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102 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 Unidade II Unidade II 5 ÉTICA A finalidade deste item é estudar o objeto da ética, campo de atuação e relação com as outras ciências. O objetivo da ética é a investigação do comportamento moral dos homens em sociedade. Porém, os atos humanos diferem de acordo com o momento histórico e grupo social no qual estão inseridos. Nesse contexto, é possível classificar a ética em três grandes esferas: filosófica, religiosa e científica. No senso comum, as palavras ética e moral são usadas como sinônimos. Por possuírem a mesma base etimológica, justifica-se seu uso: ethos, em grego, significa hábito e costumes e mores, em latim, tem o mesmo significado, diferenciando-se, porém, na aplicação: enquanto a moral lida com os problemas do dia a dia, a ética os analisa de uma forma universal. Lisboa (2009) conceitua moral como conjunto das normas que, em determinado meio, tem a provação para o comportamento humano; já a ética é, para o autor, a expressão única do pensamento correto, conduzindo à ideia da universalidade da moral; a forma ideal universal do comportamento humano. Tanto a ética quanto a moral têm como fundamento o estudo do comportamento humano e sua maior diferença está em analisar os problemas e os conflitos que a vida em sociedade proporciona. O homem é um ser histórico e gregário. Histórico, porque faz e acompanha a história, e gregário, por necessitar, para sua própria sobrevivência, viver em sociedade. A história da humanidade nos remete a tempos em que os homens viviam em cavernas, mas sempre em grupo. Se a história é mutável, a sociedade também o é. O comportamento do homem em sociedade muda com a história. Novos hábitos são adquiridos e outros esquecidos. A ética está em constante mudança. Regras que eram seguidas num determinado período da história serviram para aquela época e, com a mudança de costumes, novas regras surgiram e continuarão surgindo de acordo com as necessidades humanas. A ética pode ser entendida como uma construção social do homem para com o homem, que busca estabelecer, por meio de normas de conduta, padrões de comportamento que garantam a convivência entre todos. O homem é um ser complexo, imprevisível, que, mesmo conhecendo todas as normas, a qualquer momento pode descumpri-las. Para inibir o não cumprimento dessas regras estabelecidas pelo e para o homem, sansões deverão ser predefinidas, caso contrário, conforme afirma Hobbes (2002), seria a luta de todos contra todos, o que provocaria o caos. 103 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Desse modo, o convívio social sempre estará à beira de conflitos e de problemas morais e éticos. Os problemas morais estão nas relações cotidianas dos indivíduos entre si, como exemplifica Vázquez (1996, p. 5): “Devo cumprir a promessa x que fiz ontem ao meu amigo y, embora hoje perceba que o cumprimento me causará certos prejuízos?”. Trata-se, portanto, de uma questão prática, que envolve relações efetivas entre indivíduos, e não entre toda a sociedade, como a construção de um viaduto, que exigiria a desapropriação de diversas moradias do local. A partir da reflexão do comportamento prático-moral nasce o pensamento filosófico, que sai da esfera individual e toma como base o comportamento humano universal. Surgem os problemas éticos, caracterizados pela sua generalidade – pelo coletivo. Os problemas éticos ou teóricos tornam-se o fundamento da ética. Em outros termos, ela se interessa pelo estudo do comportamento humano universal, cabendo à moral o estudo do comportamento individual. Para Vázquez (1996), a definição dos problemas éticos procura delimitar a essência ou traços essenciais do comportamento moral, uma vez que o problema da essência do ato moral remete à outra questão: a da responsabilidade. E, assim, completa o autor (1996, p. 8-9): Decidir e agir numa situação concreta é um problema prático-moral; mas investigar o modo pelo qual a responsabilidade moral se relaciona com a liberdade e com o determinismo ao qual nossos atos estão sujeitos é um problema teórico, cujo estudo é da competência da ética. Portanto, o estudo da ética está pautado pelo estudo dos problemas teóricos ou éticos, caracterizados pela generalidade, e não dos problemas do dia a dia ou problemas práticos, como são chamados. A linha que separa os problemas teóricos – objeto do estudo da ética – dos problemas práticos – objeto do estudo da moral – é tênue. Nesse sentido, as soluções de um acabam por influenciar as do outro. O desafio da ética está em permanecer no campo teórico, caso contrário, passaria a ditar normas de conduta – o que é certo ou errado, bom ou ruim. E, assim, estaria desvencilhando-se de seu objeto de estudo: o comportamento humano universal. É a partir das relações entre os homens e, conforme afirma Vázquez (1996), por meio do comportamento moral efetivo que se desenvolvem as doutrinas éticas, atendendo cada uma das épocas da história da humanidade. De acordo com o autor (1996, p. 235): Ética e história relacionam-se duplamente: a) com a vida social e, dentro desta, com as morais concretas que são um dos seis aspectos; b) com a sua história própria, já que cada doutrina está em conexão com as anteriores (tomando posição contra elas ou integrando alguns problemas e soluções precedentes), com as doutrinas posteriores (prolongando-se ou enriquecendo-se nelas). 104 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 Unidade II O pensamento filosófico ou racional nasce da ruptura do pensamento mitológico na Grécia Antiga entre o final do século VII e o início do século VI a.C. Toda explicação da realidade vivenciada pelo homem naquele momento que era dada pelos mitos – mythos – foi substituída pela razão ou logos (MATTAR, 1997). A filosofia nasce na Grécia Antiga a partir de uma conjuntura histórica. Mattar (1997, p.7) destaca que é a partir da “decadência da civilização dos aqueus, baseada em clãs, substituída lentamente pela polis (cidade-estado) grega, que o poder da palavra escrita passa a ser essencial”, e assim, gradativamente, os conceitos são substituídos. A explicação, por exemplo, do universo – kósmos –, que até então era dada pelos téos (deus, divindade), busca-se agora no próprio universo, ou seja, é a razão que passa a dar conta de tudo, substituindo-se a explicação divina – gonia – pela científica – logia. E assim nasce a filosofia, a busca do saber de todas as coisas, que obriga que a teogonia e a cosmogonia cedam seu lugar à cosmologia. Ou seja, conforme relatam Aranha e Martins (1986, p.13): [...] a crença na origem divina e mítica do mundo foi substituída pela busca da arché, do princípio material e também regulador da ordem do mundo. Essa busca da arché, do princípio ou fundamento das coisas, transformou-se na questão central para os filósofos pré-socráticos. Observação Mythos – significa dizer, conversar, contar, narrar, anunciar (um oráculo), designar, nomear, dizer a si mesmo, deliberar em si mesmo. Logos – reúne numa só palavra quatro sentidos: linguagem, pensamento ou razão, norma ou regra, ser ou realidade íntima de alguma coisa. Aqueus – os Aqueus foram os primeiros gregos a ocupar parte do Mediterrâneo. Eram um grupo seminômade de indo-europeus que, provavelmente devido a alterações climáticas na região de origem, migraram para onde se localiza a Grécia em busca de terras férteis por volta de 2000 a.C. Estabeleceram o reino no Peloponeso. Teogonia – termo formado por theos (deus) e gonia (origem, geração) designa a narração mítica do nascimento dos deuses. Relaciona-se com a cosmogonia. Cosmogonia – narrativas míticas sobre as origens e a formação do universo. Cosmologia – logos significa “estudo”, “razão”. Cosmologia é a explicação racional ounatural do mundo, em oposição às crenças míticas vigentes. 105 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL De acordo com os escritos, é o pensamento racional ou filosófico que busca, além da explicação da totalidade, também comandar as ações humanas, atribuindo ao homem, no lugar dos deuses, a responsabilidade por seu comportamento. Dentro da cronologia da história da humanidade, Vázquez (1996) destaca a ética grega (ou ética filosófica), a cristã medieval (ou ética religiosa) e a moderna e contemporânea (ou a ética científica). É a partir do nascimento da filosofia que o homem torna-se o centro de uma organização social – a polis (cidade-estado) – e é por ela responsável, tanto na construção quanto no bem-estar de todos, ou seja, o bem comum acima do individual, o público se sobrepõe ao privado. E esta manifestação só ocorre a partir do autoconhecimento, como defendia Sócrates, por meio dos escritos de Platão (seu discípulo). É o início de uma sociedade fundamentada na razão humana e princípio da ética grega, que por analogia ao corpo humano cria um estado-modelo que deveria possuir, assim como o homem, cabeça, peito e baixo-ventre, ou seja, governantes, sentinelas e trabalhadores. Em termos gerais, o homem é o fim em si. Os principais precursores da ética grega ou filosófica são: Sócrates, Platão e Aristóteles. Desse modo, como aponta Aguiar (2009a), Platão (leia-se também Sócrates) julgava que as partes da alma possuíam um ideal ou uma virtude que deveriam ser desenvolvidos para seu funcionamento perfeito. A razão deveria aspirar à sabedoria, a vontade deveria aspirar à coragem e os desejos deveriam ser controlados para atingir a temperança. Para constituir um indivíduo harmônico, deveria haver equilíbrio entre a razão (manifestada pela cabeça), a vontade (representada pelo peito) e o desejo (simbolizado