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TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA Eduardo Pacheco Freitas O conceito de história Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Apontar os fundamentos da história como ciência. Descrever as correntes historiográficas do positivismo, marxismo e nova história. Reconhecer a importância do contexto histórico para a análise dos fatos. Introdução Definir se a história é ou não é uma ciência faz parte de um debate aparentemente eterno dentro do campo da história. Nenhum historiador poderá ficar indiferente a esta discussão, devendo confrontar o pro- blema mais cedo ou mais tarde. A importância de realizar essa reflexão é que, a partir dela, o trabalho do historiador pode ganhar contornos mais precisos, auxiliando sua tarefa como produtor de conhecimento histórico. Em um ramo do conhecimento que possui tantas tendências relevantes e diversos paradigmas, conhecê-los e estar apto a fazer sua crítica é outra característica essencial para um bom historiador. Ademais, o domínio dos conceitos e a sua correta aplicação para evitar o erro do anacronismo são fundamentais para o correto desenvolvimento de um trabalho histórico. Neste capítulo, você vai conhecer a discussão sobre a cientificidade da história e quais os principais fundamentos da história como ciência. Além disso, vai aprender sobre as principais correntes historiográficas surgidas a partir do século XIX. Por fim, você vai refletir sobre a impor- tância do contexto histórico e do uso dos conceitos para a análise dos fatos históricos. Afinal, a história é uma ciência? Em seus estudos, você descobrirá que até hoje existem historiadores que debatem se seu ramo do conhecimento humano se trata de uma ciência ou não. Essa discussão envolve sobretudo o questionamento das possibilidades de se conhecer objetivamente o passado. Isso signifi ca que, de uma certa perspectiva, o uso de teorias e métodos permite que a história seja uma ciência; sob outra ótica, pode-se dizer que a escrita da história é apenas um discurso autorreferente. Nesta primeira seção, você conhecerá as características de ambas as correntes, bem como historiadores que representam cada uma delas. Além disso, você conhecerá os fundamentos da história enquanto ciência. Os primórdios da história científica A história, como ramo independente do conhecimento humano, existe desde a Antiguidade. Os gregos foram os primeiros a produzir trabalhos envol- vendo a sua própria história e a de outros povos. Nesse sentido, Heródoto de Halicarnasso (séc. V a.C.) frequentemente é tido como o “pai” da história. Sua obra mais conhecida, Histórias, traz relatos de suas viagens e conversas com habitantes de lugares distantes, possibilitando ao autor discorrer sobre costumes tanto de gregos quanto de outros povos. Contudo, esse tipo de fazer historiográfi co carecia de métodos precisos e de um instrumental teórico. Portanto, não se tratava ainda de uma história científi ca. A história científica irá surgir somente na virada do século XVIII para o século XIX, momento em que a ciência como um todo passa a avançar con- sideravelmente em pouco tempo. Na história científica, que aparece após a Revolução Francesa, exige-se rigor no trato das fontes, cuja autenticidade deve ser verificada, e a teoria passa a ocupar papel fundamental para a interpretação dos acontecimentos do passado narrado pelo historiador, agora profissiona- lizado. Portanto, foi somente nos últimos 200 anos que os pesquisadores da história buscaram traçar fronteiras mais nítidas entre o discurso narrativo histórico e a narrativa literária ou poética. De acordo com Moscateli (2005, documento on-line): “[...] o século XIX assistiu ao esforço dos historiadores para institucionalizar sua área de estudos por meio de uma ruptura da história em relação à arte e à filosofia”. O nome mais importante na institucionalização da história como ciência foi o do alemão Leopold von Ranke (1797–1886). Assim como Heródoto foi o “pai” da história, Ranke é considerado o “pai” da história científica, e isso se deve ao fato dele ter posto em marcha uma verdadeira revolução no modo de produzir O conceito de história2 conhecimento histórico. Em primeiro lugar, Ranke determinou a importância do uso das fontes primárias para o trabalho do historiador. Até então, não havia essa preocupação, o que acabava afetando a credibilidade dos trabalhos históricos. No entanto, deve-se ressaltar que, apesar deste ter sido um importante passo na criação da história científica, Ranke dava atenção especial somente aos documentos produzidos pelo Estado, de forma que pudesse escrever sua história. Por outro lado, Ranke acreditava na total separação entre o historiador (sujeito) e o passado (objeto), defendendo que o seu