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CENTRO UNIVERSITÁRIO CLARETIANO GRADUAÇÃO EM BIOMEDICINA IMUNOLOGIA CLÍNICA E HEMATOLOGIA CLÍNICA (ADAPTAÇÃO) DANIEL SANGUANINI DE MEDEIROS GENILDE NASCIMENTO BARROSO TEIXEIRA (8039589) CLASSES DE IMUNOGLOBULINAS: ANTICORPOS FRIOS NA ALTERAÇÃO DE RESULTADOS HEMATOLÓGICOS BOA VISTA – RR, 2022 GENILDE NASCIMENTO BARROSO TEIXEIRA (8039589) CLASSES DE IMUNOGLOBULINAS: ANTICORPOS FRIOS NA ALTERAÇÃO DE RESULTADOS HEMATOLÓGICOS BOA VISTA – RR, 2022 Trabalho das disciplinas Imunologia Clínica e Hematologia Clínica (Adaptação), destinado a obtenção de nota das mesmas. De forma simplificada, serão apresentadas as Classes de Imunoglobulinas e correlacionadas as alterações causadas pelos anticorpos frios na alteração de resultados hematológicos. RESUMO Os anticorpos são moléculas que atuam na defesa do organismo e são produzidos pelos plasmócitos, células formadas a partir da diferenciação dos linfócitos B. Essas moléculas são bastante específicas, ou seja, cada anticorpo atua apenas contra determinado antígeno (molécula que se liga a um anticorpo). Além disso, eles apresentam diferentes de formas de agir contra um antígeno, como a neutralização e a opsonização. Podemos diferenciar cinco classes de anticorpos: IgM, IgG, IgA, IgD e IgE. Anticorpos, também chamados de imunoglobulinas (Ig), são glicoproteínas produzidas por plasmócitos. As imunoglobulinas são formadas por uma combinação de cadeias de peptídeos leves e pesadas, sendo a maioria formada por duas cadeias leves e duas pesadas. As duas cadeias pesadas são cadeias maiores, e as duas cadeias leves são cadeias menores. Elas estão dispostas em formato que lembra a letra Y. Cada cadeia leve está ligada a uma cadeia pesada por pontes de dissulfeto. As cadeias pesadas estão ligadas entre si também por meio de pontes de dissulfeto. Cada uma das duas cadeias (leves e pesadas) possui uma porção chamada de constante e outra chamada de porção variável. Temos, portanto, uma região constante e uma região variável na cadeia leve e uma região constante e uma região variável na cadeia pesada. A porção variável, como o nome indica, muda de um anticorpo para outro e é a porção que se liga ao antígeno. A especificidade do anticorpo é determinada por essa porção variável. A porção constante, por sua vez, apresenta uma sequência de aminoácidos que pouco variam de um anticorpo para outro. Podemos diferenciar cinco classes distintas de anticorpos, as quais são chamadas de IgM, IgG, IgA, IgD e IgE. Como vimos anteriormente, Ig é uma abreviação de imunoglobulina, já as letras que acompanham essa abreviação dizem respeito à classe específica. Essas classes diferenciam-se por pequenas diferenças físico- químicas. PALAVRAS-CHAVE: Classes de Imunoglobulinas, Anticorpos. LISTA DE FIGURAS/IMAGENS FIGURA 1: Estrutura de um Anticorpo .................................................................................... 7 FIGURA 2: Esquema das cinco classes de anticorpos existentes ............................................. 7 FIGURA 3: Anticorpos frios ................................................................................................. .... 9 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 6 2. COMO OS ANTICORPOS SÃO PRODUZIDOS? .......................................................... 8 2.1 VACINAS .......................................................................................................................... . 8 3. COMO OS ANTICORPOS ATUAM NO CORPO? ........................................................ 8 4. CRIOAGLUTININAS (ANTICORPOS FRIOS): O QUE SÃO E COMO RESOLVÊ- LAS .............................................................................................................................. ............. 9 5. ANEMIAS HEMOLÍTICAS AUTOIMUNES POR CRIOAGLUTININAS OU POR ANTICORPOS FRIOS .......................................................................................................... 