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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Objetivos 1- Compreender a etiologia, fatores de risco e epidemiologia da TVP; 2- Discutir sobre a fisiopatologia e manifestações clínicas da TVP; 3- Debater sobre as complicações da TVP (ênfase na TEP); 4- Explicar a úlcera de estase e dermatite; 5- Explanar sobre o diagnóstico e o tratamento da TVP e TEP; Trombose Venosa Profunda (TVP) ↠ A TVP consiste na formação de coágulos (trombos) nas veias do sistema venoso profundo, acometendo, com maior frequência, as veias dos membros inferiores e dos membros superiores (SOCESP, 5ª ed.). OBS.: Os trombos podem se desenvolver em veias superficiais ou profundas. A trombose venosa superficial (TVS) pode ocorrer em qualquer veia superficial e, antigamente, era considerada uma doença benigna. Em alguns casos, foi possível observar que a TVS leva a complicações como recidiva da TVS, TVP e embolia pulmonar. A TVP ocorre mais comumente nos membros inferiores. A TVP dos membros inferiores é um distúrbio sério, complicado por embolia pulmonar, episódios recidivantes de TVP, e desenvolvimento de insuficiência venosa crônica (PORTH, 10ª ed.) A TVS geralmente associado a um processo inflamatório e, por isso, é chamada de tromboflebite superficial (TFS) (CASTRO et. al., 2018). ↠ A TVP dos membros inferiores ocorre cerca de dez vezes mais frequentemente do que a TVP nas extremidades superiores (BRAUNWALD, 10ª ed.). OBS.: O sistema venoso profundo apresenta veias com paredes mais espessas e menos distensíveis, localizadas subfascialmente, cercadas por estruturas musculares. O sistema venoso profundo dos membros inferiores pode ser dividido em sua porção distal (abaixo do joelho) e proximal (acima do joelho, incluindo a veia poplítea) (SOCESP, 5ª ed.). CLASSIFICAÇÃO DA TVP ↠ A TVP nos membros inferiores é dividida, simplificadamente, segundo sua localização: (DIRETRIZ, 2015). ➢ Proximal: quando acomete veia ilíaca e/ou femoral e/ou poplítea. ➢ Distal: quando acomete as veias localizadas abaixo da poplítea. ↠ O risco de EP e a magnitude da síndrome pós- trombótica (SPT) decorrente da TVP proximal são maiores. Entretanto, existe um risco de progressão da trombose distal para segmentos proximais de até 20%, o que faz com que o diagnóstico e o tratamento da TVP distal sejam similares ao da TVP proximal. Portanto, a classificação do tipo de TVP suspeita é importante para guiar as estratégias de tratamento (DIRETRIZ, 2015). Etiologia da TVP ↠ A tríade (tríade de Virchow) é responsável pela formação da trombose venosa (SOCESP, 5ª ed.). ↠ A TVP ocorre com maior frequência no membro inferior esquerdo. Tal fato encontra justificativa na própria disposição anatômica, uma vez que a artéria ilíaca direita, ao cruzar a veia ilíaca esquerda, pode, ocasionalmente, comprimi-la. Esta doença é conhecida como síndrome de Cockett ou síndrome de May-Thurner que, por meio da compressão da veia ilíaca esquerda, predispõe estase sanguínea, favorecendo a formação de trombos neste membro (SOCESP, 5ª ed.). ↠ Esta síndrome deve ser investigada nos casos de TVP de membro inferior esquerdo, uma vez que é possível realizar tratamento com implante de stents venosos visando evitar episódios recorrentes, além de aliviar sintomas de hipertensão venosa causados pela compressão extrínseca na veia proximal (SOCESP, 5ª ed.). Nos membros superiores existem basicamente duas causas principais de TVP: as tromboses induzidas por esforços (síndrome de Paget- von Schrötter) e a trombose secundária (SOCESP, 5ª ed.). O esforço repetido é responsável por microlesões no endotélio vascular, causando, consequentemente, trombose neste membro. Esta síndrome é responsável por aproximadamente 25% dos casos de TVP no membro superior (SOCESP, 5ª ed.). A trombose secundária, responsável por, aproximadamente, 75% dos quadros de TVP em membros superiores, ocorre como consequência de um estado de hipercoagulabilidade ou por uso de acessos venosos 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck centrais, fraturas, traumas e outras injúrias à parede vascular (SOCESP, 5ª ed.). Fatores de risco da TVP ↠ Apresenta fatores de risco adquiridos, destacando as cirurgias e imobilizações, relacionadas principalmente com a internação hospitalar, fator este que coloca a TVP como principal causa de óbito estável em ambiente hospitalar (CHARLO et. al., 2020). ↠ O anticoncepcional e a gestação são outros dois tópicos importantes relacionados a TVP, pois o uso de hormônios sintéticos como estrógeno e progesterona, seja na forma de contraceptivos orais ou como tratamentos hormonais, apresentam indícios de desenvolvimento na população feminina (CHARLO et. al., 2020). Os anticoncepcionais atuam no organismo feminino aumentando os fatores de coagulação e reduzindo seus inibidores. Além disso, mulheres usuárias de contraceptivos apresentam de 2 a 6 vezes mais chance de desenvolver a doença em comparação às não usuárias (CHARLO et. al., 2020). Durante a gestação, a chance de desenvolver TVP varia de 0,7 a 1,7 casos em 1000 gestantes, aumentando principalmente no terceiro trimestre de gravidez e no período puerperal. Neste período, encontramos situações de hipercoagulabilidade, em que há síntese hepática de fatores de coagulação; estase sanguínea, cujo quadro se desenvolve pela compressão venosa do útero gravídico e pela diminuição do tônus vascular pela ação da progesterona; e a lesão endotelial que ocorre no processo de nidação e dequitação placentária, fatos esses que se relacionam com o aumento de cinco a dez vezes de ocorrência de tromboembolismo nessa população, podendo chegar a vinte vezes no puerpério (CHARLO et. al., 2020). ↠ Além deste fator, a idade avançada, principalmente acima dos 60 anos