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1 PROCESSOS DE APRENDIZAGEM EM SITUAÇÃO DE INTERNAÇÃO HOSPITALAR 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3 PEDAGOGIA HOSPITALAR .................................................................... 5 LUDICIDADE ........................................................................................... 9 OS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM ............................ 11 A CRIANÇA E O PROCESSO DE HOSPITALIZAÇÃO ......................... 14 O EDUCADOR HOSPITALAR COMO PARTE DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL E COMUNIDADE ESCOLAR ..................................... 16 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 19 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO O atendimento pedagógico hospitalar é significativo e muito importante, além de trazer muitas contribuições tanto para os estudantes hospitalizados como para os profissionais da saúde. Segundo Torres et al. (1990), as consequências de uma internação traumática às crianças podem ser diversas, causando desde o confronto com sua própria identidade decorrente das mudanças de seu corpo em virtude da doença, degradação do sujeito, pois não se vê como sujeito vivo e ativo, portanto, torna-se passivo e reificado, sofrendo com os procedimentos dolorosos e objetificando-se (nutrindo sentimentos de ansiedade, autoflagelo e angústia). As crianças, mesmo afastadas de sua rotina escolar e inseridas em um ambiente frio e hostil, precisam observar e conhecer os diferentes espaços de aprendizagem capazes de fortalecer o pleno desenvolvimento humano, para além dos serviços e cuidados medicamentosos decorrentes da doença. A internação pode levar uma criança a desenvolver traumas, sofrimento psíquico e até depressão, sentindo-se culpada e incapaz cognitivamente pela situação em que se encontra. O pedagogo pode ajudar no enfrentamento das barreiras da doença e na superação da quebra do convívio escolar, animando o estudante hospitalizado a manter viva uma relação harmoniosa e inspiradora que estimule a vontade e o desejo de aprender com o outro, reconhecendo-se e 4 sentindo-se vivo, melhorando com a possibilidade de aprender mesmo em uma situação vulnerável. Neste processo de tratamento de saúde o educando encontra-se fragilizado, desmotivado e com a autoestima afetada, portanto, surge a necessidade de compreender como ocorrem os processos de inter-relação com o educador e o funcionamento deste espaço pedagógico no hospital, para a colaboração e aprimoramento dos estudos na área, tendo em vista a melhora e o ânimo da disposição para aprender com o outro, bem como a possibilidade de fortalecimento social, psicológico e emocional do sujeito internado. Na verdade, “a hospitalização infanto-juvenil tem sido tema de constante interesse entre profissionais da saúde e da educação, ambos preocupados com os possíveis efeitos da mesma sobre os processos de desenvolvimento e de aprendizagem da criança e do adolescente” (NASCIMENTO, 2004, p. 48). Mesmo que muitas vivências com amigos e familiares sofra uma interrupção pela internação, o pedagogo pode colaborar para que a estadia no hospital seja menos dolorosa e fatigante, além de possibilitar que o educando continue a ter contato com os elementos essenciais para o aprender em sociedade. Mas se, por um lado, “o ingresso no hospital pode se tornar uma experiência extremamente complicada e difícil, já que pode ser visto como um lugar gerador de medo, dor e sofrimento”, especialmente para a criança (NASCIMENTO, 2004, p. 48). Por outro lado, podemos pensar que o espaço hospitalar pode significar também um lugar para a construção do pensamento, onde brota a força de ânimo, que acolhe o outro com disponibilidade para aprender a habitar e deixar aprender (HEIDEGGER, 2001, p. 11). 