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CEDERJ Administração Pública Polo: Paracambi Aluna: Vanilza Mariano de Oliveira – Mat. 17113110322 Disciplina: Filosofia e Ética AD2. 4 – 2020.2 Estudar: Ramos, Flamarion Caldeira et alii. Manual de Filosofia Política. SP: Saraiva, 2015, cap. 11, págs. 285 a 310. Responder as seguintes questões: 1. Quais as críticas de Weber e de Schumpeter às doutrinas clássicas da democracia? Explique-as. Weber definiu democracia como sendo um mecanismo institucional de seleção de políticos competentes e capacitados. Para ele a democracia seria uma seleção natural de líderes competentes para a formação do parlamento. O povo ficaria restrito à escolha dos seus representantes retirados de um grupo elitista de políticos profissionais. Weber e Schumpeter tinham uma concepção restrita da vida política onde, para eles, não havia espaço abrangente à participação política. Para ambos, a coletividade era uma constante ameaça a estrutura do Estado. Weber estruturou toda uma visão burocratizada da democracia que foi absorvida e fortalecida por Schumpeter na década de 40. A visão da incompetência dos cidadãos médios para assuntos públicos e a necessidade de criação de partidos políticos no lugar da democracia direta, são pontos que perpassaram para a análise de Schumpeter. Tais partidos teriam de disputar os votos num amplo "mercado" político competitivo e teriam também de racionalizar suas estratégias para lograrem êxito em seus intentos. Schumpeter criticou a teoria clássica da democracia de forma a levantar, segundo ele, falhas conceituais que não mais se adequavam à realidade do século XX. A Teoria Clássica de democracia surgiu no século XVIII, em um momento histórico onde as estruturas daquela sociedade inspiravam mudanças bruscas no Estado. Esse Estado nascente refletia as ideias e perspectivas da classe em ascensão naquele momento, a burguesia. O liberalismo, que se tornou à filosofia política da classe burguesa, alicerçou os pensamentos de filósofos que introduziram a filosofia utilitarista no âmbito da sociedade burguesa. Os interesses dos indivíduos estariam acima de quaisquer outros interesses e daí surgiria o bem comum como sendo o resultado de um "propósito comum" dos interesses individuais. As definições de bem comum, vontade do povo, vontade geral, segundo a teoria clássica, não tinha sentido para Schumpeter. A teoria clássica seria na verdade uma ficção, pois os cidadãos são totalmente desprovidos de razão quando o assunto envolve questões políticas. As definições de bem comum, vontade da maioria e vontade do povo são conceitos que variam de acordo com os interesses daqueles que se envolvem na política, ou seja, são manufaturados por eles. O bem comum aparece como algo que não pode ser definido de forma coerente, pois a sua concepção para diferentes grupos dentro de uma sociedade pode se mostrar de forma multifacetada. As vontades dos indivíduos podem ser as mais diversas possíveis e para se chegar a uma conclusão do que é à vontade do povo tem-se que se levar em consideração as mais variadas formas de vontades dos indivíduos em sociedade. A vontade do povo e a vontade da maioria podem divergir em vários aspectos. Schumpeter fez a revisão da doutrina clássica para chegar à conclusão de que a mesma não condiz à realidade da sociedade industrial do século XX. A doutrina clássica é um credo no qual os homens encontraram o substituto da religião, da moral e da ética. Para Schumpeter, a doutrina clássica da democracia aparece como um ideal incorporado por grupos que só pretendem proteger os seus interesses. Utilizando a doutrina clássica e seu ideal humanístico, muitos políticos que na verdade não estariam interessados em pressupostos humanísticos, poderiam usar tal doutrina no intuito de ludibriar as massas. O discurso intrínseco naquela doutrina, para Schumpeter não passava de um rito utópico impraticável que serviria como subterfúgio para políticos mal intencionados. E, sendo assim, estaria aí a posição na qual Schumpeter acreditaria estar perpetuada a doutrina clássica da democracia. As mudanças advindas com o avanço tecnológico e com as revoluções no mundo do trabalho trouxeram uma nova perspectiva para o conceito de democracia. A democracia passou a ser um método de escolha de representantes em um contexto de competição política pelo voto dos cidadãos. A democracia sendo vista como um mecanismo, não mais como um ideal. Para Schumpeter a democracia da teoria clássica não passava de um ideal irrealista, a democracia na verdade seria um método de escolha de governantes e o povo seria um ator passivo. No que diz respeito à democracia real de Schumpeter, esta é a democracia como método real e aplicável deveria excetuar a tirania da maioria e restringir a participação política dos cidadãos apenas