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1. DESCREVER A FISIOLOGIA DA CASCATA DE COAGULAÇÃO A cascata da coagulação é um conjunto de reações enzimáticas amplificadoras que culminam com a formação de um coágulo de fibrina insolúvel. A dependência da formação de coágulos difere em vários fatores entre os testes laboratoriais realizados em tubos de ensaio laboratorial e nos vasos sanguíneos in vivo. No entanto, a coagulação in vitro e in vivo seguem os mesmos princípios. Em laboratório, a coagulação é iniciada por meio do acréscimo de fosfolipídeos, cálcio e uma substância carregada negativamente, como esferas de vidro (via intrínseca) ou uma fonte de fator tecidual (via extrínseca). In vivo, o fator tecidual é o principal iniciador da coagulação, que é amplificada por alças de feedback envolvendo trombina (linhas tracejadas). Tradicionalmente, a coagulação sanguínea divide-se em vias extrínseca e intrínseca, convergindo na ativação do fator X. Na via intrínseca, o fator XII é ativado pelo contato com alguma superfície carregada negativamente, por exemplo, colágeno ou endotoxina. Além do fator XII, estão envolvidos neste processo o fator XI, a pré- calicreína e o cininogênio de alto peso molecular. Da interação destes elementos é ativado o fator XI, que transforma o fator IX em IXa. O fator IXa e o fator VIIa associam-se à superfície de fosfolipídio através de uma “ponte” de cálcio estimulando a conversão de fator X para Xa. Na via extrínseca, o fator VII plasmático, na presença do seu cofator, o fator tecidual ou tromboplastina, ativa diretamente o fator X. A via final comum, quer sejam iniciados pela via extrínseca ou intrínseca, consiste na sequência da ativação do fator IXa, na presença de fator VIII, ativa o fator X da coagulação, desencadeando a conversão de protrombina em trombina e subsequente fibrinogênio em fibrina. Atualmente, aceita-se que mecanismos hemostáticos, fisiologicamente relevantes estejam associados com três complexos enzimáticos pro-coagulantes, os quais envolvem serinoproteases dependentes de vitamina K (fatores II, VII, IX e X) associadas a cofatores (V e VIII), todos localizados em uma superfície de membrana contendo fosfolipídios. Tão importante quanto a formação do coágulo de fibrina, que bloqueia a perda de sangue e repara a parede vascular lesada, é a remoção do coágulo sanguíneo, para que prossiga a circulação sanguínea normal. A remoção do coágulo depende de dois processos, a retração do coágulo e a degradação da fibrina insolúvel (fibrinólise). Esses processos dependem da interação entre as plaquetas e as proteínas plasmáticas. A fibrinólise se produz pela digestão da fibrina por uma enzima proteolítica, a plasmina, que circula no plasma na sua forma inativa, o plasminogênio. A regulação da fibrinólise se produz por liberação de um ativador tecidual, depuração hepática do ativador de plasminogênio, ativação do plasminogênio, inibição da ativação do plasminogênio e ação da antiplasmina A via fibrinolítica pode ser dividida em duas fases: a geração de plasmina, a partir da pro-enzima inativa plasminogênio, e a ação proteolítica da plasmina sobre a fibrina. Quando a fibrina é degrada em fragmentos menores, os restos de plaquetas e outros materiais celulares são liberados na malha de fibrina e removidos pelo sistema retículo endotelial RESUMINDO: a via intrínseca é iniciada com a ativação do fator XII pelo contato com o colágeno. É convertido em XIIa, que converte o XI em XIa (com ajuda do cálcio), que converte IX em IXa, tudo isso mediado pela vitamina K. Já a via extrínseca é desencadeada quando os tecidos liberam o fator tecidual que forma um complexo com o fator VII, convertendo-o em VIIa. O fator IXa e o fator VIIa se juntam e estimulam a conversão do fator X em Xa. ANÁLISE LABORATORIAL DA COAGULAÇÃO Os testes de TP (tempo de protrombina) e TTPA (tempo de tromboplastina parcial ativada) são considerados testes de triagem da coagulação. É importante conhecer a sensibilidade destes testes na identificação da deficiência de diferentes fatores da coagulação. Um teste com pouca sensibilidade, ou seja, incapaz de identificar anormalidades pode gerar resultados inadequados que prejudicam a investigação das coagulopatias. O tempo de protrombina (TP) é um teste que avalia a função das proteínas na via extrínseca (fatores VII, X, V, II [protrombina] e fibrinogênio). De forma sucinta, fator tecidual, fosfolipídeos e cálcio são adicionados ao plasma e o tempo decorrido para a formação de um coágulo de fibrina é registrado. Distúrbios da via intrínseca da cascata da coagulação são caracterizados pelo TTPA prolongado e o tempo de protrombina (TP) normal. O tempo de tromboplastina parcial (TTP) é um teste que avalia a atividade das proteínas na via intrínseca (fatores XII, XI, IX, VIII, X, V, II e fibrinogênio). Neste teste, a coagulação plasmática inicia-se com adição de partículas de carga negativa (p. ex., vidro fosco) que ativam o fator XII juntamente com fosfolipídeos e cálcio, e o tempo para a formação do coágulo de fibrina é registrado. O TP pode se apresentar aumentado em algumas situações, como: deficiência de fibrinogênio; deficiência de protrombina; deficiência de um dos fatores de coagulação (II, V, VII ou X); deficiência associada de vários fatores, por insuficiência hepática, deficiência de vitamina K (alteração na absorção digestiva, antibioticoterapia prolongada, tratamento com dicumarínicos). O TP pode se apresentar diminuído em terapia de reposição hormonal; uso de contraceptivos orais; terapia com barbitúricos (sedativos); administração de multivitamínicos ou suplementos alimentares contendo vitamina K 2. ELUCIDAR EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, FATOR DE RISCO, QUADRO CÍNICO, DIAGNÓSTICO (ALGORITMO), DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL, CLASSIFICAÇÃO E COMPLICAÇÕES DA TVP EPIDEMIOLOGIA A trombose venosa profunda (TVP) caracteriza-se pela formação de trombos dentro de veias profundas, com obstrução parcial ou oclusão, sendo mais comum nos membros inferiores – em 80 a 95% dos casos. A Trombose Venosa Profunda (TVP) pode ocorrer em qualquer segmento do sistema venoso profundo, sendo a TVP de membros inferiores a mais frequente. Mais raramente, a