5 PEDAGOGIA HOSPITALAR Há algumas décadas as discussões acerca do conceito de doença e saúde tem estado sempre em pauta. Atualmente a visão de que a saúde está ligada somente a ausência de patologias já foi superada. A partir dessa visão podemos também compreender que o ser humano é complexo, multifatorial. Assim a doença não pode ser tratada somente pelo âmbito biológico. Diante deste quadro surge a Pedagogia Hospitalar de uma demanda eminente na sociedade se expandindo a partir das novas concepções de saúde e doença. Matos e Mugiatti (2014, p. 16) corroboram com essa ideia afirmando que “a Pedagogia hospitalar [...] vem se construir [...] e contribuir para uma inovadora forma de enfrentar os problemas clínicos, com elevado nível de discernimento”. Cabe a este ramo da Pedagogia o compromisso de minimizar as perdas da aprendizagem da criança hospitalizada diante do quadro de doença. Matos e Mugiatti (2014, p.20-21) completam que “[...] se a doença mostra-se multifatorial, não é justo que se realize um atendimento meramente físico, assim atentando apenas para o mais evidente, perturbador e residual descartando os demais aspectos”. Não é de hoje que a literatura científica da tem comprovado o quanto o trabalho pedagógico bem desenvolvido com crianças hospitalizadas tem contribuído significativamente para o sucesso da cura destas crianças. 6 Sobre isto encontramos em Maria Montessori a origem do trabalho do Pedagogo hospitalar. Médica e Pedagoga, vivenciou as agruras das duas grandes Guerras Mundiais acudindo crianças com os mais diversos problemas. Seu maior campo de trabalho foi o hospital e os sujeitos eram crianças hospitalizadas. Montessori criou um método (SEBARROJA, 2003) que, partindo do concreto rumo ao abstrato, possibilitasse os meninos e meninas aprenderem melhor pela experiência direta de procura e descoberta. Para tornar esse processo o mais rico possível, a educadora italiana desenvolveu os materiais didáticos que constituem um dos aspectos mais conhecidos de seu trabalho. São objetos simples, mas muito atraentes, e projetados para provocar o raciocínio. Há materiais pensados para auxiliar todo tipo de aprendizado, do sistema decimal à estrutura da linguagem. O método Montessori é bastante apropriado para a Pedagogia hospitalar por nascer neste ambiente, bem como se configurar numa prática em que as crianças, livremente e pelo toque, vai explorando e decodificando o mundo ao seu redor, sem qualquer cobrança quanto ao tempo e a forma de aprender (MONTESSORI, s/d). Percebe-se uma relação próxima entre o trabalho da Montessori com a pedagogia hospitalar por esta valorizar a suavização do ambiente hostil proporcionado pelasunidades de saúde, além de proporcionar inovações e recurso lúdicos e didáticos que cooperam na recuperação dos pacientes e auxiliam no desenvolvimento da aprendizagem. Neste sentido, o profissional que desenvolve trabalho pedagógico no ambiente hospitalar age como o "médico" que não trata do problema "físico", mas de outras questões que estão relacionadas à doença e que estão fora do alcance da medicina tradicional. O Pedagogo trata das questões educacionais compreendendo o ser humano com um todo e também tendo ciência de que o desenvolvimento do homem acontece durante toda a sua vida. Matos e Mugiatti (2014, p. 24) vão para além desse papel, quando descrevem: 7 Vale ainda ressaltar que o trabalho educacional desenvolvido no ambiente hospitalar deve ser sistematizado e possuir uma intencionalidade, um objetivo a ser conquistado. Por isso esse trabalho desenvolvido muitas vezes em brinquedotecas, extremamente ligado ao desenvolvimento cognitivo e a afetividade, não pode ser confundido com uma simples recreação. Rodrigues, (2012, p. 24), ressalta ainda que: A classe hospitalar, nome dado ao atendimento pedagógico-educacional que ocorre em ambientes de tratamento de saúde, seja na circunstância de internação, como tradicionalmente conhecida, seja na circunstância do atendimento em hospital-dia e hospital-semana ou em serviços de atenção integral à saúde mental (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO; SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 2002, p.13) tem um respaldo legal dadas a compreensão dos artigos art. 205 do direito a educação e art.196 a saúde. Atualmente as Classes Hospitalares contam ainda com o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 2012) do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente em sua Resolução 41/95 (BRASIL,2015), artigo 9 que prevê “[...] o direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar." Conta também, com o