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Hélio Clemente1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DE MOÇAMBIQUE Introdução Os estudos sobre população inserem-se nas grades problemáticas da Geografia da População que é um ramo da ciência geográfica, mas especificamente, da Geografia Humana, responsável pela compreensão dos fenómenos e da dinâmica populacional e suas variações espaciais. Natalidade, mortalidade, crescimento vegetativo, migrações, estrutura etária e ocupacional são alguns dos elementos mais considerados nas análises populacionais. O presente trabalho, é desenvolvido no contexto da cadeira de Geografia de Moçambique e mais especificamente na grande temática de População e sociedade, cujo conteúdo resume-se no estudo da origem e evolução da população em Moçambique, das variáveis de análise demográfica, das migrações, factores da distribuição da população e dos problemas demográficos actuais. Objectivos Geral Estudar a origem e evolução da população de Moçambique. Específicos Mencionar os indicadores demográficos em Moçambique; Descrever os movimentos migratórios Indicar os problemas demográficos actuais; Indicar a importância do estudo da população. Metodologia Para a realização do trabalho recorreu-se ao método de pesquisa bibliográfica que de acordo GIL (1991), consiste na leitura selectiva, analítica e interpretativa de livros, artigos, reportagens, textos da Internet, filmes, imagens e sons. O pesquisador deve buscar ideias relevantes ao estudo, com registo fidedigno das fontes. 1 Hélio Clemente – Licenciado em Ensino de História com Habilitações em Ensino de Geografia. Universidade Pedagógica – Maxixe, Moçambique. clementehelio199@gmail.com 1. Origem e Evolução da População em Moçambique Grande parte das características demográficas da população moçambicana só poderão ser devidamente compreendidas quando situadas no contexto mais amplo das transformações sociais, económicas e culturais ocorridas no País, tanto no período pré-colonial como durante as duas décadas que se seguiram à Independência política, em 1975. Tal análise situa-se para além do âmbito deste trabalho, mas os dois exemplos seguintes ilustram a importância e a influência directa da história sócio-política nas mudanças demográficas da população moçambicana (INE, 2005). Um exemplo refere-se à taxa de crescimento da população moçambicana relativamente baixa durante a primeira metade do século XX. Tal taxa deveu-se à falta de condições adequadas de saúde e higiene que marcou Moçambique durante a primeira metade do Século XX; como escreveu Newitt (1995: 474) no seu livro A História de Moçambique, até à década de 50, ’A malária, doença do sono, lepra e bilharziose eram doenças endémicas, e um terço das crianças morriam durante a infância’. Porém, nas décadas 30 e 40 o Governo português criou unidades de combate à malária e à doença do sono; depois da Segunda Guerra Mundial, outras doenças foram adicionadas àquela lista de prioridades, tais como bilharziose, tuberculose e lepra. Se bem que os graves problemas de saúde da população moçambicana nunca foram adequadamente confrontados durante o período colonial, certamente que as acções de saúde pública com impacto mais amplo foram as causas mais directas do começo da diminuição da mortalidade a partir de 1950 (Newitt, 1995: 474-475). Esta mudança dum componente importante do crescimento da população, como é a mortalidade, originou a aceleração do ritmo de crescimento demográfico nas últimas décadas do período colonial. Outro exemplo refere-se às migrações mais recentes, nomeadamente aos movimentos externos e internos da população, causados pelo conflito armado que assolou Moçambique durante cerca de uma década e meia até às eleições gerais e multipartidárias de Outubro de 1994. Se bem que este movimentos migratórios são fenómenos histórico-estruturais que sempre marcaram fortemente a evolução da população moçambicana, o conflito armado mais recente gerou fluxos migratórios muito específicos e, sem dúvida, com profundas implicações para o processo de urbanização, o estado e ritmo de crescimento da população, entre