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3 EDIÇÃO In tegração un ivers idade e empresa impu ls iona a c r iação de a tum novembro/ dezembro 2016 aq u ac u lt u re b ra si l. co m IS SN 2 52 5- 33 79 Exemplo para o Brasil: AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 20162 A melhor solução nutricional para camarões Chegou ao Brasil a linha de produtos mais completa para a nutrição de camarões. Produtos e serviços inovadores com qualidade e tecnologia mundial Skretting. www.skretting.com.br 3AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 w w w . a q u a c u l t u r e b r a s i l . c o m 2017 BEM-VINDO! Feliz ano novo! São os votos da equipe Aquaculture Brasil! AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 20164 urante a FENACAM 2016, realizada entre os dias 21 a 24 de novembro em Fortaleza (CE), gravamos uma série de entrevistas com a todos referia-se às suas perspectivas para a aquicultura brasileira em 2017. É impossível que todos estes especialistas tivessem ensaiado a mesma resposta. Um otimismo absoluto sobre o crescimento, recuperação de algumas culturas e consolidação da aquicultura nacional. Sabe quando o treinador determina o que seus jogadores devem falar para a imprensa nas entrevistas coletivas? Pois é, até pareceu isto. Mas não foi! As respostas eram dadas com aquele brilho no olhar, de quem acredita na aquicultura brasileira. O resultado destas entrevistas será divulgado a partir de janeiro de 2017 no portal online da AQUACULTURE BRASIL e também em nossas mídias sociais. Paulo é um exemplo. Os frutos desta nova fase de maior sintonia entre os diferentes elos da cadeia produtiva aquícola brasileira serão despescados nos próximos anos. Aliás, já em 2017, cerca de 1.840 toneladas de peixes serão despescadas por dia no Brasil. Enquanto você lê este editorial, mais um tanque-rede foi “pescado”. Algumas pessoas nos perguntaram o porquê do nome AQUACULTURE BRASIL. A ideia, entre outras, é mostrar a aquicultura brasileira para o mundo. Inclusive, dois artigos desta edição serão disponibilizados integralmente em inglês no nosso portal online. Neste sentido vem muito mais novidades por aí... Por outro lado, também se faz necessário trazer informações relevantes e conhecimento técnico de outros países. Há muito o que se aprender “lá fora”. O resultado é o nosso artigo de capa. Integração universidade e setor produtivo no México. Uma das grandes lutas da PeixeBR (Associação Brasileira de Piscicultura) e atualmente questão essencial para o Brasil. As últimas palavras do último editorial de 2016 são de gratidão. Aproveito para agradecer a todos que acreditaram em nosso projeto, no portal online da AQUACULTURE BRASIL, em nossas mídias sociais, nos nossos cursos online e ao vivo, e em nossa revista. Obrigado de coração aos leitores, assinantes, colunistas, autores de artigos e de outras seções. Um agradecimento especial também às empresas parceiras. Sem vocês, nada disto seria possível. Um excelente 2017 a todos!! E d i t o r i a l Giovanni Lemos de Mello Editor D 5AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 azendo uma retrospectiva da FENACAM 2016 (Feira Nacional do Camarão), em frente ao mar na Praia de Iracema (CE), consegui perceber a Como uma pequena molécula de RNA ou DNA pode nos impactar tanto? E como em tudo, o problema é dos outros até que vivenciamos na nossa própria pele. A FENACAM 2016 foi uma verdadeira festa de energia e motivação. Filas para obter informações nos stands sobre kits de análise de água, suplementos alimentares, geomembranas, aeradores, mangueiras micronizadas, blowers, etc. Raceways até uma grama (peso do juvenil de camarão marinho) asiático? Intensivo moderado ou superintensivo? Larva livre? Larva robusta ou de crescimento rápido? A importância da temperatura e da alcalinidade. Pequenos pensando no manejo de fases. No fundo, tudo depende do tamanho do seu bolso e da sua capacidade de execução técnica, mas também de sua motivação. E o que não faltou na FENACAM 2016 foi motivação. O primeiro da fase moderna da carcinicultura marinha brasileira, o IMNV, me atingiu no ano de 2003. Pegou-me trabalhando no programa de melhoramento genético de uma grande empresa do setor, vendida na sequência a uma multinacional da genética de suínos. Voltei para o Sul visando terminar meu doutorado e assumi a gerência de produção de um importante e recentemente construído laboratório de produção de larvas, separando diferentes populações, e motivado no desenho de um pequeno programa de melhoramento local. O segundo vírus letal chegou arrasador em 2004: o WSSV. Esse aí me fez perder a casa. O IMNV tinha reduzido a mão de obra especializada no Nordeste. A crise de dumping americano e a falta de mercado interno hoje consolidado, somado a vários problemas pessoais que me ataram ao Brasil. Sofri. e em função do plano de expansão das Universidades do Governo Lula (REUNI), me candidatei a pesquisador e professor universitário. O atual Marco Legal de Ciência e Tecnologia permite e estimula professores .sadavirp saserpme moc airecrap e satirtse seõçaler ret a soirátisrevinu Uma saída do governo para a crise do orçamento em pesquisa e educação. Sobrevivi, outros, morreram. Depende da quantidade de matéria orgânica acumulada em nossa inspiração. Muitos de vocês passaram por situações semelhantes à minha, Motivação e empreendedorismo é importante, porém, com o pé Como a AQUACULTURE BRASIL. F a l a G r i n g o ! Rodolfo Petersen Co-Editor F O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA BRASILEIRA! EDITOR: Giovanni Lemos de Mello redacao@aquaculturebrasil.com COLABORAÇÃO: Jéssica Brol jessica@aquaculturebrasil.com GERENTE COMERCIAL: Diego Molinari diego@aquaculturebrasil.com DIREÇÃO DE ARTE: Taiane Lacerda taiane@aquaculturebrasil.com COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Aedrian Ortiz Johnson, Alex Augusto Gonçalves, Artur N. Rombenso, Danilo Alves Pimenta Neto, David S. Francis, Denise Aparecida Andrade de Oliveira, Felipe Matarazzo Suplicy, Fernando Barreto-Curiel, Gabriel Fernandes Alves Jesus, Giovanni M. Turchini, Jessica A. Conlan, Jorge Chávez Rigaíl, Jose A. Mata-Sotres, José Luiz Pedreira Mouriño, Karen Hermon, Katt Regina Lapa, Lilian Viana Teixeira, Marco Shizuo Owatari, Maria T. Viana, Matthew Jago, Maurício Laterça Martins, Michael Lewis e Thomas Mock. Os artigos assinados e imagens são de responsabilidade dos autores. COLUNISTAS: Alex Augusto Gonçalves Andre Muniz Afonso André Camargo Artur Nishioka Rombenso Eduardo Gomes Sanches Fábio Rosa Sussel Luís Alejandro Vinatea Arana Marcelo Roberto Shei Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Ricardo Vieira Rodrigues Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen Santiago Benites de Pádua As colunas assinadas e imagens são de responsabilidade dos autores. QUER ANUNCIAR? publicidade@aquaculturebrasil.com QUER ASSINAR? aquaculturebrasil.com/assinatura assinatura@aquaculturebrasil.com QUER COMPRAR EDIÇÕES ANTERIORES? aquaculturebrasil.com/ediçõesanteriores NOSSA REVISTA É IMPRESSA NA: COAN gráfica LTDA. / coan.com.br Av. Tancredo Neves,300, Tubarão/SC, 88704-700. A revista AQUACULTURE BRASIL é uma publicação bimestral da EDITORA AQUACULTURE BRASIL LTDA ME. (ISSN 2525-3379). www.aquaculturebrasil.com Av. Senador Galotti,329, Mar Grosso, Laguna/SC, 88790-000. A AQUACULTURE BRASIL não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios de terceiros. AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 20166 B e m - v i n d o com grande prazer que escrevo esta nota para a terceira edição da AQUACULTURE BRASIL. Quando recebi o convite do editor gostaria de dar boas-vindas aos novos leitores e agradecer a todos leitores, autores e colaboradores da nossa revista. Atualmente existe muita informação disponível sobre todos os temas, e autêntico e o que é equivocado. É nesse contexto que surge um dos objetivos da AQUACULTURE BRASIL: complementar as fontes de informação atualmente área, empresas, empreendedores, ou seja, todos do setor aquícola sem nenhuma restrição,através de um conteúdo relevante, autêntico, inovador e didático, mas sem competir com outras revistas e jornais aquícolas. Nossa equipe (colunistas, autores e equipe editorial) compartilha da visão e opinião de que é importante o envolvimento do leitor de tal maneira que sinta estar adquirindo o valor e o conhecimento do conteúdo de nossa revista. Após a leitura de um artigo esperamos respostas como: “Bem interessante, preciso tentar isso”, “Vou buscar mais sobre esse assunto”, “Agora entendo como isso funciona”, “Essa abordagem poderia ser implementada no meu campo de trabalho” ou “Isso poderia aprimorar meu sistema economizando tempo e dinheiro”. Nessa terceira edição esperamos superar sua expectativa através de artigos e informações originais de diversos segmentos aquícolas, numa apresentação clara e bonita, e também com novas seções. Em caso de dúvida, comentário ou sugestão, peço que nos contate através de nossos e-mails pessoais ou da equipe editorial. Ideias para temas de colunas e artigos são sempre bem-vindas, e também encorajamos você a interagir e a colaborar com a AQUACULTURE BRASIL através das seções “Foto do Leitor”, “Pescado no Varejo”, “Defendeu”, “Artigos”, entre outras. Queremos e publicamos nossa revista. AQUACULTURE BRASIL nasceu em um ano de profunda crise econômica e política em nosso país, e que nesses períodos de crise muitas vezes surgem novas ideias e soluções para AQUACULTURE BRASIL em contribuir com todos os leitores, principalmente na atual realidade brasileira que precisa ser enfrentada com amplo conhecimento. Aproveito também para desejar a todos um Natal repleto de alegrias e um Novo Ano de muitas realizações. Boa leitura! Artur Nishioka Rombenso Co-Editor É 7AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 ue a vida do aquicultor brasileiro não é fácil, isso já sabemos. 