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Aula 7 - Moeda

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Economia Política - Prof. Carolina Miranda Cavalcante
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Faculdade Nacional de Direito
O presente texto é um material de apoio para a disciplina eletiva de “Tópicos em
Economia e Direito”, do curso de Bacharelado em Direito da FND/UFRJ. Este material
não substitui a leitura do artigo e/ou capítulo de livro indicado para cada aula. Este
material possui objetivos exclusivamente didáticos, favor não divulgar este PDF sem a
autorização expressa da autora.
AULA 7: MOEDA, BANCOS E SISTEMA FINANCEIRO
Moeda. Escambo. Economia monetária. Funções da moeda. Organizações do sistema
financeiro. Bancos. Banco Central.
CANO, Wilson. Introdução à Economia: uma abordagem crítica. São Paulo:
Unesp, 2012. Capítulo 6, p.175-205.
A origem da moeda
Se retornamos aos primórdios da humanidade, veremos que inicialmente os indivíduos
produziam para seu autoconsumo, gastando praticamente todo seu tempo disponível com
atividades de subsistência. Quando os indivíduos começam a se organizar em grupos e a
se fixar em territórios, dominando técnicas agrícolas rudimentares e a criação de
animais, verifica-se um aumento na produtividade do trabalho, permitindo a geração de
um excedente da produção. Com a geração de um excedente, duas coisas importantes
acontecem: (i) os grupos humanos passam a desfrutar de um tempo livre, permitindo
atividades não ligadas diretamente à sobrevivência do grupo; (ii) de posse de um
excedente produtivo, a troca de produtos com outros grupos passa a ser possível. Nesse
momento, os indivíduos passam não apenas a se organizar em grupos, mas também a
construir distinções de classe (baseadas no tipo de trabalho realizado por cada pessoa) e
a trocar produtos com outros grupos. Reveja o slide da aula 2 que trata da “evolução da
humanidade” a partir das ideias de Thorstein Veblen e Douglass North.
Inicialmente, a troca de produtos era realizada de forma direta, o que denominamos
como escambo. No escambo, o indivíduo troca um produto diretamente por outro
produto. Se produzo pães, mas não produzo leite, então eu troco pães por leite com meu
vizinho. O problema surge quando meu vizinho não deseja trocar leite por pães, mas por
batatas, por exemplo. O escambo demanda uma dupla coincidência de interesses, o que
pode acontecer em grupos pequenos, mas dificilmente ocorrerá numa sociedade com
trocas mercantis ampliadas.
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O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), que fica num belíssimo edifício na Rua
Primeiro de Março, no Centro do Rio, tem uma exposição permanente sobre a história da
moeda. A reportagem é antiga, mas fala um pouco sobre o conteúdo dessa exposição:
http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-artigos/reportagens/649-uma
viagem-ludica-e-interdisciplinar-pela-historia-da-moeda (acesso: 07/10/2020)
Também vou colocar aqui o link do site do CCBB (que está com uma exposição virtual
sobre o Egito Antigo):
https://www.bb.com.br/pbb/pagina-inicial/sobre-nos/cultura/ccbb#/ (acesso: 07/10/2020)
Por fim, outra exposição sobre a moeda pode ser encontrada no Museu Casa da Moeda
do Brasil. Esse museu, reaberto recentemente, fica próximo à nossa FND, na Praça da
República:
https://www.casadamoeda.gov.br/portal/socioambiental/cultural/museu-casa-da
moeda.html (acesso: 07/10/2020)
Esses museus são muito interessantes para se visitar, claro, depois que pudermos circular
com segurança. Por enquanto, se puder, fique em casa.
Para sanar o problema da dupla coincidência de interesses, os indivíduos começaram a
utilizar um terceiro produto como meio de troca (ou meio de pagamento).
