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Apostila do curso Direito Eleitoral

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saberes.senado.leg.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Direito Eleitoral 
 
1 
 
Sumário 
MÓDULO I – DESAFIOS FUNDAMENTAIS DA DEMOCRACIA .................................................................... 2 
Unidade 1. O que é democracia? ......................................................................................................... 3 
Unidade 2. Democracia direta, representativa e deliberativa ............................................................. 5 
Unidade 3. Mecanismos constitucionais de participação direta ......................................................... 7 
Unidade 4. Meu voto importa? Participação popular e consultas municipais conforme Emenda 
Constitucional nº 111/2021 ............................................................................................................... 10 
Unidade 5. Crise na democracia? Populismo e representação política ............................................. 12 
Conclusão do módulo......................................................................................................................... 14 
Material complementar do módulo I ................................................................................................. 14 
MÓDULO II - TEORIA GERAL DO DIREITO ELEITORAL ............................................................................. 15 
Unidade 1. Organização da Justiça Eleitoral ...................................................................................... 16 
Unidade 2. Conceito, fontes, princípios do Direito Eleitoral .............................................................. 20 
Unidade 3. O Direito Eleitoral na Constituição da República............................................................. 23 
Unidade 4. Partidos políticos ............................................................................................................. 26 
Unidade 5. Elementos históricos do voto no Brasil ........................................................................... 31 
Unidade 6. Sistemas eleitorais: princípios majoritário e proporcional .............................................. 34 
Unidade 7. Sistemas eleitorais referenciados .................................................................................... 38 
Conclusão do módulo......................................................................................................................... 40 
Material Complementar do módulo II ............................................................................................... 40 
MÓDULO III – PRÁTICA ELEITORAL ........................................................................................................ 41 
Unidade 1. Atualidade das leis que regem o Direito Eleitoral brasileiro ........................................... 42 
Unidade 2. O sistema eleitoral brasileiro ........................................................................................... 44 
Unidade 3. Eleições na prática ........................................................................................................... 45 
Unidade 4. Propaganda eleitoral: o que é permitido ou vedado ...................................................... 57 
Unidade 5. Gastos em campanha: arrecadação, limites, transparência ........................................... 60 
Unidade 6. Vamos realizar o cálculo eleitoral? .................................................................................. 61 
Unidade 7. Ações perante a Justiça Eleitoral ..................................................................................... 66 
Conclusão do módulo......................................................................................................................... 70 
Material complementar do módulo III: .............................................................................................. 70 
GLOSSÁRIO DO CURSO DE DIREITO ELEITORAL ..................................................................................... 71 
LEGISLAÇÃO E PRONUNCIAMENTOS JUDICIAIS CITADOS ...................................................................... 74 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................................. 74 
 
 
 
 
2 
 
DIREITO ELEITORAL 
 
 
MÓDULO I – DESAFIOS FUNDAMENTAIS DA DEMOCRACIA 
Unidade 1. O que é democracia? 
Unidade 2. Democracia direta, representativa e deliberativa 
Unidade 3. Mecanismos constitucionais de participação direta 
Unidade 4. Meu voto importa? Participação popular e consultas municipais conforme 
Emenda Constitucional nº 111/2021 
Unidade 5. Crise na democracia? Populismo, representação política e accountability 
Conclusão do módulo 
 
 
Objetivos: 
- Identificar os principais aspectos e conceitos da democracia; 
- Distinguir democracia direta, em sua forma original, das modalidades representativa e 
deliberativa; 
- Identificar as formas de exercício da soberania popular; 
- Refletir sobre os conceitos de soberania, povo e interesse público; 
- Entender a importância do voto e da participação política; 
- Compreender noções básicas sobre as eleições; 
- Entender a relevância da representação política para a democracia; 
- Relacionar conceitos de Ciência Política e Direito Eleitoral relacionados às eleições; 
- Compreender o surgimento da democracia direta e indireta; 
- Refletir sobre estudos atuais que apontam a crise da democracia. 
 
 
Explicação da ementa: serão trabalhados conceitos básicos de democracia: “O que é 
democracia?”; “O que é democracia representativa?”; além de serem tratados temas atuais 
de regimes democráticos, como a crescente onda de populismo, segundo definição de 
autores lidos internacionalmente: a exemplo de “Como as democracias morrem” (de Daniel 
Ziblatt e Steven Levitsky). Serão, também, de forma transversal, colocadas discussões 
sobre as tensões a oporem mecanismos de participação direta, representativa ou 
deliberativa e uma reflexão sobre a importância do voto para a configuração do sistema 
político. 
 
 
3 
 
Unidade 1. O que é democracia? 
 
Uma forma interessante de definir o que seja democracia, dado o seu caráter amplo e 
multidimensional, é fazendo com que você entenda o que não é democracia. 
 
Imaginem um Estado em que as decisões sejam centralizadas. Um poder quase absoluto 
sobre coisas que sejam importantes para você. O líder supremo define a sua profissão, 
escolhe os livros que você pode ler, os canais a que pode assistir, a maneira como pode se 
vestir. Isso não é democracia. 
 
Contudo, essa realidade existiu e ainda existe. É a situação dos Estados autoritários e, em 
sua expressão máxima, dos Estados totalitários. Nessas sociedades, o líder, ou pequeno 
grupo de líderes, está acima de qualquer lei e dita aos indivíduos o modo de agir, bem 
como guia o Estado pelos caminhos que julga adequados. 
 
Na história, já vimos a ascensão do líder por razões religiosas, hereditárias, competência 
no comando de exércitos, entre outras. Não há um meio exclusivo para se entender como 
alguém se torna líder supremo em uma sociedade. A característica marcante dos regimes 
autoritários, contudo, é esse domínio desproporcional, que permite uma limitação 
injustificada das liberdades individuais e coletivas. 
 
Talvez um exemplo de derrocada de liberdades individuais possa ser apontado no 
Afeganistão, em 2021, quando o movimento fundamentalista e nacionalista Talibã retornou 
ao poder, após a retirada de tropas dos Estados Unidos. Entre as mais marcantes limitações 
estão aquelas impostas às mulheres. As afegãs passaram a ser restritas em sua prática 
política e a ser obrigadas a utilizar burca nos espaços públicos. Em alguns casos, foram 
forçadas ao casamento, agredidas, sequestradas. 
 
Tudo isso está no campo do que não é democracia! 
 
Veja, portanto, que uma característica essencial da democracia se revela a partirdo que 
vimos até aqui: a democracia pressupõe o respeito a direitos fundamentais 
individuais e coletivos. 
 
Então, em uma democracia não existe violação a direitos individuais? 
Excelente pergunta. 
 
Até aqui, tratamos de situações extremas, mas nem sempre a mancha à democracia é tão 
evidente. Muitas vezes, a distinção entre o que seja liberdade individual ou abuso dessa 
liberdade não é muito clara e pode estar sujeita a variações culturais e históricas. 
 
Cabe uma observação: perceba que a comunicação por redes digitais ampliou ainda mais 
a incerteza, em virtude da flexibilidade e diversidade comunicativa. O alcance de uma 
mensagem, enviada por um usuário da internet, pode ficar na esfera particular, ao ser lida 
por amigos e familiares, porém, em alternativa, é possível que tenha uma abrangência 
nacional, sendo lida por milhares ou milhões de internautas. “O meio é a mensagem”, diria 
MacLuhan. 
 
4 
 
 
Muitas pessoas podem interpretar, em um caso concreto, a limitação a um direito como 
justa e devida, enquanto outras interpretariam a mesma limitação como abusiva. E não há 
resposta para isso. As desavenças e contradições fazem parte do jogo democrático e 
demonstram a sua vivacidade. O mais relevante é que se dê transparência e justificativa 
ao exercício do poder, sobretudo em situações de limitação de direito fundamental. 
 
Em verdade, não existe um modelo exato do que seja democracia, porém é possível 
identificar diferentes graus de regimes democráticos, conforme suas práticas. Há 
parâmetros internacionais firmados em tratados entre países, ou identificados por agências 
especializadas em avaliar a qualidade da democracia nos países. Embora não sejam 
análises inquestionáveis, contribuem para o debate. 
 
Curiosidade: 
Em 15 de setembro é celebrado o Dia Internacional da Democracia, como forma de 
lembrar a Declaração Universal da Democracia, assinada em 15 de setembro de 1997 
por 128 Estados. 
Vídeo das Nações Unidade: Dia Internacional da Democracia. 
https://www.youtube.com/watch?v=XuvoXO9brFE 
Mais sobre a agenda de sustentabilidade das Nações Unidas: https://brasil.un.org/pt-
br/sdgs 
 
Segundo Jairo Gomes (2020, p. 120-121): a democracia é compreendida nos planos 
político (participação na formação da vontade estatal), social (acesso a benefícios sociais 
e políticas públicas) e econômico (participação nos frutos da riqueza nacional, com acesso 
a bens e produtos); além disso, dá ensejo à organização de um sistema protetivo de 
direitos humanos e fundamentais. Na base desse regime encontra-se uma exigência ética 
da maior relevância, que é o respeito à dignidade da pessoa humana. Isso implica promover 
a cidadania em seu sentido mais amplo, assegurando a vida digna, a liberdade, a igualdade, 
a solidariedade, o devido processo legal, os direitos individuais, sociais, econômicos, 
coletivos, os direitos políticos, entre outros. 
 