aumenta a chance do aparecimento da patologia, bem como pacientes obesos, com índice de massa corpórea (IMC) acima de 30 kg/m² (CHARLO et. al., 2020). Os idosos são mais suscetíveis do que os mais jovens, provavelmente devido à frequência aumentada de distúrbios promotores de estase venosa com a idade avançada (PORTH, 10ª ed.) As viagens aéreas longas impõem uma ameaça em particular para as pessoas predispostas à TVP, por causa da permanência prolongada na posição sentada e do aumento da viscosidade sanguínea decorrente da desidratação (PORTH, 10ª ed.) ↠ Os fatores de risco hereditários apresentam importância significativa no desenvolvimento da patologia, como mutações do gene da protrombina, aumento do fibrinogênio e aumento do fator VIII, os quais são responsáveis pela coagulação, bem como deficiência de proteína C e de proteína S, ambas integrantes do processo de anticoagulação. Essas situações, portanto, acabam comprometendo o processo e ocasionando modificações na cascata de coagulação e, consequentemente, formação de trombo (CHARLO et. al., 2020). ATENÇÃO: Na infecção pelo SARS-CoV-2 (causador da COVID-19), trombose e tromboembolia são eventos frequentes em vários locais do organismo e responsáveis em grande parte pela gravidade da doença. Os mecanismos envolvidos são muitos, destacando-se: resposta infamatória ao vírus, que induz ativação endotelial e tem ação pró-trombótica; ativação plaquetária; estase sanguínea por disfunção cardíaca. Na doença grave, encontram-se plaquetopenia e aumento de produtos de degradação da fibrina na circulação. O vírus tem tropismo para pneumócitos, células endoteliais, miocardiócitos e plaquetas, que são ricos na enzima conversa da angiotensina 2 (ACE 2), que é a molécula à qual o vírus se liga para penetrar nas células. Por se ligar à ACE 2, ocorrem modificações em outras enzimas pertencentes ao sistema renina-angiotensina-aldosterona, o que potencializa os efeitos pró-inflamatórios da infecção (BOGLIOGO, 10ª ed.). Epidemiologia da TVP ↠ A TVP éum dos problemas médicos mais prevalentes da atualidade, com uma incidência anual de 80 casos a cada 100.000 habitantes. Nos Estados Unidos, mais de 500.000 pessoas apresentam quadro de TVP anualmente, sendo 20% em pacientes hospitalizados e, destas pessoas, 50.000 casos apresentam EP como complicação (SOCESP, 5ª ed.). ↠ A incidência desta patologia, segundo alguns estudos, é demonstrada na população geral como 5 casos a cada 10.000 indivíduos anualmente, e no Brasil em torno de 0,6 a cada 1000 habitantes anualmente (CHARLO et. al., 2020). ↠ No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde coletados entre os anos de 2010 e 2021, o número de internações relacionadas ao TEV ultrapassou 520 mil, com um total de mais de 67.000 óbitos entre 2010 e 2019 (DIRETRIZ, 2022). OBS.: O trombembolismo venoso (TEV) manifesta-se como trombembolismo pulmonar (TEP) e/ou trombose venosa profunda (TVP) (DIRETRIZ, 2022). ↠ Apresenta um alto índice de mortalidade, sendo que aproximadamente 34% dos pacientes acometidos morrem subitamente ou em poucas horas após a primeira manifestação, ou seja, antes mesmo de receberem qualquer tipo de tratamento (DIRETRIZ, 2022). 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Quase 2/3 dos casos de TEV manifestam-se por TVP isolada, sendo a maioria trombose das veias proximais do membro inferior e um terço por TEP (DIRETRIZ, 2022). Fisiopatologia da TVP Rudolf Virchow, no ano de 1856, descreveu a tríade (tríade de Virchow) responsável pela formação da trombose venosa. Tal tríade consiste em: estase sanguínea, lesão endotelial e hipercoagulabilidade (SOCESP, 5ª ed.). ESTASE SANGUÍNEA ↠ A estase sanguínea é um dos mais importantes itens da tríade, uma vez que a associação entre pacientes acamados, seja por cirurgia ou impossibilidade de movimentar-se, é conhecida e descrita desde o século XIX (SOCESP, 5ª ed.). ↠ O paciente em repouso fica com a musculatura relaxada, permitindo um maior volume sanguíneo acumulado nos membros inferiores, além da própria dilatação da parede venosa. Estes itens, associados à redução do débito cardíaco no repouso e a não utilização dos mecanismos de retorno venoso da contração da panturrilha, causam uma queda da velocidade de fluxo local e consequente instalação da estase sanguínea local (SOCESP, 5ª ed.). Servitt, ao estudar o local de formação dos trombos em estudos realizados em necrópsias, propôs a hipótese de que a diminuição de fluxo causaria uma alteração do fluxo laminar local nas veias, em especial nas válvulas venosas, criando um turbilhonamento de sangue neste local (SOCESP, 5ª ed.). ↠ Este turbilhonamento local nos seios valvulares causando um acúmulo de hemácias e plaquetas que, em condições normais, seria “lavado” pelo fluxo venoso. A estase promovida pelo repouso prolongado é responsável pela ativação da agregação plaquetária e, consequentemente, pela ativação da cascata de coagulação neste local. Este mecanismo causaria uma rede de fibrina que, por sua vez, seria responsável pelo aprisionamento de hemáceas nos seios das válvulas venosas e, através da agregação plaquetária local com liberação de ADP e tromboxano A2, causaria progressão da coagulação local e do trombo na luz do vaso (SOCESP, 5ª ed.). OBS.: Há também uma teoria que preconiza que o turbilhonamento sanguíneo na região mais profunda do seio valvular, além de permitir maior agregação de hemácias e plaquetas pelo baixo fluxo, também causaria uma hipóxia do tecido com consequente lesão endotelial (SOCESP, 5ª ed.). LESÃO ENDOTELIAL A lesão endotelial é trombogênica pela própria ativação da cascata da coagulação (SOCESP, 5ª ed.). ↠ O endotélio vascular não é somente uma camada celular em contato com a luz, mas também um tecido biológico ativo que, em condições normais, impede a formação de trombos, mantendo o sangue em sua forma líquida através da produção de óxido nítrico (NO), prostaglandina I2 (prostaciclina), ADP-defosfatase. Essas substâncias impedem a adesão plaquetária local ao inativar os receptores da plaqueta (NO e prostaciclina) e causar quebra do ADP (ADP-defosfatase). Além disso, o endotélio impede a adesão plaquetária, uma vez que constitui uma barreira entre o sangue e a matriz extracelular (SOCESP, 5ª ed.). Ilustração do endotélio vascular saudável evitando a adesão e agregação plaquetária pela ação do óxido nítrico, prostaciclina e ADP-fosfatase. 