TVP pode acometer outros locais, como veias de membros superiores, veias esplâncnicas e seios venosos cerebrais. Em membro inferior, a TVP pode ser distal ou proximal, acometendo nesse último caso as veias poplítea, femoral ou ilíaca. A TEP é uma complicação da TVP e ocorre quando o trombo ou um fragmento deste desprende-se e migra até ramos da artéria pulmonar. As principais complicações decorrentes dessa doença são: insuficiência venosacrônica/síndrome pós- trombótica (edema e/ou dor em membros inferiores, mudançana pigmentação, ulcerações na pele) e embolia pulmonar (EP). Esta última tem alta importância clínica, por apresentar alto índice de mortalidade. Aproximadamente 5 a 15% de indivíduos não tratados da TVP podem morrer de EP. TVP ou EP podem ocorrer em 2/1.000 indivíduos a cada ano, com uma taxa de recorrência de 25%. FATORES DE RISCO Os principais fatores diretamente ligados à gênese dos trombos são: estase sanguínea, lesão endotelial e estados de hipercoagulabilidade. Portanto, idade avançada, câncer, procedimentos cirúrgicos, imobilização, uso de estrogênio, gravidez, distúrbios de hipercoagulabilidade hereditários ou adquiridos, constituem-se como fatores de risco para TVP. A sua incidência aumenta proporcionalmente com a idade, sugerindo que esta seja o fator de risco mais determinante para um primeiro evento de trombose. Para efeitos didáticos, os fatores de risco podem ser classificados como: Hereditários/Idiopáticos: resistência à proteína C ativada (principalmente fator V de Leiden); mutação do geneda protrombina G20210A; deficiência de antitrombina; deficiência de proteína C; deficiência de proteína S; hiperhomocisteinemia; aumento do fator VIII; aumento do fibrinogênio. Adquiridos/Provocados: síndrome do anticorpo antifosfolipídio; câncer; hemoglobinúria paroxística noturna; idade > 65 anos; obesidade; gravidez e puerpério; doenças mieloproliferativas (policitemia vera; trombocitemia essencial etc.); síndromenefrótica; hiperviscosidade (macroglobulinemia de Waldenström; mieloma múltiplo); doença de Behçet; trauma; cirurgias; imobilização; terapia estrogênica. A causa genética mais comum para o aumento de risco de trombose venosa é a mutação do fator V de Leiden (incidência de 20-40%). Ocorre em 3-7% dos alelos do fator V. FISIOPATOLOGIA A tríade de Virchow sugere que há três componentes importantes na formação do trombo: Lentidão do fluxo sanguíneo (estase); Hipercoagulabilidade sanguínea; Lesão da parede vascular. Na trombose venosa, o aumento de coagulabilidade do sangue e a estase são mais importantes, pois a estase permite que a coagulação do sangue seja completada no local de início do trombo. O trombo inicial aumenta e progride em direção distal e proximal, atingindo veias cada vez maiores e alcançando finalmente os troncos coletores principais da região. Esse trombo, geralmente misto, é constituído por camadas de elementos figurados do sangue misturados em uma rede de fibrina. O trombo inicialmente está livre na corrente sanguínea, preso apenas por uma porção. Com isso, a parte livre do trombo, isto é, a que flutua na corrente sanguínea, pode desprender-se parcial ou totalmente, ocasionando a embolia pulmonar. Podemos, para fins didáticos, separar as alterações da fisiopatologia da TVP em alterações regionais e sistêmicas: Alterações regionais: Efeito mecânico: Obstrução de uma ou mais veias por trombo ocasiona bloqueio do retorno venoso, cuja gravidade depende do calibre e extensão das veias trombosadas. O bloqueio do retorno venoso provoca uma série de alterações nas veias e tecidos distais à trombose, tais como: hipertensão venosa, dilatação e insuficiência valvular das veias profundas, comunicantes e ramos superficiais. Reação inflamatória: Desenvolve-se um processo inflamatório nas veias afetadas, que se estende nos tecidos vizinhos, inclusive artérias e nervos. Efeito reflexo: A irritação da parede da veia pelo trombo e a reação inflamatória atingem os filetes nervosos e desencadeiam um reflexo vasoespástico que compromete artérias e veias. Alterações sistêmicas: Podemos dividi-las em três fases: Fase aguda - Marcada por dores, edema, reações inflamatórias nos capilares linfáticos, febre, leucocitose, aumento do tempo de hemossedimentação, diminuição do tempo de coagulação. Fase de defesa - Caracteriza-se por diminuição súbita do edema, diurese abundante, retorno da temperatura ao normal, aumento do número de eosinófilos e maior sensibilidade à heparina. Fase de esgotamento - Nesta fase o organismo se mostra incapaz de se defender contra as substâncias trombogênicas. As embolias ou novas localizações do processo podem aparecer. CLASSIFICAÇÃO A TVP nos membros inferiores é dividida, de acordo com a localização: Proximal: Quando acomete veia ilíaca/ femoral/ poplítea. Está mais comumente associada ao desenvolvimento de TEP. Distal: Quando acomete veias localizadas abaixo da poplítea. Quando os trombos estão restritos às veias profundas da panturrilha, raramente causando sintomas ou embolia pulmonar. A probabilidade do trombo se estender para as veias proximais e subsequentemente causar TEP aumenta com a gravidade do estímulo protrombótico inicial. QUADRO CLÍNICO A sintomatologia da trombose venosa aguda é variável, podendo-se distinguir 2 tipos clínicos, conforme a localização da trombose: No tipo indeterminado, o paciente não apresenta qualquer sintoma característico. Geralmente o paciente é acamado, podendo apresentar taquicardia, taquipneia e mal-estar geral. No tipo localizado, além dos sintomas gerais, iguais aos do tipo indeterminado, surgem, no local da trombose ou no território drenado pela veia comprometida, dor, edema, alteração da temperatura e da cor da pele e ingurgitamento das veias superficiais. A dor é de intensidade variável e súbita, que piora com a movimentação e melhora com repouso e elevação do membro comprometido. O edema é o sinal mais característico da trombose venosa aguda, aparecendo na maioria dos casos. Localiza-se na região imediatamente abaixo da trombose, e, quando esta acomete ambas as veias ilíacas ou a veia cava inferior, o edema chega ao períneo, à região glútea e aos membros inferiores. Nas primeiras horas após a instalação da trombose, ocorre diminuição da