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1 Khilver Doanne Sousa Soares Hepatites Virais Hepatite viral pode ser definida como uma infecção que leva a uma necro-inflamação do fígado, com manifestações clínicas e laboratoriais relacionadas, sobretudo, às alterações hepáticas decorrentes desse processo inflamatório. Vírus da Hepatite A Vírus de fita de RNA; Hepatovírus; da família Picornaviridae. Apenas um sorotipo é reconhecido embora haja diversidade na sua sequência de nucleotídeos POR ESSA CAUSA a imunoglobulina e a vacina protegem os indivíduos de infecções pelo vírus A em qualquer lugar Obs.: a hepatite A NUNCA evolui para a forma crônica Obs..2: não transmite de forma sanguínea, só fecal oral; portanto o paciente com hepatite A PODE DOAR SANGUE! Com relação à fisiopatologia, o mecanismo de lesão hepática parece estar relacionado não à ação direta do vírus, mas como consequência da resposta imune do hospedeiro contra antígenos expressos nos hepatócitos. Seu diagnóstico baseia-se no quadro clínico e provas sorológicas evidenciando infecção aguda. Existem dois tipos de anticorpo re- lacionados ao vírus da hepatite A: o anti-VHA IgG e o anti-VHA IgM. A forma IgM marca a infecção aguda, aparecendo no soro logo no início da doença e tem seu pico em poucas semanas após o início dos sintomas. IgM em até 5 meses, metade dos infectados não têm mais de forma detectável no sangue. IgG detectada na fase aguda, mas se torna predominante na fase de convalescência. Atinge seu pico em 3 a 12 meses após início da doença; persiste por toda a vida. A regra é que a evolução da hepatite A seja a cura. No entanto, em alguns casos (1 para cada 17,4 casos) observa-se níveis anormais de atividade das transaminases por cerda de 4 a 6 meses ou mais – assim observam-se alterações de ALT por mais de 6 meses. Vírus da Hepatite B Vírus do tipo DNA da família Hepadnaviridae; envelopado; preferência pelo fígado. O mecanismo de lesão hepática não está relacionado a um efeito citopático direto do vírus, mas à resposta imune dos hospedeiros. Linfócitos T citotóxicos geram apoptose das células hepáticas infectadas, gerando a lesão. O vírus da hepatite B (VHB) pode determinar um espectro de doença bastante amplo, de infecção aguda e crônica - O PRINCIPAL DETERMINANTE responsável pela evolução da infecção crônica pelo VHB é a idade de aquisição do vírus (quando adquirida na infância ou período perinatal por exemplo, a infecção tem mais chance de evoluir para a hepatite crônica). Bebês – cerca de 90% evoluem para forma crônica Crianças – cerca de 30% evoluem para forma crônica Adultos – cerca de 5% a 10% evoluem para forma crônica A transmissão da hepatite B ocorre por contato sexual desprotegido, contato com sangue infectado – como em transfusões e compartilha- mento de seringas – e transmissão vertical. Obs.: o paciente com hepatite B NÃO PODE DOAR SANGUE.; é transmissível de mãe para filho. O VHB é um vírus não-citopático, e a lesão hepática na infecção aguda é mediada por reações imunes do hospedeiro. Células T CD8+ dirigidas contra vários antígenos do VHB exercem papel fundamental na lesão hepática aguda 2 Khilver Doanne Sousa Soares autolimitada, com efeito citolítico e não-citolítico sobre os hepatócitos. O efeito citolítico por linfócitos T citotóxicos (CTL) é devido à apoptose mediada por granzimas, perforinas e ligantes Fas (Fas-L). Por outro lado, CTL ativadas secretam interferongama e fator de necrose tumoral alfa, que abolem a expressão do VHB e a replicação viral (mecanismos não citolítico). A hepatite aguda B sintomática regride em mais de 95% dos casos. O vírus se replica mais nos hepatócitos, mas pode replicar nas células-tronco do baço, pâncreas e medula óssea também. Quanto a sua fisiopatologia, seu DNA possui quatro fases de leitura, que codificam os genes para: o antígeno de superfície (gene S, HbsAg) – sendo o HbsAg marcador de infecção tanto aguda quanto crônica; antígeno-core (gene C, HbcAg); a polimerase do HBV (gene P) – importante alvo dos antivirais – e uma pequena proteína com funções transativadoras (gene x, HbxAg). Além disso, o gene C tem dois códons