11 6. ETIOLOGIA E PATOGÊNESE ....................................................................................... 13 7. PREVALÊNCIA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ..................................................... 14 8. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 16 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 17 6 1. INTRODUÇÃO Anticorpos, também chamados de imunoglobulinas (Ig), são glicoproteínas produzidas por plasmócitos. As imunoglobulinas são formadas por uma combinação de cadeias de peptídeos leves e pesadas, sendo a maioria formada por duas cadeias leves e duas pesadas. As duas cadeias pesadas são cadeias maiores, e as duas cadeias leves são cadeias menores. Elas estão dispostas em formato que lembra a letra Y. Cada cadeia leve está ligada a uma cadeia pesada por pontes de dissulfeto. As cadeias pesadas estão ligadas entre si também por meio de pontes de dissulfeto. Cada uma das duas cadeias (leves e pesadas) possui uma porção chamada de constante e outra chamada de porção variável. Temos, portanto, uma região constante e uma região variável na cadeia leve e uma região constante e uma região variável na cadeia pesada. A porção variável, como o nome indica, muda de um anticorpo para outro e é a porção que se liga ao antígeno. A especificidade do anticorpo é determinada por essa porção variável. A porção constante, por sua vez, apresenta uma sequência de aminoácidos que pouco variam de um anticorpo para outro. Podemos diferenciar cinco classes distintas de anticorpos, as quais são chamadas de IgM, IgG, IgA, IgD e IgE. Como vimos anteriormente, Ig é uma abreviação de imunoglobulina, já as letras que acompanham essa abreviação dizem respeito à classe específica. Essas classes diferenciam-se por pequenas diferenças físico-químicas. Dentre essas classes de anticorpos, duas merecem destaque: a IgM e a IgG. IgG é a classe de anticorpos encontrada em maior quantidade no nosso corpo. Estima-se que 75% dos anticorpos de uma pessoa normal sejam do tipo IgG. Essa imunoglobulina, que também apresenta subclasses, apresenta diversas funções, porém é importante destacar sua proteção ao feto. Essa proteção é garantida porque essa é a única imunoglobulina que pode atravessar a placenta e chegar ao feto. A classe IgM indica anticorpos formados durante a resposta primária e são os primeiros que se formam em resposta a patógenos complexos. A IgA é uma imunoglobulina encontrada em secreções, como saliva, lágrima e fluidos nasais. A IgD, por sua vez, constitui menos de 1% das imunoglobulinas presentes no plasma, mas são encontradas em grande quantidade na membrana do linfócito B. Essa imunoglobulina relaciona-se com a diferenciação dos linfócitos B induzida pelo antígeno. 7 A IgE é encontrada em concentrações muito baixas no soro e está relacionada com processos alérgicos, sendo responsável por desencadear a liberação de histamina (mediador químico que possui ação vasodilatadora) e enzimas. FIGURA 1: Estrutura de um anticorpo, uma glicoproteína importante para a defesa do nosso corpo. (Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/anticorpos.htm) FIGURA 2: Esquema das cinco classes de anticorpos existentes. (Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/anticorpos.htm) https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/anticorpos.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/anticorpos.htm 8 2. COMO OS ANTICORPOS SÃO PRODUZIDOS? Os anticorpos sãoproduzidos pelos plasmócitos, que são formados pela diferenciação dos linfócitos B. O processo inicia-se quando antígenos específicos entram em contato com os linfócitos B específicos no tecido linfoide. A partir desse contato, os linfócitos B específicos são ativados e passam por uma série de divisões celulares, formando um clone, que é uma população de células idênticas àquela que as originou. Esse processo é conhecido como seleção clonal e também ocorre nos linfócitos T. Algumas das