pelo baixo-ventre), atingindo-se, portanto, a quarta virtude, a justiça. Assim, seria também o Estado, que só alcançaria a harmonia quando do equilíbrio manifestado pelos governantes, sentinelas e trabalhadores em benefício de todos, ou melhor, a justiça para todos. A ética aristotélica ou ética naturalista, por compreender a humanidade como parte da ordem natural do mundo (daí a não aceitação dessa teoria, principalmente pela Igreja Católica, por excluir Deus como criador do homem e de todas as coisas do universo), também defende que é o bem comum a origem da felicidade do homem. “Assim, o homem virtuoso é aquele capaz de deliberar e escolher o que é mais adequado para si e para os outros, movido por uma sabedoria prática em busca do equilíbrio entre o excesso e a escassez” (AGUIAR, 2009, p.15). A ética cristã medieval (ou a ética religiosa) é formada a partir “de um conjunto de verdades reveladas a respeito de Deus, das relações do homem com o seu criador e do modo de vida prática que o homem deve seguir para obter a salvação no outro mundo” (VÁZQUEZ, 1996, p. 243). Assim, as normas que regulamentam o comportamento humano visam seu bem-estar em outro mundo e não na polis, conforme determinava a ética grega. O homem deixa de ser o centro da organização e Deus toma seu lugar. O homem não é mais o fim em si, Deus é o fim. Por meio da figura de Jesus Cristo, como representação divina, a ética passa a tê-la como parâmetro. Ou seja, um Deus que se fez homem (ou vice-versa) torna-se referência de tudo o que se pode ou não fazer, e uma nova concepção de vida é instalada: a caridade, a responsabilidade pela salvação de si e do outro e também a liberdade, uma vez que todos são livres e iguais, porque são filhos do mesmo Deus e com direito à salvação vinda de Cristo. 106 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 Unidade II Assim, como aponta Aguiar (2009a), a liberdade e a autonomia cedem lugar ao conceito de dever, mas um dever de agir em conformidade com a vontade de Deus, não mais do homem, como defendiam os gregos. Para abordar a ética científica, Vázquez (1996) a divide em moderna e contemporânea. Seu propósito é identificar que a partir do momento que o homem passa a dominar a natureza, por meio da razão e da vontade representada pela ação, forma-se uma nova sociedade, voltada para o progresso científico. Uma nova ordem social torna-se necessária. Agora o homem também domina outro homem, resultando numa luta de classes, inevitável para este momento da sociedade. Aguiar (2009a) ressalta que o início da modernidade ocorre quando há um desencantamento do homem pelo mundo tal qual se organizava. Começa a ser possível a dominação da natureza pelo homem por meio de técnicas científicas; é a era da ciência que tudo pode provar e descobrir. A razão passa a dirigir a humanidade. Para Weber (1967), a partir da modernidade, o homem deixa de ser o fim (como defendiam os gregos) para se tornar o meio de ganhar dinheiro, ou seja, é a era científica que passa a dominar o mundo por meio do capitalismo instaurado a partir da Revolução Industrial (início do século XVIII). Na ética moderna o homem retoma seu lugar na organização social e vai além daquela proposta colocada pela ética grega: não é só dotado de razão, mas também da vontade que será realizada por meio da ação. O homem passa de contemplativo para mentor de suas ações. É o processo de separação daquilo que o unia na Idade Média. Segundo Vázquez (1996, p. 247), “a) a razão separa-se da fé (e a filosofia, da teologia); b) a natureza, de Deus (e as ciências naturais, dos pressupostos teológicos); c) Estado, da Igreja; e d) o homem, de Deus”. Enfim, as mudanças ocorrem nas ordens econômica, social, estatal e espiritual. Trata-se do nascimento de um novo homem, dotado não só de razão, mas, principalmente, de vontade concretizada na ação, o que o responsabiliza pelas suas escolhas. Talvez a maior contribuição para a construção de uma nova ética, exigida por essa sociedade que surge com um novo propósito, seja a liberdade do uso da razão e ao mesmo tempo a responsabilidade dirigida ao homem pelo resultado dessa ação. Aqui, é imprescindível que façamos referência à teoria do dever proposta por Kant (1724-1804). Como aponta Aguiar (2009a, p. 18), “o homem é livre, diz Kant, porque não está sujeito às leis físicas da natureza, sua virtude reside na ação ao mesmo tempo voltada para interesses individuais e universais”. Ou seja, o homem pode resistir às tendências naturais, por meio da razão e principalmente por esta ser livre. É o próprio homem quem comanda suas ações. Portanto, para Kant, na natureza há leis e, na ética, deveres. É pelo fato de sermos livres e de termos boa vontade (o que Kant denomina de resistência às tendências naturais), além da preocupação com o interesse geral, que há algo em nós que ordena uma resistência e até mesmo um combate contra a naturalidade ou animalidade que existe em nós. Ou seja, é a voz da razão que nos guia (AGUIAR, 2009a). De acordo com Pascal (1992), Kant denomina a voz da razão de imperativo categórico e explica: imperativo, porque não se pode subtrair a ele, não é um conselho, é uma determinação; e categórico, porque não se admite o contrário daquilo que está mandado, não é para se discutir, mas sim para acatar. 107 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL A ética kantiana nos leva a agir em conformidade com o bem comum e não de acordo com os nossos desejos; somos livres para dominar tais desejos. É a partir de uma sociedade pautada pela razão humana (a era do Iluminismo, o homem guiado pela razão) que surgem as mudanças. A ciência passa a comandar todas as áreas. Na economia, com o desenvolvimento científico, surgem as primeiras máquinas, provocando a Revolução Industrial. As fábricas substituem o trabalho artesanal, elevando a produção. Na ordem social, a burguesia surgecomo uma nova classe social. O poder econômico passa a deter o domínio da sociedade, deixando de lado a monarquia e o clero até então dominantes no período medieval. Na esfera estatal, o clero e a monarquia sem forças cedem espaço para o poder econômico. A ideologia dominante da Igreja Católica é também absorvida pelo poder econômico e a esfera espiritual deixa de ditar as normas de conduta aceitas no período medieval. Está no comando uma nova sociedade: a sociedade capitalista. A ética contemporânea surge a partir do novo sistema social advindo da sociedade moderna e contemplado por progressos técnico-científicos que, se por um lado trouxeram desenvolvimento às forças produtivas, por outro, colocaram a existência humana em jogo. Para esse novo sistema social, outro comportamento humano é exigido, outra ética torna-se necessária, no momento em que a razão passa ser direcionada para fins predeterminados que garantam a sobrevivência do sistema. Trata-se da razão instrumental apontada por Weber (1982) e Habermas (1988). A razão instrumental é uma técnica de dominação sobre a natureza, necessária para a sobrevivência do sistema capitalista. O homem passa de fim para meio, ou seja, é o sistema que deve prevalecer e não mais o homem. 6 A ÉTICA EMPRESARIAL, PROFISSIONAL E DO CONTADOR A ética, independente de sua aplicabilidade, segue um conjunto de normas preestabelecidas pelos seus agentes, a fim de promover e/ou garantir propósitos estabelecidos por uma sociedade. Em outras palavras, são as regras estabelecidas e acompanhadas por sanções que irão promover o alcance dos objetivos propostos por uma sociedade, ou seja, a busca do bem-estar desta coletividade. É entendido que as regras, as normas, são indispensáveis para quaisquer tipos de sociedade, quer seja formal ou não, caso contrário, a sociedade não se mantém, uma vez que interesses individuais poderão sobrepor-se aos coletivos. Segundo Abbagnano (1994, p. 912): [...] no sentido geral e fundamental: 1º campo de relações intersubjetivas, ou seja, das relações humanas de comunicação, portanto também: 2º a totalidade dos indivíduos entre os quais ocorrem essas relações; 3º um grupo de indivíduos entre os quais essas relações ocorrem em alguma forma condicionada ou determinada. 108 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 Unidade II É possível observar que as definições possuem designações comuns, por exemplo: interesse, atividade e normas. Lembrete Discutimos anteriormente que o contador atualmente é o centro dos interesses divergentes, ou seja, o contador precisa conhecer a saber lidar com os diferentes interesses (e também com expectativas e pressões) na empresa. No presente material, tratamos da sociedade empresarial, por conseguinte, da necessidade da construção e implantação de uma ética que venha contribuir para sobrevivência dessa sociedade. 