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DIREITOS HUMANOS Edição 2022.1 DIREITOS HUMANOS APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................... 8 TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS ................................................................................ 9 1. CONCEITO .............................................................................................................................. 9 2. TERMINOLOGIA ..................................................................................................................... 9 2.1. DIREITOS FUNDAMENTAIS ............................................................................................ 9 2.2. DIREITOS DO HOMEM .................................................................................................. 10 2.3. LIBERDADES PÚBLICAS E LIBERDADES FUNDAMENTAIS ....................................... 10 2.4. DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS ....................................................................... 10 3. FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS ...................................................................... 10 3.1. NEGACIONISTA ............................................................................................................. 10 3.2. JUSNATURALISTA ........................................................................................................ 11 3.3. POSITIVISTA.................................................................................................................. 11 4. FONTES ................................................................................................................................ 11 4.1. CONVENÇÕES INTERNACIONAIS ............................................................................... 12 4.2. COSTUME INTERNACIONAL ........................................................................................ 12 4.3. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO ............................................................................... 13 4.4. DECISÕES JUDICIAIS E DOUTRINA ............................................................................ 13 4.5. OUTRAS FONTES ......................................................................................................... 13 5. CLASSIFICAÇÃO .................................................................................................................. 14 5.1. CLASSIFICAÇÃO CLÁSSICA – GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS ...................... 14 5.1.1. 1ª Geração/Dimensão .............................................................................................. 14 5.1.2. 2ª Geração/Dimensão .............................................................................................. 14 5.1.3. 3ª Geração/Dimensão .............................................................................................. 15 5.2. CLASSIFICAÇÃO CONFORME O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS ................................................................................................................................ 15 5.2.1. Direitos Civis ............................................................................................................ 15 5.2.2. Direitos Políticos ...................................................................................................... 19 5.2.3. Direitos Econômicos ................................................................................................ 20 5.2.4. Direitos sociais ......................................................................................................... 21 5.2.5. Direitos Culturais ..................................................................................................... 23 5.3. DIREITOS HUMANOS GLOBAIS ................................................................................... 23 6. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO ..................................................................................... 23 6.1. PRINCÍPIO PRO HOMINE OU PRO PERSONA............................................................. 24 6.2. PRINCÍPIO DA EFICÁCIA DIRETA OU DA AUTOEXECUTORIEDADE ......................... 24 6.3. PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO AUTÔNOMA ........................................................... 25 6.4. PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO EVOLUTIVA OU DINÂMICA ................................... 25 6.5. TEORIA DA MARGEM DE APRECIAÇÃO ...................................................................... 25 7. CARACTERÍSTICAS ............................................................................................................. 25 7.1. INERÊNCIA .................................................................................................................... 26 7.2. UNIVERSALIDADE ........................................................................................................ 26 7.3. INDIVISIBILIDADE E INTERDEPENDÊNCIA ................................................................. 27 7.4. TRANSNACIONALIDADE............................................................................................... 27 7.5. PROIBIÇÃO DO REGRESSO OU VEDAÇÃO DO RETROCESSO ................................ 28 7.6. IMPRESCRITIBILIDADE ................................................................................................ 28 7.7. INALIENABILIDADE ....................................................................................................... 28 7.8. IRRENUNCIABILIDADE ................................................................................................. 28 7.9. EFETIVIDADE ................................................................................................................ 28 . 7.10. HISTORICIDADE ............................................................................................................ 28 7.11. LIMITABILIDADE RELATIVIDADE ................................................................................. 28 7.12. ABERTURA, NÃO TIPICIDADE OU INEXAURIBILIDADE .............................................. 29 8. EVOLUÇÃO HISTÓRICA ....................................................................................................... 29 8.1. FASE PRÉ-ESTADO CONSTITUCIONAL ...................................................................... 29 8.1.1. A Antiguidade Oriental e o esboço da construção de direitos ................................... 29 8.1.2. A visão grega e a democracia ateniense.................................................................. 29 8.1.3. A República Romana ............................................................................................... 29 8.1.4. O Antigo e o Novo Testamento e as influências do cristianismo e da Idade Média .. 30 8.1.5. Resumo da ideia dos direitos humanos na Antiguidade: a liberdade dos antigos e a liberdade dos modernos ......................................................................................................... 30 8.2. CRISE DA IDADE MÉDIA, INÍCIO DA IDADE MODERNA E PRIMEIROS DIPLOMAS DE DIREITOS HUMANOS .............................................................................................................. 30 8.3. DEBATE DAS IDEIAS DE HOBBERS, GRÓCIO, LOCKE, ROUSSEAU E OS ILUMINISTAS ............................................................................................................................ 30 8.4. FASE DO CONSTITUCIONALISMO LIBERAL E DAS DECLARAÇÕES DE DIREITOS.31 8.5. FASE DO SOCIALISMO E DO CONSTITUCIONALISMO SOCIAL ................................ 31 8.6. INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ................................................ 31 9. PRECEDENTES HISTÓRICOS DO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS 31 9.1. DIREITO HUMANITÁRIO ............................................................................................... 31 9.2. LIGA DAS NAÇÕES .......................................................................................................32 9.3. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO...................................................... 32 10. EIXOS DE PROTEÇÃO ..................................................................................................... 32 10.1. DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS .............................................. 32 10.2. DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO .................................................................. 33 10.3. DIREITO INTERNACIONAL DOS REFUGIADOS ........................................................... 33 TEORIA GERAL DOS SISTEMAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ................................................................................................................................... 34 1. ELEMENTOS CARACTERIZADORES .................................................................................. 34 1.1. NORMAS ........................................................................................................................ 34 1.2. ÓRGÃOS ........................................................................................................................ 34 1.3. MECANISMOS DE PROTEÇÃO ..................................................................................... 34 2. ESPÉCIES DE SISTEMA INTERNACIONAL ......................................................................... 35 3. PRINCÍPIOS .......................................................................................................................... 35 3.1. PRINCÍPIO DA COEXISTÊNCIA .................................................................................... 35 3.2. PRINCÍPIO DA LIVRE ESCOLHA .................................................................................. 35 3.3. PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE OU DA COMPLEMENTARIEDADE ....................... 35 3.4. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO ..................................................................................... 36 SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ............................................... 37 1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA ....................................................................................................... 37 1.1. CARTA DE SÃO FRANCISCO ....................................................................................... 37 1.2. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE DIREITOS HUMANOS ................................................ 37 1.3. PACTOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS ................................................ 37 1.4. MECANISMOS DE PROTEÇÃO ..................................................................................... 39 2. ARQUITETURA NORMATIVA DO SISTEMA GLOBAL.......................................................... 39 3. ESTRUTURA DA ONU .......................................................................................................... 40 4. MECANISMOS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS ............................................... 41 4.1. CONCEITO ..................................................................................................................... 41 . 4.2. MECANISMOS CONVENCIONAIS x MECANISMOS EXTRACONVENCIONAIS ........... 41 4.3. MECANISMOS CONVENCIONAIS ................................................................................. 42 4.3.1. Mecanismos convencionais não contenciosos ......................................................... 43 4.3.2. Mecanismos convencionais quase-contenciosos ..................................................... 44 4.3.3. Mecanismos convencional contencioso ................................................................... 44 4.4. MECANISMOS EXTRACONVENCIONAIS ..................................................................... 45 4.4.1. Procedimentos especiais ......................................................................................... 45 4.4.2. Procedimento de queixa .......................................................................................... 45 4.4.3. Revisão periódica universal ..................................................................................... 46 5. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (DUDH) ....................................... 47 6. PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS ..................................... 50 6.1. PROTOCOLOS FACULTATIVOS ................................................................................... 57 6.2. MECANISMO DE PROTEÇÃO: COMITÊ DE DIREITOS HUMANOS ............................. 57 6.3. CASO LULA ................................................................................................................... 61 7. PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS (PIDESC) ...................................................................................................................................... 62 7.1. MECANISMO DE PROTEÇÃO: COMITÊ DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS .............................................................................................................................. 65 7.1.1. Comunicações individuais (queixas ou petições) ..................................................... 65 7.1.2. Comunicações interestatais ..................................................................................... 66 7.1.3. Procedimento de investigação ................................................................................. 66 8. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL ........................................................................................................... 66 8.1. COMITÊ PARA A ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL .................................... 68 9. CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER ................................................................................................................... 69 9.1. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER ............................................................. 71 9.2. COMITÊ SOBRE A ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER ............ 71 10. CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES ............................................................................................. 73 10.1. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES ........................... 77 10.2. COMITÊ .......................................................................................................................... 78 10.3. SUBCOMITÊ PARA PREVENÇÃO DA TORTURA ......................................................... 82 11. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA ........................... 82 11.1. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS CRIANÇAS, RELATIVO À VENDA DE CRIANÇAS, PROSTITUIÇÃO INFANTIL E PORNOGRAFIA INFANTIL .................................................................................................... 86 11.2. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA, RELATIVO À PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS EM CONFLITOS ARMADOS ................................................................................................................................ 86 11.3. COMITÊ SOBRE OS DIREITOS DAS CRIANÇAS ......................................................... 86 12. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ............................................................................................................................... 88 12.1. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA .................................................................................................................. 91 12.2. COMITÊ DOS DIREITOS DAS PESSOASCOM DEFICIÊNCIAS ................................... 91 13. CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E PUNIÇÃO AO CRIME DE GENOCÍDIO .............. 92 . 14. CONVENÇÃO INTERNACIONAL PARA A PROTEÇÃO DE TODAS AS PESSOAS CONTRA OS DESAPARECIMENTOS FORÇADOS ..................................................................... 93 14.1. COMITÊ CONTRA DESAPARECIMENTOS FORÇADOS .............................................. 94 15. CONVENÇÃO PARA A PROTEÇÃO DOS DIREITOS DE TODOS OS TRABALHADORES MIGRANTES E MEMBROS DAS SUAS FAMÍLIAS ...................................................................... 96 15.1. COMITÊ .......................................................................................................................... 97 SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ............................. 98 1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA ....................................................................................................... 98 1.1. 1ª ETAPA: ANTECEDENTES DA CRIAÇÃO .................................................................. 98 1.2. 2ª ETAPA: INAUGURAÇÃO E FORMAÇÃO DO SISTEMA ............................................ 99 1.3. 3ª ETAPA: INÍCIO DO PERÍODO DE MONITORAMENTO ........................................... 102 1.4. 4ª ETAPA: INSTITUCIONALIZAÇÃO CONVENCIONAL DO SISTEMA ........................ 102 1.5. 5ª ETAPA: CONSOLIDAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DO SISTEMA ......................... 102 2. DIVISÃO DO SISTEMA INTERAMERICANO ....................................................................... 103 3. COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS ............................................... 103 3.1. CONCEITO ................................................................................................................... 103 3.2. ORIGEM ....................................................................................................................... 103 3.3. REGIME JURÍDICO ...................................................................................................... 104 3.4. FUNÇÕES .................................................................................................................... 104 3.5. COMPOSIÇÃO ............................................................................................................. 107 3.5.1. Membros................................................................................................................ 107 3.5.2. Processo de escolha dos membros ....................................................................... 107 3.5.3. Mandato ................................................................................................................ 109 3.5.4. Regime de incompatibilidades ............................................................................... 109 3.5.5. Impedimentos ........................................................................................................ 110 3.6. FUNCIONAMENTO ...................................................................................................... 110 3.6.1. Organização interna............................................................................................... 111 3.6.2. Período de sessões ............................................................................................... 112 3.6.3. Relatorias e grupos de trabalho ............................................................................. 112 3.6.4. Quórum de votação ............................................................................................... 114 3.7. IDIOMAS DE TRABALHO ............................................................................................. 114 4. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS ..................................................... 114 4.1. CONCEITO ................................................................................................................... 114 4.2. ORIGEM ....................................................................................................................... 116 4.3. REGIME JURÍDICO ...................................................................................................... 116 4.4. COMPOSIÇÃO ............................................................................................................. 116 4.4.1. Membros................................................................................................................ 117 4.4.2. Requisitos para o cargo ......................................................................................... 117 4.4.3. Eleição ................................................................................................................... 118 4.4.4. Mandato ................................................................................................................ 119 4.4.5. Juiz ad hoc ............................................................................................................ 119 4.5. JURISDIÇÃO CONSULTIVA DA CORTE ..................................................................... 120 4.5.1. Previsão normativa ................................................................................................ 120 4.5.2. Finalidade .............................................................................................................. 120 4.5.3. Alcance .................................................................................................................. 121 4.5.4. Características do procedimento consultivo ........................................................... 121 4.5.5. Objeto da consulta ................................................................................................. 121 4.5.6. Procedimento de emissão de opinião consultiva .................................................... 123 4.5.7. Efeitos jurídicos das opiniões consultivas .............................................................. 123 . 4.5.8. Opiniões consultivas emitidas pela Corte ............................................................... 124 4.6. JURISDIÇÃO CONTENCIOSA DA CORTE INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 151 4.6.1. Conceito ................................................................................................................ 151 4.6.2. (Im) possibilidade de “retirar” a aceitação da competência contenciosa .................... 152 4.6.3. Competência em razão da pessoa (ratione personae) ........................................... 152 4.6.1. Competência em razão da matéria (ratione materiae) ............................................ 152 4.6.2. Competência ratione temporis ............................................................................... 153 4.6.3. Competência ratione loci ....................................................................................... 153 4.6.4. Casos julgados pela Corte ..................................................................................... 153 5. APURAÇÃO DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADO ........................... 153 5.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................ 153 5.2. PROCEDIMENTO PERANTE A COMISSÃO ................................................................ 154 5.2.1. Tramitação inicial ................................................................................................... 154 5.2.2. Procedimento de admissibilidade ........................................................................... 154 5.2.3. Procedimento sobre o mérito ................................................................................. 156 5.2.4. Relatório preliminar ................................................................................................ 157 5.2.5. Relatório definitivo ................................................................................................. 157 5.2.6. Acompanhamento.................................................................................................. 158 5.3. PROCEDIMENTO PERANTE A CORTE ...................................................................... 158 5.3.1. Submissão do caso pela CIDH e exame preliminar pela Presidência ..................... 158 5.3.2. Notificação do caso ................................................................................................ 159 5.3.3. Apresentação por escrito de petições .................................................................... 159 5.3.4. Contestação do Estado .......................................................................................... 159 5.3.5. Outros atos e procedimentos por escrito ................................................................ 160 5.3.6. Apresentação de amicus curiae ............................................................................. 160 5.3.7. Procedimento oral .................................................................................................. 160 5.3.8. Procedimento final escrito ...................................................................................... 160 5.3.9. Espaços de desistência e consenso ...................................................................... 161 5.3.10. Sentença ............................................................................................................... 161 6. MEDIDAS DE URGÊNCIA NO SISTEMA INTERAMERICANO ........................................... 161 6.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................ 161 6.2. MEDIDAS CAUTELARES DA COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS .............................................................................................................................. 162 6 3. MEDIDAS PROVISÓRIAS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITO HUMANOS 163 7. SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS .................... 165 7.1. DIREITOS HUMANOS E ACESSO À JUSTIÇA ............................................................ 165 7.2. 100 REGRAS DE BRASÍLIA ......................................................................................... 166 7.2.1. Finalidade .............................................................................................................. 166 7.2.2. Natureza jurídica .................................................................................................... 166 7.2.3. Conceitos relevantes ............................................................................................. 166 7.3. A DEFENSORIA PÚBLICA E A OEA ............................................................................ 166 7.4. DEFENSORIA PÚBLICA INTERAMERICANA .............................................................. 167 7.4.1. Considerações iniciais ........................................................................................... 167 7.4.2. Conceito ................................................................................................................ 167 7.4.3. Modelos de oferecimento de assistência jurídica gratuita no âmbito de tribunais internacionais ....................................................................................................................... 167 SISTEMA EUROPEU DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS .......................................... 169 . 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................................... 169 2. CONSELHO DA EUROPA ................................................................................................... 169 2.1. ESTRUTURA ................................................................................................................ 169 2.1.1. Secretário-geral ..................................................................................................... 169 2.1.2. Comitê de Ministros ............................................................................................... 169 2.1.3. Assembleia Parlamentar ........................................................................................ 169 2.1.4. Congresso dos Poderes Locais e Regionais .......................................................... 169 2.1.5. Tribunal Europeu de Direitos Humanos ................................................................. 169 2.1.6. Comissário para os Direitos Humanos ................................................................... 170 2.1.7. Conferência de ONGIs ........................................................................................... 170 2.1.8. Comitê Europeu para a Prevenção da Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis 170 2.1.9. Comitê Europeu dos Direitos Sociais ..................................................................... 170 3. CONVENÇÃO EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS (CEDH) ........................................... 170 4. ÓRGÃOS DE MONITORAMENTO ...................................................................................... 171 5. TRIBUNAL EUROPEU DE DIREITOS HUMANOS (TEDH) ................................................. 171 SISTEMA AFRICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ......................................... 172 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................................... 172 2. COMISSÃO AFRICANA DE DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS ................................... 172 3. CORTE AFRICANA DE DH E DOS POVOS ........................................................................ 172 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL ........................................................................................ 173 1. DIREITO INTERNACIONAL PENAL .................................................................................... 173 2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL ...................... 173 2.1. 1º ANTECEDENTE – TRATADO DE VERSAILLES, 1919 ............................................ 173 2 2. 2º ANTECEDENTE – TRIBUNAL INTERNACIONAL MILITAR DE NUREMBERG, 1945 174 2.3. 3º ANTECEDENTE – TRIBUNAL MILITAR INTERNACIONAL PARA O EXTREMO- ORIENTE (Tribunal de Tóquio), 1946 ...................................................................................... 174 2.4. 4º ANTECEDENTE – PRINCÍPIOS DE NUREMBERG, 1946 ...................................... 174 2.5. 5º ANTECEDENTE – CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E A PUNIÇÃO DO CRIME DE GENOCÍDIO, 1948 ............................................................................................................ 174 2.6. 6º ANTECEDENTE – RESOLUÇÕES Nº 827/1993 E 955/1994 DO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU ........................................................................................................... 174 2.7. 7º ANTECEDENTE – ADOÇÃO DO ESTATUTO DO TP, 1998 ................................... 175 3. GERAÇÕES DE TRIBUNAIS PENAIS INTERNACIONAIS .................................................. 175 4. ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO TPI ....................................................................... 175 5. COMPOSIÇÃO, CANDIDATURA E ELEIÇÃO DOS JUÍZES ................................................ 176 6. CRIMES DE COMPETÊNCIA DO TPI ................................................................................. 177 7. CONDIÇÕES PARA O EXERCÍCIO DA COMPETÊNCIA PELO TPI ................................... 182 8. DISPOSIÇÕES PENAIS APLICÁVEIS AO JULGAMENTO PELO TPI ................................. 183 8.1. NULLUM CRIMEN SINE LEGE .................................................................................... 183 8.2. NULLA POENA SINE LEGE ......................................................................................... 184 8.3. NÃO RETROATIVIDADE .............................................................................................. 184 8.4. RESPONSABILIDADE CRIMINAL INDIVIDUAL ...........................................................184 8.5. EXCLUSÃO DA JURISDIÇÃO RELATIVAMENTE A MENORES DE 18 ANOS ............ 185 8.6. IRRELEVÂNCIA DA QUALIDADE OFICIAL .................................................................. 185 8.7. RESPONSABILIDADE DOS CHEFES MILITARES E OUTROS SUPERIORES HIERÁRQUICOS ..................................................................................................................... 185 8.8. IMPRESCRITIBILIDADE .............................................................................................. 186 8.9. ELEMENTOS PSICOLÓGICOS .................................................................................... 186 . 8.10. CAUSAS DE EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL ................................. 186 8.11. ERRO DE FATO OU ERRO DE DIREITO .................................................................... 187 8.12. DECISÃO HIERÁRQUICA E DISPOSIÇÕES LEGAIS .................................................. 187 9. PENAS APLICADAS ............................................................................................................ 187 10. PROCEDIMENTO DE INVESTIGAÇÃO, INSTRUÇÃO, JULGAMENTO E EXECUÇÃO DA PENA 188 11. A RELAÇÃO DO BRASIL COM O TPI.............................................................................. 188 12. DECISÕES DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL .................................................... 189 12.1. CASO THOMAS LUBANGA DYILO .............................................................................. 189 12.2. CASO MATHIEU NGUDJOLO CHUI ............................................................................ 189 12.3. CASO GERMAIN KATANGA ........................................................................................ 190 12.4. CASO JEAN PIERRE BEMBA ...................................................................................... 190 12.5. CASO AHAMAD AL-FAQI AL-MAHDI ........................................................................... 190 12.6. CASO OMAR AL BASHIR “CASO DARFUR” ........................................................................ 190 CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE .................................................................................. 191 1. CONCEITO .......................................................................................................................... 191 2. CLASSIFICAÇÃO ................................................................................................................ 191 3. OBJETIVOS......................................................................................................................... 191 4. DESENVOLVIMENTO DO CONTEÚDO E DO ALCANCE DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE ............................................................................................................ 192 4.1. PRIMEIRA ETAPA ........................................................................................................ 192 4.2. SEGUNDA ETAPA ....................................................................................................... 192 4.3. TERCEIRA ETAPA ....................................................................................................... 192 5. ELEMENTOS OU CARACTERÍSTICAS DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE CONFORME A JURISPRUDÊNCIA DA CORTE IDH ................................................................. 192 5.1. DEVE SER EXERCIDO DE OFÍCIO E NO MARCO DE COMPETÊNCIAS E REGULAÇÕES PROCESSUAIS CORRESPONDENTES ....................................................... 192 5.2. O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE É UMA OBRIGAÇÃO DE TODA AUTORIDADE PÚBLICA ......................................................................................................... 193 5.3. PARÂMETRO DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE ...................................... 193 5.4. OBJETO DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE ............................................... 193 5.5. PRINCÍPIO DA ATIPICIDADE DOS MEIOS DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE ......................................................................................................... 193 SISTEMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS....................................................................... 195 1. INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA .................................................... 195 1.1. PREVISÃO E CONSIDERAÇÕES ................................................................................ 195 1.2. REQUISITOS................................................................................................................ 195 1.3. LEGITIMIDADE ............................................................................................................ 195 1.4. COMPETÊNCIA ........................................................................................................... 195 1.5. JULGAMENTOS ........................................................................................................... 196 2. PROCESSO DE INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS ................................................................................................................................. 198 2.1. PODERES ENVOLVIDOS NO PROCESSO DE INCORPORAÇÃO DO TRATADO NA ORDEM JURÍDICA INTERNA ................................................................................................. 198 2.2. FASES DO PROCESSO DE INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS ............................................................................................................ 199 2.2.1. Fase de assinatura ................................................................................................ 199 2.2.2. Fase de apreciação legislativa ou fase congressual ............................................... 199 2.2.3. Fase de ratificação ................................................................................................ 199 2.2.4. Fase de promulgação ............................................................................................ 199 . 3. HIERARQUIA DOS TRATADOS .......................................................................................... 200 DIREITOS HUMANOS DOS GRUPOS VULNERÁVEIS ............................................................. 202 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................................... 202 2. MULHERES ......................................................................................................................... 202 3. PESSOAS NEGRAS ............................................................................................................ 203 4. CRIANÇA E ADOLESCENTE .............................................................................................. 204 5. PESSOAS IDOSAS ............................................................................................................. 207 6. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ........................................................................................... 207 7. PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA .................................................................................... 209 8. POVOS INDÍGENAS ........................................................................................................... 209 9. LGBTQI+ ............................................................................................................................. 210 10. QUILOMBOLAS ............................................................................................................... 211 11. REFUGIADOS ................................................................................................................. 211 CS – DIREITOS HUMANOS 2022 8 . APRESENTAÇÃO Olá! Inicialmente, gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja útil na sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fontede estudo, mais familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria. O Caderno Sistematizado de Direitos Humanos possui como base as aulas da Prof. Valério Mazzuoli e do Prof. Caio Paiva. Além disso, utilizamos as seguintes obras: Curso de Direitos Humanos, André de Carvalho Ramos; Curso de Direitos Humanos, Valério Mazzuoli; Jurisprudência Internacional de Direitos Humanos, Caio Paiva e Thimotie Heemann. Ademais, no Caderno constam os principais artigos dos tratados, mas, ressaltamos, que é necessária leitura conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação. Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina + informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você faça uma boa prova. Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito importante!! As bancas costumam repetir certos temas. Vamos juntos!! Bons estudos!! Equipe Cadernos Sistematizados. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 9 . TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS 1. CONCEITO Inicialmente, destaca-se que, a partir do estudo da Teoria Geral dos Direitos Humanos, há duas maneiras/técnicas de conceituar Direitos Humanos, quais sejam: generalista e específica. a) Generalista Não há diferença entre direitos humanos e direitos fundamentais. Portanto, direitos humanos seriam um conjunto de direito essenciais para a consecução de uma vida digna para todos os seres humanos, independentemente de previsão na Constituição ou em tratados internacionais. b) Específica É preciso diferenciar direitos fundamentais de direitos humanos, seja porque os mecanismos de proteção são distintos seja porque o Direito Internacional dos Direitos Humanos é ramo autônomo quando comparado ao Direito Constitucional. Assim, entendem que Direitos Humanos são aqueles necessários para a consecução de uma vida digna, previstos em instrumentos internacionais de proteção. Observe o conceito adotado por Caio Paiva, seguindo a técnica específica: “direitos humanos são o conjunto de direitos previstos em instrumentos internacionais1 que proporcionam a todos os seres, independentemente de qualquer condição2, a base essencial3 para que tenham uma vida digna e para que se protejam contra violações praticadas ou toleradas pelo Estado4” 1) Os direitos humanos estão previstos apenas nos instrumentos internacionais. Obviamente, que alguns também estarão previstos nas Constituições; 2) Não dependem de raça, etnia, gênero. Todos possuem direito a ter direitos; 3) Nem todo direito que é essencial para a pessoa é um direito humano, mas apenas a sua base essencial (mínimo); 4) As violações de direitos humanos são praticadas pelo Estado ou toleradas por ele. Por exemplo, quando “A” mata “B” não há uma violação de direitos humanos, mas quando um Policial mata um civil o direito estará violado. O mesmo ocorre quando o Estado não investiga o crime praticado por “A”. 2. TERMINOLOGIA Importante, ainda, diferenciar as diversas terminologias que, algumas vezes, são confundidas com direitos humanos. 2.1. DIREITOS FUNDAMENTAIS CS – DIREITOS HUMANOS 2022 10 Disponibilizado exclusivamente para . A expressão “direitos fundamentais” surgiu no contexto da proteção nacional dos direitos humanos (proteção internacional). 2.2. DIREITOS DO HOMEM Tal expressão é utilizada na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (França, 1789), na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (Bogotá, 1948) e na Convenção Europeia dos Direitos do Homem (Roma, 1950). Contudo, após a Declaração Universal de Direitos Humanos passou a ser evitada, uma vez que possui caráter sexista, excluindo as mulheres. 2.3. LIBERDADES PÚBLICAS E LIBERDADES FUNDAMENTAIS Maior incidência na doutrina francesa, prioriza os direitos de primeira geração. 2.4. DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS Segue a técnica generalista, não fazendo distinção entre direitos fundamentais e direitos humanos. 3. FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS Estão relacionados à razão justificadora dos direitos humanos. Há uma série de teorias que visam justificar os direitos humanos, algumas até com sub-ramos, abordaremos as três principais: negacionista, jusnaturalista e positivistas. 3.1. NEGACIONISTA Norberto Bobbio é seu maior defensor. Nega qualquer possibilidade de encontrar um fundamento único ou absoluto para os direitos humanos, uma vez que há a expressão “direitos humanos” é muito vaga (não há consenso), 1 Caso queira aprofundar, recomenda-se a leitura do texto de Ingo Sarlet, publicado do site Conjur em 23 de janeiro de 2015 (https://www.conjur.com.br/2015-jan-23/direitos-fundamentais-aproximacoes-tensoes- existentes-entre-direitos-humanos-fundamentais) QP (oral): Qual a proteção mais ampla a dos direitos humanos ou a dos direitos fundamentais1? Pela via territorial, a proteção dos direitos humanos é mais ampla que a dos direitos fundamentais, tendo em vista que a proteção extravasa as fronteiras dos países. Contudo, sob o aspecto material, a proteção dos direitos fundamentais é mais ampla, especialmente no Brasil em que há uma Constituição Prolixa, em que se protege o FGTS, o 13º salário que não estão previstos em tratados internacionais. https://www.conjur.com.br/2015-jan-23/direitos-fundamentais-aproximacoes-tensoes-existentes-entre-direitos-humanos-fundamentais https://www.conjur.com.br/2015-jan-23/direitos-fundamentais-aproximacoes-tensoes-existentes-entre-direitos-humanos-fundamentais CS – DIREITOS HUMANOS 2022 11 . ademais o conteúdo é muito variado (direitos políticos, civis, econômicos, sociais, culturais) e, por fim, são dotados de heterogeneidade (cada região possui seu bloco de direitos humanos). 3.2. JUSNATURALISTA Sustenta que o ser humano possui direitos naturais anteriores e superiores ao Estado. Divide-se em: a) Escola de Direito Natural de Razão Divina – os direitos humanos são advindos de Deus. b) Escola de Direito Natural Moderno – os direitos humanos são inerentes à condição de ser humano. A Declaração Universal de Direitos Humanos possui inspiração jusnaturalista. Há alguns pontos frágeis na Teoria Jusnaturalistas: • Impossibilidade de comprovação empírica das escolas vistas acima; • Dificuldade em explicar a imutabilidade dos direitos naturais em razão da constante alteração do conteúdo de direitos essenciais ao indivíduo ao longo dos séculos 3.3. POSITIVISTA A fundamentação dos direitos humanos somente pode ser encontrada no ordenamento jurídico internacional, a exemplo de tratados, convenções. É criticada, tendo em vista que possui dificuldade de promover a observância aos direitos humanos em Estados que tenham se recusado a assinar, ratificar e incorporar na ordem jurídica interna os tratados que os preveem. 