temperatura da pele em virtude de vasoespasmo reflexo; no entanto, com o desaparecimento deste e o desenvolvimento de processo inflamatório no local do trombo há aumento da temperatura no membro ou no local comprometido. A alteração de cor mais frequente é a cianose, em razão da estase venosa. Quando ocorre trombose em veias profundas, o retorno venoso passa a ser feito pelas veias superficiais, as quais ficam muito ingurgitadas. DIAGNÓSTICO O diagnóstico deve se basear na anamnese, exame físico, combinados com a realização de testes laboratoriais e exames de imagem. O sistema de predição clínica mais utilizado é o escore de Wells. Nenhuma avaliação clínica isoladamente é suficiente para diagnosticar ou descartar a TVP, pois os achados clínicos se relacionam com a doença em apenas 50% dos casos. Exame físico: Análise do quadro clínico, podendo consistir de dor, edema, eritema, cianose, dilatação do sistema venoso superficial, aumento de temperatura, empastamento muscular e dor à palpação. Durante o exame físico alguns testes clínicos podem auxiliar no diagnóstico, entre eles: Sinal de Homans – caracterizado por dor ou desconforto na panturrilha após dorsoflexão passiva do pé. Sinal da Bandeira – menor mobilidade da panturrilha quando comparada com o outro membro. Sinal de Bancroft– dor à palpação da panturrilha contra estrutura óssea. Escore de Wells: É baseado em sinais e sintomas, fatores de risco e diagnósticos alternativos, estimando a probabilidade pré-teste para TVP. O escore de Wells apresenta melhor resultado para avaliação de pacientes jovens sem comorbidades ou história prévia de tromboembolismo venoso, que em outros pacientes. Exame laboratorial: Teste D-dímero: Apresenta alta sensibilidade, mas pouca especificidade para o diagnóstico da TVP. O D-dímero é um dos produtos da degradação da fibrina. Está presente em qualquer situação na qual haja formação e degradação de um trombo, não sendo, portanto, um marcador específico de TVP, podendo estar elevado em situações fisiológicas ou patológicas diversas, como: idade avançada, puerpério, gestação, cirurgia, trauma, neoplasia e processos inflamatórios e/ou infecciosos. A dosagem do D-dímero deve ser utilizada em pacientes de baixa probabilidade clínica para TVP, já que não apresenta 100% de sensibilidade. Em pacientes com alta probabilidade pré-teste para TVP ou EP a utilidade é questionável. Eco Doppler colorido (EDC): O EDC venoso é o método diagnóstico mais frequentemente utilizado para o diagnóstico de TVP em pacientes sintomáticos. Apresenta menor acurácia em veias distais, em veias de membros superiores, e em pacientes assintomáticos. É o exame de escolha para o diagnóstico de TVP. Venografia / Flebografia: Venografia com contraste é o exame considerado padrão-ouro para o diagnóstico de TVP, reservado, atualmente, apenas quando os outros testes são incapazes de definir o diagnóstico. Porém, devido a váriaslimitações (custo, reações adversas ao contraste, ser desconfortável para o paciente, contraindicado a pacientes com insuficiência renal), não é o exame de rotina utilizado na suspeita de TVP. Tem acurácia limitada nos quadros de TVP recorrente. RM: pode ser utilizada para o diagnóstico de TVP em casos onde o ECD oferece resultados inconclusivos. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Considerar a embolia pulmonar em dispneia inexplicável, taquipnéia, dor no tórax que se acentua ao respirar, tosse sem causa clara, hemoptise. Diagnóstico diferencial de problemas nos membros inferiores: artrite, ruptura/hematoma muscular, linfangite, problema traumático, tromboflebite, celulite/erisipela, linfedema, cisto de Baker (rompido), síndrome pós-trombótica. COMPLICAÇÕES As principais complicações são: insuficiência venosa crônica/ síndrome pós trombótica e embolia pulmonar (EP). A síndrome pós-trombótica é caracterizada por trombos que persistem e destroem as valvas venosas, prejudicando o retorno venoso. Há hipertensão venosa, responsável pelo acúmulo de líquido no espaço extravascular, com edema e, a longo prazo, atrofia da pele e pigmentação melânica. Em casos mais graves, há ulceração cutânea. O TEP define-se como a obstrução de uma ou mais artérias pulmonares. Na maioria dos casos, é causado por coágulos sanguíneos que chegam às artérias pulmonares vindo, mais comumente, de TVP das extremidades inferiores. Os sinais clínicos de TEP são inespecíficos, como dispneia, dor torácica, hemoptise, síncope ou pré-síncope. Em alguns casos, pode ser assintomática e descoberta incidentalmente. 3. ELUCIDAR EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, FATOR DE RISCO, PREVENÇÃO, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO (ALGORITMO), DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL, CLASSIFICAÇÃO E COMPLICAÇÕES DA TEP EPIDEMIOLOGIA O tromboembolismo pulmonar (TEP) é uma das emergências mais subdiagnosticadas e é a terceira causa de morte por evento cardiovascular. Fica atrás apenas do AVC e da Síndrome Coronariana Aguda. Nos últimos anos, houve crescente preocupação com criação de protocolos de profilaxia e de um grande número de estudos sobre o tema. O aumento do interesse pelo TEP ocorre em virtude da alta https://www.sanarmed.com/como-manejar-o-avc-isquemico-yellowbook prevalência desse evento no ambiente hospitalar, tornando a prevenção do TEP uma das grandes preocupações nos pacientes internados. A incidência de TEP aumenta com a idade, principalmente nas mulheres, alcançando uma taxa de > 500 casos por 100.000 mulheres acima dos 75 anos. Não há consenso referente a prevalência do tromboembolismo pulmonar quanto a etnia e ao sexo, no entanto, alguns estudos sugerem que a incidência do Tromboembolismo Pulmonar é maior em homens do que em mulheres (respectivamente, 56 contra 48 casos por 100.000 habitantes). Estima-se que a embolia pulmonar cause cerca de 100.000 mortes por ano nos Estados Unidos e 300.000 mortes por ano na Europa, no entanto, a mortalidade do Tromboembolismo Pulmonar é subestimada, uma vez que há evidências de que parte dos casos de morte súbita de origem cardiovascular sejam causados por TEP. Nos casos diagnosticados de TEP, a mortalidade é de cerca de 4% em 1 mês e chega a 13% em 1 ano. No Brasil, os estudos sugerem que a