6.1 A ética empresarial Srour (2005) inicia sua explanação sobre a ética nas organizações afirmando que toda organização depende de uma ética para a própria sobrevivência. É o cumprimento da ética imposta pelos próprios membros da organização que permitirá o alcance do objetivo determinado por essa organização. É possível afirmar que há dois tipos de normas e suas respectivas aplicabilidades em uma organização: as normas jurídicas e as normas morais. Enquanto as normas jurídicas são representadas pelas leis e regulamentos, as normas morais ditam o que é certo ou errado. No entanto, ambas regulamentam as relações sociais. As relações sociais só existem a partir dessas normas. Enquanto as normas morais exigem uma adesão ideológica, as jurídicas são impostas e, caso não sejam cumpridas, os agentes sociais sofrerão sanções externas. Ao observamos as normas morais, caso essas não sejam cumpridas, os agentes sociais igualmente não estarão isentos de penalidades, sofrendo coerções internas. Srour (2005, p. 270) assim as resume: “as normas morais são simbólicas e animam as relações de saber (hegemonia e conformidade); as normas jurídicas são políticas e expressam as relações de poder (dominação e sujeição)”. As palavras ética e moral sofreram, ao longo do tempo, modificações em sua aplicabilidade, embora etimologicamente as duas signifiquem costumes ou normas e regras utilizadas por um sociedade. A própria sociedade passou a utilizar tais palavras com finalidades diferentes, colocando a moral como normas individuais, enquanto a ética passou a atender a uma coletividade. A ética é uma ciência e seu objeto de estudo é a moral (a busca da melhor forma do agir coletivamente, aprovando ou não os costumes). A ética é construída a partir de um objetivo comum, independente de sua classificação: filosófica, religiosa ou científica. No caso da ética empresarial, sua base está na ética científica, ou seja, a ética construída a partir de interesses racionais focados num objetivo previamente estabelecido para esta sociedade – a sociedade empresarial. 109 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL A empresa, segundo Aguiar (2009a), necessita acima de tudo sobreviver. Assim, ações concretas precisam ser estabelecidas em conjunto com seus integrantes internos e externos. Citam-se os seguintes exemplos de ações éticas aplicadas pelos agentes empresariais: • Balanço social: é um relatório elaborado pela empresa para divulgar sua política de gestão de pessoas e suas aplicações no processo produtivo, bem como informar aos envolvidos, parceiros internos e externos, sua gestão social e ambiental, inclusive a implantação e/ou andamento de programas sociais e o retorno/resposta dos beneficiários do programa. • Cidadania: a empresa promove entre seus colaboradores (empregados, clientes, fornecedores) ações que promovam a cidadania e inclusão social, por exemplo: campanha de arrecadação de alimentos, fraldas e outros materiais de necessidades básicas, bem como sua entrega em creches ou orfanatos, ou em outras instituições do gênero. E ainda, como pessoa jurídica com participação da economia da sociedade por empregar pessoas e gerar tributos, tem um alcance maior junto ao poder público, interferindo de maneira benéfica junto a comunidades sem esse acesso. • Compromisso social: uma vez a empresa inserida na comunidade ao seu redor, o reconhecimento por parte dela é visível, por se tratar de interesses comuns: a empresa se desenvolve, bem como a população da qual geograficamente faz parte. • Códigos éticos de empresas: a função dos códigos de éticas elaborados pelas empresas é promover a igualdade entre seus participantes; independente do nível hierárquico exercido, todos devem seguir as regras de conduta estabelecidas pela empresa durante o período de trabalho. Por serem essas pessoas os maiores representantes da empresa, sua conduta reflete a da instituição, podendo, em caso negativo, comprometer a imagem da organização perante a sociedade. • Filantropia empresarial: trata-se de doações em espécie, feitas pelas empresas, às associações ou outras entidades sociais, sem o envolvimento com os projetos e/ou auxílios promovidos por essas organizações, chamadas de não governamentais (ONGs). A função da empresa, em termos gerais, é a de suprir as necessidades humanas por meio de produtos, bens ou serviços e fazer filantropia contribui com sua missão. • Governança corporativa: é o reconhecimento e a proteção dos direitos de todos os agentes que formam as empresas, ou seja, seus acionistas, trabalhadores, clientes, fornecedores, governo e comunidade. A transparência das informações, bem como as decisões tomadas pela empresa, incluindo o relacionamento com a sociedade, contribui para tornar a empresa apta ao acesso do capital externo ou captação de recursos por meio de negociação de ações em bolsa de valores. Modelos surgem a fim de medir a ética nas empresas. Aqui, toma-se como ilustraçãoo modelo desenvolvido pelo consultor norte americano Frank Navran, intitulado “Indicadores de Clima Ético nas Empresas”, que foi publicado na RAE, por meio de um artigo elaborado por Arruda (2000) com o mesmo título. A apresentação está condensada, porém sem comprometer o modelo em si. 110 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 Unidade II Quadro 31 – Indicadores de clima ético nas empresas Indicadores Medidas 1. Sistemas formais Regras e manuais? Sistemas de controle? 2. Mensuração Sistema de avaliação? 3. Liderança Políticas escritas e mensagens? 4. Negociação Acordos? 5. Expectativas Sistema de seleção, promoção e correção? 6. Consistência Palavras e ações da organização? 7. Chaves para o sucesso Lançamento de produto? Auxílio a um mentor? Experiência em posições-chave? 8. Serviço ao cliente Contato com clientes? Manifestação de cortesia? Treinamentos? 9. Comunicação Comunicação de regras? Informação, orientação e reforço? Esclarecimento de dúvidas? Rapidez, precisão e punição em relação ao cumprimento das normas? 10. Influência dos pares Sistema informal de comunicação e educação? Apoio dado aos colegas? Apoio recebido dos colegas? 11. Consciência ética Relações pessoais? Assédio sexual? Uso dos ativos da empresa? Pagamentos facilitadores? Fonte: Arruda (2000, p. 33). Indicador 1: Sistemas formais As regras são indispensáveis para o convívio social e a empresa constitui uma das organizações sociais. Logo, no modelo de Frank Navran, apontado por Arruda (2000, p. 29), estabelece-se que “os sistemas formais da organização correspondem aos métodos, às políticas e aos procedimentos que claramente identificam qual o negócio, quando, como, onde e por que ele se realiza”. Os sistemas formais permitem que os funcionários tenham uma expectativa correta sobre a empresa e o quanto deles será exigido, principalmente em termos de comportamento, caso contrário os funcionários ficariam totalmente dependentes de seus valores pessoais e do comportamento observado pelos outros. Assim, os sistemas formais padronizam o comportamento dos funcionários dentro da organização. 111 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Indicador 2: Mensuração Só implantar os sistemas formais não é suficiente para garantir o seu cumprimento. As pessoas, como relata Frank Navran (apud ARRUDA, 2000), “tendem a prestar mais atenção àquilo que é avaliado e medido, pois é justamente o mensurável que a organização traduz em recompensa”. Logo, os sistemas formais dependem não só de mensuração, mas também de uma clara definição de responsabilidades (por pessoa e ou equipe). Indicador 3: Liderança O modelo estabelecido por Frank Navran mostra que as ações e o comportamento dos líderes são mais representativos que as próprias regras estabelecidas, uma vez que o sucesso da organização depende diretamente da liderança por ela designada. Os líderes são os representantes da empresa junto aos funcionários. Indicador 4: Negociação A negociação dentro e fora da empresa permite resolver assuntos conflitantes de uma maneira saudável por não ter a competição como foco, mas sim o atendimento dos envolvidos de modo que não haja perdedor ou ganhador. Dentro da empresa, a negociação interna, na maioria das vezes, envolve interesses dos funcionários, como a disputa do período de férias ou a entrega de um determinado relatório. Já a negociação externa poderá envolver a operação com um cliente e aqui os sistemas formais (procedimentos) poderão ser utilizados como limitadores. Indicador 5: Expectativas Se as empresas têm suas exigências formais e informais para alcançar o sucesso, tais exigências se tornam expectativas em relação aos seus empregados e estes em relação à empresa, uma vez que tanto suas capacidades pessoais quanto suas percepções estarão em jogo, logo, quanto mais explicitas e congruentes forem as exigências da empresa, maior a possibilidade de alcançar o sucesso. Indicador 6: Consistência “Quando a organização é inconsistente, o funcionário não tem certeza do que deve pensar e como deve agir”, conforme aponta Arruda (2000, p. 31). A consistência das ações por parte da empresa precisa ser aplicada a qualquer momento. Os sistemas formais devem ser seguidos, caso contrário o medo e a autoproteção serão instalados, comprometendo a empresa como um todo. Indicador 7: Chaves para o sucesso Toda empresa tem sua chave para o sucesso, que deve ser acessível a todos, caso contrário, o conflito e a insatisfação passarão a tomar conta do ambiente, comprometendo o próprio sucesso. 