trabalho deveria ser exe- cutado de forma neutra, com o historiador deixando de lado suas vivências, preferências e características pessoais, formando assim um processo de com- pleta objetividade. Os fundamentos para essa perspectiva estavam no seu método. De acordo com os princípios metodológicos de Ranke, não caberia ao historiador julgar o passado, devendo se ater, em vez disso, ao relato do que de fato havia acontecido, sem juízos de valor. Isso só seria possível se o historiador escapasse de todos os condicionamentos sociais capazes de interferir no objeto sobre o qual se ocupa em seu ofício. Para produzir sua narrativa científica, o historiador deveria efetuar a crítica rigorosa das fontes (documentos escritos), organizados cronologicamente e sem especulações filosóficas sobre seus conteúdos. Ao obedecer a essas regras, surgiria a história como ciência (BOURDÉ; MARTIN, 1983) Contudo, apesar de suas pretensões, isso ainda não garante uma história plenamente científica, justamente por descartar a utilização de teorias e, desse modo, a formulação de hipóteses. No entanto, Ranke deu os primeiros passos na formulação de uma história-ciência, que seriam seguidos pela chamada Escola Metódica, influenciada pelo positivismo e fundada por Gabriel Mo- nod (1844–1912), Charles Seignobos (1854–1942) e Charles-Victor Langlois (1863–1929), no final do século XIX. Tal tradição científica prosseguiu com o marxismo e a Escola dos Annales no século XX. Os fundamentos da história como ciência Ao refl etir sobre as relações entre o historiador e seu objeto de pesquisa (o passado), face à lógica específi ca de que os fatos históricos devem ser tratados a partir de uma perspectiva científi ca, Reis (2010, p. 26) afi rma: O historiador não está condenado a registrar fatos, a constatá-los. Ele raciocina sobre eles, busca a sua inteligibilidade, atribuindo-lhes sentido, pensando as possibilidades objetivas e os seus desdobramentos. Afinal, pensar não é registrar, mas considerar caminhos possíveis, alternativas. 3O conceito de história Portanto, é fundamental que na pesquisa histórica, muito mais do que elencar nomes, datas e fatos, o historiador desenvolva hipóteses a respeito dos processos históricos. Dessa forma, é possível estabelecermos que o conheci- mento histórico é eminentemente racional, pois, ao produzi-lo, o historiador busca determinar sentidos, criando uma razão histórica, que tem por base teorias da história. Assim, são construídas análises racionais sobre os objetos de estudo. O historiador e filósofo alemão Jörn Rüsen (1938–) é um dos autores de maior destaque dentro do pensamento contemporâneo a respeito da cientifi- cidade da história. Para Rüsen, só é possível pensar a história como ciência se levarmos em consideração os métodos que devem ser aplicados às fontes. Segundo essa perspectiva, que torna relevante a reflexão do historiador so- bre o trato que dá ao conjunto de suas fontes, é a partir deste momento que a construção do conhecimento científico passar a acontecer no âmbito da história. Em síntese, a definição de um método preciso é um pressuposto para a ciência histórica. É isso que irá, primeiramente,diferenciar a narrativa histórica de qualquer outra forma de narrativa. De acordo com Rüsen (2001, p. 97), a “[...] história como ciência é a forma peculiar de garantir a validade que as histórias, em geral, pretendem ter. Histórias narradas com especificidade científica são histórias cuja validade está garantida mediante uma fundamentação particularmente bem feita”. Esta “garantia” que Rüsen menciona, que torna científico o conhe- cimento produzido pelo historiador, reside especificamente na utilização de teorias para elaborar a experiência do passado em forma de história. Por isso, tanto quanto o método, a teoria é indispensável na produção historiográfica. Outro nome importante na fundamentação da história como ciência foi Marc Bloch, um dos fundadores da Escola dos Annales. Em seu livro Apologia da História ou o ofício do historiador, ele apresenta suas concepções sobre a história científica. É nesta obra que Bloch cunha a sua célebre definição de que a história é “[...] uma ciência dos homens no tempo” (BLOCH, 2001, p. 67). Decorre desse entendimento o fato de que o conhecimento histórico deve ser compreendido como produção científica, com suas próprias especificidades teórico-metodológicas. Uma das grandes ressalvas feitas pelos autores que não consideram possível a cientificidade da história é a de que o historiador não tem acesso direto ao seu objeto (REIS, 2010). No entanto, para Bloch (2001), as ciências não são definidas única e exclusivamente por seus objetos de estudo. O mais importante, segundo o autor, é a posição do historiador no processo de investigação, já que é ele quem determinará