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Resumo Tabelado de Direito do Consumidor

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Caderno de Direito do Consumidor – Dayana da S. Sales – Siga @corujinha_juridica 
 
 Caderno de Direito do Consumidor – Dayana da S. Sales – Siga @corujinha_juridica 
 
 
Apresentação 
Olá! Meu nome é Dayana Sales, do perfil @corujinha_juridica, sou servidora do TJRJ. A minha preparação para concursos 
começou desde muito cedo. Passei com 18 anos para Sargento Especialista da Aeronáutica. Minha formação militar foi na 
Escola de Especialistas (EEAR), em Guaratinguetá-SP. Na época que prestei o concurso, para área de Eletricidade (tenho 
formação em escola técnica – CEFET-RJ), eram 22 vagas nível Brasil. Passei em 7º lugar. Fiquei um bom tempo na FAB, fiz 
faculdade de Direito, prestei alguns concursos (reprovei em uns e passei em outros) e finalmente tomei possei no TJRJ. 
Tenho pós-graduação em Direito do Consumidor. Trabalhei cedida no TRF-1 e STF. Atualmente estou cursando um MBA em 
Gestão de Pessoas, Liderança e Coaching e uma pós em Psicologia Positiva. Minha vida é estudar, conhecer novos assuntos, 
crescer como profissional e ajudar outras pessoas com a minha experiência. 
A minha técnica de estudos é baseada no estudo ativo. O estudo ativo é aquele onde o estudante sai da posição passiva e 
vai para ativa em busca das informações, criando os seus próprios materiais de estudos. Os meus resumos são feitos em 
cima de anotações de cursinhos, de materiais em pdf, pesquisas em livros, manuais e blogs jurídicos, lives de professores, 
Buscador do Dizer o Direito. Ou seja, uma miscelânea de informações registradas no formato de tabela. Fiz assim porque 
acho uma forma mais simples de estudar e memorizar os principais tópicos de cada matéria. 
Até então, eu não havia disponibilizado meus materiais na internet. Apenas um grupo de amigos tinham acesso. Alguns 
colegas que usaram meus materiais tiveram êxito nos concursos que prestaram. Espero que você faça um bom uso desses 
materiais. Estude, leia, faça questões, indague, pesquise, complemente esse material e ajuste para sua realidade. Vá atrás 
das informações. Assuma uma posição de estudante ativo. 
Por fim, quero também falar do meu novo projeto que vai ajudar muitas pessoas a destravar nos estudos e alcançar a tão 
desejada aprovação nos concursos públicos e na OAB. Estou falando do Rotina de Estudos Sustentável. O treinamento é 
para aqueles que querem aprender a estudar da forma correta e estratégica. Nesse treinamento, vamos trabalhar como 
técnicas de estudos, organização, planejamento, otimização do tempo, controle de ansiedade, mindset de crescimento e 
todas as dores e dificuldades que permeiam o universo dos estudos. Se você quer aprender a estudar de forma correta, 
eficaz, estratégica – venha conhecer meu projeto. Me segue lá no insta @corujinha_juridica. Todos os dias têm post com 
dicas valiosas sobre técnicas de estudos, produtividade, gerenciamento do tempo, planejamento. 
Espero que os meus materiais possam ajudá-los a conquistar a tão sonhada vaga no serviço público ou na OAB. Estude e 
confie no seu potencial! Tenha foco e disciplina! Adotem esse pensamento para a vida de vocês. 
Nossos objetivos só podem ser alcançados através de um plano, no qual devemos acreditar fervorosamente e sobre o qual 
devemos agir vigorosamente. Não há outro caminho para o sucesso (Pablo Picasso). 
Aguardo o contato de vocês no meu insta. Bons Estudos! Dayana 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este material foi atualizado até julho/2022. 
 Caderno de Direito do Consumidor – Dayana da S. Sales – Siga @corujinha_juridica 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
Introdução 
O Direito do Consumidor surgiu em um contexto histórico e político pós-revolução industrial, em que houve a 
produção e massificação da produção de bens e do consumo. Surge, então, a sociedade de consumo em massa, 
levada, por técnicas eficientes de marketing, a consumidor de modo impulsivo e sem reflexão. 
 
O direito privado tradicional se mostra ineficaz para tutelar os agentes econômicos vulneráveis, ou seja, os 
consumidores. Em 1972, a Conferência Mundial de Estocolmo tratou do Direito do Consumidor. A Resolução 
39.248 do Fórum da ONU (1985) é diretriz para as legislações consumeristas de diversos países. 
 
No Brasil, a CF/88 erigiu o Direito do Consumidor à categoria de direito fundamental. A finalidade do Direito do 
Consumidor é proteger o consumidor, reduzindo a desigualdade existente entre consumidor e fornecedor na 
relação de consumo. Direito do Consumidor é o conjunto de normas e princípios que regula a tutela de um sujeito 
especial de direitos, a saber, o consumidor, como agente privado vulnerável, nas suas relações frente a 
fornecedores. 
 
Fundamento Constitucional 
Direito 
Fundamental 
A CF/88 erigiu o Direito do Consumidor como direito fundamental (art. 5º, XXXII CF). 3 são as 
consequências práticas dessa previsão: 
✓ Proteção como parte do núcleo imodificável da CF (cláusula pétrea); 
✓ Eficácia horizontal (entre particulares → na relação entre o consumidor e o fornecedor) do 
direito fundamental; 
✓ Garantia constitucional deste novo ramo do direito: força normativa da CF (nenhuma norma 
setorial poderá desrespeitar a normatividade consumerista). 
 
Princípio da 
Ordem 
Econômica 
Nos termos do art. 170, V CF, a defesa do consumidor é um princípio da ordem econômica, ou 
seja, o Estado poderá intervir na economia para defender os consumidores (ex: quando a ANAC 
edita portaria conferindo direitos para os passageiros de transportes aéreos). 
 
A doutrina vê nesse princípio um caráter conformador, não apenas autorizando a intervenção 
do Estado na economia, mas também deve conformar a ação do fornecedor (apesar de ter 
livre iniciativa, esta deve ser executada em conformidade com a defesa do consumidor). 
 
Competência 
Legislativa 
Concorrente 
Na forma do art. 24, V e VIII CF, trata-se de competência legislativa CONCORRENTE NÃO 
CUMULATIVA ou VERTICAL. 
Isso significa que a União terá competência para legislar sobre normas gerais do Direito do 
Consumidor, enquanto os Estados e o DF gozarão de competência suplementar para adequar 
essas normas gerais às suas peculiaridades regionais. Em caso de inércia da União, os Estados 
e DF exercerão competência plena. 
 
# Competência legislativa dos Municípios? 
Nos termos do art. 30, I CF compete aos Municípios legislar sobre assuntos de interesse local. 
Ex: Município pode promulgar lei para estabelecer o prazo máximo de espera nas filas das 
agências bancárias, pois se trata de assunto de interesse local (RE 432.789 STF). 
Ex2: Município pode obrigar as agências bancárias a disponibilizar bebedouros e sanitários aos 
seus correntistas 
Características 
O nosso CDC (Lei 8.078/90) foi fruto de intenso trabalho dos coautores do anteprojeto, que buscaram inspiração 
no Código de Consumo Francês. Em matéria de responsabilidade por acidente de consumo, houve influência das 
 Caderno de Direito do Consumidor – Dayana da S. Sales – Siga @corujinha_juridica 
normas do direito comunitário europeu. O CDC foi a lei mais revolucionária do séc. XX e hoje é modelo para a 
legislação consumerista em toda a América Latina. 
 
O CDC inaugurou um microssistema jurídico, pois trouxe princípios gerais que devem orientar a aplicação das 
normas consumeristas em todas as relações jurídicas de consumo desenvolvidas nas mais diversas atividades 
econômicas. 
Outra característica do CDC é o seu caráter multidisciplinar: encontramos normas de direito penal (tipificação dos 
crimes consumeristas), de direito administrativo (ex: capítulo que disciplina a ação dos PROCONs), de direito civil e 
de direito processual. 
 
 NORMAS DE ORDEM PÚBLICA 
O art. 1º CDC estabelece que as normas de proteção e defesa do consumidor são de ordem pública e de interesse 
social (valores que prevalecem sobre a vontade das partes, não podendo ser derrogadas). 
 
# Retroatividade? 
A prof. Cláudia Lima Marques defende que o CDC iráalcançar relações jurídicas travadas antes da entrada em vigor 
do Código. Porém esse entendimento é MINORITÁRIO. 
O entendimento que prevalece no STJ é de que, de acordo com a regra geral de aplicação das leis no tempo, as 
normas só podem retroagir desde que haja expressa previsão legal nesse sentido (o CDC não prevê sua aplicação 
retroativa) e respeitado o direito adquirido, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito. 
 
# Reconhecimento de prática abusiva, de ofício, pelo juiz: 
Por muito tempo o STJ seguiu o entendimento de que, sendo normas de ordem pública, o juiz poderia reconhecer 
de ofício qualquer prática abusiva contra o consumidor. Entretanto, foi editada a Súmula 381 STJ, no sentido de 
que NOS CONTRATOS BANCÁRIOS, é VEDADO ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas. 
 
 POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO 
O art. 4º CDC inaugura a política nacional das relações de consumo, trazendo os seus objetivos e os seus princípios. 
A doutrina classifica esse art. 4º como norma narrativa, estabelecendo finalidades que vinculam os operadores do 
direito. 
Objetivos: 
1. Defesa dos interesses dos consumidores; 
2. Transparência nas relações de consumo; 
3. Harmonia entre consumidores e fornecedores. 
 
Diálogo das Fontes 
O CDC é uma lei principiológica, cujos princípios irão se espraiar por todo o ordenamento jurídico. Todos os setores 
das atividades econômicas são alcançados pelo CDC, o que pode levar à sobreposição de normas, visto que esses 
setores também são regulados por leis setoriais (ex: Lei dos Planos de Saúde). 
 