documento orientador do trabalho pedagógico no hospital, que frisa: 8 Percebe-se assim, por parte dos organismos de poder público, o discurso de importância do acompanhamento daqueles que estão cursando a Educação Básica e acabam interrompendo suas atividades educacionais por conta de internação, ou tratamento hospitalar. Portanto, cabe ao Pedagogo hospitalar vincular-se intimamente ao processo de ensino aprendizagem do aluno- paciente. A pedagogia hospitalar cabe desenvolver a afetividade e o trabalho lúdico visando a aprendizagem. Cabe, enfim, ao professor atuar como colaborador, mediador das aprendizagens do educando/paciente. 9 LUDICIDADE A ludicidade tem conquistado um espaço no panorama da educação em especial da infantil. O brinquedo é a essência da infância e seu uso permite um trabalho pedagógico que possibilita a produção do conhecimento e também a estimulação da afetividade na criança. Esta estabelece com o brinquedo uma relação natural e consegue extravasar suas angústias e paixões; suas alegrias e tristezas, suas agressividades e passividades e no ambiente hospitalar a ludicidade é fundamental. Independente de época, cultura e classe social, os jogos e os brinquedos fazem parte da vida da criança, pois elas vivem num mundo de fantasia, de encantamento, de alegria, de sonhos, onde realidade e faz-de-conta se confundem. (KISHIMOTO, 2010). O jogo está na gênese do pensamento, da descoberta de si mesmo, da possibilidade de experimentar, de criar e de transformar o mundo e, nada melhor do que isso para ajudar no hospitalismo das crianças adoentadas. A palavra lúdico vem do latim ludus e significa brincar. Neste brincar estão incluídos os jogos, brinquedos e divertimentos e é relativa também à conduta daquele que joga, que brinca e que se diverte. Por sua vez, a função educativa do jogo oportuniza a aprendizagem do indivíduo, seu saber, seu conhecimento e sua compreensão de mundo. 10 Percebemos em Machado (1986) o ressaltar do jogo como não sendo qualquer tipo de interação, mas sim, uma atividade que tem como traço fundamental os papéis sociais e as ações destes derivadas em estreita ligação funcional com as motivações e o aspecto propriamente técnico-operativo da atividade. Dessa forma destaca o papel fundamental das relações humanas que envolvem os jogos infantis. O jogo e a brincadeira estão presente em todos as fazes da vida dos seres humanos, tornando especial a sua existência. De alguma forma o lúdico se faz presente e acrescenta um ingrediente indispensável no relacionamento entre as pessoas, possibilitando que a criatividade aflore. Por meio da brincadeira a criança envolve-se no jogo e sente a necessidade de partilhar com o outro. Ainda que em postura de adversário, a parceria é um estabelecimento de relação. Brincando a criança torna-se operativa. O brinquedo como suporte da brincadeira tem papel estimulante para a criança no momento da ação lúdica. Tanto brinquedo, quanto a brincadeira, permitem a exploração do seu potencial criativo. Por meio do brinquedo a criança fantasia e através da magia do faz-de- conta explora os limites e, parte para aventura que a leva ao encontro do Outro-Eu. O brincar fundamenta grande parte da aprendizagem das crianças. Para que o seu valor potencial seja percebido, algumas condições precisam ser satisfeitas. Essas condições incluem adultos sensíveis e informados, uma cuidadosa organização e um planejamento para o brincar, avaliações que permitam a continuidade e a progressão e, acima de tudo, comprometimento com a ideia de que o brincar é uma atividade de status elevado na educação de crianças (MOYLES, 2006, p.95). A entrada da criança no mundo do faz-de-conta marca uma nova fase de sua capacidade de lidar com a realidade, com os simbolismos e com as representações, especialmente com a doença, no caso da criança hospitalizada. Com o brinquedo a criança satisfaz certas curiosidades e traduz o mundo dos adultos para a dimensão de suas possibilidades e necessidades. Para compreender o significado da vida real, a criança precisa vivenciar seu pensamento simbólico, tão importantes para o desenvolvimento do 11 pensamento infantil. Mesmo que conheça determinados objetos ou que já tenha vivido determinadas