maioria das mortes por TEP ocorrem sem diagnóstico, com o Tromboembolismo Pulmonar (TEP) só sendo descoberto em estudos post mortem. Dessa forma, as mortes por TEP no país são subestimadas. Estudos acreditam que o TEP cause cerca de 100.000 mortes por ano no Brasil. FATORES DE RISCO Os fatores de risco estão intimamente ligados com a fisiopatologia da doença: formação de trombos. As situações que propiciam a formação desses trombos já foram descritas há anos e compõem a Tríade de Virchow: Estase, Hipercoagulabilidade e Lesão Endotelial. Ou seja, para pensar nos fatores de risco é só pensar em doenças, acometimentos e condições que gerem algum de um dos três pontos da Tríade de Virchow Fatores de risco hereditários: • Mutação do fator V • Mutação de gene de protrombina • Deficiência de vitamina C ou S • Deficiência de antitrombina • Desfibrinogemia • Deficiência de plasminogênio Fatores de risco adquiridos: • Uso de Cateter venoso central • Tabagismo • Idade <75 anos • Trauma • Doença inflamatória intestinal • AVC • Gestação e puerpério • Insuficiência cardíaca • Imobilização • Obesidade • Hemoglobina paraxistica noturna • Doenças mieloproliferativas • TVP prévio • Síndrome nefrótica • SAAF • Infecção atual • Câncer (principalmente metastático) • Quimioterapia • Uso de contraceptivos orais Importante: A mortalidade relacionada à EP é significativamente maior no paciente com câncer. PREVENÇÃO A prevenção da embolia pulmonar significa prevenção da trombose venosa profunda. Medidas físicas • Elevação dos membros inferiores: • Movimentação ativa e passiva dos membros inferiores em pacientes impossibilitados de deixar o leito. • Deambulação precoce • Meias elásticas de compressão graduada (MECG) • Compressão pneumática intermitente externa dos membros inferiores (CPI através da insuflação sequencial de manguitos, envolvendo dos pés à panturrilha, aumenta significativamente o fluxo venoso e tem ação fibrinolítica. • Filtro de veia cava inferior – permanentes e temporários Profilaxia farmacológica • Heparina não fracionada (HNF): Doses subcutâneas (SC) entre 10.000 e 15.000UI ao dia, fracionadas em 2-3 vezes – conhecidas como “mini-doses” • Heparina não fracionada dose-ajustada: Geralmente inicia-se com 3.500UI SC 8/8 horas, ajustando a dose para manter o TTPA no limite superior da normalidade. • Heparina de baixo peso molecular (HBPM): Pode ser usada uma vez ao dia, mas em situações de risco muito alto duas doses diárias seriam mais eficazes. Prescinde de controle laboratorial. • Cumarínicos: Doses ajustadas de cumarínicos para o INR ficar entre 2 e 3 são altamente eficazes, mas exigem controle laboratorial. • Dextran: Reduz a viscosidade plasmática, a adesividade e a agregação plaquetária e diminui a polimerização da fibrina. • Danaparóide sódico (Orgaran®): É um heparinóide com relação anti-Xa/IIa maior que as HBPM. Ainda não disponível no país. • Inibidores diretos da trombina: O representante mais conhecido desta classe é a hirudina recombinante (ou desirudina), que age diretamente tanto na trombina livre quanto na trombina ligada à fibrina, sem necessitar de co-fatores. Profilaxia e níveis de risco Todos os níveis: elevação dos membros inferiores, movimentação passiva/ativa de membros inferiores e deambulação precoce. Risco baixo: sem outras medidas específicas ou meias elásticas de compressão graduada. Risco moderado: HNF 5.000UI SC 12/12 ou HBPM (Tabela 1) ou meias elásticas de compressão graduada ou compressão pneumática intermitente. Risco alto: HNF 5.000UI SC 8/8 h (ou 7.500UI 12/ 12h) ou HBPM ou compressão pneumática intermitente. Risco muito alto: HBPM ou cumarínico (INR acima de entre 1,5 e 2) ou heparina dose- ajustada ou compressão pneumática intermitente (combinada com HNF 5.000UI SC 8/8h ou HBPM). FISIOPATOLOGIA A patogênese do Tromboembolismo Pulmonar envolve os fatores que predispõe a ocorrência de Trombose Venosa Profunda (TVP), ou seja, os elementos da Tríade de Virchow e migração de êmbolos para os pulmões. Na maioria dos casos, há formação de trombos nos membros inferiores em território de vasos venosos íleo-femorais (vasos proximais dos membros inferiores) que se movimentam em direção a circulação pulmonar, ocluindo os vasos arteriais pulmonares. Os trombos também podem se originar em membros superiores, entretanto, esta situação é infrequente. O Trombo Ascende dos MMII (mais comum)pela veia cava inferior e acessa o coração através do átrio direito. Posteriormente, vai para o ventrículo direito e por fim alcança a circulação pulmonar. A obstrução dos vasos leva a diminuição da pré-carga e a liberação de mediadores inflamatórios como o tromboxano que age promovendo a vasoconstrição e elevando a resistência pulmonar. O ventrículo direito tenta manter o equilíbrio, ou seja, mantém o débito cardíaco à custa do aumento da pressão pulmonar. Como consequência desta instalação súbita, as fibras cardíacas podem se esgarçar levando a dilatação da câmara direita, que pode deslocar o septo interventricular (situação visualizada no ecocardiograma). A hipertensão pulmonar pode permanecer mesmo após o tratamento do episódio agudo, sendo, portanto, uma complicação. Episódios de TEP com obstrução de ramos mais distais dos vasos pulmonares apresentam maior risco de desenvolvimento de infarto pulmonar, com resposta inflamatória intensa na região em decorrência da morte celular. Isso se correlaciona com manifestações clínicas como hemoptise e dor pleurítica. Com a obstrução de um ramo da artéria pulmonar, surge uma área de espaço morto patológico no pulmão, definida como uma área em que há ventilação, no entanto, não há perfusão para que ocorra a troca gasosa. Dessa maneira, há uma alteração na relação ventilação/perfusão (V/Q), o que contribui para o desenvolvimento de sintomas respiratórios como dispneia e alterações como hipóxia. Além disso, a dinâmica respiratória também é alterada na TEP em decorrência da resposta inflamatória, que contribui para a ocorrência de atelectasia, taquipneia e, consequentemente, hipoxemia e alcalose respiratória, nos casos mais graves. CLASSIFICAÇÃO O TEP é classificado em três categorias com base na gravidade: TEP maciço, TEP submaciço e TEP de menor gravidade TEP maciço: pressão arterial sistólica < 