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APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 1 APG 22 – Ora saco vazio... 1) REVISAR A HEMATOPOESE → O processo que os elementos figurados do sangue se desenvolvem é chamado de hemopoese, eritropoese ou hematopoese. → Na vida intra-uterina, a hematopoese ocorre primeiramente no saco vitelino do embrião e, depois, no fígado, no baço, no timo e nos linfonodos do feto. → Nos últimos 3 meses de gravidez, a medula óssea vermelha torna-se o principal local da formação das células sanguíneas, e continua sendo a fonte delas depois do nascimento e ao longo da vida. ▪ A medula óssea vermelha é um tecido conjuntivo bastante vascularizado que está localizado nos espaços microscópicos entre as trabéculas do tecido ósseo esponjoso. ▪ É encontrada principalmente nos ossos do esqueleto axial, nos cíngulos dos MMSS e MMII e nas epífises proximais do úmero e do fêmur. ▪ Uma quantidade muito pouca (0,05-0,1%) das células da medula óssea vermelha são chamadas de células-tronco pluripotentes, que são derivadas do mesênquima. Essas células são capazes de se diferenciar em várias células. ▪ Nos RN, toda a medula óssea é vermelha, com o envelhecimento do indivíduo, a velocidade de formação de células sanguíneas diminui, e a medula óssea vermelha é substituída pela amarela, formada principalmente por células gordurosas. → Afim de formar as células sanguíneas, as células-tronco pluripotentes produzem mais dois tipos de células-tronco: mieloides e linfoides. ▪ As células-tronco mieloides começam o seu desenvolvimento na medula óssea vermelha e dão origem a hemácias, plaquetas, monócitos, neutrófilos, eosinófilos, basófilos e mastócitos. ▪ As células-tronco linfoides, que dão origem aos linfócitos, começam o seu desenvolvimento na medula óssea vermelha, porém o completam nos tecidos linfáticos e também originam as células natural killer (NK). → Durante a hematopoese, algumas das células-tronco mieloides se diferenciam em células progenitoras, em que elas não são mais capazes de se reproduzir e estão comprometidas a dar origem a elementos mais específicos do sangue. Dessa forma, algumas células progenitoras são conhecidas como unidades formadoras de colônia (UFC). ▪ Depois da designação UFC vem a abreviação que indica os elementos maduros no sangue que vão produzir: UFCE produz eritrócitos (hemácias), UFCMeg produz megacariócitos, a fonte das plaquetas, e UFCGM produz granulócitos (sobretudo neutrófilos) e monócitos. → Na geração seguinte, as células são chamadas de células precursoras, também conhecidas como blastos. Depois de várias divisões, elas se desenvolvem nos elementos figurados do sangue propriamente dito. ▪ ERITROPOESE: consiste na produção de hemácias, começa na medula óssea vermelha com uma célula precursora chamada PROERITROBLASTO, que se divide várias vezes produzindo células que começam a sintetizar hemoglobina. Por fim, perto do final da sequência de desenvolvimento o núcleo é ejetado e se torna um RETICULÓCITO, que retém algumas mitocôndrias, ribossomos e retículos endoplasmático. Os reticulócitos se tornam hemácias maduras no período de 1 a 2 dias depois da sua liberação da medula óssea vermelha. → Vários hormônios chamados de fatores de crescimento hematopoiéticos regulam a diferenciação e a proliferação de células progenitoras específicas: ▪ ERITROPOETINA (EPO): Aumenta o número de células precursoras de hemácias. É produzida principalmente APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 2 por células que se encontram entre os túbulos renais (células intersticiais peritubulares). Em caso de insuficiência renal, a liberação de EPO fica mais lenta e a produção de hemácias inadequada, o que leva à diminuição do hematócrito e da capacidade de levar oxigênio aos tecidos corporais. ▪ TROMBOPOETINA (TPO): É um hormônio produzido pelo fígado que estimula a formação de plaquetas a partir dos megacariócitos. ▪ CITOCINAS: Estimulam a proliferação de células progenitoras na medula óssea vermelha e regulam as atividades de células envolvidas nas defesas inespecíficas (fagócitos) e respostas imunes (células B e T). ▪ FATORES ESTIMULANTES DE COLÔNIA (FEC) E AS INTERLEUCINAS (IL): São importantes famílias de citocinas que estimulam a formação de leucócitos. ➢ HEMÁCIAS → As hemácias ou eritrócitos contêm a proteína carreadora de oxigênio HEMOGLOBINA, que consiste em um pigmento que confere ao sangue sua cor vermelha. → As hemácias são muito especializadas na sua função de transportar oxigênio, visto que hemácias maduras não possuem núcleo, todo seu espaço interno fica disponível para o transporte de oxigênio. → Elas não possuem mitocôndrias e geram ATP de forma anaeróbica (sem oxigênio), então, elas não utilizam o oxigênio que transportam. → Até mesmo o formato bicôncavo da hemácia facilita sua função, pois possui uma área de superfície muito maior para a difusão de moléculas de gás para dentro e para fora da hemácia do que uma esfera ou um cubo. → Uma molécula de hemoglobina consiste em uma proteína chamada GLOBINA, composta por 4 cadeias polipeptídicas (duas cadeias alfa e duas beta), e um pigmento não proteico anular chamado HEME, que está ligado a cada uma das 4 cadeias, e no centro de cada anel heme, encontra-se Fe²+, que pode se combinar com oxigênio. → As hemácias vivem aproximadamente 120 dias devido ao desgaste que suas membranas plasmáticas sofrem ao atravessar os capilares sanguíneos. As hemácias rompidas são removidas da circulação e destruídas por macrófagos fagocíticos presentes no baço e no fígado e os produtos da sua degradação são reciclados e usados em vários processos metabólicos, inclusive formação de novas hemácias. 2) ENTENDER FISIOPATOLOGIA, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DAS ANEMIAS CARENCIAIS E HEMOLÍTICAS → O termo anemia significa redução da taxa de hemoglobina abaixo de um valor entre 13-15 g/dl. Esse valor médio varia com o sexo, podendo ser menor na mulher, especialmente na gestante. → As anemias são causadas por vários fatores e são classificadas segundo 2 critérios: ✓ MORFOLÓGICO: não dá ideia da causa da anemia, mas sim do aspecto morfológico dos eritrócitos presentes na circulação. ▪ Macrocíticas: caracterizadas pela presença de hemácias de grande volume e geralmente hipercrômicas (coloração maior que o normal). Como exemplo, podem ser as anemias megaloblásticas (deficiência de B12 ou ácido fólico). ▪ Microcíticas: tem predomínio de hemácias de pequeno volume e pobres em hemoglobina ou hiporcrômicas. Como exemplo, tem-se as anemias ferroprivas. ▪ Normocíticas: são geralmente normocrômicas. Estão incluídas neste grupo as anemias hemolíticas e as aplasias medulares ou anemia aplástica. ✓ FISIOPATOLÓGICO ❖ ANEMIAS CARENCIAIS ➢ ANEMIA FERROPRIVA ❖ ETIOPATOGENIA → Incide preferencialmente nas mulheres em idade fértil e em crianças, sendo mais rara nos homens. → Na anemia ferropriva há um balanço negativo de ferro, ou seja, a ingestão deste elemento é menor do que a necessidade do organismo. APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 3 → O ferro é armazenado na forma de ferritina e de hemossiderina, nas mulheres a reserva de ferro é inferior à dos homens, por isso a maior incidência no sexo feminino. → Quando as hemácias entram em processo de senescência (chegam ao final de sobrevida) e são degradadas, o ferro é liberado e reutilizado na produção de novas hemácias. Não obstante a eficiência desse processo, pequenas quantidades de ferro são perdidas nas fezes e precisam ser repostaspor meio da dieta. → O processo de crescimento de uma criança impõe exigências adicionais sobre o organismo, sendo assim, o volume de sangue aumenta, elevando as necessidades de ferro. As necessidades de ferro são proporcionalmente mais altas na primeira infância (3 a 24 meses) do que em qualquer outra idade, embora também sejam maiores por toda a infância e adolescência. → Na infância, as duas principais causas de anemia ferropriva são baixos níveis de ferro ao nascimento devido a uma deficiência materna e uma dieta que consiste principalmente em leite, que é pobre em ferro absorvível. → A maior parte do ferro é derivada da carne e, quando não existe disponibilidade desse alimento, como no caso de populações menos favorecidas, ou por não ser um componente alimentar, como para os vegetarianos, pode ocorrer uma deficiência de ferro. → A deficiência se dá por mecanismo diversos: ✓ Aumento da necessidade; ✓ Perda crônica de sangue: ▪ Perdas menstruais: mioma, fibroma uterino. Além disso, nas gestantes, o desenvolvimento fetal aumenta a