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Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DO DIABETES MELITUS: O diabetes melitus (tipos 1 e 2) relaciona- se ao desenvolvimento de complicações agudas, relacionadas a episódios de hipoglicemia, e crônicas, em sua maioria associados à aterosclerose acelerada decorrente do estado hiperglicêmico. Outra importante divisão se refere à localização de tais lesões, que podem ser macrovasculares, como IAM e AVC, ou microvasculares, à exemplo da retinopatia e neuropatia diabética. A fisiopatologia dos danos celulares causados pela glicotoxicidade pode ser explicada por diversos mecanismos, a saber: Aumento de produtos finais de glicação avançada: os compostos resultantes da formação da hemoglobina glicada se ligam irreversivelmente às proteínas, levando ao desenvolvimento de modificações químicas em lipídeos e no próprio DNA. Esse processo, ao comprometer a função estrutural dessas células, favorece o desenvolvimento das alterações observadas no diabetes. Ativação da via dos polióis: o excesso de glicose no intracelular resulta em sua conversão enzimática a sorbitol, que não se difunde facilmente através das membranas, aumentando assim o dano osmótico sobre as células. Apesar disso, o mecanismo associado a efeitos deletérios está ligado ao consumo de NADPH envolvido na formação do sorbitol, que pode induzir ou piorar o estresse oxidativo causado às células. Aumento da ativação da proteína cinase C: provoca menor produção de óxido nítrico, aumento da atividade da endotelina-1 e distúrbios no padrão de expressão de fatores de crescimento diversos, além da ativação do fator de transcrição NFκB, cuja ação é inflamatória. Aumento da ativação da via da hexosamina: a presença destes metabólitos é responsável por ativar as mesmas vias descritas para a glicação excessiva. O estresse oxidativo foi recentemente descrito como o “ponto de ligação” entre todos os processos supracitados, com os produtos intermediários do metabolismo celular, superóxidos e peróxido de hidrogênio, apresentando potencial efeito tóxico sobre a fisiologia celular. COMPLICAÇÕES MACROVASCULARES: Diabéticos apresentam maior prevalência e maior gravidade de doenças cardiovasculares (DCV), que também ocorrem de modo mais precoce, quando comparados à população geral. Os principais representantes das DCV são o infarto do miocárdio (apresentação frequentemente silenciosa), acidente vascular encefálico e as doenças vasculares periféricas. Os fatores de risco observados são tanto clássicos, com HAS, colesterol alto e tabagismo, quanto adicionados pela diabetes, a saber: Resistência insulínica: promove, no fígado, o aumento na produção de ácidos graxos, refletida na elevação de triglicérides e LDL, esta última bastante aterogênica; Disfunção endotelial: é marcada por disfunções na produção de fatores do endotélio necessários à função plaquetária e ao relaxamento de células musculares dos vasos, como o óxido nítrico; Fatores inflamatórios: a presença acentuada de proteína C e IL-6 leva à Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS liberação de uma série de fatores de crescimento atuantes na lesão arterial; Fatores de agregação plaquetária: a diabetes provoca a manutenção de estado pró-trombótico, com aumento da atividade de fatores como o inibidor do ativador do plasminogênio tipo 1 (PAI-1). AVALIAÇÃO DA DOENÇA CARDIOVASCULAR: O diabetes, apesar de não afetar primariamente o sistema circulatório, é considerado um equivalente de risco para as DCV. Assim, os testes de rastreamento utilizados para a avaliação da doença cardiovascular são: Índice tornozelo-braquial (ITB): baseia- se na divisão entre a média da pressão arterial obtida em aferições do braço e tornozelo, sendo que valores < 0,9 sugerem doença arterial periférica no membro inferior; Tomografia por feixe de elétrons: permite avaliar calcificações nas artérias, marcador importante da doença aterosclerótica. Esses achados podem