A tipologia das formas de governo surgidas na Grécia Antiga, com Platão, Aristóteles e 
Políbio, parte de duas perguntas elementares. A primeira é “quem governa?” e distingue o 
governo de um, de poucos ou de muitos. A segunda pergunta é “como governa?”, com o 
sentido de indagar se o governo atende aos interesses do governante ou do Estado. 
 
Conforme as respostas a essas duas perguntas, classificava-se o governo, grosso modo, 
da seguinte maneira: 
 
 Monarquia – se uma pessoa detém o governo e o exerce em benefício de todos; 
 Tirania – se uma pessoa detém o governo e o exerce em benefício próprio; 
 Aristocracia – se poucas pessoas – as mais sábias ou mais capazes – constituem o 
governo; 
 Oligarquia – se pequenos grupos controlam o governo e exercem o poder em 
benefício próprio; 
https://www.youtube.com/watch?v=XuvoXO9brFE
https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
 
5 
 
 Democracia – se o poder é disperso por todo o povo. Designa o governo popular no 
qual as decisões são tomadas pela maioria dos cidadãos, que pode ser bom ou ruim 
conforme seja exercido em prol de todos ou represente a opressão das minorias 
pela força da maioria. 
 
 
A tipologia das formas de governo surgida na Grécia Antiga, com Platão, Aristóteles e 
Políbio, parte de duas perguntas elementares. A primeira é "quem governa?" e distingue 
o governo de um, de poucos ou de muitos. A segunda pergunta é "como governa?", 
com o sentido de indagar se o governo atende aos interesses do governante ou do Estado. 
 
Conforme as respostas a essas duas perguntas, classificava-se o governo, grosso modo, 
da seguinte maneira: 
 
 Monarquia - se uma pessoa detém o governo e o exerce em benefício de todos; 
 Tirania - se uma pessoa detém o governo e o exerce em benefício próprio; 
 Aristocracia - se poucas pessoas - as mais sábias ou mais capazes - constituem o 
governo; 
 Oligarquia- se pequenos grupos controlam o governo e exercem o poder em benefício 
próprio; 
 
Democracia - se o poder é disperso por todo o povo. Designa o governo popular no qual 
as decisões são tomadas pela maioria dos cidadãos, que pode ser bom ou ruim conforme 
seja exercido em prol de todos ou represente a opressão das minorias pela força da 
maioria. 
 
 
 
Unidade 2. Democracia direta, representativa e deliberativa 
 
A palavra “democracia” tem origem na Grécia, deriva de demokratia: demos, povo, e 
kratos, poder. Em sentido literal, “poder do povo”. Também se atribui a Grécia as 
experiências originais de democracia, a partir de reuniões em espaços públicos para 
tomada de decisão pelo povo, em uma modalidade qualificada como Democracia Direta. 
As decisões eram tomadas por maioria, após debates públicos. 
 
Precisa ser dito, todavia, que não havia sufrágio universal, e o que se entendia por povo à 
época se tratava, em verdade, de uma parcela reduzida da população. 
 
A concepção de democracia, enquanto governo do povo, está consagrada logo no artigo 1º 
de nossa Constituição. 
 
 
 
6 
 
Constituição da República (1988) 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e 
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem 
como fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político. 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes 
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. 
 
No parágrafo único, segunda parte, perceba que a democracia é prevista para ser exercida 
pelo povo, de forma direta (Democracia Direta) ou por seus representantes eleitos 
(Democracia Representativa). 
 
Uma informação importante é que a representação “não foi inventada pelos democratas, 
mas desenvolvida como uma instituição medieval de governo monárquico e aristocrático” 
(DAHL, 2012. p. 43). Passadas poucas gerações, “a representação passou a ser admitida 
pelos democratas e republicanos como uma solução que eliminou os antigos limites ao 
tamanho dos Estados democráticos e transformou a democracia” (DAHL, 2012, p. 44). As 
sociedades complexas puderam presenciar a passagem de um mecanismo que se adequava 
apenas às cidades-estados “para uma doutrina aplicável aos grandes Estados nacionais da 
era moderna”. (DAHL, 2012, p. 44) 
 
Perceba que as sociedades cresceram e ganharam novos contornos, e isso se tornou um 
imenso complicador à democracia direta estrita. 
 
Nos dias atuais, seria inimaginável um espaço público que concentrasse os milhões de 
brasileiros e, cada um deles, com direito de voz e voto. Não haveria praça ou estádio de 
futebol que comportasse tantas pessoas, nem haveria tempo para que todos se 
manifestassem até a exaustão! Imagine isso. Portanto, desenvolve-se a representação por 
eleição como opção viável. Além disso, os cidadãos não têm condições de acompanhar 
todos os assuntosde interesse do Estado nem podem ser consultados sobre cada nova 
regra a ser implementada. As pessoas se incumbem de atividades cotidianas, relacionadas 
à família, trabalho e, por conseguinte, não conseguem despender o tempo necessário para 
acompanhar e compreender todos os assuntos em pauta em uma Casa Legislativa. 
 
Pelo que já foi visto, a eleição se constitui no método de organização da democracia 
representativa, essencial às sociedades complexas. Um mecanismo que permite a 
substituição do povo por aqueles que foram escolhidos via processo eleitoral, formando o 
governo indireto. Na democracia indireta a vontade do povo é manifesta pelos 
representantes eleitos. Os governos são considerados representativos e têm liberdade para 
agir segundo os interesses da população em um ambiente de eleições livres, participação 
popular ampla e indivíduos com liberdade para agir politicamente. 
 
 
7 
 
Curiosidade: 
A democracia semidireta ou mista (GOMES, 2015, p. 124) concilia elementos dos dois 
modelos. Os chefes do executivo e membros do parlamento são eleitos pelo povo, mas o 
modelo representativo é combinado com mecanismos de intervenção popular direta. No 
Brasil, os institutos do plebiscito, referendo e iniciativa popular servem ao propósito de 
participação direta (Constituição da República/1988: art. 14, I, II, III e art. 61, § 2º). 
Assista: 
1- “O que é democracia?” 
https://www.youtube.com/watch?v=1sT7ZCkxolw/www.youtube.com/watch?v=1sT
7ZCkxolw 
2- “O que é democracia representativa?” https://www.youtube.com/watch?v=m-
l5F_vgC6o&t=103s 
3- “O que é democracia participativa?” 
https://www.youtube.com/watch?v=ekC5SK-TPtM&t=14s 
 
Por seu papel de representação, o político tem o dever de legitimação de seu mandato 
assumindo compromissos e exercendo uma representação articulada com o eleitor, sob o 
risco de perder seu voto no escrutínio subsequente. Nesse contexto, o mandatário cumpre 
um papel em duas dimensões: primeiro, ao expor suas ideias ainda no período eleitoral, 
comprometendo-se com o seu público; segundo, exercendo o mandato em contato com os 
interesses dos representados. Daí a importância dos partidos programáticos, para que as 
propostas sejam conectadas a plataformas de governo e não fiquem subjugadas ao carisma 
personalíssimo de cada candidato. 
 
Uma questão que passou a ser ampla e profundamente discutida por filósofos políticos da 
segunda metade do século XX consistia em combinar uma democracia representativa com 
a efetiva observância aos interesses da coletividade. Vários autores (Elster, 1986; Manin, 
1987; Held, 1995), com destaque para Jürgen Habermas (1997), passaram a apontar a 
importância da participação, ou mais do que isso, da deliberação popular na tomada de 
decisão. Habermas é o responsável pelo desenvolvimento do conceito de “Democracia 
Deliberativa”. 
 
Habermas realça o papel da comunicação para o alcance de resultados racionais e justos, 
e, também, aponta que estes resultados devem ser obtidos de forma autônoma pela 
sociedade. (Habermas, 1997, v. II, p. 19). Em outras palavras, a legitimidade em uma 
democracia estaria associada à pluralidade comunicativa e à autodeterminação. Os 
cidadãos participam da tomada de decisão e expõem a sua percepção sobre os assuntos 
de seu interesse, de forma livre. 
 
O ideal democrático considera que a todos deva ser reconhecida a liberdade de 
participação, mas além de serem ouvidos, seria necessário que cada um dos 
interesses fosse igualmente considerado, de tal modo que os grupos minoritários 
pudessem integrar a tomada de decisão. 
 
Unidade 3. Mecanismos constitucionais de participação direta 
 
Como visto, o Brasil consolida um modelo de democracia semidireta, pois combina a 
representação política com o tempero de mecanismos de participação popular direta. 
https://www.youtube.com/watch?v=1sT7ZCkxolw/www.youtube.com/watch?v=1sT7ZCkxolw
https://www.youtube.com/watch?v=1sT7ZCkxolw/www.youtube.com/watch?v=1sT7ZCkxolw
https://www.youtube.com/watch?v=m-l5F_vgC6o&t=103s
https://www.youtube.com/watch?v=m-l5F_vgC6o&t=103s
https://www.youtube.com/watch?v=ekC5SK-TPtM&t=14s
 
8 
 
Mecanismos que viabilizam a atuação objetiva do povo, sem intermediação para a sua 
manifestação de vontade. 
 
Nessa linha, a Constituição considera diretos os mecanismos de consulta ao povo sobre 
temas relevantes. Estamos falando de: plebiscito; referendo; iniciativa popular. 
 
 
Constituição: 
 
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e 
secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: 
I - plebiscito; 
II - referendo; 
III - iniciativa popular. 
[...] 
 
 
Por meio do plebiscito e do referendo o povo é chamado a opinar sobre matéria considerada 
de elevada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa. 
 