90 mmHg por mais de 15 minutos, pressão arterial sistólica < 100 mmHg com história de hipertensão ou redução > 40% na pressão arterial sistólica basal. TEP submaciço: pressão arterial normal, mas com outras evidências de estresse cardiopulmonar. TEP de menor gravidade: Todos os outros casos. Em pacientes com TEP confirmado é importante classificar e estratificar o paciente de acordo com a gravidade do quadro (risco de mortalidade) calculando o escore PESI Os pacientes PESI classe I e II são considerados de baixo risco e podem ser elegíveis para tratamento domiciliar ou alta precoce, que é definida por alta antes de 5 dias de internação hospitalar, tempo usualmente recomendado de internação para TEP. Uma análise mostrou que em pacientes com escore PESI < 66 pontos a internação hospitalar não é custo-efetiva e deveria ser evitada. O tromboembolismo pulmonar também pode ser subdividido em TEP agudo, subagudo e crônico. TEP agudo: apresentam sintomas de início súbito no momento em que há a embolização do trombo para um dos ramos arteriais da circulação pulmonar TEP subagudo: passam a apresentar sintomas no decorrer de dias ou poucas semanas após a embolização TEP crônico: apresentam uma embolização na vasculatura pulmonar, desenvolvendo gradualmente (no decorrer de meses a anos) hipertensão pulmonar. QUADRO CLINICO Como foi dito, TVP e TEP estão muito conectados. Portanto, devemos valorizar os sinais e sintomas de ambas as patologias. Ao identificar algum sinal que abra a suspeita de embolia pulmonar devemos pesquisar os sinais e sintomas de TVP e vice-versa. Os sinais e sintomas de TEP são muito inespecíficos, logo, o que nos ajuda na conduta diagnóstica são os escores de probabilidade pré teste. Entretanto, há um achado que SEMPRE deve levantar suspeita de TEP: DISPNEIA SÚBITA! Sintomas: Dispneia (73%) Dor Pleurítica (66%) Dor Anginosa Hemoptise Tosse Palpitações Chiado Dor/Edema de MMII Sinais: Taquipnéia Taquicardia Cianose B4/P2 aumentada Febre Sibilos Crepitação Pulmonar Atrito Pleural TVP clínica A tríade clássica do TEP (dispneia, dor torácica pleurítica e hemoptise) ocorre na minoria dos casos. A dispneia é o sintoma mais frequentemente descrito, relatado em 80% dos casos, mas com dispneia em repouso ocorrendo em apenas 50% dos pacientes. O segundo sintoma mais comum é a dor torácica, embora até metade dos pacientes diagnosticados com TEP não apresentem essa queixa, que usualmente tem caráter pleurítico (quando o trombo é periférico, próximo a pleura, por inflamação dessa região) ou subesternal, simulando uma síndrome coronariana aguda (por sobrecarga aguda e/ou isquemia do ventrículo direito). No exame físico, achados de trombose venosa profunda como edema assimétrico de membros inferiores devem ser pesquisados. Achados sugestivos de hipertensão pulmonar como B2 hiperfonética e sopro em foco tricúspide também podem estar presentes. Infelizmente o TEP não altera os sinais vitais de forma previsível e cerca da metade dos pacientes com TEP comprovado têm frequência cardíaca < 100 batimentos/min no momento do diagnóstico A maioria dos pacientes com TEP têm pulmões limpos na ausculta. Sibilos ou estertores bilaterais tornam possível um diagnóstico alternativo de broncoespasmo ou de pneumonia, mas não excluem TEP DIAGNOSTICO - ALGORITMO Antes de tudo, devemos reunir duas coisas: 1. Sinais e sintomas 2. Fatores de risco. Além disso, devemos calcular a probabilidade pré teste utilizando dois escores: Geneva modificado ou Wells, que irão ajudar a dividir o paciente em baixo, moderado ou alto risco. Essa classificação guia nossa conduta diagnóstica. Por conta da sintomatologia diversa e da pouca sensibilidade e especificidade dos exames de rotina, precisamos estimar a probabilidade clínica do paciente apresentar Tromboembolismo Pulmonar ANTES da realização de exames complementares. A ferramenta mais utilizada para isso é o Escore de Wells. Foi descrito pela primeira vez em 1998, por Philip Steven Wells, sendo um escore de predição clínica baseado em parâmetros clínicos simples e não invasivos, levando em consideração os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença. Ele evoluiu ao longo dos anos e foi validado para determinar a probabilidade pré-teste para suspeita de Embolia Pulmonar aguda. São pontuadas 7 variáveis e para cada aspecto do escore é atribuída uma pontuação específica conforme a tabela a seguir. Baixa probabilidade: 0-1 pontos Probabilidade intermediária: 2-6 pontos Alta probabilidade: ≥ 7 pontos Após a somatória final e definida a probabilidade em baixa, intermediária ou alta, damos seguimento à investigação diagnóstica: Pacientes de baixo risco devem realizar o D- dímero, e se negativo está descartado TEP Pacientes de risco intermediário a alto devem ser submetidos a exames de imagem. Apesar da validação dos critérios de Wells, por razões obscuras, os médicos não os usam ou os usam incorretamente em até 80% dos pacientes. Vale uma ressalva para pacientes idosos ou gravemente enfermos que pode não ser tão preciso o cálculo. Além do escore de Wells, outros foram desenvolvidos para simplificar e facilitar sua utilização na prática clínica. O escore de Geneva possui a forma original que é pontuado de 1-5 e a versão simplificada em que todos os critérios são avaliados com 1 ponto, com exceção da frequência respiratória que vale 2 pontos, caso esteja > 94 bpm Original: Baixa probabilidade: 0-3 pontos Probabilidade intermediária: 4-10 pontos Alta probabilidade: ≥ 11 pontos Simplificado: TEP improvável < 5 pontos - Se TEP improvável ou baixa probabilidade, solicitar D-Dímero e se negativo, está descartado TEP TEP provável ≥ 5 - TEP provável ou probabilidade intermediária/altadeve prosseguir com exame de imagem. Se o paciente for classificado como de baixa probabilidade pelo Wells ou Genebra modificado, deve-se usar o escore PERC. Todas as perguntas do PERC devem ter resposta negativa. Se houver qualquer resposta “sim” indica que o escore PERC não pode descartar EP. Ele foi criado em 2004, e é uma alternativa em locais que não está disponível D-dímero ou pode ajudar a evitar o problema de lidar com um dímero D positivo em um paciente que você realmente não acha que tenha TEP. Porém, vale lembrar que se alguma das