ser visualizados tanto na diabetes melitus tipo 1 quanto na DM tipo 2; Eletrocardiograma de esforço: deve ser realizado, como rastreamento, em pacientes assintomáticos, mas com doenças vasculares neurológicas ou periféricas, antes do início de programas de atividade física (pacientes sedentários ou com DM2 há mais de 10 anos), ou em pacientes com 2 ou + fatores de risco. A presença de sintomas atípicos após ECG inicial normal também é critério para fazer o teste de esforço. MEDIDAS PREVENTIVAS: Todos os pacientes diabéticos devem ser orientados e apoiados para o tratamento de condições que elevam o risco cardiovascular, como tabagismo, dislipidemia, hipertensão, hiperglicemia e obesidade central. Nesse sentido, o controle do perfil lipídico pode ser alcançado com o uso de estatinas, iniciado para todas as pessoas com diabetes e sinais de aterosclerose. O emprego de fibratos, isolados ou associados aos antilipemiantes, não reduz eventos cardiovasculares em pessoas com diabetes, mesmo naquelas de alto risco. Apesar de a terapia antiplaquetária apresentar benefícios para a prevenção primária de DCV, o uso de drogas como AAS não deve ser feito de modo indiscriminado, uma vez que o desenvolvimento potencial de sangramentos não supera os ganhos nessa situação. Alvos clínicos e laboratoriais para a prevenção cardiovascular em pacientes com diabetes COMPLICAÇÕES MICROVASCULARES: As complicações microvasculares são mais dependentes do controle da glicemia do que as manifestações macrovasculares. É necessário, no entanto, destacar que os mesmos fatores de risco cardiovasculares vistos anteriormente também se fazem relevantes nesse contexto. A detecção precoce de tais desfechos é essencial para permitir a implementação de medidas terapêuticas e, consequentemente, conter a extensão dos danos por eles causados. Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS NEFROPATIA DIABÉTICA: A nefropatia é uma complicação do diabetes caracterizada por diminuição da TFG e aumento da excreção urinária de albumina, além de hipertensão e importante incidência de comorbidades cardiovasculares. Esse distúrbio é também uma das maiores causas de insuficiência renal dialítica. Os principais fatores de risco observados para esse quadro são o controle inadequado de glicemia, HAS simultânea, tabagismo, obesidade, hipercolesterolemia e aspectos genéticos. Essa condição se inicia com elevação da taxa de filtração glomerular, que lentamente provoca o surgimento de hipertensão glomerular e lesões endoteliais. Com esse processo, há considerável incremento da síntese local de angiotensina II (às custas de ↓ óxido nítrico) e da liberação de TGF-β, GLUT-1 e espécies reativas de oxigênio, implicando assim em dano celular. Tais eventos provocam, por fim, glomeruloesclerose, lesão na qual ocorre hipertrofia dos glomérulos, espessamento da membrana basal, microaneurismas, depósitos hialinos e aterosclerose. O “reflexo laboratorial” desse dano é a microalbuminúria. Cronologia típica para a doença renal causada pelo DM A classificação da nefropatia diabética pode ainda ser estabelecida conforme a função renal e o grau de dano correspondente, a saber: Estágio 1: presença de lesão aos rins, porém com TFG normal ou aumentada (≥ 90 mL/min/1,73 m²); Estágio 2: há diminuição branda da TFG (60-89 mL/min/1,73 m²); Estágio 3: redução moderada da filtração glomerular (30-59 mL/min/1,73 m²); Estágio 4: o déficit de TFG é acentuado, atingindo valores de 15-29 mL/min/1,73 m²; Estágio 5: contempla indivíduos com TFG extremamente reduzida (< 15 mL/min/1,73 m²) ou em diálise. Estadiamento dadoença renal crônica A nefropatia pode ser dividida em microalbuminúria (30-299 mg de albumina na coleta urinária de 24h) e macroalbuminúria (> 300 mg/24h) Classificação da nefropatia conforme a excreção de albumina Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS A confirmação da nefropatia diabética se dá pela presença de proteinúria em ao menos 2 exames realizados