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ O endotélio vascular em condições normais não apenas mantém as plaquetas inativas, impedindo a adesão e agregação, mas também evita a coagulação local ao impedir a presença de fatores pró-coagulantes ativados (SOCESP, 5ª ed.). Diversos fatores, como traumas (iatrogênicos ou não), radiação, infecção, drogas, lesões térmicas, citocinas e anticorpos, além de outros, podem ser responsáveis pela lesão do endotélio vascular saudável, causando exposição da matriz extracelular, produção de tromboxano A2 e ADP, adesão e agregação plaquetária, com formação de trombina (que estimula a agregação) e, por sua vez, a ativação da cascata de coagulação, com formação de fibrina através da ativação dos fatores VII, IX e X (SOCESP, 5ª ed.). O próprio trauma cirúrgico e a reação inflamatória com leucocitose podem ser suficientes para lesão do endotélio e pela consequente formação de trombos em pacientes pós-operatórios (SOCESP, 5ª ed.). TROMBOFILIAS ↠ A hipercoagulabilidade sanguínea, ou trombofilia pode ser de origem genética ou adquirida (SOCESP, 5ª ed.). ↠ Na origem genética podemos encontrar uma deficiência de fatores que impedem a coagulação, como a antitrombina, a proteína C e a proteína S. Podemos também encontrar resistência à proteína C ativada causada por mutação no fator V, encontrada em 20 a 50% dos pacientes com TVP, sendo a trombofilia mais comum nos pacientes com TEV (SOCESP, 5ª ed.). Constituem também causas genéticas, alterações no gene da protrombina, que é encontrada em 6 a 18% dos pacientes com TVP, e a hiper-homocisteinemia, que encontra sua origem na mutação do gene da metilenotetra-hidrofolato redutase (MTHFR) (SOCESP, 5ª ed.). ↠ Além de causas adquiridas, como deficiências de vitamina B12, B6 e folato. Na origem adquirida temos fatores teoricamente temporários como a gravidez, uso de anticoncepcionais orais (em especial os combinados com estrogênio e progestágenos), cirurgias, tabagismo, obesidade e infecções. Temos, também, doenças adquiridas como a síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAAF), neoplasias, vasculites, poliglobulias e outras (SOCESP, 5ª ed.). Manifestações Clínicas da TVP ↠ Muitas pessoas com trombose venosa são assintomáticas, e até 50% das pessoas com TVP não manifestam sintomas. Provavelmente, a ausência de sinais e sintomas é devida à obstrução apenas parcial da veia ou à presença de circulação colateral (PORTH, 10ª ed.). ↠ Quando presentes, os sinais e sintomas mais comuns da trombose venosa são aqueles relacionados ao processo inflamatório, incluindo dor, edema e sensibilidade em músculos profundos (PORTH, 10ª ed.). ↠ Febre, mal-estar geral e elevação tanto da contagem de leucócitos como da velocidade de hemossedimentação também são indicativos de inflamação. Pode haver sensibilidade e dor ao longo da veia. O edema pode variar do mínimo ao muito acentuado (PORTH, 10ª ed.). O sítio de formação do trombo determina a localização dos achados físicos. A localização mais comum são os seios venosos no músculo sóleo e as veias tibial posterior e fibular. Nesses casos, pode haver um edema (ainda que discreto) envolvendo o pé e o tornozelo. É comum haver dor e sensibilidade na panturrilha. A trombose da veia femoral produz dor e sensibilidade na área distal da coxa e na região poplítea. Trombos nas veias iliofemorais produzem as manifestações mais acentuadas, com edema, dor e sensibilidade em todo o membro(PORTH, 10ª ed.). Complicações da TVP ↠ Suas complicações são variáveis, dependendo da extensão da trombose e do local acometido (SOCESP, 5ª ed.). Tromboembolismo Pulmonar (TEP) ↠ A embolia pulmonar se desenvolve quando uma substância transmitida pelo sangue se aloja em um ramo da artéria pulmonar e obstrui o fluxo sanguíneo (PORTH, 10ª ed.). ↠ A trombose nas veias profundas das pernas ou da pelve muitas vezes permanece insuspeita até o evento de uma embolia (PORTH, 10ª ed.). Fisiopatologia da TEP ↠ Quanto mais proximal o trombo estiver nas veias profundas da perna, mais provável é a sua embolização e a ocorrência de embolia pulmonar aguda (BRAUNWALD, 10ª ed.). ↠ Quando os trombos venosos se separam dos seus locais de formação, eles viajam através do sistema venoso em direção à veia cava. Eles atravessam o átrio direito e o ventrículo direito e, em seguida, entram na circulação arterial pulmonar (BRAUNWALD, 10ª ed.). ↠ Um êmbolo extremamente grande pode alojar-se na bifurcação da artéria pulmonar, formando uma embolia em sela. Em muitos pacientes com EPs de grande dimensão, a evidência ecográfica de TVP está ausente, provavelmente porque o coágulo já embolizou para os pulmões (BRAUNWALD, 10ª ed.). 