outros aspectos demográficos. Fontes diversas estimaram que por volta de 1990 mais de 100,000 pessoas teriam morrido como resultado directo do conflito armado; cerca de um milhão e meio de pessoas encontravam-se refugiadas nos países vizinhos e, dentro do país, um terço da população tinha sido forçado a deslocar-se das suas zonas habituais de residência (INE, 2005). Os dados demográficos disponíveis permitem-nos descrever a evolução histórica, pelo menos na segunda metade do século XX. Em 1950, a população total de Moçambique era cerca de 6.5 milhões de habitantes. Desde então, ela cresceu de forma acelerada, tendo atingido 7.6 milhões em 1960, 9.4 milhões em 1970, e 12.1 milhões em 1980. O censo populacional previsto para 1990 não se realizou, por causa do conflito armado que assolava o País na altura. Porém, como forma de minimizar a falta de informação censal, o Governo decidiu realizar em Outubro de 1991 o Inquérito Demográfico Nacional (IDN). Este inquérito foi concebido segundo um marco amostral adaptado às circunstâncias político-militares difíceis em que se encontrava o país. Para esse ano estimou-se uma população total de 14.4 milhões de habitantes (idem). O rápido crescimento populacional foi causado pelas elevadas taxas de natalidade numa altura em que a mortalidade começou a diminuir. Durante as décadas de 50 e 60 a taxa de natalidade manteve-se quase constante e a níveis elevados, na ordem dos 49 nascimentos por mil habitantes. Esta taxa sofreu ligeiras alterações ao reduzir sucessivamente para 48 por mil em 1970, 47 em 1980 e 45 por mil em 1990. Em contrapartida, no mesmo período a taxa de mortalidade observou um significativo declínio. Em 1950 registaram-se 32 óbitos em cada mil habitantes, tendo reduzido para 20 em 1990. O maior declínio da mortalidade, principalmente a infantil, registou- se nos primeiros cinco anos da Independência Nacional (1975-1980), como resultado das melhorias das condições de saúde, educação e habitação, entre outras (idem). 1.1.O regime demográfico actual (Transição demográfica) No último século, a população moçambicana tem vivido uma transformação silenciosa, sem precedentes na história da sua evolução. Transformação que poderia ser chamada de revolução demográfica1, similar à revolução demográfica global, iniciada na Europa em meados do século XVIII, e que se generalizou por todo o Mundo no Século XX, originando a chamada ‘explosão da população’. Só que em Moçambique, apesar de ser uma realidade, a transição demográfica permanece incipiente, lenta e atrasada, comparativamente às transições demográficas mundiais, incluindo metade dos países da África Austral - África do Sul, Botswana, Lesoto, Maurícias, Namíbia, Suazilândia, Zimbabwe (Francisco, 2011) Do ponto de vista da ciência demográfica, a população humana conhece basicamente dois grandes regimes demográficos (RDA & RDM) e no meio de ambos, a chamada transição demográfica. Uma transição que surgiu após milhares de anos de prevalência de um regime demográfico antigo (RDA), caracterizado por altas taxas vitais (taxas brutas de mortalidade e de natalidade), originando crescimento natural ou vegetativo lento e próximo de zero. Um crescimento típico de sociedades primitivas, ou sociedades contemporâneas dependentes de economias de subsistência precária. Até meados do século XVIII, a população mundial cresceu muito lentamente. Atingiu o seu primeiro milhar de milhão de habitantes, por volta do ano de 1820; o segundo milhar de milhão no final da década de 1930, em apenas 125 anos; o terceiro milhar de milhão de pessoas, 34 anos depois, por volta de 1961. No último meio século, a população mundial já voltou a duplicar, prevendo-se que ultrapasse sete mil milhões de pessoas, no corrente ano de 2011 (Maddison, 2006: 30; UN, 2010). Todavia, após o período de crescimento populacional explosivo, caracterizado pela transiçãode eleva das para baixas taxas vitais, a ritmos diferentes, a partir da segunda metade do século XX, um número crescente de países tem vindo a concluir a transição demográfica (clássica ou primeira). A população voltou a crescer lentamente, à semelhança