112 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 Unidade II Indicador 8: Serviço ao cliente Em termos gerais, a satisfação do cliente e os tratamentos dispensados aos fornecedores e quaisquer outros parceiros com quem os funcionários têm contato vêm em primeiro lugar no tratamento que a empresa tem para com seus funcionários. Um funcionário bem tratado e principalmente com suas expectativas atendidas automaticamente estenderá essa cordialidade, esse respeito aos clientes. Arruda (2000, p. 32) completa: “a maioria dos funcionários tem dificuldade de tratar os clientes sistematicamente melhor do que a organização os trata”. Indicador 9: Comunicação É a comunicação que irá levar aos empregados as expectativas criadas pelas empresas em relação ao seu desempenho, logo, a comunicação torna-se o elo entre a organização e seus parceiros. Assim, [...] as pessoas precisam de informações, de orientações e de reforço, necessitam ainda, conhecer a posições, os padrões éticos da empresa e o que é considerado, por parte da empresa, uma conduta correta dos funcionários, por fim, os funcionários devem saber a quem se dirigir para obter respostas às suas preocupações éticas quando se defrontam com uma situação nova ou diferente (ARRUDA, 2000, p. 32). Aqui, o papel da liderança é de extrema importância para a busca da excelência empresarial. Indicador 10: Influência dos pares A influência dos pares significa dizer que “quando a organização falha em comunicar adequadamente seus padrões éticos e suas expectativas, os funcionários compensarão essa falha aumentando sua confiança no apoio dado pelos colegas de trabalho”, de acordo com o estudo elaborado por Arruda (2000, p. 33). O apoio dos colegas torna-se um fator positivo, quando influenciado pela própria organização, provocando a informalidade, que venha a aderir aos padrões éticos em busca das metas almejadas pela empresa. Indicador 11: Consciência ética Arruda (2000) declara que mesmo que esse indicador não esteja no Modelo de Navran, sua construção veio da parceria da CENE – Centro de Estudos de Ética nas Organizações, da EAESP/FGV – com a Consultoria da qual Frank Navran é diretor, a Ethics Resource Center (Washington/EUA). O indicador foi criado especificamente para o Brasil, levando-se em consideração, principalmente, os aspectos culturais do nosso país. Assim, influências pessoais, políticas em muitos casos, são premissas para obtenção de cargos de decisão em comparação com o conhecimento técnico exigido. Na relação chefe/subordinado, o abuso de autoridade pode levar ao assédio sexual. Ademais, propinas, presentes e favores também podem comprometer a imagem da organização e, consequentemente, a sua sobrevivência. 113 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL 6.2 A ética profissional A ética é o estudo do comportamento humano em determinada sociedade, bem como das regras que todos devem seguir, a fim de garantir e preservar o seu bem-estar. Sendo assim, tanto a ética profissional quanto a ética empresarial têm a responsabilidade de fazer cumprir as normas estabelecidas, por estar exatamenteem jogo o alcance do objetivo proposto por uma classe profissional. No caso do não cumprimento de tais regras pelos membros dessa sociedade profissional, sanções devem ser aplicadas, pois, para a ética, o interesse universal prevalece em relação ao particular, e para ética profissional não seria diferente. Outras necessidades surgem com a concepção de uma nova sociedade, a partir do Iluminismo (séc. XVIII), uma vez que o homem torna-se o centro do universo – até então, a Igreja Católica era quem dirigia as ações humanas durante o período medieval. Para atender a essas novas necessidades, iniciam- se atividades empresariais e profissões que dependem de normas e sanções que as harmonizem. Segundo Lisboa (2009), é o exercício pleno dos valores éticos da sociedade a qual a profissão atende que sustentará sua atuação. Em outras palavras, seja qual for a profissão exercida, somente terá sua legitimidade quando respeitar os valores éticos da sociedade na qual se insere, caso contrário, a profissão passa a ser ilegítima, como o traficante de entorpecentes: o fruto desse trabalho contraria os valores éticos sociais, portanto, a sua atuação torna-se maléfica para o desenvolvimento da coletividade. Aguiar (2009a) demonstra que a ética profissional foi construída pelos precursores da profissão e ensinada para aqueles que nela ingressavam, com a preocupação de estabelecer a sua perpetuação. Todavia, algumas profissões, devido à evolução tecnológica, deixaram de existir, surgindo outras que atendessem a uma realidade diversa. Desse modo, foi necessária a criação de novas normas para esses profissionais. É possível citar como exemplo os profissionais da área de informática, que, assim como tantos outros profissionais, têm no seu código de ética a base para o exercício de sua profissão. É importante salientar que o fiel cumprimento das normas estabelecidas em todo código de ética não é suficiente para fazer com que o profissional atinja o sucesso, Aguiar (2009a) destaca que é a competência para o exercício profissional que fundamenta o alcance da ética. Em outras palavras: [...] ser competente é saber fazer bem o dever. Ao dever articulam-se, além do saber, o querer e o poder. É fundamental um saber, o domínio dos conteúdos específicos das atividades profissionais, mas esse saber perde seu significado se não estiver ligado à vontade política (o sentido de vida em sociedade), a um querer que determina a intencionalidade do gesto para com o outro no espaço do trabalho (AGUIAR, 2009a, p. 44). Como seres sociais, todos os nossos valores foram construídos a partir dos ensinamentos recebidos ao longo da vida. Logo, a competência profissional, que, de acordo com o autor, é um valor ético profissional, foi ensinada durante toda a modernidade pelas gerações de profissionais anteriores à carreira que escolhermos. 114 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 Unidade II 6.2.1 Um estudo sobre o código de ética profissional do contador Em termos gerais, Lisboa (2009, p. 62) define um código de ética como “um corpo de princípios que relaciona as principais práticas de comportamento permitidas e proibidas no exercício da profissão”, ou seja, são as normas ali contidas que darão o embasamento para o profissional exercer suas funções dentro do ambiente empresarial. Contudo, o não cumprimento dessas normas, além de comprometer o objetivo determinado pela organização empresarial, levará o profissional a responder civil e criminalmente, quando for o caso, pelas práticas não atendidas. Para Aguiar (2009a), a ética profissional está relacionada a um conjunto de normas que impulsionam o indivíduo à aquisição de hábitos e à formação do seu caráter de tal maneira que passe a agir em conformidade com o tipo de profissional que a sociedade construiu ao longo da história. Esse indivíduo é dotado de direitos e deveres que contribuam para uma vida profissional harmoniosa, respeitando tanto os profissionais da mesma classe quanto a sociedade a que servem. De acordo com as definições apontadas por Lisboa (2009) e Aguiar (2009a), podemos entender que o código de ética para o profissional de Contabilidade visa atender às exigências que a sociedade espera dele, uma vez que tal profissional é o responsável pela mensuração e avaliação do patrimônio empresarial, por meio de informações geradas pelas operações praticadas nessa mesma organização. Para tanto, como demonstra Aguiar (2009a), o código de ética profissional dos contabilistas especifica alguns dos tipos de trabalhos que podem ser exercidos pelo profissional de Contabilidade, como contador, perito, auditor ou árbitro. Embora cada atuação possua características próprias, um ponto é comum a elas: a geração de informação, um dos mais preciosos (se não for maior) bens da sociedade empresarial atual. É a informação que levará a tomada de decisões internas e externas às organizações empresariais, como o momento mais adequado para lançamento de um produto, aquisição de novos equipamentos, junção de empresas, enfim, são as informações que movimentam os negócios empresariais e consequentemente a economia local e mundial. É a partir desse parágrafo – a informação gerada pela área contábil, e sendo o profissional de Contabilidade seu maior representante – que vamos ao encontro do objeto do presente material: a informação é formada com base nas operações simplesmente geradas pelas organizações ou é construída a partir de operações programadas pela entidade empresarial que toma como fim a essência do capitalismo, ou seja, a criação e acumulação de riqueza? Então, o profissional de Contabilidade, a partir do código de ética, contribuirá com a perpetuação do sistema capitalista? As respostas para essas perguntas são amplas e complexas. Neste livro-texto, nós as buscamos na razão instrumental, ou seja, uma razão elaborada a partir de um fim específico, que leva o homem a comportamentos predeterminados, por meio de regras e sanções, tirando, portanto, seu maior bem, a liberdade de pensar e agir. 115 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL O conceito de razão instrumental apresentado por Horkheimer (1973, prefácio da 2ª edição) fundamentou-se na razão crítica defendida por Kant, conforme aponta Pascal (1992, p.156). Enquanto a razão crítica mostra a autonomia do homem, o pensamento e o agir livre, a razão instrumental conduz o homem a fins específicos, ou seja, determina o que ele deve pensar e consequentemente o seu agir, automatizando, assim, tanto o homem quanto a sociedade. Sendo a razão considerada um instrumento, conforme aponta Horkheimer, seu pensar e agir é dirigido por quem e para quem? O autor aponta a modernidade como responsável pela mudança no homem, ou seja, o homem deixa de ser o fim para torna-se o meio de alcançar objetivos que não mais lhe pertencem. É o sistema capitalista que deve prevalecer e o homem passa a ser esse meio, o instrumento de alcance. É a formação e a acumulação de riqueza que deve sobrepor-se ao homem, abrindo mão de seu bem-estar, de sua liberdade, como defende Kant na razão crítica. Cita-se: Tendo cedido em sua autonomia, razão tornou-se um instrumento. No aspecto formalista da razão subjetiva, sublinhada pelo positivismo enfatiza-se a sua não referência a um conteúdo objetivo; em seu aspecto instrumental, sublinhado pelo pragmatismo, enfatiza-se a sua submissão a conteúdos heterônomos. A razão tornou-se algo inteiramente aproveitado no processo social. Seu valor operacional, seu papel de domínio dos homens e da natureza tornou-se o único critério para avaliá-la (HORKHEIMER, 1973). Habermas também buscou em Horkheimer a formação de sua teoria sobre a modernidade, porém, diferente de Weber, encontrou uma saída, ao discutir a ação racional. Para Habermas, é a ação comunicativa que elevará o homem ao retorno daliberdade proposta pelo Iluminismo. Cita-se: A ação comunicativa que se efetiva na linguagem é uma forma privilegiada de relacionamento entre os sujeitos: permite a articulação de valores, elaboração de normas e o questionamento dos mesmos. Essa é a diferença entre o agir comunicativo e o agir estratégico, enquanto no primeiro há a busca do reconhecimento intersubjetivo das pretensões de validade, no segundo, um indivíduo age sobre o outro para atingir os fins que ele a priori definiu como necessários. Numa sociedade emancipatória, predominam as ações comunicativas. O processo de emancipação implica, então, um processo de racionalização, de evolução simbólica, de diferenciação do mundo de vida, de aperfeiçoamento da comunicação entre os sujeitos. O mundo emancipado é aquele onde o mundo vivido tem supremacia sobre o mundo do sistema. O que significa resolução dos conflitos humanos 116 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 Unidade II com base em discussões racionais, e evolução material equilibrada com as exigências do meio ambiente (HABERMAS, 1988). Saiba mais Sobre o nascimento do capitalismo, sugere-se a leitura da seguinte obra: WEBER, M. Ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Enio Matheus Guazzelli & Cia., 1967. A seguir, iremos estudar o “Código de Ética Profissional do Contador”, que é uma aplicação dos conceitos de ética estudados até então ao universo da profissão contábil: Em relaçao ao Código de Ética Profissional do Contador de acordo com as Resoluções do Conselho Federal de Contabilidade – CFC, temos: Resolução CFC nº 803/96, de 10 de outubro de 1996, com as alterações da: Resolução CFC nº 819/97, de 20 de novembro de 1997, da Resolução CFC nº 942/02, de 30 de agosto de 2002, da Resolução CFC nº 950/02, de 29 de novembro de 2002, e da Resolução CFC nº 1.307/10, de 09 de dezembro de 2010, e incluindo a Resolução CFC nº 972/03, de 27 de junho de 2003, e Resolução CFC nº 987/03, de 11 de dezembro de 2003. sua formação contempla cinco Capítulos, distribuídos em quinze Artigos que direcionam o pensar e o agir do profissional de Contabilidade, quando do exercício profissional: Capítulo I – Do Objetivo Art. 1º. Este Código de Ética Profissional tem por objetivo fixar a forma pela qual se devem conduzir os Profissionais da Contabilidade, quando no exercício profissional e nos assuntos relacionados à profissão e à classe. Capítulo II – Dos Deveres e das Proibições Art. 2º. São deveres da Contabilidade: Os deveres estão dstribuídos em doze itens. Art. 3º. No desempenho de sua funções, é vedado ao profissional de Contabilidade: As proibições estão relacionadas em vinte e cinco itens. Art. 4º. O Profissional da Contabilidade poderá publicar relatório, parecer ou trabalho técnico-profissional, assinado e sob sua responsabilidade. 117 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Art. 5º. O Contador, quando perito, assistente técnico, auditor ou árbitro, deverá: Para este artigo outros nove itens são relacionados. Capítulo III – Do Valor dos Serviços Profissionais Art. 6º. O Profissional da Contabilidade deve fixar previamente o valor dos serviços, por contrato escrito, considerados os elementos seguintes: O valor dos serviços profissionais está distribuído em seis itens. Art. 7º. O Profissional da Contabilidade poderá transferir o contrato de serviços a seu cargo a outro profissional, com a anuência do cliente, sempre por escrito, de acordo com as normas expedidas pelo Conselho Federal de Contabilidade. Tem-se aqui, Parágrafo único. Art. 8º. É vedado ao Profissional da Contabilidade oferecer ou disputar serviços profissionais mediante aviltamento de honorários ou em concorrência desleal. Capítulo IV – Dos Deveres com Relação aos Colegas e a Classe Art. 9º. A conduta do Profissional da Contabilidade com relação aos colegas deve ser pautada nos princípios de consideração, respeito, apreço e solidariedade, em consonância com os postulados de harmonia da classe. Segue-se aqui, Parágrafo único. Art. 10. O Profissional da Contabilidade deve, em relação aos colegas, observar as seguintes normas de conduta: Para este artigo outros quatro itens são relacionados. Art. 11. O Profissional da Contabilidade deve, com relação à classe, observar as seguintes normas de conduta: Mais oito itens são contemplados neste artigo. Capítulo V – Das Penalidades Art. 12. A transgressão de preceito deste Código constitui infração ética, sancionada, segundo a gravidade, com a aplicação de uma das seguintes penalidades: Para este artigo outros três itens são relacionados, mais Parágrafo 1º e outros três itens e para completar este artigo há também o Parágrafo 2º e mais dois itens. 118 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 Unidade II Art. 13. O julgamento das questões relacionadas à transgressão de preceitos do Código de Ética incumbe, originariamente, aos Conselhos Regionais de Contabilidade, que funcionarão como Tribunais Regionais de Ética e Disciplina, facultado recurso dotado de efeito suspensivo, interposto no prazo de quinze dias, para o Conselho Federal de Contabilidade em sua condição de Tribunal Superior de Ética e Disciplina. Seguem-se ao artigo três Parágrafos. Art. 14. O Profissional da Contabilidade poderá requerer desagravo público ao Conselho Regional de Contabilidade, quando atingido, pública e injustamente, no exercício de sua profissão. (grifo dos Autores). Capítulo VI – Das Disposições Gerais Art. 15. Este Código de Ética Profissional se aplica aos Contadores e Técnicos em Contabilidade regidos pelo Decreto-Lei nº 9.295/46, alterado pela Lei nº 12.249/10.(6) Publicada no Diário Oficial da União de 20 de novembro de 1996. (1) Alterado pela Resolução CFC 819/97, de 20.11.97, publicada no DOU de 13.01.98. (2) Alterado pela Resolução CFC 942/02, de 30.08.02, publicada no DOU de 04.09.02. (3) Alterado pela Resolução CFC 950/02, de 29.11.02, publicada no DOU de 16.12.02. (4) O artigo 14 deste Código foi regulamentado pela Resolução CFC 972/03. (5) Os artigos 6º e 7º deste Código foram regulamentados pela Resolução CFC 987/03. (6) Incluídos/Alterados pela Resolução CFC 1307/10, publicada no Diário Oficial da União de 14.12.2010, e republicada em 10 de janeiro de 2011. Observação Um contador mais experiente jamais deve se apresentar com ar superior frente a contadores iniciantes, ou mesmo colocar em uma propaganda que é “melhor” que um ou outro colega. Considerando-se que o Art.1º do Capítulo I – Do Objetivo , Este Código de Ética Profissional tem por objetivo fixar a forma pela qual se devem conduzir os Profissionais da Contabilidade, quando no exercício profissional e nos assuntos relacionados à profissão e à classe compreendemos que temos, no mínimo, três situações envolvidas: a)um objetivo predeterminado; b) um percurso predeterminado e c) um agente responsável em alcançar esse objetivo. 119 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL O objetivo predeterminado de toda organização empresarial é o lucro, é ele que garantirá a sobrevivência do sistema capitalista. E, assim, o caminho para alcançar o lucro deverá ser minuciosamente estudado; são as transações no dia a dia do meio empresarial que levarão ao seu propósito final (o lucro), portanto, elas devem ocorrer de maneira sistemática, racionalmente articuladas. Lembrete Conforme já estudamos, a preocupação social é importante para as empresas, mas o lucro também é. Logo, temos um grande desafio: é possível ser ético socialmente e ambientalmente e ainda assim ter lucro? Por fim, temos o agente responsável em alcançar os objetivos da organização empresarial, é o Contabilista, por sero único responsável em gerar as informações da mensuração e avaliação das operações ocorridas na empresa, permitirá a sobrevivência (ou não) do sistema capitalista. Sendo assim, a “condução” determinada pelo Código de Ética do Profissional de Contabilidade nos leva ao encontro da razão instrumental apontada por Horkheimer, uma razão dirigida a fins específicos, que tira a liberdade do pensar e do agir humanos, automatizando não só o homem, mas toda a sociedade. Por fim, entendemos que o papel da Ciência é suprir as necessidades humanas em todas as circunstâncias e, no momento em que elas mudam, a Ciência também precisa mudar. E é, portanto, nesse contexto que se encontra o profissional de Contabilidade. Especificamente, o Código de Ética do Contador é fruto de uma razão instrumental, conceito apresentado por Horkheimer, ou seja, uma razão elaborada a partir de um fim específico, levando o homem a comportamentos predeterminados, por meio de regras e sanções. Saiba mais O Conselho Regional do Estado de São Paulo disponibiliza em seu site o Código de Ética do Contador Comentado. Leia: CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO ESTADO DE SÃO PAULO. Código de Ética Profissional do Contador. São Paulo: CRC SP, 2011. Disponível em: <http://www.crcsp.org.br/portal_novo/hotsite/crcsp_jovem/home/pdf/ codigo_de_etica.pdf>. Acesso em: 5 set. 2013. A seguir, convidamos você a realizar um exercício sobre ética com comentários dos autores deste livro-texto: 120 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 Unidade II O diálogo entre o presidente da subsidiária brasileira e o contador Naquela semana o mercado estava turbulento porque o Brasil estava mergulhado na expectativa das eleições presidenciais e havia fortes indefinições. Cada pesquisa que era divulgada pelos órgãos de imprensa vinha com