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1 Khilver Doanne Sousa Soares Leishmaniose Visceral A leishmaniose é causada por protozoários parasitas do gênero Leishmania que são transmitidos entre hospedeiros mamíferos de mosquitos flebotomíneos do sexo feminino. O parasita forma extracelular flagelada; promastigota; intestino flebotomíneo O amastigota forma intracelular (dentro das células do hospedeiro definitivo); sobrevive e multiplica-se num compartimento fagolisossomal de macrófagos no hospedeiro mamífero. https://labvet.com.br/laboratorio-veterinario/41/2/19/Leishmaniose-canina-%E2%80%93-desafios-diagnosticos,- tratamento-e-prevencao. Fisiopatologia Inicialmente estabelecida na pele após a inoculação de promastigotas (revestimento de glicoproteína) metacíclicos infectantes pelos flebótomos. A progressão da doença depende da manutenção de um estado imunossupressor específico do parasita: macrófagos de células hospedeiras ficam em um estado desativado; a cura segue quando os macrófagos são ativados e matam os parasitas, que são sensíveis ao óxido nítrico e radicais de oxigênio. A resolução da doença após a ativação de macrófagos é mediada pela resposta da célula T-helper T1 após a interação entre as células apresentadoras de antígenos (T CD4+, CD8+) e secreção de citocinas pró-inflamatórias. Em pacientes com LV, a ausência de uma resposta de células-T-imune específica para antígenos de Leishmania está associada à progressão da infecção não controlada. Manifestações Clínicas O período de incubação da LV é variável, tem geralmente a duração de meses (2 a 5 meses), mas existem relatos extremos, de dias até vários anos. https://labvet.com.br/laboratorio-veterinario/41/2/19/Leishmaniose-canina-%E2%80%93-desafios-diagnosticos,-tratamento-e-prevencao https://labvet.com.br/laboratorio-veterinario/41/2/19/Leishmaniose-canina-%E2%80%93-desafios-diagnosticos,-tratamento-e-prevencao 2 Khilver Doanne Sousa Soares Clinicamente caracteriza-se por febre de longa duração, hepatoesplenomegalia sempre presente em todas as fases e desnutrição, além de repercussões clínicas decorrentes da queda de imunidade e dos fenômenos hemorrágicos. O aparecimento de LV, muitas vezes referida como calazar quando causada por L. donovani, ocorre de semanas a meses após a infecção inicial. Diferenciais: esplenomegalia malarial hiper- reativa ou outras doenças infecciosas ou hematológicas. Obs.: Anemia, leucopenia, trombocitopenia, inflamação sistêmica, ou hipergamaglobulinemia policlonal, isolados ou combinados, sugere, MAS não confirma o diagnóstico. Forma assintomática: corresponde à infecção inaparentes e é detectada em indivíduos sem manifestação clínica em inquéritos epidemiológicos ou em áreas de transmissão, pela positividade da intradermorreação (leishmaniose) ou pela presença de anticorpos específicos no soro. Os títulos de anticorpos são baixos e podem permanecer positivos por tempo indeterminado. Indivíduos que tiveram LV, foram tratados e se curaram apresentam também positividade do teste intradérmico e anticorpos específicos em títulos baixos Forma oligossintomática: a sintomatologia dessa forma de possibilidade evolutiva pode passar despercebida ou ser confundida com outras doenças infecciosas. O paciente, em geral criança, apresenta discreto comprometimento do estado geral. A suspeita clínica baseia-se na história de febre, discreta anemia, diarréia, emagrecimento e adinamia. Em geral, não se relata febre. A hepatomegalia normalmente está presente e não ultrapassa 5 cm, e a esplenomegalia, ao contrário da forma de apresentação clássica da LV, é discreta e pode estar ausente. As alterações laboratoriais são pouco evidentes: hemograma normal ou com anemia, velocidade de hemossedimentação elevada e eletroforese de proteína normal. A intradermorreação é geralmente negativa. Os anticorpos anti- leishmânia estão sempre presentes. Na área endêmica, esses quadros de infecção oligossintomáticas ou subclínica foram observados no acompanhamento prospectivo de criança, após soroconversão. Esses quadros são autolimitados e, em geral, não se indica tratamento. Os sintomas podem persistir por cerca de 3 a 6 meses. A pesquisa dos parasitas em aspirado de medula óssea e cultura em meio NNN tem baixa positividade. Forma clássica: é a doença plenamente manifesta. Na forma clássica, a