dos campos de concentração, museus, filmes e toda uma 
literatura que busca ecoar a voz das atrocidades perpetradas ao longo da era Hitler, em que 
dezoito milhões foram a campos de concentração, sendo que onze milhões morreram, sendo 
que seis milhões eram de judeus. 
 
 
 
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 Qual era a equação nazista? A primazia e superioridade da raça puro ariana. Quem 
pertencesse a raça puro ariana, merecia viver. Quem à ela não pertencesse, seria levado à 
campos de extermínio e de destruição, portanto, a arquitetura da destruição. 
 
 Sobre este fato, Hannah Arendt nos lembra algo muito peculiar, no sentido de que 
os campos de concentração não eram campos de pessoas condenadas, ninguém estava ali 
respondendo por qualquer ilicitude. A pergunta não era o que cometeram estas pessoas, 
senão quem são estas pessoas esvaziadas de qualquer humanidade e sem lugar no mundo 
(people with no place in the world). 
 
 É por isso que o pós guerra traz toda a bandeira da hospitalidade universal, nas 
palavras de Hannah Arendt. Se a segunda guerra é a grande ruptura dos direitos humanos, 
porque ali é o relato da banalidade do mal – e esta é a reflexão. Eichmann é um ser desprovido 
de qualquer racionalidade, incapaz de atribuir juízos éticos às suas ações, sendo um indivíduo 
que serviu ao nazismo, transportava mulheres grávidas, crianças e idosos à campos de 
concentração. Quando foi julgado, surgiu como indivíduo frio e burocrata, afirmando que 
cumpria leis e ordens superiores. 
 
 Portanto, Hannah Arendt que inclusive lembra que o totalitarismo se assemelha 
à forma de uma cebola, onde há várias camadas e o indivíduo é uma engrenagem ali 
invisibilizado, e sem a capacidade de perceber o todo de uma forma holística ao regime em 
que está servindo. Esta é a marca dolorosa do holocausto. 
 
 Tudo isso impacta o mundo jurídico, pos isso que há o direito do pós guerra, que 
traz a esperança de reconstrução dos direitos humanos. No pós guerra tivemos a adoção da 
carta da ONU de 1945, adoção da convenção para a prevenção e a repressão do crime de 
genocídio em 1948, que é a pura intolerância e destruição de um todo ou parte de um grupo 
em razão da sua raça, cor, nacionalidade, opinião política, da sua etnia. Portanto, o genocídio 
é um crime que viola a humanidade, é um crime internacional, porque traz a mais pura 
intolerância à incapacidade de se conviver com a diversidade, que deve ser aniquilada. 
 
 
 
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 Nota-se que a própria convenção de 1948, que previne o crime de genocídio em 
seu artigo VI, prevê que tal crime deve ser julgado pelos Cortes locais ou pela Corte Penal 
Internacional. É interessante perceber que desde 1948, já havia esta alusão, esse desejo, de 
uma corte penal internacional, que foi criada pelo Estatuto de Roma de 1998, cinquenta anos 
depois, concretizando este sonho por uma justiça internacional cuja competência material 
envolve também o crime de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra, crimes 
de agressão. 
 
ARTIGO VI 
As pessoas acusadas de genocídio ou qualquer dos outros atos enumerados no 
Artigo III serão julgadas pelos tribunais competentes do Estado em cujo 
território foi o ato cometido ou pela Corte Penal Internacional competente com 
relação às Partes Contratantes que lhe tiverem reconhecido a jurisdição. 
 
ARTIGO III 
Serão punidos os seguintes atos: 
a) o genocídio; 
b) a associação de pessoas para cometer o genocídio; 
c) a incitação direta e pública a cometer o genocídio; 
d) a tentativa de genocídio; 
e) a co-autoria no genocídio. 
 
 Desde então, havia o desejo de criação de uma corte penal internacional, que foi 
criada cinquenta anos depois, pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, no ano 
de 1998, concretizando esse sonho por uma justiça internacional, cuja competência material 
envolve também o crime de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e 
agressão. 
 
 Voltando a Declaração Universal de 1948, como lembra o professor Herrera 
Flores, a declaração deverá ser entendida também no contexto em que ela surge - el texto y 
 
 
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el contexto. Neste pós guerra (que muitos chamam de pós positivismo), o direito surge para 
abraçar direitos éticos e morais, é um direito que tem como centralidade o valor da dignidade 
humana, e este valor passa guiar o este movimento. 
 