células da população que foi formada originam células efetoras, que são células de vida curta e que, no caso dos linfócitos B, são responsáveis pela secreção dos anticorpos, os quais são secretados na linfa e levados para o sangue circundante. Essas células efetoras são os plasmócitos. As outras células no clone tornam-se células de memória, que, diferentemente das células efetoras, possuem uma vida mais longa. Essas células de memória tornam-se efetoras caso o organismo tenha contato novamente com o mesmo antígeno. Vale destacar que os antígenos, em sua grande maioria, ativam os linfócitos B e os linfócitos T ao mesmo tempo. Algumas das células T formadas recebem a denominação de células auxiliares e são as responsáveis por produzir substâncias que ativam os linfócitos B específicos. Isso faz com que a produção de anticorpos pelos linfócitos B seja maior. 2.1 VACINAS As vacinas são agentes imunizadores que utilizam como princípio básico o processo de formação de anticorpos e células de memória. Ao administrar uma vacina em uma pessoa, estamos inoculando o antígeno. Esse antígeno leva à produção de anticorpos e células de memória, as quais serão ativadas quando a pessoa for exposta novamente àquele antígeno. As vacinas não provocam o desenvolvimento da doença nos indivíduos, pois o agente causador da doença que é utilizado na fabricação de vacinas está morto ou atenuado. Algumas vacinas também utilizam apenas derivados desse agente. 3. COMO OS ANTICORPOS ATUAM NO CORPO? Os anticorpos são glicoproteínas que atuam contra os agentes invasores de diferentes formas. Podemos classificar essa ação em duas formas: o ataque direto e a ativação do sistema do complemento. 9 No ataque direto, os anticorpos ligam-se ao antígeno e podem provocar sua aglutinação, precipitação, neutralização e lise. Na aglutinação, os anticorpos fazem com que partículas com antígenos em suas superfícies unam-se. Na precipitação, os anticorpos fazem com que o complexo antígeno-anticorpo torne-se insolúvel e precipite-se. Na neutralização, os anticorpos cobrem os locais em que os antígenos se ligariam à célula hospedeira, neutralizando sua ação. Na lise, por sua vez, o anticorpo é capaz de provocar a ruptura (lise) da membrana de agentes celulares. Vale destacar que essas ações diretas, geralmente, não garantem a proteção do corpo contra o organismo invasor, necessitando da ativação do sistema do complemento (sistema formado por diferentes proteínas), que amplifica essas ações. Essa ativação do sistema do complemento pode levar, por exemplo, à opsonização, que é um processo em que os anticorpos se ligam ao antígeno e garantem que este seja reconhecido por macrófagos e neutrófilos, os quais farão sua fagocitose (englobamento da partícula e sua posterior digestão). O complemento também pode provocar a lise da célula, que é um dos efeitos mais marcantes do sistema de complemento, bem como pode provocar a aglutinação, neutralização, quimiotaxia (movimentação de células em direção a um gradiente químico) de neutrófilos e macrófagos, entre outros efeitos. 4. CRIOAGLUTININAS (ANTICORPOS FRIOS): O QUE SÃO E COMO RESOLVÊ-LAS FIGURA 3: Anticorpos frios. (Fonte: https://atlasemhematologia.com.br/sem- categoria/crioaglutininas-o-que-sao-e-como-resolve-las/) https://atlasemhematologia.com.br/sem-categoria/crioaglutininas-o-que-sao-e-como-resolve-las/ https://atlasemhematologia.com.br/sem-categoria/crioaglutininas-o-que-sao-e-como-resolve-las/ 10 Na imagem acima, o que você observa? Aglutinação? Rouleaux? Ou será um campo inadequado? Se você disse aglutinação, você acertou. Na imagem temos a presença de aglutinação eritrocitária, hemácias em grumos ou hemácias aglutinadas; isso depende muito da literatura. Essa aglutinação, normalmente, acontece por conta de anticorpos frios: as crioaglutininas. As hemácias In vivo estão em temperatura corporal normal de 37 °C, mas após feita a coleta (In vitro), elas se aglutinam devido ao ambiente externo que