Historicamente, diversos objetos cumpriram esse papel, como sal, conchas, metais
preciosos (ouro e prata), etc. Como essas primeiras formas de moeda não recebiam a
sanção de um governo, o uso desse terceiro produto como meio de troca demandava a
confiança e a aceitação social generalizada, de modo que esse produto utilizado como
meio de troca deveria ter as seguintes características: durabilidade, raridade, facilidade
de transporte, dificuldade de fraude e divisibilidade. Naturalmente, os metais preciosos
(principalmente o ouro) eram objetos que possuíam essas características e foram por
muito tempo utilizados como meio de troca.
Inicialmente, a moeda era utilizada tão somente para intermediar trocas (função de meio
de troca), mas com o tempo, as pessoas perceberam que o ouro poderia ser guardado
para realização do uso futuro (dimensão temporal). O ouro, enquanto moeda, passa a ter
uma segunda função, a de reserva de valor. Por sua durabilidade e raridade, o ouro
permite que se retenha o valor de um produto gerado hoje até o próximo ano. Se
produzo suco de laranja no valor 100g de ouro, não posso guardar o suco de laranja até
o próximo ano, mas posso vender esse suco no mercado por 100g de ouro e guardar esse
ouro (moeda) até a próxima semana, o próximo ano ou qualquer período desejado.
Nesse sentido, a função de reserva de valor remete à capacidade da moeda de manter e
carregar o valor dos produtos ao longo do tempo. Evidentemente, a troca pressupõe a
comparação e a equivalência de valores. A função da moeda que cumpre esse papel de
medir o valor dos produtos é a função de unidade de conta. O objeto que funciona como
moeda deve, portanto, ser capaz de expressar o valor dos produtos dos menores aos
maiores valores, ou seja, a moeda deve ser divisível. Por exemplo, a moeda deve ser
capaz de expressar o valor de um doce que custa centavos até o valor de um
transatlântico que custa milhões ou até bilhões de unidades monetárias.
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A expansão comercial para territórios mais distantes gerou a necessidade de um meio de
pagamento mais fácil de transportar. Como barras de ouro eram pesadas e difíceis de se
transportar em longas distâncias, as pessoas começaram a confiar seu ouro aos ourives e
aos governantes, que passaram a ter o poder de emissão (de moeda). Governantes
passaram a cunhar moedas de ouro ou combinações de metais menos nobres com o ouro.
Os ourives também prestavam o serviço de guarda de barras de ouro, emitindo recibos
de depósito de ouro ao portador (moeda-papel), com lastro no ouro que o indivíduo
deixara nos cofres do ourives. Os ourives foram os precursores dos bancos comerciais,
que tinham as funções de depositários de dinheiro e de financiamento (crédito).
Mais recentemente, dada a escassez de metais preciosos e a necessidade de novas
emissões, o poder público passou a emitir papel-moeda sem qualquer contrapartida de
existência de ouro e prata. O papel-moeda hoje é o que conhecemos na forma metálica
ou de “notas”. (Cano, 2012, p.178)
Veremos, na aula 9, sobre relações econômicas internacionais, que a partir do final da
década de 1970, as moedas nacionais não possuem mais lastro em ouro, dólar ou
qualquer outro ativo. Atualmente, o lastro das moedas nacionais é sua produção de bens
e serviços. Uma das funções do Banco Central do Brasil (BCB) é garantir a liquidez da
economia, ou seja, deve controlar a quantidade de moeda disponível no sistema
econômico de modo que esta seja adequada às necessidades dos agentes para realização
das transações. O grau de liquidez da economia dependerá da quantidade de meios de
pagamento e o volume de transações econômicas. A liquidez pode ser entendida como a
capacidade e a velocidade de conversão de um ativo em um bem ou serviço. A moeda
em sua forma mais líquida – notas, moedas de real e valores monetários em conta
corrente – é capaz de se converter imediatamente em qualquer bem ou serviço. Já um
título público é um ativo menos líquido. Se desejo comprar um carro, posso realizar essa
transação imediatamente com o dinheiro que tenho na conta corrente, mas se só
dispusesse de títulos públicos para comprar esse carro, eu teria que primeiro vender
esses títulos para obter os recursos necessários para realizar a transação de aquisição do
carro. Nesse sentido, os depósitos à vista em contato corrente são mais líquidos que um
título público.