situações, a compreensão das experiências ficam mais claras quando as representam em seu faz-de-conta. Neste tipo de brincadeira têm também oportunidade de expressar simbolicamente, desejos, conflitos e frustrações. As situações imaginárias estimulam a inteligência e desenvolvem a criatividade. OS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM A intencionalidade do ensino perpassa toda ação do professor e como ele irá abordar os conteúdos do programa fixado no início do ano. É importante que tenhamos a compreensão do ensino enquanto: Ensinar é um ato que envolve interação e compartilhamento entre os envolvidos, seja entre professor-aluno, aluno-professor e até mesmo aluno- aluno. É com o diálogo, com as trocas de experiências e com esse intercâmbio que o ensino acontecerá de forma eficaz. No ensino colaborativo, a afetividade 12 se faz presente nessa ação, pois quando está disposto a ensinar, está também disposto a compreender o outro como destacam Tardif & Lessard (2007). Para ensinar, deve-se fazer um planejamento e contar com uma metodologia adequada à situação. Com comprometimento, o professor trabalha de forma dialogada e efetiva todo o conteúdo estabelecido desde o início do ano e esta prática não é diferente na classe hospitalar. O professor tem seu papel de mediador, não de detentor dos conhecimentos sistematizados, ele é o organizador do ambiente para que este seja propício para a aprendizagem eficaz. Ao mesmo tempo em que o professor está trabalhando um conteúdo, algumas crianças podem estar conversando,pegando algum material ou até mesmo dando exemplos que não estão no contexto. Neste sentido, o professor deve estar atento para saber lidar com essas situações. A historicidade está elencada à ideia da relação professor-aluno. É cediço que cada aluno tem sua história e seu contexto, assim como sua linguagem e cultura. Para um trabalho mais articulado e próximo à cultura dos educandos, o professor/pedagogo hospitalar deve saber como lidar com as diversidades encontradas no ambiente educativo do hospital. O ensino é, portanto, uma prática social, pois está imersa em um contexto social no qual deverá se pautar para prosseguir com o foco nos objetivos traçados. Deverá desenvolver nos educandos uma consciência crítica e mobilizadora por meio do diálogo, desenvolvendo todas as potencialidades de uma pessoa, sendo um sujeito social e ativo em seu processo formativo. A outra face da educação é a aprendizagem, que tem como características fundamentais a busca da autoaprendizagem, sendo o aluno ativo 13 no seu processo de aprendizagem. Para promover a aprendizagem com qualidade e a construção de novos conceitos é necessário que se considere e utilize as experiências anteriores dos educandos, as crianças hospitalizadas. A aprendizagem é o que torna o homem diferente dos outros animais. Para ele é preciso enfrentar alguns desafios como a aprendizagem de regras para viver em culturas diferentes e a capacidade de apoio no conhecimento transmitido anteriormente. Somos a única espécie capaz de nos colocar no lugar dos outros e compreender suas intenções. Elegendo a aprendizagem como processo principal do desenvolvimento humano enfocamos Vygotsky (1984) que afirma: a zona de desenvolvimento proximal é o encontro do individual com o social, sendo a concepção de desenvolvimento abordada não como processo interno da criança, mas como resultante da sua inserção em atividades socialmente compartilhadas com outros. Nesse sentido, o conhecimento é construído pelas relações interpessoais e as trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a vida formativa do indivíduo. Vygotsky (1993), ao estudar a consciência e os traços específicos do comportamento humano nota que tudo que se refere a natureza humana é oriundo de sua vida em sociedade. O modo como o homem atua, entende e explica o meio, as relações, a si e ao outro vão se constituindo nas suas relações sociais. Para Vygotsky, Luria, e Leontiev (1988), as atividades que a criança realiza, interpretada pelo adulto, adquirem significado no sistema de comportamento social do grupo a que pertence. Machado (1986) salienta, que a interação social implica transformação e contatos com instrumentos físicos e/ou simbólicos mediadores do processo de ação. Esta concepção reconhece o papel do jogo para formação do sujeito, atribuindo-lhe um espaço importante no desenvolvimento das estruturas psicológicas. De acordo com Vygotsky (1984) é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva. Segundo o autor a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da vida real, tanto pela vivência de uma situação imaginária, quanto pela capacidade de subordinação às regras. 