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MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves LEISHMANIOSE VISCERAL A Leishmaniose Visceral é uma zoonose causada por protozoários: Da ordem Kinetoplastida; Do gênero Leishmania; Da família Trypanosomatidae. É um parasita intracelular obrigatório que se reproduz dentro do sistema fagocítico mononuclear dos mamíferos suscetíveis. No Brasil, é causada pela espécie Leishmania chagasi, transmitidas aos seres humanos através da picada de fêmeas infectadas do mosquito flebotomíneo Lutzomia longipalpis. Essa doença continua a ser um desafio à saúde pública pela: Frequência com que ocorre; e Morbidade e mortalidade que ocasiona. TRANSMISSÃO, VETORES E RESERVATÓRIOS São transmitidas de animais silvestres ou domésticos para o homem por intermédio da picada de mosquitos hematófagos. As condições propícias à proliferação vetorial, são: galinheiros, umidade, lixo e matéria orgânica. Os reservatórios naturais são necessários à manutenção da LV no ambiente rural e urbano. CICLO DE VIDA A forma infectante para os hospedeiros vertebrados são os promastigotas metacíclicos, que se alojam: No intestino anterior e faringe do flebotomíneo fêmea. Os promastigotas metacíclicas são transmitidos aos hospedeiros, durante o repasto sanguíneo e vão para os órgãos linfoides secundários, principalmente: Fígado; Baço; Medula óssea; e Linfonodos. Assim, infectando células do sistema fagocítico mononuclear, como: Monócitos; Histiócitos; e Macrófagos, onde se transformam em amastigotas. As amastigotas se multiplicam por fissão binária até romperem a célula hospedeira, se disseminam pelas vias hematogênica e linfática, iniciando uma reação inflamatória, atraindo outros macrófagos. Um flebotomíneo não infectado adquire o parasito ao se alimentar do sangue de um mamífero infectado, através da ingestão de amastigotas livres ou intramacrofágicos no tecido subcutâneo. As formas intracelulares são liberadas no trato digestivo do inseto, que se diferenciam para formas promastigotas procíclicas, se multiplicando por divisão binária. Estas formas procíclicas se diferenciam para formas infectivas metacíclicas e migram, então, para a probóscide do inseto, de onde poderão infectar um novo hospedeiro mamífero. MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves ASPECTOS IMUNOLÓGICOS Há aumento do linfócito CD4+; que se polarizam em Th1 ou Th2. Os linfócitos do sangue periférico dos pacientes são incapazes de produzir IL do padrão Th1 (IFN-1L-γ2) e produzem em elevadas quantidades, IL do padrão Th2 (IL-4 e IL-10), sendo reversível, após a cura do paciente. É clássico o padrão eletroforético das proteínas plasmáticas com elevação acentuada na fração γ-globulinas, em decorrência da presença de grande quantidade de anticorpos das classes IgG e IgM. A resposta imune, associada à resistência, está relacionada à proliferação e ativação de células TCD4+ do tipo Th1, em que os macrófagos ativados apresentam uma grande capacidade de destruir os parasitas, com resolução do processo. A susceptibilidade é representada pela resposta do tipo Th2. Em consequencia à infecção, ocorre uma resposta tecidual, em dois polos: Hiperérgico: os sistemas micro e macrofágico do hospedeiro, são capazes de destruir as leishmanias e resolver o processo inflamatório reacional; Anérgico: a doença se desenvolve com manifestações sistêmicas exuberantes (curso agudo ou crônico), existindo formas intermediárias de reação (formas oligossintomáticas). FISIOPATOLOGIA Reagindo ao parasitismo, o sistema reticuloendotelial exibe hipertrofia e hiperplasia. O interstício dos diferentes órgãos apresenta modificações do/da: Compoentes celulares, fibrilares; Matriz extracelular; Infiltrado inflamatório (linfócitos, plasmócitos); e Reatividade vascular. FÍGADO Há hepatomegalia, com preservação da arquitetura, congestão e esteatose. PADRÃO NODULAR É caracterizado histologicamente pela presença de agregados de células inflamatórias na intimidade dos lóbulos hepáticos e nos espaçosporta. MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves As células de