2016 foi atípico, particular e de muitas batalhas. O aquicultor tupiniquim vivenciou o aumento de diversos insumos utilizados na no Nordeste, tempestades torrenciais no Sudeste e até ciclones no Sul. Aqui no nosso querido Sul, por exemplo, foram mais de três episódios de ventos ultrapassando 120 km/h em menos de 45 dias! Cidades inteiras sem luz por dias e até nossa sofrida estufa experimental da UDESC, construída com muito suor, veio abaixo. São Pedro anda maluco lá em a exemplo do vírus da mancha branca que devastou a carcinicultura no Ceará. Não bastasse, bacterioses nas tilápias deram as caras em diversos estados e ainda endoparasitoses em peixes redondos não foram fatos isolados no Norte brasileiro. Nossa! Quanta coisa num só ano. tecnológica para vencer as doenças. Superação frente à crise hídrica. Superação econômica frente à recessão (aqui vale um parêntese: encontrar novos nichos de mercado e colocar todos os custos de produção minuciosamente na ponta do lápis serão tarefas contínuas para o aquicultor). Não prática, para empreendimentos pequenos, com áreas menores de 5 hectares?). Sem falar do tema mais que polêmico: a liberação da importação do camarão da Argentina. É meus amigos... temos que respirar fundo. Mas tenho a mais absoluta convicção que 2017 será um “divisor de águas”. Ano de nos reinventarmos e aprender com as lições do passado. Sou otimista. Sempre serei. Tenho certeza que será um ano de muito progresso para a aquicultura nacional! Feliz 2017 a todos! O p i n i ã o D e s a f i o s e s u p e r a ç ã o : a s p a l a v r a s p a r a 2 0 1 7 ! Q Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Co-Editor AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 20168 10 FOTO DO LEITOR 8 » p.28 S U M Á R I O AQUACULTURE BRASIL » p.22 » p.34 12 MÉTRICAS DA FANPAGE 14 Soft Crab a partir do Callinectes sapidus: um oportunidade de mercado 22 NOVO PLANO ESTRATÉGICO POSICIONARÁ A MARICULTURA CATARINENSE PARA UM CICLO VIRTUOSO DE DESENVOLVIMENTO 28 Estudos nutricionais na deakin university 34 HISTÓRIA, MITOS, VERDADES E DICAS EM ÉPOCAS DE MANCHA BRANCA 40 3O high quality tilapia congress: desafios e oportunidades da aquicultura no brasil 42 INTEGRAÇÃO UNIVERSIDADE E EMPRESA IMPULSIONA Avanços nutricionais na CRIAÇÃO DE ATUM 48 mÍDIAS BIOLÓGICAS PARA SISTEMAS DE RECIRCULAÇÃO EM AQUICULTURA (ras) 52 avaliação da substituição da biomassa natural utilizada na alimentação de reprodutores de camarão ( LITOpenaeus vannamei ) pela dieta vitalis 2.5 da skretting 60 A fraude em pescado e o método de dna barcode para identificação de espécies 64 artigos para curtir e compartilhar » p.14 » p.40 9AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 65 charGes 66 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS 68 GREEN TECHNOLOGIES 69 empreendedorismo aquícola 70 nutrição 72 atualidades e tendências na aquicultura 74 aquicultura latino-americana 76 RECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS 77 RANICULTURA 78 Aquicultura de precisão 79 Piscicultura MARINHA 80 TECNOLOGIA DO PESCADO 82 SANIDADE 84 defendeu 86 entrevista - Dr. Tzachi Samocha 91 NOVOS LIVROS 92 eles fazem a diferença 96 ESPÉCIES AQUÍCOLAS 98 Pescado no Varejo - apresentando o pescado para o consumidor final 9 » p.42 » p.48 » p.60 » p.86 » p.52 » p.84 AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201610 FOTO DO LEITOR Mamãe camarão (Paraipaba, CE) Autor: Augusto César Bernardo de Albuquerque Pesquisas com aquaponia (Laguna, SC) Autora: Tayná Sgnaulin Captura e engorda de atum (Algarve, Portugal) Autora: Jéssica Brol 11AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia-a-dia e participe desta seção. redacao@aquacul turebras i l . com Despesca de tambaqui (Macapá, AP) Autor: Paulo Roberto Melem Comporta 4 em 1 (Parazinho, RN) Autor: Alessandro Ferreira Alimentando tilápias no doutorado (São Carlos, SP) Autor: Renato Almeida AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201612 . 21.047 Pessoas alcançadas 28 comentários 95 compartilhamentos 712 curtidas 19 amei 14 d e Se te m br o 8.201 Pessoas alcançadas 12 comentários 102 compartilhamentos 395 curtidas 1 amei 1 uau 21 d e Se te m br o 24 d e Se te m br o 14.895 Pessoas alcançadas 23 comentários 119 compartilhamentos 696 curtidas 13 amei 16 uau . 5.789 Pessoas alcançadas 18 comentários 79 compartilha- mentos 301 curtidas 11 amei 5 uau2 6 de S et em br o curta-nos no facebook: www.facebook.com/ aquaculturebrasil Cooperativa no Ceará produz biodiesel a partir de resíduos de peixes Saiba como criar o pirarucu em tanques artifi ciais Betinho Oliveira, da FishTV Microalgas: é de comer? Os segredos desse superalimento! Fonte: globo.com Fonte: my.oceandrop Métricas da Fanpage 26 d e Se te m br o 13AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 26 d e Se te m br o 9.900 Pessoas alcançadas 29 comentários 96 compartilhamentos 576 curtidas 12 amei 1 uau 11.372 Pessoas alcançadas 19 comentários 61 compartilha- mentos 517 curtidas 11 amei 90 HaHa . . 6.944 Pessoas alcançadas 4 comentários 56 compartilhamentos 312 curtidas 5 amei 1 uau27 d e Se te m br o 01 d e O ut ub ro 5.802 Pessoas alcançadas 47 compartilhamentos 313 curtidas 4 amei 1 uau . 11.357 Pessoas alcançadas 44 comentários 65 compartilhamentos 726 curtidas 19 amei 2 uau 21 d e O ut ub ro 22 d e O ut ub ro Métricas da Fanpage II Seminário da Rede de Pesquisa do Camarão-da- Amazônia Dica de terça: Preciso saber o pH do solo do meu viveiro, e agora? Reportagem: Como criar pintado-real? Em breve, nas suas mãos!! Charge do @nicanor - Aproveitamento Integral de Pescado? Fonte: globorural.com AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201614 © Blueshell Brasil 15AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 s crustáceos são cobertos por um rígido exoesqueleto, ou cutícula, que consiste num complexo quitina–proteína impregnada por cálcio, que age como uma barreira física ao meio ambiente, e para o animal crescer, é necessáriaa troca deste exoesqueleto. A ecdise, ou seja, a troca do exoesqueleto é feita periodicamente du- rante a vida da maioria dos artrópodes, in- cluindo os crustáceos. O período de uma ecdise à outra é conhecido como ciclo de muda. [28] O portunídeo, Callinectes sapi- dus, conhecido vulgarmente por siri-azul (Figura 1), é um crustáceo de grande im- portância comercial, ocorrendo desde a nova Escócia (EUA) até o Rio da Prata (Uruguai) e o norte da Argentina. [3, 14, 20, 23, 25, 35] Como todos os crustáceos, o siri-azul troca seu exoesqueleto pelo menos 18-20 vezes (fêmeas) e de 20-25 vezes (machos) ao longo de sua vida para crescer. O siri mole desprotegido, emerge, expande sua nova carapaça mole, e cresce dentro do seu novo corpo. Este momento em que o siri emerge da sua antiga carapaça é conhecido como ou ou, (siri mole). [8, 15, 21, 22, 30] A facilidade relativa com que os siris podem trocar de exoesqueleto e o alto valor comercial do siri mole tem au- se da produção mundial de . [22] O método convencional da retirada de carne do siri apresenta um baixo rendi- mento: 10-15% de carne fresca. A partir do pode-se conseguir até 85- 95% de aproveitamento da carne e por este motivo seu cultivo vem crescendo desde a década passada. A produção e comercialização de (por exemplo, vas no comércio mundial de pescado. [22, 23] Introdução O Soft crab a partir do Callinectes sapidus: u ma o p o r tu n i d ad e d e mer ca d o Alex Augusto Gonçalves Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado (LAPESC), Departamento de Ciências Animais (DCAN) Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) alaugo@gmail.com AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201616 Para a pro- dução do crab deve-se tomar cuidado com o adequado supri- mento de siris, todos no estágio de pré-muda, com o método de cap- tura, sendo que um sem o outro poderá limitar a produção. Os siris são coletados em diferentes locais, separados por sexo (as fêmeas são descartadas) e transportados para os tanques de cultivo. Nesta eta- pa, os siris são separados manual- mente, de acordo com o estágio de muda (Figura 2, 4) e colocados nos tanques até o momento da ecdise (muda). [9, 15, 18, 21, 33] São utilizadas, hoje em dia, três diferentes maneiras de culti- contínuo de água e sistema de cir- culação fechada de água (Figura 3). O sistema mais utilizado é o de circulação fechada oferecendo vantagens sobre os demais com relação ao monitoramento dos fa- tores ambientais: a salinidade pode ser mantida a níveis constantes; a temperatura pode ser controlada nas diversas estações do ano; pode ser utilizada em qualquer local; etc. [7,22,31] Entretanto, o custo de construção e manutenção do sistema fechado de água pode ser grande. Além da necessidade do controle dos resíduos tóxicos liberados pelos siris. [16,17,32] O siste- ma de circulação fechada deve manter a qualidade da água em níveis aceitáveis (Tabela 1) para que a operação de cultivo de seja feita com sucesso. [9,10,11,15,21,24,33] S i s t e m a s d e c u l t i v o d o s i r i m o l e Figura 1. Siri-azul, Callinectes sapidus (www.paleospirit.com). [7] . © Alex Augusto Gonçalves 17AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 [7]. Tabela 1. Níveis aceitáveis da qualidade de água no sistema de recirculação fechada de água para o cultivo de . [11,12,13,22] I d e n t i f i c a ç ã o d o e s t á g i o d e m u d a Os siris azuis na pré-mu- inspeção visual. O método mais utilizado envolve uma mudança de coloração associada à formação de uma nova carapaça. Estas mu- danças de coloração também in- dicam o tempo até a muda. As- sim que a muda se aproxima, o novo exoesqueleto do siri começa a se formar e torna-se visível por baixo do exoesqueleto duro. Este novo exoesqueleto é mais visível, com uma linha (sinal) ao longo da extremidade dos últimos dois segmentos achatados do último pereiópode, em forma de remo lar- go (Figura 4).