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck . ↠ Os efeitos da embolia na circulação pulmonar estão relacionados com a obstrução mecânica da circulação pulmonar e os reflexos neuro-humorais que causam vasoconstrição (PORTH, 10ª ed.). ↠ A obstrução do fluxo sanguíneo pulmonar provoca broncoconstrição reflexa na área afetada do pulmão, perda de ventilação, comprometimento das trocas gasosas e perda de surfactante alveolar. Podem se desenvolver hipertensão pulmonar e insuficiência cardíaca direita quando sucede vasoconstrição maciça por causa de um grande êmbolo. Embora possam ser observadas pequenas áreas de infarto, é incomum um infarto pulmonar total (PORTH, 10ª ed.). OBS.: A circulação pulmonar é feita pela artéria pulmonar e pelas artérias brônquicas. Em indivíduos sem alteração circulatória prévia, as artérias brônquicas são capazes de suprir o território eventualmente privado de sangue por obstrução da artéria pulmonar por embolia. Por isso mesmo, quando os êmbolos são pequenos e pouco numerosos e chegam a pulmões sem alterações circulatórias, a embolia pulmonar é geralmente discreta e não tem repercussão clínica. Na maioria desses casos, ocorre dissolução espontânea por pulverização do êmbolo ao se chocar com as dicotomizações vasculares, pela força de cisalhamento da circulação e por ação do sistema fibrinolítico. Se retidos na circulação e se não são dissolvidos, os êmbolos podem se organizar (conjuntivizar), sendo vistos no interior de artérias pulmonares como bandas fibrosas na luz vascular. A repetição da embolia (embolização recorrente) obstrui progressivamente o leito pulmonar e aumenta a pressão arterial pulmonar (hipertensão pulmonar). A conjuntivização ou a organização de êmbolos trombóticos é idêntica à organização de trombos (BOGLIOGO, 10ª ed.). Manifestações Clínicas da TEP ↠ As manifestações de embolia pulmonar dependem do tamanho e da localização da obstrução (PORTH, 10ª ed.). ↠ Os sinais clínicos de TEP são inespecíficos, como dispneia, dor torácica, hemoptise, síncope ou pré-síncope. Em alguns casos, pode ser assintomática e descoberta incidentalmente (DIRETRIZ, 2022). ↠ Um infarto pulmonar muitas vezes causa uma dor pleurítica que muda com a respiração, sendo mais grave na inspiração e mais branda na expiração (PORTH, 10ª ed.). ↠ Ocorre hipoxemia moderada, sem retenção de dióxido de carbono, como resultado do comprometimento das trocas gasosas (PORTH, 10ª ed.). ↠ A existência repetida de pequenos êmbolos reduz gradualmente o tamanho do leito capilar pulmonar, o que resulta em hipertensão pulmonar. Pessoas com embolia moderada frequentemente apresentam dificuldade respiratória acompanhada de dor pleurítica, apreensão, febre baixa e tosse produtiva com expectoração de sangue (PORTH, 10ª ed.). ↠ Muitas vezes se manifesta uma taquicardia para compensar a diminuição da oxigenação e o padrão de respiração é rápido e superficial (PORTH, 10ª ed.). ↠ Pessoas com embolia maciça geralmente apresentam colapso repentino, dor subesternal no tórax, choque e, às vezes, perda de consciência. O pulso é rápido e fraco, a pressão arterial é baixa, as veias do pescoço se mostram distendidas e a pele se apresenta cianótica e diaforética. Uma embolia pulmonar maciça frequentemente é fatal (PORTH, 10ª ed.). ↠ A síncope parece estar presente em cerca de 17% dos casos e está associada a alta prevalência de instabilidade hemodinâmica e falência do ventrículo direito. O TEP que apresenta instabilidade hemodinâmica não é frequente, mas indica um comprometimento maciço da circulação pulmonar (DIRETRIZ, 2022). Úlcera de estase e dermatite Outras complicações da TVP são as complicações crônicas que ocorrem pela lesão das válvulas venosas após a trombose e sua consequente recanalização, deixando o sistema profundo com refluxo venoso patológico que, ao longo dos anos, pode evoluir para uma 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck entidade denominada síndrome pós-trombótica (SPT) (SOCESP, 5ª ed.). A SPT é consequência de um quadro de refluxo crônico não tratado que evolui com complicações como: edema crônico, inflamação distal com dermatite ocre e lipodermatoesclerose. Geralmente acomete toda a circunferência do membro inferior, apresentando-se “em bota”. Quando não tratada, esta inflamação crônica pode levar a ulcerações de difícil cicatrização e anquilose do tornozelo que, por sua vez, dificulta a dorsoflexão do pé e contração e relaxamento de panturrilhas, agravando ainda mais o quadro de edema e estase venosa (SOCESP, 5ª ed.). ↠ Dentre as úlceras encontradas nos membros inferiores, a úlcera de etiologia venosa é a que possui maior prevalência. Corresponde aproximadamente de 80% a 90% das úlceras encontradas nessa localização, sendo que a insuficiência venosa crônica (IVC) é a principal responsável pelo seu surgimento (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). ↠ As úlceras venosas são lesões crônicas associadas com hipertensão venosa dos membros inferiores e correspondem a percentual que varia aproximadamente de 80 a 90% das úlceras encontradas nesta localização e configuram problema mundialmente grave, sendo responsável por considerável impacto socioeconômico, como a perda de dias de trabalho, aposentadoria precoce e os gastos com a terapêutica, em geral, prolongada, além de restringir as atividades da vida diária e de lazer (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). Etiologia das úlceras de estase e dermatite ↠ A insuficiência venosa crônica (IVC) é a causa mais comum das úlceras de perna. É definida como uma anormalidade do funcionamento do sistema venoso causada por uma incompetência valvular, associada ou não à obstrução do fluxo venoso. Pode afetar o sistema venoso superficial, o sistema venoso profundo ou ambos (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). Fisiopatologia das úlceras de estase e dermatite O sistema venoso é um sistema de capacitância, funcionando como reservatório sanguíneo, e que, normalmente, tem a função de carrear o sangue desoxigenado de volta ao coração (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). As veias da panturrilha, em associação com os tecidos circundantes, formam uma unidade funcional conhecida como bomba muscular ou coração