do ocorria no RDA, mas com uma diferença fundamental. No RDM o crescimento populacional lento assenta em baixas taxas de natalidade e mortalidade. E em Moçambique, o que é que aconteceu nos últimos dois séculos? Segundo os dados disponíveis, a explosão demográfica moçambicana não foi menos espectacular do que a mundial. Moçambique precisou de 1820 anos para atingir dois milhões de habitantes, mas em apenas duzentos anos, aumentou já cerca de 11 vezes. Estima-se que, no corrente ano 2011, a população moçambicana atinja 23 milhões de habitantes, representando 0,3% da população mundial e 2,1% da população africana (Francisco, 2011a: 14; INE, 2010: 11). Moçambique surge na 2ª Fase, da primeira transição demográfica, devido aos elevados valores da natalidade (TBN 41,1‰), da taxa de crescimento (2,5%) natural, da taxa de fecundidade total (TFT = 5,4 filhos por mulher) e da taxa de mortalidade infantil (TMI - 133‰). Estes indicadores revelam que Moçambique mantém fortes vestígios da primeira fase da transição demográfica, ou até mesmo do RDA, pré-transicional. No entanto, a mortalidade já diminuiu para menos de 20‰, significando que a ruptura com o RDA está e, curso, manifestada visivelmente, na elevada taxa de crescimento (superior a 2% por ano). 1.2.Movimentos Migratórios As migrações são fenómenos históricos que remotam a milhares de anos. Sem elas o mundo não se apresentaria com a plataforma social actual. São um fenómeno histórico ancestral. A História ensina-nos que a África é o berço da Humanidade. Foi a partir daqui que o homem se expalhou pelos diferentes cantos do globo. As migrações estiveram ligadas a crises económicas, disputas de terras, procura de melhores condições de vida, calamidades naturais, crises políticas, motivações religiosas. Rocha-Trindade (1990:467), destaca que: “ o conceito de migração veio posteriormente a especializar-se com a fixação de fronteiras dos Estados e delimitação das soberanias nacionais: para cada lugar de onde se observava o fenómeno, era emigrante aquele que saía para lá das suas fronteiras e imigrante aquele que, do exterior, nelas penetrava.” Entre 1976 e 1992, Moçambique experimentou um clima de instabilidade militar que levou milhares de moçambicanos a buscar refúgio nos países vizinhos, mas também nas cidades, sobretudo nos grandes centros urbanos (Hanlon, 2010). Portanto, o papel da migração forçada do campo para a cidade foi crucial no crescimento da população urbana. Raimundo & Muanamoha (2013) esclarecem que, a par da instabilidade militar, os desastres naturais, especialmente as secas que assolaram Moçambique na década de 1980, também forçaram milhares de moçambicanos a deslocarem-se para os centros urbanos. Após a assinatura dos Acordos de Paz em 1992, a migração do campo para cidade continuou a ter lugar, porém motivada por outros factores (Hanlon, 2010). Entre os factores que terão contribuído para o contínuo fluxo de migrantes do meio rural para o meio urbano, há a destacar os efeitos adversos dos programas de reajustamento estrutural orientados a partir das instituições de Bretton Woods, nomeadamente o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (Hanlon & Smart, 2008). Para Gurmu & Mace (2008), os programas de reajustamento estrutural contribuíram de forma crítica para a fragilização do tecido produtivo em muitos países africanos, pelo que Hanlon & Smart (2008) argumentam que, especialmente no contexto rural, com as reformas económicas neoliberais, muitos Estados viram a sua a capacidade de financiar o sector agrário enfraquecida. Consequentemente, é plausível que, em Moçambique, o campesino, já afectado pela destruição de infra-estruturas básicas, tais como estradas, pontes e sistemas de regadio devido à instabilidade militar, e, ao mesmo tempo, fustigado pelas secas, tenha visto na migração para a cidade a melhor alternativa para sobreviver (Hanlon, 2010; Raimundo & Muanamoha, 2013). A migração campo-cidade por razões económicas está associada à imagem da cidade como um lugar de oportunidades. Tal como explicado por Jenkins (2006), tal imagem terá sido estabelecida no período colonial, dado que