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AULA 4 ESTRATÉGIA DE OPERAÇÕES E FATORES COMPETITIVOS Profª Carla Gomes Beuter Diógenes 2 CONVERSA INICIAL Começamos a aula destacando a forte relação existente entre os sistemas de estoques e de logística e as operações produtivas. Na sequência, abordamos algumas vantagens da utilização de sistemas de informações na gestão das operações. Terminamos a aula explorando a interação que os processos orçamentários e de marketing tem com os sistemas produtivos e de operações. TEMA 1 – SISTEMAS DE ESTOQUES NAS OPERAÇÕES A gestão de estoque é alvo de contínua preocupação por parte dos administradores de operações. Mas não apenas deles. Também está sob o olhar atento dos gestores das áreas financeiras, que se preocupam com a quantidade de recursos que os estoques “empatam” e seus correspondentes custos. Da mesma forma, os gestores comerciais dedicam especial atenção à área comercial e trabalham para evitar os prejuízos de uma possível indisponibilidade de estoque para os clientes. Os estoques ainda são acompanhados pelos administradores fabris, que cuidam de evitar uma custosa ociosidade ou uma possível falta de matéria-prima (Corrêa; Corrêa, 2012). Podemos definir estoque como a acumulação dos recursos transformados de uma operação (Slack; Brandon-Jones; Johnston, 2018). Ou ainda como materiais ou suprimentos armazenados para uso ou venda futura. Estoque pode ser ainda o conjunto de produtos acabados ou bens e materiais que serão utilizados no processo produtivo (Paris; Guolo, 2015). Quase todas as operações mantêm algum tipo de estoque, seja no setor industrial, seja no varejista, agropecuário ou de serviços. Segundo Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018) e Caxito (2019), existem diversas razões para a manutenção de estoques, pelas organizações: • lidar com possíveis interrupções no fornecimento ou na demanda; • lidar com a impossibilidade de fabricar todos os produtos ao mesmo tempo; • permitir que diferentes estágios de produção operem em velocidades e programações diferentes; • lidar com atrasos de transporte na rede de fornecimento; • satisfazer os clientes, garantindo a disponibilidade de produtos ou serviços e aumentando a quantidade de produtos vendidos; 3 • equacionar demanda e capacidade de entrega, especialmente no caso de produtos sazonais, que exigem que a empresa os fabrique e estoque para vendas posteriores (por exemplo: ovos de Páscoa); • reduzir custos de aquisição e transporte: quanto maior a quantidade de compra de determinado material, maiores são os descontos obtidos; da mesma forma, quanto maior a quantidade de produtos transportada em um veículo, menor será o custo do frete – no entanto, é preciso conferir se o custo de manutenção do estoque ou de veículos não ficará muito elevado. 1.1 Desvantagens do estoque Apesar de tantas razões para a manutenção de estoques nas empresas, seu excesso pode ocasionar desvantagens, especialmente porque reserva um recurso que poderia ser usado de uma forma mais produtiva – o recurso fica “empatado”. Além disso, se o estoque não for utilizado rapidamente, aumentam os riscos de avarias, perdas, roubos, deteriorações e obsolescência. Outras desvantagens se refletem na utilização de um grande espaço físico ocupado pelo estoque, que precisa ser gerenciado, guardado em condições apropriadas e segurado. Todos esses aspectos incorrem em aumento de custos. 1.2 Quanto deve ser encomendado? Uma das decisões mais estratégicas relacionada a estoques e operações é a definição do volume de estoque que deve ser encomendado. De acordo com Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018), essa decisão depende do equilíbrio entre os custos associados à manutenção do estoque e os custos de emissão de pedidos. A abordagem mais conhecida para determinar a quantidade de estoque a ser pedida é a do lote econômico de compras (LEC). Segundo Caxito (2019), o LEC trata-se da quantidade ideal de material a ser adquirida em cada operação de reposição de estoque, em que os custos totais da aquisição e de estocagem sejam mínimos para o período. A equação que demonstra o LEC é dada por: 𝐿 = √(2𝑥𝑄𝑥𝐴)/𝑃 , onde: L é o LEC; Q, a quantidade; A é o custo de cada pedido (incluindo o transporte); e P, o custo unitário de estocagem. 