periférico, ativamente atuante na drenagem do sangue venoso durante o exercício. Em condições normais, o fluxo de sangue é feito em uma única direção, através de três sistemas de veias, distintos anatômica e funcionalmente, sendo esses: o superficial, o profundo e o perfurante (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). A comunicação entre os sistemas superficial e o profundo é feita pelas veias do sistema perfurante. As veias desses três sistemas possuem inúmerasválvulas, as quais orientam o fluxo de sangue, em uma única direção, das veias do sistema superficial para o sistema profundo, e impedem o refluxo do mesmo durante o relaxamento da musculatura das pernas (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). O fluxo venoso também é auxiliado pela musculatura da panturrilha, que funciona como uma verdadeira bomba periférica, ajudando as válvulas a superar a força da gravidade, impulsionar o sangue para o coração e diminuir pressão no interior das veias (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). A pressão venosa é um produto da pressão hidrostática exercida pela coluna de sangue entre as pernas e o átrio direito. Em posição supina, a pressão nas veias profundas chega a quase 0mmHg, quando em pé, aumenta drasticamente, geralmente cerca de 80mmHg a 90mmHg e ao deambular essa pressão cai para 30mmHg (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). Na deambulação, esse grupo muscular se contrai e exerce pressão sobre as veias profundas, fazendo com que a pressão venosa caia para um estado fisiológico. Em suma, a função fisiológica, é dependente da integridade anatômica das veias, da competência do sistema valvular e do bom funcionamento da bomba periférica (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). É a falha nesse mecanismo que desencadeia a hipertensão venosa em deambulação, levando a um acúmulo excessivo de líquido e de fibrinogênio no tecido subcutâneo, resultando em edema, lipodermatosclerose e, finalmente ulceração (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). ↠ A pressão elevada leva à formação de úlceras nos membros inferiores (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). ↠ Na IVC a ocorrência de varizes primárias com disfunção da parede venosa, focal ou generalizada, parece causar a insuficiência das válvulas por afastamento de suas cúspides secundariamente a essa dilatação. A coluna de sangue formada gera uma pressão hidrostática progressivamente maior, que, com ou sem a participação 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck de veias perfurantes insuficientes termina por transmitir- se aos capilares sanguíneos (DIRETRIZ, 2015). ↠ Num primeiro momento, ocorre apenas o aumento da saída de líquido e pequenas proteínas para o espaço extra-vasal. Nesta fase, isto é compensado pela reabsorção dos mesmos pelo próprio capilar durante o repouso, bem como pela capacidade de absorção do sistema linfático o que evita alterações maiores como o edema. Com a continuidade ou piora do quadro de hipertensão venosa, a entrada de líquido e proteínas no interstício ultrapassa a capacidade de captação capilar e linfática ocorrendo o edema (DIRETRIZ, 2015). ↠ Neste ponto, apesar de ainda não totalmente elucidado se como causa ou consequência, mas de maneira muito importante na fisiopatologia da doença, soma-se ao processo a participação do sistema imunológico. Mediada pelas moléculas de adesão intercelular (ICAM-1), e citoquinas como interleucina (IL-6 e 8) e fator de necrose tumoral (TNFß), ocorre um estímulo local a resposta inflamatória através de macrófagos e neutrófilos (DIRETRIZ, 2015). ↠ Paradoxalmente, a presença destes fatores determina localmente um aumento da permeabilidade capilar com aumento do extravasamento que agora passa a ser acompanhado de macromoléculas e mesmo de elementos figurados do sangue como as hemácias. Os fagócitos na tentativa de absorver estes elementos aumentam a produção de grânulos citoplasmáticos contendo radicais livres de oxigênio potencializando ainda mais a resposta inflamatória local (DIRETRIZ, 2015). ↠ O ambiente tecidual nas regiões mais acometidas começa a se tornar deletério as próprias células e paralelamente a isso o progressivo aumento da pressão no interstício passa a causar a diminuição de fluxo na microcirculação com consequente diminuição de oxigenação e trocas metabólicas. A lise das hemácias libera hemoglobina que no espaço extracelular é degradada a um subproduto, a hemossiderina, extremamente irritante aos tecidos (DIRETRIZ, 2015). ↠ A somatória de hipoperfusão tecidual relativa e agressão celular com depósito de hemossiderina culminam nas seguintes características: o eczema de estase com ressecamento, descamação, adelgaçamento e prurido na pele, sinais inequívocos da alteração inflamatória (DIRETRIZ, 2015). ↠ Uma dermatite “ocre” também é observada sendo o resultado dos depósitos dérmicos e subcutâneos de hemossiderina. Por fim ocorre um processo de dermatolipoesclerose secundário a grande concentração de líquido e principalmente proteínas que ficaram retidas no interstício celular, levando primeiro ao endurecimento e aumento do poder oncótico intersticial e posterior a fibrose da pele e principalmente do tecido celular subcutâneo (DIRETRIZ, 2015). ↠ Quando o agravamento da condição tecidual é tal que proporciona a destruição da pele e solução de continuidade com os tecidos mais profundos, a denominada “úlcera de estase” ou “úlcera varicosa”. Tal situação deve ser evitada ao máximo visto que de 50 a 75% destas úlceras demoram de 4 a 6 meses para cicatrização enquanto pelo menos 1/5 delas permanecem abertas por mais de 2 anos (DIRETRIZ, 2015). OBS.: São considerados os principais sinais e sintomas de IVC: formigamento, dor, queimação, câimbras musculares, inchaço, sensação de peso ou de latejamento, prurido cutâneo, cansaço das pernas e fadiga (DIRETRIZ, 2015). CARACTERÍSTICAS DA ÚLCERA VENOSA: A úlcera venosa tende a se localizar no terço inferior da perna, comum no maléolo medial; o desenvolvimento da úlcera venosa é lento, apresenta bordas superficiais e irregulares e o tecido profundo não é afetado, apresenta manchas varicosas castanhas, eczema e é quente ao toque; a dor é variável na úlcera venosa, melhorando com a elevação do membro, na úlcera venosa o pulso está presente (DIRETRIZ, 2015). Paciente com síndrome pós-trombótica (SPT) com lipodermatoesclerose (A) e dermatite ocre “em bota” (B). 