[21,22] Nos estágios que precedem a muda, a linha é branca, indi- cando que o siri mudará em duas semanas. Com o tempo de muda mais próximo, a linha indicadora mudará de cor gradualmente, sen - do que a linha rósea indica que o siri mudará em uma semana; e a linha avermelhada, indica que o siri mudará em três dias. [7,22,30] O último estágio da pré-muda é reconhecido pela condição física do exoesqueleto duro e não por um sinal colori - do. Uma ruptura desenvolve-se por baixo dos espinhos laterais e ao longo da extremidade posteri- or da carapaça. Neste ponto, o siri é denominado buster e inicia-se a muda propriamente dita, que pode ser completada em 2-3 horas, de- pendendo das condições do siri. Assim que a ecdise tenha iniciado, 15 a 30 minutos são necessários para sair de sua antiga carapaça. Neste ponto, o siri é extremamente mole e frágil (Figura 5). Outros 30-60 minutos são requeridos para o expandir ao máximo, ou seja, o siri absorve água (incha) para aumentar de ta - manho. Após atingir seu novo ta- manho inicia-se o enrijecimento, sendo que sua nova carapaça se tornará rígida em 12 horas. O siri então começa a comer e adicio- nar peso dentro da nova carapaça. Entretanto, uma vez removido da água, o processo de enrijecimen- to cessa, devendo ser retirado em uma hora após a absorção de água e após a completa expansão. Caso contrário, o processo de enrijeci- mento continua, causando danos à qualidade do [7,22,30] © Alex Augusto Gonçalves AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201618 (Sequência da esquerda para direita: mid-cycle, white sign, pink sign e red sign)1. Figura 5. Sequência do processo de muda (http://azharzul.com/auuww-ketam-lembut.html). P r o d u ç ã o e m e r c a d o Os são considerados como um item ali- mentar altamente valioso e, com isso, o desenvolvimento de tec- nologias de cultivo, com sucesso, tem encorajado a expansão des- ta indústria. Muitos dos estados americanos localizados na costa do Atlântico Sul e Golfo do México expandiram o cultivo de devido ao retorno econômico, à grande demanda e o esforço promocional do mesmo. [21,22,27] A indústria do (EUA) no ano de 1870, e atualmente é uma indústria multimilionária ao longo da costa leste dos EUA (da Baía de Chesapeake até Texas), for- necendo milhões de toneladas de e ainda milhões de dólares para os criadores a cada ano, sendo que Maryland, Virginia e Louisiana são os maiores produtores. [2,21,22,32] A produção comercial de no mercado nacional não existe, talvez pela falta de mão-de- obra especializada e/ou a falta de interesse por parte das indústrias processadoras de pescado. Alguns empreendimentos iniciaram já na década de 90, porém, experimen- talmente. Em 1989, Michael J. Os- terling [18,20] visitou o sul do Brasil, para avaliar o potencial das regiões ao redor da Lagoa dos Patos e siste- mas lagunares, para o estabeleci- mento de uma pesca direcionada ao siri-azul (C. sapidus). Este con- cluiu que deveria ser dada maior ênfase no desenvolvimento da in- dústria de carne de siri tradicional, por ser mais fácil e exigir pessoas sem experiência e, posteriormente a produção de , que requer mais experiência e treinamento na coleta, manuseio e durante a muda do siri. Algumas iniciativas de processar carne de siri foram feitas no início da década de 90, mas hoje o cenário é outro. © Alex Augusto Gonçalves © Alex Augusto Gonçalves 19AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 P r o c e s s a m e n t o Os siris azuis são comer- cializados de cinco formas: fresco inteiro, cozidos inteiros, carne fres- ca picada, carne pasteurizada pica- da e na forma do [29,34] Os são removidos do tanque de cultivo, limpos individualmente (Figura 6), sendo que o fronte (ros- trum), as brânquias, os pedúnculos do intestino, e o abdômen, devem ser retirados antes de embalados e acondicionados em freezer. [22,26,29] O destinado à exportação (vivos) deve ser apenas resfriado, embaladosob refrigeração (gelo), coberto com algas marinhas, e comercializado. O processamento tradi- cional do siri azul envolve a reti- rada da carne manualmente, além de necessitar cuidados higiêni- co-sanitários, o rendimento é muito baixo (10-15%). A carne é vendida fresca ou congelada, e pasteurizada, para aumentar sua vida-de-prateleira. Com isso, a comercialização deste produto pode ser feita durante 6 a 12 meses. As pinças ou quelas dos siris de- vem ser picadas manualmente ou por máquinas, embaladas e vendi- das frescas ou pasteurizadas. [23,29,34] O siri azul nunca é con- sumido fresco, cru (in natura), pois carrega muitas bactérias na cavidade visceral, podendo causar doenças ao homem, quando con- sumido sem um tratamento térmi- co (cozimento prévio). Deve haver cuidados especiais durante o pro- cessamento do siri: ( a ) Condições sanitárias no setor de retirada da carne; ( b ) O processo de cozimento e pasteurização; ( c ) Integridade da embalagem; ( d ) Controle de tempo/tem- peratura. [23,29,34] Indústrias comerciais de “carne de siri” contam com 10- 15% de rendimento, sendo que os demais 85-90% (carapaça, víscera e carne não picada) são moídos e adicionados ao alimento (ração animal). [7] embalado. [7] Va l o r n u t r i c i o n a l A carne de siri tem aproxi- madamente 80% de umidade, 16% de proteína e há poucos dados publicados dos constituintes nutri- cionais de , mas sabe-se que o conteúdo de proteína destes (Tabela 2) é menor do que o hard crab, devido a pequena proporção de tecidos musculares. A perda de proteína é balanceada pelo aumen- to do conteúdo de água, a qual é ati- vamente absorvida para a expansão na nova muda. Há também mais cinzas resultante da alta proporção de tecido destinado a elaboração do novo exoesqueleto. Quanto ao conteúdo lipídico, não há diferença [24] © Alex Augusto Gonçalves AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201620 Tabela 2. Composição centesimal do siri azul nas formas e hard . M a r k e t i n g e c o n s u m o d o s o f t c r a b O , da mesma ma- neira que muitos outros produ - tos marinhos são comercializados por dúzias, e não pelo peso, e ain- da são distribuídos por tamanho. Nomes tradicionais são designa- dos de acordo com os diferentes tamanhos: Mediums (8,9-10,2 cm); Hotels (10,2-11,4 cm); Primes (11,4-12,7 cm); Jumbos (12,7-14 cm); e Whales (>14 cm). Os mais comercializados são os mediums e hotels. [5,21,22] Enquanto que os têm sido comercializados tradi- cionalmente pelo tamanho, há um grande interesse em comer- cializá-los pelo peso. Da mesma maneira temos: Mediums (34,02- 53,87 g); Hotels (53,87-73,71 g); Primes (73,71-85,05 g); Jumbos (85,05-150,26 g); e Whales (superi- or a 150,26g). [22] Os vivos estão associados ao seu grau de fres- cor, e com isso o produto vivo tem alto preço, o que tem levado ao aumento desse tipo de comer- cialização. Se mantido sob-re- frigeração (4,4°C), possui uma vida-de-prateleira de aproxima - damente 7 dias. Entretanto, como o pico de produção de é determinado pela estação do ano (primavera-verão), a necessidade de preservar este produto tem leva- do à comercialização de outras for- mas, sendo o congelado (-17,7°C) o mais utilizado, pois mantém sua qualidade por 6-8 meses, sendo que a embalagem, a limpeza e o congelamento individual deter- minarão sua qualidade. [19,21,22,30] A prática comum do varejo é estocar o pré-embalado congela- do (-18°C) ou fresco (4,2°C). Podem ser processados de diversas maneiras, tais como: em- panado e frito, temperado e cozido, e na forma de bolinhos com os crabs - tre outros. [4] (Figura 8). Figura 7. prontos para comercialização. © Giovanni Lemos de Mello 21AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 C o n c l u s õ e s O siri azul (Callinectes sapidus) é um crustáceo de grande importância comercial, porém em sua forma fresca (hard crab ) apresenta baixo rendimento, pelo método convencional de aproveita- mento da carne (apenas 15 a 30%), enquanto que com o pode-se conseguir até 85 a 95% de rendimento. A captura do poderá representar uma impor - tante fonte de recursos extras para o setor pesqueiro, desde que se res- peite a época de captura da espécie. O sistema de cultivo mais indicado é o de circulação fechada de água, oferecendo al- gumas vantagens com relação aos fatores ambientais: a salini- dade pode ser mantida a níveis constantes; a temperatura pode ser controlada nas diversas es- tações do ano; pode ser utilizada em qualquer local; dentre outras. Existe um mercado no exterior para este produto e a produção mundial está em plena expansão devido à facilidade de obtenção, à grande demanda e, principalmente ao retorno econômico. A produção nacional de crab ainda que artesanalmente (não existe comercialmente), talvez pela falta de mão-de-obra especializada e/ou a falta de mercado consumi- dor e interesse por parte das in- dústrias processadoras de pescado, pode se tornar promissora, princi - palmente pelas vantagens ofereci- das pelo cultivo, processamento e comercialização deste crustáceo. 1. BLUE CRAB INFO – Blue Crab Archives. Disponível em: http://www.bluecrab.info/ - siana Sea Grant College Program, 1993. 3. CASTRO, K.M. et al. Resource assessment of Res., 7(3): 413-419, 1988. Inc., 1996. (Perry, H. M. & Malone, R.F. eds.), Gloucester Point (USA),1985. - cean molt cycle and hormonal regulation: Its Crab Fishery (Perry, H.M. & Malone, R.F. eds.), Gloucester Point (USA), 1985. 