4. FONTES O tema “fontes de direitos humanos” está relacionado à origem do instituto, é tema reservado mais ao Direito Internacional Público, tanto que é encontrado no art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, são as mesmas fontes do Direito Internacional. Artigo 38 1. A Corte, cuja função seja decidir conforme o direito internacional as controvérsias que sejam submetidas, deverão aplicar; 2. As convenções internacionais, sejam gerais ou particulares, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; 3. O costume internacional como prova de uma prática geralmente aceita como direito; 4. Os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações civilizadas; 5. As decisões judiciais e as doutrinas dos publicitários de maior competência das diversas nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito, sem prejuízo do disposto no Artigo 59. CS – DIREITOSHUMANOS 2022 12 . Segundo André de Carvalho Ramos, são fontes do Direito Internacional, apesar de não mencionadas no artigo 38, os atos unilaterais e as resoluções vinculantes das organizações internacionais. Importante ressaltar que não existe hierarquia entre as fontes principais. Embora seja mais fácil e prático aplicar um tratado internacional, pois está escrito, do que um costume internacional, algo “invisível”. 4.1. CONVENÇÕES INTERNACIONAIS Tradados são acordos juridicamente obrigatórios e vinculantes, firmados entre sujeitos de Direito Internacional, também chamados de Convenções, Pactos, Protocolo (documento adicional, tratado anexo a um tratado). Não se confundem com as declarações (DUDH e a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, por exemplo) que, por não gerarem efeitos jurídicos (direitos e obrigações), não podem ser entendidas como tratados, constituindo categoria diversa. A Convenção de Viena, em ser art. 2.1 traz o seguinte conceito de tratado: Entende-se por regime objetivo dos tratados internacionais de direitos humanos, a ausência de caráter sinalagmático presente nos tratados ordinários do direito internacional. Ou seja, não há acordo de vontades entre os Estados Contratantes, o Estado ao aderir o tratado internacional de direitos humanos contrai obrigações, não há nenhum benefício subjetivo, por isso é considerado um regime objetivo. Nesse sentido, a Opinião Consultiva nº 2 da Corte Interamericana de Direitos Humanos: “29. A Corte deve enfatizar, porém, que os tratados modernos sobre direitos humanos, em geral, e, em particular, a Convenção Americana, não são tratados multilaterais do tipo tradicional, concluídos em função de um intercâmbio recíproco de direitos, para o benefício mútuo dos Estados contratantes. Seu objeto e fim são a proteção dos direitos fundamentais dos seres humanos, independentemente de sua nacionalidade, tanto frente a seu próprio Estado como frente aos outros Estados contratantes. Ao aprovar esses tratados sobre direitos humanos, os Estados se submetem a uma ordem geral dentro da qual eles, pelo bem comum, assumem várias obrigações, não em relação aos outros Estados, mas sim em relação aos indivíduos sob a sua jurisdição”. 4.2. COSTUME INTERNACIONAL O costume internacional resulta da prática geral e consistente dos Estados de reconhecer como válida e juridicamente exigível determinada obrigação. 6. A presente disposição não restringe a faculdade da Corte para decidir um litígio ex aequo et bono, se convier às partes Art. 2.1 - tratado significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica CS – DIREITOS HUMANOS 2022 13 . Os costumes aplicam-se a todos os Estados, até àqueles que deliberadamente recusaram- se a ratificação de um tratado internacional de direitos humanos, ou que tentaram liberar-se de uma das suas disposições por meio de reservas. O costume internacional é formado por dois elementos, quais sejam: a) Elemento objetivo: é a prática geral, ou seja, a conduta oficial de órgãos estatais; referem- se aos fatos interestaduais, e, por isso, podem ter relevância para a formação do novo Direito Internacional Público. b) Elemento subjetivo: é a opinião jurídica dos Estados. Determina que os atos praticados pelos Estados sejam uma obrigação jurídica, por isso surgem novos direitos. A Corte Internacional de Justiça decidiu expressamente pelo caráter de norma costumeira da Declaração Universal de Direitos Humanos, considerada como elemento de interpretação do conceito de direitos fundamentais insculpido na Carta da ONU. Por fim, salienta-se que um Estado somente pode deixar de cumprir um costume internacional quando tiver se comportado como um objetor persistente, que deve ocorrer durante o processo de formação do costume internacional, mediante manifestações permanentes e inequívocas de sua objeção a serem obrigados pelo respectivo costume. Tal figura não se aplica às normas de jus cogens, também conhecidas como normas imperativas ou cogentes, a exemplo do acesso à justiça. 4.3. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO Prevalece a posição de que os princípios gerais de direito internacional são aqueles aceitos por (quase) todos os ordenamentos jurídicos, a exemplo da boa-fé, do respeito à coisa julgada, do direito adquirido e do pacta sunt servanda. 4.4. DECISÕES JUDICIAIS E DOUTRINA São consideradas fontes auxiliares do Direito Internacional dos Direitos Humanos. a) Decisões judiciais: são as chamadas jurisprudências internacionais. São reiteradas decisões no mesmo sentido. Nota-se que é chamada de fonte auxiliar, pois não criam novos direitos, mas sim determinam o modo como devem ser interpretados. b) Doutrina: refere-se aos autores de renome. Além disso, inclui-se aqui a Comissão de Direito Internacional da ONU, criada pelas Nações Unidas para “incentivar o desenvolvimento progressivo do direito internacional e a sua codificação”. 4.5. OUTRAS FONTES Conforme mencionado, embora não constem no rol do art. 38 do Estatuto da CIJ, são considerados como fonte de DIDH: a) Atos unilaterais dos Estados: são atos que não possuem normatividade. Contudo, criam obrigações aos Estados que os proclamam. Assim, quando assumir unilateralmente um CS – DIREITOS HUMANOS 2022 14 . compromisso publicamente, mesmo quando não efetuado no contexto das negociações internacionais, o Estado deverá cumpri-lo obrigatoriamente, em respeito à boa-fé. b) Decisões de organizações internacionais: a partir do momento que um Estado é parte em uma organização internacional, ele assume obrigações para com ela, dentre as quais a de cumprir aquilo que vier a ser decidido em suas assembleias ou órgãos deliberativos. c) Analogia e equidade: são soluções eficientes para enfrentar o problema da falta de norma jurídica regulamentadora a determinado caso concreto, ou ainda para suprir a inutilidade da norma existente, a fim de que se possa solucionar, com um mínimo de justiça, o conflito de interesses. 5. CLASSIFICAÇÃO 5.1. CLASSIFICAÇÃO CLÁSSICA – GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS Primeiramente, destaca-se que a doutrina moderna prefere a expressão “dimensões” e não “gerações”, pois esta traz a ideia de sucessão, contrariando o caráter complementar dos direitos humanos. Assim, com o surgimento de uma nova dimensão a anterior não deixa de existir. Bonavides afirma que a melhor expressão é “dimensão”, que se justifica tanto pelo fato de não existir realmente uma sucessão ou desaparecimento de uma geração por outra, mas também quando novo direito é reconhecido, os anteriores assumem uma nova dimensão, de modo a melhor interpretá-los e realizá-los. 5.1.1. 1ª Geração/Dimensão Surgiu com as revoluções burguesas dos séculos XVI e XIX. Englobam os direitos de liberdade, chamados de prestações negativas, nas quais o Estado deve proteger a esfera de autonomia do indivíduo. Assim, o Estado não poderia interferir na orbita individual, salvo para garantir a prevalência do máximo de liberdade possível para todos. Exemplos: direito à liberdade, igualdade perante a lei, propriedade, intimidade e segurança, traduzindo o valor de liberdade. 5.1.2. 2ª Geração/Dimensão Surgiu em decorrência da deplorável situação da população pobre das cidades industrializadas. Englobam os chamados direitos de igualdade. Impõe aos Estados obrigações positivas, defendendo a intervenção estatal, como forma de reparar a iniquidade vigente. Exemplos: direito à saúde, educação, previdência social, habitação. Obs.: Na concepção contemporânea dos Direitos Humanos, os direitos de 1ª Geração não envolvem apenas condutas negativas do Estado. Por exemplo,o direito de não ser torturado envolve uma conduta negativa do Estado (não torturar), mas quando o Estado deixa de fornecer condições dignas aos presos (água potável, ambiente adequado) também está torturando. Portanto, perceba que este direito demanda sim prestações positivas dos Estados. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 15 . 5.1.3. 3ª Geração/Dimensão Englobam os chamados direitos de solidariedade. Exemplos: direito ao desenvolvimento, direito à paz (5ª Geração para Bonavides), direito à autodeterminação e, em especial, o direito ao meio ambiente equilibrado. Além disso, segundo Paulo Bonavides, há os direitos de quarta geração, decorrentes do desenvolvimento da globalização política, correspondente à derradeira fase de institucionalização do Estado Social. Exemplos: direito à democracia, direito à informação. 5.2. CLASSIFICAÇÃO CONFORME O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS 5.2.1. Direitos Civis São os direitos de autonomia do indivíduo contra interferências indevidas do Estado ou de terceiros. Assim, o conteúdo de tais direitos é relativo à proteção dos atributos da personalidade e dignidade da pessoa humana. Liberdade-autonomia. O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos prevê, expressamente, os seguintes direitos civis: a) Direito à vida (art. 6º), estabelecendo restrições à prática da pena de morte; b) Direito à integridade física, abolindo os tratamentos cruéis, degradantes e desumanos (art. 7º); Art. 6º 1. O direito à vida é inerente à pessoa humana. Este direito deverá ser protegido pela lei. Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida. 2. nos Países em que a pena de morte não tenha sido abolida, esta poderá ser imposta apenas nos casos de crimes mais graves, em conformidade com legislação vigente na época em que o crime foi cometido e que não esteja em conflito com as disposições do presente pacto, nem com a Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio. Poder-se-á aplicar essa pena apenas em decorrência de uma sentença transitada em julgado e proferida por tribunal competente. 3. Quando a privação da vida constituir um crime de genocídio, entende-se que nenhuma disposição do presente artigo autorizará qualquer Estado Parte do presente pacto a eximir-se, de modo algum, do cumprimento de quaisquer das obrigações que tenham assumido em virtude das disposições da Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio. 4. Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir indulto ou comutação da pena. A anistia, o indulto ou a comutação de pena poderão ser concedidos em todos os casos. 5. A pena de morte não deverá ser imposta em casos de crimes cometidos por pessoas menores de 18 anos, nem aplicada a mulheres em estado de gravidez. O Pacto de San José da Costa Rica inclui o maior de 70 anos. 6. Não se poderá invocar disposição alguma do presente artigo para retardar ou impedir a abolição da pena de morte por um Estado Parte do presente pacto. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 16 . Art. 7º ninguém poderá ser submetido à tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Será proibido, sobretudo, submeter uma pessoa, sem seu livre consentimento, a experiências médicas ou científicas. c) Direito à liberdade (art. 11), admitindo-se os trabalhos forçados como pena, mas proibindo-se expressamente a prisão por descumprimento de obrigação contratual; d) Direito ao devido processo legal (art. 9º); e) Direito de locomoção e direito de intimidade (art. 12); f) Direito à igualdade perante a lei (art. 26); Art. 26 Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem discriminação alguma, a igual proteção da lei. A este respeito, a lei deverá proibir qualquer forma de discriminação e garantir a todas as pessoas Art. 11 Ninguém poderá ser preso apenas por não poder cumprir com uma obrigação contratual. Art. 9º 1. Toda pessoa tem à liberdade e a segurança pessoais. Ninguém poderá ser preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado de sua liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os procedimentos. 2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada das razões da prisão e notificada, sem demora, das acusações formuladas contra ela. 3. Qualquer pessoa presa ou encerrada em virtude de infração penal deverá ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a exercer funções e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias que assegurem o comparecimento da pessoa em questão à audiência, a todos os atos do processo e, se necessário for, para a execução da sentença. 4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade por prisão ou encarceramento terá de recorrer a um tribunal para que este decida sobre a legalidade de seu encarceramento e ordene sua soltura, caso a prisão tenha sido ilegal. 5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegais terá direito à reparação. Art. 12 1. Toda pessoa que se ache legalmente no território de um Estado terá o direito de nele livremente circular e escolher sua residência. 2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive de seu próprio país. 3. Os direitos supracitados não poderão constituir objeto de restrição, a menos que estejam previstas em lei e no intuito de proteger a segurança nacional e a ordem, a saúde ou a moral pública, bem como os direitos e liberdades das demais pessoas, e que sejam compatíveis com os outros direitos reconhecidos no presente pacto. 4. Ninguém poderá ser privado do direito de entrar em seu próprio país. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 17 . g) Garantias de um julgamento justo, o que inclui o direito ao duplo grau de jurisdição (art. 14); Art. 14 1. Todas as pessoas são iguais perante os tribunais e as cortes de justiça. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida publicamente e com as devidas garantias por um tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido por lei, na apuração de qualquer acusação de caráter penal formulada contra ela ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil. A imprensa e o público poderão ser excluídos de parte ou da totalidade de um julgamento, que por motivo de moral pública, de ordem pública ou de segurança nacional em uma sociedade democrática, quer quando o interesse da vida privada das partes o exija, quer na medida em que isso seja estritamente necessário na opinião da justiça, em circunstâncias específicas, nas quais a publicidade venha a prejudicar os interesses da justiça; entretanto, qualquer sentença proferida em matéria penal ou civil deverá tornar-se pública, a menos que o interesse de menores exija procedimento oposto, ou o processo diga respeito à controvérsia matrimoniais ou a tutela de menores. 2. Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua inocência enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. 3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualdade, a, pelo menos, as seguintes garantias: a) de ser informado, sem demora, numa língua que compreenda e de forma minuciosa, da natureza e dos motivos da acusação contra ela formulada; b) de dispor do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa e a comunicar-se com defensor de sua escolha; c) de ser julgado sem dilações indevidas; d) de estar presente no julgamento e de defender-se pessoalmente ou por intermédio de defender de sua escolha; de ser informado, caso não tenha defensor, do direito que lhe assiste de tê-lo e, sempre que o interesse da justiça assim exija, de ter um defensordesignado "ex officio" gratuitamente, se não tiver meios para remunerá-lo; e) de interrogar ou fazer interrogar as testemunhas da acusação e de obter o comparecimento e o interrogatório das testemunhas de defesa nas mesmas condições de que dispõe as de acusação; f) de ser assistida gratuitamente por um intérprete, caso não compreenda ou não fale a língua empregada durante o julgamento; g) de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada. 4. O processo aplicável a jovens que não sejam maiores nos termos da legislação penal levará em conta a idade dos menores e a importância de promover sua reintegração social. 5. Toda pessoa declarada culpada por um delito terá o direito de recorrer da sentença condenatória e da pena a uma instância, em conformidade com a lei. 6. Se uma sentença condenatória passada em julgado for posteriormente anulada ou se indulto for concedido, pela ocorrência ou descoberta de fatos novos que provem cabalmente a existência de erro judicial, a pessoa que proteção igual e eficaz contra qualquer discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 18 . h) Direito à liberdade religiosa e seus consectários (art. 18); i) Direito à liberdade de expressão (art. 19 e 20); l) Direito à associação (art. 22); sofreu a pena decorrente dessa condenação deverá ser indenizada, de acordo com a lei, a menos que fique provado que se lhe pode imputar, total ou parcialmente, não-revelação dos fatos desconhecidos em tempo útil. 7. Ninguém poderá ser processado ou punido por um delito pelo qual já foi absolvido ou condenado por sentença passada em julgado, em conformidade com a lei e os procedimentos penais de cada país. Art. 18 1. Toda pessoa terá direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Esse direito implicará a liberdade de ter ou adotar uma religião ou uma crença de sua escolha e a liberdade de professar sua religião ou crença, individual ou coletivamente, tanto pública como privadamente, por meio do culto, da celebração de ritos, de práticas e do ensino. 2. Ninguém poderá ser submetido a medidas coercitivas que possam restringir sua liberdade de ter ou de adotar uma religião ou crença de sua escolha. 3. A liberdade de manifestar a própria religião ou crença estará sujeita apenas a limitações previstas em lei e que se façam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral pública ou os direitos e as liberdades das demais pessoas. 4. Os Estados partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade dos pais - e, quando for o caso, dos tutores legais - de assegurar a educação religiosa e moral dos filhos que esteja de acordo com suas próprias convicções. Art. 19 1. Ninguém poderá ser molestado por suas opiniões. 2. Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, em forma impressa ou artística, ou qualquer outro meio de sua escolha. 3. O exercício do direito previsto no § 2º do presente artigo implicará deveres e responsabilidades especiais. Consequentemente, poderá estar sujeito a certas restrições, que devem, entretanto, ser expressamente previstas em lei e que se façam necessárias para: a) assegurar o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas; b) proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde ou a moral pública. Art. 20 1. Será proibida por lei qualquer propaganda em favor de guerra. 2. Será proibida por lei qualquer apologia do ódio nacional, radical, racial ou religioso que constitua incitamento à discriminação, à hostilidade ou à violência. Art. 22 CS – DIREITOS HUMANOS 2022 19 . m) Direito a constituir família (art. 23); n) Direito da criança a medidas de proteção por parte da sociedade e do Estado (art. 24). 5.2.2. Direitos Políticos São direitos de participação, ativa ou passiva, na elaboração das decisões políticas e na gestão da coisa pública. Liberdade-participação. Estão previstos no art. 25 do PIDCP, garantem o direito de participar na condução dos assuntos públicos, bem como de votar e ser votado. 1. Toda pessoa terá o direito de associar-se livremente a outras, inclusive o direito de construir sindicatos e de a eles filiar-se, para a proteção de seus interesses. 2. O exercício desse direito estará sujeito apenas às restrições previstas em lei e que se façam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, da segurança e da ordem públicas, ou para proteger a saúde ou a moral pública ou os direitos a liberdades das demais pessoas. O presente artigo não impedirá que se submeta a restrições legais o exercício desse direito por membros das forças armadas e da polícia. 3. Nenhuma das disposições do presente artigo permitirá que Estados Partes da Convenção de 1948 da Organização do Trabalho, relativa à liberdade sindical e à proteção do direito sindical, venham a adotar medidas legislativas que restrinjam - ou aplicar a lei de maneira a restringir - as garantias previstas na referida Convenção. Art. 23 1. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e terá o direito de ser protegida pela sociedade e pelo Estado. 2. Será reconhecido o direito do homem e da mulher de, em idade núbil, contrair casamento e construir família. 3. Casamento algum será sem o consentimento livre e pleno dos futuros esposos. 4. Os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar as medidas apropriadas para assegurar a igualdade de direitos e responsabilidades dos esposos quanto ao casamento, durante o mesmo e o por ocasião de sua dissolução. Em caso de dissolução, deverão adotar-se disposições que assegurem a proteção necessária para os filhos. Art. 24 1. Toda criança, terá direito, sem discriminação alguma por motivo de cor, sexo, religião, origem nacional ou social, situação econômica ou nascimento, às medidas de proteção que a sua condição de menor requerer por parte de sua família, da sociedade e do Estado. 2. Toda criança deverá ser registrada imediatamente após seu nascimento e deverá receber um nome. 3. Toda criança terá o direito de adquirir uma nacionalidade. Art. 25 Todo cidadão terá o direito e a possibilidade, sem qualquer das formas de discriminação mencionadas no artigo 2° e sem restrições infundadas: CS – DIREITOS HUMANOS 2022 20 . 5.2.3. Direitos Econômicos Possuem uma dimensão institucional, baseada no poder estatal de regulamentar o mercado, em vista do interesse público. Estão previstos expressamente no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), são eles: • Direito à associação sindical (art. 8º); • Direito a gozar de condições justas e dignas de trabalho (art. 7º) a) de participar da condução dos assuntos públicos, diretamente ou por meio de representantes livremente escolhidos; b) de votar e de ser eleito em eleições periódicas, autênticas, realizadas por sufrágio universal e igualitário e por voto secreto, que garantam a manifestação da vontade dos eleitores; c) de ter acesso em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país. Art. 8º 1. Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a garantir: a) o direito de toda pessoa de fundar com outros sindicatos e de filiar-se ao sindicato de sua escolha, sujeitando-se unicamente a organização interessada, com o objetivo de promover e de proteger seus interesses econômicos e sociais. O exercício desse direito só poderá ser objeto das restrições previstas em lei e que sejamnecessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional ou da ordem pública, ou para proteger os direitos e as liberdades alheias; b) o direito dos sindicatos de formar federações ou confederações nacionais e o direito desta de formar organizações sindicais internacionais ou de filiar- se às mesmas; c) o direito dos sindicatos de exercer livremente suas atividades, sem quaisquer limitações além daquelas previstas em lei e que sejam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional ou da ordem pública, ou para proteger os direitos e as liberdades das demais pessoas; d) o direito de greve, exercido de conformidade com as leis de cada país. 2. O presente artigo não impedirá que se submeta a restrições legais o exercício desses direitos pelos membros das forças armadas, da política ou da administração pública. 3. Nenhuma das disposições do presente artigo permitirá que os Estados Partes da Convenção de 1948 da Organização Internacional do Trabalho, relativa à liberdade sindical e à proteção do direito sindical, venha a adotar medidas legislativas que restrinjam - ou a aplicar a lei de maneira a restringir - as garantias previstas na referida Convenção. Art. 7º Os Estados Partes do presente pacto o reconhecem o direito de toda pessoa de gozar de condições de trabalho justas e favoráveis, que assegurem especialmente: a) uma remuneração que proporcione, no mínimo, a todos os trabalhadores: CS – DIREITOS HUMANOS 2022 21 . 5.2.4. Direitos sociais São prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, que possibilitam melhores condições de vida dos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais. De acordo com o PIDESC, compreendem: • Direito à vida digna (art. 11) • Direito à saúde (art. 12) i) um salário equitativo e uma remuneração igual por um trabalho de igual valor, sem qualquer distinção; em particular, as mulheres deverão ter a garantia de condições de trabalho não inferiores às dos homens e receber a mesma remuneração que ele por trabalho igual; ii) uma existência decente para eles e suas famílias, em conformidade com as disposições do presente Pacto. b) a segurança e a higiene no trabalho; c) igual oportunidade para todos de serem promovidos, em seu trabalho, a categoria superior que lhes corresponda, sem outras considerações que as de tempo de trabalho e capacidade; d) o descanso, o lazer, a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas. Art. 11 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa a um nível vida adequado para si próprio e sua família, inclusive à alimentação, vestimenta e moradia adequadas, assim como a uma melhoria contínua de suas condições de vida. Os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para assegurar a consecução desse direito, reconhecendo, nesse sentido, a importância essencial da cooperação internacional fundada no livre consentimento. 2. Os Estados Partes do presente pacto, reconhecendo o direito fundamental de toda pessoa de estar protegida contra a fome, adotarão, individualmente e mediante cooperação internacional, as medidas, inclusive programas concretos, que se façam necessárias para: a) melhorar os métodos de produção, conservação e distribuição de gêneros alimentícios pela plena utilização dos conhecimentos técnicos e científicos, pela difusão de princípios de educação nutricional e pelo aperfeiçoamento ou reforma dos regimes agrários, de maneira que se assegurem a exploração e a utilização mais eficazes dos recursos naturais; b) assegurar uma repartição equitativa dos recursos alimentícios mundiais em relação às necessidades, levando-se em conta os problemas tanto dos países importadores quanto dos exportadores de gêneros alimentícios. Art. 12 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental. 2. As medidas que os Estados partes do presente Pacto deverão adotar com o fim de assegurar o pleno exercício desse direito incluirão as medidas que se façam necessárias para assegurar: CS – DIREITOS HUMANOS 2022 22 . • Direito à educação (art. 13) Art. 13 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa à educação. Concordam em que a educação deverá visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana e do sentido de sua dignidade e fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais. Concordam ainda em que a educação deverá capacitar todas as pessoas a participar efetivamente de uma sociedade livre, favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais, étnicos ou religiosos e promover as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 2. Os Estados partes do Presente Pacto reconhecem que, com o objetivo de assegurar o pleno exercício desse direito: a) a educação primária deverá ser obrigatória e acessível gratuitamente a todos; b) a educação secundária em suas diferentes formas, inclusive a educação secundária técnica e profissional, deverá ser generalizada e tornar-se acessível a todos, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela implementação progressiva do ensino gratuito; c) a educação de nível superior deverá igualmente tronar-se acessível a todos, com base na capacidade de cada um, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela implementação progressiva do ensino gratuito; d) dever-se-á fomentar e intensificar, na medida do possível, a educação de base para aquelas que não receberam educação primária ou não concluíram o ciclo completo de educação primária; e) será preciso prosseguir ativamente o desenvolvimento de uma rede escolar em todos os níveis de ensino, implementar-se um sistema de bolsas estudo e melhorar continuamente as condições materiais do corpo docente. 2. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade dos pais - e, quando for o caso, dos tutores legais - de escolher para seus filhos escolas distintas daquelas criadas pelas autoridades públicas, sempre que atendam aos padrões mínimos de ensino prescritos ou aprovados pelo Estado, e de fazer com que seus filhos venham a receber educação religiosa ou moral que seja de acordo com suas próprias convicções. 3. Nenhuma das disposições do presente artigo poderá ser interpretada no sentido de restringir a liberdade de indivíduos e de entidades de criar e dirigir instituições de ensino, desde que respeitados os princípios enunciados no § 1° do presente artigo e que essas instituições observem os padrões mínimos prescritos pelo Estado. a) a diminuição da mortalidade infantil, bem como o desenvolvimento das crianças; b) a melhoria de todos os aspectos de higiene do trabalho e do meio ambiente; c) a prevenção e tratamento das doenças epidêmicas, endêmicas, profissionais e outras, bem como a luta contra essas doenças; d) a criação de condições que assegurem a todos assistência médica e serviços médicos em caso de enfermidade. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 23 . 5.2.5. Direitos Culturais Relacionados à participação do indivíduo na vida cultural de uma comunidade, bem como a manutenção do patrimônio histórico-cultural, que concretiza sua identidade e a memória. Segundo o art. 15 do PIDESC, são os direitos de participar da vida cultural e de conhecer os avanços científicos. 5.3. DIREITOS HUMANOS GLOBAIS Tais direitos adquirem sua especificidade, em relação aos demais, diante da titularidade coletiva ou difusa, pertencendo aos grupos sociais determinados, a um povo, ou mesmo, à Humanidade inteira. Esta titularidade decorre do fato de que esses direitos objetivam proteger osinteresses que transcendem a órbita individual, o que os torna distintos dos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, que, direta ou indiretamente, visam estabelecer e garantir a liberdade individual. Destes novos direitos, os que merecem maior destaque são o direito ao desenvolvimento e o direito ao meio ambiente sadio. Por ser o mais recente ramo surgindo no direito internacional dos direitos humanos, ele ainda se encontra nos estágios iniciais de evolução, encontrando problemas quanto à precisão de seu conteúdo. Em primeiro lugar, a noção de “povo” ainda é extremamente vaga, sendo apenas certo que o critério quantitativo não é suficiente. Isso é fundamental ao se cuidar do direito à autodeterminação, que curiosamente é previsto pelos pactos internacionais de 1966, embora não se possa classificá-los como direitos civis e políticos, nem como econômicos, culturais e sociais. 6. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO Há na Convenção de Viena uma regra geral (art. 31) e meios suplementares (art. 32) de interpretação dos tratados. Observe: Art. 15 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem a cada indivíduo o direito de: a) Participar da vida cultural; b) desfrutar o progresso científico e suas aplicações; c) beneficiar-se da proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de toda a produção científica, literária ou artística de que seja autor. 2. As medidas que os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar com a finalidade de assegurar o pleno exercício desse direito aquelas necessárias à conservação, ao desenvolvimento e à difusão da ciência e da cultura. 3. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade indispensável à pesquisa científica e à atividade criadora. 4. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem os benefícios que derivam do fomento e do desenvolvimento da cooperação e das ralações internacionais no domínio da ciência e da cultura. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 24 . A seguir iremos analisar os princípios de interpretação desenvolvidos pela doutrina e pela jurisprudência, com base na regra geral. 6.1. PRINCÍPIO PRO HOMINE OU PRO PERSONA Salienta-se que, inicialmente, tal princípio era chamado de pro homine. Contudo, após inúmeras críticas, passou a ser chamado de pro persona, tendo em vista que é direcionado à pessoa, independentemente de gênero. Significa que todo tratado internacional de direitos humanos deve ser interpretado de forma mais favorável à vítima. Perceba que é consequência do regime objetivo dos tratados internacionais de direitos humanos, uma vez que a interpretação não deve beneficiar os Estados, os violadores de direitos humanos, mas sim aqueles que têm seus direitos violados (vítimas). Do princípio pro persona decorrerem dois subprincípios, quais sejam: Primazia da norma mais favorável Máxima efetividade (effet utile) Diante do conforto entre uma norma de direitos humanos e uma norma de direitos fundamentais, prevista na Constituição interna dos Estados, deve prevalecer a que for mais favorável à proteção dos direitos da pessoa. Diante de duas ou mais interpretações de uma norma de direitos humanos, o interprete deve utilizar a que mais proteja e efetive os direitos humanos. 6.2. PRINCÍPIO DA EFICÁCIA DIRETA OU DA AUTOEXECUTORIEDADE Os Estados não podem alegar ausência de regulamentação interna para descumprirem uma norma de direito internacional dos direitos humanos. Art. 31, 1. Um tratado deve ser interpretado de boa-fé segundo o sentido comum atribuível aos termos (interpretação gramatical ou semântica) do tratado em seu contexto (interpretação sistemática) e à luz de seu objetivo e finalidade (interpretação teleológica). Art. 32 Pode-se recorrer a meios suplementares de interpretação, inclusive aos trabalhos preparatórios do tratado e às circunstâncias de sua conclusão, a fim de confirmar o sentido resultante da aplicação do artigo 31 ou de determinar o sentido quando a interpretação, de conformidade com o artigo 31: a) deixa o sentido ambíguo ou obscuro; ou b) conduz a um resultado que é manifestamente absurdo ou desarrazoado. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 25 . Cita-se, como exemplo, a audiência de custódia. No início das discussões acerca do tema (início de 2013), parte da doutrina sustentava que o art. 7.5 da CADH não podia ser diretamente aplicado no Brasil, pois dependeria de uma normatização interna. Tal entendimento, claramente, violava o princípio da eficácia direta. 6.3. PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO AUTÔNOMA Quando um tratado é redigido, seja no foro regional ou da ONU, deve considerar as diversas experiencias jurídicas nacionais, por isso algumas expressões adquirem significado autônomo (sentido próprio). Logo, o Estado não pode interpretar a partir de sua experiência interna, mas sim com base naquele sentido próprio conferido pelo direito internacional dos direitos humanos. Por exemplo, a expressão “comprovação legal da culpa” não pode ser interpretada como trânsito em julgado. 6.4. PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO EVOLUTIVA OU DINÂMICA O tratado internacional de direitos humanos um tratado deve ser interpretado não de acordo com a época na qual foi redigido, mas de acordo com o momento da sua aplicação. Expressão importante e já tratada em jurisprudência internacional, são que os tratados internacionais de direitos humanos são instrumentos vivos, ou seja, são interpretados de forma dinâmica e evolutiva. Como exemplo, cita-se o caso discutido na Corte Interamericana de Direitos Humanos (Artavia, Murillo e outros versus Costa Rica) que evolvia discussão acerca da fecundação in vitro. Havia na Costa Rica lei proibindo a fecundação in vitro, na Corte entendeu-se que a partir do momento em que a CADH protege a vida desde o momento da concepção a prática da fecundação in vitro, na interpretação original, o descarte de embriões excedentes violaria o direito à vida. No entanto, a Corte invocou o princípio da interpretação evolutiva e afirmou que quando o dispositivo foi redigido não se aplicava ou se discutia técnicas de fecundação, mas, agora, deveria ser interpretado como um dispositivo que evoluiu. 6.5. TEORIA DA MARGEM DE APRECIAÇÃO A Teoria da Margem de Apreciação potencializa e prestigia o caráter subsidiário do sistema internacional de proteção dos direitos humanos, o que torna excepcional a interferência do sistema internacional de proteção na ordem jurídica interna. Sustenta que questões polêmicas, relacionadas com as restrições estatais a direitos protegidos devem ser discutidas e dirimidas pelas comunidades nacionais, não podendo o juiz internacional apreciá-las. É aplicada recorrentemente pela Corte Europeia de Direitos Humanos, mas de forma excepcional pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (Opinião Consultiva 27/2017 - sobre questões de gênero e alterações de nome). 7. CARACTERÍSTICAS CS – DIREITOS HUMANOS 2022 26 . 7.1. INERÊNCIA Decorre do fundamento jusnaturalista, traz a noção de que os direitos humanos são inerentes a cada pessoa, pelo simples fato de existir como ser humano. O reconhecimento da inerência é premissa racional para a construção da noção de direitos humanos, porque a existência do ser humano livre, anterior à criação do estado, permite a limitação da ação deste ou seu direcionamento para a criação de condições favoráveis à vida em sociedade. Além disso, exerce a função de propiciar a constante alteração do sistema normativo dos direitos humanos, sempre que se renovar ou ampliar o entendimento do que seja dignidade inerente a todos os membros da família humana. É dizer que neste campo do Direito talvez mais que em qualquer outro, a elaboração de suas normas tem em mente consolidar a noção atualizada da dignidade fundamental do ser humano, fontede seus direitos positivados, estabelecendo, desta forma, um equilíbrio dinâmico entre direito natural e direito positivo. Outra consequência fundamental é o caráter não taxativo dos direitos humanos até agora reconhecidos, eis que, sendo inerentes aos seres humanos, em grupo ou individualmente, se apresentam em constante mutação, acompanhando e interferindo na evolução social, regional e global. 7.2. UNIVERSALIDADE A concepção universal dos direitos humanos decorre da ideia de inerência. Significa que estes direitos pertencem a todos os membros da espécie humana, sem qualquer distinção fundada em atributos inerentes aos seres humanos ou na posição social que ocupem. Tal concepção, embora consagrada nos documentos internacionais, é constantemente questionada pelos adeptos do chamado “Relativismo Cultural”, corrente de pensamento minoritário que vê os direitos humanos como fruto da evolução e cristalização dos valores da “civilização ocidental”. Entendem que conferir ao direito internacional dos direitos humanos caráter cogente implicaria uma tentativa de impor aos demais povos uma determinada “cultura”, prevalecente apenas diante da conjuntura geopolítica. Em última instância, os direitos humanos universais fariam parte de projetos imperialistas das potências ocidentais. Porém, a desconsideração da dignidade fundamental de cada ser humano não tem fronteiras e não tem lugar na cultura humana. De acordo com Carlos Weis, citando José Augusto Alves, as afirmações de que a Declaração Universal é um documento de interesse apenas ocidental, irrelevante e inaplicável em sociedades com valores histórico-culturais distintos, são falsas e perniciosas. Falsa porque todas as Constituições nacionais redigidas após a adoção da Declaração pela Assembleia Geral da ONU nela se inspiraram ao tratar dos direitos e liberdades fundamentais, pondo em evidência, assim, o caráter hoje universal de seus valores. Perniciosas porque abrem possibilidades à invocação do relativismo cultural como justificativa para violações concretas dos direitos já internacionalmente reconhecidos. A universalidade dos direitos sociais pode ser entendida no contexto mais amplo da dignidade humana, a que toda pessoa tem direito. Não há como pensar em respeito aos direitos CS – DIREITOS HUMANOS 2022 27 . humanos sem que o Estado tome providências que lhe competem visando a assegurar a elevação das condições de vida ao que se convencionou chamar de padrão mínimo de dignidade humana. Segundo Caio Paiva, há duas propostas filosóficas para superar o suposto embate entre o universalismo e o relativismo. Vejamos: 1ª Proposta (Boaventura de Souza Santos) – defende uma hermenêutica diatópica (aquilo que varia conforme a geografia), partindo da ideia de multiculturalismo a fim de que os valores de cada região sejam respeitados. 2ª Proposta (Herrera Flores) – defende o universalismo de chegada ou de confluência. Sustenta que o universalismo não pode ser “de partida”, ou seja, as discussões de direitos humanos não podem partir do universalismo, devem percorrer um caminho e assim chegar a tal ponto universal. 7.3. INDIVISIBILIDADE E INTERDEPENDÊNCIA A indivisibilidade está ligada ao objetivo maior do sistema internacional de direitos humanos, a promoção e garantia da dignidade humana. Não existe meio-termo: só há vida verdadeiramente digna se todos os direitos previstos no direito internacional dos direitos humanos estiverem sendo respeitados, sejam civis e políticos, sejam econômicos, sociais e culturais. Trata-se de uma característica do conjunto de normas e não de cada direito individualmente considerado. A interdependência diz respeito aos direitos humanos considerados em espécie, ao se entender que certo direito não alcança a eficácia plena sem a realização simultânea de alguns ou de todos os outros direitos humanos. E essa característica não distingue direitos civis e políticos ou econômicos, sociais ou culturais, pois a realização de um direito específico pode depender (como geralmente ocorre) do respeito e promoção de diversos outros, independentemente de sua classificação. 7.4. TRANSNACIONALIDADE Carlos Weiss afirma que esta característica é bem resumida por Dalmo de Abreu Dallari, para quem: “os direitos fundamentais da pessoa humana são reconhecidos e protegidos por todos os Estados, embora existam variações quanto à enumeração desses direitos, bem como quanto à forma de protegê-los. Esses direitos não dependem da nacionalidade ou cidadania, sendo assegurados a qualquer pessoa”. Também tem como finalidade a proteção do ser humano quando lhe recusam uma nacionalidade e a proteção estatal dela decorrente. Se à pessoa não for garantido os direitos Conferência Internacional de Teerã 13 – “Como os direitos humanos e as liberdades fundamentais são indivisíveis, a realização dos direitos civis e políticos sem o gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais torna-se impossível”. Viena 1993 “Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados” CS – DIREITOS HUMANOS 2022 28 . fundamentais, tem a ordem internacional o dever de intervir, em face do caráter transcendental dos direitos humanos. 7.5. PROIBIÇÃO DO REGRESSO OU VEDAÇÃO DO RETROCESSO Uma vez conferido o Estado não poderá retroceder, diminuir a sua proteção aos direitos humanos em relação ao estágio em que esta tutela se encontra. 7.6. IMPRESCRITIBILIDADE Os direitos humanos não podem ser atingidos pelo lapso temporal. Salienta-se que a reparação do dano pode estar sujeita à prescrição. Em 2002, o Brasil incorporou o Estatuto de Roma (Decreto 4.388/2002), que elenca como crimes imprescritíveis os crimes contra a humanidade, crimes de guerra, genocídio e agressão. Desta forma, o rol constitucional de imprescritibilidades é EXEMPLIFICATIVO, pois cuida de direito fundamental que estabelece uma proteção mínima aos direitos humanos, podendo ser ampliada. Assim, outros crimes imprescritíveis podem ser incluídos no rol do art. 5º da CF, desde que o objetivo seja a proteção dos direitos humanos. 7.7. INALIENABILIDADE Os direitos humanos não podem ser alienados, transferidos, ainda que com anuência de seu titular, e qualquer manifestação de vontade nesse sentido é nula de pleno direito. 7.8. IRRENUNCIABILIDADE Os direitos humanos são irrenunciáveis, não podem ser abdicados, abjurados, e qualquer manifestação de vontade nesse sentido é nula de pleno direito. 7.9. EFETIVIDADE Não basta o singelo reconhecimento pelo Estado dos direitos humanos; ele deve empregar medidas efetivas para a sua aplicação. 7.10. HISTORICIDADE Os direitos humanos são históricos, pois são construídos pela convivência coletiva, que teve origem nos direitos civis e políticos – 1ª geração – se desenvolveram como direitos econômicos, sociais e culturais – 2ª geração – e chegaram ao seu ápice na institucionalização das garantias coletivas – 3ª geração. 7.11. LIMITABILIDADE RELATIVIDADE CS – DIREITOS HUMANOS 2022 29 . Ao contrário do que imagina, a maioria dos direitos humanos podem ser relativizados, a exemplo da liberdade de expressão, da liberdade de locomoção, dos direitos humanos. Há, obviamente, alguns direitos humanos absolutos como, por exemplo, o direito de não ser torturado, de não ser escravizado. 7.12. ABERTURA, NÃO TIPICIDADE OU INEXAURIBILIDADE Sempre há possibilidade de novos direitos humanos surgirem, portanto, não existe um rol taxativo de direitos humanos. Nesse sentido, a CADH e a Constituição Federal: 8. EVOLUÇÃO HISTÓRICA O estudo da evolução histórica dos direitos humanos é complexo e extenso. Iremos analisar aqui a evolução apresentada por André de Carvalho Ramos. Obs.: É cobrado pouco, ficar atento ao edital. 8.1. FASE PRÉ-ESTADO CONSTITUCIONAL8.1.1. A Antiguidade Oriental e o esboço da construção de direitos Possuíam códigos de comportamento baseados no amor e respeito ao outro. Ex.: o código de Hamurabi é considerado o primeiro código de condutas (anteriormente no Antigo Egito o Código de Menes reconheceu alguns), preceituando esboços de direitos individuais, como a vida, a propriedade; o budismo prega o bem comum e uma sociedade pacífica. 