 Portanto há um direito pré e pós 1945, tanto no âmbito internacional quanto no 
âmbito constitucional. No âmbito internacional emerge um direito internacional dos direitos 
humanos,como resposta às atrocidades e à barbárie totalitária do nazismo. No pós 1945, 
surgem também as constituições europeias do pós guerra, também muitas sensíveis, 
estabelecendo como grande princípio o valor à dignidade humana, que também é encampada 
pela nossa carta democrática de 1988, em seu art. 1º, III, com o princípio que é a solidez, que 
estrutura o Estado Democrático de Direito no Brasil. 
 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos 
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático 
de Direito e tem como fundamentos: 
 
III - a dignidade da pessoa humana; 
 
 Nesta perspectiva, vamos aproximar da Declaração Universal de 1948. Naquele 
momento histórico, 48 estados votaram favoravelmente à declaração e 8 estados se 
abstiveram. Então, a declaração nasce com votos favoráveis, como um grande consenso do 
pós guerra sem qualquer voto contrário. Portanto, é um código forte. 
 
 Registra-se que as declarações são expressões de soft law, possuindo poder 
recomendatório, de onde pode até mesmo extrair princípios e diretrizes, mas não possui em 
seu texto força jurídica vinculante. Veremos nas próximas aulas, que um tratado deve ser 
assinado pelo presidente da república, aprovado pelo congresso e ratificado pelo presidente, 
existindo todo um ritual. Os tratados internacionais, seja qual for a matéria, possuem força 
jurídica vinculante, debateremos que o tratado de direitos humanos possui status privilegiado 
na ordem jurídica brasileira. 
 
 
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 Veremos, ainda, que as declarações nascem como soft law, sem força jurídica 
vinculante, mas que passa a adquiri-la passo a passo, tendo se transformado em costume 
internacional. Como exemplo, basta comparar os trinta artigos da declaração com o art. 5º 
da CF/1988, onde constatará que há muita projeção da declaração em nossa constituição, 
tendo muitos dos incisos como cópia literal. 
 
Parte 2/2 
 
 Se replicassem esta experiência e comparece com as constituições do mundo 
ocidental, chegariam a mesma conclusão. Deste modo, a declaração universal dos direitos 
humanos influenciou, impactou, todo o direito constitucional, ao menos do mundo ocidental. 
É por isso que a declaração tenha se transformado em costume internacional, envolvendo 
esta prática generalizada pelos estados com senso de ope iuris, como senso jurídico. 
 
 A carta que cria a ONU, anteriormente à declaração universal, porque a carta de 
São Francisco é de 1945, prevê os propósitos das Nações Unidas, manter a paz e a segurança 
internacional, promover a cooperação internacional no campo social e econômico, e 
promover os direitos e liberdades no âmbito universal. 
 
 Pode-se perguntar quais são esses direitos, mas a carta da ONU não responde, 
por isso muitos veem a declaração universal como interpretação autorizada da carta da ONU, 
na medida em que clarifica, esclarece, o que são os direitos humanos, nela enunciados. Então 
se a ONU tem por propósito promover os direitos humanos no âmbito universal, a resposta 
que direitos são esses é dada três anos depois pela declaração universal. 
 
 Estas duas teses podem ser conjugadas, isto é, a declaração universal em si 
mesma é expressão de soft law, ou seja não é um tratado, não carrega em si mesma, 
tecnicamente falando, esta força jurídica vinculante, mas ganhou esta força por ter se 
transformado paulatinamente além das décadas em costume internacional, pela sua grande 
 
 
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influência e impacto, no constitucionalismo ocidental; e ademais pode ser concebida como 
interpretação autorizada da carta da ONU no que se refere ao alcance e significado dos 
direitos humanos. 
 
 Lembrando que a carta da ONU é um tratado. Aliás, tratado é um termo genérico, 
que envolve carta, convenção, pacto. No nosso curso, sempre faremos menção à carta da 
ONU, como já fizemos, à Convenção sobre a eliminação da discriminação contra a mulher, ao 
pacto de direito civis e políticos. Pacto, convenção ou carta, ou seja, tratado, tem força 
jurídica vinculante. 
 