Os critérios clássicos/tradicionais de solução em caso de conflito de normas são: (i) critério cronológico; (ii) critério 
da especialidade; (iii) critério hierárquico. Adotando esses critérios, a solução será a exclusão de uma das normas 
do ordenamento jurídico (monólogo). 
 
Esses critérios mostram-se insuficientes na sociedade atual. A prof. Cláudia Lima Marques importa do Direito 
Comparado uma nova técnica: o DIÁLOGO DAS FONTES (duas normas serão aplicadas, ao mesmo tempo, à mesma 
situação fática). 
 
ADI 2.591 STF (sobre a constitucionalidade do art. 3º, §2º CDC): A EC 40, na medida em que conferiu maior vagueza 
à disciplina constitucional do sistema financeiro (dando nova redação ao art. 19) tornou ainda maior esse campo 
que a professora Claudia Lima Marques denominou “diálogo das fontes” – no caso, entre a lei ordinária (que 
disciplina as relações consumeristas) e as leis complementares (que disciplinam o sistema financeiro nacional). 
 Caderno de Direito do Consumidor – Dayana da S. Sales – Siga @corujinha_juridica 
 
Em matéria de direito do consumidor, o CDC sempre se aplica em caráter primário e, em caráter complementar, 
serão aplicáveis as outras normas setoriais, desde que compatíveis com a principiologia consumerista. 
 
# Diálogo entre o CDC e o CC: 
Existem 3 tipos de diálogos: 
a) Diálogo sistemático de coerência: o CC oferece bases conceituais que não estão presentes no CDC (ex: conceitos 
de bens móveis e bens imóveis). Nesse sentido, alguns conceitos devem ser emprestados para o CDC de modo a 
buscar coerência do ordenamento jurídico; 
b) Diálogo sistemático de complementaridade: é possível que não haja no CDC norma que solucione determinado 
caso concreto, devendo ser adotados princípios e normas de outro sistema. Ex: o consumidor tem direito à 
repetição do indébito quando sofrer cobranças indevidas, mas não há no CDC previsão de prazo prescricional para 
a propositura da ação. Deve, portanto, ser utilizado o prazo geral de 10 anos previsto no art. 205 CC para suprir 
essa lacuna. 
c) Diálogo das influências recíprocas sistemáticas: consiste na influência do sistema especial no geral e do sistema 
geral no especial. Ex: quando entrou em vigor o CC/02, ele trouxe princípios mais protetivos para as relações entre 
iguais. Com isso, tornou-se desnecessário ao operador do direito se socorrer do CDC para, por analogia, proteger 
uma das partes nas relações travadas entre iguais. Isso explica a atual opção do STJ pela teoria finalista na definição 
do conceito de consumidor. 
# Diálogo entre o CDC e a legislação especial: Ag 572.088 STJ: É aplicável aos contratos de prestações de serviços 
educacionais (regidos pela Lei das Mensalidades Escolares) o limite de 2% para a multa moratória, em harmonia 
com o disposto no art. 52, §1º CDC. 
Princípios 
Princípio da 
Vulnerabilidade 
Definição: traduz a ideia de que o consumidor está numa posição de desvantagem, de 
inferioridade em relação ao fornecedor. Está previsto no art. 4º, I CF (presunção absoluta de 
que todo o consumidor é vulnerável). A doutrina identifica 3 tipos de vulnerabilidade: 
1º) Vulnerabilidade técnica: desconhecimento por parte do consumidor das características do 
produto ou serviço. Essa vulnerabilidade decorre do fato de que o consumidor não participa 
do processo de produção do bem. Claudia Lima Marques insere na vulnerabilidade técnica a 
vulnerabilidade informacional – para compensar o deficit informacional do consumidor, o 
fornecedor deve procurar dar o máximo de informações sobre a relação contratual e sobre os 
produtos e serviços a serem adquiridos; 
2º) Vulnerabilidade jurídica: consiste na falta de conhecimento pelo consumidor dos direitos 
e deveres inerentes à relação de consumo. 
3º) Vulnerabilidade fática ou econômica: consiste na condição de fragilidade do consumidor 
frente ao fornecedor que, por sua posição de monopólio, por seu forte poderio econômico ou 
em razão da essencialidade do serviço que fornece, impõe sua superioridade a todos que com 
ele contratem. 
 
Princípio da Boa-
Fé Objetiva 
Representa um standard de comportamento que deve ser observado por todos os 
fornecedores no mercado de consumo com bases em valores éticos, de honestidade, de 
lealdade, de transparência, de informação, de modo a respeitar as legítimas expectativas do 
consumidor. 
 
Tem como fundamento o art. 1º, III CF (princípio implícito, decorrente do princípio da 
dignidade da pessoa humana), art. 4º CDC (princípio expresso) e arts. 113, 187 e 422 CC 
(princípio expresso). 
É importante distinguir a boa-fé objetiva da boa-fé subjetiva. 
A boa-fé subjetiva é um estado anímico, psicológico, ou seja, é o agir com a intenção ou não 
de causar dano a outrem (ex: art. 1201 CC – posse de boa-fé é perquirida se o possuidor 
ignorava o vício que impedia a aquisição da coisa). 
 
 Caderno de Direito do Consumidor – Dayana da S. Sales – Siga @corujinha_juridica 
Por outro lado, a boa-fé objetiva é analisada a partir de um padrão ético de comportamento. 
A boa-fé objetiva tem 3 funções no nosso sistema jurídico: 
a) Função interpretativa ou critério hermenêutico: quando houver, por exemplo, cláusulas 
contratuais de interpretação dúbia, a interpretação deve ser orientada de acordo com o 
princípio da boa-fé objetiva (arts. 113 CC e 4º, III CDC); 
b) Função integrativa ou de criação de deveres anexos: a boa-fé objetiva cria determinados 
deveres anexos ao contrato, tais como os deveres de informação (o fornecedor deve informar 
adequadamente todas as características do produto), de cuidado (diz respeito à informação 
que o fornecedor deve prestar ao consumidor, para que este utilize os produtos de maneira 
segura) e de cooperação (as partes devem cooperar entre si para que as obrigações sejam 
satisfeitas). 
Atenção! O descumprimento dos deveres anexos representa uma VIOLAÇÃO POSITIVA do 
contrato ou ainda ADIMPLEMENTO RUIM do contrato. 
c) Função de controle ou limitativa do exercício de direitos subjetivos: o princípio da boa-fé 
objetiva limita a atuação do fornecedor, que não pode exercer os seus direitos de maneira 
abusiva. Essa função de controle é encontrada, por exemplo, no art. 51, IV CDC (nulidade das 
cláusulas incompatíveis com a boa-fé) e no art. 187 CC (abuso do direito como ato ilícito). 
 
# FOCANORESUMO 
FUNÇÃO 
INTERPRETATIVA 
FUNÇÃO DE CONTROLEFUNÇÃO INTEGRATIVA 
- O juiz deve sempre 
prestigiar, diante de 
convenções e contratos, a 
TEORIA DA CONFIANÇA, 
segundo a qual as partes 
agem com lealdade na 
busca do adimplemento 
contratual. 
- O juiz deve interpretar as 
cláusulas contratuais de 
modo a desconsiderar a 
malícia da parte que se 
vale de evasivas para criar 
convenções duvidosas, a 
fim de obter vantagens 
incomuns; bem como as 
cláusulas lacunosas ou 
imprecisas deverão ser 
interpretadas de acordo 
com o que, normalmente, 
são entendidas pelos 
indivíduos. 
- Visa EVITAR O ABUSO DO 
DIREITO subjetivo, limitando 
condutas e práticas 
comerciais abusivas. Quando 
não houver lealdade no 
exercício do direito 
subjetivo, de forma a frustrar 
a confiança criada em 
outrem, o ato será abusivo e 
considerado ilícito. 
- Art. 187 do CC: também 
comete ato ilícito o titular de 
um direito que, ao exercê-lo, 
excede manifestamente os 
limites impostos pelo seu fim 
econômico ou social, pela 
boa-fé ou pelos bons 
costumes. 
- Insere deveres anexos, 
cuja violação é chamada de 
“VIOLAÇÃO POSITIVA DO 
CONTRATO”, são eles: 
a) Dever anexo de 
informação; 
b) Dever anexo de 
cooperação (o fornecedor 
deverá cooperar para que o 
consumidor possa alcançar 
suas expectativas, 
facilitando os meios para 
que o mesmo possa 
adimplir o contrato) 
c) Dever anexo de proteção 
(o fornecedor deve 
preservar a integridade 
pessoal e patrimonial do 
consumidor que, quando 
violados, geram danos 
materiais e morais – ex.: 
quando o fornecedor 
disponibiliza 
estacionamento para os 
veículos dos clientes, 
assume o dever, derivado 
do princípio da boa-fé 
objetiva, de proteger os 
bens e a pessoa do 
usuário). 
 
 Caderno de Direito do Consumidor – Dayana da S. Sales – Siga @corujinha_juridica 
Princípio do 
Equilíbrio 
Está previsto no art. 4º, III CDC. Traduz a ideia de que deve haver um equilíbrio na relação entre 
consumidor e fornecedor, o qual é assegurado no plano processual e material. Ex: a 
responsabilidade por dano ao consumidor é objetiva (equilíbrio no plano material). Ex2: 
possibilidade de inversão do ônus da prova (equilíbrio no plano processual). 
 
Princípio da 
Defesa do 
Consumidor pelo 
Estado 
 
Traduz a ideia de que o Estado deve intervir nas relações de consumo para defender os 
interesses dos consumidores. Está previsto no art. 4º, II CDC. 
 
Princípio da 
Harmonização 
É preciso harmonizar os interesses dos consumidores com os interesses dos fornecedores, 
respeitada a livre iniciativa e a livre concorrência. 
 