demanda por ferro para eritropoese. ▪ Perdas digestivas: úlceras, câncer gastrointestinal, varizes esofágicas, parasitas (ancilostomíase), hemorróidas, divertículos; ▪ Perdas cutâneas: doenças descamativas de evolução crônica levam à perda de ferro pela pele; ✓ Má absorção do ferro da dieta: gastrectomia, esteatorréia, trânsito intestinal rápido. ✓ Dieta deficiente de ferro; ✓ Outro mecanismo etiopatogênico da anemia ferropriva é a presença da bactéria Helicobacter pylori na mucosa gástrica, uma vez que ela necessita do ferro para crescer, portanto, ela concorre com o organismo. ❖ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS → Os primeiros sintomas da ferropenia estão relacionados com a falta de oxigenação normal dos tecidos, especialmente cérebro e coração. → Para compensar o déficit de oxigênio tecidual, o coração passa a trabalhar em ritmo mais acelerado, sobrevindo taquicardia. → Além disso, dispneia, palidez cutaneomucosa, tonturas, anorexia e de alterações tróficas da pele e anexos podem ocorrer dependendo da gravidade do quadro. → Outras manifestações clínicas podem incluir a alotriofagia (Síndrome de Pica = ingerir substâncias sem valor nutricional como terra, argila, gelo, papel), coiloníquia (deformidade em formato de colher das unhas dos dedos das mãos), língua lisa, feridas nos cantos da boca e disfagia intensa (Síndrome de Plummer-Vinson). ❖ DIAGNÓSTICO → O diagnóstico é fundamentado no estudo da série vermelha do sangue. → Caracteriza-se pela diminuição da taxa de hemoglobina e do hematócrito, podendo o número dos eritrócitos estar normal, pouco ou muito diminuído. → A dosagem de ferro sérico é sempre baixa. A transferrina (proteína plasmática transportadora de ferro) saturada de ferro é baixa e a ferritina (reserva de ferro) também estará diminuída. → Existe uma quantidade menor de hemácias, ocorre poiquilocitose (formato irregular) e anisocitose (tamanho irregular), e estas são microcíticas e hipocrômicas. → Os testes laboratoriais indicam menores valores de CHCM (hemoglobina/hematócrito) e VCM<80 (Volume Corpuscular Médio = um índice hematimétrico presente no hemograma e indica o tamanho médio das hemácias, as células vermelhas do sangue). → A reação de Perls mostra redução ou ausência de grãos de hemossiderina no material de medula óssea aspirada. APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 4 ❖ TRATAMENTO → O tratamento baseia-se em: ✓ Eliminar possíveis causas que sejam responsáveis pelo roubo de ferro no paciente já citadas anteriormente; ✓ Uso de sais de ferro, de preferência por via oral. ▪ Recomenda-se os seguintes sais ferrosos: sulfato (mais utilizado = 120 a 180 mg de ferro elementa/dia), gluconato, succinato ou fumarato, que repõe as reservas de ferro. ▪ O tratamento visa normalizar a concentração da hemoglobina e a reposição de estoques de ferro. Pode durar até 6 meses a depender da doença de base. ➢ ANEMIA MEGALOBLÁSTICA → As anemias megaloblásticas são causadas pelo comprometimento na síntese de DNA, que resulta em hemácias aumentadas de tamanho (VCM > 100 fℓ), devido à maturação e divisão deficientes (macrocíticas). → A deficiência de vitamina B12 e ácido fólico (folato) são as condições mais comumente associadas a casos de anemia megaloblástica. ✓ DEFICIÊNCIA DE B12 → Esta vitamina, também conhecida como cobalamina, funciona como cofator para duas reações importantes no organismo de seres humanos. → É essencial para a síntese do DNA e para a maturação nuclear, que conduz à maturação e divisão normal das hemácias. → Cerca de 5-20% dos adultos mais velhos apresentam deficiência de B12 devido a má absorção. → Quando a quantidade de vitamina B12 não é suficiente, as hemácias produzidas são anormalmente grandes devido ao EXCESSO DE CRESCIMENTO CITOPLASMÁTICO E PRODUÇÃO DE PROTEÍNAS ESTRUTURAIS. → Os fatores de risco incluem: ▪ Uso prolongado de fármacos como inibidores da bomba de prótons (omeprazol, pantoprazol, rebeprazol); ▪ Doenças gastrointestinais; ▪ Cirurgias como gastrectomia ou by-pass gástrico; ▪ Parasitoses. ❖ ETIOPATOGENIA → A vitamina B12 é encontrada em todos os alimentos de origem animal, sendo assim, a deficiência alimentar é rara e geralmente é encontrada apenas em vegetarianos estritos, que evitam todos os produtos lácteos, carne e peixe. → A deficiência