 Feito este debate sobre o valor jurídico da declaração universal, chegamos ao 
outro tema: “qual é o seu legado?”, “qual é a sua mensagem?”, “qual é a sua narrativa e o 
seu olhar sobre os direitos humanos?”. E aí vemos que a declaração universal inovou toda 
narrativa de direitos humanos, introduzindo e inaugurando um novo olhar, esta concepção 
contemporânea de direitos humanos, que se alicerça em três ideias, que por sua vez são 
respostas para três perguntas: para a declaração universal, “quem tem direitos?”, “por que 
direitos?” e “quais direitos?”. 
 
 Buscaremos responder a cada qual destas perguntas, e com isso desenvolveremos 
aqui esta concepção contemporânea dos direitos humanos, que por sua vez vai orientar todo 
o direito internacional dos direitos humanos, impactando também no constitucionalismo 
global. 
 
 Para a declaração, quem tem direitos? A resposta é uma só: toda e qualquer 
pessoa. Isto é, a titularidade de direitos está condicionada apenas ao requisito de ser pessoa. 
Portanto, a condição humana é o requisito único e exclusivo para a titularidade de direitos. 
Seja quem for a pessoa, se rica ou pobre, independentemente de sua condição social 
econômica, nacionalidade, orientação sexual, idade, raça, etnia ou seu gênero. Esta é a voz 
revolucionária e emancipatória da declaração universal, que é capaz de romper de plano com 
a equação nazista, que condicionava a titularidade de direitos à pertencer à raça puro ariana, 
 
 
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e a partir desta ótica que hierarquizava humanos com base em doutrina de superioridade 
radicada em diferenças. 
 
Sobre a matéria, uma nota importante: Existem diversas frentes de pesquisas com 
uma literatura cada vez mais ampla, a respeito de uma visão mais biocêntrica de 
que toda e qualquer espécie viva possui direitos e direito ao não sofrimento, uma 
ótica utilitarista. A constituição do Equador, nos seus artigos 75 a 78, é a primeira 
do mundo a assegurar essa visão de que a natureza tem direitos, baseado na 
cosmovisão dos povos originários. A natureza têm direitos à princípios como 
harmonia, com este pacto intergeracional. 
 
Segunda pergunta: por que direitos? Há algo muito importante de se notar, que 
é o princípio da dignidade humana é o fundamento ético dos direitos humanos. Desde o 
preâmbulo da declaração universal já há menção à dignidade humana, e à este princípio. 
Vejam que desde o preâmbulo a declaração vem afirmar que dignidade é inerente à toda e 
qualquer pessoa humana, e que as pessoas são titulares de direitos iguais e inalienáveis, e 
esses direitos são fundamentos da liberdade, da justiça e da paz no mundo. 
 
Então na sua primeira expressão a declaração já enaltece o valor da dignidade 
humana como valor intrínseco à condição humana. Portanto, a dignidade não é um valor 
extrínseco (que é conferido em razão da raça, etnia, condição econômica, nacionalidade, grau 
de instrução). Toda e qualquer pessoa, por ser pessoa, possui uma dignidade que lhe é 
inerente, um valor intrínseco. Existe todo um movimento crítico, que entende que as 
dignidades devem ser trabalhadas sob uma ótica pluralista e concreta. E fazem essa crítica à 
visão Kantiana que seria muito atomizada, individualizada e abstrata. 
 
O professor Barroso possui texto sobre essa dimensão transnacional cosmopolita 
da dignidade humana, sendo que para ele a dignidade encamparia três dimensões: a 
dimensão do valor intrínseco, como Kant; a dimensão da autonomia; e a dimensão 
comunitária, ou seja, a dignidade se realiza em determinada sociedade. 
 
 
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E aí vem a pergunta: quais direitos? A declaração aqui é extremamente ousada, 
pois, olhando para trás, numa visão retrospectiva, temos na moderna declaração de direitosaquela visão dicotomizada: ou igualdade ou liberdade. E a declaração conjuga estas duas 
narrativas, estabelecendo que não há igualdade sem liberdade, tampouco há liberdade sem 
igualdade. Portanto, direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais são reunidos, 
formam uma unidade indivisível, interdependente e interrelacionada. Este é o lema da 
declaração universal de 1948. 
 
No próprio artigo 1º, a declaração já enuncia que todos os seres humanos nascem 
livres e iguais em dignidade e em direitos, e são dotados de razão e de consciência, devem 
agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Portanto, aqui há o reencontro com 
o pensamento Kantiano com as ideias de moralidade, dignidade, direito cosmopolita, paz 
perpétua. 
 