4 1.3 Quando fazer um pedido? Outra importante decisão envolvendo os estoques e operações é a definição do melhor momento para fazer um pedido. Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018) comentam que, em parte, isso depende da incerteza da demanda. Geralmente, os pedidos são programados para deixar certo nível de estoque de segurança até que o próximo pedido seja entregue. Caxito (2019), por sua vez, afirma que o modelo do ponto de ressuprimento é um dos mais utilizados para o controle das mercadorias em estoque. Sua aplicação é dada pela seguinte equação: 𝑃𝑅 = 𝑑 𝑥 𝑇𝑅 + 𝐸𝑆, onde: PR é o ponto de ressuprimento; d, a taxa de demanda; TR é o tempo de ressuprimento (a partir do momento em que o pedido for feito, em quanto tempo a mercadoria estará na empresa, disponível para uso); ES, o estoque de segurança do item. Exemplo: o item X tem um consumo médio de 10 unidades e estoque de segurança de 20 unidades. O tempo de entrega do fornecedor é de 3 dias. Nessas condições, o ponto de ressuprimento será: PR = 10 x 3 + 20 = 50 unidades. 1.4 Como o estoque pode ser controlado? O controle dos estoques exige uma atenção especial. Isso porque diferentes itens em estoque exigem diferentes níveis de controle. Para Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018), a forma mais comum de fazer isso é utilizar o método de classificação ABC de estoque. Esse método utiliza o princípio de Pareto para distinguir entre as diferentes importâncias dos itens. Caxito (2019) explica que os itens mais importantes, com maior valor agregado, ficam classificados na classe A; os intermediários ficam na classe B; e os menos importantes, na classe C. Em geral, a classificação ABC demonstra que 20% dos itens são considerados A e correspondem a quase 50% do custo ou consumo anual. Os itens da classe B ficam entre 20% a 30% do total dos itens e também do custo anual. A classe C é responsável por 50% do total dos itens e 20% do valor do consumo anual. Após essa classificação, constata-se que poucos itens são responsáveis por grande parte do valor de uso total. Ou seja, eles devem ter controles de 5 estoques mais precisos e rigorosos. A gestão dos estoques também pode ser auxiliada por sistemas de informações computadorizados, mas que dependem da exatidão dos registros. Os sistemas facilitam a atualização dos registros de estoques e a geração de relatórios de pedidos, de posição de estoques e de previsão de demanda. TEMA 2 – SISTEMAS DE LOGÍSTICA NAS OPERAÇÕES A capacidade de qualquer processo ou operação produzir resultados depende dos insumos que ele(a) recebe. Assim, a boa gestão da logística de suprimentos é uma condição necessária para a eficácia da administração das operações. O impacto das atividades logísticas no gerenciamento das operações passa por cinco atividades: compra, recebimento, armazenamento, separação e expedição. Essas atividades impactam decisões sobre quanto comprar de matéria-prima, quanto produzir, onde e como armazenar, quando e como entregar os produtos (Salgado, 2017). 2.1 Compras O processo de compras parte do planejamento de necessidades de materiais conhecido como material requeriment planning (MRP) – ou planejamento das necessidades de materiais, em português. Salgado (2017) explica que o cálculo que o MRP utiliza é o seguinte: com base na previsão de vendas, o sistema verifica quanto há daquele determinado item em estoque e subtrai essa quantidade. Também diminui a quantidade de pedidos de compras pendentes com o fornecedor ou em processo de fabricação. Assim, o sistema sugere quanto comprar ouproduzir. Veja o exemplo: Previsão de vendas 1.000 Quantidade em estoques (-) 500 Quantidade em processo de fabricação (-) 200 Quantidade sugerida para produção ou compra 300 6 2.2 Recebimento Após a compra da quantidade necessária de itens para atender a previsão de vendas, inicia-se o processo de recebimento da mercadoria. Essa etapa exige alguns cuidados que podem afetar a produtividade e os custos: • conferência da quantidade recebida com relação ao pedido de compra; • conferência das datas de validade e temperatura (para os produtos que exigem medição de temperatura); • utilização de equipamentos adequados de descarga, para evitar avarias (Salgado, 2017). 