de vitamina B12 se desenvolve lentamente, já que as reservas orgânicas suprem as necessidades diárias por de 1mg por vários anos. → Absorção da B12: Depois de liberada da proteína animal, a vitamina se liga a um fator intrínseco, uma proteína secretada pelas células parietais gástricas. ▪ O complexo fator intrínseco–vitamina B12 protege a molécula de vitamina contra a digestão por enzimas intestinais. ▪ O complexo viaja até o íleo, onde se liga a receptores de membrana nas células epiteliais. A vitamina B12 então se separa do fator intrínseco e é transportada através da membrana para a circulação. ▪ Na corrente sanguínea, ela se liga à proteína transportadora, a transcobalamina II, que transporta a vitamina B12 até os locais de armazenamento e os tecidos. Qualquer defeito nessa via é capaz de causar uma deficiência. → A anemia perniciosa é uma forma específica de anemia megaloblástica causada por gastrite atrófica e incapacidade de produção de fator intrínseco, e obviamente absorção de B12. Acredita-se que ela seja resultado de uma destruição da mucosa gástricas mediada imunologicamente (autoimune). ❖ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS → A perda de hemácias resulta em um quadro entre moderado e grave de anemia (cansaço, palidez acentuada, língua lisa) e icterícia. → As alterações neurológicas que acompanham a doença são causadas por desarranjos na metilação da proteína mielina, sendo assim, causa parestesia simétrica dos pés e dedos, perda da sensação vibratória e de propriocepção, bem como eventual ataxia espástica. APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 5 → E em casos mais avançados, a função cerebral pode ser alterada (confusão mental, demência, etc). ❖ DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO → O diagnóstico de deficiência de vitamina B12 é estabelecido quando se verifica um nível sérico anormalmente baixo de vitamina B12. → Observa-se, ao exame de sangue, presença de oligocitemia (diminuição de glóbulos vermelhos), baixa da hemoglobina e macrocitose. → O VCM é elevado, uma vez que as células são maiores do que o normal, e o valor de CHCM é normal. → O diagnóstico de anemia perniciosa, como causa da deficiência, é geralmente feito pela detecção de anticorpos contraas células parietais e contra o fator intrínseco. → O tratamento baseia-se em uso de injeções intramusculares de vitamina B12 sob forma de cianocobalamina ou de hidroxicobalamina, sprays nasais ou doses orais altas para reverter a anemia e melhorar as alterações neurológicas. ✓ DEFICIÊNCIA DE FOLATO → O ácido fólico também é necessário para a síntese de DNA e a maturação das hemácias, sua deficiência produz o mesmo tipo de alterações megalobláticas ocorridas na anemia por falta de B12, esse tipo é mais frequente do que a por deficiência de B12. → Ocorre também em situações de má-absorção, dieta deficiente ou aumento da demanda de folatos na alimentação. ❖ ETIOPATOGENIA → O ácido fólico é encontrado em vegetais (folhas verdes), frutas e carnes em quantidades suficientes para manter a eritropoese normal durante alguns meses, mesmo que a ingestão seja deficiente nesse período, uma vez que existe um deposito de ácido fólico no fígado. → Os folatos são absorvidos na parte proximal do intestino delgado (jejuno), que contém células de mucosa rica em enzimas que transformam poliglutamatos em monoglutamatos que são reduzidos e a seguir metilados, de forma que no plasma aparece o metiltetraidrofolato-monoglutamato (CH3H4PteGlu1). → Esse composto é armazenado no fígado, mas a maior parte vai para os tecidos. O folato armazenado pode ser cedido ao intestino pela via biliar, o que mantém o nível de folato nesse ponto (ciclo êntero-hepático). → O álcool etílico suprime a absorção de ácido fólico e compromete a recirculação êntero-hepática, portanto, etilistas crônicos correm maior risco para desenvolver essa anemia. → A deficiência de folatos é frequentemente também naquelas condições em que o indivíduo os consome em excesso, entrando num balanço negativo destes. Isso ocorre na gestação e em anemias hemolíticas, nas quais há aumento de proliferação (reacional) da séria eritroblástica. → A gestação aumenta a necessidade de ácido fólico em 5 a 10x. Existe uma associação entre a deficiência de ácido fólico e