Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Geovana Sanches - TXXIV FARMACOLOGIA Professores Maria Tereza, Cláudia Becker e André Moura CORTICOSTERÓIDES OU ANTI-INFLAMATÓRIOS HORMONAIS O hormônio cortisol (hidrocortisona), produzido pelo córtex da suprarrenal é o protótipo do grupo. Sendo assim, são compostos esteroidais, caracterizados pela presença dos anéis A, B, C e D. Existem vários sinônimos para este grupo farmacológico: corticosteroides; anti- inflamatórios hormonais; anti-inflamatórios esteroidais; corticoides ou glicocorticóides. Além de serem anti-inflamatórios, também são imunossupressores. Fármacos orais • Metilprednisolona (Depo-Medrol®) • Dexametasona (Decadron®) • Prednisolona (Prelone®) • Prednisona (Meticorten®) • Budesonida (Busonid®) Fármacos inalatórios (pulmonar e nasal) • Triancinolona (Airclin®) • Mometasona (Nasonex®) • Beclometasona (Aerotide®, Beclosol®) • Flunisolida (Flunitec®) • Fluticasona (Flixotide®) Fármacos de uso tópico São apresentados como pomada ou creme. • Betametasona (Betnovate®, Quadriderm®) • Mometasona • Hidrocortisona (Stiefcortil®) • Triancinolona (Omcilon A “M”®) CÓRTEX DA SUPRARENAL O ACTH (corticotropina) é produzido pela adeno-hipófise e atua em receptores MC2R, estimulando o córtex da suprarrenal a secretar: • Zona fasciculada: cortisol (glicocorticóide) • Zona glomerulosa: aldosterona (mineralo- corticóide) • Zona reticular interna: Desidroepi- androsterona (DHEA) à precursor androgênico ACTH e Angiotensina II estimulam receptores específicos na zona externa e promovem a expressão da CYP11B2, que catalisa as reações finais da biossíntese dos mineralocorticoides (aldosterona). A produção de aldosterona na zona glomerulosa é realizada principalmente pela angiotensina II e pelo potássio. Não sofre atrofia quando há baixa concentração de ACTH. Na ausência de ACTH, as zonas internas do córtex sofrem atrofia, reduzindo a produção de cortisol e de DHEA. Taxas de produção diária normal dos corticosteroides predominantes • Cortisol: 10 mg/dia • Aldosterona: 0,125 mg/dia Níveis circulantes dos corticosteroides predominantes Cortisol Aldosterona 8h da manhã 16 ug/100 mL 0,01 ug/100 mL 4h da manhã 4 ug/100 mL 0,01 ug/100 mL Quando os médicos solicitam a dosagem do cortisol, a coleta de sangue geralmente é realizada por volta das 8h da manhã, tendo em vista que nesse horário há maiores concentrações do hormônio no plasma periférico. MODIFICAÇÕES SINTÉTICAS NA ESTRUTURA DO CORTISOL A estrutura básica do cortisol é essencial para a atividade glicocorticóide. Todos os glicocorticóides sintéticos são análogos do glicocorticóide endógeno (cortisol). Os compostos com um grupo hidroxila (- OH) na posição 11, como o cortisol, têm atividade intrínseca (molécula ativa). Em contrapartida, os compostos com grupo carbonila (=O) no carbono 11, como a cortisona, são inativos. A enzima hepática 11β-HSD 1(11β- hidroxiesteróide desidrogenase) precisa reduzir o Geovana Sanches - TXXIV composto 11 carbonila a seu congênere 11- hidroxila para que o composto se torne ativo. Sendo assim, a cortisona é um pró-fármaco até ser convertida pelo fígado no fármaco ativo, o cortisol. Análogos de glicocorticóides 11-hidroxiglicocorticóides (formas ativas) • Prednisolona • Metilprednisolona • Dexametasona • Fludrocortisona 11-ceto (formas inativas – pró-fármacos) • Prednisona • Cortisona Resumo das modificações sintéticas na estrutura do cortisol Quatro modificações na estrutura do cortisol são comuns nos glicocorticóides sintéticos: 1. Adição de uma dupla ligação entre os carbonos 1 e 2, de um grupo metila no carbono 6 ou de um grupo metila no carbono 16 aumenta a atividade glicocorticóide do composto em relação à do cortisol. 2. A adição de um flúor ao carbono 9 aumenta a atividade glicocorticóide e intensifica acentuadamente a atividade mineralocorticoide. 3. O efeito mineralocorticóide é atenuado se a 9- fluoração for combinada com a 16-metilação. 4. A adição simultânea de dupla ligação 1 a 2, grupo metila no carbono 16 e flúor no carbono 9 produz a dexametasona, que apresenta atividade glicocorticóide muito potente, mas é essencialmente desprovida de atividade mineralocorticóide. Exemplo 1 A atividade nativa de um glicocorticoide é particularmente importante para fármacos de administração tópica, na medida em que a pele não detém quantidades apreciáveis de 11β-HSD 1. Sendo assim, apenas os 11- hidroxiglicocorticóides podem ser utilizados em cremes de glicocorticóides tópicos: Betametasona (Betnovate®, Quadriderm®) e Triancinolona (Omcilon A “M”®). Vale observar que além de possuírem a hidroxila no C 11 (forma ativa), elas também possuem: a. Dupla ligação entre C 1 e 2, intensificando a atividade glicocorticoide. b. Flúor no C 9, aumentando atividade glicocorticoide e mineralocorticoide. c. Na Betametasona: metila no C 16, conferindo à molécula atividade puramente glicocorticoide. Além disso, sempre que possível, a forma ativa do fármaco é preferida à forma do pró- fármaco inativo para pacientes com disfunção hepática, uma vez que esses indivíduos podem não ser capazes de converter o pró-fármaco em sua forma ativa. Exemplo 2 A introdução de uma ligação dupla 1, 2 na hidrocortisona, como na prednisona ou prednisolona, aumenta a proporção entre a potência reguladora de carboidrato, anti- inflamatório, imunossupressor e a de retenção de sódio (efeito mineralocorticoide - aldosterona). Além disso, a prednisolona é metabolizada mais lentamente que o cortisol. A prednisona é uma molécula inativa (carbonila no carbono 11 - função cetona) que precisa ser convertida em prednisolona no fígado para se tornar ativa. Outras modificações na molécula de prednisolona também produzem outros glicocorticóides com potências biológicas diferentes. A adição do grupo 6-α-metil na molécula de prednisolona origina a metilprednisolona que é 5 vezes mais potente do que o cortisol. Exemplo 3 A adição de um átomo de flúor na posição 9-α de hidrocortisona produz a fludrocortisona, que possui atividade glicocorticóide 12 vezes maior que o cortisol e uma atividade mineralocorticoide 125 vezes maior do que o cortisol. Devido a essas características, a fludrocortisona é mais utilizada, na clínica, quando há necessidade dos efeitos mineralocorticoide. A adição do grupo 16-α-metil na molécula delta-1-fludrocortisona produz a dexametasona, que apresenta uma potência glicocorticóide 30 vezes maior que a hidrocortisona, porém com atividade mineralocorticóide desprezível. Exemplo 4 A betametasona é uma dexametasona com um radical 16-β-metil e não α-metil, possuindo Geovana Sanches - TXXIV atividade glicocorticoide semelhante à dexametasona e normalmente é utilizada sob a forma de aerosol. A Triancinolona é uma dexametasona com um grupo 16-α-hidroxil e não metil e geralmente é utilizada em terapias tópicas. A 16-metilação ou hidroxilação no anel D elimina o efeito de retenção de sódio (efeito aldosterona), mas modifica muito ligeiramente a potência relativa aos efeitos sobre o metabolismo e a inflamação. Anel C A presença de um oxigênio em C 11 é indispensável para uma potência anti-inflamatória significativa e reguladora de carboidratos, mas não é necessária para elevada potência retentora de sódio, como demonstrado pela desoxicorticosterona (mineralocorticóide). FARMACOCINÉTICA DOS GLICOCORTICÓIDES Vias de administração Oral: Cortisona; Dexametasona; Metilprednisolona; Triancinolona. Tópico: Betametasona; Hidrocortisona; Mometasona; Triancinolona. Intramuscular: Triancinolona. Intramuscular e Intravenosa: Betametasona; Dexametasona; Hidrocortisona; Metilprednisolona; Prednisolona. Aerossóis inalados ou mais: Beclometasona; Budesonida; Ciclesonida; Flunisolida; Fluticasona; Mometasona; Triancinolona. Intra-articular: Metilprednisolona; Triancinolona.Vias de excreção Via renal: metabólitos principalmente glicuronídeos e sulfatos, os quais aparecem na urina de pacientes que utilizam esses medicamentos. Propriedades farmacocinéticas do cortisol Cerca de 90% do cortisol circulante estão ligados à proteínas plasmáticas, das quais as mais importantes são: globulina de ligação dos corticosteróides (CBG, também denominada transcortina; alta afinidade) e albumina (baixa afinidade). Apenas as moléculas de cortisol que não estão ligadas às proteínas (fração livre) são biodisponíveis, isto é, estão disponíveis para sofrer difusão pelas membranas plasmáticas para o interior das células. Sendo assim, a afinidade e a capacidade de ligação das proteínas plasmáticas regulam a disponibilidade de hormônio ativo e, consequentemente, a atividade hormonal. O fígado e os rins são os locais de metabolismo do cortisol. Por meio de redução e conjugação subsequente com ácido glicurônico, o fígado é responsável pela inativação do cortisol no plasma. A reação de conjugação torna o cortisol mais hidrossolúvel possibilitando sua excreção renal. O fígado e os rins apresentam isoformas diferentes da enzima 11-β-hidroxiesteroide desidrogenase, reguladora da atividade do cortisol. As duas isoformas catalisam reações opostas. Nas células dos ductos coletores distais do rim, a 11-β-hidroxiesteroide desidrogenase tipo 2 (11-β-HSD 2) converte o cortisol em cortisona, o composto biologicamente inativo que (diferentemente do cortisol) não se liga ao receptor de mineralocorticóides, expressos na região do néfron. Nos rins, os receptores de mineralocorticóides (MR) são protegidos do cortisol pela ação da enzima 11-β-HSD 2. Todavia, em altas concentrações, o cortisol pode superar a capacidade da 11-β-HSD 2, levando a estimulação dos MR renais. A cortisona pode ser novamente convertida em cortisol (também denominado hidrocortisona) no fígado pela 11-β- hidroxiesteroide desidrogenase