num intervalo de 3 a 6 meses, sendo também necessária a dosagem de creatinina para o cálculo adequado da TFG. Ressalta-se que falso-positivos podem ser observados em pacientes com diabetes descompensado, hipertensos, com insuficiência cardíaca ou litíase urinária, além de após infecções ou exercícios físicos vigorosos nas últimas 24h. O rastreamento dessa condição deve ser recomendado após 3 a 5 anos do diagnóstico de DM1 e, nos pacientes com DM2, logo após a confirmação laboratorial do diabetes. Para ambos os grupos, na ausência de microalbuminúria, novos exames devem ser repetidos em 1 ano. Acompanhamento de pacientes diabéticos na investigação de nefropatia A prevenção e o manejo desse desfecho são feitos de modos distintos conforme a condição clínica dos pacientes, segmentando-se em: Pacientes sem albuminúria: garantir controle intensivo da glicemia e manter a PA < 130/80 mmHg, sendo o indivíduo hipertenso ou não; Detecção de micro/macroalbuminúria: na presença de proteinúria > 1 g/24h, é recomendada como meta pressórica valores < 125/75 mmHg, alcançada com o uso de IECA ou BRA, que podem estar associados a outros fármacos. A redução da ingesta de proteínas também é recomendada, com “ponto de corte” variando entre 0,8 a 1 g/kg de acordo com a severidade da doença renal. RETINOPATIA DIABÉTICA: A retinopatia é uma complicação marcada por distúrbios na microvasculatura da retina, com evolução gradual, culminando em má perfusão vascular e angiogênese patológica intraocular. Esse processo pode causar perda da visão. Os principais fatores de risco para esse desfecho são a duração da diabetes (80% dos diabéticos diagnosticados há mais de 15 anos), hiperglicemia crônica, hipertensão e nefropatia associadas. A lesão característica desse quadro é a perda seletiva de pericitos retinianos, estruturas que controlam o fluxo sanguíneo dos capilares locais, o que é acompanhado pela degeneração de células endoteliais desses mesmos vasos. A isquemia resultante dessas alterações é o principal promotor da neovascularização. É importante avaliar diagnósticos diferenciais em indivíduos com proteinúria rapidamente progressiva, síndrome nefrótica ou em pacientes com HAS refratária, com lesão renal mesmo após 2 a 3 meses de terapia otimizada Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Em suas fases iniciais, a retinopatia pode ser identificada principalmente pela presença de microaneurismas, que progridem para hemorragias intra-retinianas de tamanho e número variado. Os exsudatos algodonosos (moles), achados também comuns, são indicadores clássicos de isquemia, não sendo perfundidos na angiografia. Esse quadro pode ser classificado ainda de acordo com as características vasculares da retina, dividindo-se em: Retinopatia diabética proliferativa (RDP): cursa com o desenvolvimento de neovasos na microcirculação, que podem se estender para a cavidade vítrea, resultando em sangramentos e descolamento tracional da retina. Quando esse fenômeno proliferativo atinge o estroma da íris, pode ocorrer comprometimento do sistema de drenagem do humor aquoso, resultando assim em glaucoma neovascular. O edema macular leva à quebra da barreira hemato-retiniana, provocando assim extravasamento de plasma. A reabsorção desses fluidos leva à deposição de lipoproteínas sobre a retina, criando os exsudatos duros. Retina de paciente diabético, comparando os exsudatos algodonoso e duro Retinopatia diabética não proliferativa (RDNP): descreve a apresentação primária e menos grave da retinopatia diabética, causando redução visual discreta a moderada. Também cursa com microaneurismas e pequenas hemorragias, que causam edema retiniano, associado à identificação de pontos cegos no campo visual. A diferença entre essa apresentação e a RDP é a ausência da formação neovascular. Progressão e classificação da retinopatia diabética O rastreamento da retinopatia diabética é realizado por meio de retinografia durante o exame oftalmológico, sendo