Essa matéria da BBC, gentilmente compartilhada por um colega durante nossas aulas
remotas,trata da finitude das reservas de ouro (um recurso natural) no planeta terra.
Imagine como seria difícil encontrar meios de pagamento suficientes para permitir a
realização da multiplicidade de transações econômicas existentes atualmente!
Efetivamente, o padrão
ouro terminou com o Acordo de Bretton-Woods após a segunda guerra mundial, como
vimos na aula 6. Dos anos 1950 à década de 1970, o capitalismo viveu seus anos dourados,
tendo como base a produção e o consumo de massa. A matéria aponta também o valor de
uso do ouro, não apenas seu valor de troca, associado à produção de componentes
eletrônicos que utilizamos cotidianamente.
Link para a matéria da BBC: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54303668
(acesso: 07/10/2020)
Quando pensamos na moeda nacional sem nenhum lastro em ouro ou qualquer outro
metal precioso, talvez isso pareça difícil de compreender num primeiro momento. Ou
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seja, como o sistema econômico poderia funcionar de forma estável com governos com
total liberdade para emitir moeda? Naturalmente, os governos não podem simplesmente
emitir moeda sem restrições. Vimos no fluxo circular da renda que o fluxo real (bens,
serviços, fatores de produção) possui uma contrapartida monetária (remuneração dos
fatores de produção e pagamento pelos bens e serviços), de modo que a quantidade de
moeda disponível não pode ser nem muito superior nem muito inferior às necessidades
do fluxo real. Nesse sentido, podemos dizer que o lastro da moeda, ou o limite para
emissão monetária, atualmente é o produto interno bruto (PIB). Vimos na aula 4
(produto e renda), que o PIB é o somatório de todos os bens e serviços finais produzidos
num determinado espaço de tempo. Vimos também que o PIB é igual à renda
(remuneração dos fatores de produção) gerada na economia nesse espaço de tempo.
Moeda e quase-moeda
O conceito de moeda é mais amplo que as cédulas e moedas de real, este compreende
apenas o Papel Moeda em Poder do Público (PMPP). A moeda em sua máxima liquidez
também engloba os Depósitos à Vista (DV) nos bancos comerciais. Existem, contudo,
outros ativos financeiros menos líquidos compreendidos no conceito de quase-moeda,
são os títulos públicos e privados, depósitos em poupança, etc. São ativos financeiros
que não são moeda de liquidez imediata como o PMPP e o DV, mas que são capazes de
render juros, de ser mensurável e de reter valor ao longo do tempo.
O Banco Central divide a moeda e quase-moeda nos agregados monetários: M1, M2, M3
e M4.
M1 = PMPP + DV
M2 = M1 + emissões de alta liquidez (depósitos em poupança e títulos privados de curto
prazo)
M3 = M2 + fundos de renda fixa + carteira de títulos públicos
federais M4 = M3 + carteira livre de títulos públicos do setor não
financeiro
A definição dos agregados monetários se modifica de tempos em tempos. Veja nesse
link a definição dos agregados monetários mais recente (ao final do documento):
https://www.bcb.gov.br/content/publicacoes/programacaomonetaria/pm-022019p.pdf
(acesso: 18/03/2021)
Algumas definições de termos do mercado financeiro:
https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/docs_estatisticasmonetariascredito/glossario
credito.pdf (acesso: 18/03/2021)
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Sistema Financeiro Nacional
O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é composto por um conjunto de agentes e
organizações públicas e privadas. Confira a estrutura completa no site do Banco Central:
https://www.bcb.gov.br/pre/composicao/composicao.asp?frame=1 (acesso: 18/03/2021)
O Banco Central está submetido ao Conselho Monetário Nacional (CMN), responsável
pela formulação das regras que irão normatizar o funcionamento do sistema financeiro.
O Banco Central tem por objetivo garantir a liquidez da economia e seguir as regras
formuladas no âmbito do CMN.