Em que se distinguem plebiscito e referendo? 
- O plebiscito é realizado antes da elaboração do ato legislativo ou administrativo. Ao 
povo cabe, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe seja submetido. Havendo aprovação, 
o ato é formulado. O caso emblemático de plebiscito no Brasil é o ocorrido em 1993, quando 
os cidadãos opinaram sobre a forma (Monarquia ou República), bem como sobre o sistema 
(Parlamentarismo ou Presidencialismo) de governo. O povo decidiu pela continuidade da 
República e do Presidencialismo. 
 
- O referendo é realizado após a elaboração do ato legislativo ou administrativo. Nessa 
situação, ao povo cabe, pelo voto, ratificar ou rejeitar o ato submetido a sua avaliação. Em 
2005, os brasileiros rejeitaram, em referendo, a alteração no artigo 35 do Estatuto do 
Desarmamento (Lei nº 10.826/2003) que pretendia vedar a comercialização de arma de 
fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas na própria 
lei. 
 
Ok, mas vejam que, ainda, falta uma ferramenta constitucional de participação direta: a 
iniciativa popular. Em que consiste essa tal iniciativa popular? 
 
Trata-se do poder conferido aos populares para que juntos possam apresentar projeto de 
lei à Câmara dos Deputados. Parece muito salutar que a carta constitucional autorize uma 
parcela significativa da população a propor uma lei, prerrogativa que atende a uma série 
de autoridades... 
 
Então, por que não permitir que uma parte significativa da população também possa propor 
um projeto de lei de modo direto? 
 
9 
 
 
Isso é possível. Obviamente, não seria razoável que qualquer cidadão individualmente 
tivesse a prerrogativa de apresentar um projeto e este projeto pudesse ser analisado pela 
casa legislativa. Imaginem... Isso sobrecarregaria o Congresso Nacional e não teria o 
respaldo comprovado em manifestações de outros cidadãos. 
 
Por esse motivo, a Constituição prevê que o projeto de iniciativa popular seja subscrito 
por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, com distribuição em pelo menos cinco 
Estados, com não menos do que três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. 
 
A lei que regula os instrumentos de participação direta, nº 9.709, de 1998, prevê mais dois 
aspectos a serem observados pelo instituto da iniciativa popular: 
1º) que o respectivo projeto se restrinja a um só assunto; 
2º) que este projeto não pode ser rejeitado por vício de forma. 
Quando ocorrer vício desse tipo, a Câmara dos Deputados deverá providenciar a correção 
das eventuais impropriedades de técnica legislativa ou de redação. 
 
O legislador quis colocar a salvo, assim, o exercício da cidadania, independentemente de 
alguma questão meramente processual que pudesse limitar a atuação da soberania popular 
em sua manifestação constitucional. 
 
Importante! 
 
A concepção de soberania popular estabelece que o povo é a base do poder, e a igualdade 
dos cidadãos é a essência do processo democrático. Assim, a soberania popular é o eixo 
sobre o qual se sustenta o sistema democrático.Curiosidade 
Quem pode propor um Projeto de Lei? 
O artigo 61 da Constituição prevê que um projeto de lei pode ser proposto por qualquer 
parlamentar (deputado ou senador), de forma individual ou coletiva, assim como por 
qualquer comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso 
Nacional, pelo Presidente da República, pelo Supremo Tribunal Federal, pelos Tribunais 
Superiores e pelo Procurador-Geral da República. Além disso, como objeto deste tópico 
do curso, vimos que a Constituição prevê a iniciativa popular de leis. 
Fluxograma: https://www.camara.leg.br/entenda-o-processo-legislativo/ 
 
O princípio da soberania popular se manifesta em diversos momentos e instrumentos. Não 
podemos pensar que a sociedade seja ouvida somente pelos mecanismos literalmente 
previstos na Constituição. Há inúmeras outras ferramentas oficiais ou não oficiais 
destinadas a promover a participação popular. Os parlamentos e órgãos públicos adotam 
ensinamentos de governança. Na atualidade, por exemplo, é permitido ao cidadão 
apresentar ideias diretamente ao Senado Federal ou à Câmara dos Deputados, para serem 
submetidas a um procedimento e, ao final, se for o caso, convertidas em projeto de lei. 
 
https://www.camara.leg.br/entenda-o-processo-legislativo/
 
10 
 
Unidade 4. Meu voto importa? Participação popular e consultas municipais conforme 
Emenda Constitucional nº 111/2021 
 
Como apresentado na unidade anterior, a Constituição procurou estabelecer mecanismos 
de participação popular direta. Todavia, em razão de fatores que envolvem burocracia e 
custos elevados de execução, não há exagero em mencionar que esses mecanismos 
apresentaram resultados que não são exatamente promissores. Foram utilizados de forma 
escassa desde a sua criação e não causaram o impacto esperado. 
 
Além de burocracia e custos, mais um importante fator que contribuiu para a rara 
ocorrência de ações de plebiscito, referendo e iniciativa popular decorreu de novidades na 
área da comunicação social. Vejam que o advento de novas tecnologias tornou a 
comunicação mais ágil, a atuação dos cidadãos pela internet criou instrumentos de pressão 
que podem ser assimilados por um parlamentar atento. 
 
Ora, parece tarefa simples, para um deputado federal por exemplo, observar a vontade 
popular em diferentes municípios e estados e, de modo legítimo, apresentar projeto que 
se alinhe à vontade manifesta. Em contrapartida, o parlamentar estaria elevando o seu 
capital político, bem como atenderia os critérios para exercício de um mandato responsivo, 
orientado por interesses coletivos, como, em teoria, seria desejável. 
 
O cidadão não exerce a atividade política somente no momento do voto, mas também 
quando manifesta a sua opinião, de forma livre, protegido por normas constitucionais de 
liberdade de expressão. E são inúmeras as formas de se manifestar, seja em canais oficiais, 
seja em ferramentas digitais, como as famosas redes: Facebook, Instagram, TikTok, 
Whatsapp, Telegram, Twitter, entre tantas outras. 
 
Curiosidade 
A história registra, outrossim, casos de manifestação da insatisfação com a classe política 
por meio do voto. Foi o que ocorreu em 1959, quando um rinoceronte recebeu mais 
votos do qualquer outro candidato a vereador da cidade de São Paulo. 
https://www.youtube.com/watch?v=in9EAZZ_Ovs 
 
Na linha de estímulo à participação popular na atividade legislativa, em 2012, o Senado 
Federal criou o portal e-Cidadania. Ao longo dos anos, foram consolidadas três formas de 
participação por este portal, são elas: 
 
1) Evento Interativo: permite o envio de perguntas, dúvidas, comentários às 
audiências públicas, sabatinas ou qualquer outro evento aberto; 
 
2) Consulta Pública: permite que o interessado opine a favor ou contra projetos de lei, 
propostas de emenda à Constituição, medidas provisórias ou alguma outra 
proposição em tramitação no Senado Federal; 
 
3) Ideia Legislativa: certamente a mais importante ou efetiva ferramenta do e-
Cidadania para a participação popular. Por esta ferramenta, o indivíduo envia um 
argumento para ser transformado em projeto de lei ou apoia outros argumentos já 
enviados por outros usuários. As ideias que recebem mais de 20 mil apoios, isto é, 
https://www.youtube.com/watch?v=in9EAZZ_Ovs
https://www12.senado.leg.br/ecidadania
 
11 
 
votos virtuais favoráveis, são encaminhadas para a Comissão de Direitos Humanos 
e Legislação Participativa (CDH), onde recebem parecer, se deferidas pelos 
senadores da Comissão, tornam-se projetos de lei da própria Comissão. 
 
Embora, não se possa falar em iniciativa popular, o mecanismo de elaboração de projeto 
de lei apresentado pelo e-Cidadania, via “Ideia Legislativa” é, sem dúvida, um aporte para 
a conexão entre os parlamentares e eleitores, dentro do que pode ser visto como uma 
atuação específica do senador compartilhada com o público. 
 
A Câmara dos Deputados tem um portal semelhante, o e-Democracia, que, todavia, 
apresenta padrões um pouco diferentes. O e-Democracia foi criado como ambiente virtual 
de debates, no ano de 2009, e remodelou-se a partir de 2013. Aos poucos, passou a abrigar 
ferramentas de participação do cidadão em audiências públicas e de sugestão de alteração 
de textos de projeto de lei. As três ferramentas que Câmara dos Deputados disponibiliza 
são: 
 
1) Wikilegis: se for do interesse do relator da matéria ou do presidente da comissão 
temática, um projeto de lei pode ser publicado no Wikilegis, para receber 
colaborações em seu texto, como se tratasse de um editor aberto à participação 
coletiva. As sugestões de texto são analisadas por consultores legislativos e podem 
ser incorporadas ao projeto, a critério do relator; 
 
2) Audiências Interativas: permite, tal qual no Senado, que os interessados enviem 
perguntas, dúvidas, comentários em audiências públicas; 
 
3) Expressão: confere aos usuários a liberdade para criar discussões sobre o tema que 
for de seu interesse. Há, igualmente, a oportunidade para que os deputados possam 
interagir por escrito ou por vídeos nos debates. 
 
Esses são apenas dois exemplos de portais desenvolvidos para estimular a participação da 
sociedade nas atividades legislativas, em atenção ao princípio da soberania popular. As 
Assembleias Legislativas, Câmara Legislativa, assim como as Câmaras Municipais 
colecionam muitas outras iniciativas no mesmo sentido, com apoio, vale mencionar, das 
emissoras e canais de transmissão dos eventos que ocorrem em cada órgão. Trata-se de 
ferramentas de participação popular sem previsão expressa na Constituição, mas que são 
por ela viabilizadas, em razão de princípios e regras democráticas. 
 