2.3 Armazenagem A armazenagem, no sistema produtivo, contempla matérias-primas e componentes para abastecer a produção (almoxarifados) e produtos acabados para atender os clientes. Salgado (2017) comenta que, independentemente da finalidade, todos esses tipos de armazenamento envolvem: [...] a administração de um espaço físico, que necessita de organização, endereçamento para guardar os materiais, processos e procedimentos detalhando as atividades e responsabilidades, equipamentos adequados à movimentação e à armazenagem, pessoas treinadas e capacitadas, além de sistemas para atender aos pedidos enviados pelos clientes sejam internos (produção) ou externos (varejo, distribuidores). (Salgado, 2017, p. 70) Caxito (2019) ressalta que a armazenagem não acrescenta nada ao valor do produto, mas representa uma grande parte do seu custo. E, diante da necessidade de respostas rápidas e reposições contínuas, a armazenagem ganha importância nas empresas. Segundo o mesmo autor (Caxito, 2019), um local de armazenamento eficiente deve envolver: • um espaço físico organizado, evitando movimentações desnecessárias; • processos de trabalho bem definidos, documentados e divulgados; • endereçamentos práticos para armazenagem dos itens; • equipamentos de movimentação e armazenamento adequados; • tecnologia adequada e equipe qualificada. 7 Caxito (2019) ainda lembra que, algumas vezes, a armazenagem inclui, indiretamente, processos anexos aos ciclos produtivos, como o acondicionamento, a conservação e o recondicionamento dos produtos. 2.4 Separação de pedidos A separação de pedidos (ou picking) surge com a chegada dos pedidos de clientes ou da área de produção. Segundo Salgado (2017), alguns aspectos da separação de pedidos afetam a produtividade e os custos: • o tipo de operação determinará o que é mais indicado: a separação pedido a pedido ou por grupo; • alguns tipos de itens exigem uma área de picking separada (medicamentos, por exemplo); • é necessário que haja uma área de conferência para a expedição. 2.5 Expedição Na etapa da expedição acontece a conferência dos produtos separados. O profissional responsável por esse processo precisa garantir que os produtos relacionados nos pedidos e separados nos estoques estejam nas especificações e nas quantidades corretas, para então serem despachados. TEMA 3 – SISTEMAS DE INFORMAÇÃO NAS OPERAÇÕES A informação tornou-se um recurso fundamental para o bom desempenho de uma organização; por meio da informação é possível reagir aos problemas, antecipar ações, abater custos e aumentar a eficiência de uma empresa (Caxito, 2019). Nesse sentido, a utilização de sistemas aumenta a confiança, a troca de informações, a competitividade e o valor dos produtos oferecidos. O propósito dos sistemas de informação é tornar a empresa apta para alcançar seus objetivos pelo uso adequado dos recursos disponíveis, que incluem pessoas, equipamentos, tecnologia, além da própria informação. A aplicação de tecnologias de informação nos processos produtivos tem gerado um grande impacto, permitindo que as empresas aprimorem e atendam sua demanda com maior qualidade e assim reduzam seus custos. Dessa forma, as organizações ampliam seus resultados e conseguem um diferencial competitivo necessário no ambiente empresarial. 8 No entanto, o sucesso de um sistema de informação não se dá apenas por sua eficiência em termos de diminuição de custos, tempo e disponibilidade de recursos, mas também pelo apoio que ele dá às estratégias da empresa. Caxito (2019) destaca que um sistema tecnológico de informações sozinho jamais poderá organizar uma empresa sem que antes sejam revistos processos e métodos de trabalho. De acordo com Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018), a tecnologia de processamento das informações é o tipo mais comum de tecnologia nas operações. Ela abrange qualquer dispositivo que colete, manipule, estoque ou distribua informações. Nesse sentido, o uso da internet vem tendo um impacto cada vez maior nas operações. 