8.1.2. A visão grega e a democracia ateniense Sua herança para os direitos humanos é expressiva. Ex.: direitos políticos na democracia ateniense; ideais de igualdade e justiça em Platão e Aristóteles; reflexão sobre a superioridade de determinadas normas. 8.1.3. A República Romana CADH – Art. 29. C – Nenhuma disposição desta Convenção pode ser interpretada no sentido de excluir outros direitos e garantas que são inerentes ao ser humano ou que decorrem da forma democrática representativa de governo CF – Art. 5º, § 2º Os direitos e garantas expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte CS – DIREITOS HUMANOS 2022 30 . A Lei das Doze Tábuas, ao estipular a lexscripta sedimentou o princípio da legalidade. Ademais foram consagrados direitos como o de propriedade, liberdade, personalidade jurídica. Ainda, a aceitação do jus gentium, direito aplicado a todos, foi um passo para a igualdade. 8.1.4. O Antigo e o Novo Testamento e as influências do cristianismo e da Idade Média A Torah apregoa a solidariedade e a preocupação com o bem-estar de todos. No Antigo Testamento está clara a necessidade de respeito a todos, especialmente os vulneráveis. O Novo Testamento apregoa a igualdade e solidariedade. Dentre os filósofos católicos destaca-se São Tomás de Aquino que defendeu a igualdade dos seres humanos e a aplicação justa da lei. 8.1.5. Resumo da ideia dos direitos humanos na Antiguidade: a liberdade dos antigos e a liberdade dos modernos As normas do Estado pré-constitucional não asseguravam ao indivíduo direitos de contenção ao poder estatal, inclusive por isso parte da doutrina afirma que não há regras de direitos humanos nessa época, contudo se observa que há costumes e instituições sociais que enfatizam o respeito a valores que estão contidos em normas atuais de direitos humanos. 8.2. CRISE DA IDADE MÉDIA, INÍCIO DA IDADE MODERNA E PRIMEIROS DIPLOMAS DE DIREITOS HUMANOS O poder dos governantes era ilimitado, por ser fundado na vontade dívida, contudo surgem os primeiros movimentos de reivindicação de liberdades a determinados estamentos, surgindo limitações aos poderes do rei, por exemplo: Magna Carta, Habeas Corpus Act, Bill of Rights. 8.3. DEBATE DAS IDEIAS DE HOBBERS, GRÓCIO, LOCKE, ROUSSEAU E OS ILUMINISTAS Em Leviatã, Hobbes trata do direito de ser humano, pelo qual no estado da natureza o homem é livre de quaisquer restrições e não se submete a qualquer poder, contudo para sobreviver (já que todos estão em confronto pelo homem ser lobo do próprio homem) o homem abdica dessa liberdade e se submete ao poder estatal. Hugo Grócio traz a ideia de reconhecimento de normas inerentes à condição humana. Locke, em seguida, defende que o Estado exista para preservar os direitos dos homens e para isso não precisa ser autocrático, como era para Hobbes. Locke foi um expoente do liberalismo emergente. Rousseau, na obra “Do contrato social”, defendeu uma vida em sociedade baseada em um contrato (o pacto social) entre homens livres e iguais. Assim, o autor defendia um governo que representasse a vontade da maioria e a inalienabilidade dos direitos humanos encontra eco em seus textos, que, inclusive, combatem a escravidão. Seus ideais estão inseridos no Iluminismo, junto com outros como Voltaire, Diderot e D’Alembert, que defendiam o uso da razão para dirigir a sociedade em todos os aspectos, questionando o absolutismo e o viés religioso do poder. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 31 . Kant defendeu a existência da dignidade intrínseca a todo ser racional, de modo que o homem é um fim em si mesmo. 8.4. FASE DO CONSTITUCIONALISMO LIBERAL E DAS DECLARAÇÕES DE DIREITOS As revoluções liberais (inglesa, americana e francesa) e suas declarações de direitos (Bill of Rights,1689; só com a aprovação de 10 emendas em 1791 é que foram incluídos direitos na Constituição Americana de 1787; Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789) marcaram a primeira clara afirmação histórica dos direitos humanos. A Declaração francesa destacou-se por sua vocação universal, sendo o grande alicerce da afirmação dos direitos humanos no século XX. 8.5. FASE DO SOCIALISMO E DO CONSTITUCIONALISMO SOCIAL Os movimentos socialistas surgem no século XIX na Europa. No plano do constitucionalismo os direitos sociais são introduzidos em diversas constituições, inicialmente no México em 1917, depois na Alemanha em 1919 e no Brasil foi em 1934. Internacionalmente foi criada em 1919, através do Tratado de Versailles, a primeira organização internacional voltada à melhoria das condições de trabalho, a OIT. 8.6. INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS Antes do pós Segunda Guerra Mundial, os tratados internacionais eram focados na questão trabalhista e no combate à escravidão. Em 1945, na Conferência de São Francisco a ONU foi criada, porém não foram listados os direitos considerados essenciais, de modo que em 1948 foi elaborada a Declaração Universal de Direitos Humanos – doutrinariamente se discute se ela possui caráter vinculante por ser uma interpretação do que é direitos humanos, previsto na Carta da ONU, que tem caráter vinculante, ou se possui caráter vinculante por representar o costume internacional sobre a matéria (opinião do autor); ou ainda há quem defenda que é apenas uma soft law (orientam os Estados). 9. PRECEDENTES HISTÓRICOS DO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS Há, basicamente, dois fatores que proporcionaram a internacionalização dos direitos humanos, quais sejam: • Superação do conceito tradicional e ilimitado de soberania estatal • Redefinição do status do indivíduo como sujeito de direito internacional 9.1. DIREITO HUMANITÁRIO De acordo com Caio Paiva, trata-se de “conjunto de princípios e regras que limitam o recurso à violência em período de conflito armado, possuindo os seguintes objetivos: a) proteger as pessoas CS – DIREITOS HUMANOS 2022 32 . que não participam diretamente das hostilidades ou que já deixaram de participar, como os combatentes feridos, os náufragos, os prisioneiros de guerra e os civis; e b) limitar os efeitos da violência nos combates destinados a atingir os objetivos do conflito “. Afirma, ainda, que a doutrina também o conceitua como sendo “o elemento de direitos humanos do Direito da guerra”, consistindo, portanto, no ramo do DIDH aplicável a conflitos armados internacionais e, em alguns casos, a conflitos armados internos”. Salientando que “o Direito Humanitário possui como fontes o “Direito de Genebra”, que compreende as Convenções e Protocolos internacionais elaborados sob a supervisão do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e que diz essencialmente à respeito à proteção das vítimas de conflitos; o “Direito da Haia”, que diz respeito às convenções adotadas durante as Conferências de Paz realizadas em Haia (Holanda), tendo como preocupação os meios e métodos de guerra autorizados; e o “Direito de Nova Iorque”, que compreende a atuação da ONU com vista a assegurar o respeito pelos direitos humanos em caso de conflito armado e a limitar o recurso a certas armas”. 9.2. LIGA DAS NAÇÕES Criada após o fim da 1ªGM, possuía como objetivo promover a paz, a cooperação e a segurança internacional. A doutrina considera que a Liga dasNações serviu como uma espécie de “laboratório” para a constituição da Organização das Nações Unidas (ONU). Entre os motivos para o seu insucesso, estão: a) a ausência da nova potência mundial (EUA) entre os seus Estados membros; b) a falta de vontade política entre os países membros; c) o colonialismo ainda existente em várias partes do mundo; d) a mudança na política alemã, com a ascensão de Hitler e de sua política de violação de direitos humanos em 1933. 9.3. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO Projeta o ser humano como sujeito de direito internacional, estabelece parâmetros mínimos para a proteção do trabalhador, disciplinando a sua condição no plano internacional por meio de diversas convenções. 10. EIXOS DE PROTEÇÃO 10.1. DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS Proteção do ser humano em todos os aspectos, englobando direitos civis e políticos e direitos sociais, econômicos e culturais. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 33 . 10.2. DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO Foca na proteção do ser humano na situação específica dos conflitos armados (internacionais e não internacionais) 10.3. DIREITO INTERNACIONAL DOS REFUGIADOS Age na proteção do refugiado, desde a saída do seu local de residência, concessão do refúgio e seu eventual término. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 34 . TEORIA GERAL DOS SISTEMAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS O estudo dos sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos é um dos mais cobrados em concursos públicos, por isso merece sua atenção. 1. ELEMENTOS CARACTERIZADORES Há, pelo menos, três elementos que caracterizam os sistemas de proteção: normas, órgãos e mecanismos. 1.1. NORMAS Um sistema internacional de direitos humanos deve possuir uma codificação de direitos humanos por meio de tratados, convenções, declarações, bem como uma organização internacional que o constituía. Por exemplo, no Sistema Global há a Organização das Nações Unidas que abriga todos os órgãos e normas de proteção. Segundo Aline Albuquerque e Aléssia Barroso (citadas por Caio Paiva), “as normas são o conjunto de tratados, declarações, princípios e outras normativas de direitos humanos que integram os Sistemas Internacionais de DH.” 1.2. ÓRGÃOS Igualmente, não há sistema internacional de direitos humanos quando não existe órgãos que monitorem tais direitos. No caso da ONU, por exemplo, há órgãos convencionais e extra convencionais. De acordo com Aline Albuquerque e Aléssia Barroso (citadas por Caio Paiva), “um órgão se caracteriza como político quando não recebe comunicação ou petição individual e, em consequência, não profere decisão acerca de casos específicos cujo conteúdo versa sobre a responsabilidade do Estado por violação de direitos humanos. Um órgão é quase judicial quando processa petições e comunicações individuais e desse processamento resulta uma decisão que consubstancia em recomendações, as quais pressupõem a responsabilização internacional do Estado. E, por fim, os órgãos judiciais detêm o poder jurisdicional, logo, proferem sentenças” 1.3. MECANISMOS DE PROTEÇÃO São meios de monitoramento para a observância e a aplicação dos direitos humanos, poderá ser convencional ou extra convencional. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 35 . 2. ESPÉCIES DE SISTEMA INTERNACIONAL Atualmente, existem quatro sistemas de proteção internacional dos direitos humanos: um de abrangência GLOBAL (sistema ONU) e três de abrangência REGIONAL (Interamericano, Europeu, Africano). Ainda não há sistemas de proteção nos países da Ásia e Árabes. Em momento oportuno, analisaremos cada um deles. 3. PRINCÍPIOS 3.1. PRINCÍPIO DA COEXISTÊNCIA O sistema global coexiste com os sistemas regionais, ou seja, devem conviver em harmonia, tendo em vista que são complementares. Conforme Flávia Piovesan (citada por Caio Paiva), “os sistemas global e regional não são dicotômicos, mas complementares. Inspirados pelos valores e princípios da Declaração Universal, compõem o universo instrumental de proteção dos direitos humanos no plano internacional. Nessa ótica, os diversos sistemas de proteção de direitos humanos interagem em benefício dos indivíduos protegidos. Ao adotar o valor da primazia da pessoa humana, tais sistemas se complementam, somando-se ao sistema nacional de proteção, a fim de proporcionar a maior efetividade possível na tutela e promoção de direitos fundamentais. Essa é, aliás, a lógica e a principiologia próprias do Direito dos Direitos Humanos” 3.2. PRINCÍPIO DA LIVRE ESCOLHA A vítima de uma violação de direitos humanos possui a opção de demandar contra o Estado no sistema global ou no sistema regional, desde que o país tenha aceitado a competência contenciosa dos mecanismos de proteção. 3.3. PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE OU DA COMPLEMENTARIEDADE Os sistemas internacionais de proteção aos direitos humanos atuam apenas quando não houver proteção efetiva no direito interno ou quando a proteção houver falhado. Por isso, é caracterizado pela subsidiariedade já que para se acessar um tribunal internacional de direitos humanos a vítima deve comprovar que esgotou os recursos internos. FÓRMULA DA QUARTA INSTÂNCIA – a Corte Interamericana não pode funcionar como um Tribunal de revisão das decisões dos tribunais internos, ou seja, discutir sobre a justiça ou injustiça de uma decisão. Apenas analisa se houve ou não violação de direitos humanos. Obs.: Deve-se esgotar todos os recursos, inclusive os extraordinários. Embora a Comissão Interamericana já tenha admitido uma petição contra o Brasil na pendência do julgamento de um RE, diante da demora injustificada. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 36 . 3.4. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO Os Estados devem cooperar com os sistemas internacionais dos direitos humanos para uma melhor solução do deslinde. Destaca-se que o Estado pode defender-se, a fim de buscar sua absolvição perante os mecanismos de proteção. No entender de Aline Albuquerque e Aléssia Barroso (citadas por Caio Paiva), “cabe ao Estado envidar o máximo de esforços no sentido de cumprir seus compromissos internacionais e, pois, à luz da Convenção de Viena sobre os Direitos dos Tratados, todo tratado em vigor obriga as partes e deve ser cumprido por elas de boa-fé, o que implica conferir efeito razoável e útil à norma internacional ao qual se vinculou voluntariamente. Desse modo, tendo em conta a adesão de um Estado a determinado Sistema Internacional de DH, ele detém a obrigação internacional de respeito aos direitos humanos reconhecidos no tratado, convenção ou em qualquer ato normativo ao qual se vinculou. Nessa linha, o princípio da cooperação e do diálogo aponta para a atuação do Estado e dos órgãos de direitos humanos, ou seja, ambos devem atuar de modo harmônico e amigável em prol da efetivação dos direitos humanos, conseguintemente, posturas beligerantes e contenciosas não são bem recepcionadas na esfera dos Sistemas Internacionais de DH” CS – DIREITOS HUMANOS 2022 37 . SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA 1.1. CARTA DE SÃO FRANCISCO Em 1945, com o fim da 2ª Guerra Mundial, a comunidade política e jurídica internacional, a fim de evitar que novamente os flagelos da guerra atingissem pela terceira vez os direitos humanos, criaram o Sistema Global ou Universal dos Direitos Humanos. Tal Sistema nasceu com a constituição da ONU (Organização das Nações Unidas), em junho de 1945, com a edição da Carta das Nações Unidas (também chamada de Carta de São Francisco ou Carta da ONU). Salienta-se que a expressão “direitos humanos” é pouco citada ao longo da Carta de São Francisco, não há um catálogo de direitos humanos, a sua intenção principal foi a constituição da ONU.1.2. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE DIREITOS HUMANOS A DUDH faz parte da Carta Internacional de Direitos Humanos, possuindo um catálogo de direitos humanos protegidos pela Organização das Nações Unidas e seus mecanismos de proteção. Em momento oportuno, iremos analisar a Declaração detalhadamente. 1.3. PACTOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS Os pactos internacionais constituem o mais abrangente catálogo de direitos humanos hoje existentes, de aplicação universal, complementando e aprofundando muitos dispositivos da Declaração Universal de 1948. Para a elaboração de pactos distintos foram utilizados os seguintes argumentos: 1º Direitos civis e políticos têm natureza distinta dos direitos econômicos, culturais e sociais, especialmente porque os primeiros seriam de aplicação imediata (passíveis de cobrança), enquanto os demais seriam realizáveis progressivamente, sem que se pudesse exigir do Estado a sua concretização. 2º Diz respeito aos mecanismos de supervisão. Os direitos civis e políticos deveriam ser implementados imediatamente (referem-se às liberdades individuais), sua violação poderia ser denunciada a um órgão fiscalizador (posteriormente denominado de Comitê de Direitos Humanos). Por outro lado, os econômicos, sociais e culturais se realizariam apenas diante da cooperação internacional e dos esforços de cada Estado, não sendo possível a aplicação do sistema de denúncias. Obs.: A Carta da ONU é um Tratado, foi aderido pelo Brasil por meio de promulgação do Decreto 19.841/1945. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 38 . Contudo, tentativa de partir os direitos humanos em duas categorias com importância desigual foi posta por terra menos de dois anos após a adoção dos pactos internacionais, na Conferência Mundial realizada em Teerã em 1968, em que se afirmou peremptoriamente a indivisibilidade dos direitos humanos: “13 – Como os direitos humanos e as liberdades fundamentais são indivisíveis, a realização dos direitos civis e políticos sem o gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais torna-se impossível”. Da análise comparada dos pactos percebem-se a semelhança dos preâmbulos, enfatizando a inerência dos direitos humanos aos seres humanos e a inalienabilidade da liberdade e da igualdade humana, e a perfeita identidade dos arts. 1º, introduzindo o direito à autodeterminação dos povos, ausente no texto da Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas decorrente do propósito da ONU de desenvolver relações amistosas entre as nações. De outro lado, a diferença fundamental entre os pactos é justamente aquela que originou a edição de dois documentos distintos, estampada nos respectivos arts. 2º. Enquanto o PIDCP cria a obrigação estatal de “tomar as providências necessárias”, inclusive de natureza legislativa, para “garantir a todos os indivíduos que se encontrem no território e que estejam sujeitos à sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto”, o tratado referente aos direitos econômicos, sociais e culturais, também no art. 2º, prevê a adoção de medidas, tanto por esforço próprio como pela cooperação e assistência internacionais, “que visem a segurar, progressivamente, por todos os meios apropriados, o pleno exercício dos direitos reconhecidos no presente Pacto”. ARTIGO 1º 1. Todos os povos têm direito à autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam livremente seu estatuto político e asseguram livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural. 2. Para a consecução de seus objetivos, todos os povos podem dispor livremente de suas riquezas e de seus recursos naturais, sem prejuízo das obrigações decorrentes da cooperação econômica internacional, baseada no princípio do proveito mútuo, e do Direito internacional. Em caso algum, poderá um povo ser privado de seus meios de subsistência. 3. Os Estados partes do presente pacto, inclusive aqueles que tenham a responsabilidade de administrar territórios não-autônomos e territórios sob tutela, deverão promover o exercício do direito à autodeterminação e respeitar esse direito, em conformidade com as disposições da Carta das nações unidas. PIDCP - ARTIGO 2º 1. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar e a garantir a todos os indivíduos que se achem em seu território e que estejam sujeito a sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, religião, opinião política ou outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra condição. 2. Na ausência de medidas legislativas ou de outra natureza destinadas a tornar efetivos os direitos reconhecidos no presente Pacto, os Estados do presente Pacto comprometem-se a tomar as providências necessárias com vistas a adota-las, levando em consideração seus respectivos procedimentos constitucionais e as disposições do presente Pacto. 3. Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a: CS – DIREITOS HUMANOS 2022 39 . Porém, ainda que se entenda que tais direitos não possam ser inaugurados imediatamente, por demandarem uma série de medidas estatais relacionadas com uma política pública, não se pode daí inferir que não surja para os cidadãos de um dado Estado-Parte no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais o direito subjetivo de exigir a sua implementação, especialmente tendo em vista a melhoria de uma situação específica que viole a dignidade fundamental dos seres humanos, ao se mostrar contrária aos patamares mínimos estatuídos pelo Pacto ou por outros de natureza semelhante. 1.4. MECANISMOS DE PROTEÇÃO Assim como a Carta de São Francisco (para corrente minoritária), a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, os mecanismos de proteção integram a Carta de Proteção dos Direitos Humanos. Em 1966, editou-se o Protocolo Facultativo ao PIDCP e em 2008, foi editado o Protocolo Alternativo ao PIDESC, atribuindo aos respectivos Comitês competências de monitoramento dos direitos humanos. 2. ARQUITETURA NORMATIVA DO SISTEMA GLOBAL a) garantir que toda pessoa, cujos direitos e liberdades reconhecidos no presente pacto tenham sido violados, possa dispor de um recurso efetivo, mesmo que a violência tenha sido perpetrada por pessoa que agiam no exercício de funções oficiais; b) garantir que toda pessoa que interpuser tal recurso terá seu direito determinado pela competente autoridade judicial, administrativa ou legislativa ou por qualquer outra autoridade competente prevista no ordenamento jurídico do Estado em questão; e a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; c) garantir o cumprimento, pelas autoridades competentes, de qualquer decisão que julgar procedente tal recurso. PIDESC - ARTIGO 2º 1. Cada Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a adotar medidas, tanto por esforço próprio como pela assistência e cooperação internacionais, principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo de seus recursos disponíveis, que visem assegura, progressivamente, por todos os meios apropriados, o, pleno exercício e dos direitos reconhecidos no presente Pacto, incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativa. 2. Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a garantir que os direitos nele enunciados se exercerão sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação. 3. Os países em desenvolvimento, levando devidamente em consideração os direitos humanos e a situação econômica nacional, poderão determinar em que medida garantirão os direitos econômicos reconhecidos no presente Pacto àquelesque não sejam seus nacionais CS – DIREITOS HUMANOS 2022 40 . O Sistema Global não se esgota na Carta Internacional de Direitos Humanos (DUDH, Pactos Internacionais e mecanismos de proteção), possui tratados temáticos específicos (mulher, tortura, refugiados etc.). Além disso, incluem-se os documentos soft law, a exemplo de declarações, princípios básicos, regras mínimas e diretrizes. 3. ESTRUTURA DA ONU A ONU foi criada em 1945, pela Carta das Nações Unidas. Possui natureza jurídica de organização internacional e personalidade jurídica de direito internacional público. De acordo com o Decreto 19.841/1945, os propósitos da ONU são: • Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz; • Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal; • Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e • Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns. A Organização e seus Membros (Estados que tenham assinado e ratificado a Carta de São Francisco), para a realização dos propósitos mencionados, agirão de acordo com os seguintes Princípios: • A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus Membros. • Todos os Membros, a fim de assegurarem para todos em geral os direitos e vantagens resultantes de sua qualidade de Membros, deverão cumprir de boa-fé as obrigações por eles assumidas de acordo com a presente Carta. • Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais. • Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 41 . • Todos os Membros darão às Nações toda assistência em qualquer ação a que elas recorrerem de acordo com a presente Carta e se absterão de dar auxílio a qual Estado contra o qual as Nações Unidas agirem de modo preventivo ou coercitivo. • A Organização fará com que os Estados que não são Membros das Nações Unidas ajam de acordo com esses Princípios em tudo quanto for necessário à manutenção da paz e da segurança internacionais. • Nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição de qualquer Estado ou obrigará os Membros a submeterem tais assuntos a uma solução. Por fim, salienta-se que são órgãos principais da ONU a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela (não está mais em funcionamento), a Corte Internacional de Justiça e o Secretariado. Nada impede que outros órgãos, de natureza subsidiária, sejam criados, como exemplo cita-se: o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). 4. MECANISMOS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS 4.1. CONCEITO Há mecanismos de proteção convencionais e mecanismos de proteção extraconvencionais. Observe o conceito de cada um deles: Mecanismos convencionais encontram sua base normativa, sua estrutura orgânica e seu modo de funcionamento em tratados ou convenções internacionais de direitos humanos, a exemplo dos mecanismos de relatórios periódicos, de petições individuais previstos no PIDCP, monitorados pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU. Por outro lado, os mecanismos extraconvencionais são aqueles em que a base normativa, a estrutura orgânica e seu modo de funcionamento não decorrem diretamente de tratados e convenções internacionais de direitos humanos, mas sim de uma resolução ou de um ato normativo de Órgãos Políticos das Nações Unidas, a exemplo do mecanismo de revisão periódica universal, monitorado pelo Conselho de Direitos Humanos. 4.2. MECANISMOS CONVENCIONAIS x MECANISMOS EXTRACONVENCIONAIS Antes da análise pormenorizada de cada mecanismo, observe o quadro elaborado pelo Professor Caio Paiva com as diferenças entre cada mecanismo. MECANISMOS CONVENCIONAIS MECANISMOS EXTRACONVENCIONAIS CS – DIREITOS HUMANOS 2022 42 . São criados por tratados internacionais específicos. São criados a partir de resoluções de órgãos políticos da ONU. A apresentação de petições individuais perante os comitês internacionais depende da ratificação do tratado respectivo pelo Estado denunciado. A apresentação de denúncias por indivíduos ou grupos de indivíduos não depende da ratificação de convenções específicas Usualmente, a apresentação de petições depende, ainda, de uma declaração de reconhecimento da vigência de uma cláusula facultativa do tratado ou da ratificação de um protocolo adicional. Não depende, tampouco, de declaração relativa a cláusulas facultativas ou de ratificação de protocolo adicional. As petições individuais podem versar apenas sobre os direitos previstos no tratado específico A apresentação de denúncias pode versar sobre quaisquer direitos humanos 4.3. MECANISMOS CONVENCIONAIS No caso de mecanismos convencionais, os órgãos de monitoramento são os Comitês vinculados aos tratados que os criaram, composto por especialistas independentes e não por representantes dos Estados, com reconhecida competência na matéria de direitos humanos, eleitos por voto secreto dos Estados Partes das respectivas convenções e têm em comum quatro funções: • Receber, examinar e emitir pareceres sobre os relatórios dos Estados-Partes acerca dos mecanismos implementados em seus territórios para aplicação dos tratados internacionais. • Elaborar Comentários Gerais para auxiliar os Estados-Partes a aplicar os tratados internacionais, determinando suas obrigações. • Decidir acerca de denúncias de descumprimento dos tratados internacionais apresentadas por um Estado-Parte contra outro; • Emitir decisões sobre as denúncias de descumprimento dos tratados internacionais constantes das petições ou comunicações individuais a eles apresentadas. De acordo com Caio Paiva, atualmente, existem 10 Comitês no Sistema Global. Observe o quadro abaixo: CS – DIREITOS HUMANOS 2022 43 . TRATADO INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS ÓRGÃO DE MONITORAMENTO ÓRGÃO DE MONITORAMENTO Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e seus protocolos facultativos Comitê de Direitos Humanos Relatórios, petição individual e petição interestatal Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais Relatórios, inquérito, petição individual e petição interestatal. Convenção Internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial Relatórios, petição individual e petição interestatal Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher e seu protocolo facultativo Comitê para a Eliminação da Discriminação contra a Mulher Relatórios, inquéritoe petição individual. Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes Comitê contra a Tortura Relatórios, inquérito, petição individual e petição interestatal. Convenção sobre os direitos da criança e seus protocolos facultativos Comitê dos Direitos da Criança Relatórios, inquérito, petição individual e petição interestatal. Convenção internacional sobre a proteção dos direitos de todos os trabalhadores migrantes e de suas famílias Comitê para a Proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores Migrantes e seus Familiares Relatórios, petição individual e petição interestatal. Convenção internacional sobre os direitos das pessoas com deficiência Comitê dos Direitos das Pessoas com Deficiência Relatórios, inquérito e petição individual. Convenção internacional para a proteção de todas as pessoas contra os desaparecimentos forçados Comitê contra os Desaparecimentos Forçados Relatórios, inquérito, ações urgentes, petição individual e petição interestatal. Protocolo Facultativo da Convenção contra a Tortura Subcomitê para a Prevenção da Tortura ou outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes Visitas e recomendações; e aconselhamentos, recomendações e cooperação em relação aos Mecanismos Preventivos Nacionais. 4.3.1. Mecanismos convencionais não contenciosos CS – DIREITOS HUMANOS 2022 44 . O principal mecanismo convencional não contencioso é o relatório periódico, não possui natureza coercitiva. Os Estados, ao ratificarem os tratados internacionais de direitos humanos produzidos no âmbito da ONU, obrigam-se a enviar relatórios aos Comitês, periodicamente (nos prazos informados em cada tratado), informando medidas – legislativas, judiciais, administrativas ou de outra natureza – realizadas para respeitar e garantir os direitos protegidos Direitos Humanos previstos nos tratados. É inserido como uma cláusula obrigatória, não se admite que o Estado faça reservas. A finalidade é preventiva. 4.3.2. Mecanismos convencionais quase-contenciosos As petições interestaduais e individuais são os principais mecanismos convencionais quase- contenciosos. Por meio das petições interestatais, um Estado pode apresentar contra outro Estado uma denúncia perante os comitês, acusando-o da violação de direitos humanos. O procedimento desenvolve-se no âmbito de uma Comissão Especial criada para buscar a conciliação entre os Estados Partes denunciante e denunciado. A Comissão, ao final do procedimento, apresenta um relatório final com recomendações sobre a solução do litígio, sem que possa “impor” uma solução concreta aos Estados. Por meio das petições individuais, a vítima assume a condição de sujeito de direito perante o Direito Internacional dos Direitos Humanos e pode apresentar uma denúncia contra o Estado Parte junto aos comitês dos tratados. Trata-se de um mecanismo facultativo para os Estados Partes, que podem aceitá-lo, a depender do tratado, mediante declaração especial ou ratificando o protocolo facultativo. Em regra, para que uma petição individual seja processada pelo comitê, são exigidos os seguintes requisitos: • Ausência de litispendência internacional (somente entre órgãos convencionais); • Esgotamento dos recursos internos; • Nexo causal - a denúncia deve ter como objeto uma violação de direito humanos protegido pelo tratado que criou o respectivo comitê); • O fato deve ter ocorrido posteriormente ao reconhecimento da competência do comitê. O procedimento de análise da petição individual possui contraditório e tem três fases: admissibilidade, mérito e se procedente a denúncia haverá decisão. O Brasil já foi responsabilizado uma vez no mecanismo convencional quase-contencioso das petições individuais (Caso Alyne Pimentel, Comitê sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher) e responde, atualmente, a uma denúncia formulada pelo ex- presidente Lula junto ao Comitê de Direitos Humanos da ONU. 4.3.3. Mecanismos convencional contencioso CS – DIREITOS HUMANOS 2022 45 . Não é muito relevante, destaca-se apenas que o principal mecanismo convencional contencioso é o processo judicial de apuração de responsabilidade do Estado perante a Corte Internacional de Justiça. 4.4. MECANISMOS EXTRACONVENCIONAIS Como vimos, não decorrerem diretamente de um tratado ou convenção internacional, mas sim de resoluções de órgãos políticos da ONU ou deles derivados. Surgiram no contexto de ineficácia dos mecanismos convencionais, tendo em vista que estavam sujeitos a diversas condicionantes. A Comissão de Direitos Humanos, criada em 1947 pelo Conselho Econômico e Social, a partir de sua fase intervencionista por meio de dois procedimentos, criados por resolução para estabelecer um sistema de controle das violações de direitos humanos praticadas por Estados membros da ONU, dá início aos mecanismos extraconvencionais. • Resolução nº 1235, de 1967 - autorizou a Comissão de Direitos Humanos a debater publicamente, a partir de diversas fontes, inclusive de comunicações individuais, casos de violações notórias e sistemáticas de direitos humanos. Também conhecido como procedimento público ou especial, se desenvolve com a indicação de grupos especiais (natureza coletiva) ou de relatores especiais (natureza unipessoal) para determinados temas (natureza temática) ou área geográfica (natureza geográfica). Esses órgãos recebem a incumbência de investigar as notícias de violações de direitos humanos, com a posterior elaboração de relatórios finais contendo as recomendações para os Estados • Resolução nº 1503, de 1970 - autorizou a Comissão de Direitos Humanos a receber e processar petições ou queixas individuais. O objetivo desse procedimento, de natureza confidencial, era identificar as comunicações que indiquem a existência de um quadro persistente de violações manifestas de direitos humanos e das liberdades fundamentais. A violação manifesta consiste em uma situação que afete muitas pessoas por um período dilatado. Em 2006, a Comissão de Direitos Humanos foi extinta, tendo sido criado o Conselho de Direitos Humanos. Segundo Caio Paiva, o motivo principal de sua extinção foi a sua grande politização. 4.4.1. Procedimentos especiais O Conselho de Direitos Humanos manteve os procedimentos especiais ou públicos conforme foram previstos inicialmente na Resolução nº 1235, tendo havido apenas alterações na forma de trabalhar. 4.4.2. Procedimento de queixa O Conselho de Direitos Humanos manteve o procedimento de queixa, mas alterou a forma de trabalho como estava prevista na Resolução nº 1503, visando assegurar que o processamento da denúncia seja imparcial, objetivo e eficiente. O Conselho aponta como vantagens do uso do seu procedimento de queixa: CS – DIREITOS HUMANOS 2022 46 . • Pode-se apresentar uma denúncia contra qualquer país membro da ONU, independentemente de que este tenha ratificado algum tratado; • A denúncia pode ser examinada no nível mais alto do mecanismo de direitos humanos das Nações Unidas; • O fato de o procedimento ser confidencial potencializa a cooperação dos Estados Ressalta-se que há dois grupos de trabalho, são eles: • Grupo de Trabalho sobre Comunicações, que realiza uma triagem no recebimento das queixas, examinando o preenchimento dos requisitos de admissibilidade; • Grupo de Trabalho sobre Situações, que analisa as queixas e as respostas dos Estados, bem como eventuais recomendações do Grupo de Comunicações, apresentando ao final um relatório ao Conselho de Direitos Humanos, que irá deliberar sobre a queixa. 4.4.3. Revisão periódica universal A Revisão Periódica Universal (RPU) foi criada através da Resolução 60/251 da Assembleia- Geral das Nações Unidas, queestabeleceu o Conselho de Direitos Humanos. Consiste em um mecanismo extraconvencional de proteção dos direitos humanos que se baseia no conceito de “revisão pelos pares”, ou seja, os Estados se autoavaliam mutuamente quanto a situação dos direitos humanos em seus respectivos territórios, gerando, ao final, um conjunto de recomendações. Perceba que a RPU não tem como objetivo assentar a responsabilidade internacional dos Estados, mas apenas gerar recomendações mediante um “diálogo construtivo”, ressaltando daí a sua natureza essencialmente política. Importante consignar que o procedimento da RPU obedece a seguinte ordem: 1) O Estado examinado apresenta relatório nacional sobre a situação dos direitos humanos em seu território; 2) É juntado ao procedimento uma compilação de todas as informações referentes ao Estado examinado constante dos procedimentos extraconvencionais; 3) ONGs e outros atores interessados também podem apresentar seus informes e outros documentos relevantes; 4) É realizada uma sessão de “diálogo construtivo” entre o Estado e os demais Estados membros da ONU (membros ou não do Conselho); 5) São nomeados pelo Conselho três Estados (escolhidos entre os diversos grupos regionais, por sorteio), conhecido como “troika”, que atuam como verdadeiros relatores da RPU do Estado examinado; 6) A “troika” resume as discussões e elabora o Relatório de Resultado ou Relatório Final, compilando toda a discussão, observações e sugestões aos Estados, bem como as respostas; 7) O relatório é aprovado pelo CDH. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 47 . Por sim, destaca Caio Paiva: “a vantagem da RPU é a sua abrangência, que se estende a todos os países membros da ONU, no que se diferencia dos procedimentos anteriormente adotados pela Comissão de Direitos Humanos, aos quais se atribuía a característica da seletividade, fazendo com que países reconhecidamente violadores de direitos humanos ficassem de fora do monitoramento. Como desvantagem da RPU, aponta-se o seu caráter essencialmente político, e isso porque esse procedimento extraconvencional aposta em algo que contradiz a história da evolução dos sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos, que diz respeito ao julgamento dos Estados por eles mesmos, e não por órgãos ou tribunais compostos por especialistas independentes”. 5. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (DUDH) A DUDH foi aprovada em 10 de dezembro de 1948, não foi subscrita por todos os Países- membros das Nações Unidas quando de sua proclamação, sendo notável o silêncio dos Países aliados à União Soviética, provocando oito abstenções dentre os 58 Países então membros. No preâmbulo da Declaração Universal, de 1948, encontra-se a motivação para a elaboração de um documento universal sobre os direitos humanos, sendo a mesma motivação que levou a criação da ONU. Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum, Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão, Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações, Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla, Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades, Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso, A Assembleia Geral proclama A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o CS – DIREITOS HUMANOS 2022 48 . Aliado a isso, havia a necessidade de dar concretude aos direitos humanos e liberdades fundamentais referidos na Carta da ONU2 (art. 1ª, 3). Afirma-se que o significado da DUDH decorre dos próprios objetivos da criação das Nações Unidas, relacionados com a reconstrução da ordem mundial fundada em novos conceitos de direito internacional, contrários à doutrina da soberania nacional absoluta e à exacerbação do positivismo jurídico. Pretendia-se formular um rol atualizado dos direitos humanos, com a criação de obrigações para os Estados em decorrência da normativa internacional. Carlos Weis, citando Dalmo Abreu Dallari, afirma que o exame dos artigos da Declaração revela que ela consagrou três objetivos fundamentais: • A certeza dos direitos, exigindo que haja uma fixação prévia e clara dos direitos e deveres, para que os indivíduos possam gozar dos direitos ou sofrer imposições; • A segurança dos direitos, impondo uma série de normas tendentes a garantir que, em qualquer circunstância, os direitos fundamentais serão respeitados; • A possibilidade dos direitos, exigindo que se procure assegurar a todos os indivíduos os meios necessários à fruição dos direitos, não se permanecendo no formalismo cínico e mentiroso da afirmação de igualdade de direitos aonde grande parte do povo vive em condições subumanas. 2 Também chamada de Carta de São Francisco, é de 1945. É um tratado internacional - fala em DH, mas não define seu conteúdo. respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. Artigo 1. Os propósitos das Nações unidas são: 1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz; 2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal; 3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e 4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 49 . A DUDH possui natureza jurídica de recomendação da Assembleia-Geral, com caráter especial, diante de sua universalidade e solenidade. Foi o primeiro documento internacional a tratar dos direitos humanos, tanto civis e políticos quanto econômicos, sociais e culturais,de maneira indivisível, ainda que tenha reconhecido sua distinta natureza jurídica. Apresentou como novidade: a proibição à escravidão e à tortura; o reconhecimento da personalidade jurídica; o direito ao asilo e à nacionalidade. Além disso, fez menção ao direito de propriedade, seja com titularidade individual, seja coletiva. Conforme se percebe, a DUDH não faz qualquer distinção entre as categorias dos direitos humanos, no que diz respeito ao seu reconhecimento e gozo, ainda que o regime de implementação das liberdades e dos demais direitos humanos possam ser diferenciados. Há na DUDH uma completa ausência de mecanismos de implementação dos direitos humanos – o que é explicado pelo contexto político em que se vivia, tendo-se chegado à solução pela criação da Carta Internacional dos Direitos Humanos, com a edição dos pactos de 1966. A DUDH reflete o conteúdo da dignidade humana auferido no pós-guerra, o qual vem sofrendo a ação da História – o que confere aos direitos humanos contemporâneos a característica da historicidade. Apesar de inúmeros preceitos estarem ultrapassados (ex: casamento entre homem e mulher apenas), não retiram o caráter simbólico da Declaração Universal, e sua quase total atualidade demonstra a inconveniência política de se alterar seu consagrado texto, até porque a atualização do catálogo dos direitos humanos tem se realizado constantemente, por meio de novos tratados, declarações e programas de ação, de que fazem exemplo os do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente (1992), de Viena sobre Direitos Humanos (1993), do Cairo sobre População e Desenvolvimento (1994) e de Pequim sobre Direitos da Mulher (1995). A vitalidade do Sistema Universal dos Direitos Humanos, portanto, mantém em constante afinidade com os valores que traduzem a dignidade fundamental do ser humano. Artigo IV - Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo V - Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo VI - Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei. Artigo XIV - 1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países. 2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas. Artigo XV - 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo XVII - 1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 50 . 6. PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS O PIDCP cuida dos direitos humanos relacionados à liberdade individual, à proteção da pessoa contra a ingerência estatal em sua órbita privada, bem como à participação popular na gestão da sociedade, foi adotado pela Assembleia das Nações Unidas em 16/12/1966, entrou em vigor em 1976 com o depósito do 35º instrumento de ratificação. Da análise de suas normas substantivas, vale registrar as alterações feitas pelo PIDCP em relação ao texto da Declaração Universal (arts. III a XXI), como: direito à vida (art. 6º); a não ser submetido à tortura ou tratamentos cruéis desumanos ou degradantes (art. 7º); de não ser escravizado ou submetido à servidão (art. 8º); à liberdade e segurança pessoal – incluindo não ser sujeito à prisão ou detenção arbitrária (art. 9º); à igualdade perante a lei (art. 3º); a um julgamento justo (art. 14); às liberdades de locomoção (art. 12), consciência, manifestação do pensamento, religião (art. 18), associação (inclusive de fundar sindicatos e a eles aderir – art. 22), reunião pacífica (art. 21); a casar e constituir família (art. 23); a ter nacionalidade (art. 24); e de votar, tomar parte do governo – diretamente ou por meio de representantes – e ter acesso às funções públicas de seu País (art. 25). Pontos Importantes! • Ano: 1948 • Primeiro documento que tratou das duas gerações de Direitos Humanos (1ª e 2ª) • Universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos civis, políticos, econômicos e sociais. • Direito de propriedade: reconhecido tanto em caráter individual quanto coletivo; • Implementação progressiva, de acordo com as possibilidades, dos direitos econômicos, sociais e culturais; • Família é o núcleo natural e fundamental da sociedade Novidades • • • • Proibição à escravidão e à tortura Reconhecimento da personalidade jurídica Direito ao asilo Direito à nacionalidade ARTIGO 3º Os Estados partes do presente pacto comprometem-se a assegurar a homens e mulheres igualdade no gozo de todos os direitos civis e políticos enunciados no presente pacto. ARTIGO 6º 1. O direito à vida é inerente à pessoa humana. Este direito deverá ser protegido pela lei. Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida. 2. Nos Países em que a pena de morte não tenha sido abolida, esta poderá ser imposta apenas nos casos de crimes mais graves, em conformidade com CS – DIREITOS HUMANOS 2022 51 . legislação vigente na época em que o crime foi cometido e que não esteja em conflito com as disposições do presente pacto, nem com a Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio. Poder-se-á aplicar essa pena apenas em decorrência de uma sentença transitada em julgado e proferida por tribunal competente. 