seus limites, ou seja, criando os recortes necessários O conceito de história4 para o estudo sistemático do objeto. É nesse sentido que assume particular relevância a definição dos métodos adequados para sua pesquisa e posterior escrita e comunicação dos resultados. Cabe ressaltar que a aproximação que o historiador faz dos diversos objetos cria a necessidade de diferentes formas de abordagem metodológica. Uma metodologia que serve para pesquisar acervos escritos do século XX possivelmente não servirá para um historiador que estude a história da pintura renascentista. Dessa forma, estão caracterizados os procedimentos formais para a construção do conhecimento histórico. A contestação da história enquanto ciência Embora grande parte dos autores considere que o conhecimento histórico é fruto da pesquisa científi ca rigorosamente metódica, existem historiadores que apresentam uma perspectiva diversa. Paul Veyne (1930–), em Como se escreve a história: Foucault revoluciona a história, uma obra do início dos anos 1980, foi categórico em sentenciar que a história, em hipótese alguma, pode ser considerada uma ciência. Para o autor (VEYNE, 1982), os historiadores apresentam pretensões científicas, mas não teriam condições de revelar qual seu método quando questionados a respeito. Dessa forma, a história não explicaria nada. Portanto, ao não possuir método e não apresentar modelos explicativos convincentes, a ciência histórica dos últimos dois séculos seria uma farsa, existindo somente na cabeça dos historiadores. Nesse sentido, Veyne (1982, p. 8) coloca a questão “o que é a história?”, para em seguida responder: “[...] os historiadores narram fatos reais que têm o homem como ator; a história é um romance real”. Portanto, a história na visão de Veyne nada mais é do que uma mera narrativa, devido à sua incapacidade de conhecer objetivamente o passado. O ataque de Veyne (1982) aos historiadores, deslocando-os do campo cien- tífico e colocando-os no campo narrativo, não foi isolado. Logo após ser aberto este novo caminho, outro historiador o seguiu: Hayden White (1928-2018). White (2008), seguindo na mesma linha de Veyne, contesta o caráter científico da história e a coloca no campo da literatura. Para o autor de Meta- -história, o historiador é incapaz de reconstruir os fatos da mesma forma que ocorreram, devendo, portanto, se afastar dos pendores científicos, de forma a se aproximar do campo literário, com uma escrita mais livre. De acordo com White (2008), a linguagem é um fator determinante nos sentidos do texto. Assim, a racionalidade buscada pelo historiador, com o objetivo de produzir um conhecimento lógico e estruturado, dá lugar ao estilo literário que estará na base do discurso histórico. Portanto, na impossibilidade, segundo White 5O conceito de história (2008), de se atingir objetivamente o passado, a narrativa histórica se aproxima dos outros gêneros de narrativas, sendo autorreferente. Como visto, o debate dos fundamentos científicos da história permanece em aberto, com disputas entre duas correntes. No entanto, é crucial que os historiadores compreendam que essa problemática sobre a natureza do conhe- cimento históricos deve ser confrontada permanentemente. Positivismo, marxismo e nova história Desde as primeiras tentativas de criação de uma história científi ca, nos primór- dios do século XIX, o fazer histórico passou por profundas transformações. A partir deste longo século — que testemunhou o fi m do Antigo Regime, a ascensão da burguesia como classe dominante, a consolidação dos Estados nacionais, a expansão imperialista, o rápido desenvolvimento das ciências, tanto as naturais quanto as humanas, e o surgimento de poderosas ideologias — um novo mundo foi criado. A partir de então, novas formas de encarar a sociedade e a história surgiram, determinando os rumos das ciências humanas até hoje. Assim, novas e importantes teorias apareceram, infl uenciando sobremaneira a ciência histórica, sendo as mais importantes delas o positivismo, o marxismo (século XIX) e a nova história (século XX). Positivismo O francês Auguste Comte (1798–1857) é geralmente referido como o “pai” da sociologia. Esse campo do conhecimento não existia até a primeira metade do século XIX, tendo algumas de suas bases lançadas por Comte. Além disso, Comte foi o responsável pela criação de uma nova doutrina, chamada por ele de positivismo. Dentre suas principais características, podemos nos referir à concepção de que o pesquisador (sujeito) nas ciências humanas pode posicionar-se de maneira absolutamente neutra perante seu objeto de estudo, tal qual nas ciências naturais. Como nos lembram Bourdé e Martin (1983), a ciência positivista era calcada na ideia da “lei dos três estados”, que seriam as etapas pelas quais o conheci- mento