3.1 Objetivo do sistema de informação Num ambiente empresarial altamente competitivo, a tomada de decisão deve ser cada vez mais precisa e, para isso, os gestores necessitam de informações exatas e atualizadas, para obterem sucesso nas operações. De acordo com Caxito (2019), o principal objetivo dos sistemas de informação é garantir a qualidade do fluxo de informações e agilizar as decisões, considerando entre os seguintes aspectos do que deve possibilitar um sistema de informação: • estabelecer um conjunto de informações estratégicas; • atribuir responsabilidades pelas informações; • identificar, otimizar e manter o fluxo de informações corporativas; • mecanizar os processos manuais; • organizar os fluxos de informações para darem apoio às decisões gerenciais. 3.2 Enterprise resource planning (ERP) Um dos tipos de sistemas de informação mais utilizados pelas grandes organizações é o enterprise resource planning (ERP). Segundo Slack, Brandon- Jones e Johnston (2018), o ERP integra todas as informações de diferentes funções necessárias para planejar e controlar as atividades de produção. Há uma integração de vários bancos de dados. Para Caxito (2019), o ERP se divide em diferentes módulos: 9 • Finanças: rastreia informações como receitas e custos, por diversas áreas da empresa. • Logística: se desdobra em submódulos como transporte e gerenciamento de estoques e depósitos. • Fabricação: rastreia o fluxo dos produtos pelo processo de fabricação, coordenando o que é feito, em que peça e em que momento. • Atendimento do pedido: monitora o ciclo de atendimento do pedido inteiro. • Recursos humanos: lida com todas as tarefas da força de trabalho. • Gerenciamento do fornecedor: monitora o desempenho do fornecedor e rastreia as entregas de seus produtos. 3.3 Benefícios do ERP A integração das informações em torno de um banco de dados comum permite que a organização opere com maior transparência. Os principais benefícios do ERP, segundo Caxito (2019), são que ele: • fornece uma visibilidade total do que está acontecendo em cada parte da empresa, em tempo real; • possibilita uma melhor comunicação com clientes, fornecedores e outros parceiros, com manejo de informações precisas, rápidas e transmitidas pela internet; • oferece maior disponibilidade de informações, o que contribui para a tomada de decisões mais acertadas, que aumentam os lucros na cadeia de suprimentos. 3.4 Desvantagens do ERP Mesmo tendo tantos pontos fortes, o sistema do tipo ERP pode apresentar algumas desvantagens, citadas por Caxito (2019): • capacidade analítica relativamente fraca, porque seu foco ocorre em nível operacional; • reputação de ser muito caro e de difícil implementação, pois os seus módulos precisam ser customizados para se adaptarem a diversos processos, de diferentes negócios. 10 3.5 Implementação do ERP Como os sistemas ERP são projetados para solucionar problemas de fragmentação da informação, normalmente a sua implementação é complexa. Há alguns fatores críticos de sucesso (FCS) e táticos que a organização deve considerar para que osistema ERP funcione de modo eficaz. Slack, Brandon- Jones e Johnston (2018) apresentam uma relação deles. Um sistema ERP: • necessita do compromisso e do apoio da alta administração da organização; • requer que a sua equipe de implementação esteja espalhada pela organização; • precisa de um bom plano de comunicação entre as várias funções e níveis da organização; • necessita de um bom planejamento e gestão do custo do projeto; • carece de disponibilidade de uma infraestrutura de tecnologia da informação (TI) adequada; • exige que a seleção do pacote ERP seja apropriada ao modelo de negócio; • requer a construção de um plano de treinamento; • precisa manter uma estrutura de gestão de solução de problemas e de crises, para lidar com situações imprevistas. Mesmo que a organização se esforce no atendimento a todos esses FCS, é provável que alguns problemas apareçam durante a implementação do ERP. Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018) citam alguns deles: • É provável que o custo total, o tempo e o esforço para implementá-lo sejam subestimados. • O controle do escopo do projeto será mais difícil que o esperado. • Nunca haverá treinamento suficiente para sua implementação. • As mudanças requeridas para os processos do negócio serão maiores que o esperado. Ainda assim, se levarmos em conta que obter a informação no momento exato atualmente é o fator de maior peso para o mercado, o ERP torna-se uma forte ferramenta para garantir a competitividade das empresas (Caxito, 2019). 