14 Cada aluno aprende de uma forma específica, significa e resignifica conceitos à sua maneira, exigindo estratégias de aprendizagem adequadas. Para promover a aprendizagem, o pedagogo hospitalar deve levar em consideração a diversidade dos aprendizes, crianças hospitalizadas fazendo o uso de várias metodologias didáticas. Com isso, Meirieu (1998), considera alguns passos para a organização da aula, como a dedução, indução, dialetização e divergência. A dedução consiste na atividade relacionada à experiência dos educandos e a partir deste ponto organizar um esquema usando os conceitos propostos. Na indução serão trabalhados os dados coletados no primeiro momento, oferecendo novas possibilidades de resolução dos eventuais problemas. No momento em que serão analisadas as variáveis, será oportuno as interpretações e confrontos acerca do mesmo tema, a qual será a parte de dialetizar. E, por fim, são incluídas as dúvidas e questões para os alunos buscarem soluções e assim associarem o novo conteúdo. Nessa ideia, os educandos começam a tomar consciência dos próprios processos de aprendizagem (ROMANOWSKI, 2012), caminhando em direção à autonomia. Nesse quesito, o reforço escolar tem a possibilidade de individualmente trabalhar as capacidades e potencialidades do educando, na medida em que ele estará com mais contato com suas dificuldades escolares, mesmo estando distante dela. A CRIANÇA E O PROCESSO DE HOSPITALIZAÇÃO A infância é um período muito importante na vida de qualquer indivíduo. É nesta fase que o indivíduo constrói sua relação com o próprio corpo e com o mundo externo por meio de suas vivências pessoais, familiares e sociais. É uma fase marcada pelas atividades físicas intensas, sendo que estas são necessárias para que a criança possa explorar e conhecer o ambiente a sua volta e assim, consequentemente, crescer e aprimorar seu conhecimento sobre o mundo. Todavia, no decorrer de seu desenvolvimento, as crianças também podem 15 vivenciar períodos de doenças, o que muitas vezes pode ocasionar a hospitalização (OLIVEIRA, 2009). Compreende-se que a hospitalização representa um momento de fragilidade tanto para criança como para sua família. Para isso, o atendimento educacional dispõe para a criança uma normalização em seu cotidiano, sendo um canal de comunicação, fazendo a criança esquecer durante algumas instantes o ambiente agressivo no qual se encontra, resgatando sua autoestima da alegria de viver, e sensações vividas anteriormente á entrada no hospital. As práticas a ser trabalhadas no ambiente hospitalar não diferem em seus objetivos básicos das realizadas em qualquer escola regular, porém, o professor ali incluso deve estar em contato com a escola e professor anterior de seus alunos, para partir deste elaborar um planejamento ao contexto da criança, voltado especialmente para a continuação do processo de aprendizado já iniciado anteriormente. Para tanto, o professor desta prática hospitalar educativa, deve estar ciente e exercitar a premissa de que cada dia de trabalho na escola se constrói com atividades que têm começo, meio e fim quando desenvolvidas (FONSECA, 2003). Para a criança, a doença é um acontecimento inesperado e indesejável, onde todos os costumes próprios da infância tornam-se algo distante devido às 16 restrições que a doença e o tratamento impõem (CARDOSO, 2007). Todas essas mudanças causam impacto na vida da criança e podem modificar seu comportamento durante e depois da internação. (OLIVEIRA, 2009). O EDUCADOR HOSPITALAR COMO PARTE DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL E COMUNIDADE ESCOLAR A Classe Hospitalar obtêm uma conexão entre o cuidar e o aprender, dessa maneira tendo uma relação de cuidado na educação e saúde. Com isso, relacionando