sucedida por angiofluoresceinografia em caso de alterações. Outros exames que podem ser utilizados para auxiliar o diagnóstico são a ultrassonografia e a tomografia de coerência óptica (evidencia o espessamento da retina). A patogênese desse quadro baseia-se no aumento de fator de crescimento vascular endotelial, que modifica a barreira hemato- retiniana e a arquitetura da retina, além de maiores concentrações de IGF-1, que possibilita a ação do mediador anterior Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Deve ser feito o diagnóstico diferencial com outras doenças vasculares oculares (p. ex., retinopatia hipertensiva, oclusão da veia retiniana central ou ramo, doença arterial oclusiva, vasculites, hemoglobinopatias e outros tipos de edema macular) e com doenças infecciosas (p. ex., HIV), inflamatórias e autoimunes, entre outras. Assim como na nefropatia diabética, esse procedimento deve ser feito no momento do diagnóstico de DM2 ou após 3 a 5 anos da detecção de diabetes melitus tipo 1, apresentando periodicidade dependente dos achados observados ao exame: Ausência de RDP ou RDNP leve: reavaliações anuais devem ser indicadas; RDNP moderada a grave ou RDP com edema macular: garantir retornos a cada 3 a 6 meses; Gestantes: por apresentarem maior risco de desenvolver alterações retinianas (ou piorar quadros prévios), mulheres diabéticas devem ser examinadas no primeiro trimestre gestacional, com retornos frequentes até o marco de 1 ano após o parto. Fluxograma de rastreamento e diagnóstico da retinopatia diabética O tratamento dessa condição tem como objetivos evitar a progressão e a perda da visão, alcançados por meio de controle adequado de glicemia, pressão arterial e perfil lipídico, e de medidas específicas determinadas por um oftalmologista. Dentre essas estratégias, destacam-se a fotocoagulação com laser, injeção de esteroides no humor vítreo e, recentemente, anticorpos antiVEGF, como ranibizumabe, pegaptanibe e bevacizumabe. Tratamento da retinopatia diabética grave NEUROPATIA DIABÉTICA: A neuropatia diabética é um distúrbio heterogêneo caracterizado por alterações neuropáticas, especialmente polineuropatia (nos membros inferiores), instaladas em pacientes diagnosticados com diabetes, após a exclusão de outras causas. Os principais fatores de risco associados a essa condição são tempo de evolução do diabetes, mau controle glicêmico, hipertensão, dislipidemia, obesidade e tabagismo. A classificação da neuropatia permite sua divisão em dois grandes grupos, a saber: Polineuropatia simétrica generalizada; o Forma típica: apresenta evolução crônica, bilateral e duração- dependente, acometendo inicialmente nervos longos e distais; o Forma atípica: se desenvolve de modo agudo, subagudo e crônico, podendo ser monofásica (estável) ou flutuante com o tempo. Há comprometimento preferencial de fibras sensoriais finas e autonômicas. Neuropatia focal e multifocal. A pioglitazona deve ser evitada em pacientes com edema macular Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Classificação da neuropatia diabética Os nervos periféricos apresentam fibras aferentes e eferentes, mielinizadas ou não, com carátersomático e autonômico. De modo geral, quanto mais mielinizadas (grossas), mais rápido ocorre a condução nervosa. As principais fibras envoltas por mielina são aquelas motoras, bem como as fibras sensitivas associadas ao tato, vibração e propriocepção. Fibras nervosas acometidas pela neuropatia diabética Como mencionado anteriormente, a desmielinização representa a lesão mais precoce, e mais característica, da polineuropatia diabética. Posteriormente, também pode haver degeneração axonal e, em formas agudas, a degradação indiscriminada de fibras nervosas, mielinizadas ou não. Outras apresentações também podem ser encontradas, como vasculite epineural e infiltrado de macrófagos. No que se refere ao quadro clínico da neuropatia diabética, é possível observar uma sequência de manifestações distintas, a