uma posição diferente. Apesar disso, começava a surgir uma tendência de que um candidato que não era bem visto pelo mercado por suas posições polêmicas quanto ao papel do estado da economia iria ganhar. A cada dia esse candidato conquistava mais votos. Para piorar as coisas, a União Europeia e os Estados Unidos estavam prestes a realizar uma intervenção militar no Oriente Médio caso as negociações diplomáticas falhassem. Países importantes como Egito, Síria, Israel, Líbano, Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos estavam vivendo um dos momentos mais tensos nos últimos anos. Na televisão, os jornalistas comparavam a situação com a crise dos mísseis de 1962 em Cuba, quando o mundo quase viu o início de um conflito militar. Alheio a isso tudo, João Augusto calmamente tomava o seu café da manhã. Ele também estava preocupado, mas os motivos eram outros... João Augusto era separado e a cada duas semanas tinha em seu apartamento a companhia de sua filha de 10 anos, a Bela Karina, uma menina que adorava ir para a escola e fazer teatro. Talvez essa menina seja uma atriz no futuro, ou uma jornalista. João Augusto pensou bem e sussurrou para si mesmo: — Minha filha jornalista? Não, de jeito nenhum! Não quero que ela passe uma noite numa calçada fria para conseguir umas poucas palavras de um funcionário qualquer do governo, que nem esse pessoal aí. Mas atriz... bem, hoje eu vou ligar para uma escola de teatro, acho que ela vai gostar de fazer um curso... João Augusto trancou a porta do apartamento e desceu de elevador. Em pouco tempo já estava no escritório, em um prédio de vidro cor lilás com a assinatura de uma arquiteta muito importante. Adorava trabalhar naquele prédio. Mas, será que ele continuaria tendo a oportunidade de visitar todos os dias aquele lugar em que se sentia tão bem? Ao chegar em sua sala, perguntou desconfiado para a sua assistente, a Angélica: João Augusto — Bom dia Angélica, já viu a CRVEND. Nem te dei bom dia direito, mas... 121 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Angélica — Entendo. Mas alegre-se “seu” Augusto, o senhor vai acabar tendo um AVC assim! (Brincando, em tom de ironia, porque o João Augusto era de fato hipertenso leve, mas fazia um sério tratamento). — Estou até confirmando aqui na CRVEND mas... tchan tchan tchan tchan ATINGIMOS A META! (Olhando fixo para a CRVEND, a tela do sistema de gestão da empresa que apontava o volume de vendas e soltando um grito, como se fosse um gol!). Todo mundo na sala — EEEEEEEEEEEEEEEEBA! (Todo mundo gritando aliviado!). João Augusto — Não Brinca Angélica! Conseguimos atingir a meta? (Desconfiado, tentando agir racionalmente, mas muito contente e aliviado.) Angélica — Sim, não é brincadeira não. Se bem que tem “marmelada” aqui, este vendedor jogou um pedido com o triplo da quantidade que o cliente costuma pedir. Certamente vai ter devolução. Mas... atingimos... não dá para negar. (Falando com uma voz embargada, como quem prevê problemas com a auditoria, o que estava vendo não era uma verdade, certamente houve manipulação). João Augusto — Que bom! Então, gente, vamos continuar nos vendo! Uns não vão gostar, mas, teremos nossos empregos firmes. Agora, vamos trabalhar, antes que coloquem uma meta inatingível também para nós aqui na Contabilidade! 122 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 Unidade II (Em tom de ironia, uma vez que sabia que a ameaça da matriz, na França não era séria). Angélica — É a Maria José, lá no aquário! Quer que você suba agora! (Falando da secretária do presidente, no último andar, que na empresa era carinhosamente chamado de “aquário”). João Augusto — Tô subindo! No caminho para a sala da presidência, João Augusto se encontra com o Sr. Talhes, o Diretor de Vendas, um homem de idade avançada, que tinha dificuldades de respirar e que sem querer deu um banho de água gelada no pobre contador: Talhes — Eh, Eh, que felicidade é essa? Não está sabendo? (Falando com mais dificuldade do que costumava falar, porque estava muito triste). João Augusto — Claro que estou sabendo Talhes, atingimos a meta! Alegre-se homem! Talhes — Contadores! Sempre os últimos a saber. Deveria ser ao contrário! João Augusto — Do que está falando Talhes? (Visivelmente consternado). A porta do elevador abriu-se e estavam na antessala alguns diretores que João Augusto já não via há muito tempo. Cumprimentou a todos, mas não conseguia ver felicidade. O clima era de velório. A secretária, Dona Maria José veio ao seu encontro e, com um sorriso no rosto, (como se João Augusto fosse a última solução) convocou-o para entrar na sala do Sr. Pierre. 123 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Maria José — O Sr. Pierre quer conversar sozinho com o senhor, antes de fazer a reunião com os diretores. Fique aqui um pouquinho, tudo bem? Ao entrar na sala vazia do Sr. Pierre, que de tão grande ocupava quase todo o andar, sentou-se na gigantesca mesa de reuniões. Havia alguns apetitosos lanchinhos, mas como essas coisas têm muito sal estava proibido de comer aquelas delícias. Então, para se distrair, ficou olhando demoradamente para a foto das fábricas de Cuiabá e Catalão, em um lindo pôster na parede, próximo ao telão. De repente, leva um susto com um tapão nas costas. Pierre — Que bom vê-lo aqui João Augusto! (Em um sotaque francês característico). — Gostaria de conversar com você mais, só que tenho que falar pros diretores e daqui pouco vai ter um helicóptero lá no heliponto, ainda hoje eu vou pra Parris. Por isso, vou ser rapidinho. João Augusto — Conseguimos atingir a meta, Pierre! (Tentando alegrar um pouco o ambiente). Pierre — Sim, estou a saberr. A matriz está muito contende com a nóis. Só que problema agorra mudou. Meu colega, o Jesus Calderron de Chile, prometeu pra matrizque pode pegar nosso trabalho daqui, que ele faz melhor e mais barrato lá. E ele não tá mentindo. Ele tem condições reais de fazer isso. Só não o fez isso antes porque o Chile está longe de tudo. Mas se não mantivermos nossas vendas altas eu perco o argumento. (Falando e seu amigo e rival, o presidente da subsidiária do Chile). Alguns momentos em silêncio e Pierre faz um gesto característico, de quem está determinado a lutar com todas as forças para manter a sua liderança. Pierre — Preciso de você José Augusto. 124 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 Unidade II — Sei que naum gosta de fazer isso, mas o emprego de dois mil funcionários está em jogo. Me altera os valores de vendas brutas no sistema em mais 40% nos próximos dois meses? Só dois meses? Depois a gente compensa isso de algum jeito. E se der problema com a auditoria eu assumo. — O que me diz? Exemplo de aplicação Analisando essa situação: - De acordo com o Pronunciamento Conceitual Básico, do CPC, qual deve ser a atitude do Contador João Augusto ao enfrentar uma situação desse tipo? - Quais as implicações éticas? - O que você responderia ao Sr. Pierre? - O que poderia ter sido feito antes, para evitar essa situação e esse diálogo entre o Sr. Pierre e o José Augusto? Resolução do exercício: O Sr. Pierre, presidente da subsidiária francesa de uma multinacional procura o José Augusto, contador dessa subsidiária, e propõe que seja realizada uma fraude para justificar alguma ação, criar um argumento ou ajudar a reverter uma decisão de finalizar as atividades dessa subsidiária no Brasil. O Sr. Pierre faz isso visivelmente em uma situação de desvantagem. Está enfrentando uma concorrência ou, como os americanos chamam, “fogo amigo”, em que um de seus colegas, o presidente de outra subsidiária no exterior deseja, talvez por ambição ou vontade de servir, assumir as operações da subsidiária brasileira. No entanto, essa é uma situação na qual vemos que ninguém tem razão (no sentido de ter uma prevalência na decisão), todos estão buscando por sua felicidade. Certamente, Pierre quer manter o seu cargo. O Sr. Jesus Calderron, no Chile, também. O José Augusto gosta de trabalhar nessa empresa e quer continuar. Pierre, sentindo a enorme responsabilidade de manter os empregos de duas mil pessoas, pensou naquele momento em realizar uma fraude. Provavelmente, em sua concepção, se mentisse e apresentasse bons números, poderia reverter uma decisão ou fazer com que os executivos pensassem de outra forma e talvez abandonassem a ideia sugerida pelo Sr. Jesus Calderron. Apesar de todos trabalharem na mesma empresa, criou-se um ambiente nocivo e indesejável de competição. 125 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Nesse sentido, o que está ocorrendo aqui é o que Aguiar (2009a, p. 15) afirma quando defende que é o bem comum que traz a felicidade para o homem: “Assim, o homem virtuoso é aquele capaz de deliberar e escolher o que é mais adequado para si e para os outros, movido por uma sabedoria prática em busca do equilíbrio entre o excesso e a escassez”. Como o presidente Pierre pediu a colaboração do José Augusto, em vez de ter comunicado uma determinação ou ter dado uma ordem, pediu-lhe ao mesmo tempo uma sugestão. Para resolver o problema, Pierre pensou em fazer a fraude, mas será que é apenas isso que ele poderia fazer? Como José Augusto é o contador da empresa, talvez tenha condições de oferecer outra solução ou de ter um conselho que leve a essa outra solução. Assim, de acordo com o comportamento ético que se espera do José Augusto, de acordo com o Código de Ética do Contabilista, dos princípios de Contabilidade geralmente aceitos e também do Pronunciamento Conceitual Básico, ele deve manter-se completamente neutro. Não deve ajudar o presidente Pierre em seu propósito de fraudar os números. Todavia, com um sentimento de promover o bem comum, José Augusto deve buscar entender melhor a situação, as expectativas dos executivos na França e também do presidente da subsidiária do Chile e oferecer um caminho. Talvez, por exemplo, a subsidiária brasileira tenha uma ótima potencialidade, ou uma oportunidade de sinergia com a própria subsidiária chilena. Certamente os executivos da matriz na França também estão trabalhando para um bem comum. Com humildade, José Augusto (ou seja, o contador) deve de forma neutra oferecer as informações que estiverem ao seu alcance e todas as condições que são importantes para que uma decisão seja tomada e aguardar pela decisão, mesmo que ela não seja favorável. Os contadores não podem resolver todos os problemas e, se a solução encontrada for o fechamento da subsidiária, que seja feito. Se houver outras possibilidades de que a subsidiária se mantenha, que seja feito. De qualquer forma, bem antes de surgir essa situação (e talvez outras de igual ou maior complexidade), o contador José Augusto deveria manter uma Contabilidade o mais adequadamente possível, para que suas informações façam diferença no exato momento em que se façam necessárias! 