humano havia passado pela história. A primeira “lei” diz respeito ao “estado teológico”, no qual o ser humano atribuía os eventos históricos a seres sobrenaturais; no estado seguinte, o metafísico, os seres sobrenaturais seriam substituídos pelas abstrações de modo a explicar a história; finalmente, no “es- tado positivo”, o ser humano busca explicar a realidade pelo método científico. O conceito de história6 É importante lembrarmos que os avanços científicos da Revolução Industrial tiverem forte impacto sobre o imaginário social e sobre a produção intelectual, como fica evidente na fé depositada por Comte na ciência. A questão é que essa nova forma de conceber a sociedade teve influência sobre a produção das ciências humanas, que nesse período passavam a se institucionalizar. É dessa maneira que surge uma história positivista. Portanto, como nos informa Fonseca (2009, documento on-line): Esta história positivista será uma história que, exatamente por acreditar que os fatos podem ser isolados do sujeito que os confronta (o historiador) e podem ser percebidos em seus contornos precisos, terá a capacidade de descrever a verdade sobre os fatos históricos (que a este ponto constituem, para o positi- vismo, a própria História), pois a análise do objeto pode ser assimilada pela ciência (aquela ciência que é metodologicamente bem informada — isto é, a ciência positivista) sem que haja qualquer perda ou redução: o saber histórico tem a capacidade de reproduzir fielmente os fatos históricos. Como ficaevidente nessa passagem, a história positivista tem pretensões de objetividade total do historiador frente ao seu objeto, como se ele, o historiador, pudesse desaparecer por detrás de suas fontes e de sua escrita, sem imprimir qualquer traço subjetivo de sua personalidade. É precisamente esta busca pela total neutralidade do historiador que conduzirá os trabalhos de Leopold von Ranke, um dos primeiros e mais importantes historiadores positivistas. Ranke foi o criador dessa nova corrente historiográfica conhecida como científica e/ou positivista. Seus pressupostos advêm do positivismo, buscando utilizar os métodos das ciências naturais nas ciências humanas, particularmente na história. No entanto, o autor reduzia muito o seu campo de pesquisa, ao aceitar somente documentos escritos e oficiais como fontes dignas de créditos. Dessa forma, a pesquisa histórica de Ranke, embora com pretensões cientí- ficas, acaba elaborando apenas uma história do Estado. Contudo, esse foco nos documentos oficiais fundamentou a crítica rigorosa de tal material. Esse modo de fazer história atravessou as fronteiras da Alemanha e influenciou uma das mais importantes escolas históricas francesas: a Escola Metódica. Fundada em torno da Revista Histórica, a Escola Metódica teve como seus maiores expoentes Charles Seignobos e Charles-Victor Langlois. Ambos pu- blicaram um trabalho que tinha como objetivo estabelecer os métodos a serem utilizados na ciência histórica. Essa obra, intitulada Introdução aos Estudos Históricos, exerceu larga influência sobre as gerações seguintes de historiadores. Contudo, completamente imbuídos pelo espírito positivista, não conseguiram superar suas amarras metodológicas e teóricas, já que prosseguiram com o 7O conceito de história credo na total separação entre sujeito e objeto. Da mesma forma, permaneceram impassíveis em relação ao uso exclusivo de fontes oficiais, fixando-se assim como objeto de suas pesquisas os fatos e os grandes vultos históricos. Marxismo Na primeira metade do século XIX, com a publicação do Manifesto Comunista (1848), Karl Marx (1818–1883) e Friedrich Engels (1820–1895) inauguraram uma nova e radical concepção da história, conhecida posteriormente por materialismo histórico-dialético. No Manifesto, redigido sob encomenda em 1847 para a Liga dos Justos, como programa da organização, Marx e Engels afi rmaram que “[...] a história de todas as sociedades até hoje existentes é a história da luta de classes” (MARX; ENGELS, 2010, p. 40). A partir dessa simples, mas poderosa frase, todo um novo horizonte teórico se abriria, que mais tarde seria chamado de marxismo. Segundo a concepção dos autores, ao longo dos séculos todas as sociedades apresentaram um confl ito principal entre duas grandes classes principais. Na Antiguidade, a oposição se dava entre senhores e escravos; no período medieval, a contradição social ocorria entre nobres e plebeus; já na modernidade, com a ascensão da burguesia, que no seu seio criava o proletariado, o confl ito se tornava ainda mais simples, com uma pequena parcela de burgueses contra a vasta população de proletários. Para o marxismo, as lutas de classes são o motor da história, pois é a partir delas que as novas sociedades surgem, suplantando as sociedades anteriores. Isto