perguntas for positiva, o D-dímero deve ser solicitado Não para todas: descartado TEP Sim para alguma: Solicitar D-dímero Para entender melhor, temos um fluxograma. Escore baixo = d-dímero. Se vier negativo eu descarto TEP, se vier positivo eu realizo Angio-TC de Tórax Escore médio ou alto: Eu realizo Angio-TC de tórax: se vier positivo eu confirmo TEP, se vier negativo eu descarto TEP. Ou seja: d-dímero positivo não confirma TEP mas devido ao seu valor preditivo negativo, quando o d- dímero estiver negativo as chances de ser tromboembolismo pulmonar são MUITO baixas DIAGNOSTICO - EXAMES COMPLEMENTARES D-dímero: O D-dímero é um produto da degradação da fibrina, portanto, está aumentado nos insultos em que o sistema de coagulação está trabalhando a todo vapor. Então, ele não é um exame específico de TEP e é insuficiente para fechar o diagnóstico. A principal função do D-dímero é excluir TEP em casos em que os escores pré-teste resultaram em baixa probabilidade. Isso se dá por causa do seu alto valor preditivo negativo (99,5%). Porém, temos que ter em mente: Não exclui TEP quando a probabilidade é alta; Está aumentado em outras patologias (ex.: infarto agudo do miocárdio). Angio-TC de Tórax: não é o padrão ouro, porém é o exame mais acurado para ser utilizado na prática. Apesar de não está disponível em todos os serviços, https://www.instagram.com/p/B1gXc2QB4uL/ a Angio-TC de Tórax é exame de escolha em pacientes estáveis com intermediária ou alta probabilidade de TEP pelos escores prognósticos BNP, NT-proBNP e Troponina: Utilizados como avaliação prognóstica e estratificação de risco. Alguns autores sustentam que níveis elevados em pacientes estáveis, porém com disfunção de ventrículo direito, indicam pior prognóstico. Portanto, esses pacientes podem se beneficiar de trombólise. Gasometria Arterial: Gasometria arterial demonstrando hipoxemia no contexto de um Raio-X de Tórax limpo aumentam a suspeita de TEP. No entanto, esse exame pode vim normal em até 18% dos casos. Dentre as alterações: Hipoxemia (74%); Hipocapnia e alcalose respiratória (41%); Gradiente A-a aumentado (62%). Eletrocardiograma: O ECG tem pouca contribuição no TEP, mas ele deve ser usado como diagnóstico diferencial de SCA. Geralmente, demonstram alterações inespecíficas como: taquicardia sinusal (principal), desvio do eixo elétrico, BRD, inversão da onda T em V1 a V4, DIII e aVF. O único sinal específico de TEP é bastante incomum (menos de 10% dos casos): a presença do “S1Q3T3”: onda S em D1, onda Q em D3 e inversão de onda T em D3 (Figura 1) Radiografia de Tórax: No tromboembolismo pulmonar, o Raio-X de Tórax está sem alterações na maioria dos casos. Mas isso não quer dizer que esse exame não deve ser feito. Ele é muito útil para avaliar os possíveis diagnósticos diferenciais de TEP, como pneumonias, derrames pleurais e congestão pulmonar. Existem achados mais específicos, porém raros, que sugerem TEP, são eles: Corcova de Hampton: imagens hipotransparentes em formato de cunha em bases pulmonares referentes à área de infarto pulmonar (figura 2); Sinal de Westermark: áreas de hipoperfusão pulmonar com diminuição da trama vascular; Sinal de Palla: dilatação da artéria pulmonar. Figura 2: Corcova de Hampton em base pulmonar direita Ultrassonagrafia à beira do leito: é um exame muito útil e prático para diagnóstico presuntivo de TEP, principalmente em pacientes instáveis em que o diagnóstico permanece obscuro. A visualização de TVP no Doppler Venoso de Membros Inferiores em pacientes com clínica sugestiva de TEP nos permitem iniciar a terapêutica adequada. Ecocardiograma Transtorácico (ECO-TT): nos permite um diagnóstico presuntivo e iniciar terapia. Os achados principais são: dilatação de ventrículo direito, hipertensão pulmonar, insuficiência tricúspide e visualização de trombo em VD ou AD. Um sinal bem sugestivo é o Sinal de McConnel: hipocinesia segmentar da base livre de VD. No entanto, o ideal seria a visualização de trombo no trombo pulmonar ou na parte proximal das artérias pulmonares, porém esse achado é difícil de ser visto em ECO-TT, sendo mais fácil de ser observado no Ecocardiograma Transesofágico. Angiotomografia ou angioressonância venosa também são capazes de identificar os trombos e sua localização, embora não sejam recomendados por não apresentarem eficácia superior à USG. O exame padrão-ouro é a venografia. Outros exames de imagem Cintilografia com relação V/Q: muito pouco utilizado na prática atualmente Arteriografia pulmonar: padrão-ouro no diagnóstico de TEP, porém pouco utilizado por ser invasivo DIAGNOSTICO DIFERENCIAL Os principais diagnósticos diferenciais do TEP são: infarto agudo do miocárdio (IAM), pneumonia, insuficiência cardíaca, asma brônquica, doença pulmonar obstrutiva crônica, neoplasia torácica, fratura de costela, pneumotorax, dor de origem músculo-esquelética e bacteremia (liberação de mediadores causando hipoxemia e hipotensão) COMPLICAÇÕES Consequências respiratórias Imediatas: aumento do espaço morto do compartimento alveolar, efeito shunt, broncoconstrição e pneumoconstrição associadas, respectivamente, ao aumento da resistência de vias aéreas e redução da complacência pulmonar, distúrbio difusional, hipoxemia, hipo ou hipercapnia, taquipnéia Tardias (após 18 h): redução da produção do surfactante, com tendência ao colapso alveolar e edema pulmonar, aumento da resistência de vias aéreas e diminuição da complacência pulmonar, distúrbio difusional, distúrbios VA/Q, hipoxemia, taquipnéia Consequências hemodinâmicas Redução do leito arterial pulmonar, aumento da resistência vascular, aumento na pressão da artéria pulmonar, aumento da pós-carga e do trabalho do ventrículo direito (ocasionando até sua falência e Cor pulmonale), queda do volume/minuto circulatório, taquicardia, diminuição da perfusão coronariana, isque mia miocárdica, prejuízo de enchimento do ventrículo esquerdo com sua posterior disfunção e até choque circulatório RESUMÃO ⟶ Embolia pulmonar (EP) é um diagnóstico diferencial possível em pacientes com dispneia, taquipneia, dor torácica ou hipotensão/choque. ⟶ Todos os pacientes com suspeita de EP confirmada devem ser submetidos a avaliação da probabilidade pré-teste a partir dos escores de Wells ou Genebra