7. GONÇALVES, A. A. Utilização de siri mole: uma oportunidade. Revista Aquicultura & Pesca, 32: 36-42, 2008. 8. HALL-JÚNIOR, W. R. Delaware’s blue crab. Marine Advisory Service Bulletin, Delaware (USA), 1989. 9. HOCHHEIMER, J. Water quality conversation Series, Maryland (USA), 1: 1-7, 1985. 10. HOCHHEIMER, J. Water quality in crab shedding - Part I. What is good water quality? Shedder, Maryland (USA), 1(1): 1-4, 1985. 11. HOCHHEIMER, J. Water quality in crab shedding - Part II. Optimal ranges for good water 1986. shedding. Crab Shedders Workbook Series, Mary- land (USA), 2: 1-6, 1988(a) 13. HOCHHEIMER, J. Diluting water quality sam- - book Series, Maryland (USA), 3: 1-3, 1988(a). Options and Opportunities. Baton Rouge (USA): Louisiana Sea Grant College Program, 1992. 15. MALONE, R.F.; BURDEN, D.G. Design of recirculating blue crab shedding systems. Baton Rouge (USA): Louisiana Sea Grant College Program, 1988. 16. MALONE, R. F.; MANTHE, D. P. Chemical Crab Fishery (Perry, H.M. & Malone, R.F. eds.), Gloucester Point (USA), 1985. 17. MANTHE, D.P.et al. Elimination of oxygen used in closed recirculating aquaculture systems. Crab Fishery (Perry, H.M. & Malone, R.F. eds.), Gloucester Point (USA), 1985. crab Industry: Sources and Solutions. Gloucester Point (USA), Virginia Sea Grant Marine Resource Advisory, no 6, 1982. Sea Grant Marine Resource Advisory, no 7, 1983. evaluation. Gloucester Point (USA), Personal Communication, 1989. VIMS, 1993. 22. OESTERLING. M.J. Manual for handling and shedding blue crabs (Callinectes sapidus). Gloucester Point (USA), Special Report in Applied Marine Science and Ocean Engineering, 271: 1-91, 1995. crab industry in Venezuela, Ecuador and Mexico. Gloucester Point (USA), Virginia Sea Grant Ma- rine Resource Advisory Program, n. 1, 1995. 24. OTWELL, W.S.; KOBURGER, J.A. Microbial (Perry, H.M. & Malone, R.F. eds.), Gloucester Point (USA), 1985. 25. PAUL, R.K.G. 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WHEATON, F.W. & LAWSON, T.B. Processing aquatic food products. New York: John Wiley & Sons, inc., 1985. genus Callinectes (Decapoda: Portunidae). Seattle (USA): Fishery Bulletin, 72(3): 685-798, 1974. Figura 8. Algumas formas de preparo do © Blueshell Brasil AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201622 Novo Plano Estratégico posicionará a maricultura catarinense para um ciclo virtuoso de desenvolvimento Felipe Matarazzo Suplicy, Ph. D. Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca – CEDAP/Epagri felipesuplicy@epagri.sc.gov.br © Felipe Matarazzo Suplicy 23AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 om o expressivo crescimen- to da aquicultura a nível mundial, o planejamento de seu desenvolvimento vem se tornan- do cada vez mais importante. Um planejamento apropriado pode estimular e guiar a evolução do setor através da provisão de incen- tivos e garantias, atraindo o inves- timento e acelerando o seu desen- volvimento. Mais do que isto, um bom planejamento assegura a sustentabilidade econômica, social e ambiental do setor em longo pra- zo e contribui para o crescimento econômico e redução da pobreza. Um bom plano de desen- volvimento precisa reconhecer quando surge uma oportunidade adequada para a adoção de uma série de mudanças, como o atual processo de ocupação ordenada das áreas aquícolas; assegurar a co- ordenação e a comunicação entre as partes interessadas; adotar uma abordagem participativa; aprender com exemplos de outros países onde esta atividade se encontra mais desenvolvida; e aceitar tam- e levar à tomada de decisões difíceis. Os aspectos centrais do planejamento bem-sucedido no setor de aquicultura são a coerên- cia no processo de planejamento e a ênfase na interdisciplinaridade através da contribuição institucio- nal, desenvolvimento de capaci- dade humana e participação. O - tegra, coordena e gerencia todos os esforços de desenvolvimento, re- duzindo riscos, informando todos os envolvidos, estabelecendo con- Em todo o mundo, grandes grupos que comercializam fru- tos do mar desejam garantir o acesso às cadeias de suprimentos - tentáveis. Atender à crescente de- manda do mercado e o interesse do setor privado no fornecimento uma grande oportunidade para os países em desenvolvimento prepa- rados para investir na melhoria da gestão da aquicultura sustentável. Isto é conseguido pela construção de capital social e pelo reforço - tores fundamentais para a ob - tenção de uma qualidade de vida melhor para todos, sem exclusão. Um desenvolvimento econômico humano com respeito às comuni - dades locais e ao meio ambiente. C Não só o crescimento des- ta atividade, mas sua própria sus- tentabilidade depende da adoção de um planejamento estratégico de desenvolvimento orientado por cado e uma capacidade de atender a esta demanda. O planejamento integra as dimensões social, ambi- ental e econômica, já reconhecidas como os três pilares da sustentabi- lidade e indispensáveis não só para atingir como para assegurar os objetivos con- quistados pela estratégia de desenvolvimento. Esta estratégia considera a maricultura de uma forma abrangente, integrada e de maneira estruturada, em uma abordagem ecossistêmica de plane- jamento e de gestão praticável e implementável para promover um desenvolvimento harmonioso e coerente. O Plano Estratégico para o Desenvolvimento Sustentável da Maricultura Catarinense prevê objetivos e ações para um período de dez anos, e contempla todos os aspectos econômicos, sociais e ambientais relacionados ao desen- volvimento sustentável da mari- cultura catarinense. O planejamento analisa em detalhes como a maricultura cata- rinense funciona, com uma abor- dagem multidisciplinar e coletiva para interpretar corretamente as propriedades econômicas, so- ciais e ecológicas, bem como as relações e feedbacks entre estas propriedades. Em um mercado globalizado, os produtos da mari- cultura catarinense precisam ser competitivos para assegurar seu mercado interno e abrir novos mercados, por isto, a mecanização dos cultivos com associada re- dução do custo de produção e rastreabilidade de lotes produzi- dos são componentes importantes da estratégia de desenvolvimento para a próxima década. A minuta de plano es- tratégico é formada por seis capítulos organizados da seguinte forma: © Felipe Matarazzo Suplicy 25AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 O documento propõe uma visão de futuro, uma meta a ser alcançada coletivamente, e apre- senta uma estratégia e um plano para inserir a maricultura na agen- da de desenvolvimento do estado. A visão sugerida na minuta do pla- no é: “Reconhecimento interna- cional na produção sustentável de moluscos com alto valor agregado”. O plano de ação para re- alizar esta visão de futuro foca nos passos que precisam ser dados para implementar a estratégia, isto é, ele aponta claramente como as me- tas serão atingidas, quais as ações necessárias, quem são os atores diretamente envolvidos e quando estas atividades serão realizadas. Além disto, durante o processo de discussão e validação do plano de onde sairão os recursos para execução de cada atividade apon- tada. Outro ponto central do plano estratégico é a consoli- dação e fortalecimento da mar- ca “Moluscos de Santa Catarina”, aproveitando o reconhecimento já conquistado por Santa Catari- na como o estado produtor de ex- celentes moluscos cultivados. Esta marca deverá ser adotada e apoiada por todos os produtores e processa- dores, que estarão continuamente recebendo treinamento e capaci- tação para cumprirem com todas as exigências sanitárias e atin- girem os padrões de qualidade e sustentabilidade da marca coletiva. A participação do setor produtivo, através das empre- sas processadoras, associações de pequenos produtores, e das insti- tuições governamentais e do setor de pesquisa e extensão é essencial para assegurar que todos os en- volvidos com a atividade estejam de acordo quanto à estratégia de desenvolvimento elaborada e dis- cutida coletivamente. Apesar do processo participativo de planeja- mento ser mais trabalhoso e cus- toso, ele favorece o engajamento e comprometimento dos diversos atores facilitando enormemente a sua aceitação e implementação. Com este intuito, a minuta de plano de desenvolvimento está sendo apresentada aos atores da cadeia produtiva para discussão e aprimoramento, antes de sua implementação. Santa Catarina conta com um Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural - Cederural - criado pela Lei Agríco- la Estadual nº 8.676, para prover um fórum deliberativo e propositi- vo da sociedade e do governo, na formulação das políticas ligadas ao desenvolvimento da agricultura, pecuária e pesca em Santa Cata- prioridades do setor e os recursos a serem aplicados nas áreas agríco- ainda, os critérios de aplicação das verbas do Fundo de Desenvolvi- mento Rural. O Cederural con- ta com câmaras setoriais que são comissões formadas por represen- tantes dos setores organizados da cadeia produtiva - consumidores, produtores e indústrias - forman- do uma paridade com instituições governamentais, que se reúnem para analisar, discutir e propor soluções relativas aos principais produtos e atividades das áreas agrícola, pecuária e pesqueira ca- Introdução, explicando a sua motivação, propósito e importância; Diagnóstico da situação atual nos aspectos sociais, econômicos e ambientais; Estratégia comvisão de futuro e objetivos; Plano de ação, com uma abordagem ecossistêmica da cadeia produtiva (aspecto social, econômico e ambiental); Mecanismos de inserção dos pequenos produtores, que apresenta opções para inclusão dos maricultores na cadeia formal de comércio e opções para adoção do cultivo mecanizado; Considerações fi nais. 1 2 3 4 5 6 AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201626 