11 TEMA 4 – INTEGRAÇÃO ORÇAMENTÁRIA NAS ESTRATÉGIAS DE OPERAÇÕES Não existem organizações indiferentes a seus custos. As empresas estão sempre em busca de soluções para diminuírem suas despesas. Além disso, quase todas as atividades de operações impactam o custo de produtos e serviços. A redução do custo é sempre um objetivo importante para a gestão de operações, mesmo quando a empresa não compete diretamente no fator do preço. Mas, se esse for o caso, a redução do custo será seu principal objetivo nas operações. Isso porque, quanto menor o custo de prestar e entregar produtos e serviços, menor pode ser o preço pago pelos clientes. Muitos gestores de operações costumam avaliar seu desempenho relacionando a eficiência dos processos aos custos que eles acarretam. Quanto menores os erros cometidos em cada processo de operação, menos tempo e recursos serão necessários para corrigi- los. Segundo Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018), a gestão das operações pode afetar o desempenho econômico de uma organização de algumas maneiras: • reduzindo o custo de produção de produtos e serviços; • influenciando a satisfação do cliente, mediante boa prestação do serviço; • diminuindo o risco de falha operacional; • aumentando a receita decorrente dos efeitos da qualidade, velocidade, confiabilidade e flexibilidade; • aumentando a eficácia do investimento nos recursos da produção; • fornecendo base para uma inovação futura. 4.1 Composição dos custos de operações Segundo Paris e Guolo (2015), os custos das operações costumam acompanhar a mesma estrutura dos custos da produção, ou seja, são aqueles aplicados na transformação de matéria-prima em produto ou serviço final. Os elementos que compõem os custos de fabricação são: • Custos do trabalho (CT): podem ser diretos (remuneração do pessoal diretamente ligado à transformação da matéria-prima em produtos acabados) e indiretos (remuneração do pessoal não diretamente ligado aos processos produtivos). 12 • Custos de materiais (CM): gasto com matéria-prima, materiais de manutenção, embalagens etc. • Custos indiretos (CI): só podem ser cobrados de uma unidade de custo, usando alguma base estimada, e não podem ser identificados especificamente com o produto final (aluguel e energia elétrica são exemplos de custos indiretos). Ou seja, o custo da produção será: 𝐶𝑃 = 𝐶𝑇 + 𝐶𝑀 + 𝐶𝐼. 4.2 A estratégia de operação afeta a receita Além dos custos, as operações podem ter um grande efeito sobre as receitas e a lucratividade da organização. Isso porque produtos e serviços de alta qualidade, sem falhas, entregues rápida e pontualmente, com flexibilidade para atender às necessidades dos clientes, provavelmente vendem mais do que outros que não possuem essas características. Além disso, mesmo melhorias consideradas relativamente pequenas em relação ao custo ou à receita podem ter um efeito proporcionalmente muito maior sobre o lucro. Por exemplo: consideremos uma empresa cuja receita anual fosse de R$ 1 milhão, a um custo anual de R$ 900 mil (obtendo um lucro de R$ 100 mil). Suponha que algumas melhorias nos processos produtivos resultaram num acréscimo de 5% na receita e numa redução de 5% no custo. A receita passa a ser de R$ 1.050.000 e os custos diminuem para R$ 855 mil. Ou seja, a organização passa a alcançar um lucro de R$ 195 mil. 4.3 A estratégia de operação afeta o nível de investimento necessário A forma como uma empresa gerencia os recursos necessários para produzir a quantidade exigida de seus produtos e serviços também tem um efeito estratégico. Por exemplo, uma boa estratégia pode ser considerada quando uma operação consegue aumentar sua eficiência, produzindo 10% mais itens, sem que, para isso, tenha que fazer novos investimentos. 4.4 A estratégia de operação afeta o risco de falha operacional Operações bem planejadas e gerenciadas tendem a cometer menos falhas. Isso porque elas ocorrem com uma taxa de falhas aceitável, sem impactar 13 significativamente seus clientes ou contrair custos em excesso. Caso passe por falhas, a operação bem gerida será capaz de se recuperar delas com mais rapidez e com menos interrupções da produção. Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018) chamam essa habilidade de resiliência. 4.5 A estratégia de operação afeta a possibilidade de inovações futuras Gerentes de operações aprendem constantemente com o dia a dia dos seus processos. Esse conhecimento acumulado se reverte em competências que permitem que a empresa inove no futuro. 4.6 Redução de custos mediante eficácia interna Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018) apresentam algumas estratégias para melhorar o desempenho em relação aos custos: • As operações de alta qualidade não desperdiçam tempo nem esforço para refazer as coisas; seus clientes internos não são prejudicados por um serviço falho. • As operações rápidas reduzem o nível de estoque em processo, além de diminuírem os custos administrativos. • As operações confiáveis não causam surpresas desagradáveis a seus clientes internos. Há confiança de que executem suas tarefas exatamente como planejadas, eliminando o desperdício. • As operações flexíveis adaptam-se rapidamente às circunstâncias mutantes, sem interromperem o restante da operação. TEMA 5 – INTEGRAÇÃO DO MARKETING COM ESTRATÉGIAS DE OPERAÇÃO Ao observarmos a concorrência acirrada do atual ambiente corporativo, vemos a importância de que os produtos sejam desenvolvidos de forma a atender o máximo possível às necessidades e aos desejos dos mercados visados. Isso significa que a voz do cliente deve estar enraizada nos processos de produção e operações (Corrêa; Corrêa, 2012). Os clientes são inputs, para muitas organizações, e também a razão de sua existência. Se não houvesse clientes (sejam empresariais, sejam usuários e consumidores), não haveria qualquer operação. Por isso, é necessário que os gerentes de operações conheçam a fundo as necessidades dos clientes atuais e futuros de uma organização. Essas 14 informações vão determinar o que a operação precisa fazer e como fazer, o que, por sua vez, definirá a oferta de serviço ou produto a ser projetado, criado e entregue. Dificilmente uma operação que não atenda adequadamente seus mercados sobreviverá, a longo prazo. Sem conhecer o que os mercados desejam é impossível garantirque as operações atinjam a devida prioridade entre seus objetivos de desempenho: qualidade, velocidade, confiabilidade, flexibilidade ou menor custo (Slack; Brandon-Jones; Johnston, 2018). 5.1 Objetivos que visam à satisfação dos clientes A gestão de operações procura satisfazer seus clientes mediante o desenvolvimento de quatro possíveis objetivos de desempenho: 1. Se os clientes valorizam particularmente produtos ou serviços de preço baixo, a empresa enfatizará seu desempenho em baixo custo. 2. Se a ênfase do cliente está na entrega rápida, a operação deverá priorizar a velocidade. 3. Quando for importante que produtos ou serviços sejam entregues exatamente quando forem prometidos, o objetivo da operação será a confiabilidade. 4. Quando os clientes valorizam produtos ou serviços que foram adaptados ou projetados especificamente para eles, a flexibilidade será vital para as operações produtivas. Mas o ponto-chave é que qualquer fator competitivo que for importante para os clientes deve influenciar em qual objetivo de desempenho será priorizado nas operações de uma organização (Slack; Brandon-Jones; Johnston, 2018). 5.2 Análise de mercado A análise de mercado serve para entender o que o cliente quer e como entregar isso a ele. Primeiro, ela classifica os clientes em segmentos para, então, identificar a necessidade de cada segmento, conforme demonstrado a seguir: • Segmentação de mercado: identifica as características dos clientes com pontos comuns e classifica-os em grupos para oferecer os serviços e os produtos certos a cada um. A empresa pode criar uma estratégia de produção e uma campanha de marketing direcionada para cada grupo. 