modificado. ⟶ Gasometria arterial, radiografia de tórax e eletrocardiograma, mesmo quando normais, não excluem embolia pulmonar; muitas vezes são uteis para descartar outras doenças. ⟶ Paciente com idade > 50 anos: deve-se corrigir o D-dímero pela idade (10 x idade em anos). ⟶ TC de tórax é o exame de escolha na maioria dos pacientes. Em pacientes com instabilidade hemodinâmica, o exame de primeira escolha é o Ecocardiograma. ⟶ Todos os pacientes devem ser estratificados quanto ao risco de morte precoce. ⟶ Anticoagulação parenteral deve ser prescrita para todos os pacientes, exceto se houver contraindicação. ⟶ Novos anticoagulantes orais podem ser usados no lugar da warfarina (dabigatran ou edoxaban) ou mesmo ser usados em monoterapia (apixaban e rivaroxaban). ⟶ Pacientes com EP e alto risco demorte (hipotensão ou choque) devem ser anticoagulados com heparina não fracionada associada a trombólise sistêmica. Não usar nenhuma medicação subcutânea nessa situação. ⟶ Pacientes de baixo risco, desde que tenham condições clinicas e sociais, devem ser tratados ambulatorialmente. 3. EXPLICAR O TRATAMENTO DE TEP E TVP TVP O tratamento de escolha é a anticoagulação. Para os pacientes com alta suspeita clínica, ele pode começar antes mesmo da investigação diagnóstica – bem como na profilaxia pós-cirúrgica. Nos casos de estabilidade hemodinâmica, baixo risco de sangramento e ausência de doença renal crônica, não há necessidade de internação, podendo o paciente realizar a terapia de forma ambulatorial. O tratamento clássico consiste em uma heparina de baixo peso molecular (HBPM) ou fondaparinux associada a warfarina oral. Se HBPM, preferencialmente usar enoxaparina 1,5mg/kg até 150mg, SC, 1x/dia. Se fondaparinux, 7,5mg, SC, 1x/dia (para pacientes de 50 a 100 kg). Utilizar por 5 dias em conjunto com a warfarina. Atentar para clearence de Cr (usar apenas se maior que 30ml/min) e suspender se RNI entre 2 e 3 durante dois dias seguidos. Alternativa à essa terapia está a anticoagulação totalmente oral, realizada com rivaroxabana 15mg, VO, de 12 em 12h durante 21 dias – depois disso, 20mg, 1x/dia – ou apixabana 10mg, VO, de 12 em 12h durante 7 dias – depois disso, 5mg de 12 em 12h. Outros esquemas, envolvendo HBPM e fondaparinux estão disponíveis, contudo todos levam em consideração um clearence de creatinina maior que 30ml/min. O tempo de tratamento deve ser mantido de 3 a 6 meses, demorando o tempo mínimo no paciente com TVP associada a neoplasia. Trombolíticos estão reservados para TEP ou situações de alto risco. Os benefícios do filtro de veia cava inferior não estão totalmente elucidados. Para pacientes em diálise ou com clearence de Cr menor que 15ml/min, optar pela heparina não fracionada 80UI/kg IV de ataque e 18UI/kg/h de infusão contínua na manutenção. Manter TTPA entre 1,5 a 2,5. TEP A partir da suspeita clínica criteriosa de TEP, o tratamento deve ser iniciado de imediato, após a definição de suspeita clínica intermediária ou alta, com objetivos de interromper o processo tromboembólico e diminuir a mortalidade associada, que é máxima nas primeiras horas do desenvolvimento de sintomas. A anticoagulação é uma terapia secundária, à medida que não atua diretamente na dissolução do trombo estabelecido. Entretanto, a suspensão do processo trombótico permite a ação trombolítica endógena sem oposição. Então, conjuga-se anticoagulação exógena com a trombólise endógena, que é máxima em nível da circulação pulmonar. Alternativamente, pode ser necessária a administração de terapia primária, constituída pelo emprego de fármacos trombolíticos, que atuam de forma direta na dissolução do trombo. Associa-se, então, trombólise exógena à trombólise endógena, complementada a seguir pela anticoagulação, que exerce função de prevenção secundária de recorrência. O TEP é uma das causas de CHOQUE OBSTRUTIVO, ou seja, se o paciente estiver sinais de instabilidade hemodinâmica e choque devemos ESTABILIZAR O PACIENTE E REALIZAR UMA TERAPIA DE IMEDIATO. Deve-se pedir interconsulta com a cirurgia vasculara para avaliar possibilidade de uso filtros de veia cava inferior. Eles são alternativas para prevenir novos trombos em duas situações: Contraindicação à anticoagulação Falha da anticoagulação O filtro de veia cava é um dispositivo metálico que os médicos colocam em uma veia que fica dentro do abdome (a veia cava) para impedir que os coágulos (trombos) que provocam a Trombose Venosa Profunda (TVP) causem embolia pulmonar, ou seja, o entupimento das artérias do pulmão. Filtros removíveis devem ser empregados para pacientes com contraindicação temporária ao uso de anticoagulantes, devendo permanecer por aproximadamente 2 semanas O uso de filtros de veia cava deve ser considerado no pré-operatório de pacientes candidatos à cirurgia e acometidos por evento trombótico nos últimos 30 dias, para os quais a anticoagulação precisa ser interrompida. Filtros removíveis devem ser considerados na presença de uma contraindicação temporária à anticoagulação Atualmente existe o Pulmonary Embolism Severity Index (PESI) que nos permite tratar ambulatorialmente os pacientes estáveis com bom prognóstico, o que seria um somatório do PESI <= 85. Após o uso do anticoagulante injetável como enoxaparina, devemos transicionar para outro anticoagulante oral: warfarina ou os novos anticoagulantes. A alta do paciente deve ser feita idealmente após 2 RNI consecutivos na faixa terapêutica. Após a alta, solicitar RNI a cada 7 dias (por 2-3 semanas) e depois a cada 15 dias (2 vezes) e posteriormente mensalmente. Porém, tudo isso depende do anticoagulante oral utilizado. O tempo de utilização depende dos fatores de risco, se o paciente é de sexo feminino, se está associado à neoplasia… A anticoagulação varia de 3 a 6 meses de duração. 