defeitos do tubo neural, como espinha bífida, anencefalia, no feto em crescimento. → O quadro clínico costuma ser semelhante ao da anemia perniciosa, mas quase nunca há sintomatologia neurológica. ❖ DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO → O diagnóstico baseia-se na dosagem da B12 e do ácido fólico no sangue. → A anemia é de tipo macrocítico, encontrando-se megaloblastos em esfregaços de medula óssea e megalócitos no sangue periférico. → O tratamento consiste na administração de ácido fólico por via oral, na dose de 1 mg/dia, durante algumas semanas, com acompanhamento de exames. → Todas as mulheres em idade fértil com parceiros sexuais do sexo masculino são aconselhadas a ingerir 0,4 mg de ácido fólico para manter níveis séricos adequados para evitar defeitos do tubo neural na sua progênie. ❖ ANEMIAS HEMOLÍTICAS → A anemia hemolítica caracteriza-se por: ✓ Destruição prematura das hemácias; ✓ Retenção orgânica de ferro e outros produtos da degradação da hemoglobina; ✓ Aumento na eritropoiese. → Quase todos os tipos de anemia hemolítica se distinguem pela existência de hemácias normocíticas e normocrômicas. Devido à redução de vida útil da hemácia, a medula óssea geralmente se torna hiperativa, resultando no aumento do número de reticulócitos na circulação sanguínea. → A degradação das hemácias pode ocorrer dentro ou fora do compartimento vascular. → A hemólise intravascular é menos comum e ocorre como resultado da fixação do complemento em reações APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 6 transfusionais, dano mecânico ou fatores tóxicos. É caracterizada por hemoglobinemia, hemoglobinúria, icterícia e hemossiderinúria. → A hemólise extravascular ocorre quando as hemácias perdem parte da capacidade de deformação, o que dificulta sua passagem através dos sinusoides do baço. As manifestações incluem anemia e icterícia. → Outra classificação de anemia hemolítica se baseia na causa: ✓ Intrínseca: incluem defeitos da membrana das hemácias, diversas hemoglobinopatias e deficiência enzimática hereditária. Dois tipos principais de hemoglobinopatias podem causar a lise das hemácias: ▪ Substituição anormal de um aminoácido na molécula de hemoglobina (anemia falciforme); ▪ Falhas na síntese de uma das cadeias polipeptídicas que formam a porção globina da molécula de hemoglobina (talassemia). ✓ Extrínseca ou adquirida: são causadas por agentes externos às hemácias, como medicamentos, toxinas bacterianas e outras, anticorpos e traumatismo físico. Todos esses fatores podem causar a destruição prematura e acelerada de hemácias, e não devem ser tratados da mesma maneira. → Grupo de anemias hemolíticas hereditárias: esferocitose hereditária, anemia falciforme e talassemia. ➢ ESFEROCITOSE HEREDITÁRIA → É transmitida principalmente de forma autossômica dominantes, mas em alguns casos, a doença tem caráter recessivo, e é a doença hereditária mais comum na membrana das hemácias. ❖ ETIOPATOGENIA → O defeito básico dos eritrócitos está na estrutura anormal da membrana eritrocitária. → A doença é causada por mutações que ocorrem nos genes das proteínas de membrana espectrina, anquirina, proteína 4.2 ou banda 3, que conduzem a uma perda gradual da superfície da membrana. → A perda relativa de membrana em relação ao citoplasma faz com que a célula perca sua bicama lipídica do citoesqueleto. As hemácias assumem uma forma esférica e não conseguem atravessar facilmente o baço, daí o aspecto característico de cordões ingurgitados de sangue e sinusóides vazios observados em cortes de baços de portadores de esferocitose congênita. ❖ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO → Pode apresentar em qualquer idade, desde os primeiros meses de vida à velhice. A icterícia será acentuada se houver Síndrome de Gilbert juntamente com a anemia. → A esplenomegalia ocorre na maioria dos pacientes, e também cálculos biliares de bilirrubina. → Essa anemia deve ser diferenciada de outras formas de anemia hemolítica constitucional e dos vários tipos de anemias hemolíticas adquiridas. A história clínica dos pacientes é importante para que se possa conduzir o raciocínio clinico. ❖ TRATAMENTO → Como o baço é o local de destruição dos esferócitos, a esplenectomia é a medida terapêutica de escolha. → É recomendada para adolescentes