O Banco Central é o emissor primário de moeda. O Papel Moeda Emitido (PME) é
deduzido dos Encaixes dos Bancos Comerciais (EBC), fornecendo o total de Papel
Moeda em Circulação (PMC). Desse PMC, uma parte se destina às reservas dos bancos
comerciais e outra se converte em Papel Moeda em Poder do Público (PMPP).
PME = PMC – EBC
Para entender um pouco sobre o processo de produção das cédulas e moedas de real,
assista o vídeo do BCB: https://www.bcb.gov.br/cedulasemoedas (acesso: 18/03/2021)
No final dessa mesma página, você encontrará um ícone “Dinheiro em circulação”. Ao
clicar nesse link, você seguirá para uma página na qual poderá observar a quantidade de
moeda em circulação, no dia de sua escolha, por tipo de cédula (5, 10, 50, 100, etc.).
Contudo, o Banco Central não é o único agente criador de moeda. Os bancos comerciais,
através do multiplicador monetário também criam moeda. Isso ocorre porque nem todo
dinheiro que depositamos no banco comercial se converte em PMPP, parte desse
dinheiro nós deixamos no banco sob a forma de depósitos à vista. Esse dinheiro que
permanece no banco comercial como depósito à vista pode ser emprestado (e
normalmente o é) para terceiros. O banco comercial assim age pois entende que de todo
recurso depositado nos bancos, apenas uma parcela desses recursos será requisitada
imediatamente pelos indivíduos. Por exemplo, se o banco comercial entende que os
indivíduos, em média, sacam apenas 20% do que depositam no banco, 80% desse
dinheiro fica no banco sem uso imediato. O banco comercial pode, por conseguinte,
fazer esse dinheiro circular. Seguindo esse exemplo, se José deposita 100 reais no banco
comercial, o banco sabe que José irá demandar apenas 20 reais desse montante para
realizar suas transações cotidianas, deixando 80 reais no banco. O banco irá, portanto,
emprestar esses 80 reais para Sofia, que, por sua vez, utilizará em média 20% desses
recursos para suas transações diárias (16 reais), deixando os outros 80% (64 reais) no
banco, que seguirá o processo de multiplicação monetária emprestando esses 64 reais
até que não exista mais dinheiro disponível para emprestar. Deste modo, se o Banco
Central emitiu 100 reais em moeda,
5
no processo de multiplicação monetária, o banco comercial criou novo dinheiro no valor
de 80 + 64 + ...
Naturalmente, o Banco Central possui instrumentos para controlar a oferta de moeda:
operações de open market, taxa de redesconto, depósito compulsório. As operações de
open market representam a compra e venda de títulos públicos. Quando o BCB compra
títulos públicos em posse dos agentes econômicos, este coloca moeda em circulação;
quando vende títulos públicos, retira moeda de circulação. A taxa de redesconto é uma
taxa cobrada pelo Banco Central para emprestar dinheiro para bancos com desequilíbrios
momentâneos em seus sistemas de compensação diária de valores. Por fim, o depósito
compulsório é um percentual de depósitos que os bancos devem manter junto ao Banco
Central e que não pode ser emprestado, ou seja, não pode ingressar no circuito do
multiplicador monetário.
Vimos que o Banco Central é o emissor primário de meios de pagamento e os bancos
comerciais podem criar meios de pagamento a partir dos depósitos à vista dos agentes
econômicos. Este é o lado da oferta de moeda. Quais agentes demandam moeda e por
quê? O público em geral demanda moeda, seja para comprar bens e serviços, remunerar
fatores de produção, adquirir bens intermediários e bens de capital e para quitar
compromissos financeiros com o governo e o sistema bancário. Os agentes econômicos
demandam moeda não apenas para realizar transações (motivo transação), mas também
para se precaver em relação ao futuro (motivo precaução) e para aproveitar
oportunidades de investimento (motivo especulação). Deste modo, nem toda moeda em
poder do público destina-se diretamente à compra de bens e serviços e remuneração de
fatores, parte desses recursos é guardada pelos agentes econômicos (poupança).