Princípio da 
Transparência 
Está previsto no art. 4º, caput, do CDC. 
O princípio da transparência impõe ao fornecedor o dever de agir de maneira clara, 
transparente, o qual deve ser observado em todas as etapas da relação de consumo: 
✓ Fase pré-contratual; 
✓ Fase contratual e 
✓ Fase pós-contratual (ex: art. 10 CDC – necessidade de recall). 
 
Princípio da 
Confiança 
Não está previsto expressamente em nosso ordenamento jurídico. Trata-se de consectário 
lógico da boa-fé objetiva. Traduz a ideia de que o fornecedor deve respeitar as legítimas 
expectativas que o consumidor deposita na relação jurídica de consumo, tanto em relação ao 
conteúdo do contrato quanto em relação à qualidade do bem de consumo. 
 
Info 605 STJ (2017): A comprovação de graves lesões decorrentes da ABERTURA DE AIR BAG 
em acidente automobilístico em BAIXÍSSIMA VELOCIDADE, que EXTRAPOLAM AS 
EXPECTATIVAS QUE RAZOAVELMENTE SE ESPERA DO MECANISMO DE SEGURANÇA, AINDA 
QUE DE PERICULOSIDADE INERENTE, configura a RESPONSABILIDADE OBJETIVA da montadora 
de veículos pela reparação dos danos ao consumidor. Assim, mesmo o air bag sendo um 
mecanismo de segurança de periculosidade inerente, esse fato, por si só, não autoriza que a 
montadora do veículo se exima da responsabilidade de indenizar. Isso porque os danos 
sofridos pela vítima estão fora da normalidade do uso e dos riscos que razoavelmente dele se 
esperam (art. 12, § 1º, II do CDC). 
 
Info 613 STJ (2017): A Súmula 130 do STJ prevê o seguinte: a empresa responde, perante o 
cliente, pela reparação de DANO ou FURTO de veículo ocorridos em seu estacionamento. Em 
casos de ROUBO, o STJ tem admitido a interpretação extensiva da Súmula 130 do STJ, para 
entender que há o dever do fornecedor de serviços de indenizar, mesmo que o prejuízo tenha 
sido causado por roubo, se este foi praticado no estacionamento de empresas destinadas à 
EXPLORAÇÃO ECONÔMICA DIRETA da referida atividade (empresas de estacionamento pago) 
ou quando o estacionamento era de um grande shopping center ou de uma rede de 
hipermercado. Por outro lado, NÃO se aplica a Súmula 130 do STJ em caso de roubo de cliente 
de lanchonete fast-food, se o fato ocorreu no ESTACIONAMENTO EXTERNO E GRATUITO por 
ela oferecido. Nesta situação, tem-se hipótese de caso fortuito (ou motivo de força maior), que 
afasta do estabelecimento comercial proprietário da mencionada área o dever de indenizar. 
Logo, a incidência do disposto na Súmula 130 do STJ não alcança as hipóteses de crime de 
roubo a cliente de lanchonete praticado mediante grave ameaça e com emprego de arma de 
fogo, ocorrido no estacionamento externo e gratuito oferecido pelo estabelecimento 
comercial. 
 
 Caderno de Direito do Consumidor – Dayana da S. Sales – Siga @corujinha_juridica 
Princípio do 
Combate ao 
Abuso 
Está previsto no art. 4º, VI CDC. O fornecedor não pode desrespeitar, de forma abusiva, os 
direitos do consumidor. Tutela-se a relação entre consumidor e fornecedor e também entre 
fornecedores (combatendo, por exemplo, a concorrência desleal). 
 
Princípio da 
Educação e 
Informação 
Está previsto no art. 4º, IV CDC. 
Os consumidores devem ser devidamente informados para que a decisão do ato de consumo 
seja mais consciente, evitando práticas de consumo irrefletidas. 
A educação pode ser formal, inserindo-se uma educação sobre consumo nas disciplinas de 
ensino básico; ou pode ser informal, ministrada pelos meios de comunicação social, 
normalmente pelo PROCON, pela promotoria do direito do consumidor, ou ainda, pela 
imprensa. 
 
Princípio da 
Precaução 
O princípio da precaução está expressamente previsto em diplomas relativos ao Direito 
Ambiental. No entanto, boa parte da doutrina defende que este também se aplique ao direito 
do consumidor, sendo extraído de normas constitucionais e do CDC (previsão da defesa do 
consumidor, defesa da vida, saúde e segurança do consumidor). 
Sempre que houver risco científico crível de dano ao consumidor, alguma providência deve ser 
tomada. Difere-se do princípio da prevenção, pois este visa prevenir dano certo, muito 
provável. No princípio da precaução, o dano não é provável, mas possível. 
 
Direitos Básicos do Consumidor 
A principal inspiração do CDC, nesse tema, é a Res. 39/248 da ONU de 1985. O rol de direitos básicos do art. 6º CDC 
é exemplificativo. 
 
# Cláusula de abertura do microssistema: 
O art. 7º CDC prevê que os direitos previstos no CDC não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções 
internacionais, da legislação interna ordinária, de regulamentos, bem como dos que derivem dos princípios gerais 
do direito, analogia, costumes e equidade. 
Ex: gratuidade do transporte coletivo urbano e semiurbano para maiores de 65 anos (art. 230, §2º CF e art. 39 
Estatuto do Idoso). 
Ex2: no transporte doméstico de crianças com menos de 2 anos de idade não poderá ser aplicada tarifa maior do 
que o equivalente a 10% da tarifa do adulto, desde que não ocupem assento e estejam ao colo de um passageiro 
com mais de 12 anos de idade (Portaria n. 676/2000 ANAC). 
 
DIREITO À VIDA, SAÚDE E SEGURANÇA (INC. I) 
Trata-se de direito de proteção do consumidor e ao mesmo tempo de dever de segurança dirigido ao fornecedor. 
O fornecedor só pode colocar no mercado de consumo bens que não sejam perigosos ao consumidor, sob pena de 
responder objetivamente pelos danos causados, salvo nos casos de produtos de periculosidadeinerente (art. 8º 
CDC). Nesse sentido: 
 
Info 603 STJ (2017): Para a responsabilização do fornecedor por acidente do produto não basta ficar evidenciado 
que os danos foram causados pelo MEDICAMENTO. O defeito do produto deve apresentar-se concretamente como 
sendo o causador do dano experimentado pelo consumidor. Em se tratado de produto de PERICULOSIDADE 
INERENTE (medicamento com contraindicações), cujos riscos são normais à sua natureza e previsíveis, eventual 
dano por ele causado não enseja a responsabilização do fornecedor. Isso porque, neste caso, não se pode dizer que 
o produto é defeituoso. 
 
 DIREITO À EDUCAÇÃO FORMAL E INFORMAL (INC. II) 
Educação formal = inserida no currículo do ensino básico (ex: professores de matemática irão dar noção de preços, 
de cálculo de juros, etc, o que ajuda a formar um consumidor mais consciente). 
Educação informal = ministrada pelos meios de comunicação social (órgãos de defesa do consumidor e imprensa). 
 
 Caderno de Direito do Consumidor – Dayana da S. Sales – Siga @corujinha_juridica 
 DIREITO À LIBERDADE DE ESCOLHA (INC. II) 
Essa liberdade de escolha é fundamental para o consumidor e para o próprio mercado de consumo de forma a 
resguardar a livre concorrência e a livre iniciativa. Aplicação prática: proibição da venda casada em cinemas (o 
consumidor pode entrar no cinema com a pipoca comprada de outro lugar). Nesse sentido: REsp 744.602/RJ STJ. 
 
DIREITO À IGUALDADE NAS CONTRATAÇÕES (INC. II) 
Não se admite tratamento discriminatório entre os consumidores. 
 
 DIREITO À INFORMAÇÃO (INC. III) 
O consumidor tem o direito à informação ADEQUADA e CLARA sobre os diferentes produtos e serviços, com a 
especificação correta da QUANTIDADE, CARACTERÍSTICAS, COMPOSIÇÃO, QUALIDADE, TRIBUTOS INCIDENTES E 
PREÇO, bem como sobre os RISCOS que apresentem. 
Ex: consumidor contratou um plano de saúde, que tinha uma relação de hospitais credenciados. Após certo tempo, 
o consumidor teve um infarto e precisou de atendimento em caráter emergencial. O consumidor foi deslocado para 
um desses hospitais. Lá chegando, ele foi surpreendido pela informação de que o plano de saúde não mais cobria 
o atendimento no referido hospital. Então, o consumidor pagou do próprio bolso o valor da sua estadia no hospital 
e depois moveu uma ação contra o plano de saúde, alegando que não foi informado do descredenciamento. O STJ 
acolheu a tese, dispondo que compete ao plano de saúde informar a cada consumidor, individualmente, a exclusão 
do credenciamento do hospital ou de médico da rede conveniada, sob pena de responder pelos danos materiais e 
morais decorrentes do descumprimento do dever de informação (REsp 114.480/SP STJ). 
 
#DOD: Info 612 STJ (2017): O fornecedor de alimentos deve complementar a informação-conteúdo "CONTÉM 
GLÚTEN" com a INFORMAÇÃO-ADVERTÊNCIA de que o glúten é prejudicial à saúde dos consumidores com 
doença celíaca. A expressão “contém glúten” é apenas uma informação-conteúdo, devendo ser complementada 
por uma informação-advertência, com o objetivo de proteger o consumidor com doença ou síndrome celíaca. Em 
razão dos “riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores” (art. 31, caput, do CDC), a oferta e a 
apresentação de alimentos com glúten não devem trazer apenas a informação-conteúdo “contém glúten”, pois 
esta é omissa e incompleta perante as exigências do CDC, que, em seu art. 37, §§ 1º e 3º, estabelece: 
 
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. 
§ 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou 
parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a 
respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados 
sobre produtos e serviços. (...) 
§ 3º Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado 
essencial do produto ou serviço. 
 