Kupffer revelam discreta ou moderada hipertrofia e hiperplasia, e não mostram formas amastigotas no citoplasma. A!! Esse padrão representa uma resposta tecidual do hospedeiro mais eficaz frente ao parasito, no sentido de controlar a infecção. PADRÃO FIBROGÊNICO Tem como aspecto principal a ampliação do espaço de Disse com: Aumento da trama reticulínica; e Proliferação dos feixes colágenos. As células de Kupffer revelam discreta ou moderada hipertrofia e hiperplasia com parasitismo ocasional por formas amastigotas. Há também discreto infiltrado mononuclear portal e intralobular. Em casos de longa duração, desenvolve a “cirrose de Rogers”, caracterizada por: Fibrose hepática intralobular difusa, sem fibrose portal e sem nódulos regenerativos. ________________________________________ O fígado também pode exibir aspecto reacional às infecções, principalmente, as septicemias. Nos casos de evolução fatal podem ter áreas de necrose centrolobular, devido ao choque. PULMÃO É frequente o comprometimento pulmonar, com quadro histopatológico típico de pneumonite intersticial. O exame macroscópico dos pulmões mostra: Aumento de volume; Congestão; e Consistência mais elástica que a habitual. O exame histopatológico demonstra septos interalveolares espessados por infiltrado inflamatório, constituído de: Macrófagos, linfócitos e plasmócitos; Aumento de células intersticiais com vacúolos de gordura; Congestão de capilares septais; e Leve grau de edema. RIM As anormalidades de função renal são: Proteinúria; Hematúria macroscópica; Aumento de ureia e creatinina; e Diminuição do clearance de creatinina. O exame macroscópico revela: Aumento de volume e congestão. A análise histológica constata quadro de nefrite intersticial. As alterações do interstício renal são representadas por: Edema; Infitrado de plasmócitos e macrófagos. A acidificação urinária foi vista em 66% dos pacientes. BAÇO A LV causa grande esplenomegalia. Microscopicamente ocorre: Hipertrofia e hiperplasia do sistema reticuloendotelial, com intenso parasitismo. POLPA VERMELHA As células mononucleares parasitadas são abundantes e formam grandes agrupamentos, tornando a estrutura sinusoidal pouco evidente. POLPA BRANCA Apresenta diminuição da densidade celular, particularmente nas áreas T dependentes, redução dos linfócitos e polimorfismo celular. MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves LINFONODO Os linfonodos, em geral, não exibem acentuado aumento de volume, mas o exame microscópico revela reatividade dos seios (marginais, intermediários e medulares), com hipertrofia, hiperplasia e parasitismo dos macrófagos. MEDULA ÓSSEA Na medula óssea ocorre: Hipercelularidade da série granulocítica; e Bloqueio de granulócitos na linhagem neutrofílica. A neutropenia seria, então, decorrente de: Redução da reserva medular; Sequestro esplênico; ou Reações de autoimunidade. Há hipercelularidade relativa da série vermelha, com predominância de microeritroblastos. A anemia decorreria de bloqueio da produção medular, sequestro esplênico ou hemólise imune. A série megacariocítica é normo ou hipocelular, mas hipoplaquetopênica. 1. Plaquetopenia: diminuição da maturação medular e a destruição periférica; 2. Macrófagos: aumentados em número e volume, muito parasitados por formas amastigotas. 3. Plasmocitos: expressivo; 4. Eosinófilos: escassos ou ausentes.Legenda: Formas amastigotas de Leishmania no interior de macrófago da medula óssea QUADRO CLÍNICO O período de incubação varia de 10 dias a 24 meses, com média de 2-6 meses. A tríade clínica é: Febre intermitente; Alteração do estado geral; e Esplenomegalia. Já na co-infecção Leishmania/HIV: Hepatoesplenomegalia; Anemia; e Pancitopenia. Em alguns casos podem ocorrer sintomas como: febre, adenopatia, astenia etc. A LV se manifesta em 3 formas clínicas distintas: 1. Forma assintomática: caracterizada por sorologia positiva, sem manifestação clínica; 2. Forma oligossintomática: sorologia positiva e presença de alguns sinais ou sintomas da doença, como febre, hepato/esplenomegalia pequena; e 3. Forma clássica: doença plena com manifestações