Na próxima aula veremos que o Estado possui várias formas de atuação na economia, em
que a emissão monetária é uma das formas do governo se financiar. O pensamento de
John Maynard Keynes (1883-1946) deu origem à moderna macroeconomia – lembre da
equação do produto e da renda: Y = C + I + G + (X – M) –, chamandoatenção para a
necessidade de políticas de demanda efetiva ativas por parte do governo em tempos de
crise. Ou seja, o governo deveria aumentar os gastos governamentais (G) para estimular
o consumo (C) e o investimento (I) em tempos de crise. Contudo, a intervenção do
governo na economia foi criticada por economistas que defendiam um maior liberalismo
econômico, como o austríaco Friedrich Hayek (1899-1992). Esse debate entre as teorias
de Keynes e Hayek foi convertida em um rap que trata das divergências dos autores
quanto ao papel do Estado na economia. Os dois vídeos com o rap Keynes versus Hayek
podem ser acessados no site do Paulo Gala, que também conta com uma comentário do
Paulo Gala sobre a teoria do Keynes: https://www.paulogala.com.br/revisitando-o-rap
de-keynes-x-hayek-ou-mercado-x-estado/ (acesso: 08/10/2020)
A Teoria Quantitativa da Moeda (TQM) nos permite não apenas de observar a relação
entre a oferta e a demanda por moeda, mas também a conexão entre o lado real (fluxo
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real) e o lado monetário (fluxo monetário ou nominal) da economia1. Vejamos a equação
de trocas que embasa a TQM:
M.V = P.T
M: quantidade total de moeda
V: velocidade das transações
P: nível geral de preços
T: total de transações
O controle da liquidez da economia passa pelo equilíbrio entre a quantidade de moeda
em circulação, associada à sua velocidade de circulação, e o total de transações
realizadas pelos agentes econômicos (compra de bens e serviços e contratação de fatores
de produção). Considerando a velocidade das transações (V) e o total de transações (T)
constantes, um aumento na quantidade total de moeda (M) teria como resultado um
aumento no nível geral de preços (P). Nesse sentido, o aumento na oferta de moeda
geraria inflação. Será? O que é inflação? Quais são as outras causas da inflação?
Inflação
A inflação é definida como o aumento persistente e generalizado no nível de preços da
economia. A inflação é medida pelos índices de preço, como o IPCA. A inflação corrói o
poder de compra da moeda. Em situações de hiperinflação a moeda perde todas as suas
três funções, ou seja, deixa de ser capaz de expressar o valor das mercadorias, de reter
valor ao longo tempo, acabando por deixar de ser utilizada como meio de troca. O
aumento descontrolado dos preços gera incertezas no ambiente econômico. No entanto,
a deflação também não é desejada, uma vez que leva potencialmente ao desaquecimento
da atividade econômica. A inflação pode ter múltiplas causas: inflação de demanda,
inflação de oferta (ou de custos), inflação inercial, inflação de expectativas.
Veja no site do Banco Central do Brasil a definição e as principais causas e
consequências da inflação:
https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/oqueinflacao (acesso: 18/03/2021)
A inflação de demanda ocorre quando a demanda agregada se encontra em patamar
superior à produção de bens e serviços2. Como sabemos, quando a demanda por algum
bem é superior à sua oferta, verifica-se uma pressão pelo aumento em seu preço. Na
inflação de demanda, existe uma quantidade maior de agentes econômicos dispostos a
realizar compras do que bens e serviços disponíveis para satisfazer suas necessidades.
Também pode ser o caso da renda dos agentes econômicos ter se ampliado, gerando
1 Ver p.286-287 (capítulo 12) de PINHO, Diva Benevides; VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval;
TONETO, Rudinei. Introdução à Economia. São Paulo: Saraiva, 2011.
2 Sobre as causas da inflação, ver capítulo 14 de PINHO, Diva Benevides; VASCONCELLOS, Marco
Antonio Sandoval; TONETO, Rudinei. Introdução à Economia. São Paulo: Saraiva, 2011.