No Direito do Consumidor, não é válida a “meia informação” ou a “informação incompleta”. Também não é 
suficiente oferecer a informação, pois é preciso saber transmitila, já que mesmo a informação completa e 
verdadeira pode vir a apresentar deficiência na forma como é exteriorizada ou recebida pelo consumidor. 
Obs: Se você observar bem o art. 31 do CDC, irá notar que existem, pelo menos, 4 categorias de informação, 
intimamente relacionadas: 
 
CATEGORIAS DE INFORMAÇÃO 
Informação-
CONTEÚDO 
Informação-
UTILIZAÇÃO 
Informação-
PREÇO 
Informação-
ADVERTÊNCIA 
São as 
características 
intrínsecas do 
produto ou serviço 
São as instruções 
para o uso do 
produto ou serviço 
Indicam o custo, 
as formas e as 
condições de 
pagamento 
Estão ligadas aos 
riscos do produto ou 
seviço 
O fornecedor possui pleno conhecimento do produto ou serviço oferecido. Por essa razão, ele é o responsável por 
prestar ao consumidor, que é considerado o polo vulnerável ou hipervulnerável (que desconhece todo esse 
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processo), o necessário esclarecimento para que este possa tomar atitude consciente diante do produto posto à 
venda no mercado: adquiri-lo ou rechaçá-lo. 
 
Info 632 STJ (2018): O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve 
sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos 
do procedimento. 
O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza 
INADIMPLEMENTO CONTRATUAL, fonte de responsabilidade civil per se. 
A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter 
sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe 
causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente. 
O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, 
suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos 
prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, 
ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal. 
Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser prestados de forma individualizada 
em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent). 
O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimento informado do paciente é 
do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir 
com os elementos probatórios que mais facilmente lhe possam ser exigidos. 
 
DIREITO À PROTEÇÃO CONTRA PRÁTICAS E CLÁUSULAS ABUSIVAS (INC. IV) 
Estudaremos especificamente as cláusulas abusivas. 
 
DIREITO À MODIFICAÇÃO E REVISÃO DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS (INC. V) 
Tem como objetivo assegurar o equilíbrio econômico da relação contratual. Fala-se aqui em dirigismo contratual, 
pois autoriza o Estado a intervir na economia interna do contrato sempre que se identificar um desequilíbrio 
econômico-financeiro. 
- Modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais: 
Haverá modificação das cláusulas quando o desequilíbrio existir desde o nascimento do contrato. Afeta-se o 
sinalagma original do contrato. O art. 51 CDC traz a regra de que uma cláusula contratual que coloque o consumidor 
em desvantagem exagerada é nula de pleno direito. Ao mesmo tempo, o CDC confere ao consumidor o direito de 
modificar essa cláusula. 
Trata-se, portanto, de faculdade conferida ao consumidor: ele poderá pedir a modificação dessa cláusula (art. 6º) 
ou requerer a sua nulidade (art.51). 
 
- Revisão das cláusulas contratuais: 
Será utilizada quando o desequilíbrio do contrato for superveniente. Afeta-se o sinalagma funcional do contrato. 
Ex: consumidor adquire empréstimo pessoal, cujos juros moratórios estão vinculados à variação cambial do dólar. 
Caso após esse contrato haja uma grave crise, em que o real se desvalorize muito frente ao dólar, essas prestações 
se tornarão desproporcionais, gerando uma onerosidade excessiva para o consumidor. Nesse caso, as cláusulas do 
contrato poderão ser revistas. 
 
NÃO se adotou a teoria da imprevisão (aplicada ao CC)!!! Isso porque, no CDC não se exige a imprevisibilidade do 
fato superveniente. Adotou-se a teoria da base objetiva do negócio jurídico (desenvolvida no direito alemão após 
a 2ª Guerra Mundial). 
REsp 361.694 STJ: O preceito insculpido no inc. V do art. 6º CDC dispensa a prova do caráter imprevisível do fato 
superveniente, bastando a demonstração objetiva da excessiva onerosidade advinda para o consumidor. A 
desvalorização da moeda nacional frente à moeda estrangeira que serviu de parâmetro ao reajuste contratual, por 
ocasião da crise cambial de janeiro de 1999, apresentou grau expressivo de oscilação, a ponto de caracterizar 
onerosidade excessiva que impede o devedor de solver as obrigações pactuadas. 
 
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#FOCANORESUMO 
TEORIA DA IMPREVISÃO ou REBUS SIC STANTIBUS 
(CC) 
TEORIA DA BASE OBJETIVA DO NEGÓCIO JURÍDICO 
(CDC) 
“Nos contratos de execução continuada ou diferida, 
se a prestação de uma das partes se tornar 
excessivamente onerosa, com extrema vantagem 
para outra, em virtude de acontecimentos 
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor 
pedir a resolução do contrato” (art. 478 CC) 
“São direitos básicos do consumidor [...] a revisão das 
prestações em razão de fatos supervenientes que as 
tornem excessivamente onerosas” (art. 6º, V). 
Interessa saber somente se o fato alterou de 
maneira objetiva as bases nas quais as partes 
contrataram, de maneira a modificar o ambiente 
econômico inicialmente existente. 
O FATO SUPERVENIENTE É EXTRAORDINÁRIO E 
IMPREVISÍVEL 
O FATO SUPERVENIENTE NÃO PRECISA SER 
IMPREVISÍVEL 
Exige a extrema vantagem para o credor Não exige esta condição 
Implica resolução (a revisão somente com a 
voluntariedade do credor) 
Implica revisão (resolução somente quando não 
houver possibilidade de revisão). 
Princípio da conservação dos contratos. 
 
DIREITO À EFETIVA PREVENÇÃO E REPARAÇÃO DOS DANOS PATRIMONIAIS E MORAIS INDIVIDUAIS, COLETIVOS 
E DIFUSOS (INC. VI) 
O CDC adotou o princípio da reparação integral. 
A EXCEÇÃO a esse princípio se dá quando o consumidor for PESSOA JURÍDICA, que, em acordo com o fornecedor 
negocie, por exemplo, a diminuição do preço do produto em troca da desnecessidade de reparação total do dano 
que, eventualmente, venha a ocorrer. 
Ex: universidade adquire grande quantidade de produto de limpeza. Ela faz um acordo com o Carrefour: em troca 
de um grande desconto na aquisição dos produtos, aceita reduzir eventual reparação de danos que venham a surgir 
por ocasião de eventos futuros. 
ATENÇÃO! Essa exceção só se aplica para pessoa jurídica e deve haver situação justificada para a limitação da 
indenização (art. 51, I, 2ª parte CDC). 
 
# Reparação do dano moral: 
Dano moral é a ofensa a um direito da personalidade (a dor e o abalo psicológico são meras consequências). A 
reparação do dano moral encontra amparo nos arts. 5º, V e X CF, 6º, VI CDC e 1º, caput, LACP. O dano moral 
desempenha uma dupla função: 1) compensatória: quando um dano moral ocorre, não é possível recompor a 
situação anterior (os direitos da personalidade não podem ser valorados), havendo tão somente uma compensação 
econômica à vítima; 2) punitiva: tem um papel pedagógico de modo a evitar que o fornecedor continue abusando 
no mercado de consumo. 
 
Pergunta: O inadimplemento de um contrato gera, POR SI SÓ, dano moral? Em regra, NÃO!!! Em algumas 
situações excepcionais (seja pela natureza do contrato ou pela gravidade do descumprimento), o inadimplemento 
pode gerar a condenação em danos morais. 
 Ex: Isabela contrata um buffet para a sua festa de casamento. No dia do casório, o buffet não comparece, 
descumprindo a sua obrigação principal. Tendo em vista a gravidade do inadimplemento, extrai-se uma ofensa à 
dignidade dos noivos, o que pode gerar dano moral. 
Ex2: negativa de cobertura de plano de saúde. 
Por fim, vale dizer que existem situações em que o dano moral é inerente à prática do ato ilícito. São as hipóteses 
de dano moral in re ipsa (dano moral presumido), bastando a prova do ilícito. 
Ex: inscrição indevida do nome do consumidor no SPC, salvo quando preexistente legítima inscrição (Súmula 385 
STJ). 
Ex2: apresentação antecipada de cheque pré-datado (Súmula 370 STJ). 
Ex3: devolução indevida de cheque (Súmula 388 STJ). 
 
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#DOD: Info 615 STJ (2017): O saque indevido de numerário em conta-corrente, reconhecido e devolvido pela 
instituição financeira dias após a prática do ilícito, NÃO configura, por si só, dano moral in re ipsa. O saque indevido 
em conta corrente não configura, por si só, dano moral, podendo, contudo, observadas as particularidades do caso, 
ficar caracterizado o respectivo dano se demonstrada a ocorrência de violação significativa a algum direito da 
personalidade do correntista. STJ. 3ª Turma. REsp 1.573.859-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 
07/11/2017 (Info 615). 
Ex: Pedro mantém uma conta poupança no Banco "ZZ". Determinado dia, Pedro constata que um terceiro 
conseguiu realizar um saque fraudulento e retirou R$ 2 mil de sua conta. O cliente procurou o gerente do banco 
comunicando o ocorrido. Depois de alguns dias, a instituição financeira efetuou a devolução dos valores sacados, 
reconhecendo que estes não foram feitos pelo autor, que foi vítima de ação criminosa. Mesmo assim, Pedro ajuizou 
ação de indenização por danos morais. Segundo o STJ, não se mostra razoável que o saque indevido de pequena 
quantia, considerada irrisória se comparada ao saldo que o correntista dispunha por ocasião da ocorrência da 
fraude, sem maiores repercussões, possa, por si só, acarretar compensação por dano moral. 
 
Sobre o tema, vale a pena recordar: O banco deve compensar os danos morais sofridos por consumidor vítima de 
saque fraudulento que, mesmo diante de grave e evidente falha na prestação do serviço bancário, teve que intentar 
ação contra a instituição financeira com objetivo de recompor o seu patrimônio, após frustradas tentativas de 
resolver extrajudicialmente a questão. STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 395.426-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, 
Rel. para acórdão Marco Buzzi, julgado em 15/10/2015 (Info 574). 
 