Da leitura dos trinta artigos, veremos que dos artigos 3º ao 21 da declaração 
universal dos direitos humanos de 1948, têm os direitos civis e políticos: vida, liberdade, 
segurança, a não ser submetido a escravidão ou a servidão, não ser submetido à tortura, 
igualdade, proibição à discriminação, liberdade pessoal (sendo vedada a prisão arbitrária), 
acesso à justiça, presunção de inocência, vida privada e familiar, liberdade de locomoção, 
expressão, opinião, pensamento com ciência e crença, reunião e associação, participação 
política, nacionalidade, propriedade, constituir uma família, gozar asilo em caso de 
perseguição. Temos aqui concentrados os direitos civis e políticos. 
 
A declaração não fica apenas nestes direitos. Nos seus artigos 22 a 28, 
encontraremos os direitos econômicos, sociais e culturais, como o direito ao trabalho e as 
condições justas e favoráveis de trabalho, repouso, lazer, padrão de vida capaz de assegurar 
a família saúde, bem estar, alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos, educação 
orientada pelo pleno desenvolvimento da pessoa humanada, fortalecimento ao respeito dos 
direitos humanos, tolerância, liberdade, direitos culturais de participar da vida cultural, 
participar do progresso científico e seus benefícios, econômicos, sociais e culturais 
 
 
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indispensáveis à dignidade e ao livre desenvolvimento da personalidade. O artigo 28 traz o 
importante direito de que todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional, 
em que os direitos e liberdades possam ser plenamente realizados. 
 
Com isso, a declaração abraça uma visão holística integral dos direitos humanos. 
E essa visão traz duas consequências extraordinárias: a primeira é a paridade em grau de 
importância entre direitos civis e políticos, e direitos econômicos, sociais e culturais. Assim, 
para a declaração tão grave quanto ter violado o direito de liberdade de expressão ou religião, 
é ter negado o direito à saúde, educação e trabalho; tão grave morrer sob tortura, é morrer 
de fome. Portanto, a declaração traz essa paridade de grau e relevância dos direitos civis e 
políticos, e direitos econômicos, sociais e culturais. 
 
Mais do que isso, estabelece uma interrelação, interdependência, indivisibilidade 
entre eles, compondo uma unidade; voltemos a insistir que o respeito aos direitos civis e 
políticos, é condição para o exercício dos direitos econômicos, sociais e culturais; que por sua 
vez, a sua efetividade é condição para a efetividade dos direitos civis e políticos. 
 
Em artigo publicado sobre os impactos da Covid na visão da interdependência dos 
direitos. Notem que a aula está sendo gravada por ferramenta virtual, justamente em razão 
da pandemia que coloca em risco a saúde coletiva. Deste modo, a liberdade de ir e vir está 
restrita, em nome de um bem maior que é a saúde coletiva. Então vemos como um direito 
social (direito à saúde) impacta o direito à liberdade de ir e vir. Então quando tivermos todos 
vacinados, teremos restaurado o universo destes direitos (direito de aglomeração, de 
reunião). 
 
Vejam que o direito à saúde requer um direito essencial que é o direito à 
informação, pois não se pode combater a pandemia sem acesso à informação, inclusive sobre 
os cuidados preventivos. Uma das primeiras demandas que surgiu na comissão 
interamericana foi dos povos indígenas, que pleiteavam na Bolívia campanha de prevenção à 
Covid nas línguas e nos idiomas originários daqueles povos. Diante disso, não há prevenção 
 
 
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sem direito à informação. O direito compõe esta interdependência, esta unidade de sentido, 
de visão integral e holística. 
 
Com isso, para fechar esse ponto dois, deve-se destacar que os direitos humanos 
para a declaração universal apresentam três componentes, três atributos: são universais, 
basta a condição humana para tê-los; tem como fundamento ético a dignidade humana; são 
interdependentes, interrelacionados, indivisíveis. Esta é a visão acolhida pela declaração 
universal de 1948, que se projeta em todo o direito internacional dos direitos humanos. 
 
Examinaremos em futuras aulas, por exemplo, a convenção da ONU sobre a 
eliminação da discriminação racial, a convenção da ONU sobre a eliminação da discriminação 
contra a mulher, a convenção da ONU que protege as pessoas com deficiência, que são três 
instrumentos de alcance especial, mas que incorporam esta concepção contemporânea de 
direitos humanos. Para as mulheres, a convenção busca assegura direitos civis, políticos, 
econômicos, sociais e culturais. Mirando os povos afrodescendentes e indígenas, a convenção 
racial também parte desta concepção holística, buscando resguardar direitos civis, políticos, 
econômicos, sociais e culturais. O mesmo se diga com relação aos direitos das pessoas com 
deficiência. 
 
A Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993, subscrita por 171 estados 
pares, respalda e reitera a declaração de 1948. A Declaração Universal, de 1948, foi adotada 
por 48 votos, com 8 abstenções, num foro então composto por apenas 56 países, e se 
levarmos em conta que a Declaração de Viena é consensual, envolvendo 171 Estados, a 
maioria dos quais eram colônias no final dos anos 40, entenderemos que foi em Viena, em 
1993, que se logrou conferir caráter efetivamente universal àquele primeiro grande 
documento internacional definidor dos direitos humanos. Hoje o mundo tem entorno de 200 
estados pares. 
 
Importante mencionar que o § 5º da Declaração de Viena: 
 
 
 
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Todos os Direitos Humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e 
interrelacionados. A comunidade internacional deve considerar os Direitos 
Humanos, globalmente, de forma justa e eqüitativa, no mesmo pé e com igual 
ênfase. Embora se deva ter sempre presente o significado das especificidades 
nacionais e regionais e os diversos antecedentes históricos, culturais e 
religiosos, compete aos Estados, independentemente dos seus sistemas 
políticos, econômicos e culturais, promover e proteger todos os Direitos 
Humanos e liberdades fundamentais. 
 
 Portanto, para a declaração de Viena, os direitos humanos são universais, 
indivisíveis, interdependentes, interrelacionados, e tem como fundamento ético a dignidade 
humana. 
 
 Com isso, nós passamos ao último ponto é o sistema jurídico multinível, que vai 
guiar todo nosso percurso ao longo das demais aulas. 
 
 Vejam que a partir da declaração, nós temos o processo de internacionalização 
dos direitos humanos, de humanização do direito internacional, de internacionalização do 
direito constitucional, de constitucionalização do direito internacional, que se torna cada vez 
mais palpável e positivado por meio de tratados e de instrumentos escritos. 
 
 Esses fenômenos impactam o modo de perceber o direito que se ensina, o direito 
que se pesquisa e o direito que se estuda. É por isso que a ótica que vamos adotar ao longo 
de nossas aulas será a lente do sistema jurídico multinível, isto é, vamos trabalhar os direitos 
humanos a partir de três arenas: arena global, arenaregional e arena local. 
 
 Importará para o nosso estudo, examinar com muita cautela o prisma global, que 
vem sendo gerado pelas Nações Unidas, são tratados com alcance universal envolvendo 
quase duzentos países. Veremos na próxima aula os pactos da ONU em matéria de direitos 
civis e políticos, e direitos econômicos, sociais e culturais. Cada qual tem em média cento e 
 
 
Material elaborado por Leonardo Leonel 
setenta estados partes, o que é um número expressivo, considerando que temos duzentos 
estados que integral e habitam a órbita da terra. 
 
 Temos então o sistema global com tratados de alcance geral. Temos também 
tratados de alcance específico, como são as convenções que protegem os direitos das 
mulheres, das crianças, das pessoas com deficiência, dos grupos raciais, dos povos indígenas, 
afro descentes, ou seja, todo um universo do sistema especial de proteção que é direcionado 
a grupos e pessoas em situação de vulnerabilidade, que demandam grau de proteção 
reforçada do estado. E temos tratados de âmbito geral, que são estes que vamos ver na 
sequência, que são os pactos da ONU em matéria de direitos civis e políticos, e direitos 
econômicos, sociais e culturais. Esta é a vertente global. 
 
 Temos também a vertente regional, na qual há todo um processo de 
regionalização de direitos humanos. Hoje este processo se expressa de maneira consolidada 
e institucionalizada em três geografias: Europa, Américas e África. Temos, assim, consolidado 
o sistema regional europeu, sistema regional interamericano e sistema regional africano. O 
aplicado no Brasil é o sistema regional interamericano. 
 
 Há movimentos para a criação de um sistema regional árabe e de um sistema 
regional asiático, mas que se observarmos de forma comparativa, o sistema europeu é o mais 
antigo, é o mais consolidado, que foi criado no pós guerra, a convenção europeia data da 
década de 1950; ao passo que o sistema interamericano seria o intermediário, a convenção 
americana é de 1969; já a carta africana dos direitos humanos e dos povos é da década de 
1980, e traz toda uma leitura diferenciada, coletivista, que combina os direitos civis e 
políticos, com os direitos econômicos, sociais e culturais, ambientais, ao desenvolvimento, à 
paz. Então é uma outra perspectiva coletivista, e também mais holística e integral dos direitos 
humanos. 
 
