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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Objetivos 1- Rever a morfofisiologia do sistema cardiovascular; 2- Discutir como ocorre a regulação do sistema cardiovascular; • Mecanismos hormonais e neurológicos. Morfofisiologia do sistema cardiovascular Localização ↠ Do tamanho de uma mão fechada, o coração, oco, em forma de cone, tem uma massa entre 250 e 350 gramas (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Alojado dentro do mediastino, a cavidade medial do tórax, o coração se estende obliquamente por 12 a 14 cm, da segunda costela ao quinto espaço intercostal (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Como repousa sobre a superfície superior do diafragma, o coração se situa anteriormente à coluna vertebral e posteriormente ao esterno. Os pulmões flanqueiam o coração lateralmente e o ocultam de modo parcial. Cerca de dois terços de sua massa situam-se à esquerda da linha esternal; o restante se projeta para a direita (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O ápice pontiagudo é formado pela ponta do ventrículo esquerdo (a câmara inferior do coração) e está situado sobre o diafragma. O ápice está direcionado para frente, para baixo e para a esquerda; (TORTORA, 14ª ed.) ↠ A base do coração está do lado oposto ao ápice e constitui sua face posterior. É formada pelos átrios (câmaras superiores) do coração, principalmente o átrio esquerdo. (TORTORA, 14ª ed.) Se você pressionar seus dedos entre a quinta e a sexta costela logo abaixo do mamilo esquerdo, você pode facilmente sentir seu coração batendo, onde o ápice faz contato com a parede torácica. Portanto, este local é chamado de ponto de máxima intensidade (PMI) (MARIEB, 3ª ed.). Envoltórios do coração ↠ O coração está envolvido por um saco de parede dupla chamado de pericárdio (peri = ao redor, cardi = coração) (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A parte superficial frouxamente ajustada desse saco é o pericárdio fibroso. Esta forte camada de tecido conjuntivo denso protege o coração, ancora às estruturas que o rodeiam e impede o enchimento excessivo do coração com sangue (MARIEB, 3ª ed.). O pericárdio fibroso próximo ao ápice do coração está parcialmente fundido ao tendão central do diafragma; por conseguinte, o movimento do diafragma, como na respiração profunda, facilita a circulação do sangue pelo coração. (TORTORA, 14ª ed.) ↠ Abaixo do pericárdio fibroso está o pericárdio seroso, uma membrana de duas camadas, fina, escorregadia e serosa (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Sua lâmina parietal reveste a superfície interna do pericárdio fibroso. Na margem superior do coração, a lâmina parietal se liga às grandes artérias que saem dele e se dobra inferiormente, continuando até a superfície externa do coração como a lâmina visceral, também APG 01 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck chamada de epicárdio ("sobre o coração"), o qual é parte integrante da parede cardíaca (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Entre as camadas parietal e visceral, está a cavidade pericárdica, em forma de fenda, a qual contém uma película de líquido seroso. As membranas serosas, lubrificadas pelo líquido, deslizam suavemente umas sobre as outras durante a atividade cardíaca, permitindo que o coração funcione em um meio relativamente livre de atrito (MARIEB, 3ª ed.). Camadas da parede cardíaca ↠ A parede do coração é constituída por três camadas: (TORTORA, 14ª ed.). ➢ o epicárdio (camada externa); ➢ o miocárdio (camada intermediária); ➢ o endocárdio (camada interna). ↠ A camada superficial é o epicárdio, a lâmina visceral do pericárdio seroso. Ele com frequência é infiltrado com gordura, especialmente em pessoas idosas (MARIEB, 3ª ed.). O tecido adiposo predomina e torna-se mais espesso sobre as faces ventriculares, onde abriga as principais artérias coronárias e vasos cardíacos. O epicárdio confere uma textura lisa e escorregadia à face mais externa do coração. O epicárdio contém vasos sanguíneos, vasos linfáticos e vasos que irrigam o miocárdio (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A camada intermediária, o miocárdio ("músculo cardíaco"), é composta principalmente por músculo cardíaco e forma a massa do coração. a camada que contrai. Nela as células musculares cardíacas ramificadas são interdigitadas umas às outras por entrecruzamento de fibras de tecido conjuntivo e arranjadas em feixes espirais ou circulares (MARIEB, 3ª ed.). As fibras de tecido conjuntivo formam uma rede densa, o esqueleto fibroso do coração, que reforça o miocárdio internamente e ancora as fibras musculares cardíacas. Essa rede de fibras de colágeno e elastina é mais espessa em algumas áreas do que em outras. Por exemplo, ela constrói anéis, semelhantes a cordas, que fornecem suporte adicional onde os grandes vasos deixam o coração e em torno das valvas. Sem esse suporte, os vasos e as valvas podem acabar se estirando, devido ao contínuo estresse do sangue pulsando através deles. Além disso, como o tecido conjuntivo não é eletricamente excitável, o esqueleto fibroso limita a propagação direta dos potenciais de ação pelo coração a vias específicas (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O endocárdio mais interno é uma fina camada de endotélio que recobre uma fina camada de tecido conjuntivo. Fornece um revestimento liso para as câmaras do coração e abrange as valvas cardíacas. O revestimento endotelial liso minimiza o atrito de superfície conforme o sangue passa através do coração. O endocárdio é contínuo ao revestimento endotelial dos grandes vasos sanguíneos ligados ao coração (TORTORA, 14ª ed.). Câmaras, valvas cardíacas e grandes vasos associados ↠ O coração tem quatro câmaras – dois átrios, superiores (câmara de recepção), e dois ventrículos, inferiores (câmara de bombeamento). A repartição interna que divide o coração longitudinalmente é chamada de septo interatrial onde separa os átrios e de septo interventricular onde separa os ventrículos (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O ventrículo direito forma a maior parte da superfície anterior do coração. O ventrículo esquerdo predomina na superfície ínfero-posterior do coração e forma o seu ápice do coração (MARIEB, 3ª ed.). 