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2022 Revisão de Populismo em Mudde e Bornschier

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Podemos dizer que partidos populistas bem como suas agendas estão sendo cada vez mais tolerados (e assimilados) pelo establishment, revelando uma onda populista generalizada na Europa?
Mudde (2004) e Bornschier (2017) tem visões distintas quanto à assimilação do populismo pelo establishment.
Devido a maior autonomia dos meios de comunicação, mudanças socioeconômicas, maior educação e mais apurado senso crítico das massas, a população inerentemente se tornou mais crítica à elite política governante. Como essa elite não necessariamente representa a população como um todo, há um fortalecimento dos políticos populistas, pois sua retórica é confirmada. Dessa forma, o próprio establishment se vê obrigado a utilizar uma retórica populista e a ceder à emendas também populistas (e aqui Mudde designará o plebiscito como tal) para combater os políticos populistas, buscando concomitantemente incluí-los para excluí-los do regime. Ele, assim, caracterizará um Zeitgeist populista, ou seja, uma apropriação da retórica populista e dos seus métodos por partidos e políticos para combate-lo enquanto os fortalece.
Bornschier, no entanto, aponta que a onda populista não foi generalizada na Europa, e que ela se restringiu aos partidos mais radicais de esquerda e direita, e que existem ondas freadas pelos meios de comunicação, que ao invés de exacerbar a retórica populista, as criticam. Ele designará um populismo segmentado, pois existiriam grupos eleitorais específicos que se utilizariam da retórica populista, e, assim sendo e considerando a coalizão como corrupta e corruptora, este regime político estaria limitado.
Populismo
Mudde define Elitismo como uma política de visões de mundo maniqueístas, cuja aspiração é a de que a condução política reflita a moralidade de uma elite política. O pressuposto é o de que existiria uma parcela imoral da população em oposição desta suposta elite que é moralmente superior em valores, que estaria promovendo seus próprios valores imorais. Já o pluralismo rejeita o elitismo e também o próprio populismo, pois entende que a sociedade é um conjunto heterogêneo de grupos e indivíduos com visões de mundo fundamentalmente diferentes. O autor, assim, define populismo através desta contraposição entre o elitismo e o pluralismo, em que o populismo seria um reflexo direto do elitismo: Para a retórica populista, uma suposta elite política corrupta seria ponta de lança na promoção de valores “corruptos” e “corruptores” de um povo que seguiria de maneira homogênea algum conjunto de valores morais e visões de mundo, porém que não é representado devido a existência de uma elite corrupta que haveria usurpado o poder. Populismo se trata, dessa maneira, de uma ideologia que divide a sociedade de maneira homogênea e antagônica entre dois grupos: o povo puro versus a elite corrupta; que defende que a política deve ser uma expressão da vontade geral (volonté générale) da população, que não é heterogênica, e sim, única, pura e moral (MUDDE, 2004, p. 543).
Dessa maneira, o populismo é mais moralista do que programático, e sendo um regime político embasado em valores morais, o compromisso é impossível pois ele é uma forma de corromper a boa natureza. Isso pois, se existe uma elite corrupta e um povo injustiçado, cabe ao político ou o grupo político populista trazer a justiça: os oponentes políticos não são pessoas com prioridades e valores diferentes, eles são maus, uma ameaça à tudo que é moral e bom. Existe, assim, uma distinção valorativa entre essa suposta elite política corrupta e este suposto povo homogêneo e puro (MUDDE, 2004, p. 544). Bornschier concorda com essa visão: ele caracteriza o populismo como um regime político que tem como central uma visão de mundo dualista, uma justaposição maniqueísta entre o bem e o mal, ou seja, o povo puro e a elite corrupta (BORNSCHIER, 2017, p. 302).
