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NEMATÓIDE ENTOMOPATOGÊNICO Heterorhabditis bacteriophora NO CONTROLE DE Elasmopalpus lignosellus Jennifer Kawane Aparecida de Souza 1. INTRODUÇÃO O controle biológico de pragas é uma técnica empregada na agricultura desde 1890, que visa o controle sem, ou com o uso mínimo de agrotóxicos. Agindo como um fenômeno natural que regula o número de espécies por seus agentes de mortalidade biótica, que influem em todos os estágios de vida de suas presas. Dentre estes inimigos naturais estão: insetos, vírus, fungos, bactérias, nematóides, protozoários, etc., sendo empregados no controle de insetos, ácaros, e plantas espontâneas. Atualmente empresas especializadas neste tipo de controle de pragas conservam e multiplicam esses inimigos naturais para serem incorporados aos programas de manejo integrado de pragas (MIP) (PARRA, et al. 2002). A demanda por estes agentes vem crescendo ao longo do tempo devido a conscientização dos produtores a respeito do uso abusivo de agrotóxicos. O uso de nematóides para tal função ainda é pequeno em comparação aos demais, apesar de apresentarem maiores e significativos resultados com ação de 24 a 72 horas, acredita-se que este fato seja decorrente as poucas pesquisas sobre este inimigo natural. Os nematóides entomopatogênicos agem em conjunto com bactérias do gênero Xenorhabdus e Photorhabdus em uma relação simbiótica mutualística, que quando introduzidas no interior da hemocele do hospedeiro são liberadas na hemolinfa levando o inseto a óbito. Os nematóides buscam os hospedeiros por diferentes estratégias, onde penetram por aberturas naturais permanecendo dentro do corpo do hospedeiro onde se reproduz, dando início a formação de juvenis infectantes, os quais abandonam o cadáver a procura de novos hospedeiros. Este agente apresenta eficácia contra várias espécies de pragas de solo principalmente brocas e lagartas (AGUILLERA, 2001). Dentre os inseto-pragas de solo, a lagarta elasmo é a que mais apresenta danos. Os maiores prejuízos são causados nos primeiros 20 dias após a germinação, quando o ataque ocorre em plantas recém emergidas, muitas vezes não se tem tempo de perceber o ataque, devido à seca da planta, causa falhas na linha, e em plantas desenvolvidas é comum o aparecimento do “coração morto” onde as folhas centrais morrem e são facilmente destacadas e as folhas externas permanecem verdes, esta lagarta ataca diversas culturas, tendo como controle principal o uso de inseticidas (EMBRAPA, 2015). Com base nestas informações surge a suposição do uso de nematóides entomopatogênicos para o controle biológico desta praga, visto que o habitat do agente assim como o da lagarta, é o solo e sua estrutura diminuta facilita sua entrada no abrigo de teia da lagarta, se movimenta por capilaridades de água no solo e até no colmo de algumas espécies de plantas (Valle,2008), dispondo também de técnicas e estratégias para chegar ao hospedeiro, além de ser especialmente usados no controle de pragas subterrâneas ou de espécies que possuem uma ou mais fases do ciclo de vida associados ao solo (SALVADORI, 2011). O objetivo deste trabalho é avaliar a eficiência do uso de nematóides entomopatogênicos Heterorhabditis bacteriophora para o controle da lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus) comparando seus resultados aos do controle químico. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. Controle biológico Os fitossanitários apresentam efeitos satisfatórios no controle de pragas, mas quando manejados incorretamente causam danos ao solo, meio ambiente, e a saúde de animais e humanos, além de possuírem efeito residual no solo contaminando rios e lençóis freáticos. Diante disto a procura por alternativas sustentáveis e ecológicas do controle de pragas vem crescendo. Uma destas alternativas é o emprego de agentes de controle biológico nas lavouras. Esta técnica é aplicada principalmente no Manejo Integrado de Pragas, que visa o uso racional dos fitossanitários (REZENDE, 2003). Porém não são todas as espécies que possuem um inimigo natural realmente eficiente, com facilidade de criação em laboratório e resistente ao transporte como é o caso da lagarta elasmo. O impacto de agentes biológicos nesta lagarta é considerado baixo, devido ao seu habitat protegido, onde quando se alimenta fica no interior do colmo ou se encontra em seu abrigo de teia e terra localizado no solo (Viana, 2009). Seu único controle viável é o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos associados aos de ação de contato aplicados por meio de pulverizações (DIAS, 2014). O emprego de agentes biológicos permite a reduzirão do uso de pesticidas, que geralmente causam problemas tanto a cultura, como ser humano e o ambiente. Várias espécies de nematóides são reproduzidas e comercializadas em todo o mundo como agentes de controle biológico de sucesso, conquistando pesquisadores brasileiros e aguçando a curiosidade de grandes, médios e pequenos produtores, principalmente produtores orgânicos (VOSS, 2009). Neste contexto, os nematóides entomopatogênicos (NEP’s) pertencentes a ordem Rhabditida da família Heterorhabditidae, podem ser importantes componentes nos programas de MIP (Lacey e Goettel, 1995). Em laboratório, colonizam mais de 250 espécies de insetos de aproximadamente 75 famílias pertencentes a 11 ordens de insetos e podem infectar larvas, pupas e adultos (POINAR, 1979; 1990; PETERS, 1996). Os pontos importantes deste nematóide são: efeito letal rápido, ampla gama de hospedeiros, ciclo de vida curto, afetam qualquer estágio de desenvolvimento (exceto ovos), sobrevivem por longos períodos de tempo para localizar o hospedeiro, toleram doses elevadas de produtos agroquímicos, possuem efeito sinérgico com outras técnicas de controle, tem boa adaptabilidade a novos habitats (desde que no solo), são facilmente distribuídos, e principalmente, é específico para artrópodes e não afeta plantas ou organismos superiores (LEITE, 2015). NEP’s são organismos de forma cilíndrica-alongada, sem segmentação nem apêndices, capazes de colonizar e serem letais a alguns invertebrados. Estes nematóides possuem três adaptações (três fases) que são características do seu ciclo de vida (Sudhaus, 1993), são letais principalmente a insetos, em seu terceiro estágio larval (J3) também chamado de juvenil infectante (JI), ingere bactérias simbiontes as quais serão introduzidas na hemocele do artrópode hospedeiro, auxiliando na alimentação do nematóide. Possuem a capacidade de penetrar nos insetos e de sobreviver no solo (Poinar, 1990). O fator que influencia a atividade dos NEP’s é a sua tolerância à dessecação, todos os nematóides são organismos aquáticos e necessitam de uma película de água ao redor deles para se mover (Norton, 1978). Sob condições ambientais de baixa umidade a sobrevivência e motilidade dos nematoides é negativamente afetada (KAYA E GAUGLER, 1993). 2.2. Ação do nematóide A espécie Heterorhabditis começa seu processo de infecção a partir do momento em que os juvenis infectantes ingerem as bactérias simbiontes e as armazenam na região anterior do intestino, migram para o solo e quando encontram seu hospedeiro penetram em seu corpo através de suas aberturas naturais como cavidade oral, ânus e espiráculos (Forst e Clarke, 2002). No caso especifico de Heterorhabditis, os juvenis infectantes podem penetrar diretamente pelo tegumento do inseto com a ajuda de uma estrutura fixada em sua cabeça denominada de dente córneo, que permite ao nematóide romper o tegumento do artrópode e dar início ao processo de infecção do seu alvo. Dentro do hemocele, os juvenis