ocorre pelos modos como uma sociedade se organiza em relação ao tra- balho e à produção. Quando um determinado modo de produção se exaure, a classe que o comandava é destruída por uma nova classe, que estabelece uma nova forma de produção e circulação de mercadorias. Assim, cada vez que o modo de produção de uma sociedade é revolucionado, toda a sociedade é transformada radicalmente. Para o marxismo, portanto, são as condições concretas da vida, o modo como os homens reproduzem a sua existência (estrutura), que determinam em última análise a consciência social e suas instituições política, jurídicas, religiosas etc. (superestrutura). Segundo essa óptica, toda forma de Estado é uma ditadura de classe, pois esse Estado é um reflexo da exploração e da opressão que a classe dominante exerce sobre a classe dominada. O marxismo, portanto, é uma corrente intelectual materialista, em oposição ao idealismo alemão originado em Hegel. O conceito de história8 No contexto em que Marx (2017) produziu seus escritos, com destaque para O Capital, uma obra monumental de crítica à economia política, na qual o funcionamento do capitalismo é dissecado minuciosamente, a burguesia — que outrora fora uma classe revolucionária, responsável por derrubar o Antigo Regime — agora encontrava-se plenamente assentada sobre o poder, tornando-se assim uma classe conservadora e contrarrevolucionária. Portanto, o objetivo da burguesia seria o de manter seu controle sobre o proletariado, de forma que esse não se organizasse e viesse, eventualmente, a tomar o seu lugar como classe dominante, no que o marxismo conceitua como “ditadura do proletariado”. Para superar sua condição de classe explorada e oprimida, os proletários deveriam se organizar politicamente, tendo em vista a conquista do poder. Chegando lá, de acordo com o marxismo, haveria uma etapa de transição, que é o socialismo, no qual os meios de produção são expropriados, caracterizando assim a referida ditadura do proletariado. Ou seja, o Estado ainda existe, e pelo simples fato de sua existência, trata-se de uma ditadura de classe. Porém, o objetivo final é atingir o comunismo, uma sociedade em que as classes sociais deixam de existir e, devido a isso, ocorre o definhamento do Estado, que acabar por sumir. Dessa forma, o marxismo é frequentemente descrito como uma historiografia “teleológica”, isto é, que visa um fim em um futuro ainda incerto: a destruição do capitalismo, abrindo o caminho para a sociedade comunista. Devido a isso, a produção intelectual marxista é praticamente indissociável da luta política. Os trabalhos marxistas, em geral, são divididos em humanistas e estrutura- listas. No marxismo humanista, aquele que se aproxima mais do pensamento de Marx, o ser humano está no centro de tudo, pois a libertação da humanidade defendida por Marx visa à realização integral do ser humano. Porém, de acordo com Marx (1969, p. 17), existem condições pré-determinadas nas quais os homens se situam na história: Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. Marx reconhece que os seres humanos agem dentro de estruturas herdadas do passado, e que isso limita a atuação livre de cada um ou de uma sociedade. No entanto, ao contrário dos estruturalistas, que basicamente fazem uma 9O conceito de história história sem o ser humano, levando em consideração apenas as estruturas sociais, Marx afirma que são os homens que, no fim das contas, fazem a sua própria história. Para Althusser (2017, p. 17), célebre pensador marxista do ramo estrutu- ralista, Marx em O Capital, sua magnum opus, fez a descoberta de um novo “continente” científico: Esta obra gigantesca que é O Capital contém simplesmente uma das três grandes descobertas científicas de toda a história humana: a descoberta do sistema de conceitos (portanto, da teoria científica) que abre ao conhecimento científico aquilo que podemos chamar de “Continente-História”. Antes de Marx, dois “continentes” de importância comparável já haviam sido “abertos” ao conhecimento científico: o Continente-Matemática, pelos gregos do século V a.C., e o Continente-Física, por Galileu. Dessa forma, é possível percebermos a grande contribuição do marxismo às mais diversificadas áreas do conhecimento humano, como economia, psica- nálise, sociologia, filosofia, geografia e artes. Na história, talvez a influência marxista tenha sido ainda maior, com alguns dos maiores historiadores do séculoXX tendo se inscrito nas fileiras do marxismo, como Gordon Childe, Eric Hobsbawm, Perry Anderson, E. P. Thompson dentre outros. No Brasil, Caio Prado Júnior, Nelson Werneck Sodré e Ciro Flamarion Cardoso são alguns dos mais importantes historiadores marxistas. Desde que Karl Marx publicou seus primeiros trabalhos, no século XIX, o marxismo esteve no centro dos