e adultos, procurando evitá-la ou adiá-la o máximo possível nas crianças < 5 anos. A remoção do boço implica a retirada de um órgão linfóide importante, que funciona como filtro para agentes patogênicos, como bactérias capsuladas (pneumococos). ➢ ANEMIA FALCIFORME → A anemia falciforme é uma doença hereditária em que ocorre a produção de hemoglobina anormal (hemoglobina S = HbS) que conduz a um estado crônico de anemia hemolítica, dor e falência de órgãos. → O gene HbS é transmitido por herança recessiva e pode se manifestar como traço de células falciformes (heterozigoto com um gene HbS) ou anemia falciforme (com dois genes homozigotos HbS). ❖ ETIOPATOGENIA → A estrutura anormal de HbS resulta de uma mutação pontual na cadeia β da Hb, com substituição anormal de um único aminoácido, a valina, pelo ácido glutâmico. → No indivíduo homozigoto com anemia falciforme, a HbS causa afoiçamento quando desoxigenada ou em baixa tensão de oxigênio. → A Hb desoxigenada vai formar agregados que sofrem polimerização no citoplasma e formam um gel semissólido, que altera a forma e capacidade de deformação APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 7 da célula, que pode retornar à sua forma normal pela oxigenação dos pulmões. → No entanto,depois de repetidas desoxigenações, as células tornam-se permanentemente falciformes. → O indivíduo com traço falciforme, ou seja, que tem menos HbS, apresenta pouca tendência de desenvolver células falciformes e é praticamente assintomática. → As hemácias em foice são mais rígidas e tendem a ficar estagnadas em órgãos em que a circulação é lenta, podendo causar duas grandes consequências: ✓ Anemia hemolítica crônica: a destruição prematura das células devido à membrana rígida e indeformável ocorre no baço, causando hemólise e anemia pela diminuição do número de hemácias. ✓ Oclusão dos vasos sanguíneos: é um processo complexo que envolve uma interação entre células falciformes, células endoteliais, leucócitos, plaquetas e outras proteínas do plasma. → Os fatores associados ao processo de afoiçamento e oclusão vascular (trombose) incluem frio, estresse, esforço físico, infecção e condições que provoquem hipoxia, desidratação (aumenta a concentração de Hb e contribui para a polimerização) ou acidose (reduz a afinidade da Hb pelo O2, resultando em maior quantidade de Hb desoxigenada). ❖ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS → Pacientes homozigotos para o gene HbS sofrem de: ✓ Anemia hemolítica grave; ✓ Hiperbilirrubinemia crônica: proveniente da degradação dos produtos da Hb muitas vezes leva a icterícia e à produção de cálculos de pigmentos na vesícula biliar. ✓ Crises vasoclusivas: é responsável pela maioria das complicações graves. Um episodio de dor aguda resulta de uma oclusao vascular e da hipoxia e pode ocorrer subitamente em quase qualquer parte do organismo. ▪ Normalmente, a obstrução por células falciformes acontece no abdômen, tórax, ossos e articulações, sendo que muitas áreas podem ser afetadas simultaneamente. ▪ Pode ocorrer infartos causados pela lentidão do fluxo sanguíneos, que tem como consequência lesões crônicas do fígado, baço, rins, coração, retina e outros órgãos. ▪ A síndrome torácica aguda é caracterizada por dor torácica súbita, febre, tosse, taquipneia, folego curto e dores generalizadas. Esta síndrome está ligada à infecção por bactérias e à embolia pulmonar, principalmente, e pode levar ao óbito. ▪ Ataque isquêmico transitório (AIT) ou hemorragia cerebral pode preceder um acidente vascular ou encefálico (AVE) e aproximadamente 25% das pessoas com doença falciforme desenvolvem complicações neurológicas. → Além disso, tem-se: úlceras nas pernas, crises de hemólise aguda (anemia e icterícia), crise de insuficiência renal, insuficiência gonodal e hipodesenvolvimento dos caracteres sexuais secundários. → A HbF (Hb fetal = predomina no nascimento, e seus níveis decaem até os 6 primeiros meses vida) inibe a polimerização da HbS, evitando a falcização dos eritrócitos, as crises dolorosas, a anemia hemolítica e melhorando a clínica do paciente. ❖ DIAGNÓSTICO → O diagnóstico laboratorial baseia-se nos achados do hemograma, que mostra a presença de anemia de tipo hemolítico, na prova de falcização dos eritrócitos e na eletroforese de Hb, que revela