7 A CIÊNCIA ATUARIAL 7.1 O gerenciamento de riscos e a relação do contador com as ciências atuariais Outro tópico importante para o “novo contador” é a área de seguros ou, mais especificamente, as ciências atuariais. Mas, por que se faz necessário conhecer ciências atuariais? 126 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 Unidade II Já comentamos que atualmente o contador é um profissional que “não pode ficar isolado em sua sala”, precisa interagir com demais profissionais, em uma atitude interdisciplinar. É correto também dizer que frequentemente os contadores são envolvidos em aspectos duvidosos de uma empresa, sobre os quais precisa dar uma opinião, realizar uma “provisão”. Ou seja, saber viver com as incertezas, os riscos inerentes a um negócio. É certo que todos os negócios estão expostos a riscos. É o que nos diz Assaf Neto (2010, p. 193): A ideia de risco, de forma mais específica, está diretamente associada às probabilidades de ocorrência de determinados resultados em relação a um valor médio esperado. É um conceito voltado para o futuro, revelando uma possibilidade de perda. Entende-se que, quando identificados, os riscos podem (e devem) ser gerenciados, permitindo que a empresa tenha uma ação planejada caso eles ocorram. Esse trabalho de identificação de riscos permite também ao contador que prepare provisões (se for o caso), atendendo aos princípios de Contabilidade geralmente aceitos e sob um nível de conservadorismo condicional adequado à situação. Observação O conservadorismo condicional é um comportamento no qual o contador deve ter uma postura frente às incertezas. Os princípios de Contabilidade dizem que, se houver possibilidade de algo negativo para a empresa ocorrer, deve-se considerar a pior situação possível. Mas, se o contador tiver conhecimento do comportamento da empresa e do setor, pode responsavelmente adequar o conservadorismo. Conforme estudamos anteriormente, a área ambiental, por exemplo, pode trazer vários riscos às empresas. Uma empresa que lida com petróleo ou combustíveis pode vir a ter um vazamento. As operações de uma empresa poderão colocar em risco a vida de animais silvestres, entre outras possibilidades. Estudamos que, para essas situações, devemos realizar estimativas e contabilizar, registrar as provisões nos livros contábeis da empresa e não apenas gerenciar os riscos. Dentro do gerenciamento de riscos de uma empresa, ou de um projeto nessa empresa, utilizando aqui a definição de projeto do PMI – Project Management Institute, PMBOK (2004, p. 5): “um projeto é um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo”. Entende-se que os riscos devem ter um planode ação. Nesse plano de ação, o PMI indica três estratégias para se lidar com as ameaças ou riscos do projeto. São as seguintes: • Prevenir: tomar ações preventivas, a fim de minimizar a possibilidade de ocorrência de riscos. 127 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL • Transferir: é o ato de transferir o risco e suas consequências negativas para terceiros. • Mitigar: atos que visam reduzir o impacto das ocorrências dos riscos, levando-os para níveis que possam ser considerados aceitáveis. Como um exemplo de prevenção a riscos, tem-se o serviço de manutenção que, se for feito de forma regular, antes que uma falha ou defeito ocorra, irá proporcionar o perfeito funcionamento. Como exemplo de transferir riscos, temos os seguros, em que os riscos são transferidos a outra empresa, normalmente seguradoras, que se responsabilizarão caso algo ocorra realmente. Lembrete Uma provisão contábil não necessariamente precisa ocorrer de fato. E o prejuízo, se for o caso, poderá estar coberto por um seguro. Mesmo assim, não se deve deixar de lançar a provisão, caso haja um seguro, o que pode ser feito é informar o usuário da informação contábil dessa situação nas notas explicativas. Se caso um serviço regular, já contratado, não atender a uma demanda ou enfrentar dificuldades e/ou falhas, há a possibilidade de contratar outro para entrar em ação. Esse é um exemplo de mitigação de riscos. Observe que, na atividade de transferência de riscos, surgem os seguros atuando como parceiros das empresas. Esse será o objeto do nosso estudo. Além dos seguros, é cada vez maior a preocupação das pessoas e das empresas em proporcionar a seus funcionários a possibilidade de acesso a uma previdência privada. Dentro dos departamentos de recursos humanos das empresas, é cada vez maior a demanda por previdência privada. Dessa forma, é importante ao contador conhecer noções de ciência atuarial para entender melhor esses aspectos da vida empresarial e poder interagir com profissionais dessa área. Conhecer os métodos usados na Ciência Atuarial pode ajudar o contador a lidar com valorações, riscos e incertezas. 7.2 As ciências atuariais, o atuário e aspectos históricos Segundo o IBA - Instituto Brasileiro de Atuária (2013): Atuário é o profissional preparado para mensurar e administrar riscos, uma vez que a profissão exige conhecimentos em teorias e aplicações matemáticas, estatística, economia, probabilidade e finanças, transformando-o em um verdadeiro arquiteto financeiro e matemático social capaz de analisar concomitantemente as mudanças financeiras e sociais no mundo. 128 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 Unidade II Observe que por essa definição o atuário é um profissional que também precisa de interação com a área contábil e de finanças, estando dentro das chamadas “ciências sociais aplicadas”. Também segundo o IBA (2013), a história e a evolução da ciência atuarial ocorreu ao longo do tempo da seguinte forma: Nos primórdios da civilização já se podia observar a ideia de uma garantia mútua, coletiva e social de indivíduos. Nos anos de 4500 a.C. o papiro “Les Tailleurs de Pierre de la Basse – Egipte” registrou uma “caixa” com o objetivo de socorrer vítimas de certos infortúnios, como entre os operários que construíram o primeiro grande templo dos judeus em Jerusalém na Idade Média e, ainda, o monopólio da caridade assumido pela Igreja com os soldados pós-guerra. No período de 753 a 510 a.C., ou seja, no Império Romano, já se notava a preocupação em registrar os nascimentos e as mortes ocorridos entre os habitantes de algumas regiões, e foi Domitius Ulpiames, prefeito de Roma, que deu os primeiros passos para o desenvolvimento do “seguro de vida”, pois, considerado o maior economista de sua época, interessou-se pelo assunto e estudou documentos sobre “nascimentos” e “mortes”, sendo que suas observações concorreram para o progresso da atuária, daí o título de “o primeiro atuário da História”. No século XVII, na Inglaterra e Holanda, instituições mercantis se comprometiam, mediante recebimento de uma quantia única, em dinheiro, a pagar a determinadas pessoas, pensões vitalícias, em cumprimento das disposições testamentárias ou de natureza semelhante, das quais desejavam se livrar os constantes devedores. As quantias únicas, consideradas equivalentes aos compromissos assumidos pela instituição mercantil, eram determinadas por meio empírico, sem nenhum fundamento científico, insuficientes à responsabilidade a que se destinavam, pois a operação não raramente resultava na bancarrota do respectivo “segurador”, com prejuízos irrecuperáveis para os beneficiários das pensões contratadas, na maioria por viúvas e órfãos. Ao mesmo tempo, os próprios governos realizaram operações dessa espécie, onde empenhavam-se em vender aos seus súditos títulos públicos que asseguravam ao tomador a percepção de uma renda vitalícia. Logo, a correta determinação da importância em dinheiro a ser cobrada em contraprestação dessa obrigação a prazo incerto, naturalmente lhes interessava de perto, e acabaram encarregando seus melhores matemáticos de estudar o problema e encontrara a solução. A base matemática necessária havia sido estabelecida no mesmo século por Pascal e Fermat, na França, idealizadores do cálculo da probabilidade. De Witt, na Holanda, Graunt e Halley, na Inglaterra, estudaram o problema levando em conta as leis da probabilidade e a longevidade humana, deduzida esta dos registros de nascimentos e óbitos. Havendo De Witt recomendado uma elevação substancial no preço de venda dos referidos títulos públicos, o que não agradou ao governo da Holanda – este suprimiu seu 129 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL relatório durante dois séculos. Por outro lado, o relatório completo de Halley, matemático e astrônomo, descobridor