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck Tratamento da úlcera de estase e dermatite ↠ No caso da úlcera venosa, o tratamento deve estar amparado em quatro condutas: (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). ➢ tratamento da estase venosa, utilizando o repouso e a terapia compressiva; ➢ terapia tópica, com escolha de coberturas locais que mantenham úmido e limpo o leito da ferida e sejam capazes de absorver o exsudato; ➢ controle da infecção com antibioticoterapia sistêmica; ➢ prevenção de recidivas. TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO ↠ Podemos considerar atualmente a compressão como a peça chave do tratamento conservador, agindo diretamente sobre os mecanismos da fisiopatologia que levam ao aparecimento das úlceras e agravamento da doença. Nesse tópico dispõe-se de uma série de modalidades de compressão que incluem as meias de compressão gradual, bandagens elásticas e inelásticas e compressão intermitente (DIRETRIZ, 2015). Desde que Unna, um dermatologista do século XIX, desenvolveu uma bandagem compressiva de óxido de zinco para o tratamento de úlceras venosas, a principal terapia para essas feridas tem sido a compressão do membro afetado (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). ↠ A forma mais adequada de controle clínico da hipertensão venosa dos membros inferiores é através da compressão do membro. A terapia compressiva pode ser obtida com o uso de meias ou bandagens e essas podem ser classificadas em elásticas (meias elásticas) ou inelásticas (bota de unna) e ter uma ou mais camadas (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). O seu mecanismo de ação se dá através da pressão exercida sobre a perna, o que obriga o fluido dos espaços intersticiais a retornar para o compartimento vascular ou linfático. Como a pressão dentro das veias é em grande parte hidrostática quando a pessoa está em pé, para reverter esse efeito ela requer que o nível necessário de pressão externa reduza progressivamente na perna, da parte inferior para a superior, sendo que a maior pressão deve ser aplicada na região dotornozelo (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). TRATAMENTO MEDICAMENTOSO ↠ As feridas de etiologia venosa são, geralmente, recobertas por tecido necrótico membranoso, superficial, amarelado imbricado no tecido de granulação e muito exsudativas. Para o tratamento tópico, além da terapia compressiva, é importante a implementação de coberturas não aderentes, capazes de propiciar o desbridamento autolítico, de absorver o exsudato e criar um ambiente propício para o desenvolvimento do processo de cicatrização (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). MEDICAÇÕES VENOATIVAS OU FLEBOTÔNICAS: Apesar da grande quantidade de compostos químicos a origem de muitas é comum, podendo ser divididas em naturais (alfa ou gama benzopironas, escinas) e sintéticas (dobesilato de cálcio e aminaftona). A ação destas drogas inclui a diminuição da permeabilidade capilar, efeito linfocinético, menor apoptose das células endoteliais e uma ação anti-inflamatória por diminuição da adesividade de células de defesa (DIRETRIZ, 2015). Diagnóstico da TVP ANEMNESE ↠ É importante que seja feita a investigação de comorbidades que podem estar relacionadas com o quadro (SOCESP, 5ª ed.). ↠ Nos pacientes jovens é importante que seja pesquisado antecedentes trombóticos na família (componentes genéticos) e, nas pacientes, deve ser questionado histórico de gravidez mal sucedida ou abortos repetidos (SAAF) (SOCESP, 5ª ed.). ↠ É importante também investigar o uso de anticoncepcionais orais combinados ou de terapia de reposição hormonal. A obesidade, o tabagismo e o histórico de desidratação podem favorecer a formação de trombos (SOCESP, 5ª ed.). EXAME FÍSICO ↠ O exame físico não deve se restringir somente ao membro acometido, ele deve ser completo, uma vez que pode conter informações importantes para o quadro clínico em geral (SOCESP, 5ª ed.). ↠ A tireoide e os linfonodos palpáveis podem sugerir processo neoplásico ou infecção. O sistema cardiorrespiratório pode apresentar alterações 9 Júlia Morbeck – @med.morbeck consequentes de uma complicação por TEP. A palpação abdominal pode revelar alterações sugestivas de doença inflamatória ou maligna (SOCESP, 5ª ed.). ↠ O membro acometido é, em geral, o membro inferior. Ao examiná-lo devemos, em primeiro lugar, avaliar a perfusão distal com tempo de enchimento capilar, pulsos e, se possível, avaliação de fluxo com Doppler contínuo. A suspeita de TVP pode se confundir ou até mesmo vir acompanhada de insuficiência arterial periférica (SOCESP, 5ª ed.). ↠ A trombose venosa causa inflamação local com consequente dor, calor e eritema local. O edema é geralmente importante, unilateral, variando de acordo com a extensão da trombose e pode ser avaliado comparando-o ao membro contralateral com a medida da circunferência da perna (SOCESP, 5ª ed.). SINAIS QUE PODEM APARECER EM PACIENTES COM TVP ↠ O edema ocorre tanto no tecido celular subcutâneo, como na musculatura, o que causa um edema depressível (sinal de