possui uma temperatura inferior à do corpo humano. Isto se torna um contratempo no hemograma a nível de eritrograma, pois este fica alterado. Durante o processamento da amostra, a hemoglobina do paciente se mantém normal, visto que o aparelho rompe as hemácias adquirindo todo o conteúdo de hemoglobina presente, e assim fazendo a sua dosagem. O empecilho surge durante a contagem das hemácias, isto é, onde há aglutinação é contabilizado como uma hemácia, então ocorre uma diminuição das hemácias nos laudos e, consequentemente, baixa dos hematócritos também. Devido a isso temos índices hematimétricos descompensados. Mas como corrigir este problema? O método é bastante simples: é necessário que sereproduza a temperatura fisiológica do organismo humano. A amostra – já no tubo de coleta – deverá ser acondicionada em Banho Maria, que é um aparelho de manipulação prática, e que consiste num recipiente onde coloca-se água e o Analista Clínico controla a temperatura. Neste caso, a temperatura deverá ser de 37 °C. Após 30 minutos, a amostra deverá ser processada imediatamente. Aqui vai uma dica: com o auxílio de um copo descartável, pegue a água já aquecida do Banho Maria, coloque a amostra dentro do copo e faça o transporte da amostra até o aparelho. É importante ressaltar duas coisas: 1. Homogeneíze bem a sua amostra antes de colocar no aparelho; 2.O aparelho já deve estar pronto para receber a amostra. Lembrando que tudo deve ser feito com cuidado e de maneira rápida. Na maioria dos casos, a correção será feita. Mas, o que fazer se não corrigir com o Banho Maria? Substituir todo o plasma por salina. 11 Centrifuga a amostra de 1 a 2 minutos, a 1500 rpm, retira todo o plasma e coloca a mesma quantidade de salina (esta deve estar aquecida) dentro do tubo. Após este processo, homogeneíza-se a amostra e coloca no Banho Maria por mais 30 minutos. A porcentagem de correção é muito grande. Após realizar todos os passos, ter tentando as duas formas e ainda assim não conseguiu corrigir. O que fazer? Sim, ainda tem mais um caminho a ser seguido: solicitação de uma nova coleta. Porém, haverá de ter condutas muito importantes. Juntamente com o paciente, você deverá acordar para que ele se dirija ao laboratório, e após a chegada dele, coloque-o em uma sala próxima ao aparelho. Esta, deverá estar com o ar condicionado desligado há 30 minutos mais ou menos. Todo o material de coleta deve ser posto no Banho Maria e seu transporte deverá ocorrer, também, em um recipiente aquecido. A coleta deverá ser cautelosa e ágil, e logo em seguida o tubo com amostra será levado em um recipiente aquecido até o analisador, onde será processado. Em alguns locais, faz-se o uso de secador no braço do paciente antes da coleta. 5. ANEMIAS HEMOLÍTICAS AUTOIMUNES POR CRIOAGLUTININAS OU POR ANTICORPOS FRIOS Uma das causas mais comuns de anemia hemolítica adquirida é a destruição autoimune de hemácias autoanticorpos dirigidas contra antígenos nas células vermelhas do paciente. Dois tipos principais de anticorpos, cada um com características específicas, são causadores da anemia hemolítica autoimune: • Anticorpos IgG: reagem geralmente contra antígenos de proteína sobre a superfície das hemácias, reação que ocorre na temperatura corporal. Por esta razão, eles são chamados de "aglutininas quentes" ou anticorpos quentes,embora eles raramente aglutinem hemácias. • Anticorpos IgM: reagem com antígenos de polissacáridos na superfície da hemácia apenas a temperaturas abaixo da temperatura central do corpo. Eles são, portanto chamados de "crioaglutininas", ou anticorpos frios. Raramente, os anticorpos IgG possuem estas características de reação. • Anticorpos IgA: são muito menos comuns e de significado desconhecido. Podem produzir anemia hemolítica por anticorpos quentes ou anticorpos frios. 