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck Na superfície do coração existem vários sulcos, que contêm vasos sanguíneos coronarianos e uma quantidade variável de gordura. Cada sulco marca a fronteira externa entre duas câmaras do coração. Os sulcos são: profundo sulco coronário, sulco interventricular anterior, sulco interventricular posterior (TORTORA, 14ª ed.) ÁTRIOS: AS CÂMARAS RECEPTORAS Na face anterior de cada átrio existe uma estrutura saculiforme enrugada chamada aurícula. Cada aurícula aumenta discretamente a capacidade de um átrio, de modo que ele possa conter maior volume de sangue. (TORTORA, 14ª ed.) ↠ Internamente, o átrio direito tem duas partes básicas: uma parte posterior de parede lisa e uma porção anterior na qual as paredes são cortadas por feixes de músculos. Como esses músculos são parecidos com dentes de um pente, eles são chamados de músculos pectíneos (pectina = pente). As regiões anterior e posterior do átrio direito são separadas por uma saliência em forma de C chamada de crista terminal (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Em contraste, o átrio esquerdo é predominantemente liso e internamente indistinguível (MARIEB, 3ª ed.). O septo interatrial delimita uma depressão rasa, a fossa oval, que marca o ponto onde havia uma abertura no coração fetal, o forame oval do coração (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Os átrios são câmaras relativamente pequenas, de paredes finas, uma vez que necessitam contrair apenas minimamente para empurrar o sangue para os ventrículos. Via de regra, eles contribuem pouco para a atividade de bomba propulsora do coração (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O sangue entra no átrio direito por três veias: (MARIEB, 3ª ed.). ➢ a veia cava superior traz o sangue das regiões do corpo superiores ao diafragma; ➢ a veia cava inferior traz o sangue das áreas do corpo abaixo do diafragma;➢ o seio coronário coleta o sangue que drena do miocárdio. ↠ Quatro veias pulmonares entram no átrio esquerdo, constituindo a maior parte da base do coração. Essas veias, as quais transportam sangue dos pulmões de volta ao coração, são melhor observadas em uma vista posterior (MARIEB, 3ª ed.). VENTRÍCULOS: AS CÂMARAS EJETORAS ↠ Juntos, os ventrículos (ventre = interno) constituem a maior parte do volume do coração. Como mencionado anteriormente, o ventrículo direito forma a maior parte da superfície anterior do coração, e o ventrículo esquerdo predomina na sua superfície póstero-inferior (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Marcando internamente as paredes das câmaras ventriculares, há feixes irregulares de músculo chamados de trabéculas cárneas ("barras transversais de carne"). Ainda outros feixes de músculo se projetam na cavidade ventricular, os músculos papilares, em forma de cone, os quais desempenham um papel na função valvar (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Quando os ventrículos contraem, o sangue é propelido do coração para a circulação. O ventrículo direito bombeia sangue para o tronco pulmonar, o qual leva o sangue para os pulmões, onde ocorrem as trocas gasosas. O ventrículo esquerdo ejeta sangue na parte ascendente da aorta, a maior artéria do corpo (MARIEB, 3ª ed.). Como a pressão arterial é muito maior na circulação sistêmica do que na circulação pulmonar, o ventrículo esquerdo trabalha mais do que o ventrículo direito. (MOORE, 7ª ed.) A anatomia dos dois ventrículos confirma esta diferença funcional – a parede muscular do ventrículo esquerdo é consideravelmente mais espessa do que a parede do ventrículo direito. Observe também que o lúmen do ventrículo esquerdo é mais ou menos circular, em contraste com o do ventrículo direito, cujo formato é discretamente semilunar. (TORTORA, 14ª ed.) VALVAS CARDÍACAS ↠ O sangue flui através do coração em uma direção, dos átrios para os ventrículos, e sai pelas grandes artérias que deixam o coração por sua face superior. Esse tráfego de uma via é garantido por quatro valvas que abrem e fecham em resposta às diferenças de pressão sanguínea presentes nos seus dois lados (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Cada uma das quatro valvas ajuda a assegurar o fluxo unidirecional de sangue através da abertura ao possibilitar que o sangue passe e, em seguida, se fechando para impedir o seu refluxo (TORTORA, 14ª ed.). VALVAS ATRIOVENTRICULARES ↠ As duas valvas atrioventriculares (AV), localizadas em cada junção atrioventricular, impedem o fluxo retrógrado para os átrios quando os ventrículos contraem (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A valva AV direita, valva tricúspide, tem três válvulas flexíveis (cúspides ou folhetos do endocárdio reforçados por tecido conjuntivo). A valva AV esquerda, com duas válvulas, é denominada valva mitral por causa da sua 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck semelhança com a mitra ou chapéu do bispo (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Acopladas a cada válvula da valva AV estão pequenas cordas brancas de colágeno chamadas de cordas tendíneas ("tiras do coração"), as quais prendem as válvulas aos músculos papilares que se projetam das paredes ventriculares (MARIEB, 3ª ed.). Quando o coração está completamente relaxado, as válvulas da valva AV pendem frouxamente sobre a câmara ventricular e o sangue flui para os átrios e depois para os ventrículos através das valvas AV. Quando os ventrículos contraem, comprimindo o sangue nas suas câmaras, a pressão intraventricular aumenta, pressionando o sangue para cima contra as válvulas das valvas. Como resultado, as extremidades das válvulas se encontram, fechando as valvas. As cordas tendíneas e os músculos papilares servem como fios-guia para prender as válvulas das valvas na posição fechada. Se as válvulas não fossem ancoradas dessa maneira, elas seriam empurradas para cima, para dentro do átrio, da mesma maneira que um guarda-chuva virado ao avesso em um dia de vento. Os músculos papilares contraem antes da outra musculatura ventricular, de tal forma que eles estiram as cordas tendíneas antes que a força de contração ventricular arremesse fortemente o sangue contra as válvulas das valvas AV (MARIEB, 3ª ed.). VALVAS SEMILUNARES ↠ As valvas aórtica e pulmonar (semilunares, SL) guardam a base das grandes artérias que partem dos ventrículos (parte ascendente da aorta e do tronco pulmonar, respectivamente) e impedem o fluxo retrógrado para os ventrículos (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Cada valva SL é formada por três válvulas, é em forma de bolsa, com formato aproximado de meia-lua (semilunar = meia-lua). Da mesma forma que as valvas AV, as valvas SL abrem e fecham em resposta às diferenças de pressão. No caso das SL, quando os ventrículos estão contraindo e a pressão intraventricular aumenta acima da pressão na aorta e no tronco pulmonar, as valvas SL são forçadas a abrir, e suas válvulas se achatam contra as paredes arteriais quando o sangue passa por elas. Quando os ventrículos relaxam e o sangue (não mais propelido para a frente pela pressão da contração ventricular) flui para trás, em direção ao coração, ele enche as válvulas e fecha as valvas (MARIEB, 3ª ed.). 