tarinense. A Câmara Setorial de Maricultura do Cederural, por- tanto, é o fórum onde esta minuta de plano de desenvolvimento está sendo discutida e aprimorada an- tes de ser adotada por todos os en- volvidos com a atividade. Um aspecto básico reconhecido nesta proposta é que as instituições são potencialmente capazes de apoiar e fomentar deci- sivamente as inter-relações, favore- cendo a cooperação e as sinergias em nível local e regional. Todos os órgãos que possuem interface com a maricultura catarinense partici- parão do processo de discussão do plano estratégico de forma a iden- poderão contribuir com as metas e objetivos do plano, evitando as- sim duplicação ou sobreposição de esforços, e ações descoordenadas com desperdício de recursos hu- Para os leitores que tiver- em interesse e quiserem conhecer mais sobre esta iniciativa, a minu- ta do plano estratégico pode ser solicitada diretamente ao autor do artigo. © Felipe Matarazzo Suplicy 27AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201628 © David S. Francis 29AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 Estudos nutr ic ionais na Deakin Univers i ty Nutrition and Seafood Laboratory da Deakin University - Austrália, ou NuSea.Lab como é mais conhecido, é amplamente reconhecido por suas pesquisas aquícolas aplicadas tanto nacional quanto internacionalmente. Estabelecido em 2007 pelo Profes- sor Giovanni Turchini e pelo Dr. David Francis, sua visão consiste em “contribuir posi- tivamente para o aprimoramento da sustentabilidade ambiental, viabilidade econômica e responsabilidade social dos setores de nutrição e pescado (frutos do mar)”, com uma como soluções para os setores de nutrição e pescado através de novas ideias, experi- mentação minuciosa e publicação dos resultados obtidos”. O NuSea.Lab reúne mais de 35 anos de experiência direcionada à pesquisa e desenvolvimento, culminando em uma reputação excepcional com a indústria da aquicultura e também em um reconhecimento global por suas contribuições para a sustentabilidade aquícola. A grande experiência do NuSea.Lab em nutrição de peixes é respaldada por instalações aquícolas de última geração, dois laboratórios totalmente equipados e dedica- dos a análises nutricionais e uma planta de fabricação de alimentos aquícolas de pequena aplicados e teóricos, abrangendo uma variedade de tópicos pertinentes à aquicultura e uma variedade de espécies que vão desde corais, pepinos do mar e abalone até salmão do atlântico, robalo asiático, lagostins, enguias e algas marinhas. Além de oferecer pesquisa de ponta, o NuSea.Lab é também um centro de pós-graduação de primeira linha e atual- mente conta com seis candidatos ao doutorado. As atividades de pesquisa do NuSea.Lab são extensivas, incluindo investigações sobre a substituição de farinha e do óleo de peixe nos alimentos aquícolas, metabolismo - sequente utilização de novos ingredientes para a próxima geração de alimentos aquícolas e a elucidação das exigências nutricionais das novas espécies aquícolas. As seções a seguir fornecem um breve panorama dos atuais projetos do NuSea.Lab, que incorporam o en - volvimento de estudantes de doutorado e o subsequente treinamento dos futuros líderes na pesquisa de nutrição aquícola. Recomenda-se que futuros estudantes e pesquisadores com interesses colaborativos procurem informações de contato no site do NuSea.Lab (www.lab.org.au). O Conheça o Nu t r i t i on and Sea food Labora to ry (NuSea .Lab) da Deak in Un ive rs i t y : rea l i zadores de pesqu isa e desenvo lv imen to de pon ta pa ra a i ndús t r i a aqu íco la g loba l David S. Francis, Jessica A. Conlan, Karen Hermon, Matthew Jago, Michael Lewis, Thomas Mock & Giovanni M. Turchini NuSea.Lab – Nutrition and Seafood Laboratory, School of Life and Environmental Sciences, Deakin University, Warrnambool - Victoria – Australia. http://lab.org.au d.francis@deakin.edu.au AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201630 A nutrição de peixes é inerentemente complexa e, por extensão, a previsão da com- posição de ácidos graxos e a qualidade do produto associa- do requer a consideração de inúmeras variáveis. Potencial- mente, o método mais promissor para prever variáveis nutricionais em peixes, como o conteúdo de n-3 LC-PUFA (do inglês “long- chain polyunsaturated fatty acids” – ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa da família n-3) e, em última instância, a otimização da inclusão de óleo de peixe nos ali- mentos aquícolas, tem sido através do desenvolvimento de modelos nutricionais. O principal objetivo da pesquisa deste projeto é criar e testar um modelo nutricional de n-3 LC-PUFA do Salmão do Atlântico de tamanho comercial, em resposta à mudança da com- posição nutricional das dietas, ácidos graxos. Os objetivos deste projeto serão alcançados através de uma série de abordagens, en- volvendo em primeiro lugar uma meta-análise da literatura publi - conhecimento atual e o subse- quente preenchimento dessas la - cunas de conhecimento por meio de testes de alimentação adapta- dos. Os resultados deste projeto melhorarão a sustentabilidade ambiental e econômica do setor - clusão do óleo de peixe nas dietas aquícolas. Além disso, um modelo - cessidade de experimentos ali- mentares dispendiosos e demora - dos para avaliar as consequências nutricionais da substituição de óleo de peixe em dietas aquíco- las. O modelo abrangerá fatores primordiais inter-relacionados - salmão do Atlântico, incluindo: das dietas aquícolas, atividade metabólica e temperatura da água. Previsão do teor de Ômega-3 no salmão do Atlântico (Salmo salar): © David S. Francis 31AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 Novas tecnologias para a rápida avaliação de alternativas à farinha de peixe: Os subprodutos da in- dústria de animais terrestres são derivados do processamento dos descartes considerados inade- quados para o consumo humano, mas de composição nutricional notável. Como tal, a utilização desses subprodutos é de interesse para os fabricantes de alimentos, dada a sua pronta disponibilidade e favorável composição de amino- ácidos. No entanto, esses subpro- dutos estão sujeitos a uma eleva- da variação na digestibilidade, em grande parte atribuída a métodos de processamento inconsistentes e à qualidade das matérias-primas recebidas. A qualidade da farinha desses subprodutos, portanto, difere de lote para lote, exigindo uma avaliação contínua através de experimentos de alimentação para determinar a digestibilidade da mesma para a subsequente for- mulação de alimentos que irão ocasionar um desempenho ideal do animal. Esses experimentos con- somem tempo e são logisticamente volvimento de novas metodologias de digestibilidade “laboratorial” in vitro para a rápida avaliação da farinha. As abordagens in vi- tro oferecem potencialmente uma variedade de benefícios em relação aos métodos de avaliação mais tradicionais, incluindo desenhos experimentais mais simples, ren- dimento mais rápido, custos mais baixos e a rápida avaliação de uma ampla gama de parâmetros A colaboração do NuSea. Lab com o parceiro do setor indus- trial, a Ridley Aquafeed, e a Uni- versidade de Almeria – Espanha, permitiu o desenvolvimento de câmaras de digestibilidade in vi- tro personalizadas para o rápi- do rastreio de uma variedade de matérias-primas. Usando extratos testino, a câmara de digestibilidade permite que as matérias-primas sejam digeridas em um ambiente idênticoao estômago “ácido” e às fases “alcalinas” da digestão intes- tinal das espécies de peixe-alvo. As farinhas são digeridas e divididas continuamente a partir da fase de digestão e removidas da câmara tecnologia inovadora, o pH ambi- ental, a temperatura, a duração do processo de digestão e a quantidade de enzimas que estão sendo usadas podem ser controladas, permitin- do uma “imitação” do processo de digestão. Com a pesquisa contínua, o objetivo principal é avaliar uma calibrar uma Espectroscopia de in- fravermelho próximo (em inglês “Near-Infrared-Spectroscopy ”) que irá escanear as matérias-primas recebidas e prever a digestibilidade sem nenhuma avaliação adicional. Usando esta tecnolo- gia inovadora, o pH ambiental, a temperatura, a duração do processo de digestão e a quantidade de en- zimas que estão sendo usadas podem ser controladas... © David S. Francis AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201632 A criação de salmão do Atlântico na Tasmânia – Austrália - biente adjacente que ditam as cir- peixes se encontram. Os extensos períodos de temperatura eleva- da da superfície do mar (>20˚C) são condições ambientais desa- de salmão do Atlântico, incluin- do o crescimento e a saúde dos organismos. Embora as tendências sazonais de crescimento, função metabólica e qualidade do pro- sejam conhecidas, muito poucos estudos analisaram as tendências sazonais de longo prazo, em um ambiente comercial, expostas às mudanças ambientais reais. Uma série de estudos de qualidade de de um único ponto em diferentes épocas para comparação, porém muitas vezes compara-se o ta- manho do peixe na despesca e não é feita análise das mudanças sa- zonais no metabolismo, qualidade nutricional ou estado de saúde. Embora as informações desses estudos sejam inestimáveis, elas não representam inteiramente o ciclo de produção e as condições enfrentadas pelas coortes de peixes. Como tal, as decisões relativas aos requisitos nutricio- nais e de saúde do salmão do Atlântico em cativeiro requerem uma compreensão aprofundada das condições ambientais de curto (diárias) e longo (sazonais) prazos que são encontradas. Este projeto está examinando o desempenho do salmão do Atlântico em uma produção de crescimento total, a partir de um tamanho de aproxi - madamente 