 Existe também o sistema interno ou sistema nacional, ou seja, a nossa 
constituição de 1988, as nossas leis, as instituições e a nossa jurisprudência. 
 
 
Material elaborado por Leonardo Leonel 
 A nossa atravessia neste curso, a luz dessa teoria geral dos direitos humanos que 
hoje aqui desenvolvemos, tendo em vista que nesta aula, o nosso objetivo foi justamente 
apresentar à todos a concepção contemporânea dos direitos humanos, o legado da 
declaração universal de 1948 (ou seja, os direitos humanos como universais, 
interdependentes, indivisíveis, interrelacionados, e tendo como fundamento ético a 
dignidade humana), portanto, é esta a perspectiva que vai nutrir as demais aulas. 
 
 Vamos prosseguir agora, aterrissando no sistema global de proteção, a fim de 
compreender como esse sistema foi sendo criado, fruto que é do processo de 
internacionalização dos direitos humanos. Voltemos a insistir, há um sistema internacional 
pré e pós 1945, e o direito internacional dos direitos humanos nasce pós 1945. 
 
 Iremos nos encaminhar pelo sistema global agora, tratando inicialmente do 
sistema geral, dos tratados de alcance geral. Depois, vamos transitar para os tratados de 
alcance especial. Ainda, vamos fazer uma incursão nos sistemas regionais, notadamente no 
sistema regional interamericano. Finalmente vamos percorrer o sistema nacional, avaliando 
como a constituição brasileira se posiciona neste cenário, qual é o grau de abertura que o 
texto de 1988 tem ao processo de internacionalização dos direitos humanos. Será que a carta 
de 1988 encampa a concepção contemporânea de direitos humanos? Qual a porta de 
entrada, de recepção dos direitos humanos? Qual é a sua hierarquia, sua incorporação e o 
seu impacto? Então estas serão as nossas próximas conversas. 
 
 Temos então que nesta primeira aula lançamos como ponto de partida a teoria 
geral dos direitos humanos, com reflexões preliminares; embarcando na declaração universal 
de 1948, seu sentido, alcance e legado; concepção contemporânea dos direitos humanos; e 
finalmente fulminando com o sistema jurídico multinível. Portanto, arenas global, regional e 
local, abertas e permeáveis aos diálogos, aos empréstimos, às incidências, às interações 
mútuas e recíprocas, tendo como norte o valor maior da dignidade humana, e, 
consequentemente, o princípio pro persona. 
 
 
 
Material elaborado por Leonardo Leonel 
 É muito importante já se dizer nesta primeira aula, que no campo dos direitos 
humanos há uma lógica e principiologia própria; o princípio da dignidade humana e a sua 
prevalência é o que nos guia. Em decorrência deste princípio, é o princípio pro persona, que 
para alguns é o princípio pró homem. Qual é o sentido deste princípio? Prevalece sempre a 
norma mais protetiva, mais benéfica e mais favorável à vítima. A centralidade é das vítimas e 
os sistemas global, regional e local se somam, e sempre prevalecerá mais protetiva, mais 
benéfica, favorável à vítima. Seja ela de âmbito geral ou especial. Seja ela do âmbito global, 
regional ou local. 
 Saliente-se que há campos do direito que têm racionalidades próprias, como o 
direito do consumidor, em que as partes estão numa relação assimétrica, portanto se protege 
a parte mais vulnerável; direito do trabalho, em que há uma vulnerabilidade maior dos 
trabalhadores. Então há princípios próprios. 
 
 No campo dos direitos humanos também, em que desfazemos dos princípios 
tradicionais como, por exemplo, soluções de antinomias, em que norma posterior sempre 
revoga a anterior, em que a norma geral convive com a geral, e afasta a geral em que ela tem 
de especial, porque aqui a lógica material é a que prevalece. Portanto, o raciocínio que se faz 
é sempre avaliar a norma mais benéfica. Venha da onde vier, seja qual for o seu tempo, tenha 
sido antes ou depois, ela sempre prevalece. Este é o princípio pro persona, primazia da norma 
mais favorável, mais protetiva, mais benéfica à pessoa humana, decorrente do princípio da 
dignidade humana.

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