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck OBS.: Um dado muito importante a acrescentar é que não há valvas guardando as entradas das veias cavas e pulmonares nos átrios direito e esquerdo, respectivamente (MARIEB, 3ª ed.). Quando os átrios se contraem, um pequeno volume de sangue reflui dos átrios para estes vasos. No entanto, o refluxo é minimizado por um mecanismo diferente; conforme o músculo atrial se contrai, ele comprime e quase colapsa as fracas paredes dos pontos de entrada das veias (TORTORA, 14ª ed.). TRAJETO DO SANGUE ATRAVÉS DO CORAÇÃO ↠ Os vasos sanguíneos que levam e trazem sangue dos pulmões formam o circuito pulmonar, o qual efetua as trocas gasosas. Os vasos sanguíneos que levam e trazem o suprimento funcional de sangue de todos os tecidos do corpo constituem o circuito sistêmico (MARIEB, 3ª ed.). O lado direito do coração é a bomba do circuito pulmonar. O sangue que retoma do corpo é relativamente pobre em oxigênio e rico em dióxido de carbono. Ele entra no átrio direito e passa ao ventrículo direito, o qual o bombeia aos pulmões via tronco pulmonar. Nos pulmões, o sangue descarrega dióxido de carbono e capta oxigênio. O sangue recém-oxigenado é levado de volta ao lado esquerdo do coração, pelas veias pulmonares (MARIEB, 3ª ed.). O lado esquerdo do coração é a bomba do circuito sistêmico. O sangue recém-oxigenado que deixa os pulmões retoma ao átrio esquerdo e passa ao ventrículo esquerdo, o qual o bombeia para a aorta. De lá, o sangue é transportado vias artérias sistêmicas menores aos tecidos do corpo, onde gases e nutrientes são transportados através das paredes capilares (MARIEB, 3ª ed.). Esse ciclo se repete continuamente. Embora sejam bombeados volumes iguais de sangue para os circuitos pulmonar e sistémico, em qualquer momento, os dois ventrículos possuem cargas de trabalho muito diferentes. O circuito pulmonar, suprido pelo ventrículo direito, é uma circulação curta de baixa pressão, enquanto o circuito sistêmico, associado com o ventrículo esquerdo, segue uma longa via através de todo o corpo e depara-se com cerca de cinco vezes mais atrito ou resistência ao fluxo sanguíneo. Essa diferença funcional é revelada na anatomia dos dois ventrículos (MARIEB, 3ª ed.). Circulação coronariana OBS.: O miocárdio é muito espesso para fazer da difusão um meio prático de entrega de nutrientes (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A circulação coronariana, o suprimento sanguíneo funcional do coração, é a circulação mais curta do corpo. O suprimento arterial da circulação coronariana é fornecido pelas artérias coronárias direita e esquerda, ambas sendo originadas da aorta e circundando o coração no sulco coronário (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A artériacoronária esquerda segue em direção ao lado esquerdo do coração e se divide em seus ramos principais: (MARIEB, 3ª ed.). 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck ➢ o ramo interventricular anterior (também conhecido clinicamente como artéria descendente anterior esquerda), o qual percorre o sulco interventricular anterior e fornece sangue ao septo interventricular e às paredes anteriores de ambos os ventrículos; ➢ o ramo circunflexo, que supre o átrio esquerdo e as paredes posteriores do ventrículo esquerdo. ↠ A artéria coronária direita cursa pelo lado direito do coração, onde também se divide em dois ramos: (MARIEB, 3ª ed.). ➢ o ramo marginal direito, o qual supre o miocárdio do lado direito do coração; ➢ o ramo interventricular posterior, o qual corre para o ápice do coração e supre as paredes ventriculares posteriores. Próximo do ápice do coração, essa artéria se funde (anastomosa) com a artéria interventricular anterior. Juntos, os ramos da artéria coronária direita suprem o átrio direito e quase todo o ventrículo direito. Há muitas anastomoses entre os ramos arteriais coronarianos. Essas redes se fundem, proporcionando rotas adicionais (colaterais) para entrega de sangue ao músculo cardíaco, mas não são suficientemente robustas para manter a nutrição adequada quando uma artéria coronária é subitamente ocluída (MARIEB, 3ª ed.). ↠ As artérias coronárias fornecem um fluxo sanguíneo intermitente, pulsátil, para o miocárdio. Esses vasos e seus ramos principais se situam no epicárdio e enviam ramos para dentro, nutrindo o miocárdio. Eles entregam sangue quando o coração está relaxado, mas são bastante ineficazes quando os ventrículos estão contraindo, pois são comprimidos pelo miocárdio em contração (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Após passar pelos leitos capilares do miocárdio, o sangue venoso é coletado pelas veias cardíacas, cujos trajetos seguem aproximadamente aqueles das artérias coronárias. Essas veias se juntam para formar um vaso alargado chamado de seio coronário, o qual libera o sangue no átrio direito. O seio coronário é evidente na vista posterior do coração (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O seio tem três grandes tributárias: a veia cardíaca magna, pelo sulco interventricular anterior, a veia interventricular posterior (média), que percorre o sulco interventricular posterior, e a veia cardíaca parva, que corre ao longo da margem inferior direita do coração. Além disso, várias veias anteriores do ventrículo direito se esvaziam diretamente no átrio direito anteriormente (MARIEB, 3ª ed.). Fibras musculares cardíacas ↠ O músculo c.ardíaco, assim como o músculo esquelético, é estriado e contrai pelo mecanismo de deslizamento de filamentos (MARIEB, 3ª ed.). ↠ As fibras cardíacas são curtas, ramificadas e interconectadas. Cada fibra contém um ou, no máximo, dois núcleos grandes, pálidos, localizados no centro da célula (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Os espaços intercelulares são preenchidos com uma matriz de tecido conjuntivo frouxo (o endomísio) contendo inúmeros capilares. Essa matriz delicada é conectada ao esqueleto fibroso, o qual atua tanto como um tendão quanto como uma inserção, fornecendo às células cardíacas ancoragem para exercer sua força (MARIEB, 3ª ed.). ↠ As membranas plasmáticas das células cardíacas adjacentes se entrelaçam em junções com coloração escura chamadas de discos intercalares (intercala = inserir). Esses discos contêm as junções de ancoramento, os desmossomos, e as junções comunicantes (MARIEB, 3ª ed.). 