debates acadêmicos e políticos. Por conta disso, ainda hoje existe muita confusão sobre o significado dessa corrente intelectual e política conhecida como marxismo. No podcast a seguir, você irá encontrar um debate entre professores doutores com visões distintas a respeito do termo, explicando o que é e o que não é marxismo. https://qrgo.page.link/z2qmd Nova história A chamada “nova história” é uma corrente historiográfi ca que surge em fi ns da década de 1960, vinculada à terceira geração da Escola dos Annales. Esta O conceito de história10 geração apresentou grandes mudanças em relação às que a precederam. Até então, por exemplo, mulheres nunca haviam integrado o grupo dos Annales, mas a partir da terceira geração, diversas historiadoras passaram a compô-lo, como Christiane Klapisch (especializada em história da família na Idade Média e Renascimento), Mona Ozouf (que estudou os festivais ocorridos durante a Revolução Francesa) e Arlette Farge (pesquisadora do mundo social de Paris no século XVIII) (BURKE, 1997). Outra diferença importante é que a terceira geração se mostrou mais re- ceptiva às ideias vindas de outros lugares, com vários de seus membros tendo estudado nos Estados Unidos, sendo, portanto, capazes de produzir em inglês, algo que não acontecia com as gerações anteriores. Porém, é no campo dos novos objetos de estudo histórico que a terceira geração dos Annales fará uma revolução dentro da já tradicional, àquela altura, escola histórica. Isto é, novos problemas foram colocados diante dos historiadores. As inovações se deram sobretudo no campo da história das mentalidades e no emprego de metodologia quantitativa na história cultural. Dessa forma, a orientação intelectual de diversos historiadores, de acordo com Burke (1997, p. 81) “[...] transferiu-se da base econômica para a ‘superestrutura’ cultural, ‘do porão ao sótão’”. Isto significa uma ruptura com o marxismo, que, ao contrário, vê a estrutura material da sociedade como a base da qual se irradiam os outros elementos que a constituem. Portanto, ocorre uma transição importante da história econômica para a história cultural, sendo essa passagem umas das prin- cipais contribuições historiográficas da terceira geração da Escola dos Annales. Essa mudança de foco, de acordo com Burke (1997), ocorreu como uma reação a Braudel, mais especificamente contra o determinismo histórico. Assim, historiadores como Philippe Ariès (1914–1984) voltaram-se para as relações entre a natureza e a cultura, produzindo estudos de grande quali- dade que perscrutavam as conexões entre fenômenos sociais e fenômenos naturais, tais como a infância, por exemplo. Ariès chegou a conclusões bas- tante interessantes, ao afirmar, por exemplo, que na Idade Média não havia a noção de infância tal como a percebemos hoje, com as crianças sendo vistas como adultos em miniatura, que participavam de todas as situações sociais. É uma contribuição valiosa para a compreensão da importância do contexto no trabalho do historiador, que deve evitar incorrer no erro do anacronismo. É evidente que, sempre que investigamos o passado, nossos valores e nosso tempo, de maneira mais ou menos intensa, exercerão alguma influência em nossas conclusões. Contudo, devemos ter em mente que ideias como indivi- dualidade, privacidade, infância e trabalho não são as mesmas em todos os lugares e no decorrer do tempo histórico. 11O conceito de história Phillipe Ariès foi um dos grandes nomes da terceira geração da Escola dos Annales. Ariès dedicou seus estudos às questões envolvendo família e infância. Confira no vídeo a seguir uma pequena biografia deste historiador. https://qrgo.page.link/9q25M Outro historiador importante da terceira geração é Jean Delumeau (1923–). Antes um historiador socioeconômico, acabou se interessando pela psicologia histórica. Baseando-se nos estudos de psicanalistas marxistas como Wilhelm Reich (1897–1957) e Erich Fromm (1900–1980), e escreveu a monumental obra História do medo no ocidente: 1300–1800: uma cidade sitiada, em que traça um grande panorama dos fatores que amedrontaram as pessoas no período escolhido (DELUMEAU, 2009). Fantasmas, judeus, mulheres, bruxas foram alguns dos principais medos da população europeia entre os séculos XIV e XIX, com alguns deles se tornando mais fortes em determinados períodos e praticamente desaparecendo em outros, revelando importante dinâmica histórica e cultural. Por fim, assumindo que a história é filha de seu tempo, não podemos desconsiderar a influência do contexto da década de 1960 sobre o apare- cimento da terceira geração da Escola dos Annales e sobre seu modo de fazer histórico. No contexto em questão, isto é, da sociedade industrial de consumo, a percepção de aceleração do tempo se tornou cada vez mais evi- dente. Certamente, os