12 Estes autoanticorpos são detectados pelo chamado teste de Coombs direto, o diagnóstico da presença de anticorpos quentes é realizado pela detecção de anticorpos na superfície da hemácia, ou por intermédio das consequências da sua interação com a hemácia. O teste de Coombs direto é o padrão para o diagnóstico da anemia hemolítica autoimune, neste caso as hemácias do paciente são lavadas se tornando livres de proteínas aderentes e colocadas para reagir com antissoro ou anticorpos monoclonais preparados contra as diferentes imunoglobulinas, especialmente IgG e fragmentos do complemento no caso C3d. Se um ou ambos destes estão presentes na superfície dos glóbulos vermelhos, a aglutinação será detectada e o teste é considerado positivo. Quando estes testes são realizados com precisão, a especificidade é superior a 99% dos pacientes. Este teste pode ter resultados positivos em menos de 1% da população normal. É importante saber se a IgG ou C3, ou ambos, estão presentes nas células vermelhas: • Se IgG está presente, então a destruição das células vermelhas é quase certamente devido a este anticorpo. Se o C3 é também depositada sobre as hemácias e em seguida o anticorpo IgG for capaz de fixar o complemento, este pode desempenhar um papel adicional na destruição das células. Se C3 não está presente, então o anticorpo IgG não é capaz de fixar o complemento. • A presença de C3, mas não IgG, pode ser explicada por um de dois mecanismos: em primeiro lugar, o anticorpo não é IgG; este é o caso para IgM aglutininas frias e os raros casos de anticorpos IgA. Em segundo lugar, o anticorpo pode ser IgG, mas estão fixados à superfície de hemácias e são removidos como as células lavadas em preparação para o teste. A incidência de um teste de Coombs positivo em doadores de sangue normais é de 1 caso a cada 1000 a 36.000 pessoas, fatores como idade avançada anticorpos cardiolipina, SIDA e drogas aumentam os resultados falso positivos. Testes de Coombs positivos podem ocorrer em neoplasias,especialmente em doenças linfoproliferativas, antecedendo seu diagnóstico por meses ou anos. Foi percebido que algumas interações dos imunocomplexos entre hemácias e antígenos resultavam em hemólise apenas quando a temperatura era diminuída. Estas crioaglutininas são quase sempre anticorpos do tipo IgM como os já descritos anteriormente. A hemólise nestes casos ocorre abaixo de 31 graus Celsius e quanto maior a amplitude térmica em que ocorre a hemólise, mais grave esta hemólise costuma ser. Além da doença por crioaglutinas, temos outra 13 forma de anemia hemolítica por anticorpos frios, a chamada Hemoglobinuria paroxistica do frio (ou doença de Donath-Landsteiner). Em ambas as síndromes o complemento tem muita importância na sua patogênese. A primeira descrição foi em 1903 por Landsteiner, quando foram apresentados pacientes com quadro de anemia, fenômeno de Raynaud e outros fenômenos vasculares periféricos. Em 1918 Clouga e Richer descreveram a presença de crioaglutininas em pacientes com pneumonia, já em 1926 foi descrita a concomitância da presença de crioaglutininas séricas e o fenômeno de Raynaud. Chubtze, posteriormente, foi quem pela primeira vez utilizou o termo de anemias hemolíticas associadas à crioaglutininas. Esta síndrome consiste de uma anemia secundária a hemólise de natureza imune, em que os autoanticorpos aglutinam hemácias sanguíneas abaixo da temperatura corpórea. Se nesta situação para hemólise bastasse a fixação por complemento poderia ocorrer hemólise com temperatura <37 graus, mas as IgM sem complemento necessitam de temperaturas menores para ocorrer hemólise. A anemia hemolítica autoimune por crioaglutininas pode ser dividida em primária e secundária. A primária ocorre principalmente em adultos e é associada a infecções como por mycoplasma pneumoniae, por isto a descrição de pneumonia com crioaglutininas, também associada à infecçções mono-like. A forma secundária é associada principalmente com doenças linfoproliferativas e a Macroglobulinemia de Waldenstroem. 