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck Os desmossomos evitam que as células adjacentes se separe.m durante a contração e as junções comunicantes permitem que os íons passem de célula a célula, transmitindo corrente ao longo de todo o coração (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Mitocôndrias grandes perfazem 25 a 35% do volume das células cardíacas (comparado com apenas 2% no músculo esquelético) e conferem às células cardíacas uma alta resistência à fadiga. A maior parte do volume restante é ocupada por miofibrilas, compostas de sarcômeros bastante típicos (MARIEB, 3ª ed.). O coração é composto por três tipos principais de músculo: o músculo atrial, o músculo ventricular e as fibras especializadas excitatórias e condutoras. (GUYTON, 13ª ed.) Os tipos atrial e ventricular de músculo contraem-se quase como os músculos esqueléticos, mas com duração muito maior da contração. (GUYTON, 13ª ed.) As fibras excitatórias e de condução do coração, no entanto, só se contraem fracamente por conterem poucas fibras contráteis, mas apresentam descargas elétricas rítmicas automáticas, na forma de potenciais de ação, ou fazem a condução desses potenciais de ação pelo coração, representando sistema excitatório que controla os batimentos rítmicos. (GUYTON, 13ª ed.) Considera-se que a disposição das células musculares cardíacas forma um sincício mecânico e elétrico, fazendo com que um único potencial de ação (gerado no interior do nó sinoatrial) curse por todo o coração, de maneira que este se contraia de modo sincrônico, semelhante a ondas. (BERNE E LEVY) ↠ O sinal para a contração é miogênico, ou seja, é originado dentro do próprio músculo cardíaco. (SILVERTHON, 7ª ed.) ↠ O sinal para a contração miocárdica não é proveniente do sistema nervoso central, mas de células miocárdicas especializadas, denominadas células autoexcitáveis. As células autoexcitáveis são também denominadas células marca-passo, uma vez que elas determinam a frequência dos batimentos cardíacos. (SILVERTHON, 7ª ed.) As células autoexcitáveis miocárdicas são anatomicamente distintas das células contráteis: elas são menores e contêm poucas fibras contráteis. Como elas não têm sarcômeros organizados, as células autoexcitáveis não contribuem para a força contrátil do coração. (SILVERTHON, 7ª ed.) Potenciais de ação ↠ O músculo cardíaco é um tecido excitável com a capacidade de gerar potenciais de ação. (SILVERTHON, 7ª ed.) ↠ Cada um dos dois tipos de células musculares cardíacas tem um potencial de ação distinto, que varia um pouco no formato, dependendo do local do coração onde ele é medido. (SILVERTHON, 7ª ed.) ↠ Tanto no miocárdio autoexcitável quanto no contrátil, o Ca+2 desempenha um papel importante no potencial de ação. (SILVERTHON, 7ª ed.) CÉLULAS MIOCÁRDICAS AUTOEXCITÁVEIS Potencial de membrana instável, o qual inicia em - 60 mV e lentamente ascende em direção ao limiar. (SILVERTHON, 7ª ed.) Este potencial de membrana instável é chamado de potencial marca- passo, em vez de potencial de membrana em repouso, uma vez que ele nunca permanece em um valor constante. Sempre que o potencial marca--passo depolariza até o limiar, as células autoexcitáveis disparam um potencial de ação. (SILVERTHON, 7ª ed.) As células autoexcitáveis contêm canais que são diferentes dos canais de outros tecidos excitáveis. Quando o potencial de membrana da célula é -60 mV, os canais If, que são permeáveis tanto ao K+ quanto ao Na+2, estão abertos. (SILVERTHON, 7ª ed.) Os canais If são assim denominados porque eles permitem o fluxo da corrente (I) e devido às suas propriedades não usuais. (SILVERTHON, 7ª ed.) Os pesquisadores que primeiro descreveram a corrente iônica através desses canais não entenderam, naquele momento, o seu comportamento e a denominaram corrente funny (engraçada), e, portanto, utilizaram o subscrito f. Os canais If pertencem à família dos canais HCN, ou canais dependentes de nucleotídeos cíclicos ativados por hiperpolarização. (SILVERTHON, 7ª ed.) 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck Quando os canais If se abrem em potenciais de membrana negativos, o influxo de Na+ excede o efluxo de K+. O influxo resultante de carga positiva despolariza lentamente a célula autoexcitável. À medida que o potencial de membrana se torna mais positivo, os canais de If fecham- se gradualmente, e algunscanais de Ca+2 se abrem. O resultante influxo de Ca+2 continua a despolarização, e o potencial de membrana move-se continuamente em direção ao limiar. (SILVERTHON, 7ª ed.) Quando o potencial de membrana atinge o limiar, canais adicionais de Ca+2 dependentes de voltagem se abrem. O cálcio entra rapidamente na célula, gerando a fase de despolarização rápida do potencial de ação. (SILVERTHON, 7ª ed.) Quando os canais de Ca+2 se fecham no pico do potencial de ação, os canais lentos de K+ estão abrindo. A fase de repolarização do potencial de ação autoexcitável é devida resultante efluxo de K+. (SILVERTHON, 7ª ed.) A velocidade na qual as células marca-passo despolarizam determina a frequência com que o coração contrai (a frequência cardíaca). O intervalo entre os potenciais de ação pode ser modificado pela alteração da permeabilidade das células autoexcitáveis para diferentes íons, o que, por sua vez, modifica a duração do potencial marca-passo. (SILVERTHON, 7ª ed.) CÉLULAS MIOCÁRDICAS CONTRÁTEIS Os potenciais de ação das células cardíacas contráteis são similares, de diversas maneiras, aos dos neurônios e dos músculos esqueléticos. A fase de despolarização rápida do potencial de ação é resultado da entrada de Na+, e a fase de repolarização rápida é devida à saída de K+ da célula. (SILVERTHON, 7ª ed.) ➢ Fase 0: despolarização. Quando a onda de despolarização entra na célula contrátil através das junções comunicantes, o potencial de membrana torna-se mais positivo. Os canais de Na+ dependentes de voltagem (canais rápidos de sódio) se abrem, permitindo que a entrada de Na+ despolarize rapidamente a célula. O potencial de membrana atinge cerca de 20 mV antes de os canais de Na+ se fecharem. Estes são canais de Na+ com duas comportas. ➢ Fase 1: repolarização inicial. Quando os canais rápidos de Na+ se fecham, a célula começa a repolarizar à medida que o K+ deixa a célula pelos canais de K+ abertos. ➢ Fase 2: o platô. A repolarização inicial é muito breve. O potencial de ação, então, se achata e forma um platô como resultado de dois eventos: uma diminuição na permeabilidade ao K+ e um aumento na permeabilidade ao Ca+2.. Os canais de Ca+2 dependentes de voltagem ativados pela despolarização foram abertos lentamente durante as fases 0 e 1. Quando eles finalmente abrem, o Ca+2 