boa parte da mão-de-obra barata e necessária para a vida urbana provinha do campo. Com a independência, esta dinâmica não foi alterada e a imagem da cidade como um lugar de oportunidades continua relevante no imaginário colectivo. No entanto, embora a migração seja um factor importante, defendemos que o crescimento natural, isto é, a diferença entre nascimentos e óbitos, tem tido maior peso no rápido crescimento urbano e no crescimento demográfico urbano em Moçambique. Esta posição é consistente com o que se observa em outros países africanos. Cohen (2006) afirma que se espera que a população nas cidades africanas, sobretudo nas pequenas e médias cidades, continue a aumentar devido ao crescimento natural. 1.3.Distribuição geográfica da população em Moçambique De acordo com INE (2005), a população do País é predominantemente rural. Em 2003, 69.5 por cento da população total residia nas áreas rurais enquanto a restante morava nas cidades consideradas urbanas. A capital do País acolhe 21 por cento do total da população urbana, o que demonstra um padrão de distribuição muito heterogéneo. Neste padrão é notável a acentuada concentração da população nas províncias do litoral e uma fraca densidade no interior do País. As Províncias de Zambézia e Nampula que ocupam 1/4 da superfície do território, agrupam quase 38 por cento da população total. A mesma fonte, indica que A região Norte que ocupa o segundo lugar quanto a extensão territorial com 293,287 km2, apresenta uma baixa densidade demográfica (20.5 hab./km2) do que as restantes regiões. A região Centro é a mais extensa do País com 335,411 km2 apresenta a densidade demográfica intermédia (23.2 hab./km2). Finalmente, a região Sul que ocupa a menor extensão territorial com 170,680 km2 apresenta a densidade demográfica mais elevada de todas as regiões (27.7 hab./km2). Actualmente, em consequência da migração rural-urbano e da reclassificação territorial de 1986 que eleva para categoria urbano 23 cidades e 68 vilas, a população urbana do País é 30.5 por cento (idem). 1.4.Factores da distribuição da População 1.4.1. Factores Naturais 1.4.1.1.O Clima Regra geral nas regiões de climas temperados e subtropicais, isto é, nos climas mais moderados, situam-se grandes concentrações humanas e nas regiões de climas frios desérticos, tropicais e equatorial, a população é mais escassa ou mesmo inexistente. O clima exerce uma influência considerável na distribuição da população devido aos obstáculos físicos que impõe ao organismo humano (IEDA, s/d). O mesmo autor, assegura que o organismo humano adapta-se às condições ambientais, mas apenas dentro de certos limites. Nas regiões polares, a temperatura baixa para além desses limites; nos desertos, falta a água e a humidade necessárias à sobrevivência, isto aliado a altas temperaturas (que não é raro ultrapassarem os 40º C) e a fortes amplitudes térmicas diurnas anuais nas regiões tropicais, quentes e húmidas, com chuvas abundantes durante a maior parte do ano (e por isso cobertas de densas florestas) também não há condições favoráveis ao organismo humano. O Homem e os animais são frequentemente atacados por doenças endémicas. Mas o clima tem também uma influência indirecta sobre a distribuição da população, na medida em que condiciona os bons e os maus anos agrícolas, constituindo assim um factor predominante da produtividade. Embora com os progressos técnicos o Homem se vai libertando, em parte das limitações climáticas (aquecimento, ar condicionado, combate as doenças), o factor clima continua a ser o menos modificávelpela acção humana. 1.4.1.2.O Relevo Repare que as grandes cadeias de montanhas constituem regiões de fraca densidade populacional. Mais de 80% da humanidade vive abaixo dos 500 metros de altitude e apenas 8,5% vive acima dos 1000 metros. À medida que aumenta a altitude diminui a temperatura, a pressão atmosférica e a quantidade de oxigénio, fenómenos suficientes para provocar transtornos no organismo humano reduzindo as suas capacidades físicas (ibid). A prática da agricultura torna-se difícil, não só em resultado das baixas temperaturas, mas também do acidentado dos terrenos e da pobreza dos solos, frequentemente arrastados pelas águas de escorrência. De uma forma geral, as regiões montanhosas constituem obstáculos à permanência das actividades humanas e a construção de obras humanas. 