sintomatologia da LV tem instalação insidiosa e a doença, em geral, tem curso crônico. O período inicial (período agudo) e caracteriza-se: Febre diária; duração de 15 a 21 dias; Estado geral preservado; Frequentemente há hepatoesplenomegalia; Frequentemente há anemia discreta (Hb > 9 g/dL); A sorologia revela presença de anticorpos (> 1:256); A intradermorreação (leishmânia) é negativa; A velocidade de hemossedimentação eleva-se (50 mm); Leucócitos normais com linfomonocitose; Pesquisa de amastigotas em aspirado esplênico ou na medula óssea pode ser positiva; Cultura em meio NNN é positiva. E o período de estado? Caracterizado pela febre, geralmente alta, diária e acompanhada de calafrios, tipicamente apresentando dois picos diários, podendo sofrer períodos de remissão espontânea. Progressivamente? Paciente apresenta anorexia, enfraquecimento e emagrecimento. 3 Khilver Doanne Sousa Soares Surgem sinais clínicos de desnutrição grave, como cabelos secos e quebradiços, cílios longos e pele seca. Ao mesmo tempo, surge a palidez cutânea, que vai se acentuando, o paciente nota o aumento progressivo do volume abdominal, referindo desconforto no hipocôndrio esquerdo. Ocorre aumento gradativo do tamanho do fígado e sobretudo do baço. Manifestações hemorrágicas e gastrintestinais, respectivamente epistaxes, gengivorragias e quadros diarreicos, são comumente relatadas durante a evolução. Outro sintoma que pode ser relatado com certa frequência é a tosse seca, que estaria relacionada à pneumonite intersticial da LV. Forma mais grave: grande esplenomegalia (da cicatriz umbilical até a fossa ilíaca direita), caquexia pronunciada; anemia intensa. Possíveis complicações letais: hemorragias; ascite; icterícia ou infecções bacterianas. Quadros em que a LV será sempre grave: pacientes com menos de 6 meses de idade ou com mais de 65 anos; desnutrição grave; comorbidades; icterícia; fenômenos hemorrágicos (exceto epistaxe); edema generalizado; sinais de toxemia (letargia, má perfusão, cianose, taquicardia ou bradicardia, hipoventilação ou hiperventilação e instabilidade hemodinâmica). Diagnóstico Parasitologia O primeiro passo é buscar a visualização microscópica de amastigotas em amostras dos: Gânglios linfáticos Medula óssea Fígado Baço Outros órgãos . . . Obs.: a aspiração de baço pode provocar complicações fatais; realizar apenas se outros métodos de baixo risco não puderem ser utilizados em instalações treinadas. A reação em cadeia da polimerase (PCR) é mais sensível que o exame microscópico e tornou-se o teste de primeira linha em vários hospitais de referência e centros de pesquisa. Sorologia O teste de aglutinação direta amigo do campo (DAT) e imunocromatografia usando o antígeno rK39 têm alta precisão e podem ser usados em centros de saúde periféricos. Seja qual for o teste sorológico utilizado, anticorpos específicos permanecem detectáveis por vários anos após a cura ou infecção assintomática. Testes sorológicos com base em imunofluorescência indireta (IFI), requerem equipamento que está mal adaptado à realidade de campo. Testes de Detecção do Antígeno Um teste de aglutinação em látex que detecta um antígeno de carboidrato de baixo peso molecular termoestável na urina de pacientes com LV apresentou boa especificidade (baixa/moderada sensibilidade no leste da África e subcontinente indiano). Leishmaniose Visceral + HIV Características clínicas atípicas podem ser encontradas em pacientes com baixa contagem de células-TCD4+ (<200/μL). Nesses casos pode- se pedir investigação para LV mesmo sem sinais clássicos. A carga parasitária é geralmente mais elevada e parasitas podem ser encontrados em locais incomuns. Tratamento Sinais e sintomas do calazar de acordo com a fase evolutiva da doença Antimoniais: 1ª linha: Glucantime® tem sua apresentação atual em frascos de 5 mL, contendo 81 mg de Sbv (antimônio pentavalente) por mL. A dose para 4 Khilver Doanne Sousa Soares tratamento deve ser calculada com base no conteúdo de Sbv em cada ampola, nunca ultrapassando a dose de três ampolas/dia, ou seja, 15 mL/dia. A dose recomendada para o tratamento da LV é de 20 mg/kg/dia de Sbv por 20 a 40 dias, sendo o tempo médio de tratamento de 28 dias. - As contraindicações ao uso dos antimoniais são: gestantes, portadores de cardiopatias, nefropatias e hepatopatias. Quanto às nefropatias, deve