clínicas bastante exacerbadas, caracterizada por hepatoesplenomegalia volumosa, febre, comprometimento do estado geral, anemia, leucopenia e/ou plaquetopenia e hipergamaglobulinemia. ASSINTOMÁTICA O diagnóstico é feito pela coleta de sangue para: Exames sorológicos: ELISA ou IFI/ imunofluorescência indireta; ou Através da intradermorreação de Montenegro reativa. Os títulos de anticorpos são baixos e podem permanecer positivos por um longo período. Ocorre em pacientes de áreas endêmicas, onde há evidência epidemiológica da infecção. A!!Não são notificados e não devem ser tratados. MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves OLIGOSSINTOMÁTICA Nas áreas endêmicas, a forma oligossintomática é a mais frequente da doença, se caracterizando pela presença de: Febrícula; Tosse seca; Diarreia; Sudorese; e Adinamia; Associada à discreta visceromegalia. FORMA CLÁSSICA É uma doença de evolução prolongada, nos casos agudos pode ter início abrupto com febre alta. A febre é persistente ou intermitente, associando-se, com frequência, a: Distúrbios gastrointestinais; Adinamia; Sonolência; Prostração, mal-estar; e Progressivo emagrecimento. Podem ocorrer manifestações hemorrágicas (petéquias, epistaxes, sagramento gengival). As manifestações respiratórias lembram um resfriado comum. No período de estado, a doença assume características mais marcantes: Irregularidade da febre com período de 1-2 semanas de apirexia; Emagrecimento progressivo e leva a uma caquexia acentuada; Abdome volumoso devido à hepatoesplenomegalia; Dispneia aos mínimos esforços; Sopro sistólico plurifocal e insuficiência cardíaca. ________________________________________ Pode dividir em períodos, como: PERÍODO INICIAL OU AGUDA Caracteriza o início da sintomatologia que varia de paciente para paciente, mas na maioria dos casos inclui: Febre com duração <4 semanas; Palidez cutâneo-mucosa; e Hepatoesplenomegalia. A!! Estado geral está preservado e o baço geralmente não ultrapassa a 5 cm do rebordo costal esquerdo. Normalmente, os pacientes vão ao serviço médico fazendo uso de antimicrobianos sem resposta clínica e muitas vezes com história de tosse e diarreia. Em área endêmica, geralmente crianças, podem apresentar um quadro clínico discreto, de curta duração, aproximadamente 15 dias, que evolui para cura espontânea (forma oligossintomática). Manifestações clínicas + alterações laboratoriais, caracteriza melhor a forma oligossintomática. PERÍODO DE ESTADO Caracterizado por: Febre irregular, geralmente associada a emagrecimento progressivo, palidez cutâneo-mucosa e aumento da hepatoesplenomegalia. Tem quadro clínico arrastado geralmente com mais de 2 meses de evolução, na maioria das vezes associado a comprometimento do estado geral MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves PERÍODO FINAL Caso não seja feito o diagnóstico e tratamento, a doença evolui progressivamente para o período final, com: Febre contínua; e Comprometimento mais intenso do estado geral. Instala-se: Desnutrição: cabelos quebradiços, cílios alongados e pele seca; Edema dos MMII que pode evoluir para anasarca. Outras manifestações importantes incluem: Hemorragias: epistaxe, gengivorragia e petéquias; Icterícia; e Ascite. O óbito geralmente é determinado por infecções bacterianas e/ou sangramentos. DIAGNÓSTICO Vários métodos podem ser aplicados para o diagnóstico, sendo fundamental associar as informações clínicas e epidemiológicas aos resultados de laboratório. A reação intradérmica de Montenegro está geralmente negativa em pacientes com LV. A negatividade é explicada, porque o teste é dependente da resposta imune celular. O diagnóstico parasitológico por pesquisa direta ou cultivo em meio específico é facilitado pela grande quantidade de parasitos presentes nas amostras em pacientes com LT/HIV. Na LV/HIV, parasitos circulantes podem ser identificados no sangue periférico, sendo raro em pacientes imunocompetentes. Devido à possibilidade de visceralização de espécies dermotrópicas ou de manifestação cutânea na LV, o isolamento e a caracterização da espécie são recomendados. Esses métodos