Perceba que essas formas de contato não prejudicam a importância do voto. Ao contrário, 
a proximidade entre parlamentares e eleitores é desejável como modo de ampliar a 
fiscalização do exercício dos mandatos políticos. Nadia Urbinati (2008, p. 387-412) sugere 
que a atuação do político se fortalece por uma interação constante com os eleitores. 
Entende que esse contato contribui para ampliar a legitimidade da representação política. 
Bernard Manin (1999, p. 30) considera que o político cumpre seu papel em dois momentos: 
primeiro, ao expor suas ideias ainda no momento das eleições, comprometendo-se com o 
seu público; segundo, exercendo o mandato conforme os interesses dos representados. 
 
O voto tende a ser, portanto, o momento de maior impacto da democracia, é a festa da 
democracia!...quando as pessoas vão dar o seu recado aos políticos. Dizer se continuam 
confiando naqueles que já ocupam algum cargo, dando-lhes a oportunidade da reeleição, 
ou se entendem que é hora de dar a outro político o seu voto e a sua confiança. 
 
https://edemocracia.camara.leg.br/
 
12 
 
O seu voto, o meu voto, o de todos nós importa e é por meio da soma deles que podemos 
dar recados contundentes aos políticos, de forma a demonstraro poder de transformação 
popular. Vejam que além de seu voto, é possível que você contribua, também, prestando 
informações sobre a conduta de políticos no exercício do mandato. Essa fiscalização recebe 
o nome de accountability e pode ser realizada por autoridades ou qualquer pessoa que 
queira se informar ou pedir esclarecimentos, quando for o caso, sobre a conduta de 
vereadores, deputados, senadores ou chefes do executivo. 
 
 
Unidade 5. Crise na democracia? Populismo e representação política 
 
A ideia de que votos iguais não seriam suficientes para atender à igualdade política é 
amplamente observada e identificada no meio acadêmico. Em outras palavras, não 
podemos dizer que o fato de todos os cidadãos terem o mesmo direito ao voto, que isso 
irá significar, na prática, que o peso político de cada pessoa é idêntico. A vida real é mais 
dura do que isso. 
 
Com efeito, a questão econômica é um fator de distorção, talvez o mais significativo, por 
favorecer políticos com poder aquisitivo maior, em detrimento daqueles com restrição 
financeira. Dificilmente, um político é eleito com recursos escassos. Normalmente os eleitos 
aportam elevado montante de dinheiro em sua campanha. O Tribunal Superior Eleitoral 
(TSE) divulga os gastos de cada campanha eleitoral 
(<https://www.tse.jus.br/eleicoes/processo-eleitoral-brasileiro/contas-
eleitorais/prestacao-de-contas-eleitorais>) 
 
Porém, não para por aí. O poder de pressão daqueles que detêm maior concentração de 
recursos econômicos costuma ser impressionante em todos os processos político-eleitorais. 
Os famosos grupos de pressão exercem influência não só na escolha de candidatos como 
também para a aprovação de projetos de lei de acordo com os interesses que representam. 
A esse fenômeno é dado o nome de lobby – termo em inglês. 
 
Qual o significado da palavra lobby? 
 
Lobby consiste na “ação política em favor de grupos ou corporações específicas, ou seja, 
estão em pauta interesses privados, geralmente de ordem financeira, os quais tendem 
mesmo a causar a indignação de vastos segmentos sociais” (RODRIGUES; 2008) 
https://www.youtube.com/watch?v=WQYe12LsCLo 
 
 
Ao estudar as regras eleitorais você verá que um dos fundamentos de elaboração de lei na 
área reside, justamente, na tentativa de limite ao abuso do poder econômico. 
 
O texto constitucional (1988) impõe o tratamento isonômico às pessoas, 
independentemente de características pessoais ou de origem. A Constituição dispõe como 
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (art. 3º, CR/1988) os seguintes: 
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II - garantir o desenvolvimento nacional; 
https://www.youtube.com/watch?v=WQYe12LsCLo
 
13 
 
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e 
regionais; 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e 
quaisquer outras formas de discriminação. 
 
Não é o que acontece no Brasil. Os sistemas eleitorais têm refletido o desequilíbrio social, 
ainda que adotados segundo o princípio proporcional de representação. Essa distorção é 
passível de ser aferida não somente nos índices de confiança em políticos, mas também 
em análise de dados que comprovam a concentração de determinados perfis demográficos 
nas instâncias políticas. 
Essa questão estaria associada à desproporcional representatividade dos perfis quanto a 
etnia e gênero, em comparação à ocorrência na sociedade. Para ilustrar, os 513 deputados 
federais eleitos em 2018 assim se distribuem: 
i) quanto ao perfil de cor da pele (número por autodeclaração/ percentual): amarela 
(2/ 0,39%); branca (386/ 75,24%); indígena (1/ 0,19%); parda (103/ 20,08%); preta 
(21/ 4,09%). A distribuição na sociedade brasileira, por apuração do Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 2019), por 
critério de autodeclaração assim se configura: 42,7% dos brasileiros se declararam como 
brancos, 46,8% como pardos, 9,4% como pretos e 1,1% como amarelos ou indígenas. Há, 
desse modo, uma sobrerrepresentação da população que se declara branca na Câmara dos 
Deputados. 
ii) quanto ao gênero (número/ percentual): mulheres (77/ 15,01%); homens (436/ 
84,99%). De acordo com a PNAD (2019), a população brasileira é composta por 48,2% de 
homens e 51,8% de mulheres. Há, desse modo, uma sobrerrepresentação dos homens na 
Câmara dos Deputados. 
 
Quanto aos índices, o Brasil ocupa o último lugar no ranking de confiança em políticos, 
segundo análise do Fórum Econômico Mundial (2018). E o mais grave: estas verificações 
têm repercussão na descrença com o regime. Análises de diversos institutos indicam a 
insatisfação da população com a democracia, quase sempre se declarando insatisfeitos ou 
muito insatisfeitos com a democracia. 
 
Os números estariam indicando a necessidade de reformas em vista do risco de ruptura 
crescente. Com efeito, as minorias não se sentem incluídas nas instituições políticas nem 
os eleitores se sentem conectados a seus mandatários. 
. Verifica-se, por conseguinte, que os debates sobre a democracia sugerem a necessidade 
da ressignificação da representação política. 
 
Essa descrença com a classe política tem levado autores a descreverem situações comuns 
a vários países, em que há um processo de deslegitimação dos sistemas políticos e, na 
esteira, a diminuição do valor da democracia para a sociedade. 
 
Como as democracias morrem? 
 
O livro “Como as Democracias Morrem” (2018), de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, mostra 
como um aparato legal e legítimo pode, de maneira lenta, matar as democracias. Ao 
contrário do que se praticava no passado para enterrar um governo democrático, os golpes 
militares se tornaram ultrapassados. Contudo, na modernidade, as próprias eleições têm 
levado ao poder líderes autoritários. É por via legal que esses líderes descortinam o 
autoritarismo e expandem suas forças, com vistas a assegurar a sua perpetuação no poder. 
 
14 
 
Ao final, as democracias morrem pela ineficácia dos seus mecanismos de defesa, que não 
conseguem impedir a ascensão desses líderes autoritários. 
 
Para ilustrar, Levitsky e Ziblatt fazem uma metáfora com uma partida de futebol para 
explicar o modelo empregado pelos autocratas de desvirtuamento do sistema político. As 
técnicas equivaleriam a retirar de campo os melhores jogadores, alterar as regras do jogo 
em benefício próprio e reter o árbitro. As mudanças das regras do jogo, no campo político, 
se dariam por meio de reformas das instituições, do sistema eleitoral ou da Constituição, 
de forma populista e a beneficiar seu próprio grupo de interesse. 
 
Haveria várias maneiras de se chegar ao poder. Todavia, na atualidade, é por meio do voto 
popular que candidatos não tradicionais politicamente e que fazem discursos anti-
establishment têm conseguido a ascensão. Segundo os autores, a morte das democracias 
é mais comum quando os políticos e discursos autoritários e antidemocráticos são 
subestimados. 
 
Apontam, ainda, que é possível identificar os autocratas por meio de quatro indicadores de 
comportamentos autoritários, são eles: rejeitar as regras do jogo democrático; negar a 
legitimidade de seus oponentes políticos; ser tolerante com e encorajar a violência; ter 
propensão a restringir liberdades civis por meio de medidas autoritárias que reduzem 
liberdades da imprensa e de adversários. 
 
Para resguardar a democracia de possíveis autocratas, o livro considera que os partidos 
políticos poderiam agir como legítimos guardiões da democracia. Isso porque é de 
responsabilidade dos partidos políticos a escolha dos candidatos que irão concorrer aos 
cargos. 
 
Conclusão do módulo 
 
Parabéns! Você chegou ao final do Módulo I de estudo do curso Direito Eleitoral. 
Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma releiturado 
mesmo e responda os Exercícios de Fixação. O resultado não influenciará na sua nota final, 
mas servirá como oportunidade de avaliar o seu domínio do conteúdo. Lembramos, ainda, 
que a plataforma de ensino faz a correção imediata de suas respostas! 
Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui. 
 