Godet) (SOCESP, 5ª ed.). ↠ Empastamento da musculatura da panturrilha ao palpá- la com o paciente em decúbito dorsal e membro em semiflexão (sinal da bandeira) (SOCESP, 5ª ed.). ↠ O paciente também pode apresentar dor à palpação da panturrilha (sinal de Bancroft) e ao realizar a dorsoflexão forçada do tornozelo com o joelho estendido (sinal de Homans) (SOCESP, 5ª ed.). ↠ Embora todos estes sinais clínicos possam ocorrer na TVP, eles não apresentam boa sensibilidade e especificidade. Por esse motivo, foi estabelecido, em 1995, por Wells, um modelo clínico de predição diagnóstica para TVP que separa os pacientes em “TVP provável” e “TVP não provável” (critérios de Wells) (SOCESP, 5ª ed.). CRITÉRIOS DE WELLS Exames Laboratoriais DOSAGEM DO D-DÍMERO ↠ Na presença de trombose, a plasmina circulante quebra a fibrina insolúvel e um dos produtos de degradação dela é o dímero D (SOCESP, 5ª ed.). ↠ Ensaio quantitativo do D-dímero, com base no método rápido de Elisa, apresenta alta sensibilidade (próximo de 95%) para o diagnóstico. No entanto, o teste revela baixa especificidade (40%), visto que o D-dímero pode estar aumentado em várias condições além do tromboembolismo venoso, como nos casos de infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico, inflamações, câncer ativo e gravidez. A especificidade também cai com a idade, e em idosos pode alcançar apenas 10% (DIRETRIZ, 2022). ↠ Este método se presta para excluir o diagnóstico de TVP quando estiver negativo, mas não serve para 10 Júlia Morbeck – @med.morbeck confirmar o diagnóstico, caso seja positivo (SOCESP, 5ª ed.). Exames de imagem Flebografia ↠ A flebografia ainda é considerada o padrão ouro para o diagnóstico de TVP mas, por se tratar de um método invasivo e pela evolução da qualidade dos métodos alternativos (em especial o ultrassom), ela tem sido realizada cada vez menos nos hospitais para auxílio diagnóstico. Além disso, a flebografia tem suas limitações, pois deve ser realizada em hemodinâmica ou centro cirúrgico, necessita do uso de contraste, podendo ocasionar reações alérgicas, além de ser contraindicado seu uso em mulheres grávidas (SOCESP, 5ª ed.). Hoje, a flebografia ainda é realizada como auxílio no tratamento das tromboses com trombólise venosa e como controle dos resultados após o procedimento (SOCESP, 5ª ed.). ULTRASSOM ↠ O ultrassom venoso (US) hoje é, sem dúvida, o método de escolha na maioria dos casos de suspeita clínica de TVP. Este método é não invasivo, praticamente sem contraindicações, disponível na maioria dos hospitais de referência e, apesar de ser examinador dependente, não apresenta dificuldade técnica para um médico treinado em ecografia vascular (SOCESP, 5ª ed.). Diagnóstico da TEP ↠ O diagnóstico de embolia pulmonar deve se basear em sinais e sintomas clínicos, determinações de gasometria sanguínea, estudos de trombose venosa, teste da troponina, dímero D, radiografias do pulmão e TC helicoidais do tórax (PORTH, 10ª ed.). CRITÉRIO DE WELLS Exames laboratoriais e de imagem Como a maioria dos êmbolos pulmonares se origina de uma TVP, estudos venosos como ultrassonografia com compressão do membro inferior muitas vezes são utilizados como procedimentos diagnósticos iniciais (PORTH, 10ª ed.). Os testes com dímero D envolvem a medição da concentração plasmática do dímero D, um produto de degradação de fatores de coagulação que foram ativados como resultado de um evento tromboembólico (PORTH, 10ª ed.). ↠ Os níveis de troponina podem se mostrar mais altos, devido ao estiramento do ventrículo direito por um grande infarto pulmonar (PORTH, 10ª ed.). ↠ A cintigrafia de ventilação-perfusão usa albumina radiomarcada, injetada por via intravenosa, e um gás radiomarcado, que é inalado. A câmara (gama) de cintilação é usada para digitalizar os vários segmentos do pulmão para verificar o fluxo sanguíneo e a distribuição do gás radiomarcado. O exame de ventilação-perfusão é útil somente quando os seus resultados são normais ou indicam uma alta probabilidade de embolia pulmonar (PORTH, 10ª ed.). ↠ A angiotomografia computadorizada helicoidal (espiral) requer a administração de um agente de contraste radiológico por via intravenosa. É sensível para a detecção de êmbolos nas artérias pulmonares proximais e representa outra modalidade de diagnóstico (PORTH, 10ª ed.). ↠ A angiografia pulmonar envolve a passagem de um cateter venoso através do coração direito e na artéria pulmonar sob fluoroscopia. Embora continue sendo o método de diagnóstico de maior precisão, raramente é realizado por ser um procedimento tão invasivo. Por 11 Júlia Morbeck – @med.morbeck vezes, uma embolectomia é realizada durante esse procedimento (PORTH, 10ª ed.). ↠ A tomografia computadorizada torácica ultrapassou a cintilografia de perfusão pulmonar com radionuclídeos comoo exame de imagem inicial na maioria dos pacientes com suspeita de EP, permitindo a visualização imediata de EP maciça e a confirmação da acessibilidade cirúrgica ou por cateter para o trombo localizado no nível central (BRAUNWALD, 10ª ed.). ↠ Pode realizar a gasometria arterial, pois pode haver hipoxemia no TEP em até 80% dos casos, mas as alterações mais frequentes são a alcalose respiratória e a hipocapnia, pelo aumento da frequência respiratória. Tratamento da TVP e TEP Os objetivos do tratamento da trombose venosa são evitar a formação de trombos adicionais, prevenir a extensão e a embolização dos trombos existentes, assim como minimizar a lesão das válvulas venosas (PORTH, 10ª ed.). Os objetivos do tratamento de embolia pulmonar devem se concentrar na prevenção de TVP e do desenvolvimento de tromboembolismo; na proteção dos pulmões contra a exposição a um eventual trombo-êmbolo; e, no caso de uma embolia pulmonar grande e potencialmente fatal, na