entra na célula. Ao mesmo tempo, alguns canais “rápidos” de K+ se fecham. A combinação do influxo de Ca+2 com a diminuição do efluxo de K+ faz o potencial de ação se achatar e formar um platô. Quando os canais de Ca+2 acionados por voltagem do sarcolema se abrem, os íons cálcio se movem do líquido intersticial para o citosol. Este influxo de Ca+2 faz com que ainda mais Ca+2 saia do RS para o citosol por canais adicionais de Ca+2 da membrana do reticulo sarcoplasmático. (TORTORA 14ª ed.) A entrada do cálcio é uma característica do acoplamento excitação- contração cardíaco No músculo cardíaco, um potencial de ação inicia o acoplamento EC, contudo, o potencial de ação origina-se espontaneamente nas células marca-passo do coração e se propaga para as células contráteis através das junções comunicantes. (SILVERTHON, 7ª ed.) 1- Um potencial de ação que entra em uma célula contrátil se move pelo sarcolema e entra nos túbulos T; 2- Onde abre os canais de Ca+2 dependentes de voltagem tipo L na membrana das células; 3- O Ca+2 entra nas células através desses canais, movendo- se a favor do seu gradiente eletroquímico. A entrada de cálcio abre os canais liberadores de cálcio do tipo rianodínico (RyR) no retículo sarcoplasmático; 4- Esse processo do acoplamento EC no músculo cardíaco é também chamado de liberação de Ca+2 induzida pelo Ca+2 (LCIC). Quando os canais RyR se abrem, o cálcio estocado flui para fora do retículo sarcoplasmático e entra no citosol; 5- Cria-se uma fagulha que pode ser vista utilizando-se métodos bioquímicos especiais. A abertura múltipla de diferentes canais RyR se somam para criar o sinal de Ca+2; 9 Júlia Morbeck – @med.morbeck 6- A liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático fornece, aproximadamente, 90% do Ca+2 necessário à contração muscular, sendo que os 10% restantes entram na célula a partir do líquido extracelular. O cálcio difunde-se pelo citosol para os elementos contráteis, onde se liga à troponina e inicia o ciclo de formação de pontes cruzadas e o movimento; 7- Com a diminuição das concentrações citoplasmáticas de Ca+2, o Ca+2 desliga-se da troponina, liberando a actina da miosina, e os filamentos contráteis deslizam de volta para sua posição relaxada; 8- O Cálcio é transportado de volta para o retículo sarcoplasmático com a ajuda da Ca+2 -ATPase; 9- No músculo cardíaco, o Cálcio também é removido de dentro da célula pelo trocador Na+ - Ca+2 (NCX); 10- Um Ca+2 é movido para fora da célula contra o seu gradiente eletroquímico em troca de 3 Na+ para dentro da célula a favor do seu gradiente eletroquímico. O sódio que entra na célula durante essa troca é removido pela Na+-K+- ATPase. ➢ Fase 3: repolarização rápida. O platô termina quando os canais de Ca+2 se fecham e a permeabilidade ao K+ aumenta mais uma vez. Os canais lentos de K+, responsáveis por essa fase são ativados pela despolarização, mas são abertos lentamente. Quando os canais lentos de K+ se abrem, o K+ sai rapidamente e a célula retorna para seu potencial de repouso (fase 4). ➢ Fase 4: potencial de membrana em repouso. As células miocárdicas contráteis têm um potencial de repouso estável de aproximadamente -90 mV Sistema de condução ↠ A comunicação elétrica no coração começa com um potencial de ação em uma célula autoexcitável. A despolarização se propaga rapidamente para as células vizinhas através das junções comunicantes nos discos intercalares. (SILVERTHON, 7ª ed.) ↠ As fibras do nodo sinusal se conectam diretamente às fibras musculares atriais, de modo que qualquer potencial de ação que se inicie no nodo sinusal se difunde de imediato para a parede do músculo atrial. (GUYTON, 13ª ed.) ↠ A onda de despolarização é seguida por uma onda de contração, que passa pelo átrio e depois vai para os ventrículos. (SILVERTHON, 7ª ed.) ↠ A despolarização inicia no nó sinoatrial (nó SA), as células autoexcitáveis no átrio direito que servem como o principal marca-passo do coração. A onda de despolarização, então, propaga-se rapidamente por um sistema especializado de condução, constituído de fibras autoexcitáveis não contráteis. (SILVERTHON, 7ª ed.) ↠ As células do nó SA não têm potencial de repouso estável. Em vez disso, elas se despolarizam repetida e espontaneamente até um limiar. Quando o potencial marcapasso alcança o limiar, ele dispara um potencial de ação. (TORTORA, 14ª ed.) ↠ Uma via internodal ramificada conecta o nó SA com o nó atrioventricular (nó AV), um grupo de células autoexcitáveis perto do assoalho do átrio direito. (SILVERTHON, 7ª ed.) ↠ No nó AV, o potencial de ação se desacelera consideravelmente, como resultado de várias diferenças na estrutura celular do nó AV. Este atraso fornece tempo para os átrios drenarem seu sangue para os ventrículos. (TORTORA, 14ª ed.) NÓ SINOATRIAL NÓ ATRIOVENTRIC ULAR FEIXE DE HIS RAMOS DIREITO E ESQUERDO FIBRAS DE PURKINJE 10 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Do nó AV, a despolarização move-se para os ventrículos. através do feixe AV (fascículo atrioventricular) também chamado de feixe de His (“hiss”), no septo ventricular. (SILVERTHON, 7ª ed.) ↠ Percorrido um curto caminho no septo, o feixe se divide em ramos esquerdo e direito. Esses ramos continuam se deslocando para o ápice do coração, onde se dividem em pequenas fibras de Purkinje, que se espalham lateralmente entre as células contráteis. (SILVERTHON, 7ª ed.) Ciclo cardíaco ↠ O conjunto dos eventos cardíacos, que ocorre entre o início de umbatimento e o início do próximo, é denominado ciclo cardíaco. Cada ciclo é iniciado pela geração espontânea de potencial de ação no nodo sinusal. (GUYTON, 13ª ed.) DiÁstole e SÍstole ↠O ciclo cardíaco consiste no período de relaxamento, chamado diástole, durante o qual o coração se enche de sangue, seguido pelo período de contração, chamado sístole. A duração total do ciclo cardíaco, incluindo a sístole e a diástole, é a recíproca da frequência cardíaca. (GUYTON, 13ª ed.) Por exemplo, se a frequência cardíaca é de 72 batimentos/min, a duração do ciclo cardíaco é de 1/72 batimentos/min — aproximadamente 0,0139 minuto por batimento, ou 0,833 segundo por batimento. Obs.: O Aumento da Frequência Cardíaca Reduz a Duração do Ciclo Cardíaco. Os átrios funcionam como pré-bombas para os ventrículos: Normalmente, o sangue flui de forma contínua, vindo das grandes veias para os átrios; cerca de 80% do sangue fluem diretamente dos átrios para os ventrículos, mesmo antes da contração atrial. Então, essa contração representa os 20% adicionais para acabar de encher os ventrículos. Desse modo, os átrios funcionam como bomba de escova (primer pump), que melhora a eficácia