não são fundamentais para o diagnóstico das leishmanioses, que é definido, na maioria das vezes, por métodos diretos. Porém, são importantes quando precisa identificar a espécie do agente etiológico envolvido. Existem vários métodos para identificação específica de Leishmania, mas a eletroforese de enzimas e o perfil de reatividade com anticorpos monoclonais são mais padronizados. MATERIAL PARA O EXAME Na LV recomenda: Aspirado de medula óssea; ou Obtenção do creme leucocitário do sangue periférico. Pode ser realizada biópsia ou punção de órgãos do sistema fagocítico- -mononuclear (baço, fígado ou linfonodos). Como os pacientes com imunossupressão grave podem apresentar manifestações incomuns, a pesquisa de Leishmania deverá ser solicitada sempre que a abordagem propedêutica incluir procedimentos como: Broncoscopia ou biópsia de tecidos, como pleura, esôfago, cólon, duodeno etc. EXAME DIRETO O exame direto é basicamente visualizar as formas amastigotas do parasito em material obtido das lesões ou dos tecidos afetados. É o exame de primeira escolha, por ser: Mais rápido; Menor custo; e Fácil execução. MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves Só que é necessário um examinador experiente para o diagnóstico, porque outros fatores podem sugerir a presença de formas amastigotas, como: Contaminantes dos corantes; Outros agentes infecciosos (principalmente fungos); e Até mesmo plaquetas. Com o material obtido, é feito esfregaço ou impressão sobre lâmina de vidro, sendo então fixado com metanol, por 3 minutos, corado por 40 minutos, aproximadamente. As lâminas são examinadas em microscópio de fase, procurando AMASTIGOTAS que podem estar dentro ou fora dos macrófagos; As amastigotas são formas arredondadas, com citoplasma azul pálido, núcleo excêntrico e cinetoplasto em forma de bastonete, de cor idêntica à do núcleo O exame histopatológico convencional também é útil na detecção das formas amastigotas nos tecidos e pode descartar ou confirmar outras doenças do diagnóstico diferencial. A!! Muitas vezes, não é possível visualizar parasitos nas lâminas, sendo necessário métodos indiretos para confirmar o diagnóstico. A positividade da pesquisa direta de amastigotas está associada ao/à: Tempo de evolução das lesões; Experiência do técnico; e Tempo de leitura das lâminas, porque é mais difícil encontrar em lesões >6 meses de evolução. Nesses casos, a técnica de imuno-histoquímica é uma alternativa para o diagnóstico, aumentando a sensibilidade da detecção do parasito. REAÇÃO DE MONTENEGRO É uma reação intradérmicade sensibilidade tardia, em que injeta 0,1 ml de extrato solúvel de parasitos mortos na face interna do antebraço e faz à leitura após 48 a 72 horas. Endurações com diâmetro >5 mm são consideradas positivas. Quando existe suspeita de LT, o teste deve ser realizado e o resultado positivo deve ser interpretado como indicador de exposição aos agentes do gênero Leishmania. E um resultado negativo nunca deve excluir o diagnóstico. No caso da LV, não deve ser realizado o teste de Montenegro para diagnóstico, pois na DOENÇA ATIVA o RESULTADO É SEMPRE NEGATIVO, independente se há ou não associação com coinfecção LV e AIDS. TESTES SOROLÓGICOS A pesquisa de anticorpos específicos tem valor definido no diagnóstico da LV em imunocompetentes, caracterizada por: Intensa indução de resposta humoral. Já na vigência da coinfecção Leishmania-HIV, a pesquisa de anticorpos realizada por meio de testes sorológicos que utilizam antígenos brutos e recombinante de Leishmania apresenta: Baixa sensibilidade. Então a sorologia não deve ser usada como critério isolado para descartar o diagnóstico de LV. Por outro lado, uma reação positiva pode representar apenas uma cicatriz sorológica e deve ser valorizada como evidência de exposição ao agente que, no contexto da infecção pelo HIV, tem uma maior relevância. MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves EXAMES INDIRETOS – CULTURA O mesmo material coletado para o exame direto pode ser utilizado em exames parasitológicos indiretos, como: Inoculação em meios de cultura. Para o cultivo