manutenção da vida e no restabelecimento do fluxo sanguíneo pulmonar (PORTH, 10ª ed.). ANTICOAGULANTES ↠ A terapia medicamentosa anticoagulante (i. e., heparina e varfarina) é utilizada para prevenir a formação de trombos adicionais. Tipicamente, o tratamento é iniciado com um tipo de anticoagulante à base de heparina injetável (por infusão intravenosa contínua ou injeções subcutâneas). Em seguida, o paciente é transferido para um anticoagulante oral ou injeções subcutâneas para tratamento ambulatorial (PORTH, 10ª ed.). OBS.: É comum utilizar a heparina de baixo peso molecular, que pode ser administrada por via subcutânea em regime ambulatorial. A varfarina, um anticoagulante oral, pode ser utilizada para pessoas com risco a longo prazo de desenvolvimento de tromboembolia (PORTH, 10ª ed.). ↠ Os anticoagulantes inibem a ação dos fatores de coagulação (p. ex., heparina) ou interferem com a síntese dos fatores de coagulação (p. ex., antagonistas da vitamina K, como a varfarina) (WHALEN, 6ª ed.). Heparina e heparinas de baixo peso molecular ↠ A heparina é um anticoagulante injetável de ação rápida, usado com frequência para interferir agudamente na formação de trombos (WHALEN, 6ª ed.). MECANISMO DE AÇÃO: A heparina atua em inúmeros alvos moleculares, mas seu efeito anticoagulante é consequência da ligação à antitrombina III, com a rápida inativação subsequente dos fatores de coagulação. A antitrombina III é uma alfa-globulina que inibe serinoproteases da trombina (fator IIa) e fator Xa. Na ausência de heparina, a antitrombina III interage lentamente com a trombina e o fator Xa. Quando a heparina se liga à antitrombina III, ocorre uma alteração conformacional que catalisa a inibição da trombina cerca de mil vezes (WHALEN, 6ª ed.). EFEITO ADVERSO: A principal complicação da heparina e das HBPMs é o sangramento (WHALEN, 6ª ed.). VARFARINA ↠ Os anticoagulantes cumarínicos devem sua ação à habilidade de antagonizar a função de cofator da vitamina K (WHALEN, 6ª ed.). MECANISMO DE AÇÃO: Os fatores II, VII, IX e X precisam da vitamina K como um cofator para sua síntese pelo fígado. Esses fatores sofrem uma modificação pós-translacional dependente de vitamina K, na qual alguns de seus resíduos de ácido glutâmico são carboxilados para formar resíduos de ácido gama.-carboxiglutâmico (WHALEN, 6ª ed.). ↠ O tratamento com varfarina resulta na produção de fatores de coagulação menos ativos (de 10 a 40% do normal), pois lhes faltam suficientes cadeias laterais gama- carboxiglutamil. Diferentemente da heparina, os efeitos anticoagulantes da varfarina não são observados imediatamente após a administração. Em vez disso, o pico do efeito pode atrasar por 72 a 96 horas, tempo necessário para esgotar a reserva de fatores de coagulação circulantes (WHALEN, 6ª ed.). 12 Júlia Morbeck – @med.morbeck TROMBOLÍTICOS ↠ A terapia trombolítica (i. e., estreptoquinase, uroquinase ou ativador de plasminogênio tecidual) pode ser utilizada como uma tentativa de dissolver o coágulo. (PORTH, 10ª ed.). ↠ A doença tromboembólica aguda em determinados pacientes pode ser tratada com a administração de fármacos que ativam a conversão de plasminogênio em plasmina, uma serinoprotease que hidrolisa fibrina e, assim, dissolve coágulos (WHALEN, 6ª ed.). MECANISMO DE AÇÃO: Os trombolíticos apresentam algumas características comuns. Todos atuam direta ou indiretamente convertendo plasminogênio em plasmina, que, então, hidrolisa a fibrina, hidrolisando, assim, os trombos (WHALEN, 6ª ed.). ↠ A dissolução do coágulo e a reperfusão ocorrem com maior frequência quando o tratamento é iniciado logo após a formação do trombo, pois ele se torna mais resistente à lise à medida que envelhece (WHALEN, 6ª ed.). OBS.: Infelizmente, um número maior de trombos pode ocorrer enquanto o trombo se dissolve, levando a uma maior agregação das plaquetas e trombose. Estratégias para evitar essa situação incluem a administração de antiplaquetários, como AAS, ou antitrombóticos, como heparina (WHALEN, 6ª ed.). EFEITOS ADVERSOS: Os trombolíticos não diferenciam entre a fibrina de um trombo indesejado e a fibrina de um tampão hemostático benéfico. Assim, a hemorragia é o principal efeito adverso. Por exemplo, uma lesão prévia insuspeita, como a úlcera péptica, pode sangrar após a injeção de um trombolítico (WHALEN, 6ª ed.). FÁRMACOS: Ateplase, reteplase e tenecteplase; estreptoquinase; uroquinase. 13 Júlia Morbeck – @med.morbeck Referências PÂNICO et. al. Trombose venosa profunda: diagnóstico e tratamento. Diretriz da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, 2015. CASTRO et. al. Trombose venosa de membros inferiores: diagnóstico e manejo na emergência, 2018. CHARLO et. al. Relação entre trombose venosa profunda e seus fatores de risco na população feminina. Global Academic Nursing Journal, 2020. ALBRICKER et. al. Diretriz Conjunta sobre Tromboembolismo Venoso. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, 2022. MERLO et. al. Insuficiência Venosa Crônica: Diagnóstico e Tratamento. Diretriz da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, 2015. GUIMARÃES, B. J. A.; NOGUEIRA, C. L. M. Diretrizes para o tratamento da úlcera venosa, Enfermería Global, 2010. MERLO et. al. Insuficiência Venosa Crônica: diagnóstico e tratamento. Diretriz da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, 2015. BONOW, Bonow. Braunwald - Tratado de Doenças Cardiovasculares. Grupo GEN, 2017. JATENE, Ieda B.; FERREIRA, João Fernando M.; DRAGER, Luciano F.; et al. Tratado de cardiologia SOCESP. Editora Manole, 2022. NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Grupo GEN, 2021. FILHO, Geraldo B. Bogliolo - Patologia. Grupo GEN, 2021. WHALEN et. al. Farmacologia Ilustrada, 6ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2016.