1.4.1.3.O Solo Segundo o Rodrigues (2018), o solo é uma película frágil da qual depende a produção alimentar que sustenta os seres vivos. As áreas onde o intenso trabalho de sucessivas gerações conseguiram transformar solos pouco férteis em terras produtivas, são normalmente focos de densidade populacional elevada. Os vales fluviais, as planícies aluviais e os deltas de muitos rios, para além de constituírem áreas de concentração populacional por excelência, pois a produtividade agrícola é muito elevada, são também eixos de circulação e de trocas privilegiados. Nas regiões áridas ou de solos pobres e pedregosos são áreas onde a densidade populacional é muito baixa. 1.4.1.4.A vegetação As densas e extensas florestas constituem em regra ambientes repulsivos, de difícil ocupação, pelo que se verifica uma grande rarefacção da população. Nas florestas equatoriais a conjugação das temperaturas e de precipitações elevadas contribuem para uma humidade atmosférica muito elevada, propicia à proliferação de doenças e a insalubridade do ambiente (Rodrigues, 2018). 1.4.1.5.A Riqueza do Subsolo A localização de certos recursos do subsolo (minerais e energéticos) tem constituído um factor de atracção das actividades económicas, provocando a formação de grandes aglomerados populacionais (idem). O carvão, por exemplo, atraiu diversas indústrias para junto das áreas de extracção, provocando a formação de grandes aglomerados humanos no fim do século XVIII e ao longo do século XIX, como aconteceu, por exemplo, nas bacias hulheiras da Inglaterra, do Norte da França e do Ruhr (Alemanha). A exploração do ferro e outros metais tem efeitos semelhantes e explica a elevada densidade demográfica em muitas outras regiões do mundo ou simplesmente o povoamento de muitas outras que antes eram praticamente desabitadas devido às condições adversas do clima. Estão neste caso, por exemplo, algumas zonas do Norte do Canadá, da Sibéria, e do deserto australiano (Rodrigues, 2018). A corrida ao ouro nos Estados Unidos explica, em parte, o povoamento do Oeste americano, do mesmo modo que muitos centros populacionais siberianos e do Norte da Suécia devem o seu nascimento à exploração mineira. Nos desertos de Sara e da Arábia, embora constituindo ambientes extremamente repulsivos, o aparecimento e exploração de grandes jazigos de petróleo e gás natural determinaram também o aparecimento de pequenos mas numerosos aglomerados populacionais. 1.4.2. Factores Humanos 1.4.2.1.A Proximidade das Vias de Comunicação e de Transporte As vias de comunicação e os transportes desempenham um papel fundamental na distribuição da população, pois exercem um forte poder de atracão sobre as actividades económicas e sobre as populações. Por exemplo, as vias de caminho-de-ferro, enquanto eixos pesados de transporte, têm representado importantes linhas orientadoras do crescimento urbano e áreas de elevada concentração populacional, para além de estarem associadas à localização de actividade industrial. O litoral, os grandes lagos e, como já sabe, os rios navegáveis, são áreas onde as densidades populacionais são muito elevadas, pois constituem, entre outras razões, boa vias de comunicação (IEDA, s/d.). 1.4.2.2.Localização das Bacias Industriais A indústria, desde os finais do século XVIII, e o sector terciário são as actividades que mais tem contribuído para a concentração da população e para a formação de grandes aglomerações urbanas. Numa primeira fase, a concentração populacional processou-se ao longo das bacias industriais e minerais para rapidamente, numa segunda fase, se expandir por regiões igualmente atractivas para as actividades económicas (IEDA, s/d.). Facilitadas pelo desenvolvimento do caminho-de-ferro, pelo barco a vapor, e mais tarde pelo automóvel e pelo avião, as industrias e as actividades terciárias provocaram migrações maciças da população sem precedentes, a mistura de povos e a intensificação da ocupação do espaço. As actividades económicas, em geral, beneficiaram do alargamento dos horizontes de localização proporcionados, nomeadamente, pela expansão espacial das infra estruturas de transporte e pelo desenvolvimento das telecomunicações, o que lhes permitiu melhorar a mobilidade e continuarem a contribuir para concentração populacional de novas áreas economicamente atractivas (idem). 