saber: Neuropatia hiperglicêmica rapidamente reversível: é detectada em diabéticos recém-diagnosticados, na ausência de controle glicêmico adequado. Esse processo é produto de alterações temporárias da condução nervosa, cursando com dor em membros inferiores, de resolução espontânea com o tratamento adequado da DM2; Neuropatia sensitivo-motora crônica: descreve a forma mais comum de neuropatia diabética, com evolução insidiosa, podendo estar presente no momento do diagnóstico de diabetes tipo 2. Os sintomas característicos são dor (fisgada, pontada), cãibra, anestesia e dormência, ao passo que os sinais abrangem perda sensorial ascendente em bota (podendo ou não envolver os membros superiores) e piora dos reflexos motores. Esse quadro se destaca também por suas sequelas, que incluem úlceras, artropatia de Charcot e amputação. A patogênese da neuropatia abrange alterações no VEGF (fator de crescimento endotelial) e nas neurotrofinas, substâncias associadas à sobrevivência e regeneração neural A neuropatia sensitivo-motora crônica está frequentemente associada a neuropatia autonômica distal simpática, marcada por pés secos e quentes, com calos na região plantar Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Manifestações da neuropatia diabética sobre o sistema autonômico Neuropatia sensitivo-motora aguda: forma de polineuropatia simétrica de início agudo ou subagudo, sendo marcada por sintomas sensoriais, além de dor em queimação nos pés, perda de peso, disfunção erétil e hiperestesia grave, que costuma piorar a noite. Ao contrário das apresentações anteriores, essa manifestação pode surgir após melhora rápida e intensa do controle glicêmico. Neuropatias focal e multifocal: mais observadas em indivíduos com diabetes mellitus tipo 2, geralmente se apresentam como alterações compressivas nos membros (sintomas semelhantes à síndrome do túnel do carpo) e radiculopatia toracolombar, cursando com dor em faixa, ocasionalmente com fraqueza muscular da parede abdominal; Neuropatia desmielinizante crônica: deve ser considerada na presença de uma polineuropatia grave, progressiva e não usual em portadores de diabetes mellitus. Subdivisões da neuropatia diabética O diagnóstico da neuropatia diabética é embasado na presença de achados da anamnese e exame físico, este último devendo incluir a inspeção dos pés (investigando úlceras), avaliação da sensibilidade (térmica, tátil, dolorosa) e teste de reflexos. Além destes, a eletroneuromiografia pode ser empregada de modo a determinar o tipo de neuropatia, a simetria e o acometimento principal (sensitivo ou motor), porém avalia apenas fibras mielinizadas. Essa estratégia é útil para caracterização do quadro, porém não é recomendada para o diagnóstico etiológico. Ressalta-se que resultados normais não descartam a presença de neuropatia, uma vez que não conseguem investigar danos às fibras C (não mielinizadas). Fluxograma de investigação diagnóstica das neuropatias periféricas por eletroneuromiografia O tratamento da neuropatia diabética conta com múltiplas abordagens, tais como: Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Antidepressivos tricíclicos (amitriptilina ou imipramina 25 a 150 mg 1x/dia): reduzem a dor ao inibir a recaptação de serotonina e noradrenalina em sinapses das vias descendentes dolorosas, e ao agir como antagonista de receptores de N-metil-D-aspartato, mediando respostas de hiperalgesia e alodinia; Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (paroxetina ou citalopram 40 mg/dia): apresentam mecanismo de ação semelhante aos medicamentos anteriores (restritos à serotonina), porém têm menor incidência de efeitos adversos; Anticonvulsivantes (gabapentina 900 a 3600 mg/dia ou lamotrigina 200 a 400 mg/dia): auxiliam no manejo da dor crônica ao estimular respostas inibitórias GABAérgicas; Derivados de opioides: tramadol e oxicodona podem ser empregados de modo adjuvante às outras medicações, especialmente para o controle agudo da dor; Creme