Material complementar do módulo I 
Divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea): 
URBINATI, Nádia. O que torna a representação democrática?. Lua Nova, nº. 67, p. 
191-227. Disponível 
em: http://desafios2.ipea.gov.br/participacao/images/pdfs/participacao/outras_pe
squisas/urbinati.pdf 
Resenha de livro: 
DYER, Caio de Mesquita Dyer; SOTER, Eduardo Rodrigues. Resenha crítica do livro 
“Como as democracias morrem” de Daniel Ziblatt e Steven Levitsky. Revista 
Culturas Jurídicas, Vol. 5, Núm. 12, set./dez., 2018. Disponível em: 
http://desafios2.ipea.gov.br/participacao/images/pdfs/participacao/outras_pesquisas/urbinati.pdf
http://desafios2.ipea.gov.br/participacao/images/pdfs/participacao/outras_pesquisas/urbinati.pdf
 
15 
 
<https://periodicos.uff.br/culturasjuridicas/article/view/45190/25956>. Acesso 
em: 21 ago 2021. 
 
 
MÓDULO II - TEORIA GERAL DO DIREITO ELEITORAL 
Unidade 1. Organização da Justiça Eleitoral 
Unidade 2. Conceitos, fontes e princípios do Direito Eleitoral 
Unidade 3. O Direito Eleitoral na Constituição da República 
Unidade 4. Os partidos políticos e a lei 
Unidade 5. Elementos históricos do voto no Brasil 
Unidade 6. Sistemas eleitorais: princípios majoritário e proporcional 
Unidade 7. Sistemas eleitorais referenciados 
 7.1 Sistema eleitoral estadunidense e suas críticas 
 7.2 Sistema eleitoral alemão e suas críticas 
Conclusão do módulo 
 
 
Objetivos: 
 
- Identificar os princípios do Direito Eleitoral; 
- Apresentar os princípios constitucionais que configuram as regras gerais do Direito 
Eleitoral; 
- Identificar quais são os direitos políticos fundamentais relativos ao voto; 
- Entender a organização e funcionamento da Justiça Eleitoral; 
- Descrever os princípios que regem a organização e o funcionamento dos partidos 
políticos e das eleições no Brasil; 
- Indicar a evolução histórica dos partidos políticos no Brasil; 
- Discutir sobre a história do voto no Brasil; 
- Refletir sobre os mecanismos de votação mais frequentes e as distinções entre eles, 
sobretudo, quanto aos critérios de proporcionalidade ou maioria, e divisão em distrito; 
- Apresentar o sistema eleitoral brasileiro e criticá-lo; 
- Descrever os sistemas eleitorais dos Estados Unidos e Alemanha e compará-los ao 
brasileiro. 
- Discutir com competência questões de reforma eleitoral. 
 
 
Explicação da ementa: neste módulo, serão discutidos conceitos e princípios de Direito 
Eleitoral contemplados pela Constituição, o sistema partidário no Brasil, bem como serão 
tratadas as tipologias de sistemas eleitorais mais comuns e predominantes em países 
ocidentais, a evolução histórica e os mecanismos em vigor no Brasil. Em razão de seu 
poder de influência sobre outros países, os modelos utilizados em Estados Unidos e 
Alemanha serão tratados com detalhamento. 
 
 
 
16 
 
 
 
 
 
Olá, pessoal! Nesse encontro, iniciamos o nosso segundo módulo. Nele vamos trabalhar, 
de forma sistêmica e clara, organização da Justiça Eleitoral, conceitos, objeto de estudo, 
fontes, objetivos e princípios do Direito Eleitoral brasileiro. 
 
O intuito é introduzir a temática para que, em um momento posterior, possamos trabalhar 
o conhecimento do Direito Eleitoral àqueles que desejam atuar nas eleições na condição de 
candidato, de cidadão que presta assistência a uma candidatura ou de eleitor interessado 
em exercer a sua cidadania. 
 
 
 
Unidade 1. Organização da Justiça Eleitoral 
 
A cada dois anos, conseguimos perceber que alcançou o imaginário popular a imagem de 
órgãos judiciários organizando as eleições no Brasil. Em época de eleições, não raro vemos 
o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), órgão máximo da Justiça Eleitoral, 
comunicando à população medidas de transparência e de maior organização do sistema de 
votação. Isso decorre de uma acumulação de tarefas por parte dos órgãos judiciários no 
Brasil, consolidando os dois pilares da Justiça Eleitoral: 1) administração das eleições e 2) 
julgamento dos contenciosos eleitorais. 
 
Cada País tem suas particularidades para organizar as eleições (administração dos 
processos eleitorais), bem como para a definição de autoridades específicas para julgar os 
processos judiciários envolvendo imbróglios eleitorais (contencioso eleitoral). No Brasil, a 
Justiça Eleitoral acumula as duas atribuições. Algo incomum em outros países. 
 
No caso francês, por exemplo, as eleições presidenciais são acompanhadas de uma 
comissão governamental – a Comissão Nacional de Controle da Campanha Eleitoral –, à 
qual compete assegurar a igualdade entre os candidatos e o respeito às regras de 
campanha. Ela é composta de cinco membros: o vice-presidente do Conselho de Estado; 
o primeiro presidente da Corte de Cassação; o primeiro presidente da Corte de Contas; e 
dois membros do Conselho de Estado, da Corte de Cassação ou da Corte de Contas, 
nomeados pelos três primeiros membros. Trata-se de um órgão de natureza 
administrativa. Não tem, portanto, o status judiciário comum ao caso brasileiro. 
 
Além da comissão nacional, em cada departamento francês é constituída uma Comissão 
Local de Controle; e, além dessas, há também as comissões de propaganda para eleições 
parlamentares. Desse modo, ao contrário do que ocorre no Brasil, não há na França uma 
Justiça Eleitoral. A matéria eleitoral lá, na França, é submetida a diversos juízos, inclusive 
à figura do administrador de região (prefét), cujo ato poderá ser questionado no tribunal 
administrativo. Se a questão é relativa à campanha presidencial ou à organização das 
eleições (entre outras questões), pode ser submetida ao Conselho Constitucional; se se 
tratar de abuso de poder, pode ser enviada à autoridade do Conselho de Estado; mas, se 
o assunto envolve fraude, o juízo criminal será o competente. 
 
17 
 
 
Esse não é o único fator a induzir a pequena regulamentação da propaganda eleitoral 
francesa. A escassez de dispositivos legais relativos à propaganda eleitoral se deve também 
à forte fiscalização exercida sobre as eleições. O horário eleitoral gratuito em rádio e 
televisão franceses, por exemplo, limita-se às redes públicas, e tem o tempo dividido de 
modo isonômico pelo Conselho Superior do Audiovisual – CSA. Ao CSA compete, ainda, por 
meio de representantes, acompanhar e aprovar a gravação dos programas dos candidatos 
para emissoras públicas de televisão e rádio, nos quais não poderão constar mensagens 
de cunho publicitário ou que firam a honra de alguém, entre outras restrições. 
 
Nos Estados Unidos, ocorre uma complexidade ainda maior, pois os Estados têm, 
isoladamente, autonomia para definir regras de organização de suas eleições. Em um País 
de tamanha grandeza, como os Estados Unidos, em que há 50 Estados, é natural que haja 
divergências consideráveis quanto à organização eleitoral entre seus entes. Ocorre, 
raramente, a solução do contencioso pela Justiça Federal norte-americana. Costuma haver 
um posicionamento de corte federal somente quando há violação a alguma regra que esteja 
sob a sua tutela. Seria a situação, basicamente, de uma fraude ou de crime relacionado ao 
financiamento de campanha. 
 
Para que o julgamento de uma questão relacionada às eleições seja levado à Suprema 
Corte – o equivalente ao Supremo Tribunal Federal, no Brasil – é ainda mais raro. Em 
regra, antes de chegar a este nível, o processo passa pelo juiz do condado, em seguida 
pelo Tribunal de Apelação e pela Suprema Corte do Estado, para, aí sim, poder chegar à 
Suprema Corte dos Estados Unidos. 
 
Em linhas gerais, lá, nos Estados Unidos, não há uma JustiçaEleitoral, em que há um rol 
de tribunais específicos, como ocorre no Brasil. As cortes que tratam de assuntos eleitorais 
não configuram, exatamente, o que possa ser definido como uma Justiça Eleitoral. Para 
além da autonomia dos Estados para definir regras e organização de campanhas em seu 
território, existem, na dimensão nacional, cortes que julgam contenciosos relacionados à 
temática, sem que, todavia, isso configure um sistema independente de procedimentos, 
recursos, órgãos e processos. 
 
A prática internacional que podemos verificar nestes dois exemplos, ou em tantos outros, 
está em “não acumular” os dois pilares, de tal forma que o órgão que organiza as eleições 
não é o órgão que julga os contenciosos. Essa acumulação é complexa e pode 
sobrecarregar um dos poderes da República, ou, conforme críticas pertinentes, causar 
desequilíbrio entre esses poderes por conferir certa ascendência do Judiciário sobre os 
demais. 
 
 
 
Portanto, como podemos definir a Justiça Eleitoral? 
 
Como um sistema formado por órgãos de jurisdição especializada, integrante do Poder 
Judiciário com atribuições para organizar o processo eleitoral e julgar os contenciosos desta 
seara. Tem poder para conduzir os processos de: alistamento eleitoral, impugnação de 
candidatura, votação, apuração dos votos, diplomação dos eleitos, entre muitos outros. 
 