do bombeamento ventricular por, no máximo, 20%. Entretanto, o coração pode continuar operando, na maioria das circunstâncias, mesmo sem esses 20% a mais de eficiência, pois ele normalmente tem capacidade de bombear de 300 a 400% a mais de sangue do que o necessário para o corpo, nas condições de repouso (GUYTON, 13ª ed.). Período de Contração Isovolumétrica (Isométrica) ↠ Imediatamente após o início da contração ventricular, a pressão ventricular sobe, de modo abrupto, fazendo com que as valvas A-V se fechem. ↠ É necessário mais 0,02 a 0,03 segundo para que o ventrículo gere pressão suficiente para empurrar e abrir as válvulas semilunares (aórtica e pulmonar) contra a pressão nas artérias aorta e pulmonar. ↠ Durante esse período os ventrículos estão se contraindo, mas não ocorre esvaziamento. É o chamado período de contração isovolumétrica ou isométrica. Período de Ejeção ↠ Quando a pressão no interior do ventrículo esquerdo aumenta até pouco acima de 80 mmHg (e a pressão do ventrículo direito, pouco acima de 8 mmHg), a pressão ventricular força a abertura das valvas. ↠ Imediatamente, o sangue começa a ser lançado para diante, para as artérias. Em torno de 60% do sangue do ventrículo são ejetados durante a sístole. ↠ Cerca de 70% dessa porção são ejetados durante o primeiro terço do período de ejeção, e os 30% restantes do esvaziamento ocorrem nos outros dois terços do período. ↠ Assim, o primeiro terço é o chamado período de ejeção rápida, e os demais dois terços, período de ejeção lenta. Período de Relaxamento Isovolumétrico (Isométrico) ↠ Ao final da sístole, o relaxamento ventricular começa de modo repentino, fazendo com que as pressões intraventriculares direita e esquerda diminuam rapidamente. 11 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ As altas pressões nas artérias distendidas que acabaram de ser cheias com o sangue vindo dos ventrículos contraídos tornam a empurrar o sangue de volta para os ventrículos, causando o fechamento das valvas aórtica e pulmonar. ↠ Durante mais 0,03 a 0,06 segundo, o músculo ventricular continua a relaxar, mesmo que o volume não se altere, originando o período de relaxamento isovolumétrico ou isométrico. ↠ As pressões intraventriculares diminuem rapidamente de volta aos valores diastólicos. É então que as valvas A- V se abrem para iniciar novo ciclo de bombeamento ventricular. Os Ventrículos se Enchem de Sangue durante a Diástole. ↠ Assim que a sístole termina e as pressões ventriculares retornam aos baixos valores diastólicos, as pressões moderadamente altas que se desenvolveram nos átrios durante a sístole ventricular forçam de imediato as valvas A-V a se abrirem. ↠ É o chamado período de enchimento rápido ventricular. O período de enchimento rápido ocorre aproximadamente durante o primeiro terço da diástole. ↠ Ao longo do segundo terço, uma pequena quantidade de sangue nas condições normais flui para os ventrículos, sendo esse o sangue que continua a chegar aos átrios, vindo das veias, fluindo diretamente para os ventrículos. ↠ Durante o último terço da diástole, os átrios se contraem, dando impulso adicional ao fluxo sanguíneo para os ventrículos. Esse mecanismo responde por mais ou menos 20% do enchimento ventricular total em cada ciclo cardíaco. Regulação do sistema cardiovascular CONCEITOS IMPORTANTES DÉBITO CARDÍACO ↠ Débito cardíaco (DC) é a quantidade de sangue bombeada por cada ventrículo em um minuto. Ele é o produto da frequência cardíaca (FC) pelo volume sistólico (VS) (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Volume sistólico é definido como o volume de sangue bombeado por um ventrículo em cada batimento. Em geral, o volume sistólico é correlacionado com a força da contração ventricular (MARIEB, 3ª ed.). DC = FC X VS O volume de sangue em um adulto normal é de aproximadamente 5 L. Assim, todo o suprimento sanguíneo passa através de cada lado do coração uma vez em cada minuto. Observe que o DC varia diretamente com o VS e a FC. Portanto, o DC aumenta quando o VS aumenta ou o coração bate mais rápido, ou ambos, e diminui quando um ou os ambos fatores diminuem (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O DC é muito variável e aumenta substancialmente em resposta a demandas especiais, como correr para alcançar um ônibus. A diferença entre o DC máximo e o de repouso é chamada de reserva cardíaca. Em pessoas não-atletas, a reserva cardíaca em geral é 4 a 5 vezes o DC (20 a 25 mL/min), mas o DC em atletas treinados pode atingir 35 mL/ min (sete vezes o do repouso) durante a competição (MARIEB, 3ª ed.). REGULAÇÃO DO VOLUME SISTÓLICO ↠ Essencialmente, o VS representa a diferença entre o volume diastólico final (VDF), a quantidade de sangue que se acumula em um ventrículo durante a diástole, e o volume sistólico final (VSF), o volume de sangue que permanece em um ventrículo após ele ter contraído (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O VDF, determinado pela duração da diástole ventricular e pela pressão venosa (um aumento em qualquer desses fatores eleva o VDF), normalmente é de cerca de 120 mL (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O VSF, determinado pela pressão sanguínea arterial (quanto maior a pressão, maior o VSF) e pela força de contração ventricular, é de aproximadamente 50 mL (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Embora muitos fatores afetem o VS por causar alterações no VDF ou no VSF, os três mais importantes são a pré-carga, a contratilidade e a pós-carga (MARIEB, 3ª ed.). Pré-carga: grau de estiramento do músculo cardíaco ↠ De acordo com a lei de Frank-Starling do coração, o fator crítico no controle do VS é a pré-carga, a qual é o grau de 12 Júlia Morbeck – @med.morbeck estiramento das fibras musculares cardíacas imediatamente antes de contraírem (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O fator mais relevante para o estiramento cardíaco é a quantidade de sangue que retoma ao coração e distende os ventrículos, chamado de retorno venoso (MARIEB, 3ª ed.). Contratilidade ↠ Embora o VDF seja o principal fator intrínseco que influencia o VS, o último também pode ser aumentado por fatores extrínsecos que aumentam a contratilidade do músculo cardíaco. Contratilidade é definida como a força contrátil atingida em um determinado comprimento muscular (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Observe que a contratilidade é independente do estiramento do músculo e do VDF. Um aumento na contratilidade é devido a um maior influxo de Ca+2 para o citoplasma, a partir do líquido extracelular e do RS. O aumento da contratilidade resulta em ejeção de sangue do coração (maior