tipo 1 (11-βHSD 1). Efeito mineralocorticóide exercido pela aldosterona A aldosterona tem como função o equilíbrio eletrolítico, ou seja, reabsorção de Na+ e excreção de K+ → efeito mineralocorticóide. A aldosterona atua através de receptores mineralocorticoides (MR), de modo semelhante aos GR. Os MR estão expressos nos tecidos Geovana Sanches - TXXIV epiteliais envolvidos no transporte de eletrólitos (rim, cólon, glândulas salivares e sudoríparas) e em alguns tecidos não epiteliais, como hipocampo, coração, vasos e tecido adiposo. A aldosterona e o cortisol ligam-se aos MR com igual afinidade. Porém, cortisol na região do néfron é metabolizado pela enzima 11-βHSD 2 e a aldosterona é resistente à ação dessa enzima, mantendo sua ação mineralocorticóide. Na ausência da enzima 11-βHSD 2, os glicocorticóides ativam os MR. Nos túbulos distais e ductos coletores nos rins causam reabsorção de sódio, bicarbonato e água. Ela diminui a reabsorção de potássio, que, com H+, é perdido na urina. O aumento da reabsorção de sódio pela aldosterona também ocorre na mucosa gastrointestinal e nas glândulas salivares e sudoríparas. Duração de ação dos glicocorticóides A duração de ação dos glicocorticóides depende dos seguintes fatores: 1. Fração do fármaco ligado às proteínas plasmáticas O grau de ligação às proteínas plasmáticas constitui um determinante da duração de ação do fármaco. Mais de 90% do cortisol circulante está ligado às proteínas, principalmente à CBG e, em menor grau, à albumina. Em contrapartida, geralmente os análogos de GC ligam-se à CGB com baixa afinidade. Em consequência, cerca de ⅔ de um análogo do GC típico circulam no plasma em sua forma ligada à albumina, enquanto o restante encontra-se na forma de esteróide livre. Como apenas o esteróide livre é metabolizado, o grau de ligação às proteínas plasmáticas constitui um determinante da duração de ação do fármaco. 2. Afinidade do fármaco pela 11-βHSD 2 Os glicocorticóides que apresentam afinidade mais baixa pela 11-βHSD 2 têm meia- vida plasmática mais longa, uma vez que esses fármacos não são transformados tão rapidamente em metabólitos inativos. 3. Capacidade lipofílica do fármaco Quanto mais lipossolúvel, maior a distribuição do fármaco nas reservas do tecido adiposo. Consequentemente, há redução de metabolismo e excreção do fármaco, prolongando sua meia-vida plasmática. 4. Afinidade do fármaco pelo receptor de glicocorticoide O aumento da afinidade de um análogo de glicocorticóide pelo receptor de glicocorticóides eleva a duração de ação do fármaco, na medida em que a fração do fármaco ligado ao receptor continua exercendo seu efeito até ocorrer dissociação do complexo fármaco-receptor. MECANISMO DE AÇÃO E EFEITOS FARMACOLÓGICOS Existem 2 tipos de receptores de glicocorticóides: Tipo I (mineralocorticóides ou MR) e Tipo II (glicocorticoides ou GR). O receptor de tipo I é expresso nos órgãos de excreção (rins, cólon, glândulas salivares e sudoríparas) e em outros tecidos, incluindo hipocampo, vasos, coração, tecido adiposo e células do sangue periférico. O receptor de tipo II (GRα) exibe uma distribuição tecidual mais ampla. O cortisol é transportado pelo organismo através da ligação de proteínas, como a CBG. Quando há dissociação, o cortisol atravessa a membrana da célula e, no citoplasma, encontra o seu receptor. Após a ligação do cortisol (molécula lipossolúvel) a seu receptor citosólico há formação do complexo hormônio-receptor, o qual sofre dimerização com outro complexo e é transportado para o núcleo. No caso do cortisol, o complexo hormônio-receptor dimerizado liga-se a elementos promotores de genes, chamados elementos de resposta aos glicocorticóides (ERG ou GRE), que podem intensificar ou inibir a expressão de genes específicos à podem causar indução da transcrição gênica através de interação com co-ativadores da transcrição e proteínas. O cortisol apresenta efeitos profundos sobre a expressão do mRNA, causando efeitos metabólicos e efeitos anti-inflamatórios. O mecanismo de ação do cortisol também pode ocorrer de modo inibitório de alguns genes, como: genes da COX-2, da NOS induzível, de citocinas inflamatórias e de alguns fatores de transcrição (p. ex. NF-kβ e AP-1). Ações anti-inflamatórias dos glicocorticóides Eventos bioquímicos que levam aos efeitos anti-inflamatórios dessas moléculas: → Indução de uma família de proteínas secretadas dependentes de cálcio e fosfolipídio denominadas lipocortinas, que por sua vez, inibem a ação da fosfolipase A2. → Indução da síntese de anexinas, como anexina 1, que interfere com o processo de Geovana Sanches - TXXIV “rolling”, inibe a migração de neutrófilos, fagocita neutrófilos apoptóticos. As anexinas agem em receptores acoplados à proteína G presentes nos leucócitos, bloqueando respostas pró- inflamatórias e intensificando os mecanismos anti- inflamatórios endógenos. → Inibição da ação da COX-2 e da formação de prostaglandinas por vários mecanismos: • Reprimindo a expressão do gene da COX-2 • Reprimindo a expressão de citocinas que ativam a COX-2 • Limitando o reservatório disponível de substrato da COX-2 (ácido araquidônico) ao bloquear indiretamente a fosfolipase A2. A capacidade anti-inflamatória dos glicocorticóides é muito mais eficaz do que a capacidade anti-inflamatória dos AINES, visto que os AINES inibem apenas a via da COX. A interrupção da síntese dos leucotrienos pelos glicocorticoides permite que eles sejam usados no processo inflamatório de vias respiratórias. Ação imunossupressora dos glicocorticóides O cortisol inibe a liberação de citocinas ao inibir o fator nuclear kβ (NFkβ), o que leva a: • ↓ produção de interleucinas (IL1, IL2, IL3, IL4, IL5, IL6 e IL 8), TNFα • Impedem a clonagem e a maturação dos linfócitos T e B • ↓ atividade de linfócitos T helper • ↓ migração de neutrófilos dos vasos para os tecidos • ↓ atividadede neutrófilos e macrófagos O cortisol e sintéticos também: • ↓ liberação de histamina pelos basófilos (usado em reações alérgicas) • ↑ síntese de fatores anti-inflamatórios como IL-10 (produzida pela via Th2, inibe a resposta Th1, relacionada com resposta imune celular) e anexinas. Vias respiratórias Os glicocorticóides são muito importantes no tratamento de patologias da via respiratória, como a Asma. Essas moléculas ligam-se a receptores nucleares, estimulando ou inibindo a transcrição gênica. Estudos afirmam que os glicocorticoides aumentam a expressão de receptores β2 adrenérgicos e a ativação desses receptores levam à broncodilatação. Sendo assim, há um efeito duplo dessas moléculas no tratamento dessas patologias. Células sanguíneas O tratamento com glicocorticoides leva a uma redução do número de células sanguíneas circulantes à linfócitos, eosinófilos, monócitos e basófilos. A hidrocortisona em dose única leva a um declínio na contagem dessas células circulantes dentro de 4 a 6 horas; esse efeito persiste por 24 horas e resulta da distribuição de células para fora da periferia, e não de um aumento de sua destruição. Mostram-se efetivos no tratamento de determinadas neoplasias malignas linfoides, uma ação possivelmente relacionada com a capacidade de glicocorticóides ativar a apoptose. Leva a um aumento na produção de células vermelhas do sangue. Corticosteroides, como a prednisona ou prednisolona, são utilizados para tratar um tipo de anemia (anemia de Diamond Blackfan) que não responde ao tratamento com hormônio eritropoetina (estimulador natural da produção de células vermelhas). Fibroblastos e pele Os glicocorticoides promovem redução da atividade de fibroblastos. A redução de glicosaminoglicanas diminui a produção de colágeno (redução de cicatrização e reparo tecidual). Geovana Sanches - TXXIV Os efeitos colaterais mais comuns na pele e tecidos moles dos pacientes em corticoterapia são a atrofia cutânea e o aparecimento de púrpuras. Essas geralmente atingem áreas expostas ao sol (dorso das mãos e ombros) e não são acompanhadas de edema palpável. Estrias e dificuldade na cicatrização também podem estar presentes. Neoplasias de pele (carcinoma espinocelular e carcinoma basocelular) também são mais frequentes nos usuários de glicocorticoides. O uso tópico de glicocorticóide pode levar ao surgimento de acne, alopécia, hipotricose e estrias. Músculo esquelético e ossos Redução da função dos osteoblastos e aumento da atividade dos osteoclastos, podendo provocar osteoporose. Períodos prolongados de uso de glicocorticóides provoca debilidade do músculo esquelético (miopatia por esteróides), provocando fraqueza e fadiga. Sendo assim, há uma atrofia tecidual, com: fraqueza muscular, osteoporose, inibição do crescimento (crianças; pode ser recuperada) e atrofia cutânea. Sistema nervoso central A corticoterapia pode ocasionar: elevação do humor; mania, insônia, inquietação e aumento da atividade motora; ansiedade, depressão ou psicose leve. Em pacientes com síndrome de Cushing (quantidade excessiva de corticosteroides), observa-se uma alta incidência de neuroses e psicoses. Em geral, essas anormalidades desaparecem após a interrupção da terapia com glicocorticóides ou tratamento da síndrome de Cushing. Efeitos metabólicos dos glicocorticóides Os efeitos metabólicos do cortisol causam elevação dos níveis sanguíneos de glicose, aminoácidos e triglicerídeos. Há estímulo da produção de glicose à o cortisol aumenta a glicemia ao antagonizar a ação da insulina e promover a gliconeogênese em jejum; diminuição da glicose periférica. Aumenta a degradação de proteínas à o cortisol aumenta o catabolismo das proteínas musculares, resultando em liberação de aminoácidos, que podem ser utilizados pelo fígado como fontes energéticas para a gliconeogênese. Potencializa ação do hormônio de