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ANA LUISA ARRABAL DE ALMEIDA – VET160 -Degeneração: é uma lesão reversível secundária em que ocorre acúmulo de componentes no interior celular, mas que essa célula ainda se encontra viável. -Em condições normais, a célula se encontra em homeostasia. O estímulo por um agente agressivo pode estimular adaptação ou, a depender da sua natureza, intensidade, tempo de ação e capacidade de defesa pode induzir uma lesão celular. A capacidade de reversibilidade é caracterizada pelo retorno da célula à homeostasia. Um tempo prolongado ou intensidade grande caracteriza um processo irreversível. -Tipos de degeneração: -Degeneração hidrópica: ocorre acúmulo de água e eletrólitos no interior da célula. É a lesão não letal mais comum e causada por agentes físicos, químicos ou biológicos que alteram o equilíbrio hidroeletrolítico e levam a retenção de eletrólitos e água. O transporte de Na+ para o meio extracelular é feito por bombas eletrolíticas que dependem de energia, via ATP. A retenção desse íon no citosol resulta em acúmulo de água nas células e é a principal causa dessa degeneração. Essa situação pode ocorrer por: 1. Hipóxia (ou qualquer outro mecanismo que reduza a produção de ATP); 2. Hipertermia endógena ou exógena (febre) – aumento do consumo de ATP; 3. Agressões geradoras de radicais livres, que lesam membranas; 4. Substâncias que inibem o funcionamento da bomba de sódio e potássio. -Aspectos morfológicos: todas as células de uma região aumentam de volume, além de uma palidez aumentada do órgão como um todo. Na microscopia, as células apresentam um maior volume e estão hipocoradas (hematoxilina e eosina não tem afinidade com água). Fígado com degeneração hidrópica. Hepatócitos hidrópicos com citoplasma claro e núcleo central, circundando a veia centrolobular. Degeneração hidrópica em células hepáticas (maior aumento). -Degeneração gordurosa: acúmulo de gorduras neutras no citoplasma de células que não as armazenam. Pode também ser referida como esteatose hepática, já que essa condição ocorre principalmente no fígado. O processo é relacionado com o metabolismo lipídico, ocorrendo algum desbalanço, seja produção/captação excessiva, seja descarte inadequado. Os mecanismos da instalação da patologia estão intimamente relacionado à causa. -A dieta, por exemplo, pode ser pobre em proteína ou pobre em valor energético. A disponibilidade de aminoácidos e compostos nitrogenados disponíveis em uma dieta hipoproteica faz com que a fusão de lipídeos e proteínas (lipoproteína) não ocorra, sendo o primeiro se acumulando no interior celular. -Um valor calórico diminuído na dieta estimula o organismo a realizar lipólise (utilização da reserva corporal) – o excesso de lipídeo sendo consumido como forma de energia faz ocorrer o quadro de degeneração gordurosa. -Uma dieta rica em lipídeos estimula o processo de degeneração gordurosa, mas rápida e transitória, não sendo considerada uma causa para o quadro patológico. -Decréscimo da síntese proteica: lesões em retículo endoplasmático rugoso e ribossomos caracterizam essa deficiência proteica, sendo essas lesões causadas por álcool, toxinas e hipóxia. A conjugação de lipídeos e proteínas é afetada nesse mecanismo. -Diminuição da utilização de ácidos graxos (hipóxia) – faz com que haja desacoplamento dos ribossomos do retículo endoplasmático, além de que a síntese de ATP é comprometida. -Falha na liberação das lipoproteínas (LPLs) produzidas no hepatócito (pode ocorrer pela presença de toxinas no organismo). Normalmente, ocorre formação de apoproteínas e posteriormente lipoproteínas no complexo de Golgi, as quais serão evacuadas. Nesse caso, a movimentação de microtúbulos para evacuar a lipoproteína pode estar falha. -Aspectos morfológicos: -Macroscopicamente, observa-se aumento de volume do órgão e presença de coloração amarelada. -Microscopicamente, há acúmulo de gordura de forma vesicular. Esse acúmulo é caracterizado por movimentar as organelas para a periferia da célula. O processo histológico convencional remove a gordura presente e, portanto, infere-se que nesse local era gordura, mas não algo que é visualizável. O termo “anel de sinete” é utilizado para se referir ao afastamento do núcleo para a periferia. Acima e abaixo os hepatócitos com citoplasmas ocupados por grandes vacúolos claros que deslocam os núcleos para a periferia celular. Obs.: na degeneração hidrópica, o núcleo não é deslocado para a periferia celular. CORANTE: SUDAN III – utilizado para coloração de triglicerídeos. -Degeneração hialina: acúmulo de material proteico e acidófilo no interior celular. O nome dessa degeneração se refere ao aspecto morfológico da célula. Ocorre em células específicas, especialmente musculares devido à sua capacidade contrátil (possui grande quantidade de proteínas que se acumulam nessa patologia). Ocorre quando há lesões nas células, a partir da qual as proteínas coagulam. Um quadro viral também estimula o acúmulo de proteínas no interior celular (corpúsculo de inclusão – é um componente intracelular, necessitando análise minuciosa. Além disso, alguns vírus não fazem corpúsculo de inclusão e outros vírus fazem com uma frequência variada). Esse corpúsculo de inclusão pode estar dentro do núcleo ou no citoplasma. O corante shorr tem afinidade tintorial por proteínas, corando os corpúsculos em vermelho. Corpúsculos de inclusão dentro do citoplasma devido ao vírus da raiva. Cérebro de cão infectado pelo vírus da raiva – corante shorr. As regiões em vermelho são corpúsculos de inclusão, mais especificamente denominados corpúsculo de Negri – apenas o vírus da raiva produz uma inclusão exclusivamente no citoplasma. Corpúsculo de inclusão em cão com cinomose, lâmina do epitélio da bexiga. Corante Shorr. Degeneração e necrose hialina de células musculares esqueléticas de camundongo infectado com Trypanosoma cruzi. A célula possui um sarcoplasma homogêneo e muito acidófilo (a) e outras células estão fragmentadas (b). Aspecto histológico do fígado de cão com hepatite infecciosa canina mostrando hepatócitos com inclusões intranucleares cercadas por halo claro. As inclusões são cercadas por hepatócitos necróticos. -É caracterizada pelo acúmulo de glicogênio no interior da célula. Tem uma relação íntima com problemas genéticos que causam falha enzimática, tornando essa patologia pouco comum. -Diabetes: glicose é reabsorvida nos túbulos renais (todos os seus segmentos) e as células tubulares apresentam o aspecto de degeneração glicogênica. -Aspectos morfológicos: -Macroscopicamente: aumento de volume; -Microscopicamente: não difere da degeneração hidrópica (aumento de volume e célula hipocorada). Há um componente com afinidade tintorial pelo glicogênio, denominado PAS (coloração avermelhada ao interagir). Degeneração glicogênica hepática. Hepatócitos com citoplasma claro e vacuolado. A lâmina acima não foi obtida por PAS e, como o glicogênio é hidrossolúvel, dissolveu-se no fixador, que é aquoso. -A morte celular é uma sucessão de eventos, sendo às vezes difícil estabelecer qual é o fator que determina a irreversibilidade da lesão, ou seja, o ponto de não retorno. -Existem três tipos distintos de morte celular: necrose, apoptose e piroptose. -Tipo de morte celular que culmina em autólise (enzimas da própria célula degradando os componentes celulares). Os agentes etiológicos podem inicialmente causar uma lesão degenerativa que, caso persista, ocorre morte celular. A lesão dos lisossomos com liberação do seu conteúdo degrada a própria célula, o que caracterizaa autólise (todos os componentes celulares são atingidos por essas enzimas). Isso ocorre quando é interrompida a produção de energia e os lisossomos perdem a capacidade de conter as hidrolases. Obs.: o ponto de reversibilidade da célula é difícil de ser estimada. A tumefação de mitocôndrias é dita como um parâmetro para o ponto de não retorno. -Aspectos morfológicos a posteriori levam à conclusão da instalação de um processo de necrose – visto por alterações nucleares: • Picnose nuclear: núcleo reduzido em volume; • Cariólise: degradação completa do núcleo; • Cariorrexe: núcleo fragmentado. -A análise morfológica necessita ser criteriosa – um corte pode não apresentar núcleo, apesar da sua centralidade. -As causas da necrose são as mesmas que causam degeneração. Porém, existem causas diretas de necrose: 1. Disponibilidade de oxigênio: anóxia (por afogamento ou isquemia). Obs.: isquemia é uma alteração circulatória que se refere a um processo de perda de suprimento sanguíneo em uma determinada região ou tecido de um órgão. Pode ter como causa um tromboembolismo, compressões etc. 2. Físicos: frio, calor, trauma mecânico; 3. Químicos: toxinas, medicamentos, poluição, ácidos ou bases muito fortes; 4. Biológicos: patógenos; 5. Imunes: resposta autoimune. A defesa do organismo contra um componente dele mesmo causa inflamação constante, podendo chegar a necrose; 6. Nutricionais; 7. Envelhecimento. -Algumas células passam pelo processo natural de turn over. Os enterócitos, por exemplo, são constantemente substituído por novos naturalmente, o que não caracteriza um processo necrótico. -Tipos de necrose são caracterizados pelo aspecto morfológico da necrose, diferem também pelo agente etiológico: -Coagulação/ isquêmica: tem origem em um quadro isquêmico. -Macroscopicamente, depende do tipo de irrigação no órgão (irrigação pode ser colateral ou terminal). Órgãos de circulação terminal (rim, a porção inicial de órgãos endócrinos) em necrose tem um aspecto pálido e em órgãos de circulação colateral (pulmão) ocorre uma coloração mais avermelhada. -Microscopicamente, além das alterações nucleares, especialmente a cariólise, as células necrosadas apresentam citoplasma com aspecto de substância coagulada (o citoplasma torna-se acidófilo e granuloso). Obs.: aspecto necrótico em órgãos terminais nesse caso ficam com a periferia mais avermelhada em uma tentativa do órgão de suprir a necessidade sanguínea. Obs2.: arcabouço tissular – ocorre manutenção da estrutura básica do órgão na microscopia da necrose (vista na região à esquerda). -Caseosa (“caseo” = ”queijo”): aspecto amarelado e/ou esbranquiçada, homogênea e quebradiça (ressecado). Na microscopia, é caracterizado por ser acidófila e homogêneo. Tem relação com processos inflamatórios. Linfonodo peribronquial de bovino – tuberculose que desencadeou necrose caseosa. -Liquefativa: necrose em que a região adquire consistência mole, semifluida ou liquefeita. É causada por enzimas lisossômicas e sua gravidade depende do local (se for mais suscetível às enzimas lisossomais, a capacidade de degradação vai ser maior ou menor). Pode acontecer por inflamações piogênicas. Necrose liquefativa muscular e inflamação subcutânea em cão devido a flegmão provocado pela aplicação de injeção sem assepsia. -Necroses de sistema nervoso central sempre serão desse tipo, devido à sensibilidade desse tecido às enzimas lisossomais, já em outros locais vai depender da causa. É também comum na mucosa gástrica. Obs.: malácia – necrose do tecido nervoso que assume um aspecto de “mingau” devido ao alto teor lipídico. -Aspecto mais desejado da progressão. Nem sempre ocorre e depende de qual órgão foi afetado e qual foi intensidade. O coração é o que menos tem capacidade regenerativa, como o cérebro também. O fígado, em contrapartida, tem alta capacidade regenerativa. Na regeneração, restos celulares são reabsorvidos pela resposta inflamatória que se instala. Necrose seguida de regeneração. Necrose de hepatócitos centrolobulares em rato sacrificado 24 hora após receber dose subletal. A região de necrose (n), mais acidófila e já infiltrada por células fagocitárias, apresenta picnose e cariólise de hepatócitos. VC = veia centrolobular; EP = espaço portal. (B): Detalhe de A, mostrando hepatócitos em mitose (setas brancas), outros com cariomegalia, devido a poliploidia (setas amarelas), e outro binucleado (seta vermelha), indicando fenômenos de regeneração. Obs.: se a destruição é pequena e o estroma é pouco alterado, há regeneração completa, como ocorre no fígado após hepatites discretas. Se a necrose é extensa, a trama reticular sofre colapso, e os hepatócitos não conseguem organizar-se no lóbulo hepático e formam nódulos. -Depois da necrose, a região necrosada pode ser substituída por tecido conjuntivo fibroso/ cicatricial/ com fibroblastos. Acontece em órgãos sem capacidade regenerativa. -Ocorre deposição de sais de cálcio. Certos tipos de necrose tendem frequentemente à calcificação, como a necrose caseosa – frequentemente no centro da necrose por caseificação estão os cristais de sais presente como evolução do processo necrótico. -Se dá em situações que a necrose é muito extensa e os componentes imunitários não conseguem eliminar o tecido necrosado. O sistema imune começa a proliferar fibroblastos em volta da região para isolar o material necrótico que, com o tempo, começa a se liquefazer. Ou seja, ocorre quando o material necrótico não é absorvido por ser muito volumoso ou por causa de fatores que impedem a migração de leucócitos e a reação inflamatória com exsudação de fagócitos desenvolve-se somente na periferia da lesão. Esse fato causa proliferação conjuntiva e formação de uma cápsula que encista o tecido necrosado, o qual vai sendo absorvido lentamente, permanecendo em seu interior material progressivamente mais líquido. -Eliminação: ocorre quando a zona de necrose atinge a parede de uma estrutura canalicular que se comunica com o meio externo e, dessa forma, o material necrosado é lançado nessa estrutura e daí eliminado, originando uma cavidade. Pode ocorrer em órgãos tubulares e na pele. -Gangrena: ocorre quando o tecido necrótico sofre influência do meio externo (estruturas que não são do próprio corpo). Pode ser de 3 tipos: -Gangrena seca: ocorre em extremidades devido a desidratação. O tecido necrótico perde água pelo contato direto com o ambiente externo. É também chamada de mumificação. -Gangrena úmida: sofre interferência de microrganismos (bactérias anaeróbias) – especialmente no intestino. Pode levar o organismo ao óbito. -Gangrena gasosa: assemelha-se à gangrena úmida porque ocorre pela proliferação de bactérias anaeróbicas, sendo nesse caso especificamente do gênero Clostridium – no seu processo metabólico, ela produz muito gás. É quase invariavelmente fatal.