3. Quando a privação da vida constituir um crime de genocídio, entende-se que nenhuma disposição do presente artigo autorizará qualquer Estado Parte do presente pacto a eximir-se, de modo algum, do cumprimento de quaisquer das obrigações que tenham assumido em virtude das disposições da Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio. 4. Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir indulto ou comutação da pena. A anistia, o indulto ou a comutação de pena poderão ser concedidos em todos os casos. 5. A pena de morte não deverá ser imposta em casos de crimes cometidos por pessoas menores de 18 anos, nem aplicada a mulheres em estado de gravidez. 6. Não se poderá invocar disposição alguma do presente artigo para retardar ou impedir a abolição da pena de morte por um Estado Parte do presente pacto. ARTIGO 7º ninguém poderá ser submetido à tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Será proibido, sobretudo, submeter uma pessoa, sem seu livre consentimento, a experiências médicas ou científicas. ARTIGO 8º 1. Ninguém poderá ser submetido à escravidão; a escravidão e o tráfico de escravos, em todos as suas formas, ficam proibidos. 2. Ninguém poderá ser submetido à servidão. 3. a) Ninguém poderá ser obrigado a executar trabalhos forçados ou obrigatórios; b) A alínea "a" do presente parágrafo não poderá ser interpretada no sentido de proibir, nos países em que certos crimes sejam punidos com prisão e trabalhos forçados, o cumprimento de uma pena de trabalhos forçados, imposta por um tribunal competente; c) Para os efeitos do presente parágrafo, não serão considerados "trabalhos forçados ou obrigatórios": i) qualquer trabalho ou serviço, não previsto na alínea "b", normalmente exigido de um indivíduo que tenha sido encerrado em cumprimento de decisão judicial ou que, tendo sido objeto de tal decisão, ache-se em liberdade condicional; ii) qualquer serviço de caráter militar e, nos países em que se admite a isenção por motivo de consciência, qualquer serviço nacional que a lei venha a exigir daqueles que se oponha ao serviço militar por motivo de consciência; iii) qualquer serviço exigido em casos de emergência ou de calamidadeque ameacem o bem-estar da comunidade; iv) qualquer trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais. ARTIGO 9° 1. Toda pessoa tem à liberdade e a segurança pessoais. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 52 . Ninguém poderá ser preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado de sua liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os procedimentos. 2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada das razões da prisão e notificada, sem demora, das acusações formuladas contra ela. 3. Qualquer pessoa presa ou encerrada em virtude de infração penal deverá ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a exercer funções e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias que assegurem o comparecimento da pessoa em questão à audiência, a todos os atos do processo e, se necessário for, para a execução da sentença. 4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade por prisão ou encarceramento terá de recorrer a um tribunal para que este decida sobre a legalidade de seu encarceramento e ordene sua soltura, caso a prisão tenha sido ilegal. 5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegais terá direito à reparação. ARTIGO 12 1. Toda pessoa que se ache legalmente no território de um Estado terá o direito de nele livremente circular e escolher sua residência. 2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive de seu próprio país. 3. Os direitos supracitados não poderão constituir objeto de restrição, a menos que estejam previstas em lei e no intuito de proteger a segurança nacional e a ordem, a saúde ou a moral pública, bem como os direitos e liberdades das demais pessoas, e que sejam compatíveis com os outros direitos reconhecidos no presente pacto. 4. Ninguém poderá ser privado do direito de entrar em seu próprio país. ARTIGO 14 1. Todas as pessoas são iguais perante os tribunais e as cortes de justiça. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida publicamente e com as devidas garantias por um tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido por lei, na apuração de qualquer acusação de caráter penal formulada contra ela ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil. A imprensa e o público poderão ser excluídos de parte ou da totalidade de um julgamento, que por motivo de moral pública, de ordem pública ou de segurança nacional em uma sociedade democrática, quer quando o interesse da vida privada das partes o exija, quer na medida em que isso seja estritamente necessário na opinião da justiça, em circunstâncias específicas, nas quais a publicidade venha a prejudicar os interesses da justiça; entretanto, qualquer sentença proferida em matéria penal ou civil deverá tornar-se pública, a menos que o interesse de menores exija procedimento oposto, ou o processo diga respeito à controvérsia matrimonial ou a tutela de menores. 2. Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua inocência enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. 3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualdade, a, pelo menos, as seguintes garantias: CS – DIREITOS HUMANOS 2022 53 . a) de ser informado, sem demora, numa língua que compreenda e de forma minuciosa, da natureza e dos motivos da acusação contra ela formulada; b) de dispor do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa e a comunicar-se com defensor de sua escolha; c) de ser julgado sem dilações indevidas; d) de estar presente no julgamento e de defender-se pessoalmente ou por intermédio de defender de sua escolha; de ser informado, caso não tenha defensor, do direito que lhe assiste de tê-lo e, sempre que o interesse da justiça assim exija, de ter um defensor designado "ex offício" gratuitamente, se não tiver meios para remunerá-lo; e) de interrogar ou fazer interrogar as testemunhas da acusação e de obter o comparecimento e o interrogatório das testemunhas de defesa nas mesmas condições de que dispõe as de acusação; f) de ser assistida gratuitamente por um intérprete, caso não compreenda ou não fale a língua empregada durante o julgamento; g) de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada. 4. O processo aplicável a jovens que não sejam maiores nos termos da legislação penal levará em conta a idade dos menores e a importância de promover sua reintegração social. 5. Toda pessoa declarada culpada por um delito terá o direito de recorrer da sentença condenatória e da pena a uma instância, em conformidade com a lei. 6. Se uma sentença condenatória passada em julgado for posteriormente anulada ou se indulto for concedido, pela ocorrência ou descoberta de fatos novos que provem cabalmente a existência de erro judicial, a pessoa que sofreu a pena decorrente dessa condenação deverá ser indenizada, de acordo com a lei, a menos que fique provado que se lhe pode imputar, total ou parcialmente, não-revelação dos fatos desconhecidos em tempo útil. 7. Ninguém poderá ser processado ou punido por um delito pelo qual já foi absolvido ou condenado por sentença passada em julgado, em conformidade com a lei e os procedimentos penais de cada país. ARTIGO 18 1. Toda pessoa terá direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Esse direito implicará a liberdade de ter ou adotar uma religião ou uma crença de sua escolha e a liberdade de professar sua religião ou crença, individual ou coletivamente, tanto pública como privadamente, por meio do culto, da celebração de ritos, de práticas e do ensino. 2. Ninguém poderá ser submetido a medidas coercitivas que possam restringir sua liberdade de ter ou de adotar uma religião ou crença de sua escolha. 3. A liberdade de manifestar a própria religião ou crença estará sujeita apenas a limitações previstas em lei e que se façam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais pessoas. 4. Os Estados partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade dos pais - e, quando for o caso, dos tutores legais - de assegurar a educação religiosa e moral dos filhos que esteja de acordo com suas próprias convicções. ARTIGO 21 - direito de reunião pacífica será reconhecido. O exercício desse direito estará sujeito apenas às restrições previstas em lei e que se façam CS – DIREITOS HUMANOS 2022 54 . necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, da segurança ou da ordem públicas, ou para proteger à saúde pública ou os direitos e as liberdades das pessoas. ARTIGO 22 1. Toda pessoa terá o direito de associar-se livremente a outras, inclusive o direito de construir sindicatos e de a eles filiar-se, para a proteção de seus interesses. 2. O exercício desse direito estará sujeito apenas às restrições previstas em lei e que se façam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, da segurança e da ordem públicas, ou para proteger a saúde ou a moral pública ou os direitos a liberdades das demais pessoas. O presente artigo não impedirá que se submeta a restrições legais o exercício desse direito por membros das forças armadas e da polícia. 3. Nenhuma das disposições do presente artigo permitirá que Estados Partes da Convenção de 1948 da Organização do Trabalho, relativa à liberdade sindical e à proteção do direito sindical, venham a adotar medidas legislativas que restrinjam - ou aplicar a lei de maneira a restringir - as garantias previstas na referida Convenção. ARTIGO 23 1. A família é o elemento natural e fundamentalda sociedade e terá o direito de ser protegida pela sociedade e pelo Estado. 2. Será reconhecido o direito do homem e da mulher de, em idade núbil, contrair casamento e construir família. 3. Casamento algum será sem o consentimento livre e pleno dos futuros esposos. 4. Os Estados Partes do presente Pacto deverão adota as medidas apropriadas para assegurar a igualdade de direitos e responsabilidades dos esposos quanto ao casamento, durante o mesmo e o por ocasião de sua dissolução. Em caso de dissolução, deverão adotar-se disposições que assegurem a proteção necessária para os filhos. ARTIGO 24 1. Toda criança, terá direito, sem discriminação alguma por motivo de cor, sexo, religião, origem nacional ou social, situação econômica ou nascimento, às medidas de proteção que a sua condição de menor requerer por parte de sua família, da sociedade e do Estado. 2. Toda criança deverá ser registrada imediatamente após seu nascimento e deverá receber um nome. 3. Toda criança terá o direito de adquirir uma nacionalidade. ARTIGO 25 Todo cidadão terá o direito e a possibilidade, sem qualquer das formas de discriminação mencionadas no artigo 2° e sem restrições infundadas: a) de participar da condução dos assuntos públicos, diretamente ou por meio de representantes livremente escolhidos; b) de votar e de ser eleito em eleições periódicas, autênticas, realizadas por sufrágio universal e igualitário e por voto secreto, que garantam a manifestação da vontade dos eleitores; c) de ter acesso em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 55 . Em relação à privação de liberdade (art. 10), o PIDCP, além do respeito à dignidade e humanidade, estabelece que o regime penitenciário deve-se fundar em um tratamento, visando à reforma e a reabilitação moral dos prisioneiros. Assim, cria para o Estado uma obrigação relacionada a um direito de natureza social, no sentido de que deve desenvolver um programa voltado ao tratamento do condenado. O Pacto aceita a pena de trabalhos forçados apenas como exceção (art. 8º, 3 – colacionado acima), admite como regra a realização de “serviços” ou trabalhos no cárcere como parte das atividades regulares deste. Não há no PIDCP qualquer dispositivo referente ao direito de propriedade. Além disso, não reproduz a referência ao direito de procurar ou gozar de asilo político em outros Países quando a pessoa for perseguida. O art. 4º do PIDCP trata do chamado direito de crise, ao prever quais direitos não podem ser derrogados, em hipótese alguma (chamado de núcleo inderrogável dos direitos humanos), e quais as situações especiais que permitem a suspensão dos demais. Deste modo, mesmo que situações excepcionais ameacem a existência da Nação, não são passíveis de derrogação: ARTIGO 10 1. Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e respeito à dignidade inerente à pessoa humana. 2. a) as pessoas processadas deverão ser separadas, salvo em circunstância excepcionais, das pessoas condenadas e receber tratamento distinto, condizente com sua condição de pessoa não-condenada. b) as pessoas processadas, jovens, deverão ser separadas das adultas e julgadas o mais rápido possível. 3. O regime penitenciário num tratamento cujo objetivo principal seja a reforma e a reabilitação moral dos prisioneiros. Os delinquentes juvenis deverão ser separados dos adultos e receber tratamento condizente com sua idade e condição jurídica. ARTIGO 4º 1. Quando situações excepcionais ameacem a existência da nação e sejam proclamadas oficialmente, os Estados partes do presente Pacto podem adotar, na estrita medida exigida pela situação, medidas que suspendam as obrigações decorrentes do presente Pacto, desde que tais medidas não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhes sejam impostas pelo Direito Internacional e não acarretem discriminação alguma apenas por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião ou origem social. 2. A disposição precedente não autoriza qualquer suspensão dos artigos 6°, 7°, 8° (§§1° e 2°), 11, 15, 16 e 18. 3. Os Estados Partes do presente pacto que fizerem uso do direito de suspensão devem comunicar imediatamente aos outros Estados Partes do Presente Pacto, por intermédio do Secretário-Geral das Nações Unidas, as disposições que tenham suspenso, bem como os motivos de tal suspensão. Os Estados Partes deverão fazer uma nova comunicação, igualmente por intermédio do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, na data em que terminar tal suspensão. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 56 . • Direito à vida (art. 6º - acima); • A proibição contra a tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes (art. 7º - acima); • A vedação à escravidão ou servidão (art. 8º - acima); • A proibição de prisão por descumprimento de obrigação contratual (art. 11); • As garantias penais de tipicidade, anterioridade, legalidade quanto ao tipo e à pena, assim como seu abrandamento se norma posterior assim dispuser (art. 15); • O direito ao reconhecimento da personalidade jurídica (art. 16); • As liberdades de pensamento, consciência e de religião (art. 18 – acima). O PIDCP autoriza a derrogação: • Dos direitos à informação sobre os motivos da prisão (art. 9º - acima); • A imediata condução a um juiz (art. 9º - acima); • Ao imediato acesso a um tribunal para evitar uma prisão ilegal (art. 9º - acima); • Ao tratamento do preso com humanidade (art. 10 - acima); • Ao duplo grau de jurisdição (art. 14 – acima). O Tratado entrou em vigor em 23.3.1976, foi ratificado pelo Brasil em 24.1.1992, sem qualquer reserva ou objeção. Contudo, o País ainda não fez a declaração expressa, a que se refere o art. 41 do Tratado, no sentido de que reconhece a competência do Comitê para receber e examinar as comunicações em que um Estado-Parte alegue que outro Estado-Parte não vem cumprindo as obrigações que lhe impõe o presente Pacto. Desta forma, o Brasil não pode ARTIGO 11 - Ninguém poderá ser preso apenas por não poder cumprir com uma obrigação contratual. ARTIGO 15 1. Ninguém poderá ser condenado por atos ou omissões que não constituam delito de acordo com direito nacional ou internacional, no momento em que foram cometidos. Tampouco poder-se-á impor pena mais grave do que a aplicável no momento da ocorrência do delito. Se, depois de perpetrado o delito, a lei estipular a imposição de pena mais leve, o delinquente deverá beneficiar-se. 2. nenhuma disposição do presente Pacto impedirá o julgamento ou a condenação de qualquer indivíduo por atos ou omissões que, no momento em que foram cometidos, eram considerados delituosos de acordo com os princípios gerais de direito reconhecidos pela comunidade das nações. ARTIGO 16 - Toda pessoa terá direito, em qualquer lugar, ao reconhecimento de sua personalidade jurídica. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 57 . apresentar denúncia, perante o Comitê de Direitos Humanos, ao tempo em que não se vê na possibilidade de ser ali questionado por outro Estado signatário do Pacto. 6.1. PROTOCOLOS FACULTATIVOS O PIDCP possui dois protocolos facultativos. Primeiro Protocolo Facultativo: refere-se à possibilidade de um Estado-membro reconhecer a competência do Comitê de Direitos Humanos para receber e analisar comunicações, advindas de indivíduos sob a soberania daquele que aleguem serem vítimas de violação de algum direito previsto no Pacto, desde que esgotados os remédios de jurisdição interna – salvo os casos de demora injustificada para a solução interna da demanda. Não se admite denúncia anônima, deve ser feita por escrito. Por fim, só será admitido se não houver litispendência em outro foro internacional. Brasil reconheceu em 25 de setembro de 2009. Segundo ProtocoloFacultativo: Refere-se à abolição da pena de morte. No art. 2º, ao mesmo tempo em que o protocolo veda a realizações de reservas, abre a possibilidade de o Estado Parte, apenas no momento da ratificação, excepcionar a regra, para admitir a pena de morte somente em tempo de guerra, decorrente de condenação por crime de natureza militar cometido em tempo de guerra. Brasil ratificou em 25 de setembro de 2009, com a referida reserva. 6.2. MECANISMO DE PROTEÇÃO: COMITÊ DE DIREITOS HUMANOS É um mecanismo convencional de proteção, tendo em vista que se encontrada previsto expressamente no PIDCP (art. 28), bem como só é aplicado aos Estados que aderirem. ARTIGO 41 1. Com base no presente Artigo, todo Estado parte do presente pacto poderá declarar, a qualquer momento, que reconhece a competência do Comitê para receber e examinar as comunicações em que um Estado parte alegue que outro Estado Parte não vem cumprindo as obrigações que lhe impõe a Pacto. As referidas comunicações só serão recebidas e examinadas nos termos do presente Artigo no caso de serem apresentadas por um Estado Parte que houver feito uma declaração em que reconheça, com relação a si próprio, a competência do Comitê. O Comitê não receberá comunicação alguma relativa a um Estado Parte que não houver feito uma declaração dessa natureza. ARTIGO 2.º 1. Não é admitida qualquer reserva ao presente Protocolo, exceto a reserva formulada no momento da ratificação ou adesão prevendo a aplicação da pena de morte em tempo de guerra em virtude de condenação por infracção penal de natureza militar de gravidade extrema cometida em tempo de guerra. ARTIGO 28 1. Constituir-se-á um comitê de Direitos Humanos (doravante denominado o "Comitê" no presente pacto). O Comitê será composto de dezoito membros e desempenhará as funções descritas adiante. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 58 . É um corpo independente de especialistas, que opera tanto pelo sistema de relatórios dos Estados-Partes (devem encaminhar sempre que solicitados – art. 40), quanto pelo recebimento de comunicações formuladas pelos países (art. 41), observando o esgotamento dos remédios internos, e desde que não se prolonguem indefinidamente. Sua competência para receber comunicações depende de aceitação expressa do Estado denunciado (art. 41). Da mesma forma, um estado que não se submeta ao sistema não está autorizado a formular denúncias, obedecendo ao critério da reciprocidade, vigente no direito internacional. O Brasil até hoje não declarou a sua aceitação, estando, portanto, fora desse sistema. ARTIGO 40 1. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a submeter relatórios sobre as medidas por eles adotadas para tornar efetivos os direitos reconhecidos no presente Pacto e sobre o progresso alcançado no gozo desses direitos: a) dentro do prazo de um ano, a contar do início da vigência do presente Pacto nos Estados Partes interessados; b) a partir de então, sempre que o Comitê vier a solicitar. 2. Todos os relatórios serão submetidos ao Secretário-Geral da Organização das nações Unidas, que os encaminhará. Para exame, ao Comitê. Os relatórios deverão sublinhar, caso existam, os fatores e as dificuldades que prejudiquem a implementação do presente pacto. 3. O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas poderá, após consulta ao Comitê, encaminhar às agências especializadas cópias das partes dos relatórios que digam respeito à sua esfera de competência. 4. O Comitê estudará os relatórios apresentados pelos Estados partes do presente pacto e transmitirá aos Estados Partes seu próprio relatório, bem como os comentários gerais que julgar oportunos. O Comitê poderá igualmente transmitir ao Conselho Econômico e social os referidos comentários, bem como cópias dos relatórios que houver recebido dos Estados partes do Presente pacto. 5. Os Estados Partes no presente pacto poderão submeter ao Comitê as observações que desejarem formular relativamente aos comentários feitos nos termos do § 4° do presente artigo. ARTIGO 41 1. Com base no presente Artigo, todo Estado parte do presente pacto poderá declarar, a qualquer momento, que reconhece a competência do Comitê para receber e examinar as comunicações em que um Estado parte alegue que outro Estado Parte não vem cumprindo as obrigações que lhe impõe a Pacto. As referidas comunicações só serão recebidas e examinadas nos termos do presente Artigo no caso de serem apresentadas por um Estado Parte que houver feito uma declaração em que reconheça, com relação a si próprio, a competência do Comitê. O Comitê não receberá comunicação alguma relativa a um Estado Parte que não houver feito uma declaração dessa 2. O Comitê será integrado por nacionais dos Estados partes do presente Pacto, os quais deverão ser pessoas de elevada reputação moral e reconhecida competência em matéria de direitos humanos, levando-se em consideração a utilidade da participação de algumas pessoas com experiência jurídica. 3. Os membros do Comitê serão eleitos e exercerão suas funções a título pessoal. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 59 . natureza. As comunicações recebidas em virtude do presente Artigo estarão sujeitas ao procedimento que se segue: a) se um Estado Parte do presente Pacto considerar que outro Estado Parte não vem cumprindo as disposições da presente Convenção poderá, mediante comunicação escrita, levar a questão ao conhecimento deste Estado Parte. Dentro de um prazo de três meses, a contar da data do recebimento da comunicação, o Estado destinatário fornecerá ao Estado que enviou a comunicação explicações ou quaisquer outras declarações por escrito que esclareçam a questão, as quais deverão fazer referência, até onde seja possível e pertinente, aos procedimentos, nacionais e aos recursos jurídicos adotados, em trâmite ou disponíveis sobre a questão; b) se, dentro de um prazo de seis meses, a contar da data do recebimento da comunicação original pelo Estado destinatário, a questão não estiver dirimida satisfatoriamente para ambos os Estados Partes interessados, tanto um como o outro terão o direito de submetê-lo ao comitê, mediante notificação endereçada ao Comitê ou outro Estado interessado; c) o comitê tratará de todas as questões que se lhe submetam em virtude do presente Artigo somente após ter-se assegurado de que todos os recursos jurídicos internos disponíveis tenham sido utilizados e esgotados, em consonância com os princípios do Direito internacional geralmente reconhecido. Não se aplicará esta regra quando a aplicação dos mencionados recursos se prolongar injustificadamente. d) o comitê realizará reuniões confidenciais quando estiver examinando as comunicações previstas no presente Artigo; e) sem prejuízo das disposições da alínea "c’, o Comitê colocará seus bons ofícios à disposição dos Estados Partes interessados no intuito de se alcançar uma solução amistosa para a questão, baseada no respeito aos direitos humanos e a liberdades fundamentais reconhecidos no presente Pacto. f) em todas as questões que se lhe submetem em virtude do presente artigo, o Comitê poderá solicitar aos Estados Partes interessados, a que se faz referência na alínea b), que lhe forneçam quaisquer informação pertinentes; g) os estados Partes interessados, a que se faz referência na alínea "b", terão o direito de fazer-se representar quando as questões forem examinadas no Comitê e de apresentar suas observações verbalmente e/ou por escrito; h) o Comitê, dentro dos doze meses seguintes à data de recebimento da notificação mencionada na b), apresentará relatório em que: i) se houver sido alcançada uma solução nos termos da alínea e), o comitê restringir-se-á, em seu relatório, a uma breve exposição dos fatos e da solução alcançada; ii) se não houver sido alcançada solução alguma nos termos alínea "e",o comitê restringir-se-á, em seu relatório, a uma breve exposição dos fatos; serão anexados ao relatório o texto das observações escritas e as atas das observações orais apresentadas pelos Estados Partes interessados. Para cada questão, o relatório será encaminhado aos Estados partes interessados. 1. As disposições do presente Artigo entrarão em vigor a partir do momento em que dez Estados Partes do presente Pacto houverem feito as declarações mencionadas no parágrafo §1º deste Artigo. As referidas declarações serão depositadas pelos Estados partes junto ao Secretário-Geral da Organização Nações Unidas, que enviará cópia das mesmas aos demais Estados Partes. Toda declaração poderá ser retirada, a qualquer momento, mediante CS – DIREITOS HUMANOS 2022 60 . Igualmente, o Comitê pode receber denúncias individuais ou de terceiras pessoas e de ONGs, sobre a violação dos direitos estabelecidos no pacto (art. 1º do Protocolo Facultativo ao PIDCP). Brasil aderiu em 2009. O procedimento das denúncias individuais perante o Comitê de DH possui quatro fases: admissibilidade, instrução probatória, deliberação sobre o mérito, publicação e execução, a seguir analisadas. A primeira fase, de admissibilidade, exige a comprovação de certos requisitos de forma (forma escrita, não anônima, da própria vítima ou representante) e também requer que a comunicação não esteja sendo processada simultaneamente em outras instâncias internacionais. Na segunda fase, de instrução probatória, o Estado requerido dispõe de seis meses para responder as questões de mérito alegadas na petição do particular. O Estado pode também novamente atacar a admissibilidade do caso, que se for considerado inadmissível, enseja o encerramento do procedimento. Na terceira fase, o Comitê adota uma deliberação sobre o mérito, que consiste na indicação de violação ou não de direitos humanos protegidos e na reparação a ser efetuada pelo Estado. O Comitê pode decidir ainda publicar o texto com suas decisões e opiniões no informe anual à Assembleia Geral da ONU. A execução, quarta fase, pode ser realizada através da indicação de um Relator Especial, apontado para acompanhar a execução dos ditames do comitê. O Comitê informará à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas sobre as atividades deste Relator. notificação endereçada ao Secretário-Geral. Far-se-á essa retirada sem prejuízo do exame de quaisquer questões que constituam objeto de uma comunicação já transmitida nos termos deste artigo; em virtude do presente artigo, não se receberá qualquer nova comunicação de um Estado Parte uma vez que o Secretário-Geral tenha recebido a notificação sobre a retirada da declaração, a menos que o Estado parte interessado haja feito uma nova declaração. Artigo 1º - Os Estados Partes no Pacto que se tornarem Parte no presente Protocolo reconhecerão que o Comitê tem competência para receber e examinar comunicações provenientes de indivíduos particulares sujeitos à sua jurisdição que aleguem ter sido vítimas de uma violação, por esses Estados Partes, de quaisquer dos direitos enunciados no Pacto. O Comitê não receberá comunicação alguma relativa a um Estado Parte no Pacto que não seja parte no presente Protocolo. Artigo 2º Ressalvado o disposto no artigo 1º, o indivíduo que se considerar vítima de violação de qualquer dos direitos enunciados no Pacto e que tenha esgotado todos os recursos internos disponíveis, poderá apresentar uma comunicação escrita ao Comitê para que este a examine. Artigo 3º O Comitê declarará inadmissíveis as comunicações recebidas em conformidade com o presente Protocolo que sejam anônimas, ou que, a seu juízo, constituam abuso de direito ou sejam incompatíveis com as disposições do Pacto. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 61 . Salienta-se que o Comitê de Direitos Humanos é um organismo de aplicação de um acordo. Ele é responsável por fazer com que as obrigações do pacto sejam implementadas pelas partes. Para garantir isso, ele necessita de uma interpretação. Isso é feito, por um lado, por meio da utilização da disposição do pacto em casos individuais no âmbito do procedimento segundo o protocolo facultativo. Por outro lado, a comissão também aprovou “Comentários Gerais”, com os quais interpreta as disposições do Pacto. 6.3. CASO LULA O Comitê de Direitos Humanos acolheu um pedido de medida provisória da defesa do ex- presidente Lula para que ele pudesse registrar a sua candidatura, mesmo estando preso. Contudo, o TSE não acolheu a decisão do Comitê, observe: 7. (...) Em atenção aos compromissos assumidos pelo Brasil na ordem internacional, a manifestação do Comitê merece ser levada em conta, com o devido respeito e consideração. Não tem ela, todavia, caráter vinculante e, no presente caso, não pode prevalecer, por diversos fundamentos formais e materiais. 7.1. Do ponto de vista formal, (i) o Comitê de Direitos Humanos é órgão administrativo, sem competência jurisdicional, de modo que suas recomendações não têm caráter vinculante; (ii) o Primeiro Protocolo Facultativo ao PIDCP, que legitimaria a atuação do Comitê, não está em vigor na ordem interna brasileira” (TSE, Registro de candidatura nº 0600903-50.2018.6.00.0000, rel. Min. Roberto Barroso, j. 01.09.2018). Acerca da vinculação das decisões do Comitê na ordem nacional, não há consenso na doutrina, pode-se identificar duas correntes: 1ªC – as decisões dos Comitês relacionados aos tratados da ONU são meras recomendações, não possuem força vinculante. Sustentam que quando os Estados-Partes aderem a um tratado possuem ciência que aceitam a competência de um órgão sem natureza jurisdicional, que espede apenas recomendações. 2ªC – as decisões dos Comitês possuem força vinculante, isto porque os tratados devem ser interpretados de boa-fé. Assim, ao aderir o PIDCP e o seu protocolo facultativo o Estado-Parte não poderá descumprir as decisões do Comitê, já que anuiu. Ressalta-se que o Comitê entende que suas decisões são vinculantes. Por fim, o argumento de que o Primeiro Protocolo Facultativo ao PIDCP ainda não está em vigor na ordem interna brasileira, segundo Caio Paiva deve ser feito um distinguishing. Assim: TRATADOS QUE CRIAM OBRIGAÇÕES DE TRATADOS QUE APENAS ESTABELECEM RESPEITAR E PROTEGER DIREITOS MECANISMOS DE PROTEÇÃO SEM CRIAR HUMANOS NOVAS OBRIGAÇÕES DE RESPEITAR E PROTEGER DIREITOS HUMANOS Para entrarem em vigor na ordem jurídica nacional, precisam passar também pela fase do decreto de promulgação Entram em vigor, internacional e nacionalmente, com a sua ratificação, sendo desnecessário o decreto de promulgação CS – DIREITOS HUMANOS 2022 62 . 7. PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS (PIDESC) O Pacto Social foi elaborado paralelamente ao Pacto Civil, concomitantemente com a assembleia geral aprovada em 1966, e entrou em vigor em 1976. Visa estabelecer, sob a forma de direitos, as condições sociais, econômicas e culturais para a vida digna. Em contraposição à noção de que a realização progressiva dos direitos econômicos, sociais e culturais afasta a sua exigibilidade, a interpretação do Pacto é no sentido de que a primeira obrigação estatal é adotar medidas, isto é, planejar apropriadamente as políticas públicas, tendentes à realização destes direitos. E, ainda, da progressividade decorre a chamada cláusula de proibição do retrocesso social, na medida em que é vedado aos Estados retroceder no campo da implementação desses direitos. Assim, a progressividade dos direitos econômicos, sociais e culturais proíbe o retrocesso ou a redução de políticas públicas voltadas à garantia de tais direitos. Houve a fixação de um conteúdo mínimo de direitos, por parte do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, que dever ser imediatamente implementados, judicialmente,inclusive, quais sejam: • Tratamento isonômico ante a lei (art. 3º); • Remuneração igual por trabalho igual, com especial proteção à mulher (art. 7º); • Liberdade sindical e de greve (art. 8º); ARTIGO 3º - Os Estados partes do presente pacto comprometem-se a assegurar a homens e mulheres igualdade no gozo de todos os direitos econômicos, sociais e culturais enunciados no presente pacto. ARTIGO 7 - Os Estados Partes do presente pacto reconhecem o direito de toda pessoa de gozar de condições de trabalho justas e favoráveis, que assegurem especialmente: a) uma remuneração que proporcione, no mínimo, a todos os trabalhadores: i) um salário equitativo e uma remuneração igual por um trabalho de igual valor, sem qualquer distinção; em particular, as mulheres deverão ter a garantia de condições de trabalho não inferiores às dos homens e receber a mesma remuneração que ele por trabalho igual; ii) uma existência decente para eles e suas famílias, em conformidade com as disposições do presente Pacto. b) a segurança e a higiene no trabalho; c) igual oportunidade para todos de serem promovidos, em seu trabalho, á categoria superior que lhes corresponda, sem outras considerações que as de tempo de trabalho e capacidade; d) o descanso, o lazer, a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas, assim. ARTIGO 8º 1. Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a garantir: a) o direito de toda pessoa de fundar com outras sindicatos e de filiar-se ao sindicato de sua escolha, sujeitando-se unicamente aos organização interessada, com o objetivo de promover e de proteger seus interesses CS – DIREITOS HUMANOS 2022 63 . • Proteção e assistência em prol de todas as crianças e adolescentes, sem distinção alguma por motivo de filiação ou qualquer outra condição contra a exploração econômica e social (art. 10); • Obrigatoriedade e gratuidade da educação primária; econômicos e sociais. O exercício desse direito só poderá ser objeto das restrições previstas em lei e que sejam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional ou da ordem pública, ou para proteger os direitos e as liberdades alheias; b) o direito dos sindicatos de formar federações ou confederações nacionais e o direito desta de formar organizações sindicais internacionais ou de filiar- se às mesmas; c) o direito dos sindicatos de exercer livremente suas atividades, sem quaisquer limitações além daquelas previstas em lei e que sejam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional ou da ordem pública, ou para proteger os direitos e as liberdades das demais pessoas; d) o direito de greve, exercido de conformidade com as leis de cada país. 2. O presente artigo não impedirá que se submeta a restrições legais o exercício desses direitos pelos membros das forças armadas, da política ou da administração pública. 3. nenhuma das disposições do presente artigo permitirá que os Estados Partes da Convenção de 1948 da Organização Internacional do Trabalho, relativa à liberdade sindical e à proteção do direito sindical, venha a adotar medidas legislativas que restrinjam - ou a aplicar a lei de maneira a restringir - as garantias previstas na referida Convenção. ARTIGO 10 Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem que: 1. Deve-se conceder à família, que é o elemento natural e fundamental da sociedade, as mais amplas proteção e assistência possíveis, especialmente para a sua constituição e enquanto ela for responsável pela criação e educação dos filhos. O matrimônio deve ser contraído com livre consentimento dos futuros cônjuges. 2. Deve-se conceder proteção às mães por um período de tempo razoável antes e depois do parto. Durante esse período, deve-se conceder às mães que trabalhem licença remunerada ou licença acompanhada de benefícios previdenciários adequados. 3. Devem-se adotar medidas especiais de proteção e de assistência em prol de todas as crianças e adolescentes, sem distinção por motivo de filiação ou qualquer outra condição. Devem-se proteger as crianças e adolescentes contra a exploração econômica e social. O emprego de crianças e adolescentes em trabalhos que lhes sejam nocivos à saúde ou que lhes façam correr perigo de vida, ou ainda que lhes venham a prejudicar o desenvolvimento normal, será punido por lei. Os Estados devem também estabelecer limites de idade sob os quais fique proibido e punido por lei o emprego assalariado da mão-de-obra infantil. ARTIGO 13 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa à educação. Concordam em que a educação deverá visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana e do sentido de sua dignidade e CS – DIREITOS HUMANOS 2022 64 . fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais. Concordam ainda em que a educação deverá capacitar todas as pessoas a participar efetivamente de uma sociedade livre, favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais, étnicos ou religiosos e promover as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 2. Os Estados partes do Presente Pacto reconhecem que, com o objetivo de assegurar o pleno exercício desse direito: a) a educação primária deverá ser obrigatória e acessível gratuitamente a todos; b) a educação secundária em suas diferentes formas, inclusive a educação secundária técnica e profissional, deverá ser generalizada e tornar-se acessível a todos, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela implementação progressiva do ensino gratuito; c) a educação de nível superior deverá igualmente tronar-se acessível a todos, com base na capacidade de cada um, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela implementação progressiva do ensino gratuito; d) dever-se-á fomentar e intensificar, na medida do possível, a educação de base para aquelas que não receberam educação primária ou não concluíram o ciclo completo de educação primária; e) será preciso prosseguir ativamente o desenvolvimento de uma rede escolar em todos os níveis de ensino, implementar-se um sistema de bolsas estudo e melhorar continuamente as condições materiais do corpo docente. 1. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade dos pais - e, quando for o caso, dos tutores legais - de escolher para seus filhos escolas distintas daquelas criadas pelas autoridades públicas, sempre que atendam aos padrões mínimos de ensino prescritos ou aprovados pelo Estado, e de fazer com que seus filhos venham a receber educação religiosa ou moral que seja de acordo com suas próprias convicções. 2. Nenhuma das disposições do presente artigo poderá ser interpretada no sentido de restringir a liberdade de indivíduos e de entidades de criar e dirigir instituições de ensino, desde que respeitados os princípios enunciados no § 1° do presente artigo e que essas instituições observem os padrões mínimos prescritos pelo Estado. • Liberdade de os pais decidirem quanto aos estudos dos filhos (art. 10); • Liberdade de as escolas fixarem sua orientação pedagógica (art. 10); Liberdade à pesquisa científica e à atividade criadora; ARTIGO 15 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem a cada indivíduo o direito de: a) Participar da vida cultural; b) desfrutar o progresso científico e suas aplicações; c) beneficiar-se da proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de toda a produção científica, literária ou artística de que seja autor. 2. As medidas que os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar com a finalidade de assegurar o pleno exercício desse direito aquelas necessárias à conservação, ao desenvolvimento e à difusão da ciência e da cultura. 3. Os Estados Partes do presente Pactocomprometem-se a respeitar a liberdade indispensável à pesquisa científica e à atividade criadora. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 65 . O Brasil ratificou o Pacto em 24.1.1992, sem qualquer ressalva. Em 2008, a Assembleia Geral da ONU, adotou o Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o qual instaura a competência do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais para receber e analisar comunicações feitas por ou em benefícios de indivíduos ou grupo de pessoas, sob jurisdição de um Estado Parte, alegando serem vítimas de violação de quaisquer dos direitos previstos no Pacto, bem como comunicações interestaduais e procedimento de investigação das violações graves ou sistemáticas dos DESC. O PF-PIDESC foi colocado para assinatura em 2009. Entrou em vigor em 05 de maio de 2013, com a ratificação do Uruguai (10º país) - se juntando a Argentina, Bolívia, Bósnia- Herzegovina, Equador, El Salvador, Mongólia, Portugal, Eslováquia e Espanha. 7.1. MECANISMO DE PROTEÇÃO: COMITÊ DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS Órgão de tratado das Nações Unidas, criado pelo Conselho Econômico e Social, que supervisiona a aplicação do PIDESC pelos Estados-Parte, composto por 18 especialistas independentes, nomeados e escolhidos pelos Estados Parte, por um período fixo e renovável por quatro anos. Tem o mandato de examinar os relatórios apresentados periodicamente (dois anos e depois a cada cinco anos) pelos Estados-Parte sobre as medidas adotadas para a aplicação das disposições do PIDESC. Além disso, expressa suas preocupações e recomendações aos Estados-Parte como “observações finais”. Para facilitar a avaliação, o Comitê adotou orientações sobre a forma e o conteúdo dos relatórios. Adota também “observações gerais” para guiar a interpretação e aplicação dos artigos do PIDESC. A partir da entrada em vigor do PF-PIDESC (05 de maio de 2013), o Comitê terá a faculdade de examinar comunicações individuais e interestatais, e investigar supostas violações ao PIDESC. 7.1.1. Comunicações individuais (queixas ou petições) Permite às vítimas de violações de direitos econômicos, sociais e culturais, apresentarem reclamações perante o Comitê DESC. Todo Estado-Parte do PIDESC que ratificar o Protocolo Facultativo reconhece as atribuições do Comitê para receber e examinar comunicações conforme as disposições do Protocolo. Assim o Comitê poderá, por meio de casos específicos, melhorar a compreensão dos direitos econômicos, sociais e culturais e requerer aos Estados as reparações. Os autores da comunicação devem: esgotar os recursos internos, ou seja, que antes de apresentar a comunicação individual devem ter utilizado todos os recursos disponíveis na jurisdição 4. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem os benefícios que derivam do fomento e do desenvolvimento da cooperação e das ralações internacionais no domínio da ciência e da cultura. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 66 . interna e a resolução do caso não deve estar pendente, salvo se os recursos internos não forem efetivos, não estiverem à disposição do autor ou se forem objeto de “dilações indevidas”; apresentar a comunicação dentro de um ano desde o esgotamento dos recursos internos; e ter certeza de que o mesmo caso não foi apresentado perante um mecanismo internacional semelhante. O procedimento comporta a possibilidade de pedir medidas provisionais e, como características inovadoras, o Protocolo Facultativo inclui também a possibilidade de uma “solução amistosa”, estabelece um padrão de revisão particular e dá ao Comitê a faculdade de consultar documentação pertinente elaborada por outros órgãos, organismos especializados, fundos, programas e mecanismos das Nações Unidas e de outras organizações internacionais, incluindo os sistemas regionais ACNUDH - Escritório Regional para América do Sul. 7.1.2. Comunicações interestatais Permite aos Estados-Parte apresentar comunicações perante o Comitê DESC, denunciando outro Estado que não cumpriu suas obrigações segundo o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, desde que ambos os Estados tenham feito uma declaração de aceitação desse mecanismo. 7.1.3. Procedimento de investigação Permite ao Comitê DESC começar uma investigação quando receber informação fidedigna indicando a existência de violações graves ou sistemáticas dos direitos estabelecidos no Pacto Internacional, sempre que o Estado analisado tenha feito uma declaração de aceitação da competência do Comitê para tais pesquisas. 8. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL O art. 1º da Convenção define discriminação racial, de forma bastante abrangente. tomadas como o único objetivo de assegurar progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou indivíduos que necessitem da proteção que ARTIGO I 1. Nesta Convenção, a expressão "discriminação racial" significará qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito anula ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano, (em igualdade de condição), de direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio de sua vida. 2. Esta Convenção não se aplicará às distinções, exclusões, restrições e preferências feitas por um Estado Parte nesta Convenção entre cidadãos. 3. Nada nesta Convenção poderá ser interpretado como afetando as disposições legais dos Estados Partes, relativa à nacionalidade, cidadania e naturalização, desde que tais disposições não discriminem contra qualquer nacionalidade particular. 