Ex: João mantém uma conta-poupança no Banco "XX". Determinado dia, João constata que um terceiro conseguiu 
realizar um saque fraudulento e retirou R$ 2 mil de sua conta. O cliente procurou o gerente do banco em diversas 
oportunidades tentando resolver a questão, mas a instituição não devolveu o dinheiro, razão pela qual João teve 
que ingressar com ação de indenização por danos materiais e morais. Na situação narrada, o STJ considerou que a 
instituição financeira não adotou nenhuma providência hábil a solucionar o problema narrado pelo consumidor, 
tanto que se fez necessário o ajuizamento de uma ação judicial, em que pleiteado, além do dano moral, aquele de 
cunho patrimonial, consistente nos valores sacados indevidamente da conta bancária. Tais circunstâncias são 
suficientes à caracterização do dano moral, porque não podem ser consideradas como meros dissabores, inerentes 
à vida social. 
 
# Dano moral coletivo: 
Parte da doutrina (minoritária) não admite a reparação do dano moral coletivo, sob o fundamento de que não 
existe dor e abalo psicológicocoletivo. Porém, a doutrina majoritária e o STJ admitem a figura do dano moral 
coletivo. NÃO se pode confundir a dor e o abalo psicológico com o dano moral. Existe sim a possibilidade de ofensa 
à moral de toda uma coletividade. 
Alguns requisitos podem ser citados para a configuração do dano moral coletivo, quais sejam: 
✓ Razoável significância do fato transgressor; 
✓ Repulsa social. REsp 1.221.756/RJ STJ: agência alocou caixa preferencial no 2º andar. Nesse caso, entendeu a 3ª 
Turma do STJ que essa coletividade de pessoas hipervulneráveis estava sendo ofendida em sua dignidade. 
 
DANO MORAL INDIVIDUAL DANO MORAL COLETIVO 
Objetivo: promover o retorno ao status quo ante Objetivo: punir o responsável pela lesão e inibir novas 
práticas ofensivas. Punir e inibir. 
Reparação limitada pela extensão do dano (944 
CC) e pelo princípio da compensação integral da 
lesão. Vítima não deve receber menos, nem mais. 
A reparação tem por objetivo redistribuir o lucro obtido 
pelo ofensor de forma ilegítima. 
Valor obtido com a indenização visa restituir de 
forma direta o dano causado à vítima. 
Restitui o dano de forma indireta, porque o ganho é 
revertido para o fundo de reconstituição dos bens 
coletivos (art. 13 da Lei nº 7.347). 
 
ATENÇÃO!!! IMPORTANTE!!! TEORIA DO DESVIO PRODUTIVO. É cabível indenização por danos morais em caso de 
demora excessiva para atendimento na fila do banco? Info 641 STJ (2019): A mera invocação de legislação municipal 
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que estabelece tempo máximo de espera em fila de banco NÃO é suficiente para ensejar o direito à indenização. 
Em outras palavras, o simples fato de a pessoa ter esperado por atendimento bancário por tempo superior ao 
previsto na legislação municipal não enseja indenização por danos morais. 
Ex: a lei estipulava o máximo de 15 minutos e o consumidor foi atendido em 25 minutos. No entanto, se a espera 
por atendimento na fila de banco for excessiva ou associada a outros constrangimentos, pode ser reconhecida 
como provocadora de sofrimento moral e ensejar condenação por dano moral. 
Ex1: em um caso concreto, o STJ reconheceu que houve dano moral indenizável porque restou provado que a 
consumidora, no dia do fato, estava com a saúde debilitada e ficou esperando, em pé, durante muito mais tempo 
do que a lei estabelecia, sem que houvesse um banheiro que ela pudesse utilizar. A indenização foi fixada em R$ 3 
mil (STJ. 3ª Turma. REsp 1218497-MT, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 11/9/2012). 
Ex2: em outra situação, o STJ reconheceu que houve dano moral na hipótese em que o consumidor ficou 
aguardando 2h07m para ser atendido na agência bancária. O STJ afirmou que tal período de tempo configura uma 
espera excessiva, que é causa de danos extrapatrimoniais. A indenização foi fixada em R$ 5 mil (STJ. 3ª Turma. REsp 
1662808/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/05/2017). O descumprimento da lei municipal que 
estabelece parâmetros para a adequada prestação do serviço de atendimento presencial em agências bancárias é 
capaz de configurar DANO MORAL DE NATUREZA COLETIVA. “O dano moral coletivo é a lesão na esfera moral de 
uma comunidade, isto é, a violação de direito transindividual de ordem coletiva, valores de uma sociedade 
atingidos do ponto de vista jurídico, de forma a envolver não apenas a dor psíquica, mas qualquer abalo negativo 
à moral da coletividade, pois o dano é, na verdade, apenas a consequência da lesão à esfera extrapatrimonial de 
uma pessoa.” (Min. Mauro Campbell Marques). O dano moral coletivo é o resultado de uma lesão à esfera 
extrapatrimonial (moral) de determinada comunidade. Ocorre quando o agente pratica uma conduta que agride, 
de modo totalmente injusto e intolerável, o ordenamento jurídico e os valores éticos fundamentais da sociedade 
em si considerada, provocando uma repulsa e indignação na consciência coletiva (Min. Ricardo Villas Bôas Cueva). 
A violação aos deveres de qualidade do atendimento presencial, exigindo do consumidor tempo muito superior aos 
limites fixados pela legislação municipal pertinente, afronta valores essenciais da sociedade, sendo conduta grave 
e intolerável, de forma que se mostra suficiente para a configuração do dano moral coletivo. 
A instituição financeira optou por não adequar seu serviço aos padrões de qualidade previstos em lei municipal e 
federal, impondo à sociedade o desperdício de tempo útil e acarretando violação injusta e intolerável ao interesse 
social de máximo aproveitamento dos recursos produtivos, o que é suficiente para a configuração do dano moral 
coletivo. A condenação em danos morais coletivos cumprirá sua função de sancionar o ofensor, inibir referida 
prática ilícita e, ainda, de oferecer reparação indireta à sociedade, por meio da repartição social dos lucros obtidos 
com a prática ilegal com a destinação do valor da compensação ao fundo do art. 13 da Lei nº 7.347/85. 
 
DIREITO DE ACESSO À JUSTIÇA (INV. VII) 
O acesso à justiça é assegurado pela previsão de assistência jurídica, administrativa e técnica aos necessitados, pelo 
foro privilegiado (art. 101, I – possibilidade de o consumidor demandar em seu domicílio) e pela previsão de ações 
coletivas. 
 
 DIREITO À INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA 
Será tratado em tópico separado. 
 
DIREITO À PRESTAÇÃO ADEQUADA E EFICAZ DE SERVIÇOS PÚBLICOS 
Os servidos públicos considerados objetos de relação de consumo devem ser prestados com eficiência. 
 
 
Relação Jurídica de Consumo 
Conceito de 
Consumidor 
CONSUMIDOR EM SENTIDO ESTRITO (STANDARD OU STRICTO SENSU) 
CDC, Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou 
serviço como destinatário final. Veja que a pessoa jurídica também pode ser consumidora. É 
consumidor tanto aquele que adquire, quanto aquele que utiliza o produto ou serviço. Ex: eu 
compro uma camisa em uma loja de presente para o meu pai. O meu pai não tem nenhuma 
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relação contratual com o fornecedor, mas por utilizar o produto também será considerado 
consumidor. Logo, se a camisa apresentar vício, o meu pai terá direitos à reparação material. 
 
Destinatário final = existem 3 teorias sobre a interpretação desse conceito jurídico 
indeterminado, quais sejam: 
 
✓ Teoria maximalista ou objetiva: destinatário final é o consumidor que retira o produto da 
cadeia de produção, ou seja, é o mero destinatário fático. Não é importante saber qual destino 
será dado ao produto (fins pessoais ou fins econômicos). Ex: empresa de tecidos que adquire 
maquinário para utilizar na sua produção têxtil é considerada consumidora. Crítica: essa teoria 
amplia demais o conceito de consumidor, trazendo para o abrigo do CDC pessoas não 
vulneráveis. 
 
✓ Teoria finalista ou subjetiva: consumidor é o destinatário fático E econômico do produto ou 
serviço. Somente será destinatário final aquele que adquirir o produto ou serviço para satisfazer 
necessidade própria, pessoal ou familiar, sem revendê-la ou incrementá-la à sua atividade 
profissional. Nesse sentido, o indivíduo que adquirir um produto para utilizá-lo na atividade 
profissional como insumo NÃO será considerado consumidor. É a teoria adotada no STJ! 
Ex: STJ já afastou a incidência do CDC para uma casa noturna que adquiriu aparelho de ar-
condicionado e contratou uma empresa para fazer instalação desse aparelho. O Tribunal alegou 
que o ar-condicionado seria utilizado na sua atividade econômica e o preço seria repassado ao 
usuário do serviço da casa noturna (logo, a casa noturna não é a destinatária final e, por isso, 
não pode ser considerada consumidora). 
Ex2: STF afastou a incidência do CDC por relação jurídica estabelecida entre empresa têxtil e 
empresa que fornecia algodão. 
 
Info 600 STJ (2017): Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor - CDC ao contrato de 
transportede mercadorias vinculado a contrato de compra e venda de insumos. 
 
Info 600 STJ (2017): Deve ser reconhecida a relação de consumo existente entre a pessoa 
natural, que visa a atender necessidades próprias, e as sociedades que prestam, de forma 
habitual e profissional, o serviço de corretagem de valores e títulos mobiliários. O fato de ter 
sido alto o valor do contrato e dos investimentos realizados não retira do contratante a sua 
condição de consumidor. O CDC é aplicável tanto ao comércio popular quanto ao consumo de 
alto padrão. 
 