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pressões sobre a demanda. A solução para uma inflação de demanda encontra distintas
respostas teóricas. Os monetaristas entendem que as variações na atividade econômica
seriam explicadas pela quantidade de moeda em circulação, de modo que a moeda seria
um elemento ativo no sistema econômico. Deste modo, o combate à inflação de
demanda deveria estar focado em políticas monetárias contracionistas, ou seja, na
redução da quantidade de moeda em circulação. Já os keynesianos entendem que o nível
de atividade econômica seria influenciado pelos componentes da demanda agregada
(consumo, investimento e gastos do governo). Desde modo, o combate à inflação de
demanda deveria ser realizado através de políticas fiscais contracionistas. O governo
deveria, portanto, reduzir seus gatos e elevar a tributação sobre o consumo e o
investimento de modo a desestimulá-los.
Na inflação de oferta, também conhecida como inflação de custos, os preços aumentam
porque as firmas verificam um incremento em seus custos de produção, que são
repassados para o preço dos bens e serviços. Os custos produtivos podem aumentar
quando os custos com bens (intermediários ou de capital) importados aumentam em
virtude de um câmbio mais desvalorizado (moeda estrangeira mais cara). Os custos
produtivos também podem aumentar no caso de aumentos salariais acima dos
incrementos na produtividade do trabalho, por ação dos sindicatos, por exemplo. Por
fim, a inflação de oferta também está associada à capacidade de empresas com poder de
monopólio ou oligopólio de elevar seus lucros, via preços mais altos, acima dos
aumentos nos custos de produção. Esta é a chamada de inflação de lucros, uma
modalidade de inflação de oferta. O controle da inflação de oferta pode ser realizado
através do controle dos preços que pressionam os custos: valorização cambial e “política
de rendas” (controle de preços de bens, serviços e salários).
A inflação inercial se reproduz através do mecanismo de memória inflacionária. Nesse
caso, os preços aumentam porque os agentes econômicos utilizam mecanismos de
indexação formal de contratos, salários e aluguéis e mecanismos de indexação informal,
através de reajustes de preços no comércio e na indústria. Os preços aumentam não por
causas concretas, como no caso da inflação de demanda ou de oferta, mas porque os
agentes reajustam seus preços a cada período de acordo com os índices de inflação. Por
fim, a inflação de expectativas ocorre quando os agentes econômicos aumentam os
preços no presente porque esperam que os preços deverão subir no futuro ou que o
governo vá praticar políticas de congelamento de preços. Deste modo, os agentes
antecipam o aumento de preços de modo a garantir suas margens de lucro.
Uma quinta explicação para o fenômeno da inflação é fornecida pelos cepalinos, também
conhecidos como estruturalistas. Segundo os cepalinos, a inflação dos países
subdesenvolvidos seria explicada por questões estruturais, ou seja, esses países teriam
uma inflação estrutural. A existência de estruturas produtivas agrárias e oligopólicas,
associadas a uma inserção primário-exportadora no comércio internacional, provocaria
uma inflação estrutural nos países subdesenvolvidos. A concentração agrária geraria
latifúndios que não teriam incentivos para aumentar sua eficiência produtiva (dado o
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baixo grau de concorrência) num cenário de crescimento da demanda, de modo que o
preço dos alimentos tenderia a subir. Os oligopólios possuem maior capacidade de
repassar aumentos de custos para os preços finais dos produtos, aumentando os preços
finais e mantendo suas margens de lucro. Por fim, a necessidade constante de equilibrar
o balanço comercial (exportações – importações), dada a deterioração dos termos de
intercâmbio, levaria a pressões por políticas de desvalorização cambial.
TAREFAS PARA A SEMANA 7
Esses passos ajudarão a consolidar o conteúdo desta aula, além de prepará-lo(a) para a
próxima semana de aprendizado.
1º passo: Exercícios ao final deste PDF.
2º passo: Leitura para a aula da próxima semana (aula 8).