crescimento sobre os adipócitos à ao potencializar o efeito do GH sobre os adipócitos, o cortisol aumenta a atividade da lipase sensível a hormônio e a liberação subsequente de ácidos graxos livres (lipólise). Os ácidos graxos livres aumentam ainda mais a resistência à insulina. Leva à redistribuição da gordura corporal. Eixo HHA (hipotálamo - hipófise - adrenal) O hipotálamo produz o Hormônio Liberador de Corticotropina (CRH) , o qual estimula a produção de ACTH pela hipófise. O ACTH, por sua vez, estimula a produção de cortisol no córtex da adrenal (cerca de 30 mg/ dia de cortisol). Com a administração contínua de glicocorticoides ocorre feedback negativo, ou seja, menor produção de CRH e de ACTH, afetando a produção da glândula adrenal. Com o passar do tempo, pode haver atrofia adrenocortical, visto que a ausência de ACTH leva a atrofia da zona fasciculada produtora de cortisol e da zona reticular envolvida na síntese de androgênios. Devido a esses efeitos, não deve ocorrer interrupção abrupta do uso de medicamentos corticoides, realizando um esquema de desmame. As células da zona glomerulosa que produzem aldosterona continuam a funcionar na ausência de ACTH, uma vez que a angiotensina II e o potássio sanguíneo continuam estimulando a síntese de aldosterona. RETIRADA GRADUAL DOS GLICOCORTICÓIDES Pacientes em uso prolongado de corticoide podem ter risco de supressão de eixo hipotálamo- hipófise-adrenal nas seguintes situações: • Paciente recebendo doses diárias totais maior ou igual a 10 mg de prednisona (ou outro corticóide em dose equivalente) por mais de 3 semanas; • Pacientes recebendo dose noturna maior ou igual a 5 mg de prednisona por mais de 3 semanas; • Pacientes em uso de corticoide e aparência cushingoide. É indicado a redução gradativa de 10 a 20% da dose, levando em consideração a conveniência e a resposta clínica do paciente. O regime pode ser feito com redução de: Geovana Sanches - TXXIV • 5 a 10 mg por dia por uma ou duas semanas, quando a dose em uso de prednisona for maior que 40 mg/ dia de prednisona ou equivalente. • 5 mg por dia por uma ou duas semanas quando a dose de prednisona estiver entre 10 e 20 mg/ dia. • 2,5 mg por dia por uma ou duas semanas quando a dose de prednisona estiver entre 10 e 20 mg/dia. • 1 mg por dia por duas a 4 semanas quando a dose de prednisona estiver abaixo de 10 mg/ dia (a prednisona pode ser substituída por prednisolona por solução oral, pela posologia, ou ser utilizada em dias alternados). EFEITOS ADVERSOS Síndrome de Cushing iatrogênica ao tratamento farmacológica com glicocorticóides exógenos. • Euforia (embora às vezes ocorram depressão ou sintomas psicóticos e labilidade emocional) • Corcova de búfalo • Hipertensão (associado ao efeito mineralocorticoide, com reabsorção de sódio) • Enfraquecimento da pele • Braços e pernas finas, devido a consumação muscular • Cicatrização deficiente das feridas • Hipertensão intracraniana benigna • Cataratas • Face em lua cheia com bochechas vermelhas (Face Cushingoide) • Aumento da gordura abdominal • Necrose avascular da cabeça do fêmur • Equimoses fáceis • Osteoporose • Tendência à hiperglicemia • Balanço nitrogenado negativo • Aumento do apetite • Aumento da suscetibilidade a infecções • Obesidade Efeitos adversos - Fludrocortisona Os efeitos adversos estão relacionados com a capacidade do fármaco simular um estado de excesso de mineralocorticóides. Assim, os principais efeitos são: Hipertensão (reabsorção de Na+); Hipopotassemia (Excreção de K+) e Insuficiência cardíaca. Para assegurar a administração de uma dose apropriada de fludrocortisona, é importante monitorar rigorosamente os níveis séricos de K+ e a pressão arterial dos pacientes que utilizam esse fármaco. USOS CLÍNICOS DOS CORTICOSTEROIDES Terapia de reposição Nos casos de insuficiência suprarrenal primária (doença de Addison), deve-se administrar doses fisiológicasde glicocorticóides para melhorar os efeitos da insuficiência suprarrenal. A hidrocortisona oral constitui o glicocorticóide, de escolha. Fludrocortisona, um mineralocorticóide sintético e potente, com alguma atividade glicocorticóide, também pode ser necessário para suplementar a deficiência mineralocorticóide. Nos casos de insuficiência suprarrenal secundária e terciária (deficiência na produção de ACTH ou CRH), a síntese de aldosterona é menos prejudicada e, portanto, a hidrocortisona é usada para essa deficiência. Efeitos anti-inflamatório e imunossupressor São utilizadas doses farmacológicas para suprimir a inflamação e as respostas imunes associadas a certos distúrbios: • Asma • Rinite alérgica • Condições inflamatórias da pele, olhos, orelha ou nariz, por exemplo: eczema, conjuntivite alérgica ou rinite) • Estados de hipersensibilidade: reações alérgicas graves • Doenças com componentes auto imunes e inflamatórios: artrite reumatoide e outras doenças do tecido conjuntivo, doenças inflamatórias intestinais, algumas formas de anemia hemolítica, púrpura trombocitopênica idiopática • Prevenção na doença do enxerto versus hospedeiro após transplante de órgãos ou medula óssea. Doenças neoplásicas São usados em combinação com agente citotóxicos no tratamento de doenças malignas específicas, como por exemplo doença de Hodgkin e leucemia linfocítica aguda. Para reduzir edema cerebral em pacientes com tumores cerebrais metastáticos ou primários utiliza-se principalmente dexametasona. São utilizados, ainda, para reduzir vômito causado pelo tratamento com quimioterápicos. Geovana Sanches - TXXIV Glicocorticóides, como a prednisolona e a dexametasona, têm efeitos inibidores na proliferação de linfócitos e são usados no tratamento de leucemias e linfomas. Sua capacidade para diminuir a pressão intracraniana e aliviar alguns dos efeitos adversos dos fármacos anti-câncer, como náusea e vômito, mostram a utilidade desses agentes como terapia de apoio quando se trata de outros cânceres, bem como no cuidado paliativo. Os mecanismos de ação exatos dos corticosteroides na prevenção da náusea ou na profilaxia do vômito é desconhecido. Sugere-se o antagonismo de prostaglandinas, a liberação de endorfinas e a depleção de triptofano. Entretanto, não se sabe se estes efeitos são periféricos ou mediados centralmente. É também possível que os efeitos anti-inflamatórios ou estabilizadores de membrana contribuam para os efeitos anti- eméticos desses fármacos. Aceleração da maturação pulmonar A maturação dos pulmões no feto é regulada pela secreção fetal de cortisol. O tratamento da mãe com grandes doses de glicocorticoides reduz a incidência da síndrome do desconforto respiratório em prematuros. Quando a terapia com glicocorticoides está indicada para promover a maturação dos pulmões no feto, administra-se comumente dexametasona ou betametasona à mãe 48 horas antes de realizar o parto prematuro para acelerar a maturação pulmonar do feto. A dexametasona e betametasona são substratos fracos da 11-βHSD 2 placentária e encontram-se, portanto, presentes na sua forma ativa na circulação materna e atravessam a placenta, passando para a circulação fetal, onde estimulam a maturação dos pulmões. A dose dos corticoides precisa ser cuidadosamente titulada, na medida em que uma exposição excessiva ao glicocorticoide pode ter efeitos deletérios sobre o desenvolvimento fetal. Corticoides na gravidez A prednisona é preferida nas gestantes pois tem menos efeitos adversos sobre o feto. Durante a gravidez, a placenta separa metabolicamente o feto da mãe e, assim, a prednisona pode ser administrada à mãe sem efeitos adversos para o feto. O fígado materno ativa a prednisona em prednisolona, porém a 11-βHSD 2 placentária converte novamente a prednisolona em prednisona inativa. Como o fígado não funciona durante a vida fetal, o feto não consegue ativar a prednisona. Por conseguinte, o uso da prednisona durante a gravidez não resulta em fornecimento de glicocorticóide ativo ao feto. FARMACOLOGIA APLICADA AO SISTEMA RESPIRATÓRIO Sistema respiratório O sistema respiratório é composto pelas vias aéreas superiores (nariz externo, cavidade nasal, faringe, laringe e parte superior da traqueia) e vias aéreas inferiores (parte inferior da traqueia, brônquios, bronquíolos, alvéolos e pulmões). Há situações patológicas que acometem separadamente cada uma dessas duas porções. A principal função do sistema respiratório é realizar as trocas gasosas entre o meio externo e o meio interno do organismo, de forma que a cada inspiração trazemos o oxigênio ao meio interno e, a cada expiração, levamos o gás carbônico ao meio externo. Principais características • Íntimo contato com o meio externo; • Alvo de inúmeros agentes nocivos: o Químicos: poluição, fumaça, odores, etc. o Biológicos: bactérias, vírus, fungos e parasitos. o Físicos: alimento, pólen, poeira, etc. Mecanismos de defesa Mecânicos: narina (cílios, turbilhonamento aéreo, espirro); fechamento da glote; muco; cílios bronquiolares; tosse. Imunológicos: imunoglobulinas (IgE, IgM, IgG); células de defesa (linfócitos, mastócitos, monócitos, eosinófilos); mediadores químicos (citocinas, eicosanoides, aminas). Principais patologias Trato respiratório superior (TRS): rinite, sinusite, gripe, faringite, laringite. Trato respiratório inferior (TRI): asma, bronquite, tosse, enfisema e tuberculose e DPOC. Farmacologia do sistema respiratório Dentro da farmacologia aplicada ao sistema respiratório serão estudados medicamentos que: • Afetam a mucosa nasal: descongestionantes, glicocorticoides e anti-histamínicos. • Afetam as mucosas: fluidificantes, mucolíticos e expectorantes. Geovana Sanches - TXXIV • Afetam o tamanho dos brônquios, como broncodilatadores. • Afetam a sensibilidade das vias aferentes e que afetam o centro respiratório, como os antitussígenos. Regulação do calibre dos brônquios Os brônquios são formados por musculatura lisa e seu calibre é regulado por sinalização colinérgica (principalmente), adrenérgica e por fibras do tipo NANC (ou seja, não adrenérgicas e não colinérgicas). Eles são extensamente inervados pelo Sistema Nervoso Parassimpático. Quando a acetilcolina liberada pelas fibras parassimpáticas se liga aos receptores muscarínicos (M3) há broncoconstrição. Quanto ao sistema nervoso simpático, a noradrenalina e adrenalina, quando se ligam aos receptores β2, ativam-nos e promovem a broncodilatação. As fibras NANC têm como principais sinalizadores: 1. Broncodilatadores: óxido nítrico (NO); polipeptídeo intestinal vasoativo (VIP). 