 
18 
 
Para que todas essas atribuições sejam exercidas, conforme fundamentação constitucional 
(arts. 118 a 121), a Justiça Eleitoral se compõe de: 
 
 
Última instância eleitoral 
 
 
 
 
 
 
 
 O Tribunal Superior Eleitoral compõe-se de, no mínimo, sete membros, escolhidos: 
I - mediante eleição, pelo voto secreto: a) três juízes dentre os Ministros do 
Supremo Tribunal Federal; b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de 
Justiça; 
II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advogados de 
notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal. 
O Tribunal Superior Eleitoral elege seu Presidente e o Vice-Presidente dentre os 
Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o Corregedor Eleitoral dentre os Ministros do 
Superior Tribunal de Justiça. 
Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois anos, 
no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos escolhidos 
na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada categoria. 
 
 
 
Segunda instância eleitoral 
 
 
 
 
 
 
 
Há um Tribunal Regional Eleitoral na Capital de cada Estado e no Distrito Federal. 
Os Tribunais Regionais Eleitorais compõem-se: 
I - mediante eleição, pelo voto secreto: a) de dois juízes dentre os desembargadores 
do Tribunal de Justiça; b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal 
de Justiça; 
II - de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na Capital do Estado ou no 
Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido, em qualquer caso, pelo 
Tribunal Regional Federal respectivo; 
III - por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes dentre seis 
advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça. 
O Tribunal Regional Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente- dentre os 
desembargadores. 
TSE 
Tribunal 
Superior 
Eleitoral 
TRE 
Tribunais 
Regionais 
Eleitorais 
 
19 
 
 
 
Primeira instância eleitoral 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Os juízes eleitorais são os próprios juízes de Direito de primeiro grau de jurisdição 
integrantes da Justiça Estadual e do Distrito Federal (art. 32 do Código Eleitoral), que 
autuam no campo eleitoral de forma cumulativa. 
 
 
 
OBS. Uma regra comum aos tribunais eleitorais é de que os juízes, salvo motivo justificado, 
servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos. Há 
também os substitutos, que são escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em 
número igual para cada categoria. Se vocês entrarem no site do TSE (em: 
https://www.tse.jus.br/o-tse/ministros/apresentacao), verão que há a informação sobre a 
composição do tribunal, por 7 ministros efetivos e 7 ministros substitutos. 
 
 
Competências dos órgãos da Justiça Eleitoral 
Informações disponíveis em: https://www.tse.jus.br/o-tse/escola-judiciaria-
eleitoral/publicacoes/revistas-da-eje/artigos/revista-eletronica-eje-n.-1-ano-4/justica-
eleitoral-composicao-competencias-e-funcoes 
 
Competências do Tribunal Superior Eleitoral (TSE): (i) processar e julgar originariamente 
o registro e a cassação de registro de partidos políticos, dos seus diretórios nacionais e 
de candidatos à Presidência e Vice-Presidência da República; (ii) julgar recurso especial 
e recurso ordinário interpostos contra decisões dos tribunais regionais; (iii) aprovar a 
divisão dos estados em zonas eleitorais ou a criação de novas zonas; (iv) requisitar a 
força federal necessária ao cumprimento da lei, de suas próprias decisões ou das decisões 
dos tribunais regionais que a solicitarem, e para garantir a votação e a apuração; e (v) 
tomar quaisquer outras providências que julgar convenientes à execução da legislação 
eleitoral. 
Competências dos tribunais regionais eleitorais: (i) processar e julgar originariamente o 
registro e o cancelamento do registro dos diretórios estaduais e municipais de partidos 
políticos, bem como de candidatos a governador, vice-governadores e membro do 
Congresso Nacional e das assembleias legislativas; (ii) julgar recursos interpostos contra 
atos e decisões proferidas pelos juízes e juntas eleitorais; (iii) constituir as juntas 
eleitorais e designar a respectiva sede e jurisdição; e (iv) requisitar a força necessária ao 
Juízes 
Eleitorais - 
(Cartórios 
eleitorais) 
Juntas 
eleitorais 
https://www.tse.jus.br/o-tse/ministros/apresentacao
 
20 
 
cumprimento de suas decisões e solicitar ao Tribunal Superior a requisição de força 
federal. 
 
Competências dos juízes eleitorais: (i) processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns, 
exceto o que for da competência originária do Tribunal Superior Eleitoral e dos tribunais 
regionais eleitorais; (ii) expedir títulos eleitorais e conceder transferência de eleitor; e 
(iii) tomar todas as providências ao seu alcance para evitar os atos ilícitos das eleições. 
 
Competências das juntas eleitorais: resolvem as impugnações e demais incidentes 
verificados durante os trabalhos da contagem e da apuração, bem como expedir diploma 
aos candidatos eleitos para cargos municipais. 
 
Há ainda a função administrativa do juízo eleitoral, pois lhe compete a administração de 
todo o processo eleitoral. Para ilustrar, são atividades administrativas desta seara: 
alistamento eleitoral, transferência de domicílio eleitoral, entre outras medidas para coibir 
ou vedar a prática de propaganda eleitoral irregular. 
 
Atenção! Como forma de se limitar o poder regulamentar do TSE e de se garantir a 
autonomia da organização partidária, fez-se constar no Código Eleitoral (Lei nº 
4.737/1965), por inovação da Lei nº 14.211/2021, a previsão de que: 
Art. 23-A. A competência normativa regulamentar prevista no parágrafo único do art. 1º 
e no inciso IX do caput do art. 23 deste Código restringe-se a matérias especificamente 
autorizadas em lei, sendo vedado ao Tribunal Superior Eleitoral tratar de matéria relativa 
à organização dos partidos políticos. 
 
 
Unidade 2. Conceito, fontes, princípios do Direito Eleitoral 
 
Vamos em frente porque atrás vem gente! 
Começamos este tópico com uma pergunta básica e fundamental, qual seja: “O que é o 
Direito Eleitoral?” 
 
O Direito Eleitoral é um ramo do Direito Público que regulamenta a maneira como os 
cidadãos devem se organizar para disputar as eleições. De modo específico, o Direito 
Eleitoral regulamenta as formas legais de aquisição legítima do poder político-
administrativo.À natureza e ao funcionamento da democracia é fundamental estabelecer regras relativas 
à sua forma e ao seu processo. A legitimidade do regime representativo, resulta da forma 
como se chega ao poder, ou seja, da maneira democrática como são escolhidos os 
representantes. Essa é a base da democracia. As eleições permitem não só a escolha dos 
ocupantes de cargos importantes, como também o que se nomeia por accountability, ou 
fiscalização com responsabilização, daqueles que não exercerem de forma adequada o seu 
cargo. 
 
Como se dá essa accountability pelo próprio público/ eleitorado? 
 
21 
 
 
Dá-se pelo próprio voto. Os eleitores consideraram que o político não exerceu 
adequadamente o mandato? Poderão excluí-lo pela escolha de outro candidato, em 
alternativa. Esse escrutínio é fundamental em uma democracia e tende a dar mais 
transparência aos mandatos. 
 
Perceba, pois, a importância do Direito Eleitoral. É ele que vai disciplinar todos os 
procedimentos para a aquisição do poder político-administrativo em uma democracia. 
 
Um processo de escolha legítimo, com disputa entre propostas e candidaturas distintas, 
baseado em regras previamente estabelecidas, conhecidas, permanentes e respeitadas por 
todos, é fundamental para que se tenha um governo democrático e representativo da 
vontade da maioria dos cidadãos. 
 
Em um sistema democrático a troca de poder é salutar. Dentro do cenário de alterações 
políticas, a norma eleitoral objetiva assegurar que a oposição alcance o poder. Veja que se 
a alternância não fosse garantida, o Direito Eleitoral seria mero instrumento de 
conservação do poder pelo partido político dominante. 
 
Bem, vimos que o Direito Eleitoral é fundamental para que se tenha uma democracia 
saudável. A segunda indagação que precisamos responder é “De onde provém o Direito 
Eleitoral?”, ou seja, “Quais são as fontes do Direito Eleitoral brasileiro?” 
 
A fonte primária do Direito eleitoral é a Constituição da República. É a Constituição que vai 
determinar a competência para legislar sobre o Direito Eleitoral. Vejamos o que determina 
o artigo 22, inciso I e o artigo 48 da Carta em relação à competência: 
 
 A competência para legislar sobre Direito Eleitoral é privativa da União (art. 22, I, 
CF). 
 
 As competências legislativas da União cabem ao Congresso Nacional (art. 48, CF). 
 
Veja que a Constituição é bem clara ao determinar a competência privativa da União para 
legislar sobre o Direito Eleitoral. De igual forma, atribui essa competência ao Congresso 
Nacional. 
Junto a ela, temos as fontes secundárias, responsáveis por todo o processo eleitoral. São 
leis que compreendem desde a organização e funcionamento dos partidos políticos (Lei dos 
Partidos Políticos, Código Eleitoral), a organização do processo eleitoral da Justiça Eleitoral 
(Código Eleitoral), a definição do sistema eleitoral (Código Eleitoral) até os impedimentos 
para candidaturas (Lei de Inelegibilidades) e as eleições propriamente ditas (Lei das 
Eleições). 
 
Como acabamos de ver, para que possamos participar de eleições é importante conhecer 
o Direito Eleitoral, que é a especialidade do Direito Público que disciplina a maneira como 
os cidadãos devem se organizar para disputar as eleições e, assim, alcançar legitimamente 
a representatividade política. 
 