6. ETIOLOGIA E PATOGÊNESE As crioaglutininas são anticorpos Igm que têm especificidade para receptores nas hemácias e são denominadas de anti_I, estas células representam uma marcante e não regulada expressão de clones de células B. Algumas infecções desencadeiam a produção desregulada destes clones. Estes anticorpos são constituídos de cadeias kappa e lambda além de componente de cadeias pesadas. As crioaglutininas são em geral ineficazes em levar a hemólise às hemácias normais, pois como os macrófagos,outras células fagocíticas e citotóxicas não tem receptores IgM, a destruição da hemácia é totalmente dependente da fixação por complemento. As hemácias normais possuem elementos como o CD 55 e CD 59 que a protegem da lise de hemácias pela fixação por complemento, assim uma grande quantidade de unidades fixadoras de complemento são necessárias e estas só podem ser produzidas nas extremidades mais frias do organismo como dedos, nariz e orelhas. A intensidade da hemólise irá depender: 14 • Da quantidade de anticorpos produzida; • Da amplitude térmica em que estes autoanticorpos funcionam; • Do grau que a fixação de complemento é inibida pelo C3d; • Da Capacidade do anticorpo fixar nas hemácias e complemento. Alguns autoanticorpos se fixam às hemácias e têm dificuldade em fixar o complemento. Estas crioaglutininas tendem a se precipitar (criopreciptinas) e causam aglutinação clínica severa com acrocianose e dor, mas causam pouca hemólise; • A especificidade dos autoanticorpos em causar lise das hemácias; • Os anticorpos IgM são compostos por cinco unidades similares a IgG, alguns auto- anticorpos IgM têm seis unidades e estas IgM têm maior capacidade de causar hemólise. As síndromes hemolíticas criopáticas podem ser divididas em: • Idiopática ou primária; • Secundária. Podendo ser subdividida em: Pós-infecciosa e associada a malignidades pré-existentes de cálulas B. • Doença de Donath-landsteiner: usualmente asssociada a infecções virais agudas em crianças, é uma forma relativamente comum. • Congenita ou associada terciária em adultos, muito rara. A maioria das crioaglutininas não aglutina em temperaturas maiores do que 30 graus, a maior temperatura em que causam aglutinação é chamada de amplitude térmica. Após a ativação do complemento pelo imunocomplexo de hemácias e crioaglutininas, a hemólise passa a ocorrer independente da presença de crioaglutininas. A fixação por complemento pode afestar as hemácias de duas maneiras: • Lise direta; • Opsonização por macrofagos hepáticos e esplênicos. 7. PREVALÊNCIA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As anemias hemolíticas autoimunes por crioaglutininas representam 10-20 % das anemias hemoliticas autoimune, sendo mais comum em mulheres. As crioaglutininas ocorrem em 60% dos pacientes infectados pelo Mycoplasma pneumoniae, mas anemia hemolítica é rara nestes casos. 15 Os pacientes podem apresentar sintomas tanto por anemia como por aglutinação. A maioria dos pacientes com anemia hemolítica por crioaglutininas tem anemia hemolítica crônica com ou sem icterícia, em outros pacientes a manifestação pode ser através de uma crise aguda de hemólise com hemoglobinúria. A acrocianose e outros fenômenos vasculares em dedos mãos, pés, nariz e orelhas associados à fragmentação de hemácias na microvasculatura também pode ocorrer. A hemólisena infecção pelo mycoplasma é aguda e tipicamente aparece na recuperação da pneumonia. Os episódios de hemólise costumam ser autolimitadas e duram de uma a três semanas. Os pacientes podem apresentar esplenomegalia associada. No diagnóstico, as seguintes manifestações estão presentes com as frequências seguintes: • Anemia: 35% • Acrocianose: 24% • Fadiga: 21% • Fraqueza ou dispneia aos esforços: 7% • Hemoglobinúria: 3% Alguns sintomas são ocasionados pelo frio, como acrocianose e livedo reticular, estes sintomas melhoram com o aquecimento e pouca reatividade vascular ocorre como no fenômeno de Raynaud. Se as crioaglutininas tiverem em títulos maiores que 1/10.000 com Coombs direto positivo para complemento, o