1.4.2.3.Os Locais de Origem das Antigas Civilizações As condições físicas dos grandes focos populacionais são geralmente favoráveis, tanto pelo clima como pelo relevo. Contudo, as concentrações populacionais são antes de mais o produto de uma longa e complexa permanência do Homem nesses locais, que remonta aos primeiros tempos de sedentarização. Embora a presença de antigas civilizações não seja um factor suficiente para explicar as densidades de alguns focos populacionais, a sua importância revela-se fundamental em algumas áreas do globo. Por exemplo no ano 200 d.c., estima-se que os focos chineses e indiano abrigassem já metade da população mundial. No Norte de África, ao longo do vale do rio Nilo e no Médio Oriente na antiga região de Mesopotâmia, as áreas que primeiro foram habitadas são hoje de maior concentração populacional (Rodrigues, 2018). A origem e o desenvolvimento das cidades ocorreu também nas regiões onde o povoamento é secular. Por isso, a maior densidade urbana verifica-se no coração da Europa. É lá tal como no Extremo Oriente, na Ásia do Sul e no Mediterrâneo Oriental que encontramos a maior parte das grandes cidades (ibid). 1.5.Problemas Demográficos actuais 1.5.1. Alimentação A alimentação é a primeira necessidade básica do Homem, sem a qual ele não poderia sobreviver. E apesar de todos os países procurarem satisfazer as necessidades básicas da sua população, em todos eles, existem pessoas que morrem de fome, assim como também existem pessoas que morrem por excesso alimentar no organismo. Há regiões em que as situações de carência são esporádicas e temporárias devido à ocorrência de catástrofes naturais (sismos, inundações, secas...) ou humanas (guerra, má gestão dos recursos alimentares). Noutras, pelo contrário, a situação tende a tornar-se crónica, como em certas regiões da África subsariana. Os países do Sahel (região a sul do Sahara), Moçambique, Zaire, a Somália e muitos outros da África subsariana apresentam níveis de alimentação que colocam a população no limite da sobrevivência (Francisco, 2011). 1.5.2. Higiene e Saúde Segundo Francisco (2011), Actualmente a saúde depende grandemente de quem somos. A duração de vida varia entre as nações ricas e pobres, entre as zonas geográficas tropicais e temperadas, e entre as populações urbanas e rurais. A satisfação das necessidades básicas da vida ainda não está ao alcance de todos. Nem sequer os benefícios da medicina preventiva ou cuidados médicos, mesmo nas chamadas nações avançadas. Os países desenvolvidos dispõem de maior número de hospitais e centros de saúde, que são também mais bem equipados e onde trabalham mais médicos e pessoal de saúde, pelo que a maior parte da sua população tem um acesso mais fácil e de maior qualidade aos cuidados médicos, consequentemente a esperança média de vida é decerca 70 a 80 anos de idade. Nos países em desenvolvimento, pelo contrário, o problema não reside apenas na escassez de recursos, é a existência de verdadeiras privações no acesso aos serviços de saúde, carências no acesso à água potável e saneamento básico que não permitem hábitos de higiene fundamentais, deficiências alimentares, dificuldade em difundir informações sobre prevenção e tratamento de doenças, assim como o facto de uma parte considerável destas populações ser desprovida de instrução (idem). 1.5.3. Educação A alfabetização e a escolarização são importantes para que a população não fique privada do conhecimento e da formação, essenciais para garantir um emprego estável e bem remunerado. Mas, a alfabetização de adultos está longe de ser generalizada. Nos países desenvolvidos só menos de 5% da população é analfabeta, e a taxa de escolaridade é superior a 85%. Nos países em desenvolvimento, nomeadamente na Àfrica Subsahariana e nos países Árabes, a taxa de alfabetização de adultos é de 45% e na Ásia do Sul é de 50% - 110 milhões de crianças não frequentam o ensino primário, metade das quais na Ásia do Sul. No total, aproximadamente 840 milhões de adultos são analfabetos, dos quais 570 milhões são mulheres (Cohen, 2006: 46). 