Ex: João contratou a empresa “Dinheiro S.A Corretora de Valores” para que esta intermediasse 
operações financeiras no mercado de capitais. Em outras palavras, João contratou essa 
corretora para investir seu dinheiro na Bolsa de Valores. A relação entre João e a corretora é 
uma relação de consumo. 
 
Info 636 STJ (2018): A empresa corretora de Bitcoin que celebra contrato de conta-corrente com 
o banco para o exercício de suas atividades não pode ser considerada consumidora. Não se trata 
de uma relação de consumo. A empresa desenvolve a atividade econômica de intermediação de 
compra e venda de Bitcoins. Para realizar essa atividade econômica, utiliza o serviço de conta-
bancária oferecido pela instituição financeira. Desse modo, a utilização desse serviço bancário 
(abertura de conta-corrente) tem o propósito de incrementar sua atividade produtiva de 
intermediação, não se caracterizando, portanto, como relação jurídica de consumo, mas sim de 
insumo. Em outras palavras, o serviço bancário de conta-corrente é utilizado como implemento 
de sua atividade empresarial, não se destinando, pois, ao seu consumo final. Logo, NÃO se 
aplicam as normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor. 
 
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✓ Teoria finalista mitigada ou aprofundada: em algumas situações, o STJ tem admitido a 
aplicação do CDC, mesmo sendo o adquirente um consumidor intermediário. Nesses casos, o 
fundamento do STJ é o de que ainda que o indivíduo não seja destinatário econômico, é 
extremamente vulnerável e essa vulnerabilidade justifica a aplicação do CDC. Vulnerabilidade 
técnica (ausência de conhecimento específico acerca do produto ou serviço objeto de consumo), 
jurídica (falta de conhecimento jurídico, contábil ou econômico e de seus reflexos na relação de 
consumo), fática (situações em que a insuficiência econômica, física ou até mesmo psicológica 
do consumidor o coloca em pé de desigualdade frente ao fornecedor) e informacional (dados 
insuficientes sobre o produto ou serviço capazes de influenciar no processo decisório de 
compra). 
 
→ Info 600 STJ (2017): A condição de consumidor do promitente-assinante não se transfere aos 
cessionários do contrato de participação financeira. Caso concreto: João firmou contrato de 
participação financeira com a CRT (Companhia Riograndense de Telecomunicações). João é 
chamado aí de “promitente-assinante”. Posteriormente, a CRT foi privatizada e vendida para a 
OI. João tinha direito de receber a complementação de suas ações, mas estava agoniado e não 
queria esperar. Por isso, fez um contrato de cessão de seus direitos para uma empresa privada 
especializada em comprar créditos, com deságio. Assim, a empresa (cessionária) pagou um 
determinado valor para João (cedente) e ficou com os direitos relativos ao contrato de 
participação financeira. A empresa cessionária ajuizou, então, ação ordinária contra a OI S.A., na 
qual a autora afirma ser cessionária do contrato de participação financeira e requer a emissão 
da diferença de ações a serem subscritas com base no contrato. Na ação, a empresa pediu que 
fossem aplicadas as regras do Código de Defesa do Consumidor sob o argumento de que o 
cedente (João) era consumidor e, portanto, ela assumiu o crédito com a mesma natureza. No 
presente caso, a autora é uma empresa especializada em comprar créditos, sendo cessionária 
de milhares de contratos de participação financeira. Não há vulnerabilidade ou hipossuficiência 
do cessionário. Ademais, o pedido da demanda é apenas relacionado com as ações, não havendo 
qualquer discussão sobre o uso dos serviços de telefonia (isso sim é que configura a prestação 
dos serviços). 
 
→ Súmula 602 STJ (2018): O Código de Defesa do Consumidor é aplicável aos empreendimentos 
habitacionais promovidos pelas sociedades cooperativas. O STJ, há muito tempo, firmou a 
posição de que a cooperativa que promove um empreendimento habitacional assume posição 
jurídica equiparada a uma incorporadora imobiliária, estando sujeita, portanto, às disposições 
do Código de Defesa do Consumidor. Quando lança um plano habitacional, a cooperativa age 
como prestadora de serviços, e os seus cooperados (adquirentes) se equiparam a consumidores. 
Os cooperados adquirem o imóvel como destinatários finais e são considerados vulneráveis, 
razão pela qual se enquadram no conceito de consumidores. 
 
Consumidor por 
Equiparação 
Existem 3 tipos de consumidor por equiparação: 
 
1º) Em sentido coletivo: 
CDC, Art. 2º, Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que 
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. A finalidade dessa equiparação 
é instrumental: viabilizar a tutela coletiva dos direitos dos consumidores. 
Ex: uma fábrica de medicamentos coloca no mercado de consumo medicamentos danosos à 
saúde do consumidor. Por força dessa norma de equiparação, permite-se que o MP ingresse 
com ACP para retirar esse medicamento do mercado, possibilitando a tutela coletiva de todas 
as pessoas expostas aos riscos dessa atividade. 
Info 592 STJ (2016): Aplica-se o CDC ao condomínio de adquirentes de edifício em construção, 
nas hipóteses em que atua na defesa dos interesses dos seus condôminos frente a construtora 
ou incorporadora. 
 Caderno de Direito do Consumidor – Dayana da S. Sales – Siga @corujinha_juridica 
2º) “Bystander”: 
CDC, Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do 
evento. 
São pessoas que, embora não estejam diretamente ligados à relação de consumo, podem ser 
equiparadas a tal em razão de serem vítimas de algum evento danoso (acidente de consumo). 
Ex: incêndio na Boate Kiss em Santa Maria-RS → várias pessoas que estavam passando pela rua, 
ao se depararem com o incêndio, se dirigiram para prestar socorro e acabaram morrendo. Essas 
pessoas que só foram lá para prestar socorro não eram usuárias do serviço, ou seja, não eram 
consumidores em sentido estrito. Entretanto, como foram vítimas do acidente de consumo, 
essas pessoas devem ser consideradas consumidores equiparados. 
Ex2: explosão do Shopping de Osasco → destroços da explosão causaram ferimentos a pessoas 
que estavam do lado de fora do Shopping. 
Ex3: acidente aéreo com vítima terrestre. 
 
3º) Potencial ou virtual: 
CDC, Art. 29 Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as 
pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. 
Atenção! É preciso conjugar esse art. 29 com o princípio da vulnerabilidade!!! 
Ex: não aplicação do CDC ao contrato de franquia (RESp 687.322/RJ). 
Ex2: Isabela recebe uma notificação de que foi inscrita no SPC por não ter pago a sua conta da 
Vivo. Ocorre que Isabela nunca contratou com a Vivo!!! Não existe uma relação contratual entre 
Isabela e a Vivo, mas como ela está exposta a essa prática comercial (banco de dados de 
consumidores), ela pode se valer do CDC como consumidora por equiparação. Nesse exemplo, 
Isabela é vulnerável em relação a Vivo, seja técnica quanto economicamente. 
 
Conceito de 
Fornecedor 
CDC, Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou 
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, 
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição oucomercialização de produtos ou prestação de serviços. 
 
Info 642 STJ (2019): O conceito legal de “fornecedor” previsto no art. 3º do CDC abrange 
também a figura do “fornecedor aparente”, que consiste naquele que, embora não tendo 
participado diretamente do processo de fabricação, apresenta-se como tal por ostentar nome, 
marca ou outro sinal de identificação em comum com o bem que foi fabricado por um terceiro, 
assumindo a posição de real fabricante do produto perante o mercado consumidor. 
O fornecedor aparente, em prol das vantagens da utilização de marca internacionalmente 
reconhecida, não pode se eximir dos ônus daí decorrentes, em atenção à teoria do risco da 
atividade adotada pelo CDC. Dessa forma, reconhece-se a responsabilidade solidária do 
fornecedor aparente para arcar com os danos causados pelos bens comercializados sob a 
mesma identificação (nome/marca), de modo que resta configurada sua legitimidade passiva 
para a respectiva ação de indenização em razão do fato ou vício do produto ou serviço. 
 
Caso concreto: João comprou um notebook da marca Toshiba. Dois meses após a aquisição, o 
computador apresentou “defeito” (vício), ficando sem sinal e tela de imagem, impossibilitando 
o acesso aos arquivos produzidos. O consumidor levou várias vezes até a assistência técnica, 
mas não conseguiu resolver o problema, além de ter perdido todos os seus arquivos, incluindo 
fotos pessoais e trabalhos escolares. Diante disso, João ajuizou ação de indenização por danos 
morais e materiais contra a sociedade empresária SEMP TOSHIBA INFORMÁTICA LTDA. A SEMP 
TOSHIBA INFORMÁTICA LTDA apresentou contestação e, em preliminar, suscitou a carência da 
ação por ilegitimidade passiva ad causam. Isso porque o computador TOSHIBA adquirido pelo 
autor é importado, tendo sido produzido pela Toshiba Internacional. A SEMP TOSHIBA 
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INFORMÁTICA LTDA não produziu ou comercializou o equipamento adquirido pelo autor e, 
portanto, sustentou que não lhe incumbe a responsabilidade pela sua manutenção ou conserto. 
Não se exige do consumidor, vítima de evento lesivo, que investigue para saber se são empresas 
autônomas ou não, nem quem foi o real fabricante daquele produto. Assim, a legislação 
consumerista abraçou a teoria da aparência para responsabilizar aquele que, a despeito de não 
participar diretamente do processo de fabricação do produto, por ostentar a marca por ele 
utilizada, passa a ser responsabilizado pelos danos decorrentes dessa relação. A teoria da 
aparência, amplamente adotada no direito brasileiro, foi estruturada para proteção do terceiro 
de boa-fé, prestigiando aquele que se porta com lealdade em nome da segurança jurídica. 
 