CANO, Wilson. Introdução à Economia: uma abordagem crítica. São Paulo: Unesp,
2012. Capítulo 5, p.129-174.
Importante: sempre leia o artigo antes do encontro virtual semanal e traga suas dúvidas!
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EXERCÍCIOS DA AULA 7
1. Qual o significado da moeda na sociedade mercantil?
2. Qual a diferença entre a moeda de curso forçado e moedas que são aceitas por
convenção? Citeexemplos.
3. Quais agentes são capazes de aumentar a oferta de moeda no sistema econômico?
4. O Banco Central possui mecanismos para controlar a quantidade de moeda em
circulação?
5. Por que os agentes econômicos demandam moeda?
6. O que é inflação e quais são suas causas?
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Gabarito
1. Qual o significado da moeda na sociedade mercantil?
A moeda é composta pelo papel moeda em poder do público e pelos depósitos à vista
nos bancos comerciais, representando o meio de troca mais líquido (M1). A moeda tem
por função intermediar as trocas mercantis (função de meio de troca), mensurar o valor
dos produtos e fatores de produção através do sistema de preços (função de unidade de
conta), bem como guardar e transferir o valor das mercadorias no tempo (função de
reserva de valor). A moeda cria e permite um fluxo monetário (ou nominal) nos
mercados, equiparando distintas mercadorias e intermediando as trocas realizadas pelos
agentes econômicos.
2. Qual a diferença entre a moeda de curso forçado e moedas que são aceitas por
convenção? Cite exemplos.
A moeda de curso forçado é aquela que circula por força de lei, sendo emitida por um
Estado. Nas fronteiras brasileiras, por exemplo, todos os agentes econômicos são
obrigados, por lei, a liquidar suas transações em reais. Moedas que circulam por
convenção não são impostas de forma coercitiva por um Estado, mas são aceitas por
conveniência, costume e/ou confiança dos agentes econômicos em determinado meio de
pagamento. Em períodos de hiperinflação, em que a moeda perde sua função de reserva
de valor e, consequentemente, suas funções de unidade de conta e meio de troca, os
agentes econômicos passam a eleger outros meios de pagamento capazes de realizar as
funções da moeda. Em períodos de hiperinflação e guerras, por exemplo, produtos como
cigarro e bebidas alcoólicas são bastante utilizados como meios de troca.
3. Quais agentes são capazes de aumentar a oferta de moeda no sistema econômico?
Embora o Banco Central seja o emissor primário de moeda, os bancos comerciais,
através do mecanismo de multiplicação monetária, também são capazes de criar meios
de pagamento.
4. O Banco Central possui mecanismos para controlar a quantidade de moeda em
circulação?
Sim, o Banco Central pode controlar a quantidade de moeda disponível para os agentes
econômicos através das operações de open market, da taxa de redesconto e dos depósitos
compulsórios. As operações de open market ampliam ou reduzem a quantidade de meios
de pagamento (M1) em circulação através da compra e da venda de títulos públicos
(quase-moeda). Já a taxa de redesconto e os depósitos compulsórios agem sobre o
potencial de multiplicação monetária dos bancos comerciais.
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5. Por que os agentes econômicos demandam moeda?
Os agentes econômicos, públicos e privados, demandam moeda principalmente para
realizar transações, ou seja, para realizar pagamentos referentes à compra de bens e
serviços ou à contratação de fatores de produção (motivo transação). Contudo, os
agentes econômicos também demandam moeda (M1, em sua máxima liquidez) para
aproveitar oportunidades de investimento (motivo especulação) e para se precaver
quanto às incertezas do ambiente econômico (motivo precaução).
6. O que é inflação e quais são suas causas?
A inflação é o aumento generalizado e persistente do nível de preços. As principais
causas da inflação são o aumento da demanda agregada acima da oferta de bens e
serviços (inflação de demanda), o aumento nos custos de produção e os choques de
oferta (inflação de oferta), a indexação formal e informal de preços (inflação inercial), a
expectativa de aumento ou congelamento de preços no futuro (inflação de expectativas)
e a inflação estrutural.
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