 
 
22 
 
São fontes do Direito Eleitoral: 
 
Primária: 
 Constituição da República 
 
Secundária: 
 Lei dos Partidos Políticos 
 Código Eleitoral 
 Lei de Inelegibilidade 
 Lei das Eleições 
 
 
Ok. Vimos as fontes, mas precisamos, neste momento, trabalhar os princípios 
também, de forma a entender a sistemática do Direito Eleitoral em sua dimensão 
teórico-normativa. 
Por isso, a pergunta: Quais são os princípios do Direito Eleitoral? 
 
A Constituição assegura a observância aos nomeados princípios do Direito Eleitoral, quais 
sejam: i) a soberania popular, ii) o sufrágio universal, iii) o voto direto e secreto com valor 
igual para todos e iv) a liberdade partidária. Vejamos do que se trata cada um desses 
princípios. 
 
 
i) Soberania Popular 
 
A soberania popular estabelece que todo o poder emana do povo. Assim, o princípio da 
soberania popular é o eixo sobre o qual se sustenta o sistema democrático, sendo o povo 
e a igualdade dos cidadãos a base do poder e a essência da democracia. 
 
Ok. Contudo, explique-nos como a soberania popular se realiza? 
 
Para exercer a soberania, o cidadão possui vários modos e procedimentos de poder, como 
o referendo, o plebiscito, o voto e a iniciativa popular. Já trabalhamos isso. É por meio do 
exercício da soberania que o cidadão interfere na condução da coisa pública, direta ou por 
intermédio de seus representantes. 
 
ii) Sufrágio universal 
Significa que não se admitem restrições ou exclusões ao direito de voto derivadas de razões 
de nascimento, raça, cor, sexo, ideologia ou condições econômicas, como a proibição ao 
voto das mulheres. 
Somente em 1932 as mulheres obtiveram o direito de votar com a aprovação do Código 
Eleitoral. A concretização do voto veio nas eleições do ano seguinte (1933). Além dessas 
conquistas, foi instituído a Justiça Eleitoral, que passou a regulamentar as eleições no País. 
 
 
 
 
23 
 
iii) Voto Direto e Secreto 
 
O princípio do voto direto e secreto é a forma mais efetiva de o cidadão participar da 
condução da coisa pública. No período do governo militar pós-1964 tivemos voto indireto 
para presidente da República, governadores e um terço dos Senadores. Para prefeitos de 
capitais sequer se votava, pois eles chegaram a ser escolhidos pelos governadores, sem 
eleição. O voto direto e secreto é uma importante condição para uma democracia 
representativa que se materializa por meio da cédula única de votação e do voto eletrônico. 
 
Sufrágio universal 
 
O voto direto e secreto deve ser compreendido como a defesa do princípio da igualdade 
entre os eleitores, uma vez que determina a igualdade da informação eleitoral, a igualdade 
de acesso aos locais de votação e a proteção contra influências do poder econômico e 
político. 
 
iv) Liberdade Partidária 
A liberdade partidária, instituída pela Constituição de 1988, é a grande marca inovadora 
do Direito Eleitoral brasileiro. O artigo 17 da Constituição dispõe sobre a liberdade de 
criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania 
nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa 
humana, e desde que observados alguns preceitos por ela elencados. Estudaremos esses 
preceitos quando tratarmos dos partidos políticos. 
 
 
Princípios fundamentais do Direito Eleitoral 
 
 
 
 
Unidade 3. O Direito Eleitoral na Constituição da República 
 
As normas eleitorais gerais constam dos artigos 14 e 15 da Constituição de 1988. Nesses 
dispositivos são estabelecidos como se exerce a soberania popular, quem pode votar, quem 
pode ser votado e as condições para que isso ocorra. 
 
Há o núcleo fundamental dos direitos políticos, que se constitui com o direito de votar e 
ser votado. Esses direitos também estão disciplinados nos artigos 14 e 15 da Constituição 
de 1988. São nesses artigos que sabemos quem pode ser eleitor, como se faz para se 
tornar eleitor, como se exerce o direito de votar e ser votado e em que condições. 
 
 
Soberania 
popular
Sufrágio 
universal
Voto 
direto e 
secreto
Liberdade 
partidária
 
24 
 
Como adquirir os direitos políticos? 
 
A aquisição dos direitos políticos ocorre no momento do alistamento eleitoral (perante a 
Justiça Eleitoral). Como isso ocorre? O sujeito tem seu nome inscrito no sistema da Justiça 
Eleitoral e, depois disso, estará em condições de exercer o seu direito ao voto. 
 
O alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os maiores de dezoito anos e 
facultativos para os analfabetos, para os maiores de setenta anos e paraquem tem entre 
dezesseis e dezoito anos de idade. 
 
Nessa linha, é correto dizer que, para o exercício da capacidade eleitoral ativa, é necessário 
ser brasileiro e ter mais de 16 anos (art. 14, §§ 1° e 2°). 
 
Atenção! 
 
Capacidade eleitoral ativa: consiste no reconhecimento legal da qualidade de eleitor, dando 
possibilidade à pessoa de votar. 
 
Capacidade eleitoral passiva: consiste na possibilidade de a pessoa ser votada. Para que 
alguém seja candidato, além de estar em dia com as obrigações eleitorais, precisa cumprir 
as condições de elegibilidade, bem como não pode incorrer em nenhuma situação de 
inelegibilidade. (Veremos cada uma das situações, não se preocupem) 
 
A Constituição impõe, também no art. 14, § 2°, que os estrangeiros e os conscritos, durante 
o serviço militar obrigatório, não são alistáveis como eleitores. E o que são os conscritos? 
Conscritos são os cidadãos convocados para o serviço militar obrigatório. Essa condição se 
encerra após cumprido esse período obrigatório ou quando se engajam no serviço militar 
permanente. 
 
“Beleza, mas conte agora como é feito o alistamento...” O alistamento eleitoral depende 
do requerimento de iniciativa da pessoa. É preciso que o alistamento esteja instruído por 
comprovante de qualificação e idade, segundo modelo aprovado pelo Tribunal Superior 
Eleitoral. 
 
 
E para ser candidato (sujeito da capacidade eleitoral passiva) o que é necessário? 
São critérios para ter capacidade eleitoral passiva, ou, como se diz, condições de 
elegibilidade: 1) ter nacionalidade brasileira; 2) pleno exercício dos direitos políticos; 3) 
alistamento eleitoral; 4) domicílio eleitoral na circunscrição (estar registrado como eleitor 
no local onde serão realizadas as eleições); 5) filiação partidária; 6) idade mínima. 
 
 
25 
 
 
Por disposição constitucional, são condições de elegibilidade: 
 
Art. 14 [...] § 3º 
I - a nacionalidade brasileira; 
II - o pleno exercício dos direitos políticos; 
III - o alistamento eleitoral; 
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; 
V - a filiação partidária; 
VI - a idade mínima de: 
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; 
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; 
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-
Prefeito e juiz de paz; 
d) dezoito anos para Vereador. 
 
 
 
O que vem a ser domicílio eleitoral? 
Pelo Código Eleitoral (art. 42), é domicílio eleitoral, para efeito da inscrição, o lugar de 
residência ou de moradia. A norma também prevê que se o alistando tiver mais de uma 
residência, poderá ser considerado domicílio eleitoral qualquer delas. 
 
Curiosidade! 
O Código Civil (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002) determina que o domicílio civil 
de algumas pessoas é necessário. Ainda que o domicílio civil não importe o domicílio 
eleitoral (a jurisprudência dos tribunais eleitorais, até o momento, tem entendido que o 
domicílio civil e o eleitoral não se confundem). O artigo 76 do Código Civil e o seu 
parágrafo único determinam: 
Art. 76. Tem domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o 
preso. 
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do 
servidor público, o lugar onde exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde 
servir, e sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar 
imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do 
preso, o lugar onde cumprir a sentença. 
 
E os inelegíveis? 
São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. Há, na Constituição, outros casos de 
inelegibilidades como: em razão de parentesco ou pelo exercício de determinados cargos. 
Além disso, a Constituição remete para lei complementar a definição de outras situações. 
 
 
26 
 
A inelegibilidade pode ser absoluta, proibindo a candidatura às eleições em geral, ou 
relativa, impossibilitando a postulação a determinado mandato eletivo. 
 
Inelegibilidade reflexa: art. 14 § 7º (Constituição de 1988) São inelegíveis, no território de 
jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau 
ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do 
Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses 
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. 
 
Com base na Constituição, mais uma dúvida: a partir de quando passamos a ter 
uma lei eleitoral mais estável? 
 
Foi com a promulgação da Constituição de 1988 que passamos a ter estabilidade no campo 
eleitoral. O art. 16 da CF/88, ao trazer o princípio da anualidade da lei eleitoral, consagra 
uma garantia democrática em benefício da estabilidade e da segurança jurídica do processo 
eleitoral. 
 
Mesmo assim, a lei eleitoral era modificada a cada pleito, e o Congresso Nacional se 
mobilizava, um ano antes das eleições, para aprovar as novas regras que deveriam orientar 
o processo eleitoral. 
 
Atenção! Uma certa estabilidade e coerência foi, de fato, alcançada com a Emenda à 
Constituição n° 4, de 1993. A Emenda tornou o texto do art. 16 mais claro e estabeleceu 
que a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não 
se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. Consagrou, assim, 
o princípio da anualidade eleitoral. 
 
 
Unidade 4. Partidos políticos 
 
 
O ocupante de um cargo político cumpre um papel em duas dimensões: primeiro, ao expor 
suas ideias ainda no período eleitoral, comprometendo-se com o seu público; segundo, 
exercendo o mandato em contato com os interesses dos representados. 
 