1.5.4. Emprego Ter acesso a um meio de subsistência é uma componente vital do desenvolvimento humano. O trabalho garante, não só, o acesso à satisfação das necessidades mais básicas, como contribui para a realização pessoal e a integração social. Mesmo nas economias que têm crescido mais depressa, há dificuldades na criação de empregos suficientes. O problema de desemprego verifica-se quer nos países industrializados quer nos países em desenvolvimento, embora nestes últimos assuma proporções de calamidade, dada a debilidade da segurança social (Raimundo, 2013:24). Qualquer que seja a causa do desemprego, os seus custos sociais e económicos são elevados: danos psicológicos, instabilidade nas famílias, redução ou ausência de rendimentos, maiores encargos para a segurança social (idem). Conclusão O estudo da população revela-se de grande importância em todos os aspectos (políticos, económicos e sociais), porque permite para além do conhecimento das características demográficas, suas variações e dinâmicas, a possibilidade de estabelecimento de critérios e politicas mais acertadas de gestão demográfica e satisfação das necessidades públicas, sendo essa uma das principais razões do desenvolvimento dos censos demográficos pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE). A origem da população de Moçambique encontra-se na miscigenação entre os Khoisan e os povos bantus. Para além desses grupos primitivos, os contactos com a Ásia através do comércio da costa e mais tarde com os povos da Europa e outras partes do mundo resultantes das inovações das tecnologias de navegação e mais recentemente pela globalização as origens da população moçambicana diversificaram-se o que leva a concluir que a população Moçambicana é essencialmente heterogénea. Os estudos demográficos em Moçambique remontam ao período colonial e foram desenvolvidos nas principais áreas urbanas em 1940. Dados demográficos desse período mostram que a população era muita baixa, tendo sido as melhorias das condições sanitárias e os movimentos migratórios que ditaram o actual regime demográfico. Actualmente, Moçambique está a passar por uma transição demográfica, na qual, as taxas de mortalidade baixam e as taxas de natalidade continuam altas. Vários são os problemas demográficos do Moçambique contemporâneo, entre vários, podemos citar a saúde e higiene, a educação, habitação, emprego, segurança, transporte, etc. estes problemas resultam em parte pela falta de recursos devido a condição de um país em desenvolvimento, mas resulta ainda da falta de justiça social e consequente má distribuição da riqueza, agudizada pelos elevados índices de corrupção. Referencias Bibliográficas Instituto Nacional de Estatística. Moçambique: Inquérito Demográfico e de Saúde 2003. Maputo, INE, 2005. Rodrigues, C. U. (2019). «Migração, Movimento e urbanização em Angola e Moçambique». In: IESE (Ed.), Desafios para Moçambique 2018 Maputo: IESE, pp. 449-479. Raimundo, I. M. & Muanamoha, R. (2013). «A dinâmica migratória em Moçambique». In: Arnaldo, C. & Cau, B. (Eds.), Dinâmicas da População e Saúde em Moçambique . Maputo: CEPSA, p. 173. Disponível em: https://www.researchgate.net/ publication/318702836. Francisco, A. (2012). «“Moçambique e a explosão demográfica”: Somos muitos? Somos poucos?». In: Boletim IDeIAS. N.º 45. Maputo: IESE. Francisco, A. (2011). «A natureza incipiente da transição demográfica em Moçambique». In: Revista de Estudos Demográficos, 49(1), pp. 5-35. Cohen, B. (2006). «Urbanização nos paises em desenvolvimento: Current trends, future projections, and key challenges for sustainability». In: Technology in Society, 28(1-2), pp. 63-80. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.techsoc.2005.10.005
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