2. Broncoconstritores: neurocinina A; Peptídeo relacionado com o gene da calcitonin (CGRP); Substância P ; Bradicinina; Neuropeptídeo Y. Alguns estímulos como irritação mecânica, estímulos térmicos, partículas inaladas, liberação de histamina e mediadores inflamatórios, edema estimulam as fibras parassimpáticas, as quais aumentam a descarga colinérgica nos brônquios pulmonares e assim promovem broncoconstrição, reflexo da tosse e hipersecreção. SNA simpático - receptor β2 adrenérgico Na musculatura lisa dos brônquios pulmonares encontramos receptores β2 (metabotrópicos, acoplados a proteína Gs). A partir da via de sinalização, com transformação do ATP em AMPc e ativação da proteína-quinase A, promove-se o relaxamento do músculo liso dos brônquios. É importante lembrar que a enzima fosfodiesterase degrada o AMPc, pois alguns fármacos atuam inibindo essa enzima e, consequentemente, aumentam a disponibilidade de AMPc e o relaxamento da musculatura brônquica. ASMA É uma doença crônica das vias respiratórias, caracterizada por exacerbações intermitentes de doença aguda (denominadas crises de asma). A asma é uma doença obstrutiva (causa broncoconstrição) e inflamatória, emresposta a hiper-reatividade imunológica. É caracterizada pela ativação de monócitos, liberação de IgE e linfócitos e envolve: edema das vias respiratórias, hiperplasia das células caliciformes, hipersecreção de muco e infiltração de células imunes e inflamatórias. O tratamento deve ser feito, portanto, com broncodilatadores e antiinflamatórios esteroidais (AINES podem piorar o broncoespasmo). Pacientes que sofrem de asma apresentam hiperresponsividade brônquica, ou seja, alérgenos como pelo de gato, pólen, ácaros, irritantes ambientais, exercício, ar frio, infecções ou componentes emocionais levam à broncoconstrição intensa. Processo inflamatório na asma Estímulo inflamatório (indivíduo entra em contato com alérgenos) → inflamação das vias aéreas à sinalização imunológica (linfócitos, mastócitos, eosinófilos, plasmócitos) → liberação de histamina e leucotrienos → hiperresponsividade brônquica → asma sintomática (secreção de muco, broncoconstrição e outras complicações). Na terapêutica é importante o controle do ambiente (estímulo inflamatório), além do uso de antiinflamatórios e de broncodilatadores. Farmacoterapia Broncodilatadores: agonistas β- adrenérgicos são o principal grupo. Os anticolinérgicos e metilxantinas também podem ser utilizados, sobretudo em pacientes com DPOC e cardiopatas (exceto metilxantinas). Antinflamatórios: glicocorticosteróides são o grupo de primeira escolha, pois além de serem mais baratos, apresentam eficácia durante crise. Também podem ser utilizados cromoglicatos, modificadores da via dos leucotrienos e anticorpos Anti-IgE. Geovana Sanches - TXXIV BRONCODILATADORES Agonistas β adrenérgicos São os broncodilatadores mais efetivos, sobretudo os de ação prolongada. Eles estimulam receptores β adrenérgicos presentes na musculatura lisa que reveste o brônquio, aumentando a atividade Gs-AC-AMPc. Os agonistas β2 adrenérgicos também estimulam a motilidade ciliar. Adrenalina A adrenalina foi o primeiro tratamento a ser instituído como agonista de receptor β, sendo um agonista adrenérgico preferencial para agonistas β-adrenérgicos. Pode ser utilizado por via inalatória ou via subcutânea. Isoproterenol/Isoprenalina Agonista β seletivo ou preferencial: moléculas agonistas de receptores β1 e β2, que não interagem com receptores α adrenérgicos, diminuindo a quantidade de efeitos adversos. Todavia, esse medicamento oferece baixa segurança para o paciente asmático, pois causa taquicardia. Devido a esse efeito colateral, a indústria farmacêutica desenvolveu agonistas seletivos do receptor β2, que é o principal receptor adrenérgico na musculatura lisa broncoalveolar. Agonistas β2 seletivos A seletividade é dependente da dose, de forma que altas doses também atuam em receptores β1. São classificados de acordo com o tempo de ação. Ação curta São moléculas hidrossolúveis que interagem rapidamente com o receptor β2, ativando-o e promovendo broncodilatação. Não mantêm seus efeitos por muito tempo. • Fenoterol (princípio ativo do Berotec®) • Salbutamol (princípio ativo do Aerolin®) • Terbutalina (princípio ativo do Bricanyl®) • Pirbuterol • Bitolterol Na emergência (crise de broncoespasmo), o paciente deve usar agonista β2 de curta duração. Esses medicamentos têm alta potência. O maior problema deles é que podem sofrer absorção, caindo na corrente sanguínea e ativando receptores β2 adrenérgicos em outros tecidos à liberação de insulina, alterações glicêmicas, tremor, taquicardia. Ação prolongada São moléculas que possuem 2 porções, uma hidrossolúvel e outra lipossolúvel. A porção da molécula de caráter lipofílico interage com lipídios de membrana, mantendo o medicamento mais tempo em contato com a musculatura lisa bronquiolar. A porção hidrofílica da molécula, por sua vez, interage com o receptor β2 adrenérgico. Esses medicamentos são utilizados em tratamentos mais longos (uso contínuo). • Formoterol • Salmeterol Vias de administração: aerossóis e inalatórios Apenas as partículas menores atingem a musculatura lisa brônquica, sendo que as maiores normalmente ficam presas à orofaringe. Sendo assim, grande parte do medicamento é deglutido e atinge o estômago e o intestino, sendo absorvida e provocando algumas das reações adversas sistêmicas ocasionadas por esses medicamentos. Pacientes idosos e crianças normalmente utilizam esses medicamentos junto ao inalador pressurizado para diminuir a quantidade deglutida, tendo em vista que a câmara de expansão retém as partículas maiores. Os inaladores pressurizados requerem baixo fluxo inspiratória e boa coordenação na administração. Os problemas mais frequentes são: esquecer de agitar, não posicionar na vertical, expirar parcialmente antes da inspiração profunda, inalação rápida, inspirar pelo nariz, pressionar o inalador mais que 1 vez, não apontar o inalador para a boca e não suspender a respiração após a inalação. Quando usados pela primeira vez ou após algum tempo de inutilização, os inaladores pressurizados devem ser ativados uma vez antes da administração. Existem também inaladores de pó seco, os quais requerem fluxo inspiratório mais elevado do que os aerossóis. Além disso, são mais caros. São encontrados em doses unitárias ou doses múltiplas, sendo que os últimos permitem ajuste de dosagem. Efeitos colaterais/ reações adversas • Taquicardia: devemos ter cuidado ao usar agonista β2 em cardiopatas ou idosos com problemas cardíacos, pois ele ativa receptores β2 cardíacos, aumentando risco de arritmia, crise de angina e IAM. • Tremor • Alterações glicêmicas (elevação) Geovana Sanches - TXXIV Anticolinérgicos (antagonistas muscarínicos) Os anticolinérgicos foram uma das primeiras medicações utilizadas pela medicina ocidental (Estramônio, o qual deu lugar a atropina). Atualmente são amplamente utilizados no tratamento da asma e DPOC. Na musculatura brônquica há receptores excitatórios M3 muscarínicos, os quais são ativados pela Ach, gerando broncoconstrição e hipersecreção de muco. Os anticolinérgicos bloqueiam esses receptores, diminuindo a atividade Gq-PLC. Atropina Medicamento utilizado nos hospitais, embora nos últimos 10 anos seu uso tenha diminuído. Os principais efeitos adversos são: taquicardia, náusea, boca seca, obstipação e retenção urinária. Brometo de ipratrópio (Atrovent®) É um sal de amônio quaternário derivado da atropina. Possui baixa absorção via oral, sendo usado de forma inalatória. Sua ação é curta e os principais efeitos colaterais são boca seca e desconforto intestinal. Brometo de tiotrópio Possui alta biodisponibilidade por via oral e é um fármaco de ação prolongada (dissociação lenta dos receptores muscarínicos). Na DPOC, o componente colinérgico é bastante intenso, fazendo-se necessário o uso de um anticolinérgico de longa duração. Muitas vezes o paciente com DPOC é um idoso cardiopata, logo não é possível usar agonista β2, pois tem risco de arritmia. • Pacientes com DPOC à utilizar anticolinérgico Os principais efeitos colaterais são taquicardia (em menor proporção do que os agonistas β2) e boca seca. Metilxantinas ou xantinas As metilxantinas ou xantinas já foram amplamente utilizadas, mas atualmente seu uso é restrito, tendo em vista o baixo índice terapêutico (margem de segurança estreita). • Aminofilina à principal representante. Ação curta • Cafeína • Teofilina: ação curta • Teobromina As metilxantinas atuam na inibição das enzimas fosfodiesterases, com ↑ AMPc e consequente relaxamento da musculatura lisa brônquica (broncodilatação). Além disso, atuam no antagonismo de receptores de adenosina (receptores purinérgicos). Os principais efeitos adversos são: taquicardia, arritmias cardíacas, náusea e vômito, hipersecreção gástrica (aumento do AMPc nas células parietais do estômago ativa bomba de prótons), agitação psicomotora e diurese (xantinasinibem