Desse duplo papel, surge a importância dos partidos políticos programáticos, de tal forma 
que as propostas sejam conectadas a plataformas de governo e não fiquem subjugadas ao 
carisma personalíssimo de cada candidato (MANIN, PRZEWORSKI E STOKES, 1999, p. 30). 
 
Os partidos entram nesse cálculo como as instituições a desempenhar um papel mediador 
entre representantes e representados (DUVERGER,1985, p. 58). Entretanto, seu papel 
fundamental não lhe livra de um paradoxo: a estrutura das organizações políticas tende a 
ser conservadora e oligárquica; razão pela qual não haveria como conceber uma estrutura 
partidária duradoura sem imaginar o prestígio a uma oligarquia interna (ROBERT MICHELS, 
1982, p. 219-220). 
 
Veja que reflexão interessante... enquanto os partidos clamam por democracia na esfera 
política nacional, não raro, incorrem em práticas autoritárias no seio de suas próprias 
atividades. Muitos impõem práticas abusivas para a definição de sua Executiva, ou para a 
seleção de seus candidatos, nas prévias eleitorais. Comprometem com essas práticas a 
identificação que os eleitores teriam com a organização. 
 
27 
 
 
Em sua origem, na Inglaterra, as siglas partidárias vivenciaram um propósito diferente, 
pois se fortaleceram em movimentos sindicais e socialistas (DUVERGER, 1951, p. 8 e 
seguintes) e se tornaram peças centrais do funcionamento da democracia. Passaram a ser 
consideradas receptoras dos anseios populares, com capacidade para levantar bandeiras 
em consonância com as reivindicações do povo, sem descontinuidade nos governos 
legalmente constituídos. 
 
A lição parece ser a de que partidos estruturados em programas, objetivos e propostas 
plurais consistem em uma condição para que se estabeleçam demandas mais consistentes 
dos eleitores aos políticos. 
 
Em nosso País, constitucionalmente, partido político é pessoa jurídica de direito privado, 
que goza de autonomia. Após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, os 
partidos políticos deverão registrar seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral. 
O artigo 17 da Constituição,que trata dos partidos políticos, estabelece que é livre a 
criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania 
nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa 
humana, e observados os seguintes preceitos: caráter nacional; proibição de 
recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de 
subordinação a estes; prestação de contas à Justiça Eleitoral; funcionamento de acordo 
com a lei. 
 
Muito importante! É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua 
estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos 
permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar os 
critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua 
celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as 
candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos 
estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. O estatuto deve ser registrado no 
Tribunal Superior Eleitoral, quando o partido adquire personalidade jurídica e funcionam 
como sua lei de organização. Essa questão é tão relevante que o TSE não tem competência 
para editar atos normativos que tratem da organização partidária (vedação esta que consta 
em lei: art. 23-A do Código Eleitoral). 
 
Passemos à questão da composição e atuação partidária nas casas legislativas... 
 
A composição da Câmara dos Deputados, definida em 513 membros, permite uma extensa 
variedade de combinações de siglas partidárias, em número que, por sua vez, tende a ser 
majorado pelo ainda mais extenso número de partidos com representação nas Câmaras 
Municipais e nas Assembleias Legislativas. Seria bastante comum que diante de um sistema 
partidário fragmentado ocorressem partidos com programas definidos, fundados em 
alguma clivagem social, regional ou política, dando aos eleitores opções bem embasadas e 
bastante diversas na disputa eleitoral. Não é o que se tem verificado no Brasil. 
 
Em virtude, da liberdade de criação de partidos, chegamos perto dos 40 partidos. Sem que 
isso signifique a existência de quase 40 partidos com conteúdo programático independente 
e inovador a distinguir cada uma das siglas. 
 
De fato, em razão do elevado número de siglas partidárias em atuação no jogo político 
nacional e, muitas delas, com o objetivo único de ampliar o número de representantes 
eleitos para cada cargo, verifica-se que muitos partidos não seguem um programa 
específico ideológico. Essa questão tende a afastar do conhecimento dos eleitores o 
 
28 
 
conteúdo programático dos partidos, o que pode ter como efeito danoso a perda de 
influência das siglas e o crescimento da pessoalidade nas eleições, ainda que o modelo 
representativo das Câmaras e Assembleias seja o proporcional e não o majoritário. 
 
Um efeito bastante buscado em reformas constitucionais, no campo político, passa pelo 
fortalecimento dos partidos por uma linha de coerência programática, já que a 
fragmentação teria favorecido o jogo político da coalizão e troca de favores. 
 
Nesse sentido, cabe ressaltar a previsão dos parágrafos 1º, e 3º a 5º do artigo 17 da 
Constituição, com redação dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017, que 
estabelece cláusula de desempenho progressiva para promover o acesso gratuito ao rádio 
e à televisão e fundo partidário, é uma reforma que busca reduzir o efeito das chamadas 
legendas de aluguel. 
 
Curiosidade 
“Diz-se que são “de aluguel” as legendas dos partidos desprovidos de representação no 
Congresso ou com escassíssimo número de filiados e/ou parlamentares, e disponíveis 
para abrigar candidaturas de políticos – geralmente endinheirados – dispostos a pagar 
um preço pela sua inscrição e apresentação da candidatura a um posto eletivo – 
geralmente federal e, menos frequentemente, estadual”. LEGENDAS de aluguel. In: 
FARHAT, Saïd. Dicionário parlamentar e político: o processo político e legislativo no Brasil. 
São Paulo: Melhoramentos; Fundação Petrópolis, 1996. p. 556. 
 
A cláusula de desempenho estabelecida pela mencionada emenda tem afetado a viabilidade 
de siglas partidárias muito pequenas. 
 
Conforme previsão da emenda, seriam assim definidos os requisitos por temporalidade 
para que os partidos não percam acesso ao fundo partidário e ao tempo de Rádio e TV: 
[O caput do artigo determina que: “Somente terão direito a recursos do fundo partidário e 
acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que 
alternativamente...”] 
 
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 97 _ TRANSIÇÃO 
1º) 2019 a 2023: 
1,5% VOTOS VÁLIDOS da Câmara em 9 estados 
+ 
1% dos votos válidos de cada estado p/ Câmara 
ou 
9 deputados. 
 
2º) 2023 a 2027: 
2,0% VOTOS VÁLIDOS da Câmara em 9 estados 
+ 
1% dos votos válidos de cada estado p/ Câmara 
 
29 
 
ou 
11 deputados. 
 
3º) 2027 a 2031: 
2,5% VOTOS VÁLIDOS da Câmara em 9 estados 
+ 
1,5% dos votos válidos de cada estado p/ Câmara 
ou 
13 deputados. 
 
4º) Emenda Constitucional nº 97 _ eficácia plena 
A partir de 2031: 
3% VOTOS VÁLIDOS da Câmara em 9 estados 
+ 
2% dos votos válidos de cada estado p/ Câmara 
ou 
15 deputados. 
Ressalte-se que ao eleito por partido que não preencher os requisitos previstos no § 3º 
deste artigo [17] é assegurado o mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a 
outro partido que os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins de 
distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de 
televisão. 
 
Atenção! É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar. 
ADEMAIS! Atenção ao § 6º do artigo 17, da CR/88: Os Deputados Federais, os Deputados 
Estaduais, os Deputados Distritais e os Vereadores que se desligarem do partido pelo qual 
tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de anuência do partido ou de 
outras hipóteses de justa causa estabelecidas em lei, não computada, em qualquer caso, 
a migração de partido para fins de distribuição de recursos do fundo partidário ou de outros 
fundos públicos e de acesso gratuito ao rádio e à televisão. (Incluído pela Emenda 
Constitucional nº 111, de 2021) 
 
Outro fato que merece menção é que, no Brasil, não existe a figura do candidato 
independente (avulso). Não se admite candidatura de quem não esteja filiado a partido 
político. Ou seja, a filiação é de caráter obrigatório. É vedado o registro de candidatura 
avulsa, ainda que o requerente tenha filiação partidária (Lei das Eleições, art. 11, § 14). 
 
Por último, mas não menos relevante, precisaríamos mencionar uma inovação da Lei nº 
14.208/2021, que trata da previsão das federações. Diferentemente das coligações, que 
se formam exclusivamente para o momento eleitoral, as federações são uniões que 
perduram, no mínimo, uma legislatura (por quatro anos), formando uma espécie de bloco 
partidário. 
 
Por definição legal, a federação corresponde à reunião de dois ou mais partidos 
políticos, mediante registro perante o Tribunal Superior Eleitoral, para atuação 
como se fosse uma única agremiação partidária (Lei nº 14.208/2021). 
about:blank#art1
about:blank#art1
 
30 
 
 
Federação partidária: o que muda no jogo eleitoral? 
Podcast do Estadão Notícias. 
https://brasil.estadao.com.br/blogs/estadao-podcasts/podcast-federacao-partidaria-o-
que-muda-no-jogo-eleitoral/ 
 
 
A) Características (conforme a Lei nº 14.208/2021): 
I – Aplicam-se à federação de partidos todas as normas que regem o funcionamento 
parlamentar e a fidelidade partidária. 
II – Assegura-se a preservação da identidade e da autonomia dos partidos integrantes de 
federação. 
III – A federação somente poderá ser integrada por partidos com registro definitivo no 
Tribunal Superior Eleitoral; 
IV – Os partidos reunidos

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