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4. CARACTERÍSTICAS E PRINCÍPIOS DO DIREITO EMPRESARIAL – RESUMO Autonomia do Direito Empresarial Mesmo que formalmente unificado dentro com o Direito Civil, o Direito Empresarial se mostra como matéria autônoma material e substancialmente. Enquanto ao Direito Civil cabe disciplinar de forma geral os direitos e obrigações de ordem privada concernentes às pessoas, aos bens e às suas relações - usado como fonte de outras áreas do direito privado para suprir eventuais lacunas –, ao Direito Empresarial cabe disciplinar de forma especial os direitos e obrigações de ordem privada concernentes às atividades econômicas organizadas (empresas). De acordo com Mello Franco, essa autonomia do Direito Empresarial em relação ao Direito Civil, é evidenciada na constatação de que “o fenômeno econômico, objeto da disciplina do direito comercial e de suas normas, tem exigências técnicas e econômicas particulares que pressupõem uma organização própria e normas específicas de atuação”. Características do Direito Empresarial Essa autonomia do Direito Empresarial é identificada em suas características próprias, que são: • Cosmopolitismo: o comércio promoveu uma intensa inter-relação entre os países, que reflete no ramo do Direito. Exemplos disso são os diversos acordos internacionais comerciais que vigoram; • Onerosidade: o exercício da atividade empresarial tem como característica intrínseca a busca pelo lucro; • Informalismo: a atividade empresarial é muito dinâmica e exige flexibilidade e agilidade para a realização e difusão das práticas mercantis; • Fragmentarismo: o Direito Empresarial possui diversos ramos – direito falimentar, direito cambiário, direito societário, direito de propriedade industrial etc.; • Elasticidade: está em constante mutação para adequar-se ao dinamismo das atividades econômicas. Princípios do Direito Empresarial Estão listados na Constituição Federal de 1988, art. 170. Livre-iniciativa “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:” (CF/88). “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;” (CF/88). “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;” (CF/88). “No dizer do professor Fábio Ulhoa Coelho, o princípio da livre iniciativa se desdobra em quatro condições fundamentais para o funcionamento eficiente do modo de produção capitalista: (i) imprescindibilidade da empresa privada para que a sociedade tenha acesso aos bens e serviços de que necessita para sobreviver; (ii) busca do lucro como principal motivação dos empresários; (iii) necessidade jurídica de proteção do investimento privado; (iv) reconhecimento da empresa privada como polo gerador de empregos e de riquezas para a sociedade.” Porém, para ter livre-iniciativa, é preciso atender as qualificações profissionais (art. 5º, XIII) e em alguns casos, ter autorização prévia de órgãos públicos (art. 170, parágrafo único). Regulamentação de profissões Para os liberais, como Milton Friedman, a regulamentação de profissões não passa de uma reserva de mercado e um retrocesso. No Brasil, o entendimento do STF é de que a exigência de diploma e/ou filiação compulsória de um determinado profissional ao órgão regulamentador só é constitucional quando o exercício da atividade conter risco de dano a terceiros (dano a sociedade). A crítica é justamente na questão de que, na prática, todos que querem exercer alguma atividade industrial acabam precisando obter inúmeras “autorizações” de diversos órgãos. A imposição de licenças afeta quem está no começo e tem pouco capital, além de restringir grande concorrência. Função social da empresa “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: II - propriedade privada; III - função social da propriedade;” - (CF/88). • Empresa: atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços; • Empresário: “Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.” - CC • Estabelecimento empresarial: “Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.” - CC A função social da empresa faz-se referência à atividade empresarial em si, que decorre dos chamados bens de produção pelos empresários. Essa função social da atividade empresarial são duas: • Função social de acordo com o art. 5º, XXIII, CF/88: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;”. • Função social específica: de acordo com Fabio Ulhoa Coelho, é a criação de empregos, pagamentos de tributos, geração de riqueza, contribuição para o desenvolvimento econômico, social e cultural do entorno, adoção de práticas sustentáveis e respeito aos direitos dos consumidores. Livre concorrência “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: IV - livre concorrência;” Possui duas formas de o Estado concretizar o princípio da livre concorrência: i) Coibindo práticas de concorrência desleal, inclusive tipificando-as como crimes, e o objeto da punição estatal são condutas que atingem um concorrente in concreto – sanções na Lei 9.279/96, art. 183 em diante; ii) Reprimindo o abuso de poder econômico, caracterizando-os como infração contra a ordem econômica, e o objeto da punição estatal são condutas que atingem a concorrência in abstrato (o próprio ambiente concorrencial – sanções na Lei 12.529/2011, art. 36. Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência Mesmo que, em princípio, haja o pensamento de que a defesa da livre concorrência não deve ser um fazer estatal ou que poderia significar uma atuação mínima, o pensamento predominante é de que o Estado deve prevenir ou reprimir ocorrências que podem restringir ou eliminar a livre concorrência por excessiva concentração empresarial (fusões, incorporações etc.) ou pela prática de condutas unilaterais dos próprios agentes econômicos privados (precificação predatória, por exemplo). Nesse sentido, a Constituição prevê: “Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. § 4º - lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.” A lei que se refere ao dispositivo constitucional é a n.º 12.529/2011, estruturando o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência(SBDC), que se divide da seguinte forma: i) CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica): autarquia federal, com status de agência reguladora, subdividida sem Superintendência Geral e Departamento de Estudos Econômicos, responsável pela prevenção e repressão das infrações contra a ordem econômica; ii) SEAE (Secretaria de Acompanhamento Econômico): órgão do Ministério da Economia, responsável por exercer a advocacia da concorrência. Tratamento favorecido das Microempresas (ME) e Empresas de Pequeno Porte (EPP) CF/88: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.” “Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei.” “Art. 146. Cabe à lei complementar: d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso do imposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239” Em obediência, foi editada a Lei Complementar 123/2006, que reuni os tratamentos favorecidos para as ME e EPP, principalmente no que tange ao tributário, englobando todos os tributos municipais, estaduais e federais. Tal LC estabelece os seguintes favorecimentos em seu art. 1º: “Art. 1º Esta Lei Complementar estabelece normas gerais relativas ao tratamento diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, especialmente no que se refere: I - à apuração e recolhimento dos impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mediante regime único de arrecadação, inclusive obrigações acessórias; II - ao cumprimento de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusive obrigações acessórias; III - ao acesso a crédito e ao mercado, inclusive quanto à preferência nas aquisições de bens e serviços pelos Poderes Públicos, à tecnologia, ao associativismo e às regras de inclusão. IV - ao cadastro nacional único de contribuintes a que se refere o inciso IV do parágrafo único do art. 146, in fine, da Constituição Federal.”. Quanto ao inciso I: carga tributária reduzida e menos exigência burocrática por meio do regime tributário simplificado – Simples Nacional. Quanto ao inciso II: podemos citar, por exemplo, o art. 51 – dispensa as ME e EPP do cumprimento de algumas obrigações trabalhistas – e o art. 55 – determina que a fiscalização das ME e EPP seja prioritariamente orientadora. Quanto ao inciso III: regras que asseguram o tratamento favorecido às ME e EPP em certames licitatórios (art. 44) e regras que permitem acesso a linhas de crédito especiais em bancos públicos. Princípios da preservação da empresa Pode ser observado na Lei 11.101/2005 (Lei de Falência e Recuperação de Empresas) e nas inúmeras jurisprudências atuais, muito usado em matéria de dissolução de sociedades, falência, recuperação judicial etc. Porém, devem ser feitas de forma razoável, sem excessos, para não banalizar o princípio e contrariar a ordem espontânea do mercado. Tal princípio não pode ser usado como um “direito de não falir” com a prerrogativa de que a empresa é grande demais para quebrar. É necessário que se limite às situações em que o próprio mercado, espontaneamente, encontra soluções para a crise de um agente econômico, em bases consensuais. A Lei da Liberdade Econômica e seus princípios Lei 13.874/2019, art. 2º: “Art. 2º São princípios que norteiam o disposto nesta Lei: I - a liberdade como uma garantia no exercício de atividades econômicas; II - a boa-fé do particular perante o poder público; III - a intervenção subsidiária e excepcional do Estado sobre o exercício de atividades econômicas; e IV - o reconhecimento da vulnerabilidade do particular perante o Estado. Parágrafo único. Regulamento disporá sobre os critérios de aferição para afastamento do inciso IV do caput deste artigo, limitados a questões de má-fé, hipersuficiência ou reincidência.”
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