100g até o tamanho de despesca de 5kg. Três coortes de peixes de fazendas comerciais monitoradas e amostradas duran - te o período de aproximadamente 13 meses de crescimento, em con- cordância com o registro de dados de seu ambiente adjacente, for- necendo um quadro para decisões adaptativas comercialmente rele- vantes a serem tomadas por uma gama de empresas produtoras de salmão. Essas informações, junta- mente com o estado nutricional e de saúde do salmão do Atlântico, fornecerão uma base sólida para tomar decisões de manejo, ali- mentação, tratamento, tempo de despesca e qualidade esperada do produto. Além disso, os dados emanados deste monitoramento serão utilizados para estabelecer correlações entre os parâmetros ambientais e os marcadores nu- tricionais e de saúde, bem como o status do salmão do Atlântico da Tasmânia. Em última análise, os principais resultados desta pesqui- sa abrirão caminho para uma in - tervenção mais orientada respal- a formulação de dietas adaptativas sob medida para as necessidades sazonais dos peixes. A capaci- dade de otimizar as dietas para o metabolismo alterado durante o período de crescimento apri - morará a conversão alimentar, di - minuirá a produção de nitrogênio e melhorará a saúde dos peixes. Impactos ambientais sazonais sobre a saúde e o estado nutricional do salmão do Atlântico de cult ivo: os principais resulta- dos desta pesquisa abrirão caminho para uma intervenção mais orientada e permitirão a formulação de dietas adaptativas sob medida para as necessidades sazonais dos peixes. © David S. Francis 33AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 Compreensão e otimização da saúde e do estado nutricional dos corais em cativeiro: Além da produção de alimentos aquícolas, o NuSea.Lab está empenhado em explorar as perspec- tivas de novos candidatos para a aquicultura. Em particular, a aquicultura de corais é promissora para avaliar a degradação dos recifes de coral através da produção em massa de propágulos de corais para a reabilitação dos recifes e aquarismo. Instalações de engorda em terra têm o poten- cial de melhorar drasticamente a sobrevivência do coral, eliminando estressores naturais dentro de um ambiente controlado de temperatura ideal, fotoperío- de coral ainda está amplamente em fase experimen- tal devido a grandes obstáculos como mortalidade cessidades nutricionais dos corais continua sendo uma das principais tarefas na manutenção e reprodução dos corais em cativeiro. Portanto, o objetivo deste pro- jeto é elucidar uma dieta ideal e um regime de alimentação subsequente para o coral em cativeiro, crescimento, bem como a capacidade para enfrentar, reagir e recuperar-se quando confrontado com vários estressores. Isto está sendo alcançado através da imple- mentação de uma série de experimentos de alimen- tação e nutrição realizados em colaboração com o Australian Institute of Marine Science. A experimen- tação abrangeu uma série de estágios de vida rele- vantes e incorporou intervenções nutricionais. Isso elucidará as principais demandas e exigências para lipídios e ácidos graxos, e proteínas e aminoácidos em corais e, ao mesmo tempo, determinará um veículo ideal de fornecimento de uma dieta de coral “pron- ta” que promova a saúde ideal e sobrevivência em cativeiro. si c nar F . S di va D © © David S. Francis AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201634 Histór ia , mi tos , verdades e d icas em épocas de mancha branca Jorge Chávez Rigaíl, Biólogo jorgechavezrr@hotmail.com indústria mundial de cultivo de camarões marinhos tem se desenvolvido aceleradamente nos últimos 10 anos, já que desde seu início (anos 60), a produção de camarão em fazendas passou de níveis artesanais para uma in- dústria com milionários ingressos econômicos, provendo trabalhos diretos e indiretos a inúmeras pes- soas no mundo todo. Os sistemas de cultivo até essa data eram relativamente simples, se usavam altas taxas de renovação de água e muito pouco alimento balanceado. As medidas de biossegurança eram mínimas ou não existiam, pois nessa épo- ca se conhecia muito pouco sobre qualidade da água, doenças do ca- marão e quase nada dos mecanis- mos de defesa humoral e celular contra os agentes virais. Também não era dado atenção ao manejo da variável solo. Paralelamente, outro setor gravemente afetado com a enfer- midade da mancha branca foi a indústria dos alimentos balancea- dos para camarão. A mesma se viu obrigada a atualizar-se para poder crescer, com mudanças exigidas pela crescente demanda nacional ao “alimento melhora- do”. Atualmente se fala muito de "alimentos balanceados compen- sados com balanço iônico, alimen- tos balanceados com determinada cadeia de aminoácidos, enzimas, etc”. Os problemas do início, na realidade seguem sendo os mes- mos hoje em dia, pois a capacidade de fazer análises e diagnósticos no setor aquícola é muito limitada em função da falta de especialistas neste ramo do conhecimento. Desde 1989, com o aumen- to explosivo da indústria cama- roeira em nosso continente, se fez necessário produzir de forma mais sultados. No início de 1999, os ANTECEDENTES A © Giovanni Lemos de Mello 35AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 efeitos negativos do vírus da man- cha branca (WSSV), obrigou os produtores a mudar a origem da pós larva que comumente era uti- lizada para povoar as fazendas, pois a partir destes anos o produ- tor passou a depender 100% de pós-larvas de laboratório a partir de reprodutores maturados em cativeiro. As pós-larvas passaram por um melhoramento genético, e os laboratórios a ofereceremum produto de melhor qualidade. Em virtude disso, ao longo dos anos, as pós-larvas equatorianas passaram a ter uma boa aceitação e um reconhecimento a nível internacio- nal, já que se obtiveram melhoras na resistência sobre as enfermidades 10 anos depois de terem iniciado. Igualmente durante o ano de 1999, vários países asiáticos iniciaram a substituição das prin- cipais populações domesticadas de Penaeus monodon , e Penaeus japonicus, pelo camarão branco do Litopenaeus vannamei, sendo competência direta de nos- sa produção, gerando nova pressão ao produtor latino-americano, que em todos os sentidos, para seguir sendo competitivo em escala inter- nacional. Na atualidade, Tailândia, Vietnã, Malásia, Índia, Coréia, China, Sumatra, Austrália e Nova Caledônia, contam com vários programas de domesticação e melhoramento genético para estas espécies. No Equador, a partir do ano de 2003, por pressões ambi- entais, se resolve por legislação, a restrição no uso de antibióticos, transformando a aquicultura em uma atividade mais responsável e amigável com o meio ambiente. Esse fato exigiu ao setor novas e rança para os sistemas de produção e como resultado dessas mudanças, além de boas práticas de mane- jo (BPM) orientadas a reduzir as condições de estresse dos cultivo, tivemos: · Redução da densidade de estocagem (12/ m²); · Redução do consumo de antibióticos; · Otimização das práticas de fertilização, relação 18N:1P; · Desenvolvimento e utilização de probióti- cos - produção massiva de Lactobacillus sp e Bacillus sp, · Desenvolvimento e aplicação de biorreme- rápida, melhorando a qualidade e o controle técnico da variável solo; · A utilização das normas do balanço iôni- co, que apesar de ser uma das ferramentas mais antigas era pouco usada, marcando uma importante mudança e sendo uma das ações mais importantes nas “soluções” que permitiram a muitos produtores sair à frente dessa gravíssima patologia, cujo momento mais crítico, afetou 100% da produção na- cional; · Auxílio do melhoramento genético nas pós-larvas; · Correto uso dos probióticos; · Melhorias na qualidade dos alimentos con- centrados e peletizados; · Constantes manejos feitos nas fazendas de modo a corrigir o desequilíbrio iônico do meio. © Jorge Chávez Rigaíl AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201636 OS MITOS Com a enfermidade da mancha branca se desenvolvendo no Equador, uma indústria paralela, baseada em “utopias – sonhos” também surgia, se incrementando no mercado os “técni- cos – sábios – assessores – laboratórios de aná- lises” todos preparados para evitar e erradicar o vírus com os mais diversos produtos. Criaram até sabonetes contra a mancha branca. Porém, mente mitos, e de alguma forma os produtores equatorianos provaram quase todos os produtos do mercado que prometiam eliminar o vírus. No início dos surtos houveram mor- conhecidas pela expressão “o evento”, pois todos os produtores falavam do “evento de mortalidade” que ocorria em um dia determinado. Para muitos coincidia com o dia 28, para outros com o dia 30, outros com o dia 40, 90, ou o dia 100. Mesmo sem ter claro o panorama, o quadro abaixo foi um dos primeiros esquemas que se publicou no ano 2000, e de alguma forma auxiliou os técnicos e pesquisadores a entender e compreender a en- fermidade de outra ótica, já que pouco a pouco a doença começou a ceder espaço. O evento ocorria mais cedo se existisse um solo muito deteriorado, uma água de má qualidade e um povoamento com pós-larvas de qualidade duvidosa. Este era batizado como “O evento de mortalidade do dia 29”, mas que não ocorria em todas as fazendas no dia exato, mes- havia algo bastante em comum, a primeira mor- talidade era mais forte (50%-60%) que a segunda (20%-30%) e esses eventos se repetiam 40/50 dias após o primeiro surto. 37AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 Os casos típicos comprovados de WSSV tinham uma característica importante, de que sempre havia uma repetição, ten- do dois eventos de mortalidade mais ou menos fortes, entre os dias 30-40 e os dias 80-90. O manejo do solo e a incansável série de produtos milagrosos foram uns dos itens mais explorados durante os surtos da mancha branca. O consumo de cal hidratada cresceu exponen- cialmente já que o solo era um dos parâmetros menos trabalha- dos, e onde se faziam grandes alterações com a aplicação dos pro- Ao estudarmos esta patologia com mais atenção, en- contramos que não tratava-se de uma enfermidade “biológica”, mas que é na verdade uma enfermidade “ecológica” onde coexistem al- gumas variáveis de cultivo, e que só com o domínio destas variáveis se obtém êxito dos cultivo. Compreendida a razão, sabíamos ago- ra porque é necessário conhecer com antecedência “Qual é o dia exato?”, “Como se ativa?”, perguntas básicas que podem se aplicar a esta ou qualquer outra patologia, pois conhecendo estes detalhes, é possível realizar um manejo diferenciado em cada um dos viveiros, convertendo-se na garantia de um cultivo exitoso. O manejo di- ferenciado a cada tanque, sig- por protocolos” (exemplo; Ao dia X coloque tantos quilos de A; Ao dia Y coloque tantos qui- los de B), uma vez que não existe somente uma variável, são várias variáveis que atuam e se mostram de formas diferentes na maioria dos casos, e o conjunto delas pode mostrar-se de diferentes formas. Nossos produtores usaram muitos produtos do mercado, como ácidos orgânicos, antibióticos, vi- taminas, enzimas, colesterol, etc, que eram incorporados nas rações e se converteram na receita conhecida como “O protocolo”, para atenuar o evento, quando na realidade, esta receita funcionava bem para com- bater outras patologias oportunistas do meio. Esta fase de ensaios foi o tempo empregado para desenvolver estratégias ao bom manejo da en- fermidade, que ao longo de vários anos (por volta de 10) atingiu o setor produtivo do país. Se fez, se pro- vou, e se utilizou quase tudo que era conhecido para o mercado do camarão, e o que mais ajudou, foi a existência dos chamados “agentes ou parâmetros detonantes das mortalidades” e que a biologia de campo as denominou de “gatilhos”, que devem ser monitorados e corrigidos o mais breve possível, e que não há uma data certa, podem apresentar-se em qualquer momento do cultivo. Outro produto usado com êxito foram os ácidos orgânicos, embora há muitos e de muitas marcas, sua ação se dava contra as bactérias oportunistas, patógenos típicos da doença. O segredo consistia em conhecer as porcentagens de pureza de cada elemento, já que quanto mais puro melhor a ação contra as bactérias. Resgatando o melhor destas épocas, me permito sugerir algumas dicas que auxiliaram vários car- cinicultores ao longo de nossa América Latina. A S VERDADES ...não tratava-se de uma enfermidade “biológica”, mas que é na verdade uma enfermidade “ecológica”... © Jorge Chávez Rigaíl AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201638 O desenvolvimento de todas estas tecnologias se baseia principalmente no conhecimento de “QUE? COMO? E QUANDO?” se ativa a enfermidade e iniciam-se as mortalidades. Evita-las é a meta de todos os aquicultores e pesquisadores que a fazem atualizando seus conhecimentos técnicos, permitindo com- preender e interpretar da melhor maneira a relação: água – camarão – solo. novos e antigos métodos de cultivo: DICAS O principal gatilho desta en- fermidade é a qualidade da água. A correta interpretação das análises semanais permite conhecer como está se com- portando o sistema. O parâmetro mais básico e mais viável eco- nomicamente chama-se “pH”, e deve ser medido as 06:00 e as 17:00h do mesmo dia. 1. A interpretação da alcalinidade, primeiro da maioria dos problemas chamados “eventos” ou “síndromes”, e portanto o principal indicador, possuí para cada fase de cultivo valores ideais: para a fase naúplio 100; misis 120; pós-lar- vas 140; para raceways 150 e para engorda 120 mg/L de CaCO 3 . 2.A utilização indicada para sistemas intensivos ou race- ways, na fase inicial de povoa- mento é de 35/40 PL12/L, até 18 dias de cultivo, e a transferência de juvenis de 0,015 mg à engor- da. 3. A utilização da densidade nos sistemas semi-intensivos para venis/ha. 4. Utilização de sistemas de re- circulação bem desenhados e calculados exatamente para as diferentes fases do sistema: de- suspender, e recondicionar a água usada. 5. O monitoramento da tem- peratura é muito importante, principalmente quando as os- cilações entre as horas do dia e noite são maiores do que 5°C. O ideal é manter o cultivo por volta de 30°± 2°C, com a menor variação possível. 6. A utilização dos probióticos Lacto- bacillus sp, como alimento para ajudar contra as bactérias pa- togênicas. 7. Utilização dos Bacillus sp. para degradar a matéria orgânica dos sedimentos, acelerando o pro- cesso com a mistura das bactérias Nitrosomonas sp, Nitrobacter sp, Azotobacter sp, formando assim os “Consór- cios Bacterianos remediadores do facultativas requerem a condição de estarem vivas no momento de serem aplicadas ao viveiro. 8. A mistura de 7/10 ppm de ácidos orgânicos na ração, resultou em uma técnica muito conhecida e aplicada no auxílio contra bactérias oportunistas do tipo Vibrio sp. 9. A utilização de métodos que permitam desenvolver naturalmente os carote- nos como agentes estimuladores do sistema imunológico e dos ca- rotenoides, como agentes estimu- ladores do crescimento, atingido através das diatomáceas com a correta fertilização dos tanques (18N:1P:0,1Si). 10. Melhores sobrevivências e melhores crescimentos no cultivo são apoiados com a adequa- da relação “Cálcio:Magnésio:Potás- sio”, e que a relação (1 – 3 – 1), não se aplica, porque a densidade de muito diferente da densidade de po- voamento de seu viveiro. 11. Com esta nova sequên- cia de controles na pro- dução aquícola, os cultivos de dos, marcando o início do êxito da indústria camaroeira lati- no-americana. 12. Realizar rotina semanal dade de cada viveiro, priorizan- do: qualidade da água, análise da microbiologia, patologia, e ao mentos básicos. 13. A Mancha Branca é uma enfermidade viral, por- tanto não existe antibiótico que controle ou elimine o vírus. 14. Tem relação direta com qualidade do solo + qualidade da água + qualidade da larva. 15. Obter o diagnostico no campo será muito mais fácil para determinar qual a fer- ramenta de controle utilizar, poder avalia-la diariamente se funciona ou não, e se devemos optar por outra alternativa de controle, conseguindo desta for- ma trabalhar sob uma trilogia bastante justa: Seguridade – Or- dem – Rapidez. 16. Sugestão: nunca tratem de “curar” um problema, primeiro analisem qual é a cau- sa desse problema, qual a origem desse problema, e trabalhando sobre essas respostas, seus diag- nósticos serão sempre mais pre- cisos. 17. Dado que: não existe os “eventos de mortalidade” por mancha branca, o que existe é: um parâmetro fora de controle, que não foi analisado em tempo 18. Informação do Autor: Jorge Chávez Rigaíl; Biólogo graduado na Universidade de Guayaquil, Facultad de Ciencias Naturales, 1985; Secretário Geral da Fundação Sociedade Latino-ameri- cana de Aquicultura SLA; Autor de vários manuais sobre o critério biológico na interpretação de análises de qualidade de água; Patologia em fresco; Microbiologia de campo; Análises para * “Não existe patologia alguma que não inicia-se de um desequilibro iônico do meio” J.Chávez R, 2005. 39AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201640 medida que necessitamos atender a crescente deman- da mundial de alimentos, uma maior atenção e importância têm sido atribuídas à aquicultura como uma fonte futura de produção de proteína saudável e sustentável. No início deste ano, o Rabobank publicou um artigo intitulado “A ascensão do frango aquático”, destacando o crescente mercado da tilápia e sua oportunidade para suprir a cadeia global de proteína, além do potencial de produção junto aos países latino-americanos como futuros candidatos em abas - tecer o mercado doméstico, as- sim como o mercado mundial, em particular o grande mercado consumidor norte-americano. Estes temas foram a base do 3º High Quality Tilapia Congress realizado pela MSD Saúde Animal entre os dias 5 e 6 de outubro na cidade de Campinas, São Paulo. Estiveram presentes os principais produtores de tilápia do Brasil, Costa Rica, Colômbia, Equador, Honduras, México e também pro - dutores do continente Africano. A equipe de aquicultura da MSD Saúde Animal convidou líderes de opinião nacionais e internacionais para palestrar sobre 3 diferentes temas, sendo eles: Mercado global da tilápia; Marketing com ênfase em aquicultura e Boas práticas de produção. Não foram apenas palestrantes oriundos do setor de aquicultura, mas sim, especialis- tas de outras cadeias de produção de proteína intensiva, como aves e suínos, por exemplo, que vieram compartilhar suas experiências com os produtores de tilápia. Lívia Machado, da Asso - ciação Brasileira dos Criadores de Pelo terceiro ano consecutivo MSD Saúde Animal reúne grandes nomes nacionais e internacionais do setor À © www.msd-saude-animal.com.br 41AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 Suínos (ABCS), compartilhou a estratégia de marketing da asso- ciação, que ajudou a impulsionar um crescimento de 10% no con- sumo doméstico de suínos nos últimos cinco anos. Estes resulta- dos foram alcançados através de uma abordagem de marketing es- tratégica em diferentes canais que abrangeram consumidores, restau - rantes, varejos e chefes de cozinha, por exemplo. Joe DePippo, que an- teriormente trabalhou como vice-presidente sênior da empresa de alimentos Tyson, compartilhou uma visão geral do mercado Norte Americano de proteínas, desta- cando as principais tendências do mer- cado e oportuni - que até 90% do pes- cado consumido nos EUA (5,6 bilhões de libras ou 20,2 bilhões de dólares em 2014) são importados. Com consumidores