4. Não serão consideradas discriminações racial as medidas especiais CS – DIREITOS HUMANOS 2022 67 . Este artigo é complementado pelo art. 4º, “a”, no sentido de que os Estados devem editar normas penais para punir atos discriminatórios e racistas, incluindo qualquer difusão de ideias baseadas na superioridade ou ódio racial. Outro aspecto interessante da Convenção diz respeito à possibilidade de edição de medidas especiais para assegurar o “progresso adequado” de grupos étnicos ou raciais, a fim de criar as condições para o pleno exercício, em condições de igualdade, dos direitos humanos – com a ressalva de que tais medidas devem ser suspensas após o alcance dos fins pretendidos, evitando que conduzam à criação de direitos desiguais e distintos para os diferentes grupos raciais (arts. 1º, 4, e 2º, 2). É o que se convencionou chamar de discriminação positiva. possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais, contanto que, tais medidas não conduzam, em consequência , á manutenção de direitos separados para diferentes grupos raciais e não prossigam após terem sidos alcançados os seus objetivos. ARTIGO IV - Os Estados partes condenam toda propaganda e toda as organizações que se inspirem em ideias ou teorias baseadas na superioridade de uma raça ou de um grupo de pessoas de uma certa cor ou de uma certa origem étnica ou que pretendem justificar ou encorajar qualquer forma de ódio e de discriminação raciais e comprometem-se a adotar imediatamente medidas positivas destinadas a eliminar qualquer incitação a uma tal discriminação, ou quaisquer atos de discriminação com este objetivo, tendo em vista os princípios formulados na Declaração universal dos direitos do homem e os direitos expressamente enunciados no artigo 5 da presente convenção, eles se comprometem principalmente: a) a declarar delitos puníveis por lei, qualquer difusão de ideias baseadas na superioridade ou ódio raciais, qualquer incitamento à discriminação racial,assim como quaisquer atos de violência ou provocação a tais atos, dirigidos contra qualquer raça ou qualquer grupo de pessoas de outra cor ou de outra origem étnica, como também qualquer assistência prestada a atividades racistas, inclusive seu financiamento; b) a declarar ilegais e a proibir as organizações assim como as atividades de propaganda organizada e qualquer outro tipo de atividades de propaganda que incitar à discriminação e que a encorajar e a declara delito punível por lei a participação nestas organizações ou nestas atividades. c) a não permissão às autoridades públicas nem às instituições públicas, nacionais ou locais, o incitamento ou encorajamento à discriminação racial. Art. I, 4. Não serão consideradas discriminações racial as medidas especiais tomadas como o único objetivo de assegurar progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou indivíduos que necessitem da proteção que possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais, contanto que, tais medidas não conduzam, em consequência , a manutenção de direitos separados para diferentes grupos raciais e não prossigam após terem sidos alcançados os seus objetivos. Art. II, 2. Os Estados Parte tomarão, se as circunstâncias o exigirem, nos campos social, econômico, cultural e outros, as medidas especiais e concretos para assegurar como convier o desenvolvimento ou a proteção de certos grupos raciais de indivíduos pertencentes a estes grupos com o CS – DIREITOS HUMANOS 2022 68 . Foi ratificado pelo Brasil em 27.3.1968, sem qualquer reserva. 8.1. COMITÊ PARA A ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL O Comité (corpo de 18 especialistas independentes) para a Eliminação da Discriminação Racial foi criado em virtude do art.º 8.º da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial com o objetivo de controlar a aplicação, pelos Estados Partes, das disposições desta Convenção. Cada Estado-Parte deve enviar relatórios periódicos, inicialmente no primeiro ano após a ratificação da Convenção, e desde então bienalmente. Além do sistema de relatórios, a Convenção estabelece três outros mecanismos através dos quais o Comitê realiza o monitoramento, a saber: o exame das reclamações interestatais; o daquelas decorrentes dos indivíduos; o procedimento Alerta Rápido, voltado ao envio de recomendações urgentes quanto aos procedimentos a serem tomados pelos Estados-Partes para prevenir ou limitar a ocorrência de violações à Convenção, em face de situações de conflitos. Inovou ao prever o sistema de denúncias individuais, ainda que mediante a concordância expressa do Estado Parte, o que não lhe retirou a importância para o desenvolvimento do sistema. Em 17.6.2002, o Brasil reconheceu a competência do Comitê sobre a Eliminação da Discriminação racial para receber e processar reclamações de violações de direitos humanos, como previsto no art. 14 da Convenção. objetivo de garantir-lhes, em condições de igualdade, o pleno exercício dos direitos do homem e das liberdades fundamentais. Essas medidas não deverão, em caso algum, ter a finalidade de manter direitos desiguais ou distintos para os diversos grupos raciais, depois de alcançados os objetivos em razão dos quais foram tomadas. ARTIGO XIV 1. Todo Estado Parte poderá declarar a qualquer momento que reconhece a competência do Comitê para receber e examinar comunicações de indivíduos ou grupos de indivíduos sob sua jurisdição que se consideram vítimas de uma violação pelo referido Estado Parte, de qualquer um dos direitos enunciados na presente Convenção. O Comitê não receberá qualquer comunicação de um Estado Parte que não houver feito tal declaração 2. Qualquer Estado Parte que fizer uma declaração de conformidade com o parágrafo do presente artigo, poderá criar ou designar um órgão dentro da sua ordem jurídica nacional, que terá competência para receber e examinar as petições de pessoas ou grupos de pessoas sob sua jurisdição que alegarem ser vítimas de uma violação de qualquer um dos direitos enunciados na presente Convenção e que esgotaram os outros recursos locais disponíveis. 3. A declaração feita de conformidade com o 1.° do presente artigo e o nome de qualquer órgão criado ou designado pelo Estado Parte interessado consoante o 2.° do presente artigo será depositado pelo Estado Parte interessado junto ao Secretário geral das Nações Unidas que remeterá cópias aos outros Estados Partes. A declaração poderá ser retirada a qualquer CS – DIREITOS HUMANOS 2022 69 . momento mediante notificação ao Secretário Geral, mas esta retirada não prejudicará as comunicações que já estiverem sendo estudadas pelo Comitê. 4. O órgão criado ou designado de conformidade com o 2.° do presente artigo, deverá manter um registro de petições e cópias autenticadas do registro serão depositadas anualmente por canais apropriados junto ao Secretário Geral das Nações Unidas, no entendimento que o conteúdo dessas cópias não será divulgado ao público. 5. Se não obtiver reparação satisfatória do órgão criado ou designado de conformidade com o 2.° do presente artigo, o peticionário terá o direito de levar a questão ao Comitê dentro de seis meses. 6. a) O Comitê, a título confidencial, qualquer comunicação que lhe tenha sido endereçada, ao conhecimento do Estado Parte que, pretensamente houver violado qualquer das disposições desta Convenção, mas a identidade das pessoas ou dos grupos de pessoas não poderá ser revelada sem o consentimento expresso da referida pessoa ou grupos de pessoas. O Comitê não receberá comunicações anônimas. b) Nos três meses seguintes, o referido Estado submeterá, por escrito ao Comitê, as explicações ou recomendações que esclareçam a questão e indicará as medidas corretivas que por acaso houver adotado 7. a) O Comitê examinará as comunicações , à luz az informações que lhe forem submetidas pelo Estado Parte interessado e pelo peticionário. O Comitê só examinará uma comunicação de um peticionário após ter-se assegurado que este esgotou todos os recursos internos disponíveis. Entretanto, esta regra não se aplicará se os processos de recurso excederem prazos razoáveis. b) O Comitê remeterá suas sugestões e recomendações eventuais, ao Estado Parte interessado e ao peticionário. 8. O Comitê incluirá em seu relatório anual um resumo destas comunicações, se for necessário, um resumo das explicações e declarações dos Estados Partes interessados assim como suas próprias sugestões e recomendações. 9. O Comitê somente terá competência para exercer as funções previstas neste artigo se pelo menos dez Estados Partes nesta Convenção estiverem obrigados por declaração feitas de conformidade com o parágrafo deste artigo. 9. CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER No art. 1º da Convenção encontra-se o conceito de “discriminação contra a mulher”. Artigo 1º - Para fins da presente Convenção, a expressão "discriminação contra a mulher" significará toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 70 Disponibilizado exclusivamente para 0 . O Comitê entendeu, na Recomendação Geral nº 19/92, que a violência contra as mulheres (violência dirigida contra uma mulher devido ao fato de ser mulher), encontra-se na definição de discriminação contra as mulheres, embora a Convenção não refira expressamente esta questão. O art. 2º prevêuma série de obrigações assumidas pelos Estados Partes, com o fim de eliminar as descriminações, em virtude da ratificação ou da adesão à Convenção. A Convenção determina que os Estados Partes assegurem o pleno desenvolvimento e progresso das mulheres (art. 3º), bem como os obriga a modificar os esquemas e modelos de comportamento sociocultural dos homens e das mulheres, baseados na ideia de superioridade ou inferioridade de um dos sexos ou em estereótipos de gênero (art. 5º), assim como a assegurar uma educação familiar que entenda a maternidade como função social e reconheça a responsabilidade comum no cuidado dos filhos. Nos termos do artigo 6.º, deverão ser suprimidos o tráfico de mulheres e a exploração da prostituição de mulheres. No art. 4º a Convenção prevê a possibilidade de adoção de políticas públicas baseadas na discriminação positiva, a fim de que seus fins sejam alcançados. Artigo 2º - Os Estados-partes condenam a discriminação contra a mulher em todas as suas formas, concordam em seguir, por todos os meios apropriados e sem dilações, uma política destinada a eliminar a discriminação contra a mulher, e com tal objetivo se comprometem a: a) consagrar, se ainda não o tiverem feito, em suas Constituições nacionais ou em outra legislação apropriada, o princípio da igualdade do homem e da mulher e assegurar por lei outros meios apropriados à realização prática desse princípio; b) adotar medidas adequadas, legislativas e de outro caráter, com as sanções cabíveis e que proíbam toda discriminação contra a mulher; c) estabelecer a proteção jurídica dos direitos da mulher em uma base de igualdade com os do homem e garantir, por meio dos tribunais nacionais competentes e de outras instituições públicas, a proteção efetiva da mulher contra todo ato de discriminação; d) abster-se de incorrer em todo ato ou prática de discriminação contra a mulher e zelar para que as autoridades e instituições públicas atuem em conformidade com esta obrigação; e) tomar as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher praticada por qualquer pessoa, organização ou empresa; f) adotar todas as medidas adequadas, inclusive de caráter legislativo, para modificar ou derrogar leis, regulamentos, usos e práticas que constituam discriminação contra a mulher; g) derrogar todas as disposições penais nacionais que constituam discriminação contra a mulher. Artigo 4º - 1. A adoção pelos Estados-partes de medidas especiais de caráter temporário, destinadas a acelerar a igualdade de fato entre o homem e a mulher não se considerará discriminação na forma definida nesta Convenção, mas de nenhuma maneira implicará, como consequência, a manutenção de normas desiguais ou separadas; essas medidas cessarão quando os objetivos de igualdade de oportunidade e tratamento houverem sido alcançados. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 71 Disponibilizado exclusivamente para 0 . O Brasil ratificou a Convenção da Mulher em 1984, formulou reserva aos artigos 15, parágrafo 4º, e artigo 16, parágrafo 1º, alíneas (a), (c), (g) e (h), e artigo 29. As reservas aos artigos 15 e 16, retiradas em 1994, foram feitas devido à incompatibilidade entre a legislação brasileira, então pautada pela assimetria entre os direitos do homem e da mulher. A reserva ao artigo 29, que não se refere a direitos substantivos, é relativa a disputas entre Estados partes quanto à interpretação da Convenção e continua vigorando. 9.1. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER Entrou em vigor no ano de 2000. O Brasil ratificou em 2002, sem qualquer reserva. Conferiu ao Comitê duas competências adicionais: exame de comunicações apresentadas por pessoas ou grupo de pessoas que aleguem serem vítimas de violação dos direitos enunciados na Convenção; e instauração de inquéritos confidenciais em caso de suspeitas de violações graves ou sistemáticas da Convenção. 9.2. COMITÊ SOBRE A ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER É um corpo de 23 especialistas, independentes, de grande prestígio moral e competência na área abarcada pela Convenção, eleitos pelos Estados Partes para exercerem o mandato por um período de 04 anos. Desempenham sua função a título pessoal e não como delegados ou representantes de seu país de origem. Possui como função: a) Examinar os relatórios periódicos apresentados pelos Estados Partes (art. 18 da Convenção) De acordo com o artigo 18 da Convenção, os Estados Partes devem apresentar relatórios periódicos sobre as medidas legislativas, judiciárias, administrativas ou outras que adotarem para tornarem efetivas as disposições desta Convenção e dos progressos alcançados a respeito. O primeiro relatório deve ser apresentado um ano após a ratificação da Convenção, os demais a cada 2. A adoção pelos Estados-partes de medidas especiais, inclusive as contidas na presente Convenção, destinadas a proteger a maternidade, não se considerará discriminatória. Artigo 18 - Os Estados-partes comprometem-se a submeter ao Secretário Geral das Nações Unidas, para exame do Comitê, um relatório sobre as medidas legislativas, judiciárias, administrativas ou outras que adotarem para tornarem efetivas as disposições desta Convenção e dos progressos alcançados a respeito: a) no prazo de um ano, a partir da entrada em vigor da Convenção para o Estado interessado; e b) posteriormente, pelo menos a cada quatro anos e toda vez que o Comitê vier a solicitar. 2. Os relatórios poderão indicar fatores e dificuldades que influam no grau de cumprimento das obrigações estabelecidas por esta Convenção. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 72 Disponibilizado exclusivamente para 0 . quatro anos e toda vez que o Comitê vier a solicitar. O Comitê adotou algumas recomendações (“guidelines”) para os Estados elaborarem seus relatórios. Após receber o relatório do Estado Parte, um grupo de trabalho do Comitê, composto por cinco Partes reúne-se, antes da sessão, para preparar uma lista de questões e perguntas, as quais serão enviadas aos Estados antes da apresentação do relatório. Durante o período de sessão, oito dos Estados Partes apresentam oralmente seus relatórios. Após a apresentação, o Comitê faz observações e comentários gerais, faz perguntas sobre artigos específicos da Convenção, que são posteriormente respondidas pelo Estado. Por fim, o Comitê elabora comentários finais sobre os relatórios apresentados, que serão incluídos em seu relatório final à Assembleia Geral. b) Formular sugestões e recomendações gerais (art. 21 da Convenção); É facultado ao Comitê elaborar sugestões e recomendações gerais, baseadas no exame dos relatórios e de informações recebidas dos Estados Partes. Em geral, as sugestões são direcionadas a entidades das Nações Unidas, enquanto as recomendações gerais aos Estados Partes. As recomendações gerais adotadas tratam de temas abordados pela Convenção e oferecem orientações aos Estados Partes sobre suas obrigações, bem como os passos necessários a seu cumprimento. Atualmente, a elaboração do conteúdo das recomendações gerais conta com a participação não apenas de membros do Comitê, mas de organizações da sociedade civil e de agências e órgãos das Nações Unidas, entre outros. c) Instaurar inquéritos confidenciais (artigos 8º e 9º do Protocolo Facultativo); Artigo 21 - O Comitê, através do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, informará anualmente a Assembleia Geral das Nações Unidas de suas atividades e poderá apresentar sugestões e recomendações de caráter geral, baseadas no exame dos relatórios e em informações recebidas dos Estados-partes. Essas sugestões e recomendações de caráter geral serão incluídas no relatório do Comitê juntamente com as observações que os Estados-partes tenham porventura formulado. 2. O SecretárioGeral das Nações Unidas transmitirá, para informação, os relatórios do Comitê à Comissão sobre a Condição da Mulher. Artigo 8º 1. Caso o Comitê receba informação fidedigna indicando graves ou sistemáticas violações por um Estado Parte dos direitos estabelecidos na Convenção, o Comitê convidará o Estado Parte a cooperar no exame da informação e, para esse fim, a apresentar observações quanto à informação em questão. 2. Levando em conta quaisquer observações que possam ter sido apresentadas pelo Estado Parte em questão, bem como outras informações fidedignas das quais disponha, o Comitê poderá designar um ou mais de seus membros para conduzir uma investigação e apresentar relatório urgentemente ao Comitê. Sempre que justificado, e com o consentimento do Estado Parte, a investigação poderá incluir visita ao território deste último. 3. Após examinar os resultados da investigação, o Comitê os transmitirá ao Estado Parte em questão juntamente com quaisquer comentários e recomendações. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 73 Disponibilizado exclusivamente para . O Comitê, ao receber informação viável indicando violações graves ou sistemáticas de direitos estabelecidos na Convenção pelos Estados Partes, convidará o Estado a apreciar a informação, em conjunto com ele e a apresentar suas observações sobre essa questão. Além disso, poderá encarregar alguns membros a efetuar um inquérito e a comunicar com urgência os resultados. Caso seja justificável e haja aquiescência do Estado Parte, este inquérito poderá incluir visitas ao território deste Estado. Após analisar as conclusões do inquérito, o Comitê as comunica ao Estado em questão, que disporá de um prazo de seis meses para apresentar suas observações. O procedimento de inquérito tem caráter confidencial e a cooperação do Estado Parte poderá ser solicitada em qualquer fase do processo. d) Examinar comunicações apresentadas por indivíduos ou grupo de indivíduos vítimas de violação dos direitos dispostos na Convenção (art. de 2º a 7º do Protocolo Facultativo) A partir da adoção do Protocolo Adicional à Convenção, foi facultado ao Comitê examinar comunicações apresentadas por indivíduos ou grupos de indivíduos, sob a jurisdição do Estado Parte, que afirmem ser vítimas de violação de qualquer um dos direitos abordados pela Convenção. Para tanto, o Comitê verifica apenas as comunicações as quais seja verificado o esgotamento dos recursos internos, ou seja, que todos os meios processuais na ordem interna tenham sido esgotados, a não ser que o meio processual previsto tenha ultrapassado os prazos razoáveis ou que seja improvável que conduza a uma reparação efetiva do requerente. Caso a comunicação seja admitida, o Comitê comunicará o Estado, que terá seis meses para apresentar suas observações. O Comitê escutará os requerentes em sessões fechadas e transmitirá suas considerações e recomendações às partes interessadas. O Estado terá mais seis meses para apresentar documento escrito dispondo sobre as medidas adotadas. 10. CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES Trata de um tema específico e não de um grupo social de pessoas vulneráveis. 4. O Estado Parte em questão deverá, dentro de seis meses do recebimento dos resultados, comentários e recomendações do Comitê, apresentar suas observações ao Comitê. 5. Tal investigação será conduzida em caráter confidencial e a cooperação do Estado Parte será buscada em todos os estágios dos procedimentos. Artigo 9º 1. O Comitê poderá convidar o Estado Parte em questão a incluir em seu relatório, segundo o Artigo 18 da Convenção, pormenores de qualquer medida tomada em resposta à investigação conduzida segundo o Artigo 18 deste Protocolo. 2. O Comitê poderá, caso necessário, após o término do período de seis meses mencionado no Artigo 8.4 deste Protocolo, convidar o Estado Parte a informá-lo das medidas tomadas em resposta à mencionada investigação. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 74 Disponibilizado exclusivamente para 0 . A Convenção foi adotada pela Assembleia Geral da ONU em 1984, entrou em vigor em 1987, sendo ratificada pelo Brasil em 1989. Está dividia em três partes: a primeira diz respeito aos sujeitos ativos e passivos da tortura, sua definição e as medidas a serem tomadas pelos Estados que a ela aderirem; a segunda trata do Comitê e sua atuação: membros, duração do mandato, relatórios, posicionamentos sobre casos apresentados; a terceira cuida da adesão dos Estados-partes à Convenção, bem como emendas que possam vir a sugerir. No art. 1º encontra-se a definição de tortura: A Convenção determina aos Estados-Partes que editem legislação tipificando criminalmente a tortura, o que foi atendido pelo Brasil ante a edição da Lei Federal 9.455/97. Comparando-se as definições contidas na lei e na Convenção, percebe-se grande semelhança, ainda que a lei brasileira amplie o sujeito ativo do delito para qualquer pessoa, enquanto a Convenção tem como agente apenas o funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas ou por sua instigação. Outra diferença diz respeito à motivação baseada em preconceito: a lei prevê apenas discriminação racial ou religiosa, enquanto a Convenção fala em discriminação de qualquer natureza, certamente mais condizente com o objetivo de proteger a integridade física e psíquica do ser humanos, sem as quais não sobrevive sua dignidade. Assim, tendo em vista a regra interpretativa própria dos direitos humanos, no sentido de buscar sempre a aplicação do instrumento jurídico que garanta maior proteção à pessoa, é possível entender como tortura o sofrimento agudo baseado em preconceito de qualquer natureza. O art. 2º determina que em nenhum caso, nem mesmo em situações excepcionais, será permitida a derrogação a regra de proibição da tortura. ARTIGO 1º 1. Para os fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimento são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos consequência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram. 2. O presente Artigo não será interpretado de maneira a restringir qualquer instrumento internacional ou legislação nacional que contenha ou possa conter dispositivos de alcance mais amplo. ARTIGO 2° 1. Cada Estado Parte tomará medidas eficazes de caráter legislativo, administrativo, judicial ou de outra natureza, a fim de impedir a prática de atos de tortura em qualquer território sob sua jurisdição. 2. Em nenhum caso poderão invocar-se circunstâncias excepcionais tais como ameaça ou estado de guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência como justificação para tortura. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 75 Disponibilizado exclusivamente para . Estabelece a Convenção importantes deveres, a que os Estados (que ratificaram) encontram-se obrigados, com vista à eliminação da prática da tortura no âmbito das respectivas áreas de jurisdição: a) Adopção de medidas legislativas, administrativas, judiciais ou outras que se revelem adequadas a cumprir este objetivo (art. 2º, nº 1); b) Proibição de expulsão, de entrega ou de extradição para Estado onde existem motivos sérios para crer que a pessoa possa ser sujeita à prática de tortura (art. 3º nº 1); c)Tortura deverá ser considera crime, no âmbito das respectivas legislações internas (art. 4º nº 1); d) Competência internacional de cada Estado, sempre que houver a prática de atos qualificados como tortura (art. 5º); 3. A ordem de um funcionário superior ou de uma autoridade pública não poderá ser invocada como justificação para a tortura. ARTIGO 2° 1. Cada Estado Parte tomará medidas eficazes de caráter legislativo, administrativo, judicial ou de outra natureza, a fim de impedir a prática de atos de tortura em qualquer território sob sua jurisdição. ARTIGO 3º 1. Nenhum Estado parte procederá à expulsão, devolução ou extradição de uma pessoa para outro Estado quando houver razões substanciais para crer que a mesma corre perigo de ali ser submetida a tortura. 2. A fim de determinar a existência de tais razões, as autoridades competentes levarão em conta todas as considerações pertinentes, inclusive, quando for o caso, a existência, no Estado em questão, de um quadro de violência sistemáticas, graves e maciças de direitos humanos. ARTIGO 4° 1. Cada Estado Parte assegurará que todos os atos de tortura sejam considerados crimes segundo a sua legislação penal. O mesmo aplicar-se-á à tentativa de tortura e a todo ato de qualquer pessoa que constitua cumplicidade ou participação na tortura. 2. Cada Estado Parte punirá estes crimes com penas adequadas que levem conta a sua gravidade. ARTIGO 5º 1. Cada Estado Parte tomará as medidas necessárias para estabelecer sua jurisdição sobre os crimes previstos no Artigo 4° nos seguintes casos: a) quando os crimes tenham sido cometidos em qualquer território sob sua jurisdição ou a bordo de navio ou aeronave registrada no Estado em questão; b) quando o suposto autor for nacional do Estado em questão; c) quando a vítima for nacional do Estado em questão e este considerar apropriado. 2. Cada Estado Parte tomará também as medidas necessárias para estabelecer sua jurisdição sobre tais crimes nos casos em que o suposto autor se encontre em qualquer território sob sua jurisdição e o Estado não CS – DIREITOS HUMANOS 2022 76 Disponibilizado exclusivamente para . e) Os Estados deverão incluir normas aplicáveis a crimes de tortura em qualquer tratado de extradição, para que esta seja concedida (art. 8º); f) Colaboração judiciária internacional no âmbito da instrução de processos criminais, decorrentes da prática de atos de tortura (art. 9º); g) Adequada formação e informação de quaisquer agentes sobre a proibição de atos de tortura (art. 10º); extradite de acordo com o Artigo 8° para qualquer dos Estados mencionados no parágrafo 1 do presente Artigo. 3. Esta Convenção não exclui qualquer jurisdição criminal exercida de acordo com o direito interno. ARTIGO 8º 1. Os crimes a que se refere o artigo 4º serão considerados como extraditáveis em qualquer tratado de extradição existente entre os Estados Partes. Os Estados Partes obrigar-se-ão a incluir tais crimes como extraditáveis em todo tratado de extradição que vierem a concluir entre si. 2. Se um Estado Parte que condiciona a extradição à existência de tratado receber um pedido de extradição por parte de outro Estado Parte com o qual mantém tratado de extradição, poderá considerar a presente Convenção com base legal para a extradição com respeito a tais crimes. A extradição sujeitar- se-á às outras condições estabelecidas pela lei do Estado que receber a solicitação. 3. Os Estados partes que não condicionam a extradição à existência de um tratado reconhecerão, entre si, tais crimes como extraditáveis, dentro das condições estabelecidas pela lei do Estado que receber a solicitação. 4. O crime será considerado, para o fim de extradição entre os Estados partes, como se tivesse ocorrido não apenas no lugar em que ocorreu, mas também nos territórios dos Estados chamados a estabelecerem sua jurisdição, de acordo com o parágrafo 1 do Artigo 5°. ARTIGO 9° 1. Os Estados Partes prestarão entre si a maior assistência possível em relação aos procedimentos criminais instaurados relativamente a qualquer dos delitos mencionados no Artigo 4°, inclusive no que diz respeito ao fornecimento de todos os elementos de prova necessários para o processo que estejam em seu poder. 2. Os Estados Partes cumprirão as obrigações decorrentes do parágrafo 1 do presente Artigo conforme quaisquer tratados de assistência judiciária recíproca existente entre si. ARTIGO 10 1. Cada Estado assegurará que o ensino e a informação sobre a proibição de tortura sejam plenamente incorporados no treinamento do pessoal civil ou militar encarregado da aplicação da lei, do pessoal médico, dos funcionários públicos e de quaisquer outras pessoas que possam participar da custódia, interrogatório ou tratamento de qualquer pessoa submetida a qualquer forma de prisão, detenção ou reclusão. 2. Cada Estados Parte incluirá a referida proibição nas normas ou instruções relativas aos deveres e funções de tais pessoas. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 77 Disponibilizado exclusivamente para . h) Instauração de um inquérito sempre que existam motivos para crer que um ato de tortura foi praticado (art. 12º); i) Garantia do direito de apresentar queixa por parte de qualquer pessoa que alegue haver sido submetida à tortura e exame rigoroso do seu caso (art. 13º); j) Direito da vítima de tortura a obter indemnização (art. 14º); l) Proibição da utilização de declarações obtidas mediante tortura, como elemento de prova num processo (art. 15º). 10.1. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES Foi adotado pela Assembleia Geral da ONU em 2002, entrou em vigor em 2006. O Brasil ratificou, sem reservas, em 2007. Seu objetivo é estabelecer um sistema regular de visitas, realizadas por órgãos nacionais e internacionais aos locais de custódia de pessoas, a fim de prevenir a ocorrência de tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Artigo 1 ARTIGO 12 Cada Estado Parte assegurará que suas autoridades competentes procederão imediatamente a uma investigação imparcial sempre que houver motivos razoáveis para crer que um ato de tortura tenha sido cometido em qualquer território sob sua jurisdição. ARTIGO 13 Cada Estado assegurará a qualquer pessoa que alegue ter sido submetido à tortura em qualquer território sob sua jurisdição o direito de apresentar queixa perante as autoridades competentes do referido Estado, que procederão imediatamente e com imparcialidade ao exame de seu caso. Serão tomadas medidas para assegurar a proteção do queixoso e das testemunhas contra qualquer mau tratamento ou intimidação em consequência da queixa apresentada ou depoimento prestado. ARTIGO 14 1. Cada Estado Parte assegurará, em seu sistema jurídico, à vítima de um ato de tortura, o direito à reparação e a uma indenização justa e adequada, incluídos os meios necessários para a mais completa reabilitação possível. Em caso de morte da vítima como resultado de um ato de tortura, seus dependentes terão direito a indenização. 2. O disposto no presente Artigo não afetará direito a indenização que a vítima ou outra pessoa tem em decorrência das leis nacionais. ARTIGO 15 Cada Estado Parte assegurará que nenhuma declaração que se demonstre ter sido prestada como resultado de tortura possa ser invocada como prova em processo, salvo contra uma pessoa acusada de tortura como prova de que a declaração foi prestada. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 78 Disponibilizado exclusivamente par . 10.2. COMITÊ É um corpo de dez especialistas independentes, de elevada reputação moral e reconhecida competência em matéria de direitos humanos. Possui como função: a) Exame dos relatórios apresentados pelos Estadospartes (art. 19); O objetivo do presente Protocolo é estabelecer um sistema de visitas regulares efetuadas por órgãos nacionais e internacionais independentes a lugares onde pessoas são privadas de sua liberdade, com a intenção de prevenir a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. Artigo 3 Cada Estado-Parte deverá designar ou manter em nível doméstico um ou mais órgãos de visita encarregados da prevenção da tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes (doravante denominados mecanismos preventivos nacionais). Artigo 4 1. Cada Estado-Parte deverá permitir visitas, de acordo com o presente Protocolo, dos mecanismos referidos nos Artigos 2 e 3 a qualquer lugar sob sua jurisdição e controle onde pessoas são ou podem ser privadas de sua liberdade, quer por força de ordem dada por autoridade pública quer sob seu incitamento ou com sua permissão ou concordância (doravante denominados centros de detenção). Essas visitas devem ser empreendidas com vistas ao fortalecimento, se necessário, da proteção dessas pessoas contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. 2. Para os fins do presente Protocolo, privação da liberdade significa qualquer forma de detenção ou aprisionamento ou colocação de uma pessoa em estabelecimento público ou privado de vigilância, de onde, por força de ordem judicial, administrativa ou de outra autoridade, ela não tem permissão para ausentar-se por sua própria vontade. ARTIGO 19 1. Os Estados Partes submeterão ao Comitê, por intermédio do Secretário- Geral das Nações Unidas, relatórios sobre as medidas por eles adotadas no cumprimento das obrigações assumidas em virtude da presente Convenção, dentro do prazo de um ano, a contar do início da vigência da presente Convenção no Estado Parte interessado, a partir de então, os Estados Partes deverão apresentar relatórios suplementares a cada quatro anos sobre todas as novas disposições que houverem adotado, bem como outros relatórios que o Comitê vier a solicitar. 2. O Secretário-Geral das Nações Unidas transmitirá os relatórios a todos os Estados Partes. 3. Cada relatório será examinado pelo Comitê, que poderá fazer os comentários gerais que julgar oportunos e os transmitirá ao Estado Parte interessado. Este poderá, em resposta ao Comitê, comunicar-lhe todas as observações que deseje formular. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 79 Disponibilizado exclusivamente para . b) Instauração de inquéritos confidenciais (art. 20); c) Apreciação de comunicações apresentadas contra Estados partes, por outros Estados partes (art. 21) 4. O Comitê poderá, a seu critério, tomar a decisão de incluir qualquer comentário que houver feito de acordo com o que estipular o parágrafo 3 do presente Artigo, junto com as observações conexas recebidas do Estado Parte interessado, em seu relatório anual que apresentará em conformidade com o Artigo 24. Se assim o solicitar o Estado Parte interessado, o Comitê poderá também incluir cópia do relatório apresentado em virtude do parágrafo 1 do presente Artigo. ARTIGO 20 1. O Comitê, no caso de vir a receber informações fidedignas que lhe pareçam indicar, de forma fundamentada, que a tortura é praticada sistematicamente no território de um Estado Parte, convidará o Estado Parte em Questão a cooperar no exame das informações e, nesse sentido, a transmitir as observações que julgar pertinentes. 2. Levando em consideração todas as observações que houver apresentado o Estado parte interessado, bem como quaisquer outras informações pertinentes de que dispuser, o Comitê poderá, se lhe parecer justificável, designar um ou vários de seus membros para que procedam a uma investigação confidencial e informem urgentemente o Comitê. 3. No caso de realizar-se uma investigação nos termos do parágrafo 2 do presente Artigo, o Comitê procurará obter a colaboração do Estado Parte interessado. Com a concordância do Estado parte em questão, a investigação poderá incluir uma visita a seu território. 4. Depois de haver examinado as conclusões apresentadas por um ou vários de seus membros, nos termos do parágrafo 2 do presente Artigo, o Comitê as transmitirá ao Estado Parte interessado, junto com as observações ou sugestões que considerar pertinentes em vista da situação. 5. Todos os trabalhos do Comitê a que se faz referência nos parágrafos 1 ao 4 do presente Artigo serão confidenciais e, em todas as etapas dos referidos trabalhos, procurar-se-á obter a cooperação do Estado Parte. Quando estiverem concluídos os trabalhos relacionados com uma investigação realizada de acordo com o parágrafo 2, o Comitê poderá, após celebrar consultas com o Estado Parte interessado, tomar a decisão de incluir um resumo dos resultados da investigação em seu relatório anual, que apresentará em conformidade com o Artigo 24. ARTIGO 21 1. Com base no presente Artigo, todo Estado Parte da presente Convenção poderá declarar, a qualquer momento, que reconhece a competência do Comitê para receber e examinar as comunicações em que um Estado Parte alegue que outro Estado Parte não vem cumprindo as obrigações que lhe impõe a Convenção. As referidas comunicações só serão recebidas e examinadas nos termos do presente Artigo no caso de serem apresentadas por um Estado Parte que houver feito uma declaração em que reconheça, com relação a si próprio, a competência do Comitê. O Comitê não receberá comunicação alguma relativa a um Estado Parte que não houver feito uma declaração dessa natureza. As comunicações recebidas em virtude do presente Artigo estarão sujeitas ao procedimento que se segue: CS – DIREITOS HUMANOS 2022 80 Disponibilizado exclusivamente para . a) se um Estado Parte considerar que outro Estado Parte não vem cumprindo as disposições da presente Convenção poderá, mediante comunicação escrita, levar a questão ao conhecimento deste Estado Parte. Dentro de um prazo de três meses, a contar da data do recebimento da comunicação, o Estado destinatário fornecerá ao Estado que enviou a comunicação explicações ou quaisquer outras declarações por escrito que esclareçam a questão, as quais deverão fazer referência, até onde seja possível e pertinente, aos procedimentos, nacionais e aos recursos jurídicos adotados, em trâmite ou disponíveis sobre a questão; b) se, dentro de um prazo de seis meses, a contar da data do recebimento da comunicação original pelo Estado destinatário, a questão não estiver dirimida satisfatoriamente para ambos os Estados Partes interessados, tanto um como o outro terão o direito de submetê-lo ao comitê, mediante notificação endereçada ao Comitê ou outro Estado interessado; c) o comitê tratará de todas as questões que se lhe submetam em virtude do presente Artigo somente após ter-se assegurado de que todos os recursos jurídicos internos disponíveis tenham sido utilizados e esgotados, em consonância com os princípios do Direito internacional geralmente reconhecido. Não se aplicará esta regra quando a aplicação dos mencionados recursos se prolongar injustificadamente ou quando não for provável que a aplicação de tais recursos venham a melhorar realmente a situação da pessoa que seja vítima de violação da presente convenção; d) o comitê realizará reuniões confidenciais quando estiver examinando as comunicações previstas no presente Artigo; e) sem prejuízo das disposições da alínea (c), o Comitê colocará seus bons ofícios à disposição dos Estados Partes interessados no intuito de se alcançar uma solução amistosa para a questão, baseada no respeito às obrigações estabelecidas na presente Convenção. Com vistas a atingir esse objetivo, o comitê poderá constituir, se julgar conveniente, uma comissão de conciliação ad hoc; f) em todas as questões que se lhe submetem em virtude do presente Artigo,o Comitê poderá solicitar aos Estados Partes interessados, a que se referência na alínea (b), que lhe forneçam quaisquer informação pertinentes; g) os estados Partes interessados, a que se faz referência na alínea (b), terão o direito de fazer-se representar quando as questões forem examinadas no Comitê e de apresentar suas observações verbalmente e/ou por escrito; h) o Comitê, dentro dos doze meses seguintes à data de recebimento da notificação mencionada na (b), apresentará relatório em que: i) se houver sido alcançada uma solução nos termos da alínea (e), o comitê restringir-se-á, em seu relatório, a uma breve exposição dos fatos e da solução alcançada; ii) se não houver sido alcançada solução alguma nos termos alínea (e), o comitê restringir-se-á, em seu relatório, a uma breve exposição dos fatos; serão anexados ao relatório o texto das observações escritas e as atas das observações orais apresentadas pelos Estados Partes interessados. Para cada questão, o relatório será encaminhado aos Estados partes interessados. 2. As disposições do presente Artigo entrarão em vigor a partir do momento em que cinco Estados Partes da presente convenção houverem feito as declarações mencionadas no parágrafo 1 deste Artigo. As referidas declarações serão depositadas pelos Estados partes junto ao Secretário Geral das Nações Unidas, que enviará cópia das mesmas aos demais CS – DIREITOS HUMANOS 2022 81 Disponibilizado exclusivamente para . d) Apreciação de comunicações apresentadas contra Estados partes, por particulares (art. 22). ARTIGO 22 1. Todo Estado Parte da presente Convenção poderá, em virtude do presente Artigo, declarar, a qualquer momento, que reconhece a competência do Comitê para receber e examinar as comunicações enviadas por pessoas sob sua jurisdição, ou em nome delas, que aleguem ser vítimas de violação, por um Estado Parte, das disposições da Convenção. O Comitê não receberá comunicação alguma relativa a um Estado parte que não houver feito declaração dessa natureza. 2. O Comitê considerará inadmissível qualquer comunicação recebida em conformidade com o presente Artigo que seja anônima, ou seu juízo, constitua abuso de direito de apresentar as referidas comunicações, ou que seja incompatível com as disposições da presente Convenção. 3. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 2, o Comitê levará todas as comunicações apresentadas em conformidade com este Artigo ao conhecimento do Estado Parte da presente Convenção que houver feito uma declaração nos termos do parágrafo 1 e sobre o qual ter violado qualquer disposição da Convenção. Dentro dos seis meses seguintes, o Estado destinatário submeterá ao Comitê as explicações ou declarações por escrito que elucidem a questão e, se for o caso, indiquem o recurso jurídico adotado pelo Estado em questão. 4. O Comitê examinará as comunicações recebidas em conformidade com o presente Artigo à luz de todas as informações a ele submetidas pela pessoa interessada, ou em nome dela, e pelo Estado parte interessado. 5. O Comitê não examinará comunicação alguma de uma pessoa, nos termos do presente Artigo, sem que se haja assegurado de que: a) a mesma questão não foi, nem está sendo examinada perante outra instância internacional de investigação ou solução; b) a pessoa em questão esgotou todos os recursos jurídicos internos disponíveis; não se aplicará esta regra quando a aplicação dos mencionados recursos se prolongar injustificadamente ou quando não for provável que a aplicação de tais recursos venha a melhorar realmente a situação da pessoa que seja vítima de violação da presente Convenção. 6. O Comitê realizará reuniões confidenciais quando estiver examinando as comunicações previstas no presente Artigo. 7. O Comitê comunicará seu parecer ao Estado Parte e à pessoa em questão. 8. As disposições do presente Artigo entrarão em vigor a partir do momento em que cinco Estado Partes da presente Convenção houverem feito as declarações mencionadas no parágrafo 1 deste Artigo. As referidas declarações serão depositadas pelos Estados Partes junto ao Secretário- Estados Partes. Toda declaração poderá ser retirada, a qualquer momento, mediante notificação endereçada ao Secretário-Geral. Far-se-á essa retirada sem prejuízo do exame de quaisquer questões que constituam objeto de uma comunicação já transmitida nos termos deste Artigo; em virtude do presente Artigo, não se receberá qualquer nova comunicação de um Estado Parte uma vez que o Secretário-Geral haja recebido a notificação sobre a retirada da declaração, a menos que o Estado parte interessado haja feito uma nova declaração CS – DIREITOS HUMANOS 2022 82 Disponibilizado exclusivamente para . 10.3. SUBCOMITÊ PARA PREVENÇÃO DA TORTURA Foi criado pelo artigo 2.º do Protocolo Facultativo, iniciou suas funções em 2007. É composto por dez especialistas independentes, eleitos pelos Estados Partes para mandatos de quatro anos, podendo ser reeleitos. O Subcomité visita, não apenas prisões e delegacias de polícia, mas qualquer local de onde a pessoa não possa sair por sua livre vontade (como instituições de saúde mental e centros de acolhimento para jovens, imigrantes ilegais e requerentes de asilo). Durante as visitas, os membros do Subcomité examinam as condições de vida nos locais de detenção e reúnem-se em privado com qualquer preso, funcionário ou outra pessoa que possa fornecer informação relevante. 11. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA A Convenção foi adotada em 1989, pela Assembleia Geral da ONU. Em 1990, o Brasil ratificou-a, sem qualquer reserva. É composta por um preâmbulo e 54 artigos. O Preâmbulo lembra os princípios fundamentais das Nações Unidas e as disposições de vários tratados de direitos humanos. Reafirma o fato de as crianças, devido à sua vulnerabilidade, necessitarem de proteção e de atenção especiais. Destaca, ainda, a necessidade de proteção jurídica e não jurídica da criança antes e após o nascimento; a importância do respeito pelos valores Geral das Nações Unidas, que enviará cópia das mesmas aos demais Estados Partes. Toda declaração poderá ser retirada, a qualquer momento, mediante notificação endereçada ao Secretário-Geral. Far-se-á essa retirada sem prejuízo do exame de quaisquer questões que constituam objeto de uma comunicação já transmitida nos termos deste Artigo; em virtude do presente Artigo, não se receberá nova comunicação de uma pessoa, ou em nome dela, uma vez que o Secretário-Geral haja recebido a notificação sobre retirada da declaração, a menos que o Estado parte interessado haja feito uma nova declaração. Artigo 2.º 1. Deverá ser criado um Subcomitê para a Prevenção da Tortura e de Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes do Comitê contra a Tortura (doravante denominado o Subcomitê para a Prevenção), que deverá desempenhar as funções previstas no presente Protocolo. 2 - O Subcomitê para a Prevenção deverá realizar o seu trabalho no quadro da Carta das Nações Unidas e orientar-se pelos objetivos e princípios da mesma, bem como pelas normas das Nações Unidas relativas ao tratamento de pessoas privadas de liberdade. 3 - O Subcomitê para a Prevenção deverá também orientar-se pelos princípios da confidencialidade, imparcialidade, não seletividade, universalidade e objetividade. 4 - O Subcomitê para a Prevenção e os Estados Partes deverão cooperar na aplicação do presente Protocolo. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 83 Disponibilizado exclusivamente para . culturais da comunidade da criança, e o papel vital da cooperação internacional para que os direitos da criança sejam uma realidade. A criança é definida como todo o ser humano com menos de dezoito anos, exceto se a lei nacional confere a maioridade mais cedo. Todas as decisões que digamrespeito à criança devem ter plenamente em conta o seu interesse superior. O Estado deve garantir à criança cuidados adequados quando os pais, ou outras pessoas responsáveis por ela não tenham capacidade para isso. Todas as crianças têm o direito inerente à vida, e o Estado tem obrigação de assegurar a sobrevivência e desenvolvimento da criança. Artigo 1 Para efeitos da presente Convenção considera-se como criança todo ser humano com menos de dezoito anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes. Todos os direitos aplicam-se a todas as crianças, sem exceção. O Estado tem obrigação de proteger a criança contra todas as formas de discriminação e de tomar medidas positivas para promover os seus direitos. Artigo 2 1. Os Estados Partes respeitarão os direitos enunciados na presente Convenção e assegurarão sua aplicação a cada criança sujeita à sua jurisdição, sem distinção alguma, independentemente de raça, cor, sexo, idioma, crença, opinião política ou de outra índole, origem nacional, étnica ou social, posição econômica, deficiências físicas, nascimento ou qualquer outra condição da criança, de seus pais ou de seus representantes legais. 2. Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas para assegurar a proteção da criança contra toda forma de discriminação ou castigo por causa da condição, das atividades, das opiniões manifestadas ou das crenças de seus pais, representantes legais ou familiares. Artigo 3 1. Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de bem-estar social, tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar, primordialmente, o interesse maior da criança. 2. Os Estados Partes se comprometem a assegurar à criança a proteção e o cuidado que sejam necessários para seu bem-estar, levando em consideração os direitos e deveres de seus pais, tutores ou outras pessoas responsáveis por ela perante a lei e, com essa finalidade, tomarão todas as medidas legislativas e administrativas adequadas. 3. Os Estados Partes se certificarão de que as instituições, os serviços e os estabelecimentos encarregados do cuidado ou da proteção das crianças cumpram com os padrões estabelecidos pelas autoridades competentes, especialmente no que diz respeito à segurança e à saúde das crianças, ao número e à competência de seu pessoal e à existência de supervisão adequada. Artigo 6 1. Os Estados Partes reconhecem que toda criança tem o direito inerente à vida. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 84 Disponibilizado exclusivamente para . A criança tem direito a um nome desde o nascimento, também tem o direito de adquirir uma nacionalidade e, na medida do possível, de conhecer os seus pais e de ser criada por eles. A criança tem o direito de exprimir livremente a sua opinião sobre questões que lhe digam respeito e de ver essa opinião tomada em consideração, tanto na esfera administrativa quanto judicial. Além disso, a Convenção consagra a liberdade de pensamento, consciência e religião; liberdade de reunião e de associação. 2. Os Estados Partes assegurarão ao máximo a sobrevivência e o desenvolvimento da criança. Artigo 7 1. A criança será registrada imediatamente após seu nascimento e terá direito, desde o momento em que nasce, a um nome, a uma nacionalidade e, na medida do possível, a conhecer seus pais e a ser cuidada por eles. 2. Os Estados Partes zelarão pela aplicação desses direitos de acordo com sua legislação nacional e com as obrigações que tenham assumido em virtude dos instrumentos internacionais pertinentes, sobretudo se, de outro modo, a criança se tornaria apátrida. Artigo 12 1. Os Estados Partes assegurarão à criança que estiver capacitada a formular seus próprios juízos o direito de expressar suas opiniões livremente sobre todos os assuntos relacionados com a criança, levando-se devidamente em consideração essas opiniões, em função da idade e maturidade da criança. 2. Com tal propósito, se proporcionará à criança, em particular, a oportunidade de ser ouvida em todo processo judicial ou administrativo que afete a mesma, quer diretamente quer por intermédio de um representante ou órgão apropriado, em conformidade com as regras processuais da legislação nacional. Artigo 14 1. Os Estados Partes respeitarão o direito da criança à liberdade de pensamento, de consciência e de crença. 2. Os Estados Partes respeitarão os direitos e deveres dos pais e, se for o caso, dos representantes legais, de orientar a criança com relação ao exercício de seus direitos de maneira acorde com a evolução de sua capacidade. 3. A liberdade de professar a própria religião ou as próprias crenças estará sujeita, unicamente, às limitações prescritas pela lei e necessárias para proteger a segurança, a ordem, a moral, a saúde pública ou os direitos e liberdades fundamentais dos demais. Artigo 15 1 Os Estados Partes reconhecem os direitos da criança à liberdade de associação e à liberdade de realizar reuniões pacíficas. 2. Não serão impostas restrições ao exercício desses direitos, a não ser as estabelecidas em conformidade com a lei e que sejam necessárias numa sociedade democrática, no interesse da segurança nacional ou pública, da ordem pública, da proteção à saúde e à moral públicas ou da proteção aos direitos e liberdades dos demais. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 85 Disponibilizado exclusivamente para . Por fim, a criança suspeita, acusada ou reconhecida como culpada de ter cometido um delito tem direito a um tratamento que favoreça a sua dignidade e seu valor pessoal, que leve em conta a sua idade e que vise a sua reintegração na sociedade. A criança tem direito a garantias fundamentais, bem como a uma assistência jurídica ou outra forma adequada à sua defesa. Os procedimentos judiciais e a colocação em instituições devem ser evitados sempre que possível. Artigo 40 1. Os Estados Partes reconhecem o direito de toda criança a quem se alegue ter infringido as leis penais ou a quem se acuse ou declare culpada de ter infringido as leis penais de ser tratada de modo a promover e estimular seu sentido de dignidade e de valor e a fortalecer o respeito da criança pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais de terceiros, levando em consideração a idade da criança e a importância de se estimular sua reintegração e seu desempenho construtivo na sociedade. 2. Nesse sentido, e de acordo com as disposições pertinentes dos instrumentos internacionais, os Estados Partes assegurarão, em particular: a) que não se alegue que nenhuma criança tenha infringido as leis penais, nem se acuse ou declare culpada nenhuma criança de ter infringido essas leis, por atos ou omissões que não eram proibidos pela legislação nacional ou pelo direito internacional no momento em que foram cometidos; b) que toda criança de quem se alegue ter infringido as leis penais ou a quem se acuse de ter infringido essas leis goze, pelo menos, das seguintes garantias: I) ser considerada inocente enquanto não for comprovada sua culpabilidade conforme a lei; II) ser informada sem demora e diretamente ou, quando for o caso, por intermédio de seus pais ou de seus representantes legais, das acusações que pesam contra ela, e dispor de assistência jurídica ou outro tipo de assistência apropriada para a preparação e apresentação de sua defesa; III) ter a causa decidida sem demora por autoridade ou órgão judicial competente, independente e imparcial, em audiência justa conforme a lei, com assistência jurídica ou outra assistência e, a não ser que seja considerado contrário aos melhores interesses da criança, levando em consideração especialmente sua idade ou situação e a de seus pais ou representantes legais; IV) não ser obrigada a testemunharou a se declarar culpada, e poder interrogar ou fazer com que sejam interrogadas as testemunhas de acusação bem como poder obter a participação e o interrogatório de testemunhas em sua defesa, em igualdade de condições; V) se for decidido que infringiu as leis penais, ter essa decisão e qualquer medida imposta em decorrência da mesma submetidas a revisão por autoridade ou órgão judicial superior competente, independente e imparcial, de acordo com a lei; VI) contar com a assistência gratuita de um intérprete caso a criança não compreenda ou fale o idioma utilizado; VII) ter plenamente respeitada sua vida privada durante todas as fases do processo. 3. Os Estados Partes buscarão promover o estabelecimento de leis, procedimentos, autoridades e instituições específicas para as crianças de quem se alegue ter infringido as leis penais ou que sejam acusadas ou declaradas culpadas de tê-las infringido, e em particular: CS – DIREITOS HUMANOS 2022 86 Disponibilizado exclusivamente para . 11.1. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS CRIANÇAS, RELATIVO À VENDA DE CRIANÇAS, PROSTITUIÇÃO INFANTIL E PORNOGRAFIA INFANTIL Entrou em vigor em 18.1.2002. Cuida da proibição de venda de crianças, prostituição e pornografia infantil. Os Estados-Partes deverão prestar apoio integral às vítimas, inclusive em caso de processo criminal. Devem tomar medidas para o confisco de bens de pessoas envolvidas nas práticas objeto do Protocolo, bem como do material que dela decorrer, e para o fechamento de locais em que as práticas tenham sido cometidas. Além disso, devem elaborar legislação sobre o tema e implementar políticas públicas para prevenir a ocorrência dos atos previstos no Protocolo. Foi ratificado pelo Brasil em 27.1.2004, sem qualquer reserva ou declaração. Por conta disso, os crimes de pedofilia praticados na internet, quando há divulgação na rede (e não troca de e-mails), são de competência da Justiça Federal. 11.2. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA, RELATIVO À PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS EM CONFLITOS ARMADOS Entrou em vigor em 12.2.2002. Cuida do envolvimento de crianças em conflitos armados. Estabeleceu que pessoas, menores de 18 anos, não podem tomar parte em conflitos armados nem ser recrutadas compulsoriamente, embora, de acordo com a legislação interna de cada País, possam integrar as Forças armadas, de maneira voluntária. Foi ratificado pelo Brasil em 27.1.2004, sem qualquer reserva ou declaração. 11.3. COMITÊ SOBRE OS DIREITOS DAS CRIANÇAS a) o estabelecimento de uma idade mínima antes da qual se presumirá que a criança não tem capacidade para infringir as leis penais; b) a adoção sempre que conveniente e desejável, de medidas para tratar dessas crianças sem recorrer a procedimentos judiciais, contando que sejam respeitados plenamente os direitos humanos e as garantias legais. 4. Diversas medidas, tais como ordens de guarda, orientação e supervisão, aconselhamento, liberdade vigiada, colocação em lares de adoção, programas de educação e formação profissional, bem como outras alternativas à internação em instituições, deverão estar disponíveis para garantir que as crianças sejam tratadas de modo apropriado ao seu bem- estar e de forma proporcional às circunstâncias e ao tipo do delito. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 87 Disponibilizado exclusivamente para . Nos termos do art. 43, 2, é um órgão composto de 18 "peritos de alta autoridade moral e de reconhecida competência no domínio abrangido pela presente Convenção". Possui como função: a) Examinar os relatórios dos Estados Partes O primeiro relatório deve ser enviado após 02 anos da ratificação da Convenção. Os demais a cada cinco anos. Ao acabar de examinar os relatórios, o Comitê emite suas observações finais que realçam os aspectos positivos, os fatores e dificuldades que impedem a aplicação da Convenção e os principais motivos de preocupação do Comitê, bem como um conjunto de sugestões e recomendações dirigidas ao Estado Parte. b) Formulação de comentários gerais Poderá preparar comentários gerais baseados nos artigos e disposições da Convenção, com o intuito de promover a sua melhor aplicação e de auxiliar os Estados Partes no cumprimento das suas obrigações. c) Organização de debates temáticos d) Pedidos de estudos O Comitê pode recomendar à Assembleia Geral que solicite ao Secretário-Geral, a elaboração de estudos sobre matérias específicas relativas aos direitos da criança. e) Fazer recomendações gerais O Comité pode fazer recomendações de ordem geral com base nas informações recebidas dos relatórios estaduais, da autoria de órgãos das Nações Unidas ou outros organismos competentes. Até dezembro de 2011, o Comité dos Direitos da Criança era o único dos comitês dos tratados de direitos humanos das Nações Unidas que não dispunha de competência para examinar queixas de particulares (já foi, inclusive, questão de prova). Em dezembro de 2011, a Assembleia Geral da ONU aprovou o terceiro Protocolo Facultativo, que permite a apresentação de queixas por particulares que se sintam vítimas de violação de qualquer dos direitos previstos na Convenção ou seus Protocolos Facultativos (sobre venda de crianças, prostituição infantil e pornografia infantil e sobre a participação de crianças em conflitos armados). Entre os direitos, cuja alegada violação poderá dar lugar a queixa, encontram-se os direitos da criança à vida, sobrevivência e desenvolvimento, a ser ouvida nos processos judiciais e administrativos que lhe digam respeito, à saúde e assistência médica, à educação, à segurança social, a um nível de vida suficiente e à proteção contra todas as formas de violência e maus tratos, exploração econômica e trabalhos perigosos, consumo ilícito de drogas e todas as formas de exploração e violência sexuais. As queixas serão dirigidas ao Comitê sobre os Direitos da Criança. Com a entrada em vigor do terceiro Protocolo Facultativo, o Comitê fica também dotado de competência para instaurar CS – DIREITOS HUMANOS 2022 88 Disponibilizado exclusivamente para . inquéritos em caso de violação grave ou sistemática da Convenção e, para os Estados Partes que o reconheçam, de competência para examinar queixas apresentadas por outros Estados Partes. O Brasil ratificou em 29 de dezembro de 2017, sem qualquer reserva. 12. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA A Convenção reafirma os princípios universais (dignidade, integralidade, igualdade e não discriminação – art. 3º) em que se baseia, define as obrigações gerais dos Estados Partes, relativas à integração das várias dimensões da deficiência nas suas políticas, bem como as obrigações específicas relativas à sensibilização da sociedade para a deficiência, ao combate aos estereótipos e à valorização das pessoas com deficiência. A Convenção trata dos direitos das pessoas com deficiência de maneira integral, seus artigos não distinguem as medidas a serem adotadas conforme sejam das chamadas primeira, segunda ou terceira dimensões dos direitos humanos, mas estabelecem aquelas que devem ser adotadas imediatamente e outras que vão do simples reconhecimento da situação à elaboração de programas voltados à superação de preconceitos e à integração de tais pessoas. No art. 1º, encontra-se a definição de pessoa com deficiência e o propósito da Convenção. Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas. O art. 4º traz um rol de obrigações assumidas pelos Estados, ao ratificar a Convenção. Artigo4 Art. 3º - Os princípios da presente Convenção são: a) O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer as próprias escolhas, e a independência das pessoas; b) A não-discriminação; c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade; d) O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como parte da diversidade humana e da humanidade; e) A igualdade de oportunidades; f) A acessibilidade; g) A igualdade entre o homem e a mulher; h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade. Art. 1º O propósito da presente Convenção é promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 89 Disponibilizado exclusivamente para . 1. Os Estados Partes se comprometem a assegurar e promover o pleno exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência, sem qualquer tipo de discriminação por causa de sua deficiência. Para tanto, os Estados Partes se comprometem a: a) Adotar todas as medidas legislativas, administrativas e de qualquer outra natureza, necessárias para a realização dos direitos reconhecidos na presente Convenção; b) Adotar todas as medidas necessárias, inclusive legislativas, para modificar ou revogar leis, regulamentos, costumes e práticas vigentes, que constituírem discriminação contra pessoas com deficiência; c) Levar em conta, em todos os programas e políticas, a proteção e a promoção dos direitos humanos das pessoas com deficiência; d) Abster-se de participar em qualquer ato ou prática incompatível com a presente Convenção e assegurar que as autoridades públicas e instituições atuem em conformidade com a presente Convenção; e) Tomar todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação baseada em deficiência, por parte de qualquer pessoa, organização ou empresa privada; f) Realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvimento de produtos, serviços, equipamentos e instalações com desenho universal, conforme definidos no Artigo 2 da presente Convenção, que exijam o mínimo possível de adaptação e cujo custo seja o mínimo possível, destinados a atender às necessidades específicas de pessoas com deficiência, a promover sua disponibilidade e seu uso e a promover o desenho universal quando da elaboração de normas e diretrizes; g) Realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvimento, bem como a disponibilidade e o emprego de novas tecnologias, inclusive as tecnologias da informação e comunicação, ajudas técnicas para locomoção, dispositivos e tecnologias assistivas, adequados a pessoas com deficiência, dando prioridade a tecnologias de custo acessível; h) Propiciar informação acessível para as pessoas com deficiência a respeito de ajudas técnicas para locomoção, dispositivos e tecnologias assistivas, incluindo novas tecnologias bem como outras formas de assistência, serviços de apoio e instalações; i) Promover a capacitação em relação aos direitos reconhecidos pela presente Convenção dos profissionais e equipes que trabalham com pessoas com deficiência, de forma a melhorar a prestação de assistência e serviços garantidos por esses direitos. 2. Em relação aos direitos econômicos, sociais e culturais, cada Estado Parte se compromete a tomar medidas, tanto quanto permitirem os recursos disponíveis e, quando necessário, no âmbito da cooperação internacional, a fim de assegurar progressivamente o pleno exercício desses direitos, sem prejuízo das obrigações contidas na presente Convenção que forem imediatamente aplicáveis de acordo com o direito internacional. 3. Na elaboração e implementação de legislação e políticas para aplicar a presente Convenção e em outros processos de tomada de decisão relativos às pessoas com deficiência, os Estados Partes realizarão consultas estreitas e envolverão ativamente pessoas com deficiência, inclusive crianças com deficiência, por intermédio de suas organizações representativas. 4. Nenhum dispositivo da presente Convenção afetará quaisquer disposições mais propícias à realização dos direitos das pessoas com deficiência, as quais possam estar contidas na legislação do Estado Parte ou no direito CS – DIREITOS HUMANOS 2022 90 Disponibilizado exclusivamente para . Há, ainda, uma proteção especial às mulheres e às crianças com deficiência. Trata, igualmente, da participação na vida política dos Estados partes. Não são admitidas reservas à Convenção (art. 46). O Brasil ratificou a Convenção em 2008, incorporando-a ao ordenamento interno nos ternos do art. 5º, §3º da CF. Portanto, possui natureza de emenda constitucional. Art. 29 - Os Estados Partes garantirão às pessoas com deficiência direitos políticos e oportunidade de exercê-los em condições de igualdade com as demais pessoas, e deverão: a) Assegurar que as pessoas com deficiência possam participar efetiva e plenamente na vida política e pública, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, diretamente ou por meio de representantes livremente escolhidos, incluindo o direito e a oportunidade de votarem e serem votadas, mediante, entre outros: i) Garantia de que os procedimentos, instalações e materiais e equipamentos para votação serão apropriados, acessíveis e de fácil compreensão e uso; ii) Proteção do direito das pessoas com deficiência ao voto secreto em eleições e plebiscitos, sem intimidação, e a candidatar-se nas eleições, efetivamente ocupar cargos eletivos e desempenhar quaisquer funções públicas em todos os níveis de governo, usando novas tecnologias assistivas, quando apropriado; iii) Garantia da livre expressão de vontade das pessoas com deficiência como eleitores e, para tanto, sempre que necessário e a seu pedido, permissão para que elas sejam auxiliadas na votação por uma pessoa de sua escolha; b) Promover ativamente um ambiente em que as pessoas com deficiência possam participar efetiva e plenamente na condução das questões públicas, sem discriminação e em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, e encorajar sua participação nas questões públicas, mediante: i) Participação em organizações não-governamentais relacionadas com a vida pública e política do país, bem como em atividades e administração de partidos políticos; ii) Formação de organizações para representar pessoas com deficiência em níveis internacional, regional, nacional e local, bem como a filiação de pessoas com deficiência a tais organizações. internacional em vigor para esse Estado. Não haverá nenhuma restrição ou derrogação de qualquer dos direitos humanos e liberdades fundamentais reconhecidos ou vigentes em qualquer Estado Parte da presente Convenção, em conformidade com leis, convenções, regulamentos ou costumes, sob a alegação de que a presente Convenção não reconhece tais direitos e liberdades ou que os reconhece em menor grau. 5. As disposições da presente Convenção se aplicam, sem limitação ou exceção, a todas as unidades constitutivas dos Estados federativos. Artigo 46 1. Não serão permitidas reservas incompatíveis com o objeto e o propósito da presente Convenção. 2. As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 91 Disponibilizado exclusivamente para . Em 2018, o Brasil aprovou e promulgou o Tratado de Marraqueche, nos termos do art. 5º, §3º, da CF, que havia sido assinado em 2013. Possui como objetivo permitir que pessoas cegas, pessoas com deficiência visual e pessoas com outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso possam ter acesso às obras publicadas (livros, apostilas etc.).Observe o quadro elaborado pelo Professor Márcio Cavalcante: TRATADOS INTERNACIONAIS EQUIVALENTES A EMENDA CONSTITUCIONAL CONVENÇÃO DE NOVA YORK (E SEU PROTOCOLO FACULTATIVO) TRATADO DE MARRAQUECHE Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo. Tratado firmado com o objetivo de facilitar o acesso a obras publicadas às pessoas cegas, com deficiência visual ou com outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso. Assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Assinado em Marraqueche, em 27 de junho de 2013. Aprovado pelo Congresso Nacional por meio do Decreto legislativo nº 186/2008 Aprovado pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 261/2015. Promulgado pelo Presidente da República por meio do Decreto nº 6.949/2009. Promulgado pelo Presidente da República por meio do Decreto nº 9.522/2018. 12.1. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA Criou um sistema de denúncias pessoais de violação das disposições da Convenção, dirigidas ao Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. As denúncias, como nos demais casos, não poderão ser anônimas, não sendo ainda recebidas se houver litispendência internacional, não tiverem esgotados os remédios jurídicos internos, forem manifestadamente contrárias aos objetivos da Convenção, forem mal fundamentadas ou estiverem desprovidas de substância ou referirem-se a fatos anteriores à entrada em vigor do protocolo, salvo se persistirem desde então. Foi ratificado pelo Brasil em 2008, sem qualquer reserva ou declaração. Incorporado ao ordenamento interno nos ternos do art. 5º, §3º da CF. 12.2. COMITÊ DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS Foi instituído pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (artigo 34.º) a fim de controlar a aplicação, pelos respectivos Estados Partes, das disposições da Convenção. O Comitê é formado por 18 especialistas independentes, eleitos pelos Estados Partes na Convenção. Possui como funções (vale o que já foi dito acima): CS – DIREITOS HUMANOS 2022 92 Disponibilizado exclusivamente para . a) Examinar relatórios elaborados pelos Estados Partes (art. 35); . b) Organizar debates temáticos c) Adotar comentários gerais relacionados aos temas da Convenção d) Examinar comunicações de particulares e) Instaurar inquéritos em caso de suspeitas de violações graves ou sistemáticas da Convenção 13. CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E PUNIÇÃO AO CRIME DE GENOCÍDIO É o primeiro tratado internacional específico do sistema das Nações Unidas, adotado um dia antes da própria Declaração Universal dos Direitos Humanos. O genocídio é reconhecido como crime internacional pelos Estados-Partes, havidos quer em tempo de paz, quem em de guerra, envolvendo, a conspiração para a prática de genocídio; o incitamento público e direito a tanto; a tentativa e a cumplicidade em praticá-lo. Para os Estados-Partes surge a obrigação de criar uma legislação interna e garantir a extradição dos criminosos, sendo que o genocídio não deve ser considerado crime político para fins de extradição, de modo a impedi-la. Segundo o art. 6º da Convenção, “as pessoas acusadas de genocídio serão julgadas pelos tribunais competentes do Estado em cujo território foi o ato cometido ou pela corte penal internacional competente com relação às Partes Contratantes que lhe tiverem reconhecido a jurisdição”. Todos esses eventos convergiram esforços internacionais para a criação de um organismo intergovernamental permanente, o Tribunal Penal Internacional (TPI), competente para examinar quatro tipos de ilícitos, desde que sejam de maior gravidade e que afetem a comunidade internacional em seu conjunto: crimes de guerra, crimes contra a humanidade, crimes de agressão e genocídio. Artigo 35 1. Cada Estado Parte, por intermédio do Secretário-Geral das Nações Unidas, submeterá relatório abrangente sobre as medidas adotadas em cumprimento de suas obrigações estabelecidas pela presente Convenção e sobre o progresso alcançado nesse aspecto, dentro do período de dois anos após a entrada em vigor da presente Convenção para o Estado Parte concernente. 2. Depois disso, os Estados Partes submeterão relatórios subsequentes, ao menos a cada quatro anos, ou quando o Comitê o solicitar. 3. O Comitê determinará as diretrizes aplicáveis ao teor dos relatórios. 4. Um Estado Parte que tiver submetido ao Comitê um relatório inicial abrangente não precisará, em relatórios subsequentes, repetir informações já apresentadas. Ao elaborar os relatórios ao Comitê, os Estados Partes são instados a fazê-lo de maneira franca e transparente e a levar em consideração o disposto no Artigo 4.3 da presente Convenção. 5. Os relatórios poderão apontar os fatores e as dificuldades que tiverem afetado o cumprimento das obrigações decorrentes da presente Convenção CS – DIREITOS HUMANOS 2022 93 Disponibilizado exclusivamente para . Foi ratificado pelo Brasil em 1952, sem qualquer reserva. 14. CONVENÇÃO INTERNACIONAL PARA A PROTEÇÃO DE TODAS AS PESSOAS CONTRA OS DESAPARECIMENTOS FORÇADOS A definição de desaparecimento forçado encontra-se no art. 2º da Convenção: A Convenção, em seu art. 1º, 2 consagra o direito absoluto de não ser vítima de desaparecimento forçado. Apesar de estar previsto um mandado internacional de criminalização, no art. 4º da Convenção, o Brasil ainda tipificou o crime de desaparecimento forçado. Nos termos do art. 5º da Convenção, os Estados que praticarem sistematicamente a prática de desaparecimento forçado cometem crime contra a humanidade, de acordo com o direito penal internacional aplicável – Estatuto de Roma. Deverão ser responsabilizados. De acordo com o art. 24, são consideradas vítimas tanto as pessoas desaparecidas, quanto as pessoas atingidas indiretamente pelo ato, como familiares. Além disso, este artigo traz as responsabilidades do Estado perante as vítimas. Artigo 2º Para os efeitos desta Convenção, entende-se por “desaparecimento forçado” a prisão, a detenção, o sequestro ou qualquer outra forma de privação de liberdade que seja perpetrada por agentes do Estado ou por pessoas ou grupos de pessoas agindo com a autorização, apoio ou aquiescência do Estado, e a subsequente recusa em admitir a privação de liberdade ou a ocultação do destino ou do paradeiro da pessoa desaparecida, privando-a assim da proteção da lei. Artigo 1 1. Nenhuma pessoa será submetida a desaparecimento forçado. 2. Nenhuma circunstância excepcional, seja estado de guerra ou ameaça de guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública, poderá ser invocada como justificativa para o desaparecimento forçado. Artigo 4 - Cada Estado Parte tomará as medidas necessárias para assegurar que o desaparecimento forçado constitua crime em conformidade com o seu direito penal. Artigo 5º - A prática generalizada ou sistemática de desaparecimento forçado constitui crime contra a humanidade, tal como define o direito internacional aplicável, e estará sujeito às consequências previstas no direito internacional aplicável. Artigo 24 1. Para os fins da presente Convenção, o termo “vítima” se refere à pessoa desaparecida e a todo indivíduo que tiver sofrido dano como resultado direto de um desaparecimento forçado. 2. A vítima tem o direito de saber a verdade sobre as circunstâncias do desaparecimento forçado, o andamento e os resultados da investigação e o CS – DIREITOS HUMANOS 2022 94 Disponibilizado exclusivamente para . Em nenhuma hipótese, nem mesmo quanto se tratar de circunstâncias excepcionais, será admita a prática do desaparecimento forçado (art. 1º). Entrou em vigor em 23 de dezembro de 2010. O Brasil ratificou em 29 denovembro de 2010, sem qualquer reserva, sendo promulgada pelo Decreto 8.767/2016. 14.1. COMITÊ CONTRA DESAPARECIMENTOS FORÇADOS A terceira parte da Convenção trata do Comitê, o qual será formado por 10 especialistas independentes. Suas funções são: a) Receber relatórios periódicos dos Estados-Parte sobre medidas tomadas para cumprir suas obrigações, além de fazer comentários, observações e recomendações (art. 29). destino da pessoa desaparecida. O Estado Parte tomará medidas apropriadas a esse respeito. 3. Cada Estado Parte tomará todas as medidas cabíveis para procurar, localizar e libertar pessoas desaparecidas e, no caso de morte, localizar, respeitar e devolver seus restos mortais. 4. Cada Estado Parte assegurará que sua legislação garanta às vítimas de desaparecimento forçado o direito de obter reparação e indenização rápida, justa e adequada. 5. O direito a obter reparação, a que se refere o parágrafo 4º deste artigo, abrange danos materiais e morais e, se couber, outras formas de reparação, tais como: a) Restituição; b) Reabilitação; c) Satisfação, inclusive o restabelecimento da dignidade e da reputação; e d) Garantias de não repetição. 6. Sem prejuízo da obrigação de prosseguir a investigação até que o destino da pessoa desaparecida seja estabelecido, cada Estado Parte adotará as providências cabíveis em relação à situação jurídica das pessoas desaparecidas cujo destino não tiver sido esclarecido, bem como à situação de seus familiares, no que respeita à proteção social, a questões financeiras, ao direito de família e aos direitos de propriedade. 7. Cada Estado Parte garantirá o direito de fundar e participar livremente de organizações e associações que tenham por objeto estabelecer as circunstâncias de desaparecimentos forçados e o destino das pessoas desaparecidas, bem como assistir as vítimas de desaparecimentos forçados. Artigo 1º 1. Nenhuma pessoa será submetida a desaparecimento forçado. 2. Nenhuma circunstância excepcional, seja estado de guerra ou ameaça de guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública, poderá ser invocada como justificativa para o desaparecimento forçado. Obs.; De acordo com a doutrina e com a jurisprudência internacional de direitos humanos, o crime de desaparecimento forçado atinge três níveis: vítima propriamente dita (1º nível), familiares da vítima (2º nível) e direito da sociedade de conhecer a verdade sobre os fatos (3º nível). CS – DIREITOS HUMANOS 2022 95 Disponibilizado exclusivamente para . b) Receber e atender aos pedidos em casos individuais de desaparecimento forçado, e comunicar suas observações e recomendações ao Estado para localizar e proteger a pessoa desaparecida (art. 31 e 32). Artigo 29 1. Cada Estado Parte submeterá ao Comitê, por intermédio do Secretário- Geral das Nações Unidas, um relatório sobre as medidas tomadas em cumprimento das obrigações assumidas ao amparo da presente Convenção, dentro de dois anos contados a partir da data de entrada em vigor da presente Convenção para o Estado Parte interessado. 2. O Secretário-Geral das Nações Unidas disponibilizará o referido relatório a todos os Estados Partes. 3. O relatório será examinado pelo Comitê, que emitirá os comentários, observações e recomendações que julgar apropriados. Esses comentários, observações e recomendações serão comunicados ao Estado Parte interessado, que poderá responder de iniciativa própria ou por solicitação do Comitê. 4. O Comitê poderá também solicitar informações adicionais aos Estados Partes a respeito da implementação da presente Convenção. Artigo 31 1. Um Estado Parte poderá declarar, quando da ratificação da presente Convenção ou em qualquer momento posterior, que reconhece a competência do Comitê para receber e considerar comunicações apresentadas por indivíduos ou em nome de indivíduos sujeitos à sua jurisdição, que alegam serem vítimas de violação pelo Estado Parte de disposições da presente Convenção. O Comitê não aceitará comunicações a respeito de um Estado Parte que não tiver feito tal declaração. 2. O Comitê considerará uma comunicação inadmissível quando: a) For anônima; b) Constituir abuso do direito de apresentar essas comunicações ou for inconsistente com as disposições da presente Convenção; c) A mesma questão estiver sendo examinada em outra instância internacional de exame ou de solução de mesma natureza; ou d) Todos os recursos efetivos disponíveis internamente não tiverem sido esgotados. Essa regra não se aplicará se os procedimentos de recurso excederem prazos razoáveis. 3. Se julgar que a comunicação satisfaz os requisitos estipulados no parágrafo 2º deste artigo, o Comitê transmitirá a comunicação ao Estado Parte interessado, solicitando-lhe que envie suas observações e comentários dentro de um prazo fixado pelo Comitê. 4. A qualquer momento, depois de receber uma comunicação e antes de chegar a uma conclusão sobre seu mérito, o Comitê poderá dirigir ao Estado Parte interessado um pedido urgente para que tome as medidas cautelares necessárias para evitar eventuais danos irreparáveis às vítimas da violação alegada. O exercício dessa faculdade pelo Comitê não implica conclusão sobre a admissibilidade ou o mérito da comunicação. 5. O Comitê examinará em sessões fechadas as comunicações previstas nesse artigo. O Comitê informará o autor da comunicação das respostas apresentadas pelo Estado Parte em consideração. Quando decidir concluir o procedimento, o Comitê comunicará seu parecer ao Estado Parte e ao autor da comunicação. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 96 Disponibilizado exclusivamente para . Obs.: Brasil, ainda, não reconheceu a competência do Comitê para isso. c) Receber e analisar os pedidos apresentados por um Estado-Parte relativos à violação de outro Estado das suas obrigações segundo a Convenção (art. 31 e 32). Obs.: Brasil, ainda, não reconheceu a competência do Comitê para isso. d) Visitar os Estados, seja a pedido dos mesmos, ou com base em informação fidedigna indicando graves violações da Convenção em seu território, e, logo após, apresentar suas observações e recomendações (art. 33). e) Por fim, caso o Comitê receba informações de uma prática sistemática de desaparecimento forçado, ele poderá apresentar o caso com urgência perante a Assembleia Geral das Nações Unidas (art. 34). 15. CONVENÇÃO PARA A PROTEÇÃO DOS DIREITOS DE TODOS OS TRABALHADORES MIGRANTES E MEMBROS DAS SUAS FAMÍLIAS Foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU em 1990, entrou em vigor em 2003. De acordo com a Convenção, migrantes regularizados pelo acordo gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos às mesmas obrigações de natureza laboral em vigor para os trabalhadores nacionais do Estado receptor e da mesma proteção no que se refere à aplicação das leis relativas à higiene e à segurança do trabalho. Artigo 32 Um Estado Parte da presente Convenção poderá a qualquer momento declarar que reconhece a competência do Comitê para receber e considerar comunicações em que um Estado Parte alega que outro Estado Parte não cumpre as obrigações decorrentes da presente Convenção. O Comitê não receberá comunicações relativas a um Estado Parte que não tenha feito tal declaração, nem tampouco comunicações apresentadas por um Estado Parte que não tenha feito tal declaração. Artigo 33 1. Caso receba informação confiável de que um Estado Parte está incorrendo em grave violação do disposto na presente Convenção, o Comitê poderá, após consulta com o Estado Parte em questão, encarregar um ou vários de seus membros a empreender uma visita a esse Estado e a informá-lo a respeito o mais prontamente possível. Artigo 34 Caso receba informação que pareça conter indicações bem fundamentadas de que desaparecimentos forçados estão sendo praticadosde forma generalizada ou sistemática em território sob a jurisdição de um Estado Parte, o Comitê poderá, após solicitar ao Estado Parte todas as informações relevantes sobre a situação, levar urgentemente o assunto à atenção da Assembleia Geral das Nações Unidas, por intermédio do Secretário-Geral das Nações Unidas. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 97 Disponibilizado exclusivamente para . De todos os tratados do Sistema Global, é o que menos possui adesão. O Brasil não assinou a Convenção. 15.1. COMITÊ Possui competência para: a) Examinar relatórios apresentados pelos Estados Partes sobre as medidas adotadas para dar cumprimento às obrigações impostas pela Convenção; b) Organizar debates e adotar comentários gerais sobre matérias relacionadas à Convenção. c) Apreciar comunicações apresentadas por outros Estados e por particulares (mas não está em vigor, por não se ter atingido o número mínimo de aceitações – dez). CS – DIREITOS HUMANOS 2022 98 Disponibilizado exclusivamente para . SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA Conforme leciona Caio Paiva, “a história do sistema interamericano se desenvolve, no início, de forma paralela ao princípio da solidariedade panamericana, remontando ao Congresso do Panamá, realizado em 1826, que, por sua vez, teve raízes na Carta da Jamaica (1815), que apresentava a ideia original de Simón Bolívar, e na Doutrina Monroe, anunciada pelo então presidente dos Estados Unidos, James Monroe, em 1823. Tanto Bolívar quanto Monroe, cada um a seu modo, o primeiro pelo sul, e o segundo pelo norte, lutaram pela independência dos Estados americanos contra a ameaça de recolonização por parte de potências europeias, em especial as que integravam a Santa Aliança, uma coligação das monarquias do Império Russo, do Império Austríaco e do Reino da Prússia” A seguir analisar-se-á as cinco etapas da evolução histórica do Sistema Interamericano. 1.1. 1ª ETAPA: ANTECEDENTES DA CRIAÇÃO Inicia-se em 1826 e vai até 1948, divide-se em três fases, são elas: 1ª FASE - Congresso do Panamá, em 1826. Trata-se do primeiro de uma série de encontros regionais em que se discutiu formas de cooperação entre os Estados americanos, ocasião em que se aprovou o Tratado de União Perpétua, Liga e Confederação, que uniu a Grande Colômbia (Colômbia, Equador, Panamá e Venezuela), México, América Central e Peru. Os principais pontos do Tratado foram: o Criação de uma confederação dos Estados americanos para a consolidação da paz e da defesa solidária dos direitos desses países; o Defesa da independência política e integridade territorial dos Estados americanos; o Princípio da democracia representativa como condição sine qua non para pertencer à União; o Codificação do direito internacional, o princípio da cidadania continental que estabelecia a igualdade jurídica entre os nacionais e os estrangeiros de um Estado; e o Compromisso das altas partes contratantes de cooperarem na abolição da escravatura. Caio Paiva destaca que, embora o tratado não tenha entrado em vigor (foi ratificado somente pela Grande Colômbia), é apontado como o grande antecedente do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 99 Disponibilizado exclusivamente para . 2ª FASE - caracterizada por um ciclo de conferências internacionais americanas realizadas a cada quatro anos (até 1938), em diferentes capitais do continente. De forma gradual, as conferências foram construindo o que viria a ser o sistema interamericano de proteção dos direitos humanos. Em virtude da Segunda Guerra Mundial (de 1939 a 1945), os Estados americanos reuniram- se em seis ocasiões durante o período de 1936 a 1947 para examinar problemas sobre guerra, paz e segurança. 3ª FASE – inicia-se com a Conferência Interamericana de Chapultepec, realizada após a Segunda GM (1945), no México, para discutir os “Problemas da Guerra e da Paz”, em que se aprovou diversas resoluções, algumas sobre proteção internacional dos direitos humanos, como a que tratava da reorganização, consolidação e fortalecimento do sistema interamericano, fornecendo, portanto, as bases concretas para que fosse criada uma organização de Estados americanos. 1.2. 2ª ETAPA: INAUGURAÇÃO E FORMAÇÃO DO SISTEMA Período compreendido entre 1948 e 1959. Em 1948, na 9ª Conferência Internacional Americana, realizada em Bogotá, é inaugurado o sistema interamericano de proteção dos direitos humanos propriamente dito, com a aprovação de diversos documentos, mas principalmente da Carta da Organização dos Estados Americanos (Carta da OEA) e da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (DADDH). A Carta da OEA foi editada em 1948, sofreu reformas em 1967, 1985, 1994 e 1995. Traz, em seu art. 2º, os objetivos da OEA. Ao longo de seus artigos, incluindo o preâmbulo, é possível observar diversas menções genéricas aos direitos humanos fundamentais. Artigo 2º Para realizar os princípios em que se baseia e para cumprir com suas obrigações regionais, de acordo com a Carta das Nações Unidas, a Organização dos Estados Americanos estabelece como propósitos essenciais os seguintes: a) Garantir a paz e a segurança continentais; b) Promover e consolidar a democracia representativa, respeitado o princípio da não-intervenção; c) Prevenir as possíveis causas de dificuldades e assegurar a solução pacífica das controvérsias que surjam entre seus membros; d) Organizar a ação solidária destes em caso de agressão; e) Procurar a solução dos problemas políticos, jurídicos e econômicos que surgirem entre os Estados membros; f) Promover, por meio da ação cooperativa, seu desenvolvimento econômico, social e cultural; g) Erradicar a pobreza crítica, que constitui um obstáculo ao pleno desenvolvimento democrático dos povos do Hemisfério; e h) Alcançar uma efetiva limitação de armamentos convencionais que permita dedicar a maior soma de recursos ao desenvolvimento econômico-social dos Estados membros. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 100 Disponibilizado exclusivamente para . Igualmente, a Carta trata de direitos sociais, tais como: direito ao bem-estar material, o direito ao trabalho, direito à livre-associação, direito à greve e à negociação coletiva, direito à previdência social e à assistência jurídica para fazer valer seus direitos, direito à educação. A Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem foi adota em 1948, na mesma Conferência em que se editou a Carta da OEA. É anterior à Declaração Universal de Direitos Humanos. É formada por um preâmbulo, consagra os objetivos e deveres, e por 38 artigos, os quais tratam de direitos e deveres. Preâmbulo - Certos de que o verdadeiro sentido da solidariedade americana e da boa vizinhança não pode ser outro senão o de consolidar neste Continente, dentro do quadro das instituições democráticas, um regime de liberdade individual e de justiça social, fundado no respeito dos direitos essenciais do Homem; Artigo 3º – Os Estados americanos reafirmam os seguintes princípios: l) Os Estados americanos proclamam os direitos fundamentais da pessoa humana, sem fazer distinção de raça, nacionalidade, credo ou sexo. Artigo 17 Cada Estado tem o direito de desenvolver, livre e espontaneamente, a sua vida cultural, política e econômica. No seu livre desenvolvimento, o Estado respeitará os direitos da pessoa humana e os princípios da moral universal. Artigo 33 O desenvolvimento é responsabilidade primordial de cada país e deve constituir um processo integral e continuado para a criação de uma ordem econômica e social justa que permita a plena realização da pessoa humana e para isso contribua. Artigo 45 Os Estados membros, convencidos de que o Homem somente pode alcançar a plena realizaçãode suas aspirações dentro de uma ordem social justa, acompanhada de desenvolvimento econômico e de verdadeira paz, convêm em envidar os seus maiores esforços na aplicação dos seguintes princípios e mecanismos. Preâmbulo Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos e, como são dotados pela natureza de razão e consciência, devem proceder fraternalmente uns para com os outros. O cumprimento do dever de cada um é exigência do direito de todos. Direitos e deveres integram-se correlativamente em toda a atividade social e política do homem. Se os direitos exaltam a liberdade individual, os deveres exprimem a dignidade dessa liberdade. Os deveres de ordem jurídica dependem da existência anterior de outros de ordem moral, que apoiam os primeiros conceitualmente e os fundamentam. É dever do homem servir o espírito com todas as suas faculdades e todos os seus recursos, porque o espírito é a finalidade suprema da existência humana e a sua máxima categoria. É dever do homem exercer, manter e estimular a cultura por todos os meios ao seu alcance, porque a cultura é a mais elevada expressão social e histórica do espírito. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 101 Disponibilizado exclusivamente para . E, visto que a moral e as boas maneiras constituem a mais nobre manifestação da cultura, é dever de todo homem acatar-lhes os princípios. Trata tanto de direitos civis e políticos quanto dos direitos econômicos, sociais e culturais, os quais devem ser implementados progressivamente. Destaca-se que ao contrário da DUDH, a DADDH não proíbe a pena de morte, a tortura, a escravidão e a servidão, bem como consagra o caráter individual da propriedade. Além disso, seu valor jurídico difere do valor conferido à DUDH, na medida em que ao documento regional foi indiretamente conferida força obrigatória, especialmente após a reforma da Carta da OEA, fazendo com que a Declaração, juntamente com a Convenção Americana, forme um conjunto normativo. A Corte Interamericana já afirmou que a Declaração deve ser considerada interpretação autêntica dos dispositivos genéricos de proteção dos direitos humanos da Carta da OEA. São direitos consagrados na Declaração: • Direito à vida, à liberdade, à segurança e integridade da pessoa. • Direito de igualdade perante a lei. • Direito de liberdade religiosa e de culto. • Direito de liberdade de investigação, opinião, expressão e difusão. • Direito à proteção da honra, da reputação pessoal e da vida particular e familiar. • Direito à constituição e proteção da família. • Direito de proteção à maternidade e à infância. • Direito de residência e trânsito. • Direito à inviolabilidade do domicílio. • Direito à inviolabilidade do domicílio. • Direito à preservação da saúde e ao bem-estar. • Direito à educação. • Direito aos benefícios da cultura. • Direito ao trabalho e a uma justa retribuição. • Direito ao descanso e ao seu aproveitamento. • Direito à previdência social. • Direito de reconhecimento da personalidade jurídica e dos direitos civis. • Direito à justiça. • Direito à nacionalidade. • Direito de sufrágio e de participação no governo. • Direito de reunião. • Direito de associação. • Direito de propriedade. • Direito de petição. • Direito de proteção contra prisão arbitrária. • Direito a processo regular. • Alcance dos direitos do homem. A declaração enumera os seguintes deveres: CS – DIREITOS HUMANOS 2022 102 Disponibilizado exclusivamente para . • Deveres perante a sociedade. • Deveres para com os filhos e os pais. • Deveres de instrução. • Dever do sufrágio. • Dever de obediência à Lei. • Dever de servir a coletividade e a nação. • Deveres de assistência e previdência sociais. • Dever de pagar impostos. • Dever do trabalho. • Dever de se abster de atividades políticas em países estrangeiros. 1.3. 3ª ETAPA: INÍCIO DO PERÍODO DE MONITORAMENTO Período compreendido entre 1959 e 1969. Em 1959, cria-se a Comissão Interamericana de Direitos Humanos que nasce sem base convencional e com poderes limitados à “promoção dos direitos humanos”, o que compreendia, segundo a interpretação da própria comissão, a formulação de recomendações gerais para os estados membros da OEA, a preparação de relatórios geográficos e até mesmo, com a anuência do respectivo governo, as visitas in loco. 1.4. 4ª ETAPA: INSTITUCIONALIZAÇÃO CONVENCIONAL DO SISTEMA Período compreendido entre 1969 e 1978. Em 1969, realizou a Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José da Costa Rica, ocasião em que foi editada a Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos (CIDH) também chamada de Pacto de San José da Costa Rica. Trata-se de um instrumento normativo de caráter vinculante que estabeleceu um catálogo de direitos humanos e os meios de proteção para tais direitos. De acordo com Caio Paiva, a 4ª Etapa teve fim em 1978, quando a CADH entrou em vigor, após o depósito do 11º instrumento de ratificação na Secretaria-Geral da OEA. 1.5. 5ª ETAPA: CONSOLIDAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DO SISTEMA Inicia-se em 1978 e vai até os dias atuais. A consolidação e o aperfeiçoamento do sistema foram marcados pelo início da construção jurisprudencial contenciosa e consultiva da Corte IDH, pela ampliação do corpus normativo do sistema interamericano e pela proposta ou implementação de medidas para aperfeiçoar o sistema. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 103 Disponibilizado exclusivamente para . 2. DIVISÃO DO SISTEMA INTERAMERICANO O Sistema Interamericano divide-se em dois subsistemas: SUBSISTEMA GERAL e SUBSISTEMA EXIGENTE. Observe as diferenças: Nomenclatura Subsistema da OEA Subsistema da Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos Base normativa Carta da OEA, Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e Estatuto da Comissão Interamericana de Direitos Humanos Convenção Americana de Direitos Humanos Órgão de proteção Comissão Interamericana de Direitos Humanos Comissão Interamericana de Direitos Humanos e Corte Interamericana de Direitos Humanos Aplicação TODOS os Estados membros da OEA APENAS aos Estados que tenham ratificado a CIDH Perceba que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos participa dos dois subsistemas, possuindo um papel dúplice. 3. COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS 3.1. CONCEITO Trata-se de um órgão de monitoramento, proteção e promoção dos direitos humanos no continente americano. A Comissão possui um papel dúplice, isto porque integra a OEA e a CADH (dupla integração orgânica). Está sediada em Washington (EUA), podendo também se reunir em qualquer Estado americano quando o decidir por maioria absoluta de votos e com a anuência ou a convite do respectivo Governo. 3.2. ORIGEM A CIDH foi criada em agosto de 1959 (dez anos antes da adoção da Convenção Americana), em Santiago, no Chile. Era considerada uma unidade autônoma da OEA, tendo em vista que não possuía base convencional, ou seja, não estava prevista em um tratado. SUBSISTEMA GERAL SUBSISTEMA EXIGENTE Obs.: A Corte Interamericana de Direitos Humanos também é um órgão de monitoramento, proteção e promoção dos direitos humanos, mas integra apenas a CADH. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 104 Disponibilizado exclusivamente para . Em 1960, após a aprovação do primeiro estatuto, ocorreu o primeiro período de sessões, com a eleição dos primeiros membros. A partir de 1961, a Comissão deu início à prática das visitas in loco para observar a situação geral dos direitos humanos num país ou para investigar um caso em particular, publicando posteriormente informes especiais com suas observações. Em 1965, os seus poderes foram ampliados, passou a ter competência para receber petições ou comunicações individuais sobre violaçõesde direitos humanos. Já em 1967, foi aprovado um Protocolo de Reformas à Carta da OEA (Protocolo de Buenos Aires), incluindo a CIDH entre os órgãos permanentes da Organização dos Estados Americanos, conferindo-lhe, portanto, a base convencional. De acordo com Caio Paiva, o processo de institucionalização da CIDH se completa com a adoção da CADH em 1969 e com a sua entrada em vigor em 1978, que a previu como órgão competente – junto com a Corte – para conhecer de assuntos relacionados com o cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados-partes da Convenção, estabelecendo sua organização, suas funções, sua competência e também diretrizes procedimentais para processar uma petição ou comunicação na qual se alegue uma violação de direitos humanos consagrados na CADH. 3.3. REGIME JURÍDICO A CIDH está inserida na Carta da OEA como um órgão da Organização (art. 106), é também regida juridicamente pela CADH (artigos 34 a 50), e pelo seu Estatuto, elaborado pela própria Comissão e aprovado pela Assembleia Geral da OEA em 1979. 3.4. FUNÇÕES Em um primeiro momento, a função da Comissão Interamericana se limitava à uma atividade de promoção dos direitos humanos por meio da preparação de estudos, de relatórios e de recomendações aos Estados. Com o passar dos tempos, a Comissão foi alcançando mais poderes, tornando-se, um órgão do sistema interamericano competente para receber e processar as petições individuais sobre violação de direitos humanos. Destaca-se que as funções da CIDH estão previstas no art. 41 da CADH e nos artigos 18, 19 e 20 do seu Estatuto (divididas segundo o papel dúplice desempenhado pela Comissão). Na prática o papel dúplice ou a dualidade de regime jurídico da CIDH traz a possibilidade de a Comissão atuar tanto em face de estados que tenham aderido à CADH (utiliza o seu texto), quanto em face de Estados membros da OEA que não tenham aderido à Convenção, contra os quais utilizará o texto da Carta da OEA e da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem. Art. 39 da CADH: A Comissão elaborará seu estatuto e submetê-lo-á à aprovação da Assembleia Geral e expedirá seu próprio Regulamento. Artigo 51. Recebimento da petição - A Comissão receberá e examinará a petição que contenha denúncia sobre presumidas violações dos direitos humanos consagrados na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem com relação aos Estados membros da Organização que não sejam partes da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 105 Disponibilizado exclusivamente para . O papel dúplice da CIDH também determinará a consequência processual nos casos em que a apreciação de mérito for no sentido do estabelecimento da violação de direitos humanos pelo Estado demandado: ESTADO ADERIU À CADH E ACEITOU A ESTADO NÃO ADERIU À CADH OU ADERIU JURISDIÇÃO CONTENCIOSA DA CORTE E NÃO ACEITOU A JURISDIÇÃO CONTENCIOSA DA CORTE Comissão poderá ajuizar uma ação de responsabilidade internacional contra o respectivo Estado na Corte Interamericana. A CIDH funciona como uma espécie de “Ministério Público” no âmbito internacional Comissão poderá apenas aplicar ao Estado uma medida de caráter não decisória que traz consigo apenas um constrangimento político internacional, consistente na publicação de relatório e na inclusão deste no Relatório Anual à Assembleia-Geral da OEA ou em qualquer meio que considerar adequado. É possível identificar três categorias de funções da CIDH, são elas: 1ªCategoria: consideração de petições individuais denunciando a violação de algum dos direitos protegidos; 2ªCategoria: preparação e publicação de informes sobre a situação dos direitos humanos num determinado país; 3ªCategoria: outras atividades orientadas à promoção dos direitos humanos, tais como os trabalhos de assessoria que pode oferecer aos Estados ou a preparação de projetos de tratados que permitam oferecer uma maior proteção aos direitos humanos. De acordo com o Estatuto da CIDH (arts. 18 e 20), em relação aos Estados membros da OEA que não aderiram à CADH, a Comissão tem as seguintes atribuições: • Estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América; • Formular recomendações aos Governos dos Estados no sentido de que adotem medidas progressivas em prol dos direitos humanos, no âmbito de sua legislação, de seus preceitos constitucionais e de seus compromissos internacionais, bem como disposições apropriadas para promover o respeito a esses direitos; • Preparar os estudos ou relatórios que considerar convenientes para o desempenho de suas funções; • Solicitar aos Governos dos Estados que lhe proporcionem informações sobre as medidas que adotarem em matéria de direitos humanos; • Atender às consultas que, por meio da Secretaria- Geral da Organização, lhe formularem os Estados membros sobre questões relacionadas com os direitos humanos e, dentro de suas possibilidades, prestar assessoramento que eles lhe solicitarem; CS – DIREITOS HUMANOS 2022 106 Disponibilizado exclusivamente para . • Apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da Organização no qual se levará na devida conta o regime jurídico aplicável aos Estados Partes da Convenção Americana sobre Direitos Humanos e aos Estados que não o são; • Fazer observações in loco em um Estado, com a anuência ou a convite do Governo respectivo; • Apresentar ao Secretário-Geral o orçamento-programa da Comissão, para que o submeta à Assembleia Geral; • Dispensar especial atenção à tarefa da observância dos direitos humanos mencionados nos artigos I, II, III, IV, XVIII, XXV e XXVI da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem; • Examinar as comunicações que lhe forem dirigidas e qualquer informação disponível; dirigir-se ao Governo de qualquer dos Estados membros não Partes da Convenção a fim de obter as informações que considerar pertinentes; e formular-lhes recomendações, quando julgar apropriado, a fim de tornar mais efetiva a observância dos direitos humanos fundamentais; e • Verificar, como medida prévia ao exercício da atribuição indicada no item anterior, anterior, se os processos e recursos internos de cada Estado membro não Parte da Convenção foram devidamente aplicados e esgotados. Em relação aos Estados que aderiram à CADH, nos termos do art. 19 do Estatuto da CIDH, a Comissão ainda terá as seguintes: • Atuar com respeito às petições e outras comunicações de conformidade com os artigos 44 a 51 da Convenção; • Comparecer perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos nos casos previstos na Convenção; • Solicitar à Corte Interamericana de Direitos Humanos que tome as medidas provisórias que considerar pertinente sobre assuntos graves e urgentes que ainda não tenham sido submetidos a seu conhecimento, quando se tornar necessário a fim de evitar danos irreparáveis às pessoas; • Consultar a Corte a respeito da interpretação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos dos Estados americanos; • Submeter à Assembleia Geral projetos de protocolos adicionais à Convenção Americana sobre Direitos Humanos, com a finalidade de incluir progressivamente no regime de proteção da referida Convenção outros direitos e liberdades; e • Submeter à Assembleia Geral para o que considerar conveniente, por intermédio do Secretário-Geral, propostas de emenda à Convenção Americana sobre Direitos Humanos. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 107 Disponibilizado exclusivamente para . 3.5. COMPOSIÇÃO 3.5.1. Membros A comissão é composta por sete membros, chamados de Comissários ou de Comissionados, os quais devem ter autoridade moral e reconhecido saber em matéria de direitos humanos, nos termos do art. 34 da CADH, art. 2.1 do Estatuto da CIDH e do art. 1.3 do Regulamento daCIDH. Os membros da Comissão não precisam ter formação jurídica, diferente do que se exige de um juiz da Corte Interamericana. De acordo com Caio Paiva, a dispensa está em conformidade com a dimensão política de atuação da CIDH. Por fim, os membros da Comissão devem ser de países diversos, a fim de que ocorra uma maior representatividade geográfica. 3.5.2. Processo de escolha dos membros Está disciplinado no art. 36 da CADH e nos arts. 3º a 5º do Estatuto da Comissão, basicamente: • Seis meses antes da realização do período ordinário de sessões da Assembleia Geral da OEA, antes da expiração do mandato para o qual houverem sido eleitos os membros da Comissão, o Secretário-Geral da OEA pedirá, por escrito, a cada Estado membro da Organização que apresente, dentro do prazo de 90 dias, seus candidatos (art. 4.1 do Estatuto); • Cada Estado-membro da OEA pode propor até 3 candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer Estado-membro da OEA, sendo que quando for proposta CADH - Artigo 34 A Comissão Interamericana de Direitos Humanos compor- se-á de sete membros, que deverão ser pessoas de alta autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos. Estatuto - Artigo 2 1. A Comissão compõe-se de sete membros, que devem ser pessoas de alta autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos. 2. A Comissão representa todos os Estados membros da Organização. Regulamento Artigo 1. Natureza e composição 1. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos é um órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos que tem como função principal promover a observância e a defesa dos direitos humanos e servir como órgão consultivo da Organização em tal matéria. 2.A Comissão representa todos os Estados membros que compõem a Organização. 3.A Comissão compõe-se de sete membros, eleitos a título pessoal pela Assembleia Geral da Organização, que deverão ser pessoas de alta autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos. CADH – Art. 37, 2. Não pode fazer parte da Comissão mais de um nacional de um mesmo Estado. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 108 Disponibilizado exclusivamente para . uma lista de 3 candidatos, pelo menos 1 deles deverá ser nacional de Estado diferente do proponente (art. 36 da CADH e art. 3.2 do Estatuto). Note que, ao contrário da exigência feita ao Estado que pretenda se qualificar para propor candidato ao cargo de juiz da Corte IDH, para indicar candidato ao cargo de membro da CIDH, o Estado não precisa ter aderido aos termos da Convenção Americana. • O Secretário Geral preparará uma lista em ordem alfabética dos candidatos que forem apresentados e a encaminhará aos Estados membros da Organização, pelo menos 30 dias antes da Assembleia Geral seguinte (art. 4.2 do Estatuto); • A eleição dos membros da Comissão será feita dentre os candidatos que figurem na lista, pela Assembleia Geral, em votação secreta, e serão declarados eleitos os candidatos que obtiverem maior número de votos e a maioria absoluta dos votos dos Estados membros. Se, para eleger todos os membros da Comissão for necessário efetuar vários escrutínios, serão eliminados sucessivamente, na forma que a Assembleia Geral determinar, os candidatos que receberam menor número de votos (art. 5º do estatuto). Salienta-se que diferentemente do que ocorre na eleição dos juízes da Corte IDH, em que somente Estados-partes da CADH podem votar, todos os Estados-membros da OEA possuem direito de voto na escolha dos membros da CIDH. De acordo com Caio Paiva, a diferença no processo eleitoral dos membros da Corte IDH e da CIDH se justifica porque a Comissão é um órgão da OEA e também da CADH, daí decorrendo sua competência dúplice; ao passo que a Corte é uma instituição judicial autônoma vinculada à Convenção. Salienta-se que ocorrendo vaga na CIDH que não seja decorrente de expiração normal do mandato, a exemplo da renúncia ou da morte de um comissário, o processo de eleição para o preenchimento deve obedecer ao previsto na CADH (art. 38) e no Estatuto da Comissão (art. 11), Eleição de membro para ocupar vaga não decorrente de expiração normal do mandato. Artigo 38 - As vagas que ocorrerem na Comissão, que não se devam à expiração normal do mandato, serão preenchidas pelo Conselho Permanente da Organização, de acordo com o que dispuser o Estatuto da Comissão. Artigo 11 1. Ao verificar-se uma vaga que não se deva à expiração normal de mandato, o Presidente da Comissão notificará imediatamente ao Secretário- Geral da Organização, que, por sua vez, levará a ocorrência ao conhecimento dos Estados membros da Organização. 2. Para preencher as vagas, cada Governo poderá apresentar um candidato, dentro do prazo de 30 dias, a contar da data de recebimento da comunicação do Secretário-Geral na qual informe da ocorrência de vaga. 3. O Secretário-Geral preparará uma lista, em ordem alfabética, dos candidatos e a encaminhará ao Conselho Permanente da Organização, o qual preencherá a vaga. 4. Quando o mandato expirar dentro dos seis meses seguintes à data em que ocorrer uma vaga, esta não será preenchida. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 109 Disponibilizado exclusivamente para . 3.5.3. Mandato O mandato será de quatro anos – contato a partir de 01/01 do ano seguinte ao da eleição – , sendo possível apenas uma reeleição. A previsão do art. 37.1 da CADH visa evitar riscos à continuidade dos trabalhos, caso ocorresse uma substituição total da composição da CIDH a cada eleição. Por isso, adotou o mecanismo da renovação parcial, estabelecendo que o mandato de três dos comissários eleitos para a primeira composição expiraria após 2 anos, garantindo assim, sucessivamente, que novos membros sempre trabalhem por um período com membros escolhidos na eleição anterior. 3.5.4. Regime de incompatibilidades A condição de membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos é incompatível com o exercício de atividades que possam afetar sua independência e sua imparcialidade, ou a dignidade ou o prestígio do cargo na Comissão (art. 8.1 do Estatuto da CIDH). No momento de assumir suas funções os membros se comprometerão a não representar a vítima ou seus familiares nem Estados em medidas cautelares, petições e casos individuais perante a CIDH, por um prazo de dois anos, contados a partir da expiração de seu mandato como membros da Comissão (art. 4.1 do Regulamento da CIDH). O procedimento para verificação da incompatibilidade está previsto no Regulamento (art. 4º) e no Estatuto (art. 8.2) da CIDH. Basicamente: • A Comissão, com o voto afirmativo de pelo menos 5 de seus membros, determinará se existe uma situação de incompatibilidade (art. 4.2 do Regulamento); • A Comissão, antes de tomar uma decisão, ouvirá o membro ao qual se atribui a incompatibilidade (art. 4.3 do Regulamento); • A decisão sobre incompatibilidade, com todos os seus antecedentes, será enviada por intermédio do Secretário-Geral à Assembleia-Geral da Organização, que decidirá a respeito (art. 4.4 do Regulamento); CADH - Artigo 37, 1. Os membros da Comissão serão eleitos por quatro anos e só poderão ser reeleitos uma vez, porém o mandato de três dos membros designados na primeira eleição expirará ao cabo de dois anos. Logo depois da referida eleição, serão determinados por sorteio, na Assembleia Geral, os nomes desses três membros. Estatuto - Artigo 6: Os membros da Comissão serão eleitos por quatro anos e só poderão ser reeleitos uma vez. Os mandatos serão contados a partir de 1º de janeiro do ano seguinte ao da eleição. Regulamento - Artigo 2. Duração do mandato Os membros da Comissão serão eleitos por quatro anos e só poderão ser reeleitos uma vez. No caso de não haverem sido eleitos os novos membros da Comissão para substituir os membros cujos mandatos expiram,estes últimos continuarão no exercício de suas funções até que se efetue a eleição dos novos membros. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 110 Disponibilizado exclusivamente para . • A declaração de incompatibilidade pela Assembleia-Geral será adotada pela maioria de 2/3 dos Estados membros da Organização e resultará na imediata separação do cargo de membro da Comissão sem invalidar, porém, as atuações de que este membro houver participado (art. 8.3 do Estatuto). De acordo com Caio Paiva, embora não conste no regime jurídico da CIDH quais cargos ou atividades são incompatíveis com o exercício do mandato de comissário, implicitamente o Regulamento da Comissão admite a compatibilidade das funções de diplomata com o cargo de membro da CIDH quando proíbe o comissário de participar na discussão, investigação, deliberação ou decisão de assunto submetido à Comissão relacionado ao Estado no qual está acreditado ou cumprindo missão especial como diplomata (art. 17.2.a). Por fim, conforme prevê o art. 4.1 do Regulamento da CIDH, no momento de assumir suas funções os membros se comprometerão a não representar a vítima ou seus familiares nem Estados em medidas cautelares, petições e casos individuais perante a CIDH, por um prazo de 2 anos, contados a partir da expiração de seu mandato como membros da Comissão. 3.5.5. Impedimentos Os membros da Comissão não poderão participar na discussão, investigação, deliberação ou decisão de assunto submetido à consideração da Comissão, nos seguintes casos: • se forem cidadãos do Estado objeto da consideração geral ou específica da Comissão, ou se estiverem credenciados ou cumprindo missão especial como diplomatas perante esse Estado; • se houverem participado previamente, a qualquer título, de alguma decisão sobre os mesmos fatos em que se fundamenta o assunto ou se houveram atuado como conselheiros ou representantes de uma das partes interessadas na decisão; Além disso, o membro da Comissão que for nacional ou que residir no território do Estado em que se deva realizar uma observação in loco estará impedido de nela participar. Caio Paiva considera que tal previsão é incompatível com a CADH. Segundo Ledesma, citado por Caio Paiva, “no que concerne às disposições antes referidas, que excluem os comissários de participarem nos assuntos de seus próprios países, há que observar que elas não correspondem nem ao espírito nem à letra da Convenção, que ressalta que os comissários são eleitos a título pessoal e não representando a um Estado; ademais de não serem sinceras, elas são totalmente inúteis, pois não impedem que essa pessoa possa dialogar com seus colegas e trocar impressões sobre o caso. Por conseguinte, resultaria mais saudável o abandono dessas regras, o que estaria em sintonia com o art. 55 da Convenção, aplicável aos juízes da Corte, que não impede o juiz da nacionalidade de algum dos Estados partes no caso de seguir conhecendo do mesmo. Obviamente, isso supõe um mecanismo de seleção que assegure plenamente a independência dos membros da Comissão”. Por fim, a Comissão pode decidir sobre o impedimento a partir de comunicação voluntária do comissário que se considera impedido, bem como por pedido fundamentado por outro membro. 3.6. FUNCIONAMENTO CS – DIREITOS HUMANOS 2022 111 Disponibilizado exclusivamente para . Os aspectos gerais do funcionamento da Comissão estão previstos na CADH, já os aspectos específicos encontram-se no seu Estatuto e no seu Regulamento. 3.6.1. Organização interna A Comissão é composta por: a) DIRETORIA É formada por um Presidente, um Primeiro Vice-Presidente e um Segundo Vice-Presidente, para um mandato de 1 ano, podendo ser reeleitos para seus respectivos cargos apenas uma vez em cada 4 anos. São atribuições do Presidente: • representar a Comissão perante os outros órgãos da Organização e outras instituições; • convocar sessões da Comissão, de conformidade com o Estatuto e o presente Regulamento; • presidir as sessões da Comissão e submeter à sua consideração as matérias que figurem na ordem do dia do programa de trabalho aprovado para o período de sessões respectivo; decidir as questões de ordem levantadas nas discussões da Comissão; e submeter assuntos a votação, de acordo com as disposições pertinentes deste Regulamento; • dar a palavra aos membros, na ordem em que a tenham pedido; • promover os trabalhos da Comissão e velar pelo cumprimento do seu orçamento- programa; • apresentar relatório escrito à Comissão, ao iniciar esta seus períodos de sessões, sobre as atividades desenvolvidas nos períodos de recesso em cumprimento às funções que lhe são conferidas pelo Estatuto e pelo presente Regulamento; • velar pelo cumprimento das decisões da Comissão; • assistir às reuniões da Assembleia Geral da Organização e participar nas atividades que se relacionem com a promoção e a proteção dos direitos humanos; • trasladar-se à sede da Comissão e nela permanecer durante o tempo que considerar necessário para o cumprimento de suas funções; • designar comissões especiais, comissões ad hoc e subcomissões, constituídas por vários membros, para cumprir qualquer mandato relacionado com sua competência; e • exercer quaisquer outras atribuições que lhe sejam conferidas neste Regulamento; b) SECRETARIA EXECUTIVA A Secretaria Executiva preparará os projetos de relatórios, resoluções, estudos e outros trabalhos de que seja encarregada pela Comissão ou o Presidente. Ademais, receberá e fará CS – DIREITOS HUMANOS 2022 112 Disponibilizado exclusivamente para . tramitar a correspondência e as petições e comunicações dirigidas à Comissão. A Secretaria Executiva também poderá solicitar às partes interessadas a informação que considere pertinente, de acordo com o disposto no presente Regulamento. É formada por um Secretário Executivo (uma pessoa com independência e alta autoridade moral, com experiência e trajetória reconhecida na área de direitos humanos), por pelo menos um Secretário Executivo Adjunto e pelo pessoal profissional, técnico e administrativo necessário para o desempenho de suas atividades. O processo de escolha do Secretário Executivo está disciplinado no art. 11.3 do Regulamento. Basicamente: • A CIDH abre um concurso público para preenchimento da vaga e publica os critérios e as qualificações para o cargo, bem como a descrição das tarefas a serem desempenhadas; • A CIDH examina as inscrições recebidas e seleciona de 3 a 5 finalistas, os quais são entrevistados para o cargo; • Os currículos dos finalistas são publicados, inclusive no endereço eletrônico da Comissão, um mês antes da seleção final, para que sejam recebidos comentários sobre os candidatos; • A CIDH determina o candidato mais qualificado, levando em conta os comentários, por maioria absoluta dos seus membros; • Após, o Secretário-Geral da OEA procede com a nomeação do Secretário Executivo da CIDH, que exerce um mandato de 4 anos, podendo ser renovado uma vez. Importante consignar que, antes de assumir o cargo e durante o mandato, o Secretário Executivo e o Secretário Executivo Adjunto devem revelar à CIDH todo interesse que possa estar em conflito com o exercício de suas funções. 3.6.2. Período de sessões A Comissão realizará pelo menos dois períodos ordinários de sessões por ano, no lapso que haja determinado previamente, bem como tantas sessões extraordinárias quantas considerem necessárias. Antes do término do período de sessões, a Comissão determinará a data e o lugar do período de sessões seguinte. As sessões da Comissão serão realizadas em sua sede. Entretanto, a Comissão, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, poderá decidir reunir-se em outro lugar, com a anuência ou a convite do respectivo Estado. O membro que, por doença ou por qualquer motivo grave, se vir impedido de assistir,no todo ou em parte, a qualquer período de sessões ou reunião da Comissão, ou de desempenhar qualquer outra função, deverá notificá-lo, com a brevidade possível, ao Secretário Executivo, que informará o Presidente e fará constar essa notificação em ata. 3.6.3. Relatorias e grupos de trabalho CS – DIREITOS HUMANOS 2022 113 Disponibilizado exclusivamente para . De acordo com Caio Paiva, com o intuito de acompanhar o processo natural do direito internacional dos direitos humanos, reconhecendo as suas especificidades, seus desafios e as demandas de cada grupo de vulneráveis, a Comissão Interamericana passou a criar, a partir de 1990, relatorias temáticas para fortalecer, impulsionar e sistematizar o seu próprio trabalho. O art. 15 do Regulamento da Comissão disciplina a forma de criação. Vejamos: Artigo 15. Relatorias e grupos de trabalho 1. A Comissão poderá atribuir tarefas ou mandatos específicos a um dos seus membros, ou grupo de membros, para a preparação dos seus períodos de sessões ou para a execução de programas, estudos ou projetos especiais. 2. A Comissão poderá designar um dos seus membros como responsável pelas relatorias de país e, neste caso, assegurará que cada Estado membro da OEA conte com um relator ou relatora. Na primeira sessão do ano ou quando seja necessário, a CIDH considerará o funcionamento e trabalho das relatorias de país e decidirá sobre sua designação. Ademais, os relatores ou relatoras de país exercerão suas responsabilidades de acompanhamento que a Comissão lhes incumba e, ao menos uma vez ao ano, informarão ao plenário sobre as atividades realizadas. 3. A Comissão poderá criar relatorias com mandatos relacionados ao cumprimento das suas funções de promoção e proteção dos direitos humanos em relação às áreas temáticas de especial interesse para este fim. Os fundamentos da decisão serão consignados em uma resolução adotada por maioria absoluta de votos dos membros da Comissão, na qual constará: a. a definição do mandato conferido, incluindo suas funções e alcances; e b. a descrição das atividades a serem desenvolvidas e os métodos de financiamento projetados para tal fim. Os mandatos serão avaliados periodicamente e serão sujeitos a revisão, renovação ou término pelo menos a cada três anos. 4. As relatorias indicadas no inciso anterior poderão funcionar tanto como relatorias temáticas, sob a responsabilidade de um membro da Comissão, ou como relatorias especiais, incumbidas a outras pessoas escolhidas pela Comissão. As relatoras ou relatores temáticos serão designados pela Comissão em sua primeira sessão do ano ou em qualquer outro momento que seja necessário. As pessoas a cargo das relatorias especiais serão designadas pela Comissão conforme os seguintes parâmetros: a. chamado a concurso aberto para a ocupação de cargo, com publicidade dos critérios a serem utilizados na seleção dos postulantes, dos seus antecedentes de idoneidade para o cargo, e da resolução da CIDH aplicável ao processo de seleção; b. eleição por voto favorável da maioria absoluta dos membros da CIDH e publicidade dos fundamentos da decisão. Antes do processo de designação e durante o exercício do seu cargo, os relatores e relatoras especiais devem revelar à Comissão qualquer interesse que possa conflitar com o mandato da relatoria. Os relatores e relatoras especiais exercerão seu cargo por um período de três anos renováveis por um período adicional, salvo que o mandato da relatoria conclua antes de cumprir este período. A Comissão, por decisão da maioria absoluta dos seus membros, poderá decidir substituir um relator ou relatora especial por motivo razoável. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 114 Disponibilizado exclusivamente para . 3.6.4. Quórum de votação Para constituir quórum será necessária a presença da maioria absoluta dos membros da Comissão, ou seja, quatro comissários. Igualmente, a Comissão, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, decidirá a respeito dos seguintes assuntos: • Eleição dos membros da Diretoria da Comissão; • Interpretação do presente Regulamento; • Aprovação de relatório sobre a situação dos direitos humanos em determinado Estado; e • Quando essa maioria estiver prevista na Convenção Americana, no Estatuto ou no presente Regulamento. Em relação a outros assuntos, será suficiente o voto da maioria dos membros presentes. 3.7. IDIOMAS DE TRABALHO Os idiomas oficiais da Comissão serão o espanhol, o francês, o inglês e o português. Os idiomas de trabalho serão os que a Comissão determinar, conforme os idiomas falados por seus membros (art. 22.1 Regulamento). 4. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS 4.1. CONCEITO Trata-se de uma instituição judicial autônoma do Sistema Interamericano cujo objetivo é aplicar e interpretar a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, podendo também, no 5. As pessoas a cargo das relatorias especiais exercerão suas funções em coordenação com a Secretaria Executiva, a qual poderá delegar-lhes a preparação de informes sobre petições e casos. 6. As pessoas a cargo das relatorias temáticas e especiais exercerão suas atividades em coordenação com aquelas a cargo das relatorias de país. Os relatores e relatoras apresentarão seus planos de trabalho ao plenário da Comissão para aprovação. Entregarão um relatório escrito à Comissão sobre os trabalhos realizados, ao menos uma vez ao ano. 7. O exercício das atividades e funções previstas nos mandatos das relatorias ajustar-se-ão às normas do presente Regulamento e às diretivas, códigos de conduta e manuais que a Comissão possa adotar. 8. Os relatores e relatoras deverão informar ao plenário da Comissão questões que, ao chegar a seu conhecimento, possam ser consideradas como matéria de controvérsia, grave preocupação ou especial interesse da Comissão. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 115 Disponibilizado exclusivamente para . exercício da sua competência consultiva, expandir a atividade interpretativa para outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos estados americanos (art. 1º do Estatuto da Corte IDH). Conforme já mencionado, a Corte integra apenas a CADH não integra a OEA. Contudo, a OEA participa nos seguintes trabalhos da Corte: • Escolha dos juízes da Corte por meio de sua Assembleia-Geral (art. 53.1 da CADH); • Determina o lugar da sede da Corte por meio da sua Assembleia-Geral (art. 58.1 da CADH); • Dirige – no que não for incompatível com a independência da Corte – a Secretaria da Corte por meio do seu Secretário-Geral (art. 59 da CADH); • Aprova o Estatuto da Corte por meio da sua Assembleia-Geral (art. 60 da CADH); • Auxilia na supervisão do cumprimento das decisões da Corte, devendo esta submeter à Assembleia-Geral, em cada período ordinário de sessões, um relatório sobre as suas atividades do ano anterior (art. 65 da CADH); Artigo 65 - A Corte submeterá à consideração da Assembleia Geral da Organização, em cada período ordinário de sessões, um relatório sobre suas atividades no ano anterior. De maneira especial, e com as recomendações Artigo 1. Natureza e regime jurídico A Corte Interamericana de Direitos humanos é uma instituição judiciária autônoma cujo objetivo é a aplicação e a interpretação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. A Corte exerce suas funções em conformidade com as disposições da citada Convenção e deste Estatuto. Artigo 53, 1. Os juízes da Corte serão eleitos, em votação secreta e pelo voto da maioria absoluta dos Estados Partes na Convenção, na Assembleia Geral da Organização, de uma lista de candidatos propostos pelos mesmos Estados. Artigo 58, 1. A Corte terá sua sede no lugar que for determinado, na Assembleia Geral da Organização, pelos Estados Partes na Convenção, mas poderá realizar reuniões noterritório de qualquer Estado membro da Organização dos Estados Americanos em que o considerar conveniente pela maioria dos seus membros e mediante prévia aquiescência do Estado respectivo. Os Estados Partes na Convenção podem, na Assembleia Geral, por dois terços dos seus votos, mudar a sede da Corte. Artigo 59 - A Secretaria da Corte será por esta estabelecida e funcionará sob a direção do Secretário da Corte, de acordo com as normas administrativas da Secretaria-Geral da Organização em tudo o que não for incompatível com a independência da Corte. Seus funcionários serão nomeados pelo Secretário-Geral da Organização, em consulta com o Secretário da Corte. Artigo 60 - A Corte elaborará seu estatuto e submetê-lo-á à aprovação da Assembleia Geral e expedirá seu regimento. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 116 Disponibilizado exclusivamente para . • Aprova o orçamento da Corte por meio da sua Assembleia-Geral (art. 72 da CADH); • Exerce poder disciplinar e sancionatório sobre os juízes da Corte por meio da sua Assembleia-Geral (art. 73 da CADH). Artigo 73 - Somente por solicitação da Comissão ou da Corte, conforme o caso, cabe à Assembleia Geral da Organização resolver sobre as sanções aplicáveis aos membros da Comissão ou aos juízes da Corte que incorrerem nos casos previstos nos respectivos estatutos. Para expedir uma resolução, será necessária maioria de dois terços dos votos dos Estados Membros da Organização, no caso dos membros da Comissão; e, além disso, de dois terços dos votos dos Estados Partes na Convenção, se se tratar dos juízes da Corte. 4.2. ORIGEM A origem da Corte é convencional, tendo em vista que foi criada pela Convenção Americana de Direitos Humanos. Conforme os ensinamentos de Caio Paiva, a Corte demorou para exercer a sua função contenciosa, vindo a proferir a primeira sentença de mérito somente em julho de 1988, quando julgou o Caso Velásquez Rodríguez vs. Honduras. Isso deve-se à inércia da Comissão Interamericana para submeter casos à Corte e ao lento processo de aceitação da competência contenciosa da Corte pelos Estados. Salienta-se, portanto, que os primeiros anos da Corte IDH foram marcados pelo exercício exclusivo da competência consultiva, tendo emitido nove delas até o ano em que proferiu a primeira sentença de mérito. 4.3. REGIME JURÍDICO A Corte Interamericana é regida juridicamente pela CADH (artigos 52 a 69), pelo seu Estatuto (disposições essencialmente orgânica, que desenvolvem e complementam a Convenção Americana), elaborado por ela e aprovado pela Assembleia-Geral da OEA em 1979, e pelo seu Regulamento (trata predominantemente de questões processuais), expedido por ela própria. 4.4. COMPOSIÇÃO pertinentes, indicará os casos em que um Estado não tenha dado cumprimento a suas sentenças. Artigo 72 - Os juízes da Corte e os membros da Comissão perceberão honorários e despesas de viagem na forma e nas condições que determinarem os seus estatutos, levando em conta a importância e independência de suas funções. Tais honorários e despesas de viagem serão fixados no orçamento-programa da Organização dos Estados Americanos, no qual devem ser incluídas, além disso, as despesas da Corte e da sua Secretaria. Para tais efeitos, a Corte elaborará o seu próprio projeto de orçamento e submetê-lo-á à aprovação da Assembleia Geral, por intermédio da Secretaria-Geral. Esta última não poderá nele introduzir modificações. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 117 Disponibilizado exclusivamente para . 4.4.1. Membros A Corte é composta por sete juízes. 4.4.2. Requisitos para o cargo Os juízes integrantes da Corte devem: • Ter independência Ao estabelecer que os juízes da Corte IDH são eleitos a título pessoal, a CADH quis ressaltar que os juízes não representam os Estados do qual são nacionais ou os Estados que os propuseram como candidatos. • Ser nacional de algum dos Estados-membros da OEA. Não se exige que o Estado do qual o candidato é nacional tenha ratificado a CADH e aceitado sua jurisdição contenciosa. • Ter a mais alta autoridade moral. Trata-se de um requisito muito genérico e de difícil definição. Segundo Caio Paiva, a Convenção parece exigir uma autoridade moral dos juízes da Corte IDH ainda mais elevada do que aquela requerida dos membros da CIDH, tanto que a reforça com a expressão “mais”. Além disso, segundo Caio Paiva, a dificuldade de se conceituar mais alta autoridade moral não impede que se estabeleçam condições essenciais para que alguém dispute a vaga de juiz da Corte Interamericana, entre as quais: a. ter reconhecimento público pela atuação pessoal e profissional na defesa dos direitos humanos; b. apoiar uma agenda progressista no campo da proteção de grupos vulneráveis; e c. não ter participado de violações de direitos humanos nem ter assumido posições ideológicas incompatíveis com a dignidade humana e com a proteção dos direitos humanos. • Ser jurista Deve reunir as condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado que os propuser como candidatos. Artigo 52 1. A Corte compor-se-á de sete juízes, nacionais dos Estados membros da Organização, eleitos a título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida competência em matéria de direitos humanos, que reúnam as condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado que os propuser como candidatos. 2. Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 118 Disponibilizado exclusivamente para . Perceba que se exige a formação jurídica para integrar a Corte IDH, diferentemente da exigência que se faz para integrar a CIDH. • Ter reconhecida competência em matéria de direitos humanos Não basta ser jurista para integrar a Corte Interamericana. Exige-se um conhecimento especializado na matéria de direitos humanos. É importante ressaltar que essa competência não está necessariamente ligada à formação acadêmica ou à produção doutrinária, podendo decorrer também da atuação profissional da pessoa. 4.4.3. Eleição O processo de escolha dos juízes da Corte Interamericana está previsto no art. 53 da CADH e nos artigos 6º a 9º do seu Estatuto. Observe: Artigo 53 1. Os juízes da Corte serão eleitos, em votação secreta e pelo voto da maioria absoluta dos Estados Partes na Convenção, na Assembleia Geral da Organização, de uma lista de candidatos propostos pelos mesmos Estados. 2. Cada um dos Estados Partes pode propor até três candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer outro Estado membro da Organização dos Estados Americanos. Quando se propuser uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de Estado diferente do proponente. Artigo 6. Data de eleição dos juízes 1. A eleição dos juízes far-se-á, se possível, no decorrer do período de sessões da Assembleia Geral da OEA, imediatamente anterior à expiração do mandato dos juízes cessantes. 2. As vagas da Corte decorrentes de morte, incapacidade permanente, renúncia ou remoção dos juízes serão preenchidas, se possível, no próximo período de sessões da Assembleia Geral da OEA. Entretanto, a eleição não será necessária quando a vaga ocorrer nos últimos seis meses do mandato do juiz que lhe der origem. 3. Se for necessário, para preservar o quórum da Corte, os Estados Partes da Convenção, em sessão do Conselho Permanente da OEA, por solicitação do Presidente da Corte, nomearão um ou mais juízes interinos, que servirão até que sejam substituídos pelos juízes eleitos. Artigo 7. Candidatos 1. Os juízes são eleitos pelos Estados Partes da Convenção, na Assembleia Geral da OEA,de uma lista de candidatos propostos pelos mesmos Estados. 2. Cada Estado Parte pode propor até três candidatos, nacionais do Estado que os propõe ou de qualquer outro Estado membro da OEA. 3. Quando for proposta uma lista tríplice, pelo menos um dos candidatos deve ser nacional de um Estado diferente do proponente. Artigo 8. Eleição: Procedimento prévio CS – DIREITOS HUMANOS 2022 119 Disponibilizado exclusivamente para . 4.4.4. Mandato Os juízes da Corte serão eleitos para um mandato de seis anos e só poderão ser reeleitos uma vez. O juiz eleito para substituir outro cujo mandato não haja expirado, completará o mandato deste. Os mandatos dos juízes serão contados a partir de 1º de janeiro do ano seguinte ao de sua eleição e estender-se-ão até 31 de dezembro do ano de sua conclusão. O mandato de três dos juízes designados na primeira eleição expirará ao cabo de três anos. Imediatamente depois da referida eleição, determinar-se-ão por sorteio, na Assembleia Geral, os nomes desses três juízes, visa evitar o risco à continuidade dos trabalhos. De acordo com Caio Paiva, o princípio ou a garantia do juiz natural recebe um tratamento mais amplo na normativa dos tratados que dispõe sobre o funcionamento de tribunais internacionais, projetando um vínculo do julgador com o caso que pode superar o término do mandato. Nesse sentido: 4.4.5. Juiz ad hoc Está disciplinado no art. 55 da CADH. Vejamos: Artigo 55 1. Seis meses antes da realização do período ordinário de sessões da Assembleia Geral da OEA, antes da expiração do mandato para o qual houverem sido eleitos os juízes da Corte, o Secretário-Geral da OEA solicitará, por escrito, a cada Estado Parte da Convenção, que apresente seus candidatos dentro do prazo de noventa dias. 2. O Secretário-Geral da OEA preparará uma lista em ordem alfabética dos candidatos apresentados e a levará ao conhecimento dos Estados Partes, se for possível, pelo menos trinta dias antes do próximo período de sessões da Assembleia Geral da OEA. 3. Quando se tratar de vagas da Corte, bem como nos casos de morte ou de incapacidade permanente de um candidato, os prazos anteriores serão reduzidos de maneira razoável a juízo do Secretário-Geral da OEA. Artigo 9. Votação 1. A eleição dos juízes é feita por votação secreta e pela maioria absoluta dos Estados Partes da Convenção, dentre os candidatos a que se refere o artigo 7 deste Estatuto. 