ser ressaltado que os antimoniais pentavalentes não são dialisáveis; pode ocasionar: artralgia, mialgia, náusea, vômito, cefaleia, anorexia, aumento de transaminases, fosfatase alcalina, lípase e amilase, leucopenia, alargamento do intervalo QT e supra ou infradesnivelamento do segmento ST. Anfotericina A droga com maior potencial leishmanicida é a anfotericina B. Esta age sobre o ergosterol, esteroide da membrana de Leishmania, causando aumento de permeabilidade da membrana celular, promovendo influxo de íons e levando à morte do parasito. Além da sua potência, é a droga com menor descrição de resistência até então. Anfotericina B lipossomal. No Brasil, a dose empregada para o tratamento da LV é de 4 a 5 mg/kg/dia durante 5 dias após estudo multicêntrico com participação de pacientes com LV por L. chagasi no Brasil. Modelo do poro formado pela anfotericina B na membrana lipídica bimolecular. Patologia De modo geral, as descrições histopatológicas relativas à leishmaniose visceral referem-se ao comprometimento do sistema fagocítico mononuclear – sua hipertrofia, hiperplasia e parasitismo, especialmente em fígado e baço. Verificam-se, além disso, alterações histopatológicas com depleção de linfócitos nas áreas T dependentes do baço e de gânglios linfáticos. O fígado pode apresentar padrões morfológicos variados de reatividade que refletem tanto o tipo peculiar de resposta do hospedeiro à infecção como à duração da doença: Padrão típico: acentuada hipertrofia e hiperplasia das células de Kupffer, com parasitismo e infiltrado linfo- histioplasmocitário portal e intralobular, presentes na fase de doença plenamente manifesta; Padrão nodular ou involutivo: agregados de linfócitos, macrófagos e plasmócitos nos lóbulos hepáticos e nos espaços portais com raras amastigotas; é o quadro visto nos casos oligossintomáticos e nos indivíduos já tratados, e representa a resposta tecidual para controlar a infecção; Padrão fibrogênico: ampliação do espaço de Disse com a proliferação sinusoidal de fibras reticulínicas e feixes colágenos; observado na doença de longa duração ou após o tratamento; Padrão cirrótico: a fibrose hepática intralobular difusa (cirrose de Rogers), observada no calazar indiano de longa duração, é raramente registrada no Brasil. 5 Khilver Doanne Sousa Soares Leishmaniose visceral ou calazar. Fragmento de baço onde se nota hipoplasia da polpa branca e intensa hiperplasia da polpa vermelha, com espessamento dos cordões de Billroth. Comparar com baço normal. Estes contêm muitos macrófagos, em cujo citoplasma se observam numerosas leishmânias como um pontilhado basófilo. São muito pequenas (2 mm) e só bem observadas com objetiva de imersão. Não confundi-las com o pigmento de formol. Este é um artefato histológico comum em todos os órgãos e locais ricos em sangue, e se deve à modificação da hemoglobina pelo formaldeído para meta-heme livre ou hematina. O pigmento de formol tem cor negra (não roxa) e é maior e mais grosseiro que as leishmânias. Disponível em: <http://anatpat.unicamp.br/laminfl28.html>. Acesso em 18/05/2022. Ressaltando. . . O complexo Leishmania presente no Brasil é a Leishmania chagasi; tem forma ativa + presente em adultos e forma crônica (ou clássica) + presente em crianças (caquexia, “barrigão”, sinal da bandeira, esplenomegalia). O paciente não produz albumina, tem enzimas hepáticas elevadas, hepatite pela leishmaniose, elevação de bilirrubina direta, elevação de TGO e TGP, inversão albumina – globulina. Na medula óssea há presença de amastigotas. Há redução de TODAS as séries e pancitopenia. Pode-se realizar prick-to-prick, teste de Montenegro (na fase aguda esse teste não funciona), sorologia ELISA (pode positivar com sífilis e outras doenças). http://anatpat.unicamp.br/laminfl28.html 6 Khilver Doanne Sousa Soares _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ REFERÊNCIAS WHALEN, Karen; FINKEL, Richard; PANAVELIL, Thomas A. Farmacologia Ilustrada. 6.ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. GOLDMAN, Lee; SCHAFER, Andrew I. Goldman Cecil Medicina. 24. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro Ceratti; DIAS, Lêda Chaves. Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. Martins, Mílton de Arruda. Clínica Médica. 1. ed. BARUERI: Manole, 2009.
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