ao aspecto de escolha de seus líderes. Estes viriam de escalões da elite política, os políticos profissionais, que, deveriam utilizar todos os recursos para a obtenção da maioria dos votos dos cidadãos numa competição livre por tais votos. Os políticos estariam inseridos em partidos que têm como principal objetivo chegar ao poder ou manter-se nele. Obtendo êxito na disputa, o político vitorioso assumiria o poder onde permaneceria até as próximas eleições. A participação política se restringe à escolha dos representantes. O debate político fica restrito à elite política eleita. Então, para Schumpeter, a democracia significa apenas que o povo tem a oportunidade de aceitar ou recusar os homens que os governam. Schumpeter percebia o cidadão como um "fantoche" nas mãos da opinião pública pré- fabricada pela propaganda. A opinião popular seria manufaturada facilmente pelos veículos midiáticos e por aqueles que estivessem dispostos a persuadir as massas no intuito de fazer prevalecer os seus interesses mais imediatos. As decisões políticas teriam, segundo Schumpeter, de ficar no âmbito do parlamento tal como Weber diagnosticou. A política, no entanto, não seria atividade para pessoas que não os políticos profissionais advindos de elites políticas com alta capacidade técnica e de aparelhos burocratizados que seriam os partidos políticos. Portanto, a teoria democrática de Schumpeter é conhecida como tendo caráter minimalista, pois na sua argumentação a democracia "pode suportar, na melhor das hipóteses, apenas um envolvimento político mínimo: aquele tipo de envolvimento que poderia ser considerado suficiente para legitimizar o direito das elites políticas em condições de competir para governar. No que diz respeito à competição pelos votos, Schumpeter acompanha Weber no quesito da formação dos partidos políticos. Estes existem por questão da incapacidade dos cidadãos em seguir um ordenamento em suas ações políticas. Os partidos políticos seguiriam as regras eleitorais e articulariam suas estratégias no sentido de alcançarem os melhores resultados nas eleições. Eles representariam, de forma organizada e burocratizada, os anseios dos grupos de cidadãos. 2. O que propõe Downs em “Uma Teoria econômica da democracia”? A base está no desenho institucional para traçar a estratégia que melhor sirva aos interesses dos atores políticos. O que o partido no governo faz, então, é buscar votos, e o não o bem estar da população (este é o meio para atingir aquele fim); com isso, Downs submete a atividade governamental ao mesmo uso que a microeconomia faz da empresa oligopolista: a política governamental visa a maioria, e investe até que a taxa marginal de retorno não compense mais o investimento. Mas, ao contrário do que parece, este modelo é mais complicado quando se considera o papel da incerteza e o custo da informação. Num mundo de desorientação, a informação torna-se uma ferramenta de conquista de votos pela persuasão: esse papel é exercido pelas lideranças políticas, pela descentralização do Estado e pelas ideologias partidárias.O modelo de Downs, portanto, afirma que os comportamentos dos governantes e o dos governados são interdependentes, e a racionalidade é garantida pela premissa de que ambos seguem o axioma do auto interesse, e que, além disso, ambos orientam suas ações com base nos padrões de comportamento que uns veem nos outros. Downs, discutindo o papel do Estado, chega a uma solução intermediária: “Por um lado, a visão organística de governo não é verdadeira porque se baseia numa entidade mítica: um Estado que é uma coisa separada dos homens individuais. Por outro lado, a visão individualista é incompleta porque não leva as coalizões em consideração.” Downs mostrou que nas democracias a distribuição agregada de opinião política forma uma curva em forma de sino, com a maioria dos eleitores possuindo opiniões moderadas; ele argumentou que esse fato obriga os partidos políticos nas democracias a adotar posições centristas. Por isso, a democracia sugere a diversidade ideológica. Ao mesmo tempo que as ideologias são vitais aos partidos, elas podem acarretar danos na mutação das circunstâncias em que o partido fica entre a eleição e a conversação de suas ideias. Os Sistemas Bipartidários fazem com que os partidos tendam ao centro, mas sejam diferentes para não perder eleitores extremistas. Já nos Sistemas Multipartidários, os partidos tendem a acentuar suas diferenças. Partidos novos se tornam influência na política adotada pelos partidos prévios. Eles podem surgir com modelos novos, o que é menos provável aos velhos partidos. E surgem em modelos bipartidários nos momentos em que um dos partidos foge do centro. Fora dessa hipótese, os partidos de Sistemas Bipartidários correm o risco de serem muito parecidos e não há ambigüidade suficiente para