a liberação do ADH). Nos casos de intoxicação mais graves pode ocorrer encefalopatia tóxica, hipertermia, lesão cerebral, hiperglicemia e hipocalemia. ANTIINFLAMATÓRIOS Corticosteróides São os principais antiinflamatórios utilizados para o tratamento da asma. Embora não sejam tão efetivos para o tratamento da DPOC, também são utilizados. A via oral de administração apresenta muitos efeitos sistêmicos e, por isso, dá-se preferência a glicocorticóides de via inalatória (mínimos efeitos sistêmicos). Mecanismo de ação: atravessa a membrana celular à liga-se ao receptor GR à forma complexo hormônio-receptor à núcleo à ativação da transcrição de genes anti- inflamatórios + inibição da transcrição de genes pró-inflamatórios. Os corticoides são substâncias amplamente empregadas para reduzir a atividade do sistema imunológico (leucotrienos e mediadores inflamatórios), produzindo rápido efeito na atividade inflamatória. Além disso, diminuem a degranulação mastocitária, migração leucocitária e exsudação; a expressão de imunoglobulinas, atividade da COX2; broncoespasmo e produção de muco. Os glicocorticóides aumentam a expressão da lipocortina e anexina 1 → inibe fosfolipase A2 → diminui a síntese de ácido aracdônico → diminui a síntese de leucotrienos → diminui a resposta de quimiotaxia, broncoconstrição e outros efeitos promovidos pelos leucotrienos. Via inalatória • Beclometasona • Triancinolona • Fluticasona: aumenta a expressão de receptores β2 na musculatura lisa brônquica, aumentando a sensibilidade aos broncodilatadores agonistas de receptores β2. • Budesonida • Flunisolida Geovana Sanches - TXXIV • Mometasona • Ciclesonida Deve-se ter muito cuidado com o depósito de gotículas de esteróides na orofaringe, pois isso pode gerar ação imunossupressora na mucosa bucal, facilitando proliferação de patógenos → desequilibra microbiota da boca, causando, por exemplo, candidíase. Orienta-se ao paciente a escovação dos dentes e enxágue bucal após a utilização do medicamento, uso de espaçadores (retêm partículas que ficariam na boca). Via oral Em casos de asma persistente/grave, utilizam-se glicocorticóides por via oral: hidrocortisona; prednisona; prednisolona; dexametasona e betametasona. Efeitos adversos • Hiperglicemia, hiperinsulinemia • ↑ retenção de sódio e água (edema, hipertensão) • ↓ absorção intestinal de Ca++, ↑ reabsorção óssea, ↑ excreção renal de Ca++ (remodelamento ósseo) • ↑ proteólise, ↓ massa muscular, ↓ reparo tecidual, ↓ reparo de tendões (reduz replicação de fibras colágenas) Cromoglicato ou cromonas São agentes estabilizadores de mastócitos, inibindo a degranulação dessas células. Também inibem a liberação de mediadores inflamatórios dos eosinófilos, neutrófilos, monócitos, macrófagos e linfócitos. • Cromoglicato dissódico (Cromolerg®, Intal®, Rilan®, Nasal®) • Nedocromil (Tilade®) O mecanismo de ação não está completamente estabelecido, mas se sabe que eles atuam inibindo a entrada de Ca2++ e, consequentemente, a exocitose de grânulos que contém histamina e outros grânulos inflamatórios. Agentes modificadores da via dos leucotrienos O ácido aracdônico sofre ação da enzima lipoxigenase formando leucotrienos. O zileuton - Zyflo CRTM (norte americano) - é um fármaco administrado por via oral, cujo mecanismo de ação é a inibição da enzima 5- lipoxigenase. Inibidores do receptor de cisteinil leucotrienos (CysLT1) Montelucaste: Singulair® - 10 mg/ dia à noite VO (adultos). Ele antagoniza o receptor de leucotrienos impedindo-os de promover broncoespasmo, quimiotaxia, liberação de histamina e mediadores inflamatórios. Usado para prevenir o broncoespasmo ao bloquear receptor de leucotrienos. Zafirlucaste: Accolate® - 20 mg/ dia - 2x/ dia (adultos). Anticorpos Anti-IgE Omalizumab Anticorpo monoclonal que se liga ao domínio de ligação de alta afinidade ao receptor de IgE na IgE humana. Sendo assim, diminui a quantidade de IgE circulante e impede a ligação da IgE remanescente ao receptor nos mastócitos. O nome comercial é Xolair®. É um medicamento de alto custo, porém boa efetividade. A administração é parenteral subcutânea, a cada 2 a 4 semanas. RINOSSINUSITES (RINITE E SINUSITE) Rinite: é definida clinicamente por um distúrbio sintomático do nariz, induzido por inflamação da mucosa nasal mediada por IgE, após exposição à alérgenos. É caracterizada por edema de mucosa nasal, rinorreia, secreções na mucosa nasal. Está associada a outras doenças alérgicas, como conjuntivite, asma e doenças infecciosas (sinusites, amigdalites). Para o tratamento da rinite, devem-se utilizar medicamentos vasoconstritores que inibem a formação de edema, exercendo efeito de descongestionante nasal (alivia sintomas). A diminuição do processo inflamatório, por sua vez, será produzida pelo uso de corticoides de via nasal ou inalatório. Tratamento não farmacológico • Repouso • Ingestão de líquidos • Evitar tabaco Tratamento farmacológico Geovana Sanches - TXXIV • Descongestionante nasal • Anti-histamínico H1 • Anti-inflamatório, sobretudo glicocorticoides DESCONGESTIONANTES NASAIS Agonistas α1 adrenérgicos Uso tópico Ativam receptores α1 dos vasos sanguíneos fazendo vasoconstrição → diminui extravasamento de líquido para o interstício → diminui formação de edema → efeito descongestionante. • Nafazolina (Sorine®, Neosoro®, Naridrin®) • Oximetazolina (Aturgyl®) Uso oral • Fenilefrina (VO) Está contida em alguns antigripais. Também disponível em outras vias de administração, além da via oral. ANTI-HISTAMÍNICOS Os anti-histamínicos são substâncias que bloqueiam os receptores de histamina (H1, H2), prevenindo os efeitos da histamina sobre os tecidos. Eles reduzem a broncoconstrição, dilatação vascular, edema e aumento de permeabilidade capilar. Indivíduo em contato um alérgeno → sinalização de IgE → se liga nos mastócitos → degranulação dos mastócitos → liberação de vários mediadores inflamatórios, sobretudo histamina → receptor H1 na parede dos vasos sanguíneos → vasodilatação → ativação/retração das células endoteliais → aumento das moléculas de adesão nas células endoteliais → extravasamento de líquido para interstício → edema → congestão. Também há receptores H1 em algumas regiões cerebrais e, a histamina, ao ativar esses receptores em algumas regiões, promove vigília. Sendo assim, os anti-histamínicos promovem depressão do SNC e sedação. Anti-histamínicos antagonistas de receptores H1 Reduzem os efeitos vasculares da histamina ; causam vasoconstrição e reduzem o extravasamento vascular. Eles são classificados em: • 1ª geração: Dexclorfeniramina (Polaramine®), prometazina (Fenergan®). São bastante lipossolúveis, passando facilmente pela barreira hematoencefálica à bloqueiam os receptores H1 de histamina relacionados com a vigília, causando sonolência (sedação) e dificuldade de concentração. Seu início de ação é rápido, mas a resposta farmacológica é curta. • 2ª geração: loratadina (Claritin®), fexofenadina (Allegra®), levocetirizina (Zyxem®). São menos lipossolúveis, tendo sua passagem pela BHE dificultada (menor sonolência). Além disso, foi localizada uma glicoproteína P na BHE que realiza efluxo de anti-histamínicos de 2ª geração. O início de ação é mais lento, mas a resposta farmacológica é mais duradora. FARMACOTERAPIA DA TOSSE A tosse é caracterizada por uma expiração explosiva. Constitui um mecanismo fisiológico de defesa e que tem por objetivo limpar a árvore traqueobrônquica de secreções e corpo estranho. É considerada aguda quando dura menos que 3 semanas, e crônica quando dura mais que isso. Além disso, pode ser classificada como tosse seca ou tosse produtiva (quando há produção de muco além do fisiológico). Os fatores desencadeantes podem ser divididos entre irritantes e exógenos (fumo, poeira, corpos estranhos,medicamentos) ou irritantes e endógenos (secreções das vias aéreas, conteúdo gástrico). A tosse produtiva pode ser ocasionada por: tabagismo, infecções (bacterianas, fúngicas, virais), reações inflamatórias e alérgicas (rinite, asma), poluição, corpos estranhos, excesso de humidade. A característica da secreção expelida durante a tosse é importante para o diagnóstico: • Clara, translúcida: fisiológica • Abundante, branca, mucoide: bronquite crônica, asma • Esverdeada/acastanhada: infecção bacteriana • Cheiro fétido: infecção por anaeróbios • Rançosa: pneumonia pneumocócica • Rosada: edema pulmonar • Abundante em camadas: bronquiectasia • Sangue: tuberculose, embolia pulmonar, carcinoma Farmacoterapia da tosse seca Antitussígenos de ação central à Narcótico: codeína, morfina. São medicamentos altamente potentes, capazes de inibir o centro da tosse. à Não narcóticos: dropropizina, clobutinol, difenidramina, dextrometorfano. Geovana Sanches - TXXIV A dropropizina é capaz de bloquear a atividade dos receptores periféricos da tosse e também tem ação anti-histamínica. Ela diminui a sensibilidade das vias aferentes, de forma que quando a informação chega ao centro da tosse, ela não tem força o suficiente para estimulá-lo. O clobutinol e o dextrometorfano são capazes de bloquear o centro da tosse, impedindo que as vias aferentes vagais consigam estimular o centro. Antitússicos de ação periférica à Demulcentes: mel, gomas, mucilagens, óleos etéreos (como a essência de eucalipto). Elas criam uma camada fina de revestimento entre a luz do sistema respiratório e a mucosa, promovendo o isolamento das terminações vagais aferentes. à Anestésicos locais: benzocaína, tetracaína, cepacaína. Eles promovem anestesia na região da orofaringe, impedindo que as terminações vagais propaguem a informação até o centro da tosse. à Anti-histamínicos: clorfeniramina, loratidina dexclofeniramina, desloratidina. à AIEs: são utilizados em situações mais