de Leishmania, é fundamental utilizar meio bifásico: Fase líquida; e Fase semissólida. As culturas devem ser mantidas em estufa seca a 25º C. No caso de não existirem condições para o cultivo, o material coletado deve ser colocado em solução salina tamponada, à temperatura ambiente e enviado para o laboratório até 24 horas após a coleta, para que seja cultivado. DIAGNÓSTICO MOLECULAR Em casos com resultados parasitológicos e sorológicos negativos ou inconclusivos, é possível realizar, em laboratórios de referência, o diagnóstico molecular utilizando DNA extraído de: Fragmento de pele; Mucosa; Sangue periférico; Medula óssea; ou Órgãos do sistema fagocítico-mononuclear. O exame também pode ser realizado em esfregaços em lâmina e em tecido incluído em parafina. Usa a técnica PCR, que permite o diagnóstico e a caracterização do parasito. CONDUTA A avaliação inicial do paciente deve identificar os casos com maior risco de evoluir para óbito. Na suspeita de LV, deve: Fazer a coleta de sangue para sorologia específica e a punção de medula óssea para o diagnóstico parasitológico. (Relembrando a tut passada) Deve solicitar também: Hemograma, VHS, creatinina, ureia, alanina aminotransferase, aspartato aminotransferase, atividade de protrombina, albumina, globulina, fosfatase alcalina, bilirrubinas e amilase sérica. Exames adicionais: EAS, hemocultura, urocultura e raio-x de tórax – intuito de prevenir ou detectar precocemente complicações infecciosas e hemorrágicas. A!! Pela prevalência de coinfecção HIV-LV, oferece o teste de HIV a todo paciente com diagnóstico de LV. Além disso, o tratamento pode ser feito no ambulatório. Este tratamento engloba terapêutica específica e medidas adicionais como: Hidratação; Antitérmicos; Antibióticos; Hemoterapia; e Suporte nutricional. A!! Exames laboratoriais e ECG devem ser feitos durante o tratamento para: Acompanhar a evolução; e Identificar possível toxicidade medicamentosa. TRATAMENTO ESPECÍFICO No Brasil, os medicamentos utilizados para o tratamento da LV são: Antimoniato pentavalente; e Anfotericina B. A escolha deve considerar: Faixa etária; Gravidez e comorbidades; e Toxicidade das drogas MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves O antimonial pentavalente tem a vantagem de poder ser administrado no nível ambulatorial, o que diminui os riscos da hospitalização. A anfotericina B é a única opção no tratamento de: Gestantes e de pacientes com contraindicações; ou que Manifestem toxicidade ou refratariedade ao uso dos antimoniais pentavalentes. A anfotericina B é o mais potente disponível, com ação nas formas promastigotas e amastigotas. Além disso, doses menores podem ser utilizadas sem prejuízo da eficácia e consequente diminuição de sua toxicidade. Atualmente, duas apresentações de anfotericina B são disponibilizadas pelo MS: Desoxicolato de anfotericina B; e Anfotericina B lipossomal. A!! Eficácias comparáveis, mas a segunda com menor toxicidade. CONTRAINDICAÇÕES 1. Antimonato de meglumina - Insuficiência renal, cardíaca ou hepática; - Uso concomitante de medicamentos que alteram o intervalo QT corrigido com duração maior que 450 ms; - Gravidez; - >50 anos; - Hipersensibilidade aos componentes da formulação. 2. Anfotericina B desoxicolato: - Insuficiência renal; - Hipersensibilidade aos componentes da formulação. 3. Anfotericina B lipossomal: - Hipersensibilidade aos componentes da formulação. PARA NÃO ESQUECER MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves CRITÉRIOS DE CURA Os critérios de cura são essencialmente clínicos. Os primeiros sinais de resposta costumam ser inespecíficos como: Melhora do apetite e estado geral. Além disso: Desaparecimento da febre entre o 2º e o 5º dia de tratamento. Ganho ponderal e redução do volume do baço e fígado acontecem nas primeiras semanas; Regressão total alguns meses; Parâmetros hematológicos melhoram a partir da 2ª semana. A normalização das proteínas séricas ocorre de forma lenta, podendo durar meses. Com evolução clínica favorável, o controle parasitológico é dispensável. O paciente tratado deve ser acompanhado durante 6 