15 • Avaliação das necessidades: identifica as necessidades específicas de cada segmento, que podem ser associadas ao produto ou ao serviço, e sua cadeia de valor. A análise das necessidades deve abarcar as características tangíveis e intangíveis dos produtos ou serviços e essas necessidades podem ser classificadas em: a. necessidades de serviços ou produtos, envolvendo atributos como preço, qualidade e personalização; b. necessidades dos sistemas de entrega, que envolvem disponibilidade, cortesia, segurança, rapidez e todas as características dos sistemas e recursos necessários para a entrega do produto ou serviço; c. necessidades de grandes ou pequenos volumes de produtos/serviços; d. outras necessidades, que envolvem atributos como reputação, experiência e suporte pós-venda. 5.3 Fatores qualificadores e ganhadores de pedidos Uma forma particularmente útil de determinar a importância relativa dos fatores competitivos (qualidade, velocidade, confiabilidade, flexibilidade ou custo) é diferenciar os fatores ganhadores de pedidos e os fatores qualificadores. Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018) explicam essa diferença: • Os fatores ganhadores de pedido são os que contribuem direta e significativamente para a realização de um negócio. São considerados pelos clientes como razões-chave para comprar o produto ou serviço. Melhorar o desempenho em um critério ganhador de pedidos resulta em mais pedidos ou melhora a probabilidade de ganhar mais pedidos. • Já os fatores qualificadores podem não ser os principais determinantes do sucesso competitivo, mas são importantes de outra forma. São os aspectos que pressupõem que o desempenho da produção deve estar acima de determinado nível, para, pelo menos, ser considerado entre o rol de opções do cliente. Desempenho abaixo desse nível provavelmente desqualificará a empresa para muitos clientes. Entretanto, é improvável que qualquer melhoria acima do nível qualificador proporcione um ganho muito grande em termos de competitividade. 16 Como geralmente as organizações produzem bens e serviços para mais de um grupo de clientes, será necessário determinar os fatores competitivos ganhadores de pedidos e os qualificadores para cada segmento de consumidores. 5.4 Ciclo de vida do produto/serviço Outra forma de compreender e generalizar o comportamento de clientes e concorrentes é associá-lo ao ciclo de vida dos produtos ou serviços. Esse ciclo demonstra a variação do volume de vendas em quatro estágios, conforme explicam Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018): 1. Estágio de introdução: quando um produto ou serviço é lançado no mercado, normalmente está oferecendo algo novo, com poucos concorrentes. Nesse estágio, as necessidades dos clientes ainda não são plenamente entendidas e a gestão das operações precisa ter flexibilidade para lidar com eventuais mudanças. 2. Estágio de crescimento: à medida que o volume de vendas cresça, a concorrência pode aumentar. Por isso, a gestão de operações precisa acompanhar de perto a demanda, oferecendo respostas rápidas e confiáveis, mantendo os níveis de demanda e garantindo altos níveis de qualidade para não perder participação, no mercado, para a concorrência. 3. Estágio de maturidade: nesse estágio, a demanda fica estabilizada. Alguns concorrentes iniciais já deixaram o mercado e o setor foi dominado por poucas empresas maiores. Espera-se que os custos da produção estejam menores, seja para manter o lucro, seja para permitir a redução dos preços ou ambos. Isso significa que questões de custo e produtividade, juntamente com o suprimento confiável, serão as principais preocupações da operação. 4. Estágio de declínio: com o tempo, as vendas diminuem e até os concorrentes deixam o mercado. Pode haver um mercado residual, mas, a menos que haja escassez da capacidade, o mercado permanecerá dominado pela competição nos preços. Os objetivos da produção continuarão sendo dominados pelo custo. 17 REFERÊNCIAS CAXITO, F. (Coord). Logística: um enfoque prático. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração de produção e operações: uma abordagem estratégica. 2. ed. 8. reimpr. São Paulo: Atlas, 2012. PARIS, W.; GUOLO, A. Gestão da produção. Curitiba: Universidade Positivo, 2015. SALGADO, T. T. Logística: práticas, técnicas e processos de melhorias. 3. ed. atual. São Paulo: Editora Senac, 2017. SLACK, N.; BRANDON-JONES, A.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
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