severas, quando os demais medicamentos não funcionam. Eles reduzem a atividade do sistema imunológico.Exemplos: dexametasona, betametasona, beclometasona, prednisona e prednisolona. Tratamento não farmacológico É recomendado a inalação ou uso de humidificadores para humidificação das vias aéreas. Caso o paciente não tenha condições financeiras para tal, basta que seja colocado um pano molhado no chão do cômodo, o qual deixará a humidade do ar maior. Farmacologia da tosse produtiva: mucolíticos, fluidificantes e expectorantes Mucolíticos São agentes que reduzem a viscosidade das secreções (muco ou escarro), contribuindo para sua remoção. Os mais usados são a acetilcisteína, ambroxol e bromexina. Eles quebram pontes de sulfeto na mucina, aumentando a fluidez e diminuindo a viscosidade do muco → movimento ciliar auxilia na eliminação do muco. Expectorantes Agentes que estimulam os mecanismos de expulsão das secreções. Não devem ser utilizados em conjunto com antitussígenos. Apesar da sua ampla aceitação pela população leiga, seu benefício clínico não está claramente estabelecido e sua utilidade é questionada. Exemplos: Iodeto de potássio, Guaifenesina. Classificação de fármacos mucoativos 1. Indutores da secreção reflexa • Iodeto de potássio o Age sobre as terminações nervosas parassimpáticas do estômago, promovendo aumento reflexo da secreção salivar, nasal, lacrimal e traqueobrônquica. Realiza potencialização das proteases e estimulação da atividade ciliar. o Principais efeitos adversos: náuseas, vômitos, anorexia; gosto metálico na boca; edema de glândula salivar; erupções cutâneas. Disfunção da tireóide e reação alérgica ao iodo. • Guaifenesina e Ipecacuanha o Irritante gástrico, ação direta sobre as terminações parassimpáticas. o Efeitos adversos: náuseas, vômitos e anorexia. Inibição da adesão plaquetária, podendo ocorrer sangramentos. 2. Modificadores das características físico- químicas das secreções Interagem (quebram) com as pontes de dissulfeto de mucoproteínas, aumentando a fluidez do muco. São utilizados por nebulização, via oral ou IM. • Acetilcisteína o Potente antioxidante, sendo utilizada em intoxicações por Paracetamol. • Sobrerol 3. Estimuladores da atividade secretora das glândulas mucosas • Bromexina o Promove liberação de enzimas lisossomais das células secretoras de muco (pneumócitos II). o Estímulo dos pneumócitos para que os mesmos possam produzir mais muco e enzimas que digerem o muco espesso. o É bem tolerado, podendo ocorrer diarreia esporadicamente. • Ambroxol Geovana Sanches - TXXIV 4. Promotores de transporte do muco • Agonistas β2 -AR: salbutamol, terbutalina o Potencialização da atividade ciliar o Efeitos adversos: taquicardia, elevação da PA, agitação, tremores, elevação dos valores glicêmicos 5. Inibidores da atividade dos pneumócitos II • Antagonistas MAch: brometo de ipratrópio. o Inibe os estímulos da Ach sobre os receptores M3. o Efeitos adversos: taquicardia, boca seca, agitação, ansiedade, midríase. Surfactante para tratamento de síndrome da angústia respiratória Esses surfactantes são administrados com auxílio de cânula no interior do pulmão de recém natos imaturos. Exemplo: → beractanto. PRINCÍPIOS DE QUIMIOTERAPIA: ANTIMICROBIANOS Ao nos referirmos a quimioterapia há uma associação errônea com medicamentos para tratamento exclusivo de câncer. Entretanto, quimioterapia é o conceito utilizado para substâncias químicas que levam ou provocam algum dano a célula, independe de sua origem (célula humana, animal ou de algum microrganismo). Sendo assim, os quimioterápicos são divididos em duas categorias: à Ação antimicrobiana: substâncias empregadas para inibir o crescimento ou comprometer a viabilidade de células ou organismos microbiológicos (microscópicos). à Ação antineoplásica: substâncias empregadas para inibir a proliferação de células anormais localizadas no organismo hospedeiro, as quais são capazes de originar massas teciduais anormais e sem função para o hospedeiro. O objetivo de um agente quimioterápico é, portanto, ser um fármaco empregado na terapia farmacológica antimicrobiana ou antineoplásica, apresentando toxicidade seletiva. Ele pode promover inibição de vias ou de alvos que são críticos para a sobrevida e a replicação de patógenos ou de células cancerosas, em concentrações do fármaco abaixo daquelas necessárias para afetar as vias do hospedeiro. Sendo assim, o agente quimioterápico poderá atuar em três principais mecanismos: (1) alvos exclusivos do patógeno ou da célula cancerosa que não estão presentes no hospedeiro. Exemplo: inibidor da síntese da parede celular bacteriana; (2) alvos presentes no patógeno ou na célula cancerosa que são semelhantes, mas não idênticos aos do hospedeiro. Exemplo: inibidor da diidrofolato redutase (DHFR)- todas as células precisam dessa enzima para o processo de replicação gênica, mas dependendo do tipo de microrganismo pode haver pequenas diferenças na expressão gênicas da enzima; (3) alvos no patógeno ou na célula cancerosa que são compartilhados com o hospedeiro, mas que variam quanto à sua importância entre o patógeno e o hospedeiro, conferindo, assim, uma seletividade maior para a célula-alvo. Exemplo: 5- Fluoruracila: introdução de flúor na uracila, a qual inviabiliza a síntese de ácidos nucleicos. FARMACOLOGIA DOS ANTIMICROBIANOS Antimicrobianos são substâncias químicas que exercem ação seletiva sobre micro- organismos. Não são sinônimo de antibióticos, sendo esses uma classe de antimicrobianos. Os antibióticos são substâncias de origem natural, que tem a função de ser “contrário à vida”. Foram descritos como: “processo natural de seleção pelo qual um ser vivo destrói outro para assegurar sua própria sobrevivência” (Vuillemin, 1889). Antibióticos X Antimicrobianos Os antibióticos são metabólitosmicrobianos ou análogos sintéticos capazes de inibir processos vitais de outros organismos, mesmo em concentrações diminutas, sem causar toxicidade elevada ao hospedeiro. Agentes antimicrobianos englobam as substâncias sintéticas não relacionadas à produtos naturais capazes de inibir ou destruir o crescimento microbiano. Tipos de antimicrobianos Os antimicrobianos podem ser classificados de acordo com seu principal alvo microbiológico. Assim, temos fármacos: antibacterianos, antivirais, antifúngicos, antiprotozoários, antihelmínticos e anti- trematódeos. Principais características dos antimicrobianos Toxicidade seletiva O antimicrobiano deve ter alta toxicidade para o agente infeccioso, além de baixa toxicidade ao hospedeiro. Geovana Sanches - TXXIV Espectro de ação Ele deve apresentar amplo espectro de ação para combater o máximo de microrganismos. Quanto à estrutura química e origem 1. Beta-lactâmicos: penicilinas, cefalosporinas 2. Sulfonamidas e drogas relacionadas: sulfametoxazol 3. Fluorquinolonas: norfloxacino, floxaxina 4. Tetraciclinas: doxaciclina 5. Derivados do nitrobenzeno: cloranfenicol 6. Aminoglicosídeos: gentamicina 7. Macrolídeos: eritromicina, azitromicina 8. Polipeptídeos: polimixina B 9. Glicopeptídeos: vancomicina 10. Poliênicos: anfotericina B Quanto ao mecanismo de ação Quanto ao modo de ação, os agentes antimicrobianos podem ser classificados como agentes “cidas” (bactericida) ou “staticos” (bacteriostático). Vale lembrar que todo cida é capaz de matar imediatamente o agente biológico, enquanto os staticos são capazes de inibir a replicação/crescimento do agente microbiológico. Os bactericidas podem promover destruição dependente da concentração (como aminoglicosídios e quinolonas) ou dependente do tempo (como beta-lactâmicos e vancomicina). Os bacteriostáticos devem ser evitados em pacientes imunocomprometidos, tendo em vista que essa substância inibe apenas a replicação do microrganismo e, consequentemente, o organismo quem deverá combater o agente infeccioso. Sendo o organismo do indivíduo comprometido, seu sistema imunológico não tem essa capacidade e o medicamento se torna ineficaz. Além disso, podem ser classificados de acordo com o mecanismo de ação, podendo atuar em: 1. Síntese de parede celular: Beta-lactâmicos, vancomicina, isoniazida. 2. Síntese da membrana celular 3. Replicação do DNA: quinolonas, metronidazol 4. Síntese de RNA: rifampicina 5. Síntese de proteínas: podem atuar tanto na região 30S do ribossomo (aminoglicosídeos, tetraciclinas) ou na região 50S (cloranfenicol, macrolídeos). 