VS) e, consequentemente, em um menor VSF. Aumento da estimulação simpática aumenta a contratilidade do coração (MARIEB, 3ª ed.). Pós-carga: pressão retrógradaexercida pelo sangue arterial ↠ A pressão que deve ser superada para que os ventrículos ejetem o sangue é denominada pós-carga. Ela é essencialmente a pressão para trás exercida pelo sangue arterial nas valvas aórtica e pulmonar, cerca de 80 mmHg na aorta e 8 mmHg no tronco pulmonar. ↠ Em indivíduos saudáveis, a pós-carga não é o principal determinante do volume sistólico, pois é relativamente constante. Contudo, em hipertensos (alta pressão arterial), sem dúvida ela é importante, por reduzir a capacidade dos ventrículos de ejetar sangue. Consequentemente, mais sangue permanece no coração após a sístole, resultando em aumento do VSF e redução do VS (MARIEB, 3ª ed.). Regulação do sistema cardiovascular ↠ Vários sistemas de feedback negativo interligados controlam a pressão arterial por meio do ajuste do ritmo cardíaco, do volume sistólico, da resistência vascular sistêmica e do volume de sangue. Alguns sistemas possibilitam ajustes rápidos para lidar com mudanças bruscas, como a queda da pressão sanguínea no encéfalo que ocorre quando a pessoa levanta da cama; outros agem mais lentamente para fornecer a regulação a longo prazo da pressão sanguínea. (TORTORA, 14ª ed.) PAPEL DO CENTRO CARDIOVASCULAR ↠ O centro cardiovascular (CV) no bulbo ajuda a regular a frequência cardíaca e o volume sistólico. O centro CV também controla sistemas de feedback negativo neurais, hormonais e locais que regulam a pressão e fluxo sanguíneo a tecidos específicos. (TORTORA, 14ª ed.) ↠ Grupos de neurônios espalhados no centro CV regulam a frequência cardíaca, a contratilidade (força de contração) dos ventrículos e o diâmetro dos vasos sanguíneos. (TORTORA, 14ª ed.) ↠ Os três tipos principais de receptores sensitivos que fornecem informações ao centro cardiovascular são os proprioceptores, os barorreceptores e os quimiorreceptores. (TORTORA, 14ª ed.) Regulação autonômica A regulação do coração pelo sistema nervoso se origina no centro cardiovascular localizado no bulbo. Esta região do tronco encefálico recebe informações de vários receptores sensoriais e dos centros cerebrais superiores, como o sistema límbico e o córtex cerebral. O centro cardiovascular então direciona o débito apropriado, aumentando ou diminuindo a frequência dos impulsos nervosos nas partes simpática e parassimpática do SNA (TORTORA, 14ª ed.). REFLEXOS BARORRECEPTORES ↠ Mecanismo rápido de controle da pressão que atuam em segundos ou minutos (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Os barorreceptores, receptores sensitivos sensíveis à pressão, estão localizados na aorta, nas artérias carótidas internas (artérias do pescoço que fornecem sangue ao encéfalo) e outras grandes artérias do pescoço e do tórax. (TORTORA, 14ª ed.) ↠ Eles enviam impulsos para o centro cardiovascular para ajudar a regular a pressão sanguínea. Os dois reflexos barorreceptores mais importantes são o reflexo do seio carótico e o reflexo da aorta. (TORTORA, 14ª ed.) Os seios caróticos são pequenas ampliações das artérias carótidas internas direita e esquerda, um pouco acima do ponto em que elas se ramificam da artéria carótida comum. (TORTORA, 14ª ed.) ↠ A pressão arterial distende a parede do seio carótico, o que estimula os barorreceptores. (TORTORA, 14ª ed.) ↠ Quando a pressão arterial cai, os barorreceptores são menos distendidos e enviam impulsos nervosos em uma frequência mais lenta ao centro cardiovascular. Em resposta, o centro CV diminui a estimulação parassimpática do coração por meio dos axônios motores dos nervos vago e aumenta a estimulação simpática do 13 Júlia Morbeck – @med.morbeck coração via nervos aceleradores cardíacos. (TORTORA, 14ª ed.) ↠ Inversamente, quando é detectado um aumento na pressão, os barorreceptores enviam impulsos em uma frequência mais rápida. O centro CV responde aumentando a estimulação parassimpática e diminuindo a estimulação simpática. As reduções resultantes da frequência cardíaca e força de contração diminuem o débito cardíaco. (TORTORA, 14ª ed.) REFLEXOS QUIMIORRECEPTORES ↠ Os quimiorreceptores, receptores sensitivos que monitoram a composição química do sangue, estão localizados perto dos barorreceptores do seio carótico e do arco da aorta em pequenas estruturas chamadas glomos caróticos e glomos para-aórticos, respectivamente. (TORTORA, 14ª ed.) ↠ Estes quimiorreceptores detectam mudanças nos níveis sanguíneos de O2, CO2 e H+. Hipoxia (baixa disponibilidade de O2), acidose (aumento na concentração de H+) ou hipercapnia (excesso de CO2) estimulam os quimiorreceptores a enviar impulsos ao centro cardiovascular. Em resposta, o centro CV aumenta a estimulação simpática de arteríolas e veias, provocando vasoconstrição e aumento da pressão sanguínea. (TORTORA, 14ª ed.) Os neurônios simpáticos se estendem do bulbo à medula espinal. Da região torácica da medula espinal, nervos simpáticos aceleradores cardíacos estendem-se para o nó SA, para o nó AV e para a maior parte das porções do miocárdio. Os impulsos nos nervos cardíacos aceleradores desencadeiam a liberação de norepinefrina, que se liga os receptores beta-1 (ß1) das fibras musculares cardíacas. (TORTORA, 14ª ed.). Essa interação tem dois efeitos distintos: (TORTORA, 14ª ed.). ➢ nas fibras do nó SA (e AV), a norepinefrina acelera a taxa de despolarização espontânea, de modo que estes marcapassos disparam impulsos mais rapidamente e aumentam a frequência cardíaca; ➢ nas fibras contráteis dos átrios e ventrículos, a norepinefrina aumenta a entrada de Ca2+ através dos canais lentos de Ca2+ acionados por voltagem, aumentando assim a contratilidade. Como resultado, um maior volume de sangue é ejetado durante a sístole. Em caso de aumento moderado da frequência cardíaca, o volume sistólico não diminui, porque o aumento da contratilidade compensa a redução da pré-carga. Com a estimulação simpática máxima, no entanto, a frequência cardíaca pode chegar a 200 bpm em uma pessoa de 20 anos de idade. Em uma frequência cardíaca assim alta, o volume sistólico é menor do que em repouso, por causa do tempo de enchimento muito curto. A frequência cardíaca máxima diminui com a idade; como regra, subtrair sua idade de 220 fornece uma boa estimativa de sua frequência cardíaca máxima em batimentos por minuto (TORTORA, 14ª ed.). Os impulsos nervosos parassimpáticos chegam ao coração por meio dos nervos vagos (NC X) direito e esquerdo. Os axônios vagais terminam no nó SA, no nó AV e no miocárdio atrial. Eles liberam acetilcolina, o que reduz a frequência