a variante HbS. O diagnóstico precoce é feito na triagem neonatal com a realização do Teste do Pezinho, como é conhecido o exame eletroforese de hemoglobina. Ele é gratuito e obrigatório por lei que seja feito em todas as instituições de saúde do Brasil. → O hemograma pode revelar aumento de leucócitos e de plaquetas, dependendo da presença de infecção. APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 8 ❖ TRATAMENTO → Atualmente, não existe cura conhecida para a anemia falciforme, portanto, as estratégias de tratamento devem se concentrar na prevenção de episódios de afoiçamento, manejo de sintomas e tratamento das complicações. → Ou seja, o tratamento rotineiro e básico das síndromes falciformes tem sido puramente de suporte, e baseia-se na hidratação, no combate a dor e na oxigenoterapia. → Obviamente, o paciente é aconselhado a evitar situações que precipitam episódios de afoiçamento das hemácias, como infecções, exposição ao frio, esforço físico intenso, acidose e desidratação, já citado anteriormente. → As infecções devem ser tratadas de maneira agressiva e podem ser necessárias transfusões de sangue em um episódio de crise ou cronicamente realizadas em casos graves da doença. → Para as crianças, recomenda-se manter em dia o calendário de vacinação, incluindo vacina contra H. influenzae e contra hepatite B, uma vez que durante os 3 primeiros de vida elas correm maior risco para o desenvolvimento de septicemia. → A hidroxiureia é um fármaco citotóxico utilizado para evitar complicações da anemia falciforme e é recomendado como tratamento padrão para todos os portadores dessa condição. Ele viabiliza a síntese de uma quantidade maior de HbF e menor de HbS, reduzindo o afoiçamento, melhorando o quadro clínico. Porém, é desconhecido os efeitos a longo prazo do medicamento. ➢ TALASSEMIAS → São um grupo de distúrbios hereditários que envolvem a síntese de Hb e conduzem a uma redução na síntese das cadeias α ou β-globina da HbA. → As β-talassemias são causadas por deficiência na síntese da cadeia β e as α-talassemias por síntese deficiente da cadeia α. → O defeito é herdado como um traço mendeliano. O paciente pode ser: ✓ Heterozigoto para o traço: apresenta uma forma leve da doença ✓ Homozigoto: apresenta a forma mais grave. → Há dois fatores que contribuem para a anemia que se desenvolve nos casos de talassemia: baixa Hb intracelular (hipocromia) devido à diminuição da síntese da cadeia afetada (anemia hipocrômica e microcítica), juntamente com a produção e acumulação contínua da cadeia de globina não afetada, interfete na maturação de hemácias normais e contribui com as alterações de membrana que conduzem a hemólise e anemia. ✓ β-TALASSEMIAS → Esse tipo é o resultado de várias mutações pontuais no gene daβ-globina, e como já discutido, causa um defeito na síntese da cadeia β. → O excesso de cadeias αsofre desnaturação, formando precipitados (corpúsculos de Heinz) nos precursores de hemácias na medula óssea. → Esses corpúsculos prejudicam a síntese de DNA e provocam danos à membrana das hemácias. → Assim, quando afeta os precursores das hemácias eles são destruídos na medula óssea, e os que escapam da destruição medular estão em maior risco de destruição no baço. → As manifestações clínicas são baseadas na gravidade da anemia, como dito anteriormente, baseado no gene heterozigoto (leve) ou homozigoto (anemia grave, dependente de transfusão de sangue e que se torna evidente entre 6 e 9 meses de idade, quando troca de HbF para HbA). ▪ Nos casos graves, o quadro anêmico acentuado produzido por hematopoiese ineficaz e hemólise conduz a um aumento na secreção de eritropoetina e hiperplasia da medula óssea e de sítios extramedulares de hematopoiese. ▪ Com isso, a massa crescente de medula eritropoética invade o córtex ósseo prejudicando o crescimento ósseo e produzindo outras anormalidades ósseas. • Adelgaçamento do córtex ósseo, com formação de osso novo no maxilar e ossos frontais da face; • Os ossos longos costelas e vertebras tornam-se vulneráveis a fraturas por conta da osteoporose ou osteopenia; • Esplenomegalia e hepatomegalia provêm de hematopoiese extramedular e aumento da destruição de hemácias. APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 9 → A sobrecarga de ferro é uma das principais