6. Antimetabólicos: comprometem vias metabólicas específicas: sulfonamidas, dapsona, trimetoprim. Critérios que orientam a escolha Existe uma gama muito grande de antimicrobianos que podem ser utilizados. Dessa forma, a escolha deve ser orientada a partir do diagnóstico da infecção (achados clínicos), além da identificação do patógeno causados da doença e conhecimento da prevalência dos micro- organismos causadores do processo infeccioso. Para identificar qual o agente etiológico em questão é necessário a cultura com isolamento do mesmo. Após esse processo, pode-se fazer o antibiograma, sorologia ou utilizar técnicas da biologia molecular. O agente etiológico deve ser isolado em todas as infecções hospitalares. Além disso, deve-se levar em consideração a eficácia (espectro de ação do antimicrobiano); capacidade de atingir o sítio/local da infecção (como por exemplo, a penetração da droga no líquido cefalorraquidiano para tratamento de meningite ou nos ossos para uma infecção óssea - > o medicamento deve ter a capacidade de chegar a esses tecidos); segurança terapêutica (diminuição dos efeitos adversos e tóxicos); comodidade de administração e custo -> via de administração, dose, intervalos e duração do tratamento. Quanto as doses necessárias, deve-se analisar a potência ou concentração inibitória mínima (MIC) do antimicrobiano, a qual representa qual a concentração necessária para inibir o crescimento do microrganismo. Quanto menos a MIC, maior a potência e, quanto maior a potência, maior a dificuldade da bactéria em desenvolver resistência. Considerar, ainda, a necessidade de fármacos adjuvantes para melhora da eficácia. Exemplos: probenicida (aumenta o tempo de meia-vida da penicilina), ácido clavulânico (protege a ação de beta-lactamicos contra beta- lactamases). Situações clínicas especiais do hospedeiro: idade, gravidez, lactação, insuficiência hepática ou Geovana Sanches - TXXIV renal, história prévia de hipersensibilidade, assepsia de material purulento ou corpo estranho. Objetivos da antibioticoterapia Os principais objetivos da antibioticoterapia são a eficácia clínica, com melhora dos sinais e sintomas o mais rápido possível e com a maior segurança; prevenção de complicações agudas e sequelas futuras; e erradicação do agente infeccioso. Terapia antimicrobiana ideal Agente antimicrobiano único e específico Deve ter resposta eficiente, baixa MIC e baixa toxicidade; diminui a presença de microrganismos resistentes. Quando se conhece a etiologia da doença, deve-se prescrever sempre drogas de menor espectro e maior potência. A meningococcemia, por exemplo, é uma infecção muito grave, mas não há necessidade de ampliar o espectro antimicrobiano, mas sim intensificar sua potência utilizando a penicilina G cristalina por via parenteral em altas doses. Terapia antimicrobiana empírica A seleção do antimicrobiano é, nesse caso, baseada em achados clínicos, sem a identificação do microrganismo ou sensibilidade do fármaco (antibiograma). Orientações: estabelecer o diagnóstico clínico da infecção microbiana; obter amostras para exame laboratorial; formular um provável diagnóstico microbiológico; instituir o tratamento, utilizando antimicrobianos de amplo espectro. Isso é utilizado principalmente na urgência, para infecções que possuem estatísticas bem definidas, como por exemplo: Infecção Principais agentes Faringite Estreptococos do grupo A Bronquite, otite H. influenzae, S. pneumoniae, M. catarrhalis. Sinusite aguda S. pneumoniae, H. influenzar; M. catarrhalis Sinusite crônica Anaeróbios, S. aureus (bem como os suspeitos da aguda) Terapia profilática É baseada na prevenção de infecções em pacientes que estão em situações de risco. Por exemplo: à Extração dentária: prevenção de colonização de válvulas cardíacas. à Prevenção de tuberculose ou meningite, caso haja contato direto com pacientes infectados. à Pré-operatório, como em cirurgia de bexiga, substituição de articulação, cesariana. Avaliação do efeito da antibioticoterapia Para avaliarmos se o antibiótico escolhido está promovendo sua ação adequadamente, deve-se analisar a resposta clínica e laboratorial em 48 a 72 horas: curva febril; leucograma (deve haver regressão para os valores normais); sinais clínicos específicos para cada tipo de infecção; desaparecimento dos infiltrados radiográficos (como por exemplo um raio-X de tórax para identificação de pneumonia); novas culturas. A duração da terapia é muito importante, tendo em vista que ela depende do patógeno, local da infecção, antimicrobiano utilizado e fatores do hospedeiro. Deve-se avaliar ainda a resistência a agentes antimicrobianos, na qual o medicamento não produzirá efeito sobre a infecção. Essa resistência pode ser natural ou adquirida. Pode ocorrer a partir de mutações do DNA (gene mutante à proteína diferente à bactéria com características diferentes) por transmissão vertical (transferência de genes para células filhas) ou horizontal (transferência de genes de um micro-organismo resistente ao outro, por exemplo através dos plasmídeos). Além disso, pode haver seleção por antibioticoterapia, situação na qual a infecção tem cepas de bactéria sensíveis e não-sensíveis ao antibiótico. Apartir do uso do medicamento, há morte das sensíveis e proliferação das resistentes. Mecanismos de resistência Redução da concentração intracelular do fármaco à Produção de enzimas hidrolíticas, como as beta-lactamases (degradam penicilinas). à Bomba de efluxo: transportadores ativos da membrana, que transportam antimicrobiano para fora da célula. Exemplos: P- Geovana Sanches - TXXIV Glicoproteína e MDR (Sistemas de resistência a múltiplas drogas). Alteração do alvo A bactéria pode reprogramar ou camuflar os alvos dos fármacos. Um exemplo é o enterococo resistente a vancomicina, o qual promove uma alteração da sequência terminal normal de D-Ala-D-Ala por D-Ala-D-lactato; com isso, há redução de 1000x a afinidade de ligação da vancomicina. Obs.: S. aureus associado a infecções hematogênicas hospitalares graves são resistentes a quase todos os antimicrobianos disponíveis (penicilinas, cefalosporinas, cloranfenicol, ácido fusífico, trimetroprima, rifampicina, norfloxacino ciprofloxacino). Associação de fármacos antimicrobianos Quando os mecanismos de resistências estão bem instalados, algumas vezes são necessárias associações de fármacos antimicrobianos. Alguns casos de necessidade são: pacientes graves; infecções polimicrobianas (como abcessos intra-abdominais); diminuir o aparecimento ou seleção de cepas resistentes; utilizar doses menores dos antimicrobianos, afim de reduzir a toxicidade de pelo menos um deles; aumentar a capacidade de inibição ou destruição dos microrganismos; sinergismo; reduzir a capacidade do microrganismo em desenvolver resistência (como na TB, na qual utiliza-se uma associação de 4 antimicrobianos). Nesses casos, os principais riscos são o aumento da toxicidade e custos, além da redução da eficácia (antagonismo farmacológico). Mecanismos de sinergismo à Bloqueio de etapas sucessivas numa sequência metabólica: Trimetoprima + sulfametoxazol à Inibição da inativação enzimática: Beta- lactamicos + sulbactam ou clanulonato ou tazobactam à Aumento da captação do fármaco antimicrobiano: agentes ativos contra a parede celular (beta-lactâmicos) + aminoglicosídeos Mecanismos de antagonismo à Inibição da atividade bactericida por agente bacteriostático: tetraciclinas ou cloranfenicol + beta-lactâmicos à Fármacos que atuam sobre a parede celular precisam que a bactéria esteja ativamente crescendo e se multiplicando Proposta Anvisa para uso racional de antibióticos na comunidade Exigência de receita de controle especial em 2 vias (modelo C1). Apresentação e retenção de uma via da receita no ato da dispensação. Dizeres de rotulagem e bula devem apresentar a seguinte frase: “venda sob prescrição médica – só pode ser vendido com retenção da receita”. Controle eletrônico da movimentação (entradas e saídas) de antibióticos nas farmácias e drogarias do setor privado no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados – SNGPC. ANTIMICROBIANOS INIBIDORES DA SÍNTESE DA PAREDE CELULAR São eles: beta-lactâmicos, vancomicina e teicoplanina, bacitracina, isonizadia (específico para M. tuberculosis). BETA-LACTÂMICOS Os beta-lactâmicos são antimicrobianos que atuam comprometendo a síntese da parede celular. Essa classe é composta por: penicilinas, cefalosporinas, carbapenemicos, monobactâmicos, além dos inibidores de beta- lactamase. Todos eles possuem em sua estrutura o anel beta-lactâmico, o qual os confere a característica bactericida à responsável por inibir a enzima de transpeptidação e a síntese do peptideoglicano. As enzimas betalactamases tem como função a clivagem da ligação que contém o nitrogênio e o oxigênio no anel beta-lactâmico, fazendo com que o fármaco perca sua ação. Para tentar evitar esse ataque, podem ser associados os inibidores de beta-lactamases (principalmente as Geovana Sanches - TXXIV penicilinas), como o ácido clavulânico e o sulbactam. Essas moléculas também possuem o anel beta-lactâmico em sua estrutura molecular, mas são mais simples facilitando o ataque das enzimas e, assim, reduzindo o ataque ao antimicrobiano original. PENICILINAS A penicilina foi descoberta em 1928 por Fleming e, a partir de 1941, iniciou-se o seu uso para fins terapêuticos. Mais de 70 anos depois, essas drogas ainda como utilizadas como “centrais” no tratamento antimicrobiano de uma enorme variedade de infecções. As penicilinas podem ser divididas em cinco gerações. A primeira delas são as chamadas penicilinas naturais: penicilina G (primeira a comercializada, é sensível ao ácido clorídrico, não podendo ser administrada via oral; uso IM ou EV) e penicilina V (atualmente não é muito utilizada, mas pode ser administrada via oral) à são fármacos muito potentes para o combate de bactérias Gram-positivas. Alguns dos tipos disponíveis são: à Penicilina G cristalina: aquosa, solúvel, com ação rápida (3-6h), endovenoso. Utilizada para infecções graves, como meningite, pneumonia e endocardite. à Penicilina G procaína: é uma associação entre a cristalina e a benzatina, mas atualmente não é muito utilizada. Trata-se de uma suspensão, IM, com duração de aproximadamente 24h; é mais alergênica. Utilizada nas pneumonias, infecções de pele (erisipela, celulite) e em algumas situações de artrite reumatoide. à Penicilina G benzatina: o radical benzatil origina um composto insolúvel em água, fazendo um depósito. É aplicada via IM e não se pode fazer compressas quentes ou frias no local, a não ser que haja dor intensa -> utilizar compressa morna, por curto tempo. Ela mantém concentrações plasmáticas por 3 semanas. Usos: faringite causada por estreptococo, profilaxia da infecção estreptocócica em crianças que tiveram doença reumática, tratamento de sífilis primária, secundária e latente (é um dos melhores medicamentos para essa doença). Outra classe são as penicilinas penicilinase- resistente, as quais também são potentes contra bactérias Gram-positivas. A mais