cardíaca, diminuindo a velocidade de despolarização espontânea das fibras autorrítmicas. Dado que apenas algumas fibras vagais inervam o músculo ventricular, as alterações na atividade parassimpática pouco influenciam a contratilidade dos ventrículos (TORTORA, 14ª ed.). Existe um equilíbrio que flutua continuamente entre a estimulação simpática e a estimulação parassimpática do coração. Em repouso, a estimulação parassimpática predomina. A frequência cardíaca de repouso – de aproximadamente 75 bpm – geralmente é menor do que a frequência autorrítmica do nó SA (cerca de 100 bpm). Com a estimulação máxima pela parte parassimpática, o coração pode desacelerar para 20 ou 30 bpm, ou pode até mesmo parar momentaneamente (TORTORA, 14ª ed.). Regulação química ↠ Determinados produtos químicos influenciam a fisiologia de base do músculo cardíaco e a frequência cardíaca (TORTORA, 14ª ed.). SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA ↠ Mecanismo de controle da pressão que age após vários minutos (GUYTON, 13ª ed.). ↠ A renina é uma enzima proteica liberada pelos rins quando a pressão arterial cai para níveis muito baixos. Sua resposta consiste em elevar a pressão arterial de diversos modos, contribuindo para a correção da queda inicial da pressão. (GUYTON & HALL, 13ª ed.) ↠ A renina é sintetizada e armazenada em formainativa chamada pró-renina nas células justaglomerulares (células JG) dos rins. (GUYTON & HALL, 13ª ed.) ➢ Quando a pressão arterial cai, reações intrínsecas dos rins fazem com que muitas das moléculas de pró-renina nas células JG sejam clivadas, liberando renina. (GUYTON & HALL, 13ª ed.) 14 Júlia Morbeck – @med.morbeck ➢ A renina é uma enzima e age enzimaticamente sobre outra proteína plasmática, a globulina referida como substrato de renina (ou angiotensinogênio), liberando peptídeo com 10 aminoácidos, a angiotensina I. (GUYTON & HALL, 13ª ed.) ➢ A angiotensina I tem ligeiras propriedades vasoconstritoras, mas não suficientes para causar alterações significativas na função circulatória. (GUYTON & HALL, 13ª ed.) ➢ Alguns segundos após a formação de angiotensina I, dois aminoácidos adicionais são removidos da angiotensina I, formando o peptídeo de oito aminoácidos angiotensina II. Essa conversão ocorre, em grande parte, nos pulmões, enquanto o sangue flui por seus pequenos vasos catalisados pela enzima conversora de angiotensina (ECA) presente no endotélio dos vasos pulmonares. (GUYTON & HALL, 13ª ed.) ➢ A angiotensina II é vasoconstritor extremamente potente, e ela afeta a função circulatória por outros modos. Entretanto, ela persiste no sangue por apenas 1 ou 2 minutos por ser rapidamente inativada por múltiplas enzimas sanguíneas e teciduais, coletivamente chamadas de angiotensinases. (GUYTON & HALL, 13ª ed.) ↠ A angiotensina II exerce dois efeitos principais capazes de aumentar a pressão arterial: ➢ Vasoconstrição em muitas áreas do corpo, ocorre com muita rapidez. A vasoconstrição se dá, de modo muito intenso, nas arteríolas e com intensidade muito menor nas veias. A constrição das arteríolas aumenta a resistência periférica total, elevando, dessa forma, a pressão arterial. Além disso, a leve constrição das veias promove o aumento do retorno venoso do sangue para o coração, contribuindo para o maior bombeamento cardíaco contra a pressão elevada. (GUYTON & HALL, 13ª ed.) ➢ Diminuição da excreção de sal e de água pelos rins: essa ação eleva lentamente o volume do líquido extracelular, o que aumenta a pressão arterial durante as horas e dias subsequentes. (GUYTON & HALL, 13ª ed.) Epinefrina e norepinefrina ↠ Em resposta à estimulação simpática, a medula da glândula suprarrenal libera epinefrina e norepinefrina. Esses hormônios aumentam o débito cardíaco ao elevarem a velocidade e força das contrações cardíacas. Também causam constrição das arteríolas e veias na pele e órgãos abdominais e dilatação das arteríolas no músculo cardíaco e esquelético, o que ajuda a aumentar o fluxo sanguíneo para o músculo durante o exercício. (TORTORA, 14ª ed.) HORMÔNIO ANTIDIURÉTICO (HAD) ↠ O hormônio antidiurético (HAD) é produzido pelo hipotálamo e liberado pela neuro-hipófise em resposta à desidratação ou à diminuição no volume sanguíneo. Entre outras ações, o HAD causa vasoconstrição, o que aumenta a pressão arterial. Por isso, o HAD é também chamado vasopressina. O HAD também promove o deslocamento de água do lúmen dos túbulos renais para a corrente sanguínea. Isso resulta em aumento no volume sanguíneo e diminuição na produção de urina. (TORTORA, 14ª ed.) PEPTÍDIO NATRIURÉTICO ATRIAL (PNA) ↠ Liberado pelas células do átrio do coração, o PNA reduz a pressão arterial ao causar vasodilatação e promover a perda de sal e água na urina, o que reduz o volume sanguíneo. (TORTORA, 14ª ed.). Outros fatores CÁTIONS ↠ Dado que as diferenças entre as concentrações intracelulares e extracelulares de vários cátions (p. ex., Na+ e K+) são cruciais para a produção de potenciais de ação em todas as fibras nervosas e musculares, não é de se estranhar que os desequilíbrios iônicos possam comprometer rapidamente a efetividade do bombeamento cardíaco (TORTORA, 14ª ed.). ↠ As concentrações relativas de três cátions – K+, Ca2+ e Na+ – exercem efeito acentuado na função cardíaca. Níveis sanguíneos elevados de K+ ou Na+ diminuem a frequência e a contratilidade cardíaca. O excesso de Na+ bloqueia o influxo de Ca2+ durante potenciais de ação cardíacos, diminuindo assim a força de contração, enquanto o excesso de K+ bloqueia a produção de potenciais de ação. Um aumento moderado do nível intersticial (e, portanto, intracelular) de Ca2+ acelera a 15 Júlia Morbeck – @med.morbeck frequência cardíaca e fortalece as contrações cardíacas (TORTORA, 14ª ed.). A idade, o sexo, a condição física e a temperatura corporal também influenciam na frequência cardíaca de repouso (TORTORA, 14ª ed.). O aumento da temperatura corporal, como ocorre durante a febre ou os exercícios extenuantes, faz com que o nó SA libere impulsos mais rapidamente, aumentando assim a frequência cardíaca. A diminuição da temperatura corporal reduz a frequência e a força de contração cardíacas (TORTORA, 14ª ed.). Referências SILVERTHORN, Dee U. Fisiologia Humana. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo A, 2017. BERNE & LEVY. Fisiologia, 6ª ed. Elsevier Editora, SP, 2009. GUYTON & HALL. Tratado de Fisiologia Médica, 13ª ed. Editora Elsevier Ltda., 2017. MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e Fisiologia, 3ª ed., Porto Alegra: Artmed, 2008. TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016.
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