Obs: Não se está dizendo que haverá a responsabilização de todo e qualquer fornecedor que 
ostentar a mesma marca de uma empresa globalmente reconhecida. O vínculo restará 
caracterizado quando, aos olhos do consumidor hipossuficiente, a relação da empresa com a 
cadeia de fornecimento for, conforme o caso acima explicado, indissociável ou não houver 
informação clara e suficiente que lhe permita a correta e perfeita identificação do real 
fabricante/fornecedor. 
A enumeração das atividades é meramente exemplificativa. Aqui, o elemento nuclear do 
conceito é a expressão “desenvolvem atividade”. É preciso que se trate de ATIVIDADE 
PROFISSIONAL, ou seja, exercida com: 
✓ Habitualidade (ex: carona não pode ser encarada como serviço de transporte, pois falta 
habitualidade); 
✓ Especialização (know-how sobre determinada atividade); 
✓ Finalidade econômica = deve haver uma contraprestação (ainda que indireta) por parte do 
consumidor. NÃO se exige finalidade lucrativa (ex: associação filantrópica hospitalar, que atende 
pessoas carentes e também os seus associados que colaboram mediante pagamento de 
mensalidades. Quando atender pessoas carentes, não haverá relação de consumo. Quando 
atender os seus associados, haverá relação de consumo, tendo em vista a finalidade econômica 
– RESp 519.310/SP). 
 
Obs: É preciso verificar se a atividade exercida está diretamente relacionada ao objeto principal 
do fornecedor. 
 
Ex: universidade tem como atividade principal o serviço educacional. Quando essa universidade 
quiser renovar a sua frota de carros e optar por vender vários dos seus automóveis antigos, ela 
não será considerada fornecedora, pois falta habitualidade nessa atividade. Ademais, só será 
considerado fornecedor aquele que desenvolver atividade profissional no MERCADO DE 
CONSUMO: espaço ideal não institucional, aonde são desenvolvidas atividades econômicas 
voltadas à circulação de produtos e serviços para a satisfação das necessidades dos 
consumidores. Nesse sentido, o STJ tem afastado a incidência do CDC em várias atividades por 
entender que elas não são desenvolvidas no mercado de consumo. Exemplos: 
 
STJ – Casos de não aplicação do CDC 
Serviços advocatícios 
Contratos de crédito educativo 
Relação condominial 
Locação predial urbana 
Previdência privada complementar fechada (Súmula 563 STJ) 
 
→ Súmula 608 STJ (aprovada em 2018): Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos 
contratos de plano de saúde, salvo os administrados por entidades de autogestão. 
 
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Conceito de 
Produto 
CDC, Art. 3º, §1º Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. Os conceitos 
de bem móvel e bem imóvel devem ser aproveitados do CC (arts. 79 a 84). 
 
Conceito de 
Serviço 
CDC, Art. 3º, § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante 
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as 
decorrentes das relações de caráter trabalhista. 
Somente o serviço remunerado será objeto da relação de consumo. Essa remuneração pode ser 
DIRETA ou INDIRETA. 
Ex de remuneração indireta: a relação entre o indivíduo que utiliza o facebook e essa rede social 
é considerada de consumo. Isso porque, as redes sociais vendem espaços publicitários para 
diversas empresas, o que caracteriza uma remuneração indireta. 
Ex2: milhas de cartões de crédito para passagem aérea. 
Ex3: passe livre para os idosos nos meios de transportes coletivo (essa isenção é transferida para 
todos os outros usuários desse serviço). 
→ Súmula 297 STJ: O CDC é aplicável às instituições financeiras. 
 
Serviços 
Públicos 
→ Pode um serviço público ser objeto de relação de consumo? SIM!!! Isso extrai-se dos 
seguintes dispositivos do CDC: 
✓ Art. 4º, VII: racionalização e melhoria dos serviços públicos; 
✓ Art. 6º, X: direito básico do consumidor à adequada e eficaz prestação dos serviços públicos 
em geral; 
✓ Art. 22: deveres aos fornecedores de serviços públicos. 
Somente os serviços públicos DIVISÍVEIS (é possível identificar os usuários) e MENSURÁVEIS (uti 
singuli) podem ser objeto de relação de consumo. 
Ex: serviço de água (é possível identificar o consumidor e medir o seu consumo). 
Ex2: serviço de energia elétrica. 
Ex3: serviço de telefonia. 
Por outro lado, os serviços indivisíveis e não mensuráveis não são objeto de relação de consumo. 
Ex: iluminação pública. 
Ademais, os serviços públicos próprios do Estado também NÃO podem ser objeto de relação 
de consumo, tais como segurança, educação e saúde públicas, prestação jurisdicional, etc. Esses 
serviços são pagos pela arrecadação dos tributos. 
# Importa saber qual é a natureza da remuneração para definir se é aplicável o CDC? 
1ª corrente – Para boa parte da doutrina não importa saber qual é a natureza da remuneração 
(taxa, tarifa ou preço público), já que o que importa é a natureza do serviço prestado (se é 
divisível e mensurável). 
2ª corrente – prevalecente no STJ – Defende que só será objeto de relação de consumo, o 
serviço público remunerado por tarifa ou preço público. O serviço remunerado por taxanão 
pode ser considerado relação de consumo. 
STJ: Afastou a incidência do CDC nos serviços notariais, já que as custas e emolumentos pagos 
pelos usuários dos serviços de cartórios tem natureza tributária (relação jurídica administro-
tributária, fora do mercado de consumo). 
 
 
Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo 
Responsabilidade 
Civil Subjetiva x 
Objetiva 
O CDC trouxe a responsabilidade objetiva para as relações de consumo. O direito privado 
tradicional estava fundado na responsabilidade subjetiva (exigência de prova de culpa), que se 
mostrava inadequado às defesas do consumidor. 
Fundamento da 
Responsabilidade 
Objetiva no CDC 
O CDC adotou a responsabilidade objetiva fundado na TEORIA DO RISCO DA ATIVIDADE: o 
fornecedor ao exercer uma atividade no mercado de consumo assume os riscos dessa 
atividade. Essa teoria é a única capaz de promover a justiça distributiva nas relações de 
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consumo: o fornecedor, através do mecanismo do preço, pode transferir os riscos sociais de 
sua atividade, diluindo-os para toda a sociedade de consumidores. 
Sistemática do 
CDC 
Temos 2 grandes regimes de responsabilidades disciplinadas no CDC: 
1º) Responsabilidade pelo fato do produto e do serviço; 
2º) Responsabilidade pelo vício do produto e do serviço. 
Teoria da 
Qualidade (Min. 
Herman 
Benjamin) 
A teoria da qualidade auxilia os operadores de direito a identificar qual o regime de 
responsabilidade deve ser utilizado e também a identificar se se trata de vício ou defeito. Essa 
teoria está assentada na ideia de que o CDC impõe um dever de qualidade ao fornecedor, a 
qual se biparte em: 
a) Qualidade-segurança: o fornecedor só pode colocar no mercado de consumo produtos que 
não ofereçam risco à saúde e à integridade física ou psíquica do consumidor; 
b) Qualidade-adequação: o fornecedor só pode colocar no mercado de consumo produtos que 
sejam adequados ao fim a que se destina. Essa adequação se biparte em: 
(1) Adequação-desempenho; 
Ex: se o consumidor adquire um celular e esse produto vem sem a função wifi, esse produto 
não é adequado ao fim a que destina, pois não tem bom desempenho. 
(2)Adequação-durabilidade: a durabilidade deve atender às expectativas do consumidor. 
Ex: televisão LCD, que tem vida média de 8 anos, dura apenas 2 anos, também não observa a 
qualidade no quesito adequação-durabilidade. 
► 1ª utilidade dessa teoria: 
O descumprimento do dever de QUALIDADE-SEGURANÇA atrai a incidência do regime de 
responsabilidade pelo FATO do produto ou do serviço. 
O descumprimento do dever de QUALIDADE-ADEQUAÇÃO atrai a incidência do regime de 
responsabilidade pelo VÍCIO do produto ou do serviço. 
► 2ª utilidade dessa teoria: 
O descumprimento da QUALIDADE-SEGURANÇA corresponde ao DEFEITO. 
Ex: consumidor adquire numa concessionária um veículo, pois foi informado de que este teria 
12 airbags. A expectativa do consumidor é que se ele se envolver em uma colisão frontal, o 
sistema de airbags será acionado e ele terá sua segurança protegida. Ocorre que ao bater de 
frente em um caminhão, o airbags não foi acionado. Trata-se de falha de segurança, que inseriu 
ao veículo uma potencialidade danosa. Aqui, falaremos em produto defeituoso. 
Enquanto o descumprimento da QUALIDADE-ADEQUAÇÃO corresponde ao VÍCIO. 
Ex: consumidor compra um ferro elétrico e este não atinge a temperatura ideal para passar 
roupa. Trata-se de vício de qualidade. Obs: Também se fala em vício, quando há disparidade 
quantitativa entre o que é informado ao consumidor e o que é efetivamente fornecido. 
DEFEITO VÍCIO 
É a falha de segurança (decorrente do 
descumprimento do dever de qualidade 
segurança) que insere no produto ou 
serviço uma potencialidade danosa por 
ele normalmente não possuída e, assim, 
inesperada pelo consumidor. 
É a inadequação do produto ou serviço ao 
fim a que se destina, decorrente do 
descumprimento do dever de qualidade 
adequação (vício de qualidade), ou ainda a 
diferença quantitativa entre o que é 
informado ao consumidor e o que é 
efetivamente fornecido (vício de 
quantidade). 
 