utilizada é a meticilina (IM e EV, com espectro estreito), seguida pela oxacilina (VO, IM e EV, com espectro estreito). Há ainda as penicilinas de espectro ampliado, as quais são mais hidrossolúveis e passam pelos poros das bactérias Gram-negativas. Apesar disso, são sensíveis as beta-lactamases. As mais utilizadas são a Ampicilina (VO, IM e EV), Amoxicilina (VO) e Carbenicilina (IM e EV). Penicilinas semi-sintéticas (penicilinas + radicais adicionados) A oxacilina é uma isoxazolilpenicilina. A ampicilina e a amoxicilina são aminopenicilinas. A piperaciclina é uma ureidopenicilina. A carbenicilina é uma carboxipenicilina. Principais usos das penicilinas As penicilinas são amplamente indicadas para o tratamento de: à Sífilis e gonorreia à Pneumonia pneumocócica: principal causa de pneumonias em todos os grupos etários. Uso da amoxicilina à Meningites bacterianas: benzil-penicilina cristalina em altas doses à Faringites e otites: amoxicilina à Infecções do trato urinário: principalmente amoxicilina, mas é extremamente dependente do agente infeccioso envolvido à Infecções graves por Pseudomonas aeruginosas: ticarcilina e piperacilina à Infecções ósseas e de articulações à Infecções de pele e tecidos moles Farmacocinética Absorção: é variável no trato gastrointestinal. Algumas não são disponíveis para via oral (oxacilina e penicilina G), pois são destruídas pelo suco gástrico. A amoxicilina é muito absorvida quando administrada por via oral. Distribuição da droga: geralmente se ligam as proteínas séricas, mas sem efeito prático. Alcançam nível terapêutico na maioria dos tecidos, mas não penetram na célula e, portanto, não tem ação sobre patógenos intracelulares. Atravessam placenta, cavidade pleural e pericárdica, bile, salive e leite (apesar disso, não alteram significativamente a microbiota do lactente). Há menor concentração na próstata, SNC, fluido intraocular (pode melhorar em processoinflamatório). Excreção: geralmente é renal (70% por filtração glomerular e 30% por secreção tubular) e costumam ter meia-vida curta. Geovana Sanches - TXXIV Beta-lactâmicos x Gestação Tendo em vista que esses fármacos atravessam a barreira placentária, há um grau de risco, mas este é considerado em categoria B: estudos animais (com risco) porém sem evidência de risco em humanos. Sendo assim, as penicilinas podem ser utilizadas em gestantes. Efeitos adversos à Hipersensibilidade: atinge cerca de 7% da população, sendo muito comum em crianças. Ocorre devido ao reconhecimento dos antimicrobianos pelos anticorpos quando eles estão ligados às proteínas transportadoras. Apresenta-se como febre, doença do soro, vasculite cutânea, nefrite intersticial, entre outras. à Diarreia: é um antimicrobiano altamente irritativo para a mucosa intestinal, além de promover desarranjo na microbiota à Neurotoxicidade: alucinações, irritabilidade e convulsões quando administrados intratecalmente, EV em altas doses ou em pacientes epilépticos. à Alterações hematológicas: diminuição da série vermelha e branca, podendo causar anemia hemolítica e leucopenia transitória. à Nefrite intersticial aguda: é rara e está associada a altas doses, tendo em vista que as penicilinas são nefrotóxicas. Mecanismo de ação As penicilinas se ligam às PBP , impedindo que o peptideoglicano origine as pontes cruzadas e, consequentemente, forme a parede celular bacteriana. Elas também promovem o aumento da indução da expressão gênica de enzimas autolíticas, as quais são responsáveis por quebrar a parede celular já existente. Sendo assim, são medicamentos bactericidas. Os mecanismos de resistência bacteriana são a produção de enzimas inativadoras (beta lactamases) e a modificação da estrutura das PBP, impedindo a ligação do antibiótico. Interações medicamentosas Anticoncepcionais orais: tanto por via oral, como por parenteral. É possível diminuição do efeito contraceptivo, pois as penicilinas alteram o ciclo entero-hepático. Deve ser administrado com precaução. Anticoagulantes orais: aumento do efeito anticoagulante, pois pode ocorrer redução da disponibilidade de vitamina K sintetizada e liberada pela microbiota intestinal. Beta-bloqueadores: há risco de taquicardia, já que ocorre redução da absorção gastrointestinal destes medicamentos. AINE: ocorre possível aumento dos efeitos tóxicos de ambos os fármacos, devido a competição por sítios de união em proteínas plasmáticas. Antibióticos macrolídeos: antagonismo do efeito bactericida das penicilinas pela ação bacteriostática dos macrolídeos (efeito antagônico farmacodinâmico). É recomendado administrar a penicilina algumas horas antes da administração do antibiótico macrolídeo. INIBIDORES DE BETA-LACTAMASES A fim de contornar o mecanismo de resistência, é possível associar alguns medicamentos. O ácido clavulânico tem estrutura semelhante ao anel beta-lactâmico, sendo assim, vai atuar como falso substrato, inibindo a enzima beta-lactamase e a penicilina consegue atuar adequadamente. • Ácido clavulânico ou clavulanato • Sulbactam • Tazobactam O antimicrobiano para MRSA não funciona com inibidor de beta-lactamase, pois a resistência não se dá pela produção de beta-lactamase, mas sim, mudança de alvo de ligação. CEFALOSPORINAS As cefalosporinas são uma das classes dos beta-lactâmicos. Sua estrutura molecular é estreitamente semelhante às penicilinas e o mecanismo de ação é o mesmo: bloqueiam a atividade das PBP, impedindo a formação da parede celular bacteriana. São altamente resistentes às penicilinases. Entretanto, algumas bactérias produzem cefalosporinases, enzimas que destroem o núcleo cefalosporina. Sendo assim, é muito raro a associação de cefalosporinas com inibidores de beta-lactamases. Principais características à Drogas bactericidas: quando comparadas às penicilinas, as cefalosporinas são mais ativas. à Beta-lactâmicos semi-sintéticos à Mais resistestes às Beta-lactamases Propriedades farmacológicas Absorção: são hidrossolúveis, com apresentação oral e parenteral, tendo boa biodisponibilidade quando administrados por essas vias. Na via oral, são estáveis em meio ácido, Geovana Sanches - TXXIV de forma que os ésteres axetil, pivoxil e proxetil facilitam sua absorção. Apresentam baixa concentração intracelular, porém boa penetração SNC (principalmente as cefalosporinas de 3ª e 4ª geração). Excreção: é renal, com exceção da Ceftriaxona, a qual é excretada via biliar. Efeitos colaterais à Gastrointestinal à Tromboflebite: quando o fármaco é administrado via intravenosa. à Hipersensibilidade: pode ocorer especificamente com as cefalosporinas (1 a 2,5%), ou em reação cruzada com penicilinas (5 a 16%) à Hematológicas à Neurológicas Classificação 1ª geração Principais representantes: cefalotina, cefalexina, cefazolina, cefadroxila. São resistentes às beta-lactamases dos estafilococos Oxa-S, porém sensíveis as beta- lactamases de Gram negativos. Apresentam boa atividade antimicrobiana contra cocos Gram+ (com exceção dos enterococos, MRSA e S. epidermidis), porém atividade restrita sobre Gram- (Moraxella catarrhalis, Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e Proteus mirabilis). Possuem, ainda, atividade contra anaeróbios presentes na cavidade oral, com exceção de Bacterioides fragilis. Indicações mais comuns são para infecções de: pele, ITU não complicada e em gestantes, profilaxia cirúrgica (ceftazolina), tratamento ambulatorial após esquema parenteral e faringo- amigdalite. São utilizados, ainda, como 2ª escolha para estafilococos produtores de penicilinase. Não é recomendado para sinusite, otite média e pneumonia adquirida na comunidade (PAC), tendo em vista que tem pouca ação contra H. influenzae e M. catarrhalis. Esses fármacos apresentam categoria B na gestação. Por ser excretada pelo sistema urinário, é necessário ajuste de dose para pacientes com insuficiência renal e não há necessidade de ajuste para insuficiência hepática. 2ª geração Principais representantes: cefuroxima, cefoxitina, cefaclor, axetilcefuroxima. Possuem melhor espectro para Gram-, porém é reduzido para Gram+. O espectro se dá para cocos gram+ (menor que as de 1ª geração), cocos gram-, H. influenzae e M. catarrhalis, enterobactérias (E. coli, Klebsiella, P. mirabilis, Salmonella e Shigella), Bacterioides fragilis (cefoxitina). Não oferece cobertura para Pseudomonas. Indicações clínicas: à Infecções respiratórias: faringoamigdalite, otite média aguda, sinusite aguda, pneumonia comunitária – 2ª escolha. à Infecções de pele e subcutâneo: celulite sem porta de entrada; alternativa à co-amoxi (amoxicilina com ácido clavulônico) ou cefalexina. à Casos refratários: pneumococo penicilino- resistente (resistência intermediária) – uso de cefuroxima. à Infecções urinárias por bacilo Gram negativo entérico: indica-se a cefuroxima. Quanto a gestação, o grau de risco é B. É necessário ajuste na insuficiência renal, mas não na hepática. 3ª geração Principais representantes: ceftriaxona, cefotaxima, ceftazidima, cefixima... o maior conjunto está na 3ª geração, sendo cerca de 20 moléculas empregadas. Possui maior espectro contra Gram negativos, como: H. influenzae, M. catarrhalis, Neisseria spp, Citrobacter spp, Enterobacter ssp, Acinobacter spp, M. morganii, Serratia sp. Combatem também bactérias gram-positivas, mas com menor potência. Principais indicações (ceftriaxona e cefotaxima): tratamento empírico de meningoencefalites bacterianas, infecções pneumocócicas, DSTs, infecções intestinais e peritonite bacteriana espontânea. Em suspeita de infecção por Pseudomonas aeruginosa, o melhor fármaco é a ceftazidima. São medicamentos que se distribuem amplamente pelo SNC. A cefotaxima necessita de ajuste renal, porém não hepático. Por outro lado, a ceftriaxona
Compartilhar