2. Entre os candidatos que obtiverem a citada maioria absoluta, serão considerados eleitos os que receberem o maior número de votos. Se forem necessárias várias votações, serão eliminados sucessivamente os candidatos que receberem menor número de votos, segundo o determinem os Estados Partes. Art. 54, 3. Os juízes permanecerão em funções até o término dos seus mandatos. Entretanto, continuarão funcionando nos casos de que já houverem tomado conhecimento e que se encontrem em fase de sentença e, para tais efeitos, não serão substituídos pelos novos juízes eleitos. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 120 Disponibilizado exclusivamente para . Importante consignar que a Corte IDH, na Opinião Consultiva 20/2009, entendeu que a figura do juiz ad hoc somente deve ser admitida nas demandas originadas por comunicações interestatais; logo, nas demandas iniciadas pela Comissão Interamericana, o Estado demandado não possui o direito de indicar juiz nacional ad hoc. Por fim, na mesma OP, a Corte IDH restringiu a possibilidade de o juiz que possuir a mesma nacionalidade do Estado réu atuar no caso, somente a admitindo nas demandas interestatais. 4.5. JURISDIÇÃO CONSULTIVA DA CORTE 4.5.1. Previsão normativa Está disciplinada nos arts. 64 e 65 da CADH e nos arts. 70 a 75 do Regulamento da Corte. Vejamos: 4.5.2. Finalidade A finalidade da função consultiva da Corte IDH é obter uma interpretação judicial sobre uma ou várias disposições da CADH ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos estados americanos. 1. O juiz que for nacional de algum dos Estados Partes no caso submetido à Corte, conservará o seu direito de conhecer do mesmo. 2. Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for de nacionalidade de um dos Estados Partes, outro Estado Parte no caso poderá designar uma pessoa de sua escolha para fazer parte da Corte na qualidade de juiz ad hoc. 3. Se, dentre os juízes chamados a conhecer do caso, nenhum for da nacionalidade dos Estados Partes, cada um destes poderá designar um juiz ad hoc. 4. O juiz ad hoc deve reunir os requisitos indicados no artigo 52. 5. Se vários Estados Partes na Convenção tiverem o mesmo interesse no caso, serão considerados como uma só Parte, para os fins das disposições anteriores. Em caso de dúvida, a Corte decidirá. Artigo 64 1. Os Estados membros da Organização poderão consultar a Corte sobre a interpretação desta Convenção ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados no capítulo X da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires. 2. A Corte, a pedido de um Estado membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os mencionados instrumentos internacionais. Artigo 65 - A Corte submeterá à consideração da Assembleia Geral da Organização, em cada período ordinário de sessões, um relatório sobre suas atividades no ano anterior. De maneira especial, e com as recomendações pertinentes, indicará os casos em que um Estado não tenha dado cumprimento a suas sentenças. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 121 Disponibilizado exclusivamente para . 4.5.3. Alcance Salienta Caio Paiva que a amplitude da competência consultiva da Corte IDH não se confunde com uma ausência de limites. De acordo com a Corte o pedido de opinião consultiva: • não pode ter como objetivo determinar o alcance dos compromissos internacionais assumidos por Estados que não sejam membros do sistema interamericano; • não pode buscar a interpretação das normas que regulam a estrutura ou o funcionamento de órgãos ou organismos internacionais alheios ao sistema interamericano; • não deve disfarçar um caso contencioso ou pretender de forma prematura um pronunciamento sobre um tema ou assunto que poderá eventualmente ser submetido à Corte através de um caso contencioso; • não deve ser utilizada como um mecanismo para obter um pronunciamento indireto sobre um assunto em litígio ou em controvérsia a nível interno; • não deve ser utilizada como um instrumento de um debate político interno; • não deve abranger, exclusivamente, temas sobre os quais a Corte já tenha se pronunciado em sua jurisprudência; • não deve procurar a resolução de questões de fato, mas sim buscar o sentido, o propósito e a razão das normas internacionais sobre direitos humanos e, sobretudo, coadjuvar os Estados membros e os órgãos da OEA para que cumpram de maneira efetiva suas obrigações internacionais; e • não deve partir de especulações abstratas, sem uma previsível aplicação a situações concretas que justifiquem o interesse de que seja emitida uma opinião consultiva. Sobre essa questão, a Corte IDH já esclareceu, porém, que o mero fato de que existam casos contenciosos relacionados com o tema da consulta ou petições ante a CIDH não basta para que se inviabilize o pedido de opinião consultiva. 4.5.4. Características do procedimento consultivo No procedimento consultivo há ausência de partes (demandante e demandado), de sentença, de sanções e reparações. Existe apenas a emissão de uma opinião consultiva, com caráter multilateral e não litigioso. Além disso, trata-se de uma competência obrigatória, ativada automaticamente com a ratificação pelo Estado.4.5.5. Objeto da consulta Está disciplinado no art. 64 da CADH. Artigo 64 CS – DIREITOS HUMANOS 2022 122 Disponibilizado exclusivamente para . OPINIÃO CONSULTIVA DE INTERPRETAÇÃO (art. 64.1 da CADH) OPINIÃO CONSULTIVA DE COMPATIBILIDADE (art. 64.2 da CADH) Visa a interpretação da Convenção Americana ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos. Obs.: a Corte IDH também já reconheceu a sua competência para interpretar a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, que, mesmo não tendo a natureza jurídica de um tratado, contém e define direitos humanos referidos na Carta da OEA, podendo a Declaração, portanto, ser objeto de opinião quando isso seja necessário para que a Corte interprete disposições da CADH ou da Carta da OEA. Visa examinar a compatibilidade entre qualquer lei interna e os mencionados instrumentos internacionais Obs.: abrange toda legislação nacional e todas as normas jurídicas de qualquer natureza, incluindo disposições constitucionais. Além disso, a Corte IDH entende que pode ser consultada também sobre a compatibilidade de projetos de lei ou de emenda constitucional, sob pena de obrigar os Estados a primeiro aprovarem uma lei possivelmente contrária a tratados internacionais concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos para, somente depois, solicitarem a opinião consultiva. São legitimados para solicitar uma opinião consultiva de interpretação os estados membros da OEA (independentemente de terem ratificado a CADH) e os órgãos previstos no art. 53 da Carta da OEA, que são os seguintes: a Assembleia-Geral; a Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores; os Conselhos; a Comissão Jurídica Interamericana; a Comissão Interamericana de Direitos Humanos; a Secretaria-Geral; as Conferências Especializadas; e os Organismos Especializados. Somente os estados membros da OEA podem solicitar uma opinião consultiva de compatibilidade. Requisitos (art. 70 do Regulamento): a) formular com precisão as perguntas; b) especificar as disposições que devem ser interpretadas; Requisitos (art. 72 do Regulamento): a) Instruir o pedido de cópia das disposições internas a que se refere a consulta; b) indicar as disposições de direito interno, bem como as da Convenção ou de outros tratados 1. Os Estados membros da Organização poderão consultar a Corte sobre a interpretação desta Convenção ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados no capítulo X da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires. 2. A Corte, a pedido de um Estado membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os mencionados instrumentos internacionais. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 123 Disponibilizado exclusivamente para . c) indicar as considerações que a originaram; e d) informar o nome e endereço do Agente ou dos Delegados que comparecerão no procedimento perante a Corte. concernentes à proteção dos direitos humanos que são objeto da consulta; c) indicar as perguntas específicas sobre as quais se pretende obter o parecer da Corte; e d) indicar o nome e endereço do Agente do solicitante. 4.5.6. Procedimento de emissão de opinião consultiva Previsto no art. 73 do Regulamento da Corte, observe: Perceba que há cinco fases no procedimento de emissão de opinião consultiva, são elas: 1ªFase – Admissibilidade; 2ªFase – Notificação da consulta; 3ªFase – Observações escritas; 4ªFase – Audiência pública; 5ªFase – Pronunciamento da Corte. Importante salientar que se o solicitante da opinião consultiva decide retirá-la, a Corte IDH não fica impedida de exercer a sua competência consultiva, isto porque o solicitante da opinião consultiva não é o único titular de um interesse legítimo no resultado do procedimento. Portanto, a desistência ou retirada manifestada pelo solicitante não a impede que a Corte exerça a sua competência consultiva. 4.5.7. Efeitos jurídicos das opiniões consultivas Artigo 73. Procedimento 1. Uma vez recebido um pedido de parecer consultivo, o Secretário enviará cópia deste a todos os Estados membros, à Comissão, ao Conselho Permanente por intermédio da sua Presidência, ao Secretário Geral e aos órgãos da OEA a cuja esfera de competência se refira o tema da consulta, se for pertinente. 2. A Presidência fixará um prazo para que os interessados enviem suas observações por escrito. 3. A Presidência poderá convidar ou autorizar qualquer pessoa interessada para que apresente sua opinião por escrito sobre os itens submetidos a consulta. Se o pedido se referir ao disposto no artigo 64.2 da Convenção, poderá fazê-lo mediante consulta prévia com o Agente. 4. Uma vez concluído o procedimento escrito, a Corte decidirá quanto à conveniência ou não de realizar o procedimento oral e fixará a audiência, a menos que delegue essa última tarefa à Presidência. No caso do previsto no artigo 64.2 da Convenção, será realizada uma consulta prévia ao Agente. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 124 Disponibilizado exclusivamente para . Há divergência acerca do tema: 1ª Posição (entendimento da própria Corte e da doutrina majoritária.) - as opiniões consultivas não possuem efeito vinculante, mas sim “efeitos jurídicos inegáveis”. A força das opiniões consultivas decorre, segundo o entendimento da doutrina, da autoridade científica e moral da Corte. 2ª Posição (Caio Paiva) – A Corte é soberana e a última intérprete da Convenção, e como instituição judicial a quem também foi incumbida a função de interpretar os tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos, emite opiniões consultivas com efeito vinculante para os Estados-partes da Convenção, independentemente de estes terem solicitado ou participado do procedimento consultivo. Por fim, o caráter vinculante das opiniões consultivas não as torna executáveis, tendo em vista que no procedimento consultivo não há partes nem litígio. 4.5.8. Opiniões consultivas emitidas pela Corte Até o momento, a Corte emitiu 26 Opiniões Consultivas. A seguir fizemos um pequeno resumo de cada uma delas. OPINIÃO CONSULTIVA 1/82: Foi solicitada pelo Peru. Indagou-se a função consultiva da Corte, definida no art. 64 da CADH, eis que o referido artigo, ao contrário do que ocorre na Convenção Europeia, coloca de forma ampla e vaga a competência consultiva da Corte. Ressalta-se que a função consultiva da Corte não é ilimitada. Os limites para sua atuação são definidos tanto pelo objeto e pela finalidade da CADH quanto pelo traço geral do art. 64. Foi feito um profundo estudo acerca do âmbito da função consultiva da Corte, atribuída pela CADH, para isso se discutiu sobre: tratados bilaterais e multilaterais; tratados subscritos e não subscritos pelos Estados Partes; normas usadas na interpretação da Convenção; a integração do sistema regional com o sistema global (universal). A Corte concluiu que: a) Em regra, a competência consultiva pode ser exercida sobre toda disposição concernente à proteção de Direitos humanos; Artigo 64 - 1. Os Estados-membros da Organização poderão consultar a Corte sobre a interpretação desta Convenção ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados no capítulo X da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires. 2. A Corte, a pedido de um Estado-membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade entre qualquerde suas leis internas e os mencionados instrumentos internacionais. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 125 Disponibilizado exclusivamente para . b) Será exercida sobre qualquer tratado internacional aplicável aos Estados Americanos, independentemente de ser bilateral ou multilateral; c) Frente a um caso concreto, desde que motivadamente, a Corte pode abster-se de manifestar-se, caso entenda que a questão excede os limites de sua função consultiva OPINIÃO CONSULTIVA 2/82 Solicitada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Indagou-se em qual momento, efetivamente, um Estado passa a fazer parte da Convenção e qual momento da ratificação deve ser considerado. Requereu-se, assim, a interpretação dos artigos 74 e 75 da CADH. Analisou-se o procedimento de ratificação e depósito de um tratado, bem como a possibilidade de serem feitas reservas à CADH, nos termos dos artigos 19 e 20 da Convenção de Viena. Artigo 74 - 1. Esta Convenção está aberta à assinatura e à ratificação de todos os Estados-membros da Organização dos Estados Americanos. 2. A ratificação desta Convenção ou a adesão a ela efetuar-se-á mediante depósito de um instrumento de ratificação ou adesão na Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos. Esta Convenção entrará em vigor logo que onze Estados houverem depositado os seus respectivos instrumentos de ratificação ou de adesão. Com referência a qualquer outro Estado que a ratificar ou que a ela aderir ulteriormente, a Convenção entrará em vigor na data do depósito do seu instrumento de ratificação ou adesão. 3. O Secretário Geral comunicará todos os Estados-membros da Organização sobre a entrada em vigor da Convenção. Artigo 75 - Esta Convenção só pode ser objeto de reservas em conformidade com as disposições da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, assinada em 23 de maio de 1969. Artigo 19 - Formulação de Reservas Um Estado pode, ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, formular uma reserva, a não ser que: a) A reserva seja proibida pelo tratado; b) O tratado disponha que só possam ser formuladas determinadas reservas, entre as quais não figure a reserva em questão; ou c) Nos casos não previstos nas alíneas a e b, a reserva seja incompatível com o objeto e a finalidade do tratado. Artigo 20 - Aceitação de Reservas e Objeções às Reservas 1. Uma reserva expressamente autorizada por um tratado não requer qualquer aceitação posterior pelos outros Estados contratantes, a não ser que o tratado assim disponha. 2. Quando se infere do número limitado dos Estados negociadores, assim como do objeto e da finalidade do tratado, que a aplicação do tratado na íntegra entre todas as partes é condição essencial para o consentimento de cada uma delas em obrigar-se pelo tratado, uma reserva requer a aceitação de todas as partes. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 126 Disponibilizado exclusivamente para . A Corte, unanimemente, concluiu que: a) A CADH entra em vigor para um Estado que a ratificou, com ou sem reservas, na data do depósito de seu instrumento de ratificação ou adesão. OPINIÃO CONSULTIVA 3/83 Solicitada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Indagou-se sobre a possibilidade de imposição de pena de morte, bem como para quais crimes será admitida. Foi feita uma análise minuciosa do art. 4º da CADH, trazendo diversas linhas de interpretação, quais sejam: caso de países que aboliram a pena de morte no momento da ratificação da CADH; países que, após abolirem a pena de morte, pretendem reintroduzi-la; tipos de crimes que admitem a pena de morte. 3. Quando o tratado é um ato constitutivo de uma organização internacional, a reserva exige a aceitação do órgão competente da organização, a não ser que o tratado disponha diversamente. 4. Nos casos não previstos nos parágrafos precedentes e a menos que o tratado disponha de outra forma: a) a aceitação de uma reserva por outro Estado contratante torna o Estado autor da reserva parte no tratado em relação àquele outro Estado, se o tratado está em vigor ou quando entrar em vigor para esses Estados; b) a objeção feita a uma reserva por outro Estado contratante não impede que o tratado entre em vigor entre o Estado que formulou a objeção e o Estado autor da reserva, a não ser que uma intenção contrária tenha sido expressamente manifestada pelo Estado que formulou a objeção; c) um ato que manifestar o consentimento de um Estado em obrigar-se por um tratado e que contiver uma reserva produzirá efeito logo que pelo menos outro Estado contratante aceitar a reserva. 5. Para os fins dos parágrafos 2 e 4, e a não ser que o tratado disponha diversamente, uma reserva é tida como aceita por um Estado se este não formulou objeção à reserva quer no decurso do prazo de doze meses que se seguir à data em que recebeu a notificação, quer na data em que manifestou o seu consentimento em obrigar-se pelo tratado, se esta for posterior. Artigo 4º - Direito à vida 1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente. 2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal competente e em conformidade com a lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o delito sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos quais não se aplique atualmente. 3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido. 4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada a delitos políticos, nem a delitos comuns conexos com delitos políticos. 5. Não se deve impor a pena de morte à pessoa que, no momento da perpetração do delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta (no CS – DIREITOS HUMANOS 2022 127 Disponibilizado exclusivamente para . A Corte concluiu que: a) Não pode um país aplicar a pena de morte para os delitos que não estivesse, expressamente, prevista em sua legislação interna; b) O Estado não pode, após a entrada em vigor da CADH, legislar com o intuito de impor a pena de morte aos delitos não previstos, no momento da ratificação. Por exemplo, o Estado admite a pena de morte para o delito de homicídio. Após a adesão a CADH quer aplicar ao latrocínio (antes não prevista). c) A possibilidade de reservas não permite a imposição da pena de morte para outros delitos que não estiverem previstos no momento da ratificação da CADH; d) Estado que aboliu a pena de morte não pode reintroduzi-la. OPINIÃO CONSULTIVA 4/84 Feita pela Costa Rica. Indagou-se a compatibilidade da proposta de alteração legislativa sobre nacionalidade com as normas que tratam sobre o tema (art. 20) na CADH. A Corte concluiu que: a) Não contraria a CADH o estabelecimento de critérios diferentes de naturalização para pessoas nascidas em países diferentes. b) O fato de a Costa Rica ter estabelecido um critério de naturalização para centro americanos, um para ibero-americanos e outros para espanhóis, não ofende à CADH. OPINIÃO CONSULTIVA 5/85 Feita pela Costa Rica. Indagou-se sobre a obrigatoriedade da formação de jornalista e sobre a compatibilidade de tal exigência (ou não) com as leis internas dos Estados. Requereu-se, para tanto, uma interpretação dos artigos 13 e 29 da CADH. Artigo 13 - Liberdade de pensamento e de expressão PIDCP não consta esta proibição), nem aplicá-la a mulher em estado de gravidez. 6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou comutação da pena, os quais podem ser concedidos em todos os casos. Não se pode executar a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de decisão ante a autoridade competente.Artigo 20 - Direito à nacionalidade 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo território houver nascido, se não tiver direito a outra. 3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua nacionalidade, nem do direito de mudá-la. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 128 Disponibilizado exclusivamente para . 1. Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito inclui a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, sem considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de sua escolha. 2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito à censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser expressamente previstas em lei e que se façam necessárias para assegurar: a) o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas; b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral públicas. 3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias e meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de papel de imprensa, de frequências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicação e a circulação de ideias e opiniões. 4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura prévia, com o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral da infância e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2. 5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitamento à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência. Artigo 29 - Normas de interpretação Nenhuma disposição da presente Convenção pode ser interpretada no sentido de: a) permitir a qualquer dos Estados-partes, grupo ou indivíduo, suprimir o gozo e o exercício dos direitos e liberdades reconhecidos na Convenção ou limitá- los em maior medida do que a nela prevista; b) limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade que possam ser reconhecidos em virtude de leis de qualquer dos Estados-partes ou em virtude de Convenções em que seja parte um dos referidos Estados; c) excluir outros direitos e garantias que são inerentes ao ser humano ou que decorrem da forma democrática representativa de governo; d) excluir ou limitar o efeito que possam produzir a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e outros atos internacionais da mesma natureza. Analisou-se a liberdade de expressão e pensamento, fazendo-se, inclusive, uma comparação com as previsões da Comissão Europeia. A Corte concluiu que: a) São incompatíveis com o art. 13 da CADH, a exigência de formação obrigatória de jornalistas e sua inscrição em ordem profissional, pois isso impede o uso pleno dos meios de comunicação, consequentemente, impedem a liberdade de expressão e de transmissão de opiniões. OPINIÃO CONSULTIVA 6/86 Solicitada pelo Uruguai. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 129 Disponibilizado exclusivamente para . Indagou-se a possibilidade de restrições ao uso e ao gozo dos direitos e liberdades reconhecidos na Convenção Americana. Fez-se um estudo detalhado sobre o conceito “leis”, consagrado no art. 30 da CADH. Para isso, ponderou-se que alguns Estados se inserem no sistema common law e outros seguem a tradição romanista. O debate central da OC nº 6 deu-se em relação ao sistema de crises, ou seja, situações extremas e excepcionais em que se admite a restrição de direitos humanos, bem como que tipo de “lei” (qualquer norma jurídica) pode autorizar as restrições. A Corte concluiu que: a) A expressão “lei”, prevista no art. 30 da CADH, significa norma jurídica de caráter geral, emanada de órgãos legislativos constitucionalmente previstos e democraticamente eleitos, elaboradas segundo procedimento previamente estabelecido nas Constituições dos Estados. b) Além disso, a Corte interpretou o significado de termos vagos, como: “bem comum” e “ordem pública”, fazendo um paralelo com o Estado Democrático de Direito e suas finalidades. OPINIÃO CONSULTIVA 7/86 Feita pela Costa Rica. Solicitou-se uma interpretação e a delimitação do alcance do art. 14.1 da CADH, em relação ao art. 11, 1 e 2 da CADH. Além disso, indagou-se a compatibilidade da lei interna do Estado com a CADH quando estabelecer outras formas de exercer o direito de resposta e retificação, previstos na CADH. Artigo 30 - Alcance das restrições As restrições permitidas, de acordo com esta Convenção, ao gozo e exercício dos direitos e liberdades nela reconhecidos, não podem ser aplicadas senão de acordo com leis que forem promulgadas por motivo de interesse geral e com o propósito para o qual houverem sido estabelecidas. Artigo 14 - Direito de retificação ou resposta 1. Toda pessoa, atingida por informações inexatas ou ofensivas emitidas em seu prejuízo por meios de difusão legalmente regulamentados e que se dirijam ao público em geral, tem direito a fazer, pelo mesmo órgão de difusão, sua retificação ou resposta, nas condições que estabeleça a lei. 2. Em nenhum caso a retificação ou a resposta eximirão das outras responsabilidades legais em que se houver incorrido. 3. Para a efetiva proteção da honra e da reputação, toda publicação ou empresa jornalística, cinematográfica, de rádio ou televisão, deve ter uma pessoa responsável, que não seja protegida por imunidades, nem goze de foro especial. Artigo 11 - Proteção da honra e da dignidade 1. Toda pessoa tem direito ao respeito da sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade. 2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou reputação. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 130 Disponibilizado exclusivamente para . Concluiu a Corte que: a) Os direitos estabelecidos no art. 14 da CADH devem ser observados e respeitados, obrigatoriamente pelos Estados. b) A obrigatoriedade ocorre mesmo que tais direitos não se encontrem positivados no ordenamento interno. OPINIÃO CONSULTIVA 8/87 Solicitada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Tratou-se da prisão realizada em período de exceção (estado de sítio ou defesa) e sobre a possiblidade de suspensão do habeas corpus em tais caos. Por fim, sobre a admissibilidade de incomunicabilidade do preso. Analisou-se de forma detalhada o art. 25 e do art. 7º, 6, da CADH. 3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas. Obs.: Antes de expor a conclusão da Corte, é importante destacar que a admissibilidade da OC nº 7 não foi unanime (4x3). A minoria entendeu que a pergunta não foi formulada em relação à compatibilidade ou incompatibilidade, bem como que tal questão estava fora das funções consultivas da Corte, pois visa definir se tais direitos (respostas e retificação) estão ou não garantidos pela ordem interna do Estado. Artigo 25 - Proteção judicial 1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido (moldes do habeas corpus) ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais. 2. Os Estados-partes comprometem-se: a) a assegurar que a autoridade competente prevista pelo sistema legal do Estado decida sobre os direitos de toda pessoa que interpuser tal recurso; b) a desenvolver as possibilidades de recursojudicial; e c) a assegurar o cumprimento, pelas autoridades competentes, de toda decisão em que se tenha considerado procedente o recurso. Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal 1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. 2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas condições previamente fixadas pelas Constituições políticas dos Estados-partes ou pelas leis de acordo com elas promulgadas. 3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários. 4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da detenção e notificada, sem demora, da acusação ou das acusações formuladas contra ela. 5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais e tem o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em CS – DIREITOS HUMANOS 2022 131 Disponibilizado exclusivamente para . Concluiu a Corte que: a) Os procedimentos jurídicos consagrados nos artigos 25.1 e 7º, 6 da CADH não podem ser suspensos, conforme o artigo 27.2 da mesma, porque constituem garantias judiciais indispensáveis para proteção dos direitos e liberdades, que também não podem ser suspensas, conforme a mesma disposição. OPINIÃO CONSULTIVA 9/87: Formulada pelo Uruguai. Indagaram-se quais os direitos não podem ser suspensos em caso de guerra, perigo público ou emergência, com o intuito que fosse dado uma interpretação harmônica dos artigos 27 (2), 25 e 8º da CADH. liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo. 6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura, se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados-partes cujas leis preveem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa. 7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar. Artigo 27 - Suspensão de garantias 1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace a independência ou segurança do Estado-parte, este poderá adotar as disposições que, na medida e pelo tempo estritamente limitados às exigências da situação, suspendam as obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que tais disposições não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem discriminação alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem social. 2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos direitos determinados nos seguintes artigos: 3 (direito ao reconhecimento da personalidade jurídica), 4 (direito à vida), 5 (direito à integridade pessoal), 6 (proibição da escravidão e da servidão), 9 (princípio da legalidade e da retroatividade), 12 (liberdade de consciência e religião), 17 (proteção da família), 18 (direito ao nome), 19 (direitos da criança), 20 (direito à nacionalidade) e 23 (direitos políticos), nem das garantias indispensáveis para a proteção de tais direitos. 3. Todo Estado-parte no presente Pacto que fizer uso do direito de suspensão deverá comunicar imediatamente aos outros Estados-partes na presente Convenção, por intermédio do Secretário Geral da Organização dos Estados Americanos, as disposições cuja aplicação haja suspendido, os motivos determinantes da suspensão e a data em que haja dado por terminada tal suspensão. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 132 Disponibilizado exclusivamente para . Artigo 8º - Garantias judiciais 1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. 2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por um tradutor ou intérprete, caso não compreenda ou não fale a língua do juízo ou tribunal; b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada; c) concessão ao acusado do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa; d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular, com seu defensor; e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo Estado, remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado não se defender ele próprio, nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei; f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no Tribunal e de obter o comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lançar luz sobre os fatos; g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada; e h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior. 3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma natureza. 4. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos. 5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os interesses da justiça. Artigo 25 - Proteção judicial 1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais. 2. Os Estados-partes comprometem-se: a) a assegurar que a autoridade competente prevista pelo sistema legal do Estado decida sobre os direitos de toda pessoa que interpuser tal recurso; b) a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; e c) a assegurar o cumprimento, pelas autoridades competentes, de toda decisão em que se tenha considerado procedente o recurso. Artigo 27 - Suspensão de garantias 1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace a independência ou segurança do Estado-parte, este poderá adotar as CS – DIREITOS HUMANOS 2022 133 Disponibilizado exclusivamente para . Antes de externar suas conclusões, a Corte percorreu uma série de direitos e garantias consagrados na CADH. Destaque-se a preocupação voltada à proteção da liberdade individual da pessoa; a lisura e a imparcialidade diante dos remédios processuais adequados (que devem ser efetivos) à proteção de tais garantias. Para a Corte, a simples previsão de tais direitos no ordenamento interno, sem que o Estado forneça os meios para o seu exercício efetivo, é ineficaz. A Corte concluiu que: a) As garantias judiciais indispensáveis para a proteção dos direitos humanos não suscetíveis de suspensão, segundo o disposto no artigo 27.2 da Convenção, são aquelas as quais se refere expressamente nos artigos 7º(6) e 25.1, consideradas dentro do âmbito e segundoos princípios do artigo 8º e também as inerentes às liberdades individuais. OPINIÃO CONSULTIVA 10/89: Feita pela Colômbia. Indagou-se a possibilidade da Corte, nos termos do art. 64 da CADH, emitir opiniões consultivas acerca da interpretação das normas contidas na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, a qual não se trata de um tratado propriamente dito. disposições que, na medida e pelo tempo estritamente limitados às exigências da situação, suspendam as obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que tais disposições não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem discriminação alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem social. 2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos direitos determinados nos seguintes artigos: 3 (direito ao reconhecimento da personalidade jurídica), 4 (direito à vida), 5 (direito à integridade pessoal), 6 (proibição da escravidão e da servidão), 9 (princípio da legalidade e da retroatividade), 12 (liberdade de consciência e religião), 17 (proteção da família), 18 (direito ao nome), 19 (direitos da criança), 20 (direito à nacionalidade) e 23 (direitos políticos), nem das garantias indispensáveis para a proteção de tais direitos. 3. Todo Estado-parte no presente Pacto que fizer uso do direito de suspensão deverá comunicar imediatamente aos outros Estados-partes na presente Convenção, por intermédio do Secretário Geral da Organização dos Estados Americanos, as disposições cuja aplicação haja suspendido, os motivos determinantes da suspensão e a data em que haja dado por terminada tal suspensão Artigo 64 - 1. Os Estados-membros da Organização poderão consultar a Corte sobre a interpretação desta Convenção ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados no capítulo X da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires. 2. A Corte, a pedido de um Estado-membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os mencionados instrumentos internacionais. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 134 Disponibilizado exclusivamente para . Ao longo da análise, a Corte afirmou que, diante de uma interpretação sistematizada, os Estados-Parte entendem que a Declaração contém e define os direitos humanos essenciais contidos na Carta da OEA. Assim, não se pode interpretar e aplicar a Carta da OEA, em matéria de direitos humanos, sem integrar as normas com ela pertinente, constantes na Declaração. Concluiu a Corte: a) O art. 64 da CADH autoriza a Corte a emitir opiniões consultivas sobre a interpretação da Declaração, dentro dos limites de sua competência em relação à Carta da OEA e a Convenção. OPINIÃO CONSULTIVA 11/90. Feita pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Indagou-se a possibilidade de aplicação das exceções sobre o esgotamento interno, previstas no art. 46 da CADH, aos casos de miserabilidade do requerente e a inexistência de advogado que defenda os interesses do requerente, tendo em vista o temor de represálias. Concluiu a Corte que: a) Por razoes de indigência ou por temor do advogado para representar legalmente um reclamante ante a Comissão, for impedido de utilizar os recursos internos necessários para proteger um direito garantido pela Convenção, não pode exigir seu esgotamento. b) Se um Estado provar a disponibilidade dos recursos internos o reclamante deverá demonstrar que a ele deverá ser aplicada as exceções do artigo 46.2 e que foi impedido de obter a assistência legal necessária para a proteção dos direitos garantidos pela Convenção. OPINIÃO CONSULTIVA 12/91 Artigo 46 - Para que uma petição ou comunicação apresentada de acordo com os artigos 44 ou 45 seja admitida pela Comissão, será necessário: a) que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna, de acordo com os princípios de Direito Internacional geralmente reconhecidos; b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva; c) que a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro processo de solução internacional; e d) que, no caso do artigo 44, a petição contenha o nome, a nacionalidade, a profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa ou pessoas ou do representante legal da entidade que submeter a petição. 2. As disposições das alíneas "a" e "b" do inciso 1 deste artigo não se aplicarão quando: a) não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido processo legal para a proteção do direito ou direitos que se alegue tenham sido violados; b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos recursos da jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los; e c) houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados recursos. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 135 Disponibilizado exclusivamente para . Solicitada pela Costa Rica. Indagou-se a compatibilidade de projeto de lei que reforma a garantia do duplo grau de jurisdição com o art. 8, 2, h da CADH. Artigo 8º - Garantias judiciais 1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. 2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por um tradutor ou intérprete, caso não compreenda ou não fale a língua do juízo ou tribunal; b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada; c) concessão ao acusado do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa; d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular, com seu defensor; e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo Estado, remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado não se defender ele próprio, nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei; f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no Tribunal e de obter o comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lançar luz sobre os fatos; g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada; e h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior. 3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma natureza. 4. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos. 5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os interesses da justiça. Concluiu a Corte que: a) Diante da faculdade de não se manifestar, optou por não responder à consulta, a fim de que não desvirtuasse a aplicação de sua jurisdição contenciosa, pois havia petições contra o Estado solicitante tratando sobre o tema. OPINIÃO CONSULTIVA 13/93 Feita pelos Estados da Argentina e Uruguai. Requereu-se, à luz da interpretação da CADH, uma delimitação de determinadas atribuições da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 136 Disponibilizadoexclusivamente para . Formularam três questões: • Pode a Comissão manifestar-se sobre a regularidade jurídica de leis internas adotadas em consonância com as respectivas Constituições, quanto a razoabilidade, conveniência ou autenticidade? • Pode a Comissão, após ter declarado inadmissível uma solução, pronunciar-se sobre o mérito dela? • Podem-se condensar, em um só, os relatórios previstos nos artigos 50 e 51 da CADH. É possível o relatório do art. 50 ser publicado antes do previsto no art. 51? A Corte concluiu que: a) A Comissão, nos termos dos artigos 41 e 42, é competente para qualificar qualquer norma de direito interno de um Estado, como violadora de obrigações que este tenha assumida ao ratificar a CADH. No entanto, não possui competência para determinar se determinada norma contradiz ou não o ordenamento jurídico interno. Artigo 50 - 1. Se não se chegar a uma solução, e dentro do prazo que for fixado pelo Estatuto da Comissão, esta redigirá um relatório no qual exporá os fatos e suas conclusões. Se o relatório não representar, no todo ou em parte, o acordo unânime dos membros da Comissão, qualquer deles poderá agregar ao referido relatório seu voto em separado. Também se agregarão ao relatório as exposições verbais ou escritas que houverem sido feitas pelos interessados em virtude do inciso 1, "e", do artigo 48. 2. O relatório será encaminhado aos Estados interessados, aos quais não será facultado publicá-lo. 3. Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular as proposições e recomendações que julgar adequadas. Artigo 51 - 1. Se no prazo de três meses, a partir da remessa aos Estados interessados do relatório da Comissão, o assunto não houver sido solucionado ou submetido à decisão da Corte pela Comissão ou pelo Estado interessado, aceitando sua competência, a Comissão poderá emitir, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, sua opinião e conclusões sobre a questão submetida à sua consideração. 2. A Comissão fará as recomendações pertinentes e fixará um prazo dentro do qual o Estado deve tomar as medidas que lhe competir para remediar a situação examinada. 3. Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, se o Estado tomou ou não as medidas adequadas e se pública ou não seu relatório. Artigo 41 - A Comissão tem a função principal de promover a observância e a defesa dos direitos humanos e, no exercício de seu mandato, tem as seguintes funções e atribuições: a) estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América; b) formular recomendações aos governos dos Estados-membros, quando considerar conveniente, no sentido de que adotem medidas progressivas em prol dos direitos humanos no âmbito de suas leis internas e seus preceitos constitucionais, bem como disposições apropriadas para promover o devido respeito a esses direitos; CS – DIREITOS HUMANOS 2022 137 Disponibilizado exclusivamente para . b) Após a declaração de inadmissibilidade de uma petição ou comunicação individual, a Comissão não pode mais manifestar-se sobre ela, em respeito ao princípio da segurança jurídica, bem como ao propósito e objeto da CADH. c) Os artigos 50 e 51 da CADH contemplam relatórios diferentes, embora tenham conteúdos similares. Por isso, o primeiro não pode ser publicado. OPINIÃO CONSULTIVA 14/94. Feita pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Perguntaram-se as consequências da edição de uma lei contrária à CADH, tanto em relação ao Estado quanto aos seus agentes (responsabilização). Concluiu a Corte que: a) A expedição de uma lei manifestadamente contraria as obrigações assumidas por um Estado, ao ratificar ou aderir a Convenção, constitui sua violação. Quando a violação afetar os direitos e as liberdades dos indivíduos, gera a responsabilidade internacional de tal Estado. b) O cumprimento, por parte de agentes ou funcionários do Estado, de uma lei manifestamente contrária a Convenção, gera responsabilidade internacional para o Estado. Quando o ato constituir, por si só, um crime internacional, gera também a responsabilidade internacional dos agentes ou funcionários que o executaram. OPINIÃO CONSULTIVA 15/97. Feita pelo Chile. c) preparar estudos ou relatórios que considerar convenientes para o desempenho de suas funções; d) solicitar aos governos dos Estados-membros que lhe proporcionem informações sobre as medidas que adotarem em matéria de direitos humanos; e) atender às consultas que, por meio da Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos, lhe formularem os Estados-membros sobre questões relacionadas com os direitos humanos e, dentro de suas possibilidades, prestar-lhes o assessoramento que lhes solicitarem; f) atuar com respeito às petições e outras comunicações, no exercício de sua autoridade, de conformidade com o disposto nos artigos 44 a 51 desta Convenção; e g) apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos. Artigo 42 - Os Estados-partes devem submeter à Comissão cópia dos relatórios e estudos que, em seus respectivos campos, submetem anualmente às Comissões Executivas do Conselho Interamericano Econômico e Social e do Conselho Interamericano de Educação, Ciência e Cultura, a fim de que aquela zele para que se promovam os direitos decorrentes das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires. CS – DIREITOS HUMANOS 2022 138 Disponibilizado exclusivamente para . Indagou-se acerca da competência para propor e exercer o direito de consulta e à possibilidade do Estado que formula a consulta ter legitimidade para dela desistir, retirando a matéria consultiva da esfera de competência jurisdicional da Corte. Além disso, sobre a interpretação do art. 51 da CADH. Na apreciação de tais pontos, foi desenvolvida uma profunda interpretação acerca do artigo 64 da Convenção e dos princípios norteadores da jurisdição internacional, no sentido de se estabelecer qual o pressuposto de atuação da jurisdição internacional e quais os alicerces em que se fundamenta. Afirmando-se o procedimento consultivo internacional, que não se mostra relevante apenas às partes envolvidas no caso que ensejou a consulta, mas a todos os Estados membros da OEA, que podem se valer do parecer e votos dissidente e concorrente emitidos, formando um verdadeiro juízo de valor, norteador de sua atuação no cumprimento das obrigações internacionalmente assumidas. A Corte concluiu que: Obs.: Não foi uma decisão unanime. a) O Estado que solicita uma opinião consultiva não é o único interessado nela e mesmo quando pode dela desistir, sua desistência não é vinculativa para a Corte, que pode continuar a tramitação do assunto. b) A Comissão, no exercício das funções conferidas pelo artigo 51, não está autorizada a modificar opiniões, conclusões e recomendações transmitidas a um Estado Membro, salvo nas circunstâncias excepcionais previstas nos artigos 54 a 59. c) O pedido de modificação somente se dará pelas partes interessadas, os peticionários e os Estados, antes da publicação do próprio informe, dentro de um prazo razoável contado a partir de sua notificação. Nessas hipóteses, deve ser conferida a parte oportunidade de se manifestar, de acordo com o princípio da equidade processual. De qualquer forma, sob nenhuma hipótese fica autorizada a expedição de um terceiro parecer. OPINIÃO CONSULTIVA 16/99: Formulada pelo México. Indagou-se acerca do direito de informação sobre a possibilidade de assistência consular, no âmbito das garantias processuais penais. Artigo 51 - 1. Se no prazo de três meses, a partir da remessa aos Estados interessados do relatório da Comissão, o assunto não houver sido