diagnóstico pode ser fechado. Se o paciente tem história de uso de medicamentos ou títulos baixos ou ausentes de crioaglutininas fazem pensar em medicamentos como causa da hemólise. Em pacientes com crioaglutininas em títulos maiores que 1/10.000 e Coombs direto positivo para IgG e C3 deve- se pensar em uma anemia hemolítica autoimune mista com anticorpos frios e quentes. Outro diagnóstico diferencial é de Hemoglobinúria Paroxística Noturna ou Hemoglobinúria Paroxística do Frio. Testar diferencial de HPON se hemólise episódica pensar em Hbnuria paroxística do frio. A maioria dos pacientes não tem necessidade de tratamento e apresentam sintomas apenas no inverno e durante temperaturas frias eventualmente com necessidade de transfusão, assim uma das medidas mais importantes no manejo destes pacientes é manter as extremidades quentes. 16 8. CONCLUSÃO Convencionou-se denominar antígeno a qualquer substância solúvel, celular ou particulada, que pode ser especificamente ligada aos anticorpos ou receptores de células T (TCR, do inglês T cell receptor) previamente sensibilizados. Existem dois tipos de antígenos: a) o antígeno completo, que reúne propriedades imunogênicas e antigênicas, ou seja, a capacidade de induzir resposta imune específica (fala-se então de imunógeno e imunogenicidade), bem como a competência para interagir com anticorpos e receptores de linfócitos sensibilizados (antigenicidade); b) o antígeno incompleto, ou hapteno, dotado apenas de antigenicidade, que é a capacidade de interagir com os anticorpos e TCRs que lhe correspondem, mas não é capaz de estimular uma resposta imunológica. Os sítios de ligação dos anticorpos e dos receptores de antígeno de células T interagem com o determinante antigênico ou epítopo, a menor área da molécula de antígeno, responsável pela ligação ao TCR ou ao anticorpo. A presença de vários determinantes iguais é chamada de polivalência ou multivalência, e cada um pode interagir com a região variável das moléculas de TCR. As superfícies celulares, incluindo os eritrócitos, geralmente possuem grande quantidade de antígenos que reúnem vários determinantes antigênicos. Os determinantes antigênicos de proteínas, glicoproteínas ou lipoproteínas tanto podem ser formados pela sequência de aminoácidos (determinantes sequenciais) quanto por aminoácidos adjacentes (determinantes não sequenciais), não ligados por ligações peptídicas, que se encontram próximos por causa da preservação da estrutura da molécula. A estimulação de linfócitos de uma espécie animal com proteína de outro animal da mesma espécie resulta em uma resposta imune muito baixa, frequentemente indetectável. Por sua vez, se essas proteínas forem inoculadas em animal de outra espécie, tendem a desencadear reações imunitárias bastante elevadas. Isso acontece porque quanto mais próxima for a relação filogenética, menor será o estímulo e vice-versa. Embora esse atributo da relação filogenética reflita boa parte das aplicações imunológicas, não pode ser tomado como regra. Para a maioria dos antígenos proteicos, quanto maior for a molécula, maior será o número de epítopos e quanto maior a complexidade, maior será a imunogenicidade. Um antígeno complexo contém vários determinantes antigênicos; os determinantes mais eficientes na indução da resposta imune são chamados imunodominantes. 17 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1-Berentsen S. How I manage cold agglutinin disease. Br J Haematol 2011; 153:309. 2-Swiecicki PL, Hegerova LT, Gertz MA. Cold agglutinin disease. Blood 2013; 122:1114. 3-Heddle NM. Acute paroxysmal cold hemoglobinuria. Transfus Med Rev 1989; 3:219. 4: https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/anticorpos.htm 5: https://www.microbiologybook.org/Portuguese/immuno-port-chapter4.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/anticorpos.htm https://www.microbiologybook.org/Portuguese/immuno-port-chapter4.htm
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