de capsaicina 0,0075%: essa substância, derivada da pimenta vermelha, promove a diminuição da substância P das fibras nociceptivas locais, aliviando sintomas como dor e queimação; Acupuntura; Estimulação elétrica percutânea ou da medula espinal. Fluxograma terapêutico na neuropatia diabética PÉ DIABÉTICO: O pé diabético é definido pela OMS como um grupo de síndromes decorrentes de lesões associadas a neuropatia, isquemia ou infecções abaixo do maléolo, potencialmente evoluindo para gangrena diabética e amputação. Algumas das condições comumente encontradas em pacientes acometidos são artropatia de Charcot, doença arterial periférica e osteomielite. Os fatores de risco relacionados a essa complicação são a presença de deformidades nos pés, quebra na integridade da pele (feridas ou fissuras), calosidades, descoloração, redução do pulso tibial e uso de calçados inadequados. Características do pé de Charcot, comum em pacientes diabéticos A investigação diagnóstica deve ser baseada na coleta de história clínica A perda da sensibilidade provoca desestabilização da musculatura plantar, o que afeta a distribuição do peso corporal, sobrecarregando a região tenar, alvo frequente de úlceras Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS detalhada, na determinação do índice tornozelo-braquial e no exame físico dos pés, realizado de modo rotineiro para identificação do “pé de risco”. Esse grupo requer reavaliação intensiva, com intervalo de 1 a 6 meses. Durante a inspeção, é necessário avaliar a presença de deformidades, sinais de perda de sensibilidade, padrão de deambulação, sinais de hemorragia subcutânea e fissuras plantares. Na palpação, é importante aferir os pulsos periféricos, de modo a diferenciar neuropatia (proeminência) e doença arterial periférica (redução ou abolição). Classificações das feridas diabéticas O exame de sensibilidade é realizado a partir de provas com monofilamentos e diapasão, detectando assim distúrbios táteis e vibratórios, devendo ser seguido pela pesquisa de reflexos profundos. Sítios para teste da sensibilidade dos pés Cabe destacar que indivíduos com déficit de sensibilidade apresentam risco elevado para lesões nos membros inferiores. Tabela de estratificação de risco e frequência de avaliações para o pé diabético Os exames complementares que podem ser empregados para a investigação do pé diabético são as biópsias cutânea e de nervos, usadas para diagnosticar lesões de fibras finas, e a eletroneuromiografia. Assim como nas demais complicações vistas anteriormente, o tratamento do pé diabético deve ser individualizado, partindo de uma perspectiva que contemple o contexto socioeconômico e familiar do Comodiagnósticos diferenciais, é necessário considerar outras causas de neuropatia, como deficiência de vitamina B12, seja ela decorrente do uso de medicações (ex.: metformina) ou de distúrbios autoimunes Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS paciente, respeitando suas demandas de trabalho e lazer. Nesse sentido, o plano terapêutico pode ser composto por: Orientações para uso de calçados de tamanho adequado; Áreas susceptíveis a ulcerações nos pés Incentivo ao autocuidado dos pés (inspeção diária e corte das unhas); Estratégias profiláticas para o desenvolvimento de pé diabético Otimização do controle glicêmico; Tratamento das úlceras (curativos); Antibioticoterapia: é indicada na presença de lesões purulentas de odor forte, baseando-se em tratamento empírico com cefalosposrinas de 1ª/2ª geração para Gram-positivos (estrepto e estafilococos) em quadros leves. Em infecções profundas, com potencial ameaça ao membro, recomenda-se o uso de antibióticos de amplo espectro (ampicilina + sulbactam, ceftriaxone + clindamicina, entre outros) associados ao desbridamento cirúrgico dos tecidos. Intervenção cirúrgica: a amputação de dedos ou de todo o pé é sempre necessária na presença de gangrena localizada ou difusa.
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