historiadores também se sentiram afetados por essas transformações. Isso levou: [...] os intelectuais ocidentais do pós-guerra a se confrontar com a necessidade de revisitar sua identidade coletiva em seus aspectos cruciais, definidores. E isso exigiu-lhes a reafirmação de seu poder sobre o passado, para alcançar uma história e uma legitimidade que só podiam advir da tradição e da longevidade. E não temos qualquer dúvida de que devemos situar como parte desse vasto reexame “da identidade coletiva ocidental” por parte de seus intelectuais os esforços de desbravamento e inovação historiográficos levados a cabo pela Nouvelle Histoire (RUST, 2008, documento on-line). O conceito de história12 Dessa forma, a aceleração do tempo ocorrida no instante em que a nova geração dos Annales surgiu fez com que seus historiadores buscassem amparo na antropologia, na sociologia e na psicologia, privilegiando temas humanos por excelência, como os medos, a morte, a infância, as superstições, em suma, as abstrações coletivas. A importância do contexto histórico O problema do anacronismo Observar o contexto histórico é tarefa essencial para o historiador. Um dos pio- res erros de abordagem que o historiador pode cometer é utilizar conceitos que fazem sentido na época em que produz seu texto, mas que são completamente estranhos à época sobre a qual se debruça. A isso chamamos de anacronismo, ou seja, atribuir a um determinado período histórico ideias, sentimentos, instituições e outras características gerais que já haviam desaparecido ou que surgiriam muito tempo depois. Um exemplo claro: um historiador, ao escrever sobre a forma como os antigos egípcios se organizavam em relação ao trabalho, jamais poderá utilizar categorias como burguesia ou proletariado, classes sociais que surgiriam muitos séculos depois. Para Febvre (1968, p. 15 apud RIAUDEL, 2015, documento on-line), o historiador deve evitar a todo custo o anacronismo, sendo este “[...] o pecado dos pecados, o pecado entre todos irremissível”. Para você conhecer uma importante discussão a respeito do anacronismo na história, leia o livro O problema da incredulidade no século XVI: a religião de Rabelais, de Lucien Febvre (1878–1956). Na obra, o autor procura rebater as ideias do historiador Abel Lefranc (1863–1952), para o qual o padre, médico e escritor François Rabelais (1494–1553) seria partidário de uma espécie de fé racional (ou seja, ateu). Febvre considera isso uma impossibilidade no século XVI, ou seja, um anacronismo por parte de Lefranc. Para Febvre, o conceito de ateísmo não existia no século XVI, ao menos como o entendemos atualmente, tornando impossível a incredulidade naquele período. 13O conceito de história No entanto, a questão do anacronismo na história não é tão simples. Mui-tas palavras que o historiador precisa usar para classificar elementos no seu objeto de estudo não existiam na época investigada. Entretanto, é necessária muitas vezes a utilização de vocabulário estranho ao passado, com origens mais recentes, mas indispensável para a correta compreensão dos fatos, fenô- menos ou características que o historiador deseja destacar, sem incorrer em anacronismo. Na época do Papa Gregório (540–604 d.C.), a palavra “papa” não era utilizada exclusivamente para nomear os líderes da Igreja Católica. Contudo, é perfeitamente aceitável que, nos dias de hoje, ao nos referirmos à Gregório, ele seja chamado de papa. Na época em que ele viveu, a palavra não possuía o sentido que tem hoje, mas ao utilizá-la, o historiador age com correção, esclarecendo perfeitamente quem foi personagem histórico Papa Gregório (BARROS, 2017). De acordo com Barros (2017, documento on-line) “[...] não há uma receita” que o historiador possa seguir para determinar quais palavras soam como anacronismo e quais não. No exemplo acima, isso parece funcionar muito bem, o que já não ocorreria com a palavra “guerrilheiro” ou “guerrilha” para caracterizar pequenos grupos beligerantes de um passado longínquo. Seria uma questão de feeling do historiador. Isso se dá dessa forma pois no campo das palavras de uso cotidiano a questão é mais simples do que no campo conceitual, que veremos a seguir. Contexto histórico e o uso preciso dos conceitos Tendo em vista os cuidados redobrados que o historiador precisa ter para não cair no erro do anacronismo, uma boa compreensão do contexto histórico sobre o qual ele dedica seus esforços de pesquisa facilitará enormemente seu trabalho. Para isso, é fundamental o domínio dos conceitos, de forma a não atribuir a uma determinada época signifi cados impossíveis. Embora na prática seja difícil suprimir o descompasso cronológico existente entre duas épocas, é absolutamente necessário que o historiador procure entender como os homens e mulheres do passado