o conhecimento da Saúde e da Educação, e logo se pensa em colaboradores para tal continuidade para a formação do individuo, traçando um parâmetro de atividades entre educadores e equipes multidisciplinares em saúde. Consequentemente, pressupõe o envolvimento multiprofissional das áreas entrelaçadas dentro do ambiente hospitalar, dentre a área das ciências biomédicas, encontramos: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogos; na área das ciências humanas: assistentes sociais, psicólogos e pedagogos,(NETINA,2003) assim formando uma equipe com junção de seus conhecimentos, para tal condicionamento do individuo envolvido. Dentro do hospital estão sob a responsabilidade do pedagogo as seguintes modalidades, segundo Vieira (2011, p.1): 17 Para CONZATTI, 2014 o hospital, em parceria com a escola, proporciona um espaço de aprendizagemformal e informal, não apenas para as crianças doentes, mas abrangendo também a comunidade escolar. De uma forma especifica a educação hospitalar, formal e informal, busca empenhar-se no desenvolvimento de um ambiente de acolhimento e comunicação, favorecendo a confiança de todas as partes envolvidas. O papel do professor deve ser, portanto, o de um educador sensível às condições de saúde do paciente-aluno e preparado para que possa flexibilizar o atendimento a cada paciente de acordo com suas condições psicológicas, pessoais, cognitivas e familiares. Como já mencionado por Esteves (s/d) é necessário que o pedagogo hospitalar seja um profissional capacitado e sensível para que possa desenvolver e aplicar conceitos educacionais, estimulando novas competências e habilidades em um ambiente especialmente reservado no próprio hospital para esse atendimento. Reitera Reis (2008) que “por isso o trabalho do Pedagogo no hospital é extremamente importante para atender essas necessidades psicológicas, sociais e pedagógicas dos pacientes-alunos a fim de evitar tantos prejuízos”. (p. 2) Nos hospitais do Brasil que desenvolvem projetos educacionais, de acordo com Matos (2009), são realizadas quatro modalidades de atendimento, levando em consideração alguns fatores como espaço físico disponível, tipos de patologias dos pacientes/alunos, e condições clínicas. A modalidade em Sala Multisseriada, é aquela cujo desenvolvimento se dá em uma sala de aula na 18 unidade pediátrica, na qual os pacientes/alunos são organizados em grupos por série, sendo as aulas divididas da educação infantil ao ensino fundamental. Outra modalidade é a Individual ou Leito, no qual os pacientes impossibilitados de locomoção recebem atendimento exclusivo. Esse tipo de atendimento também pode ocorrer por falta de local específico para o desenvolvimento dos trabalhos. Também, continua a autora (ibid), há a modalidade em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) destinada a pacientes/alunos que apresentam doenças infectocontagiosas, como meningite, tuberculose, e alguns casos que passarão por transplante de medula óssea ou outros tratamentos que necessitam de ficar na unidade de isolamento. Nesses ambientes o professor precisa estar preparado com máscaras, luvas e roupa especial para entrar na unidade. Dependendo o tipo de tratamento é necessário que o material escolar passe por um processo de desinfecção em álcool 70% ou em alguns casos os livros devem ter as folhas plastificadas, e a cada utilização passam pelo processo de esterilização e serão reutilizados. Contudo, a Classe Hospitalar, destina-se a realizar o acompanhamento escolar de crianças e adolescentes que estão impossibilitados de freqüentar a escola de origem. Por motivos de tratamento que necessitam de longos períodos de internação, nesses casos os pacientes/alunos têm aulas todos os dias, a turma é fixa igual a uma escola. São realizadas rotinas com horários de entrada, hora do lanche e saída o ambiente possui mesas, cadeiras, lousa e muitos matérias didáticos. 19 REFERÊNCIAS OLIVEIRA, Gislene Farias de; DANTAS, Francisco Danilson Cruz; FONSECA, Patrícia Nunes. O impacto da hospitalização em crianças de 1 a 5 anos de idade. Rev. SBPH, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, dez. 2004. OLIVEIRA, R. R; OLIVEIRA, S. C. 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