5- ENTENDER O MECANISMO DE AÇÃO, INDICAÇÕES E EFEITOS ADVERSOS DOS ANTICOAGULANTES HEPARINA (Anticoagulante parenteral) Mecanismos de ação: A heparina administrada liga-se reversivelmente à antitrombina III (ATIII) formando um complexo ternário que inativa várias enzimas da coagulação e conduz à inativação quase instantânea do fator Xa. O complexo heparina-ATIII também pode inativar fatores IX, XI, XII e mais significativamente a trombina. O mecanismo de ação da heparina é dependente da ATIII, aumentando em mais de 1000 vezes a atividade intrínseca da antitrombina. Atua principalmente acelerando a taxa de neutralização de certos fatores de coagulação ativados pela antitrombina, mas também outros mecanismos podem estar envolvidos. A heparina impede a progressão de coágulos existentes através da inibição da coagulação adicional. Indicações: A heparina é indicada para tratamento e profilaxia de doenças tromboembólicas de qualquer localização ou etiologia, bem como após um tratamento trombolítico, na coagulação intravascular disseminada e no infarto do miocárdio. Além disso, é indicado para profilaxia das tromboses arteriovenosas e da embolia pulmonar. Efeitos adversos: Pode ocorrer hemorragias durante o tratamento com heparina, por exemplo hematúria, hematomas subcutâneos nos pontos de injeção. Em casos muito raros observaram-se reações de hipersensibilidade como eritema, colapso, febre medicamentosa, asma brônquica e espasmos vasculares. A alopecia que pode surgir depois do tratamento pela heparina é naturalmente reversível e além disso pode ocorrer uma queda no número de plaquetas. Pode ocorre hipercalcemia em pacientes diabéticos e/ou com insuficiência renal. ARGATROBANA (Anticoagulante parenteral) Atua inibindo diretamente a trombina. A argatrobana é biotransformada no fígado e tem meia-vida de 39 a 51 minutos, e assim como com os outros anticoagulantes, o principal efeito adverso é a hemorragia Não há necessidade de ajuste de dose em portadores de insuficiência renal. Em junho de 2000, o Food and Drug Administration aprovou a droga para uso na trombocitopenia provocada por heparina. Esse fármaco foi utilizado, na maioria dos casos, em pacientes com cardiopatia isquêmica agudizada, tendo sido aplicado em pacientes com TEV em pequenas séries de casos. A sua monitorização é feita pelo TTPa, mantendo-o entre 1,5-3 vezes o controle (não excedendo 100 s) VARFARINA (Anticoagulante oral) Mecanismo de ação: esse medicamento atua como antagonista da Vitamina K. A varfarina inibe a vitamina K epóxido redutase, resultando na produção de fatores de coagulação menos ativos (de 10 a 40% do normal), pois lhes faltam suficientes cadeias laterais γ- carboxiglutamil. Algunsfatores de coagulação são dependentes da vitamina K para se tornarem eficazes, estes são: os fatores II, VII, IX, X e as proteínas C e S. O fator II é justamente a protrombina. Portanto, a Varfarina atua alargando o Tempo de Protombina (TP), logo intefere no RNI. Efeitos colaterais: Hemorragia, dermatite, necrose da mama, da parede abdominal, pênis e pele nas extremidades inferiores; irritação gastrointestinal, urticária, elevação das transaminases A varfarina tem um índice terapêutico estreito. Por isso, é importante que a INR seja mantida dentro da faixa ideal o máximo possível, podendo ser necessário monitorar com frequência. Observações: Contraindicado na gravidez; uso liberado na lactação. RIVAROXABANA (Anticoagulante oral) Mecanismos de ação: Inibe de forma direta, seletiva e reversível o fator Xa nas vias de coagulação extrínseca e intrínseca, impedindo a ativação de plaquetas e a formação de coágulos de fibrina. Por fazer parte do complexo protrombinase, o fator Xa participa de um processo de grande conversão de protrombina em trombina, chamado de explosão de trombina, o qual também será interrompido. Indicações: A rivaroxabana é utilizada na prevenção e no tratamento da trombose venosa profunda (TVP), no tratamento da embolia pulmonar (TEP), na prevenção de eventos tromboembólicos, como o acidente vascular cerebral (AVC), em pacientes com fibrilação atrial não valvular e na doença isquêmica do coração. O medicamento deve ser administrado em doses fixas, juntamente com alimentos. Não há necessidade de monitoramento de tempo de protrombina (TP) e de tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa), diferentemente da varfarina. A dosagem vai variar de acordo com a indicação clínica e a função renal do paciente. Efeitos adversos: Foram observados hemorragias, síncope, prurido e dor abdominal. Trabalhos publicados associam, ainda, a rivaroxabana a efeitos como hemopericárdio, colestase e agranulocitose. DABIGATRANA (Anticoagulante oral) A dabigatrana e seus metabólitos são inibidores diretos da trombina. Após administração oral, o mesilato de etexilato de dabigatrana é convertido em dabigatrana. É uma medicação v.o., ingerida na forma de pró-droga, sem interação com a alimentação. Seu início de ação ocorre 2 h após a administração, e sua meia-vida é de 12-17 h. A dabigatrana causa dispepsia clinicamente relevante em 5-10% dos casos, e o uso concomitante de inibidor de bomba de próton reduz a absorção do fármaco em 20-30% Observações: Novo antídoto disponível no mercado: idarucizumab FIBRINOLÍTICOS - ALTEPLASE (rT-PA) O que fazem, na verdade, é ativar o plasminogênio em sua transformação para plasmina, esta sim com capacidade para degradar a fibrina, o maior componente do trombo. Assim, na verdade, estes agentes devem ser chamados de agentes fibrinolíticos. Os agentes fibrinolíticos lisam com rapidez os trombos ao catalisar a formação da serina protease, a plasmina, a partir de seu zimogênio precursor, o plasminogênio. Indicações: terapia trombolítica da embolia aguda maciça com presença de instabilidade hemodinâmica ou em casos em que se tem forte suspeita de TEP maciço e risco iminente de morte, bem como no tratamento trombolítico do acidente vascular cerebral isquêmico agudo. Efeitos adversos: O principal efeito adverso de todos os agentes trombolíticos consiste na ocorrência de hemorragia, que pode ser discreta, produzindo queda dos níveis de hematócrito e/ou hemoglobina ou pode se manifestar em qualquer local ou cavidade corpórea, podendo resultar em situações de risco de vida, incapacidade permanente ou morte. Formação de hematoma cerebral intracraniano e transformação hemorrágica de acidente vascular cerebral também são efeitos adversos comuns. Observações: Instituir ou retomar a anticoagulação parenteral com heparina perto do final ou imediatamente após a infusão de alteplase quando o tempo de tromboplastina parcial ou tempo de trombina retornar a duas vezes o normal ou menos.
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