do cometa que leva seu nome, publicado em 1693, recebeu ampla publicidade e tornou-se a pedra angular da nova ciência, posteriormente chamada de “matemática atuarial”. A partir de então, a matemática atuarial se desenvolveu, principalmente à medida que matemáticos, economistas e filósofos se interessaram pelo assunto. Entre 1700 e 1900, tivemos a construção de várias tábuas de mortalidade, como também o desenvolvimento das comutações, ferramenta fundamental utilizada no cálculo atuarial. Foi ainda nesse período que as empresas seguradoras passaram a oferecer programas de seguro de vida e que também aconteceu o 1º Congresso Internacional de Atuária em Bruxelas – 1895 Fonte: IBA (2013). Vemos por esse histórico que o cálculo atuarial permeia um aspecto importante da vida das pessoas, a minimização dos seus riscos e a sua aposentadoria ou “pensão”. Normalmente, quando somos mais jovens e temos muitas opções, não costumamos prestar atenção ou sequer pensar em uma aposentadoria. O que temos é o medo de perder um bem por conta de um sinistro (acidente). Assim, temos a tendência de comprar prêmios de seguros ou administrar os riscos pessoais sem ter despesas. No entanto, ao longo do tempo e à medida que a idade avança, maior fica o temor das pessoas em não ter dinheiro para usar nos últimos (e belos, como muitos confirmam) anos da vida. É nesse aspecto sensível da vida das pessoas em que trabalha o atuário. Por outro lado, nas empresas onde as decisões costumam ser mais racionais, o atuário é um grande parceiro, calculando um valor de seguros justo e adequado ao risco que se apresenta nas atividades de rotina. Um bom relacionamento com o atuário significa prover de informações adequadas. Assim, a colaboração plena entre o contador e o atuário tende a gerar bons resultados para ambas as partes, a empresa seguradora e também a empresa tomadora dosseguros. Mais do que isso, os contadores podem também encontrar eventuais necessidades que para o atuário seria impossível de detectar. Conforme comentamos anteriormente, o contador conhece a empresa em profundidade ou, em outras palavras, ele próprio atua pela empresa, o que o faz conhecer detalhes únicos. Lembrete Já estudamos que o contador, por exemplo, imagina a conta caixa como uma “pessoa”, que toma débitos e créditos, o que o impele a conhecer ou poder pesquisar em profundidade as atividades de uma empresa. É claro que os atuários podem detectar a mesma necessidade em várias empresas e produzir serviços atuários simplificados (e é o que geralmente fazem), mas também é possível produzir serviços 130 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 Unidade II personalizados, com soluções adequadas ao cliente em específico, o que muitas vezes não é possível porque falta o contato com o contador, ou mesmo o preparo desse contador para com a questão atuária. 7.3 Esperança Matemática – a diferença entre seguros e jogos Neste título, começaremos a entender ciências atuariais segundo o conceito de “Esperança Matemática”, que realiza uma interessante e salutar comparação entre os jogos e o seguro. Conforme o que estudamos anteriormente, o atuário (e empresas de seguros) lidam com aspectos muito sensíveis da vida humana. Exemplo de aplicação Imagine-se com 78 anos e alguém lhe diz que, devido a “problemas técnicos” ou “porque falta determinada coisa”, cancela-se o rendimento que você estaria esperando! O que você faria? Assim, Cordeiro Filho (2009, p. 36) comenta que: “A esperança é o fenômeno possível de acontecer. A esperança matemática é o fenômeno tecnicamente possível de acontecer tecnicamente calculado.” O autor então questiona: qual seria a diferença entre um jogo e um seguro? A resposta a essa pergunta está na esperança que a pessoa tem ao realizar essas duas atividades: Em um jogo, que deve ser honesto (equilibrado), as chances devem ser iguais para ganhador ou perdedor. Todos devem ter a esperança de ganhar. Como assevera Cordeiro Filho (2009, p. 36), “num jogo, temos a esperança de algum ganho ao apostar. Ninguém aposta num jogo com a esperança de perder”. Em um seguro, não se deve multiplicar pela probabilidade do ganho. O autor (CORDEIRO FILHO, 2009, p. 36) nos diz que no seguro “temos a esperança de não perder ou equilibrar. O seguro deve ser justo no preço em relação ao esperado. O ganho esperado deve ser justo para equilibrar o acontecimento decorrente do fenômeno tecnicamente calculado”. Assim, Cordeiro Filho (2009) nos esclarece que ambos, jogo e seguro, “tecnicamente” são muito semelhantes. Em um jogo (normalmente, excetuando-se aqui eventuais doenças e patologias clínicas que podem influenciar na vontade e motivações de uma pessoa), o interesse do apostador é o de ganhar dinheiro, lucrar. Está mais associado aos sentimentos saudáveis de ambição ou prosperidade, ou mesmo de ganância, o gosto pelo prazer de ter dinheiro. Já no seguro, o interesse do cliente é o de, caso ocorra um acidente, um sinistro, que haja um ganho esperado, que deve ser justo para equilibrar o acontecimento decorrente do fenômeno tecnicamente calculado. Os seguros estão ligados ao sentimento de precaução, prevenção. Ou seja, se algo ocorrer, haverá uma reparação em dinheiro que será suficiente para que as consequências negativas de um fato venham a ser minimizadas e equilibrar o patrimônio. 131 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Observação Como “jogo”, cite-se aqui os sorteios, loterias promoções concursos, vale-brinde, que no Brasil são gerenciados pela Caixa Econômica Federal. Essa mesma concepção pode ser aplicada aos cassinos, comuns em outros países, mas proibidos por lei no Brasil. Como os objetivos do jogo e do seguro são diferentes, as equações matemáticas utilizadas no seguro acompanham esse raciocínio. Cordeiro Filho (2009, p. 36) nos diz que: [...] a esperança matemática será chamada de E, ganho possível ou esperado será Q. A possibilidade do evento ou fenômeno acontecer será chamada de P. A atualização financeira de ganho futuro, v. O tempo entre a aposta e o pagamento do seguro será t. Assim, temos a seguinte fórmula: E = Q. P. vt A seguir, temos um exemplo de aplicação dessa fórmula, conforme sugerido por Cordeiro Filho (2009, p. 37) Exemplo de aplicação Um clube resolve fazer sorteio de um automóvel no valor total de 30.000,00 unidades monetárias (u.m.), o qual será sorteado seis meses após a venda de todos os 3.000 bilhetes, ou seja, quando do recebimento total do recurso. A taxa de juros de aplicação no mercado por ocasião do recebimento total do recurso é de 1% ao mês. Pergunta-se: Qual será a esperança matemática desse sorteio? Dados: |----------------------------| P = 1 3 000. Q = 30.000 i = 1 % a. m. t = 6 E = ? Data <------- 6 meses ------- → sorteio Até a venda do último bilhete. E = Q . P. vt ; fazendo as substituições, obtemos: E x x= + 30 000 0 000333 1 1 0 016 . , ( , ) E = 10 x 0,942045, portanto a Esperança Matemática será E = 9,42. 132 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 Unidade II Cada bilhete de sorteio custará, então, o valor de 9,42 u.m. É o preço matemático do “risco” e 3.000 bilhetes deverão ser vendidos. No caso de seguros, o risco é 30.000,00 u.m. e 3.000 pessoas irão se agrupar para pagar esse risco. Fonte: Cordeiro Filho (2009, p. 37). Se uma pessoa demonstrar esperança e decidir gastar um determinado valor nessa esperança, esse valor receberá o nome de “aposta” se for para um jogo. Mas, se essa esperança for para um seguro, recberá o nome de “prêmio”. De um ponto de vista matemático, algébrico, o preço a pagar-se pela “aposta” ou “seguro” é considerado “puro”, ou seja, representa apenas o preço justo a ser pago pela aposta ou seguro, de forma científica. É muito importante comentar, adicionalmente, que o jogo em alguns indivíduos pode representar uma doença. Esteja sempre atento a sua saúde física e mental e das pessoas que conhece. Saiba mais Se quiser conhecer um pouco mais sobre jogos e sorteios no Brasil, que são um estudo à parte, pois exigem aprofundamentos de estatística (probabilidade), visite o site da GENAB – Gerência Nacional de Bingos, vinculada à CEF: <www.genab.org>. 7.4 Definições e termos importantes nas ciências atuariais Segundo Cordeiro Filho (2009, p. 37-41), temos algumas definições importantes em atuária, que serão estudadas a seguir. 7.4.1 Seguro, risco e sinistro Cordeiro Filho (2009, p. 38) cita a definição de Hemard (apud VILA NOVA, 1969, p. 15) para seguros, a seguir: Seguro é uma operação pela qual uma das partes, o segurado, obtém a promessa de outra parte, o segurador, mediante pagamento de uma remuneração, o prêmio em seu favor ou no terceiro, no caso de verificar o risco, uma prestação com que o segurador, fazendo uso de um conjunto de riscos, indenizar-lhe-á de acordo com as leis estatísticas. 133 CC TB - R ev isã o: L uc as /C ris tin a- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 09 /2 01 3 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Ainda Cordeiro Filho (2009, p. 38) comenta que o risco é: [...] um acontecimento aleatório. Não sabemos quando ele se realizará, mas podemos prever possibilidades de ele se realizar no tempo. Se esse risco for passível de medição e é um acontecimento incerto e futuro que não depende da vontade de ninguém e não obedece a nenhuma lei da natureza, poderá então ser segurável. Dessa forma, o “sinistro” é a realização daquilo que se considerava um risco. 7.4.2 Prêmio comercial Afirma Cordeiro Filho (2009, p. 37) que o prêmio comercial é o prêmio puro (conforme estudado anteriormente) “acrescido das despesas de carregamento, quais
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