Sendo o populismo uma ideologia que abarca uma visão de mundo que caracteriza o cenário político como um povo puro sendo guiado por uma elite política corrupta que de alguma maneira usurpou o poder; ele pode facilmente ser combinado com diversas ideologias, do comunismo e socialismo ao nacionalismo, até mesmo ao ecologismo (MUDDE, 2004, 544). Isso pois “o povo” pode ser definido de diversas maneiras, como o politicamente soberano, como a conjunto da nação, ou até mesmo como uma classe econômica, ou àqueles que trabalham duro para sustentar os preguiçosos (BORNSCHIER, 2017, p. 303). Vale mencionar que o Populismo não se opõe necessariamente às medidas tecnocráticas, principalmente se elas de alguma forma puderem terminar com os políticos “corruptos” estabelecidos. Dessa maneira, vários autores argumentarão que o populismo é ‘relutantemente político’ (MUDDE, 2004, p. 547). Inclusive, num cenário de democracia representativa, a retórica populista estaria centrado na ideia de que o povo foi traído pela elite, retórica essa capaz de mobilizar uma massa suscetível num contexto de crise (BORNSCHIER, 2017, p. 302).
Considerando, então, estas características do modelo populista, é possível compreender o porquê de grande parte da literatura relacionar o populismo às crises sociais. Assim, se argumenta que as condições para o surgimento de um regime populista seriam: (I) um ressentimento político persistente, (II) uma ameaça à um “modo de vida” e (III) a presença de um líder populista atraente. O ator populista é em particular importante, sem ele, não seria possível uma mobilização política consistente por uma elite política oportunista (MUDDE, 2004, p. 547), e, ser anti-elite, pró-povo, evocar uma homogeneidade moral do povo e cultivar uma crise permanente constitui, na verdade, o menor denominador comum das várias abordagens do populismo. Se trata da abordagem ideacional do populismo, e sua vantagem é que ela é precisa e abrangente o suficiente para compreender os fenômenos investigados pelos pesquisadores do populismo. Essa definição mínima da abordagem ideacional permite traçar distinções claras entre políticos e grupos políticos de visões de mundo populistas e outras manifestações de mal-estar democrático, como alienamento político ou falta de confiança nas instituições, ou nos próprios políticos (BORNSCHIER, 2017, p. 302-303).
Bornschier designará que o populismo seria fenômeno cíclico em pelo menos cinco países da Europa Ocidental, e que viria em ondas (2017, p. 303-308). Nesta mesma linha de raciocínio, Mudde caracterizará um Zeitgeist[footnoteRef:1] populista, ou seja, uma apropriação da retórica populista por partidos e políticos, assim como a promoção de emendas populistas ao sistema democrático, e o autor aponta a introdução de instrumentos plebiscitários como um exemplo. Isso não significa, no entanto que o populismo seria inerente, mas que existem tensões estruturais dentro da democracia liberal propícias à retórica populista, tornando-o episódico. O autor, assim, entende que inclusive as estratégias do establishment de reagir ao populismo se utilizam de retórica populista em suas estratégias combinadas de exclusão e inclusão para excluir os atores populistas, e que isso alimentaria este suposto Zeitgeist, que, no entanto, se dissiparia uma vez que o desafiante populista ao establishment esgotar seus recursos (2004, p. 562-563). Bornschier, no entanto, discorda da ideia de um Zeitgeist populista, pois a retórica populista foi refreada pelos meios de comunicação, ao invés de amplificada, e que os partidos em geral não se tornaram secularmente populistas (2017, p. 308). Para o autor, o que existiria, em verdade, seria um populismo segmentado na Europa Ocidental, pois se reduz à grupos ideológicos específicos e a extrema direita e esquerda (2017, p. 309). [1: Sobre o conceito de Zeitgeist, o espírito do tempo: vem da filosofia alemã, popularizado com Hegel e A Filosofia da História, em conjunto com a expressão Volksgeist, espírito do povo, na Fenomenologia do Espírito, um conceito útil para o desenvolvimento teórico. Hegel, acredita que a arte, por exemplo, reflete sua própria natureza, ou seja, a cultura da época emque ela foi elaborada (e pra ele, cultura e arte são conceitos inseparáveis). Zeitgeist seria um clima intelectual e cultura, uma condição etérea que influenciaria a condução da política, da vida social, da reprodução do mundo material. Os românticos da filosofia alemã dirão que existiria, em latim um genius seculi, um espírito guardião do século que influenciaria o homem a viver de acordo com seu tempo, e na Russia, o Tolstói, também romântico, acredita que os líderes são produtos do Zeitgest – então há acordo com Mudde, e aqui é possível uma associação do Zeitgeist com o ‘situacionismo’, que afirma que líderes são moldados a partir da situação histórica e cultural em que se encontra.
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