Responsabilidade 
Civil pelo Fato do 
Produto 
CDC, Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador 
respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados 
aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, 
fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por 
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. Trata-se de 
responsabilidade OBJETIVA (independentemente da existência de culpa). 
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Os danos são causados por DEFEITO, ou seja, pelo descumprimento do dever de qualidade-
segurança. Ex: aparelho barbeador elétrico que vem com defeito na lâmina e corta o rosto do 
consumidor. 
Fabricante = é aquele que efetivamente participa do processo de fabricação do produto. É 
fabricante não apenas quem fabrica integralmente um produto, mas também aquele que 
fabrica uma peça ou componente do produto e também o montador. 
Produtor = é aquele que coloca no mercado de consumo produtos de origem animal ou 
vegetal. 
Construtor = é aquele que disponibiliza no mercado de consumo bens imóveis. 
Importador = é aquele que traz para o território nacional produtos fabricados ou produzidos 
em outros países. 
MNEMÔNICO: CPI DO FABRICANTE ou FPCI 
A doutrina, quando estuda o art. 12, identifica 3 espécies de fornecedores: 
1. Fornecedor real: é aquele que efetivamente participa do processo de fabricação do 
produto, ou seja, é o fabricante, o produtor e o construtor; 
2. Fornecedor presumido: é aquele que não participa do processo de fabricação, produção ou 
construção do produto. É apenas o intermediário entre o consumidor e quem fabrica. Ex: 
importador. 
3. Fornecedor aparente: o exemplo mais citado é o do franqueador, que coloca sua marca nos 
produtos vendidos nas lojas franqueadas. Ex: ovo de páscoa da Cacau Show → o consumidor 
poderá demandar, por defeito no produto, o dono da franquia. 
Atenção! O CDC trouxe uma técnica de responsabilização dos fornecedores. Quando o CDC 
utilizar a expressão fornecedor (gênero), sem discriminar nenhuma espécie, todos aqueles 
que participarem da cadeia de fornecimento são solidariamente responsáveis (ex: art. 14 – 
responsabilidade pelo fato do serviço). De outro lado, quando o CDC discrimina os 
fornecedores, como é o caso do art. 12, só serão responsáveis os fornecedores nominados. 
 
Quais são os pressupostos para que o fornecedor seja responsável por fato do produto? São 
4 pressupostos: 
1º) Conduta: provar que o fornecedor colocou o produto no mercado de consumo. 
Ex: Bernardo compra um óculos ray-ban na 25 de março. Depois de muito utilizar os óculos, 
começa a apresentar dor de cabeça e a córnea avermelhada. Resolve ir a um oftalmologista e 
descobre que está com uma lesão na córnea. Bernardo promove uma ação em face da ray-
ban por acidente de consumo. A ray-ban alega que não colocou o produto no mercado, pois 
trata-se de produto falsificado. Nesse caso, estará ausente o pressuposto da conduta. 
2º) Dano (extrínseco ao produto): só há acidente de consumo quando o defeito causa um 
dano externo, ou seja, aquele que extrapola os limites da depreciação econômica do produto. 
Ex: Barbara adquire uma motocicleta, que veio com uma falha de segurança no sistema de 
freios. Barbara usou a motocicleta por algum tempo e consegue detectar esse defeito na 1ª 
revisão, apesar de não ter sofrido nenhum dano à sua integridade física ou psíquica. Nesse 
caso, o dano não extrapolou a depreciação econômica do produto, pois o defeito provocou 
tão somente uma redução no valor de mercado da moto. Para atrair a responsabilidade do 
fatodo produto, o dano precisa ser externo (ex: imagine que Barbara não tivesse detectado o 
defeito e vem a sofrer um acidente após colidir com outro veículo em razão de não conseguir 
frear). 
3º) Nexo causal: entre a conduta do fornecedor e o dano. 
4º) Defeito: há uma presunção legal ou uma inversão legal do ônus da prova (art. 13 CDC), já 
que o consumidor não precisa provar esse pressuposto!!! 
CDC, Art. 12 § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele 
legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as 
quais: 
I - sua apresentação; 
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II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; 
III - a época em que foi colocado em circulação. 
 
A doutrina apresenta 3 tipos de defeitos de produto: 
a) Defeito de concepção ou criação: a falha de segurança é inserida no momento em que é 
feita a concepção do produto. O defeito está na ideia, no projeto, na fórmula empregada. Suas 
características são a inevitabilidade (escapam a qualquer controle de qualidade) e a 
universalidade (alcançam todos os produtos de uma série). 
Ex: laboratório que fabrica medicamentos escolhe uma matéria-prima, que torna o 
medicamento excessivamente perigoso à saúde do consumidor. 
Ex2: erro no design de determinado veículo: o compartimento do pneu estepe é 
exageradamente perigoso ao consumidor em razão da existência de superfície cortante. 
Ex3: Samsung Galaxy 7 veio com um defeito de concepção: a escolha inadequada da matéria-
prima utilizada para a fabricação da bateria do produto estava fazendo o telefone explodir. 
b) Defeitos de fabricação: são os decorrentes de falhas nos processos de fabricação, 
montagem, manipulação ou acondicionamento dos produtos. Tem como características a 
inevitabilidade e a pontualidade (se manifestam apenas em alguns exemplares do produto). 
Ex: erro no acondicionamento de um produto alimentício, que se torna impróprio ao consumo. 
c) Defeito de comercialização: são os decorrentes de falhas na apresentação do produto, 
assim como nas informações inadequadas ou insuficientes ao consumidor. 
Ex: caixa de fogos de artifício não informa adequadamente a como usar esses fogos de maneira 
segurança. Aqui, a falha de segurança não está no produto em si, mas sim no modo como ele 
se apresenta. Por essa razão, a doutrina em geral considera um defeito extrínseco, diferentes 
dos defeitos de concepção e fabricação, considerados intrínsecos. 
 
Por fim, vale ressaltar a regra dos §§1º e 2º do art. 8º: 
CDC, Art. 8º §1º Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as 
informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam 
acompanhar o produto. (Redação dada pela Lei nº 13.486, de 2017) 
§ 2º O fornecedor deverá higienizar os equipamentos e utensílios utilizados no fornecimento 
de produtos ou serviços, ou colocados à disposição do consumidor, e informar, de maneira 
ostensiva e adequada, quando for o caso, sobre o risco de contaminação. (Incluído pela Lei nº 
13.486, de 2017) 
 
# Responsabilidade do COMERCIANTE: 
Em quais hipóteses o comerciante pode ser responsabilizado pelos danos causados por 
produtos defeituosos? 
CDC, Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando: 
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados (é o 
chamado “produto anônimo”, sem identificação alguma); 
II - o produto for fornecido sem identificação CLARA do seu fabricante, produtor, construtor 
ou importador (é o produto mal identificado); 
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. 
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de 
regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento 
danoso. 
A responsabilidade do comerciante tem natureza SUBSIDIÁRIA, segundo a posição 
prevalecente na doutrina, ou seja, só será possível nas hipóteses previstas nos incisos do art. 
13 CDC. Vale dizer que uma vez verificada uma dessas hipóteses, o comerciante responderá 
SOLIDARIAMENTE com os demais fornecedores. Há, porém, entendimento minoritário 
(Marinoni) no sentido de que a responsabilidade é DIRETA, sendo tão somente 
CONDICIONADA à comprovação de uma das situações dos incisos do art. 13. 
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# Direito de regresso e denunciação da lide: 
CDC, Art. 13 Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer 
o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do 
evento danoso. 
CDC, Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de regresso poderá 
ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos 
autos, vedada a denunciação da lide. 
Como visto, o comerciante responde pelos danos causados por defeitos em caso de 
comercialização de produto sem identificação do produtor (produto anônimo). O comerciante 
poderá exercer o direito de regresso contra o produtor real. 
Embora esse direito de regresso esteja previsto no art. 13 (que trata da responsabilização do 
comerciante), ele também pode ser exercido pelos demais fornecedores (construtor, 
produtor, importador e fabricante). 
O direito de regresso pode ser exercido em processo autônomo ou nos mesmos autos, sendo 
VEDADA a denunciação da lide (isso geraria um atraso na prestação jurisdicional, o que 
prejudicaria o consumidor). 
Obs: Na responsabilização pelo fato do serviço, não há vedação expressa da denunciação da 
lide. Discute-se se é possível fazer uma interpretação extensiva do art. 88 no sentido de vedar 
a denunciação da lide também na responsabilização pelo fato do serviço. Por muito tempo, as 
próprias Turmas do STJ divergiam sobre o tema. Recentemente, as Turmas do STJ alinharam 
o seu entendimento, passando a interpretar extensivamente o art. 88: a denunciação da lide 
é vedada tanto na responsabilização pelo fato do produto, quanto na responsabilização pelo 
fato do serviço. 
 
Causas de 
Exclusão da 
Responsabilidade 
CDC, Art. 12 § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será 
responsabilizado quando provar: 
I - que não colocou o produto no mercado → NÃO se exige que a colocação do produto no 
mercado de consumo seja dolosa, ou seja, a colocação culposa (por negligência, por exemplo) 
também ensejará a responsabilização do fornecedor. 
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste → há uma inversão 
legal do ônus da prova: se o consumidor provar a conduta do fornecedor, o dano por ele sofrido 
e o nexo causal entre a utilização do produto e o dano, presume-se o defeito do produto. 
Ex: consumidor comprou um veículo 0 km e sofreu um acidente. Ele propõe uma ação contra 
a montadora, alegando que havia uma falha no sistema de freios. Se o consumidor provar que 
houve um dano, o fornecimento do veículo e o que o acidente foi ao utilizar o veículo, presume-
se o defeito. Competirá à montadora provar a inexistência do defeito. 
III - a culpa EXCLUSIVA do consumidor ou de terceiro (o terceiro deve ser absolutamente 
estranho à cadeia de fornecimento – ex: representante autônomo e preposto não são 
terceiros, na forma do art. 34 CDC) 
Ex de culpa exclusiva do consumidor: senhor de 65 anos começa a consumir Viagra e toma 5 
comprimidos por dia. Esse senhor sofre uma parada cardíaca. Aqui, não existe nenhum 
problema no medicamente, o dano foi causado por culpa exclusiva do consumidor que não 
observou a prescrição médica de tomar apenas 1 comprimido por dia. 
 
E a culpa concorrente da vítima (art. 945 CC)? NÃO exclui a responsabilidade do fornecedor!!! 
Ex: uma determinada montadora faz um recall e convida todos os consumidores que 
adquiriram determinado veículo

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