cada vez mais exigentes, há uma oportunidade para que nossos produtores latino-americanos ex - plorem esse potencial de mercado contando a “história” de como sua tilápia foi produzida de forma sus- tentável e focada em qualidade ao saúde e bem-estar dos peixes. Silvio Romero Coelho ex- plorou e compartilhou com os pro - dutores a importância da rastre - diferencial competitivo futuro de alcançar e penetrar em novos mercados de exportação, além da agregação de valor. Outra palestra de destaque foi proferida por Jose Luiz Tejon, umas das 100 maiores personalidades do agronegócio brasileiro. Tejon explicou a im- portância estratégica das ações de marketing para promover a carne de tilápia junto ao consumidor como o piscicultor terá que ser - viver de forma competitiva. Outros palestrantes de des- taque do evento foram: Meg Cae- tano Felippe (grupo GPA) discor- rendo sobre a comercialização de - tunidades; Dalton Casaletti (BRF) discorrendo sobre excelência na cadeia de produção intensiva de proteína; Fernando Oyarzún Al - barracin (Open Blue) discorrendo sobre processamento de pescado e a excelência no produto; Os- ler Desouzart (OD Consulting) abordando o tema mercado global de proteínas e as oportunidades para tilápia em níveis regionais e globais, entre outros palestrantes de renome. O evento também contou com uma atividade de integração entre os participantes, onde pro - dutores de diferentes regiões e países tiveram a oportunidade de interagirem entre si, trocando ex - periências e aumentando seus con - - dade de integração houve uma ação social, com montagem de bicicletas que foram destinadas para crianças na cidade de Campinas. “Com investimentos em eventos como o High Quality Tilápia Congress a MSD Saúde Animal demonstra todo seu com - prometimento com o avanço e desenvolvimentosustentável da in- dústria da tilápia em nível mundial”, complementa Rodrigo Zanolo, ge- rente de mercado de Aquicultura da MSD Saúde Animal. Sobre a MSD Saúde Animal Hoje a MSD é a líder mundial em assistência à saúde, trabalhando para ajudar o mun - do a viver bem. A MSD Animal Health, conhecida como Merck Animal Health nos Estados Unidos e Canadá, e como MSD Saúde Animal no Brasil, é a unidade de negócios global de saúde animal da MSD. Através do seu compromisso com a Ciência para Animais mais Saudáveis™, a MSD Saúde Animal oferece aos veterinários, fazen- deiros, proprietários de animais de estimação e governos a mais ampla variedade de produtos farmacêuticos veterinários, vaci- nas e soluções e serviços de geren- ciamento de saúde. A MSD Saúde Animal se dedica a preservar e melhorar a saúde, o bem-estar e o desempenho dos animais, investin- do extensivamente em recursos de pesquisa e desenvolvimento am- plos e dinâmicos e em uma rede de suprimentos global e moderna. A MSD Saúde Animal está presente em mais de 50 países, enquanto seus produtos estão disponíveis em 150 mercados. Para mais informações visite: www.msd-saude-animal.com.br Fanpage no Facebook: www.facebook.com/ msdsaudeanimal AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201642 43AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 I n teg ração un ive rs idade e empresa impu ls iona avanços nu t r i c iona is na c r iação de a tum Maria T. Viana, Artur N. Rombenso, Jose A. Mata-Sotres, Fernando Barreto-Curiel Universidade Autônoma de Baja California – Ensenada – México viana@uabc.edu.mx | mtviana.com AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201644 atum é uma das espécies de peixes mais apreciadas mun- dialmente e vem despertando o in- teresse no desenvolvimento de sua aquicultura, que está cada vez mais aprimorada. Embora a produção de juvenis seja incipiente, a engorda em tanques-rede com juvenis sel- vagens capturados já é realizada em vários países como Austrália, Espanha, Grécia, Japão e Méxi- co, com uma produção anual de aproximadamente 50 mil toneladas (Wijkstrom, 2012). Os atuns são na sua maioria alimentados com peixes pelágicos frescos ou conge- lados de espécies como sardinha e cavalinha, resultando em uma con- versão alimentar elevada entre 10:1 - 17:1. O uso de peixes pelágicos inteiros como alimento aquícola é uma prática bastante criticada em termos de sustentabilidade e não deve ser estimulada pois: Assim, o desenvolvimento de uma dieta formulada é essencial para garantir a sustentabilidade da aquicultura de atum. A região da Baja Califórnia no México (Figura 1) é propícia para o desenvolvi- mento da maricultura, principal- mente a piscicultura marinha, devido às características geomor- oferecem locais profundos com boa circulação de água e próximos à costa, à proximidade com os Es- tados Unidos que é um dos maiores mercados consumidores mundiais de pescado, e à presença de centros de pesquisa e universidades desen- volvendo tecnologia e conheci- mento que fazem desta região uma opção viável para o desenvolvi- mento aquícola. As espécies de peixes marinhos mais importantes criadas na região são o olhete (Se- riola dorsalis), a totoaba (Totoaba macdonaldi), a corvina (Scianoeps ocellatus ( ). Atualmente existem cinco fazendas ativas de engorda de atum (Figura 2). Resu- midamente, o processo de engorda consiste em: O Esse alimento poderia ser utilizado para consumo humano; Aumenta a incidência de patógenos na criação; Existe variabilidade nutricional entre lotes de alimento e épocas do ano; Eleva a quantidade de perda de nutrientes (nitrogê- nio e fósforo) para o ambiente adjacente; Fomenta a pressão pesqueira sobre os es- toques naturais dessas espécies alvo. Figura 1. Região de Baja Califórnia, México. © Artur Nishioka Rombenso 45AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 Durante a engorda (Figura 3), que dura entre 18-24 meses, os peixes são alimentados com sardinha e cavalinha uma vez ao dia até a saciedade aparente e, carte mencionados anteriormente, a utilização desse tipo de alimento poderia parecer economicamente viável já que a maioria das empre- sas (fazendas marinhas) possuem suas próprias embarcações para peixes pelágicos, porém sua cap- tura representa um custo elevado para a sustentabilidade da pesca e da produção de alimentos para consumo humano. Nesse contexto, o Feed- Aqua - Laboratório de Nutrição e Fisiologia da Universidade Autônoma de Baja Califórnia (UABC), que desde 1990 trabalha de organismos aquáticos, decidiu contribuir para o desenvolvimen- to de dietas formuladas para atum. Desde 2007 uma série de proje- tos são realizados para entender melhor as enzimas digestivas e a absorção de aminoácidos em atum ra et al., 2007; Rosas et al., 2008; Martínez-Montaña et al., 2010, 2011, 2013; Román-Gavilanes et al., 2015; Castillo-Lopez et al., 2016; Rueda-López et al., 2016). Em seguida foi desenvolvido o pro- jeto LINDEAACUA que consistiu na construção de um laboratório piloto para produção de ali- mentos, único da América Latina, com o objetivo de desen- volver pesquisa e tecnologia em formulações e em dietas extrusadas para organismos aquáticos, facili- tar o estabelecimento de convênios e parcerias com a indústria aquíco- em quantidades menores para em- presas em desenvolvimento. Nosso laboratório é equipado com uma extrusora Extrutech E325 (Figura 4) capaz de produzir até 400 kg/h, um secador de gás horizontal (Figura 5) e outros equipamentos para preparação e fabricação de alimentos formulados. Captura de juvenis selvagens e transporte para os locais de engorda; 1 Engorda em tanques-rede; 2 Despesca e comercialização para mercados interna- cionais, em particular o mercado japonês. 3 Figura 2. Ilustração de atum © Diane Rome Peebles AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 201646 Figura 3. Fazenda Baja Aqua Farms. Desafios para a fabricação de uma dieta para atum Figura 4. Extrusora Extrutech do laboratório Feed Aqua. Figura 5. Secadora de gás horizontal do laboratório Feed Aqua. Figura 6. Dieta formulada para Atum Assim como em muitas es- pécies aquícolas, existe uma carên- cia de informação e conhecimento lação e fabricação de uma dieta. Além disso, a obtenção desses or- ganismos é complexa devido ao ciclo produtivo dessa espécie não estar completamente dominado e talvez ainda mais difícil seja sua manutenção em cativeiro devido à exigência de grandes estruturas e investimento elevado. Portanto, apenas um número reduzido de centros de pesquisa e empresas no mundo todo podem realmente tra- balhar com essa espécie. ça por parte dos produtores de que o alimento “natural” seja o único que o atum aceite, fato que e desenvolvimento de dietas for- muladas uma vez que os pesqui- sadores têm que primeiro quebrar essa barreira e em seguida con- vencer os produtores da importân- cia de experimentação em cam- po com essas dietas formuladas. Pelo fato de não existir uma dieta formulada para atum, muitos aspectos da própria dieta estão in- drico, retangular, redondo) e o ta- manho do pellet (3, 5, 10, 15 cm). processo de extrusão: como extruir um alimento tão rico em proteínas e lipídios que mantenha a forma, a textura e as características físicas desejadas? Esse cenário desa- lecimento de uma integração universidade-empresa, através de um projeto de pesquisa e desen- volvimento disponível pela agên- cia nacional de pesquisa do Méxi- co. Resumidamente, o laboratório FEED-AQUA, com sua linha de pesquisa LINDEAACUA, apri- mora a formulação e fabricação de dietas para atum e a empre- sa LITGO SA de CV patrocina o desenvolvimento. Um dos grandes benefícios desse tipo de parceria é a possibilidade de desenvolver esse alimento para ser validado nas fazendas marinhas de atum. Fotos: © Artur Nishioka Rombenso 47AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 Formulação
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