o eleitorado definir seu voto. 3. O que propõem os defensores do pluralismo democrático? É possível afirmar que a concepção Pluralista possui como objetivo primordial evitar a concentração do poder decisório (político-administrativo) em um único setor, buscando, assim, evitar que o Estado, controlado por determinado grupo, possa, unilateralmente, determinar os rumos que serão seguidos pela Nação. No caso brasileiro, o pluralismo é inerentes aos objetivos da própria Constituição Federal, quais sejam a formação de uma sociedade livre, justa e solidária, que garanta o desenvolvimento nacional, a erradicação da pobreza e o bem de todos nos termos da Constituição Federal de 1988. Nesta linha, o Pluralismo Político assegura que os diferentes grupos sociais possuirão meios pelos quais poderão defender suas ideias e concepções sociais. Ou seja, ainda que, em determinada época, determinado grupo esteja controlando a máquina estatal, os outros grupos terão a devida representação, de forma que se permita a participação e influência nas decisões do país de todos os grupos, ainda que mínima. Analogicamente esta é a base ideológica construída nos Estados Unidos, só que singulariza pelos meios viabilizadores, com a preponderância de apenas dois partidos políticos e um sistema diferenciado na escolha de seus representantes e do candidato à presidência. Percebe-se, portanto, que o Pluralismo visa uma interdependência entre os diversos setores sociais, pois, estes, ao tempo em que exercem fiscalização uns sobre os outros, também necessitam um dos outros para protegerem e consubstanciarem seus interesses. Como consequência lógica, evita que o poder esteja demasiadamente concentrado em apenas um deles. Esta análise direciona-se ao sistema brasileiro e como expressado em outro local, tem-se a mesma função por meios diferente nos Estados Unidos. A ausência de uma reflexão mais demorada e aprofundada, por parte dos teóricos da democracia, a respeito do papel central exercido pelos meios de comunicação nas sociedades contemporâneas não pode ser considerada um problema menor, secundário. Ao contrário, a escassa compreensão desse fenômeno compromete, de forma significativa, a reflexão desenvolvida por esses teóricos, que não julgam necessário incorporar os meios de comunicação em seus trabalhos, pois consideram que a formação das preferências dos cidadãos acontece na esfera privada e que o processo político é apenas a agregação dessas preferências. Considerando que a restrição no acesso à mídia é uma das limitações centrais das democracias liberais contemporâneas, o pluralismo regulado dos meios de comunicação pode ser entendido como um instrumento importante para a maior participação política dos grupos dela excluídos. Se for entendido como um processo, como luta pela hegemonia e como parte de um movimento político em direção ao aperfeiçoamento das "democracias realmente existentes", que passa pelo reconhecimento de suas limitações, mas não pela racionalização da exclusão por meio da valorização do elitismo competitivo, o pluralismo regulado dos meios de comunicação pode ser um instrumento importante de representação, manifestação e aprendizado político por parte dos grupos menos favorecidos da sociedade. Além disso, a concepção do pluralismo regulado dos meios de comunicação como arranjo institucional oferece um subsídio interessante para a reflexão crítica a respeito dos limites dos modelos de democracia liberal propostos por Schumpeter, Dahl, Downs e Sartori. No arranjo institucional elaborado por Schumpeter, fica evidente a preocupação do autor em erguer barreiras entre os dirigentes políticos eleitos e o restante da população. Arranjar, neste sentido, é dispor, organizar, colocando os agentes nos seus "devidos lugares". As instituições políticas também estão protegidas, já que o autor reforça a sua separação em relação ao contexto social em que se inserem. Com estratégias e ênfases ligeiramente diferentes, os demais membros da corrente fazem o mesmo. A reflexão sobre os meios de comunicação e o seu pluralismo regulado aponta tanto para as deficiências dos modelos que fazem a defesa das "democracias realmente existentes" quanto para os caminhos práticos requeridos para uma transformação política das relações de força existentes no interior do campo político. Estão envolvidos nessa luta cognitiva, ao mesmo tempo teórica e prática, para definir o sentido do mundo social e os caminhos políticos que devem ser seguidos, agentes dotados de instrumentos materiais e cognitivos bastante desiguais. Considerando que o estado atual das relações de força existentes é resultado de disputas que foram travadas no passado - pela posse de determinados recursos e pela imposição de determinadas concepções do que deva ser a organização social, a perspectiva do pluralismo