complicações, já que se acumulam pelo aumento da absorção dietética e por transfusões repetidas. Se depositam no miocárdio, fígado e órgãos endócrinos, induzindo lesões nos mesmos. → Se a transfusão de sangue não for iniciadano começo da vida, ocasiona um grave retardo de crescimento em crianças com a doença. → O transplante de células-tronco potencialmente representa a cura para indivíduos de baixo risco, em particular em pessoas mais jovens e sem complicações resultantes da doença ou do tratamento, e tem mostrado excelentes resultados. ✓ α-TALASSEMIAS → A causa é a deleção do gene que resulta em defeitos na síntese da cadeia α, que é controlada por 2 pares ou 4 genes. → A α-talassemia mostra grande variação na gravidade dos casos, que está relacionada com o numero de deleções de genes. Portadores silenciosos ✓ Deleção de 1 único gene de α-globina: são assintomáticos ✓ Com supressão de 2 genes: têm o traço para α-talassemia e apresentam quadros leves de anemia hemolítica. ✓ Deleção de 3 dos 4 genes da cadeia α: leva à formação de agregados instáveis de cadeia α, chamados hemoglobina H (HbH), sendo a forma clínica mais importante. ▪ As cadeias β são mais solúveis que as cadeias α , portanto, sua acumulação é menos tóxica para as hemácias. ▪ A maioria das pessoas com HbH apresenta anemia hemolítica crônica moderada e pode necessitar de uma transfusão de sangue quando tem febre, enfermidade ou fazem uso de determinados fármacos. ✓ 4 genes de α-globina suprimidos: é a forma mais grave de αtalassemia, a condição é conhecida como síndrome de hidropisia fetal, que resulta em morte no útero ou logo após o nascimento. ▪ Esse tipo de defeito resulta na síntese de uma molécula de Hb Bart, que é formada exclusivamente a partir de cadeias de HbF. ▪ As moléculas de Hb Bart têm alta afinidade com o O2, mas não são capazes de liberar o gás nos tecidos. ❖ DIAGNÓSTICO → No hemograma, há anemia microcítica e hipocrômica. As hemácias têm formas e tamanhos muito variados (aniso e poiquilocitose). Podem ser encontrados os corpúsculos de Heinz. É típica a presença de hemácias em algo, de pontuação basófila e de corpúsculos de Howell-Jolly, além de certa porcentagem de eritroblastos circulantes. → Na eletroforese de Hb, ocorrem diminuição da HbA e aumento variável de HbA2 e HbF. Eventualmente, pode estar presente uma Hb estruturalmente anormal associada ao distúrbio talassêmico. → Mielograma: revela hiperplasia da série eritroblástica com hipoplasia relativa da série granulocítica. O parênquima medular é rico em células hemopoéticas, principalmente os precursores eritroblásticos, que mostram sinais de eritropoiese ineficiente, significando perda ou morte de grande numero de eritroblastos que permanecem na medula óssea, sem atingir a completa maturação. → Dosagens de ferro, bilirrubinas, haptoglobinas, ferritina e urobilinogênio fecal e urinário: revelam alterações características de anemia hemolítica. Há aumento da saturação da transferrina. A dosagem de ferro sérico e da ferritina colaboram no diagnóstico diferencial entre talassemia e anemia ferropênica. ❖ TRATAMENTO → As formas leves de talassemia não requerem tratamento, devendo-se evitar o uso de ferro para impedir o seu acúmulo no fígado, miocárdio, etc. Pacientes heterozigóticos devem procurar aconselhamento genético, importante para prevenir o nascimento de descendentes homozigóticos. → Nos casos de talassemia intermédia devem receber o menor número possível de transfusões para evitar a sobrecarga de ferro. No entanto, a supressão da hematopoese anormal por transfusão periódica de eritrócitos pode ser valiosa em pacientes gravemente afetados. → Nos casos de talassemia grave, transfusão sanguínea esplenectomia em caso de esplenomegalia, transplante de células-tronco alogênicas e luspatercepte (uma proteína de fusão recombinante injetável que inibe a sinalização da via beta do fator de crescimento transformador) para talassemia beta dependente de transfusão. REFERÊNCIAS • TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14ª edição). Grupo GEN, 2016. • NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. • Lorenzi TF. Manual de hematologia: propedêutica e clínica. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 710 p.
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