pensavam e entendiam a vida, para que consiga recriar da forma mais aproximada possível o “espírito” da época em seu texto. A dificuldade existente quando um historiador trata de um contexto histó- rico totalmente diverso do seu implica, de acordo com Barros (2017, documento on-line), em duas formas principais de anacronismo: O conceito de história14 Em um caso, pode ocorrer o anacronismo “de ontem para hoje”. É o que ocorre quando lemos um texto de outra época e, de modo inaceitável, atribuímos a certa palavra um sentido que ela não tem hoje, comprometendo toda a inter- pretação do texto. Em outro caso, pode ocorrer o anacronismo “de hoje para ontem”. É o que se verifica quando, ao tentar analisar um texto ou processo histórico do passado, ou ao tentar descrever cenas e acontecimentos históricos, utilizo uma palavra de hoje (que não existia naquela época) e o resultado é ca- tastrófico, produzindo incontornáveis estranhamentos e drásticas deformações. Como visto, exige-se do historiador, no trato de suas fontes, uma precisão absoluta, tanto em termos de palavras quanto no de conceitos. Em termos conceituais, o trabalho do historiador apresenta suas próprias especificidades. Na produção historiográfica, o historiador irá se deparar com dois níveis de conceitos. O primeiro deles consiste naqueles conceitos com origens dentro do próprio campo da história, ou das ciências humanas. No segundo nível, vamos encontrar os conceitos que surgem nas próprias fontes. Dessa forma, o historiador encontra-se numa posição intermediária, entre duas temporalidades conceituais. É importante frisar que mesmo conceitos criados pelas ciências humanas há séculos ainda podem ser utilizados nas pesquisas atuais, ou ao menos em determinadas perspectivas historiográficas, como os conceitos de modo de produção e ideologia, por exemplo, amplamente utilizados entre os historiadores marxistas. A questão se torna mais complexa quando se trata dos conceitos expressos pelas fontes. A interpretação pouco precisa ou anacrônica desses conceitos pode comprometer totalmente a qualidade científica de um trabalho de história. A natureza do ofício do historiador é que está por traz dessa dupla dificuldade conceitual, pois a história é a ciência que tem por objeto o passado. Portanto, o texto do historiador, além dos conceitos que ele utiliza para entender e explicar o seu objeto, sempre trará os conceitos de outras épocas, expressos pelas fontes e pela reprodução que o historiador faz delas (BARROS, 2017). Portanto, ao trabalhar com o tempo e com conceitos, o historiador deve atentar sobretudo ao contexto histórico. Um exemplo fácil de entender: o con- ceito de Idade das Trevas, frequentemente utilizado não só pelos historiadores como pelo senso comum. É evidente que os homens e mulheres que viviam no período medieval não viam sua própria existência como dentro de uma “Idade das Trevas”. Portanto, quando usamos esse conceito devemos ter em mente que ele tem sua historicidade e surge em um determinado ponto muito 15O conceito de história específico do tempo, durante o Renascimento. Como houve um importante movimento intelectual e artístico nesse período que se voltava para a Antigui- dade Clássica, passou-se a se considerar o período histórico imediatamente anterior como um período no qual o obscurantismo dominara a sociedade, mergulhando-a nas trevas. Como visto, a natureza duplamente conceitual do historiador torna seu trabalho mais complexo, sobretudo quando consciente de que é fundamental compreender bem os diferentes contextos históricos. Além da consciência da historicidade do objeto de estudo em si, é fundamental que o historiador se conscientize sobre a historicidade dos conceitos também. Os conceitos servem para que a produção do conhecimento se torne possível; portanto, seu manejo deve ser hábil, de maneira que o anacronismo seja evitado e assim não seja comprometida a veracidade do trabalho histórico. ALTHUSSER, L. Advertência aos leitores do Livro I d'O Capital. In: MARX, K. O capital: crítica da economia política: o processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo Editorial, 2017. Livro 1. BARROS, J. A. Os conceitos na história: considerações sobre o anacronismo. Ler História, n. 71, p. 155-180, 2017. Disponível em: https://journals.openedition.org/lerhistoria/2930. Acesso em: 13 ago. 2019. BLOCH, M. Apologia da história ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. BOURDÉ, G.; MARTIN, H. As escolas históricas. Lisboa: Publicações Europa-América, 1983. BURKE, P. A escola dos annales (1929-1989): a Revolução Francesa da historiografia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997. DELUMEAU, J. História do medo no ocidente 1300-1800: uma cidade sitiada. 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