meses. Ao final desse período, se o estado permanecer estável, ele é considerado clinicamente curado. É considerada recidiva quando os sintomas aparecerem em até 12 meses após término do tratamento. TRATAMENTO DE SUPORTE USO DE ANTIBIÓTICOS Os pacientes com LV são caracteristicamente neutropênicos e tem maior risco de infecção aparente ou oculta. A febre faz parte da síndrome clínica e tem pequeno valor na identificação de infecção bacteriana, o que tornaria inadequado classificá- los como pacientes neutropênicos febris. Como não há método seguro para identificar ou afastar com certeza a presença de infecções, a introdução e antibióticos é difícil. Como não tem consenso na literatura sobre a terapia antibacteriana, as condutas propostas são adaptadas das recomendações para paciente neutropênico febril com câncer e para criança com febre aguda sem sinais de localização. As infecções bacterianas podem ser graves e a apresentação clínica, inespecífica. Uma variedade de agentes infecciosos tem sido isolada de diferentes sítios de infecção, sendo frequente: Pele; Ouvido médio; e Tratos respiratório, digestivo e urinário. Assim, na suspeita de infecções bacterianas, a terapia antibiótica empírica deve ser iniciada após os procedimentos diagnósticos, como: Raio-x de tórax, bacterioscopia de secreções suspeitas de infecção, hemocultura, urinocultura e cultura de outras secreções e líquidos. A antibioticoterapia é indicada para os pacientes com quadro infeccioso definido, como: Pneumonia, impetigo, celulite, otite e ITU. Recomenda o uso de ATB em pacientes com LV com <500 neutrófilos/mm3. O ATB pode ser suspenso de 3 a 5 dias, com os neutrófilos >500 células/mm3 no sangue periférico, desde que as culturas tenham sido negativas e o pacienteclinicamente estável. A reação neutrofílica associada à infecção bacteriana nos pacientes com LV pode ocorrer com neutrófilos abaixo dos níveis considerados indicativos de infecção bacteriana. Na ausência de definição etiológica do quadro infeccioso, a escolha do ATB considerar: Sítio da infecção; Grau de comprometimento; e Se a infecção é comunitária ou hospitalar. MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves O esquema proposto inclui: Ceftriaxona isoladamente; ou Ceftriaxona associada à oxacilina: infecção de pele ou tecido celular subcutâneo. A!! Modificações no esquema antibiótico devem ser orientadas pela evolução clínica, pelos resultados das culturas e dos antibiogramas. SUPORTE HEMOTERÁPICO O suporte hemoterápico deve ser indicado de forma individualizada, levando em consideração: Idade do paciente; Compensação hemodinâmica; Tempo de instalação da anemia; e Presença de complicações: septicemia, sangramentos e coagulação intravascular disseminada. CONCENTRADO DE HEMÁCIAS Indicada transfusão de concentrado de hemácias para pacientes com: Hemoglobina >7g/dL; ou Hematócrito >21%. Em casos de repercussão hemodinâmica associada, pode indicar a transfusão, mesmo com níveis mais elevados. CONCENTRADO DE PLAQUETAS A fisiopatologia do sangramento do paciente com LV é pouco compreendida e envolve vários multiplicidade, como: Insuficiência hepática, coagulação intravascular disseminada, alteração da função plaquetária e plaquetopenia. Por isso, a transfusão de plaquetas nem sempre é medida suficiente para prevenir ou controlar a hemorragia. É indicada em casos extremos >10.000 plaquetas/mm3, associada a sangramento. PLASMA FRESCO Recomendado para pacientes com sangramentos graves, com baixa atividade de protrombina. FATORES DE ESTIMULAÇÃO DE COLÔNIAS DE NEUTRÓFILOS O uso é restrito aos pacientes gravemente neutropênicos, portadores de complicações infecciosas e que não estão respondendo satisfatoriamente às medidas iniciais. SUPORTE NUTRICIONAL A nutrição no paciente com LV deve ser iniciada o mais rápido para minimizar os efeitos do hipercatabolismo. Utiliza preferencialmente a via enteral para evitar a atrofia intestinal e a translocação bacteriana. A alimentação parenteral poderá ser considerada quando a via enteral estiver contraindicada.
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