regulado tende a romper com essa "naturalização" das barreiras entre os politicamente atuantes e os "consumidores" de propostas, programas e teorias, condenados ao silêncio ou ao desapossamento diante dos profissionais da política. Se, no arranjo institucional elaborado pelos teóricos da democracia liberal, os cidadãos são reduzidos a simples consumidores de políticas governamentais elaboradas pelos "competentes", o pluralismo regulado dos meios de comunicação chama a atenção para a necessidade de aumentar a diversidade e a visibilidade das concepções de mundo conflitantes na sociedade. Isto inclui o maior questionamento das decisões tomadas pelos especialistas, o desenvolvimento de formas de expressões linguísticas que fortaleçam identidades e proporcionem a oportunidade para a manifestação e elaboração de preferências formadas em esferas públicas autônomas, aproximando os grupos excluídos do campo de criação das representações sobre o mundo social. 4. Em que consiste o modelo procedimental de democracia proposto por Habermas? A democracia deliberativa, criada polo alemão Jurgen Habermas, constitui-se como modelo ou processo de deliberação política democrática caracterizado por um conjunto de pressupostos teóricos – normativos que incorporam a participaçãoda sociedade civil na regulação da vida coletiva. Hebermas, é um grande defensor de ideologia do “agir comunicativo”, ou seja, busca que os cidadãos consigam se comunicar, expor suas ideias, razões e pensamentos afim de chegarem a um objetivo comum que agrade ao menos a maioria para e pelo bem de todos. Assim, observou-se que o debate público seria melhor a maneira de manter essa relação de comunicação entre toda a sociedade de forma a beneficiar a todos, mas para tanto o debate tem que ser racional e todos precisam ter o direito de opinar. Na concepção de Habermas, a problemática sobre o consenso nas sociedades plurais é redimensionada para a questão da legitimidade do direito moderno, que fundamenta a própria democracia constitucional. O aspecto legitimatório desponta da tensão entre validade e faticidade como característica dos ordenamentos jurídico-estatais. Habermas procura traçar o modo como um sistema de direitos pode legitimar a formação do poder político do Estado, ou seja, procura conciliar dois princípios que sempre foram alvo de disputa na filosofia política: o princípio democrático (soberania popular) com o princípio da autonomia da vontade. De um lado, cidadãos com projetos políticos distintos e interesses pessoais divergentes. De outro, a necessidade de que a vontade política do Estado seja uniformizada conforme um padrão democrático de legitimidade. O caminho encontrado pelo projeto democrático habermasino consiste na conciliação entre os dois princípios através do princípio do discurso, como standard da democracia deliberativa. Para Habermas, somente um processo dinâmico ancorado na deliberação dialógica é capaz de sustentar uma democracia constitucional. A filosofia moderna, para dar conta do fenômeno da racionalização social, ou seja, das diversas relações entre indivíduos racionais autônomos, tem de analisar a ação segundo o modelo comunicativo. Em verdade, a teoria do agir comunicativo representa a compreensão da interação entre indivíduos racionais que buscam o entendimento. A ação comunicativa transcende o campo do político, e apresenta-se como um projeto da filosofia da linguagem para explicar o comportamento intersubjetivo entre os cidadãos. Esta teoria se constitui em poderoso instrumento analítico no estudo da estrutura e funcionamento dos conselhos com participação popular que são uma marca característica das sociedades capitalistas contemporâneas. Habermas procura caracterizar posições significativas da teoria política contemporânea formulada em dois modelos antagônicos sobre a democracia e a cidadania, que dão respostas diferentes à questão da legitimação do poder político e à compreensão dos direitos humanos. De um lado, constata preocupações filosóficas, políticas e morais da tendência republicana vinculada a conceitos conexos como soberania popular, democracia, “liberdade dos antigos,” com ênfase na ideia de autonomia política (pública) dos cidadãos; de outro lado, existe a tendência liberal dos direitos humanos associada ao moderno Estado de direito e à “liberdade dos modernos”, que procura acentuar a ideia da autonomia privada dos membros da sociedade, garantida através dos direitos subjetivos. Referência: Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517 45222010000100005&script=sci_arttext Acessado em: 26 de outubro de 2020. Ramos, Flamarion Caldeira et alii. Manual de Filosofia Política. SP: Saraiva, 2015, cap. 11, págs. 285 a 310. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517
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