liberam células da bactéria que se propaga e mata o hospedeiro em 48 horas. O cadáver fica então tomado por um meio rico em nutrientes constituído pelas bactérias e por tecidos do inseto já desorganizados,dos quais os nematóides se alimentam e se desenvolvem, passando pelo último estádio de juvenil (J4) e se tornando adultos da primeira geração (machos e fêmeas). Em geral, os juvenis originados por esses adultos ainda têm ao seu dispor, apreciável quantidade de alimento, conseguindo completar o ciclo e formar os adultos da segunda geração dentro do corpo do hospedeiro. Geralmente, após o surgimento e acasalamento dos adultos da segunda geração, têm-se a formação de uma população de juvenis que se alimentam do resto do cadáver e depois o abandonam, passando para o solo em busca de novos hospedeiros. Antes dos JIs deixarem o cadáver, as bactérias simbiontes são apreendidas e armazenados nos terços iniciais de seu intestino (ADAMS E NGUYEN, 2002). A estratégia dos JIs para encontrar seus hospedeiros é variável entre as distintas espécies de NEP’s e pode ser classificada em “ambusher” ou “cruiser”. Os NEP’s com estratégia “ambusher” esperam seu hospedeiro fazendo “Nictation”, isto é, ficam eretos e apoiados em suas caudas, aguardando para saltar em direção ao hospedeiro quando ele se aproxima. Por outro lado, os NEP’s com estratégia “cruiser” procuram ativamente seus hospedeiros, movimentando-se pelo solo. Os nematóides com estratégia “cruiser”, como é o caso do H. bacteriophora, são mais efetivos por serem menos influenciados pela menor disponibilidade de hospedeiros, uma vez que busca ativamente os insetos disponíveis na área, guiados provavelmente por sinais do ambiente, recebidos por órgãos quimiotáteis (chamados anfídeos) existentes na parte anterior do corpo. Existem também algumas espécies com comportamento intermediário aos descritos anteriormente, fazendo “Nictation” por algum tempo e também se movimentando no solo (LEWIS et al., 1992; 1993; GREWAL et al., 1994; CAMPBELL E GAUGLER, 1993; 1997; ALMENARA et al., 2012). 2.3. Relação Heterorhabditis bacteriophora - Photorhabdus luminescens Existe um alto grau de especificidade na simbiose nematóide-bactéria, Heterorhabditis bacteriophora tem como simbionte bacteriano Photorhabdus luminescens. P. luminescens se beneficia dessa relação utilizando H. bacteriophora como vetor e, em última análise, transforma o inseto hospedeiro em nutrientes que podem ser utilizados por ambos os parceiros. P. luminescens também cria um ambiente para a reprodução de nematoides dentro do inseto. Photorhabdus luminescens é um entomopatógeno gram-negativo, bioluminescente e produtor de pigmento, esta bactéria não é de vida livre e só pode ser isolada do seu simbionte nematóide ou insetos infectados. Pesquisas sugerem que um único nematóide juvenil infectante pode conter dez células de P. luminescens, mas apenas três células são necessárias para causar mortalidade. Outra pesquisa mostra que esta bactéria produz vários produtos biológicos responsáveis pela transmissão de bioconversão e proteção do nematóide (POINAR et al., 1977; FORST e CLARKE, 2002; BOEMARE, 2002; SOMVANSHI ET AL., 2010; INMAN et al. 2012). Na associação simbiótica, os nematóides contribuem oferecendo proteção à bactéria fora do corpo do inseto e atuando como transportadores das mesmas do cadáver para um inseto vivo. A contribuição da bactéria, por sua vez, está no fornecimento de nutrientes aos nematóides, na produção de toxinas letais para os hospedeiros e na produção de antibióticos que eliminam outras bactérias oportunistas. 3. REFERÊNCIAS ADAMS, B. J., NGUYEN, K.B. (2002) Taxonomy and systematics. In: Gaugler, R. (Ed.) Entomopathogenic Nematology. CABI Publishing, Oxon, UK, pp. 1-33. AGUILERA, M. M. 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