de iniciação, podendo produzir dois produtos diferentes: HbcAg, retido nas células hepáticas até a montagem e incorporados aos vírions; e o HbeAg, secretado no soro – por isso o HbeAg é um marcador de replicação viral. A dosagem de Anti-Hbc IgM é importante: este marcador se eleva precocemente na infecção, desaparecendo em 6 a 12 meses após o início da doença. Logo, se vier positivo, fortalece a hipótese de hepatite B aguda. Obs.: HbeAg, anti-Hbe, DNA do HBV e anti-Hbs não servem para o diagnóstico, mas são valiosos no prognóstico da doença uma positividade do DNA ou HbeAg após 6 semanas do início dos sintomas indica provável cronificação da doença; enquanto o desapareci- mento de um desses indica evolução favorável - Já o desaparecimento do AgHbs e o surgimento de anti-Hbs indica recuperação. No período de incubação, detectam-se HbsAg, HbcAg e DNA do vírus no soro. Já no início da fase aguda, o anti-Hbc e as aminotransferases também se elevam – anti-Hbc IgM está relacionado à fase aguda da infecção e tende a desaparecer gradualmente, enquanto o anti-Hbc IgG se eleva posteriormente no indivíduo infectado e permanece por toda a vida. Na fase de recuperação, o HbsAg declina e, posteriormente, o anti-Hbs aumenta, após o desa- parecimento do HbsAg. O anti-Hbs é um marcador de infecção passada ou curada, indicando imunidade ao vírus. Dentre as complicações da hepatite B, destaca-se a cirrose, insuficiência hepática e o carcinoma hepatocelular. Vírus da Hepatite C O vírus é do tipo RNA; família Flaviridae; o vírus apresenta uma elevada diversidade genética – resultou na classificação de pelo menos 6 genótipos com vários subtipos. O vírus circula ainda sobre a forma de quasispécies (genomas do VHC semelhantes – diferindo por poucos nucleotídeos). Sua transmissão ocorre principalmente por contato parenteral, o que coloca os usuários de drogas e pacientes com exposições parenterais as mais susceptíveis à infecção – a transmissão sexual ocorre, mas é muito incomum. Obs.: transmitida através do sangue, contato sexual e vertical. Os linfócitos citotóxicos exercem papel essencial na resposta imune do hospedeiro ao VHC, bem como na lesão hepática. Contudo a resposta imune é geralmente menos intensa – hepatite fulminante rara. A evolução da hepatite aguda C para a cronicidade é frequente (60 a 80%), mas a chance de resolução aumenta significativamente quando a hepatite aguda é acompanhada de icterícia, indicando lesão hepatocelular mais acentuada. O diagnóstico é sugerido a partir do quadro clínico e da presença do Anti-HCV no soro do paciente, mas este marcador não distingue entre 3 Khilver Doanne Sousa Soares a infecção aguda e crônica. Além disso, o anti- HCV é detectado de um a dois meses após a infecção, ou seja, pode estar negativo mesmo em um quadro de infecção aguda. Por isso usa-se o RNA viral, detectado pouco tempo após o contato, pelo método PCR. Este indica infecção ativa e replicação viral. Casos Cronificados Todos os pacientes com hepatite C crônica merecerão tratamento. Logo, todo paciente com HCV deve passar por estadiamento da doença hepática, sendo a biópsia hepática é o exame padrão-ouro, mas havendo outros métodos de estadiamento – como o APRI, FIB 4, elastografia hepática. Essencialmente, todo paciente com diagnóstico de HCV deve ser tratado, caso não apresentem critérios de exclusão (idade <3 anos; pacientes oncológicos com cirrose child-pugh B ou C, ou cuja sobrevida estimada não ultrapasse 12 meses; pacientes com cirrose descompensada e indicação de transplante com MELD > ou igual a 20; pacientes cuja sobrevida não ultrapasse os 12 meses e pacientes com sensibilidade ou intolerância). Fármacos: Alfapeginterferona, ribavirina, daclatasvir,sofosbuvir, ledipasvir/sofosbuvir, elbasvir/grazoprevir, glecaprevir/ pibrentasvir, velpatasvir/sofosbuvir, alfaepoetina, filgrastim - O objetivo do tratamento é a resposta sustentada, caracterizada pela ausência do RNA viral na 12ª ou 24ª semana de uso. A metodologia do exame deve ser pelo PCR, com limite de detecção de <12UI/mL. Vale ressaltar que a hepatite C não confere imunidade contra reinfecção, podendo o indivíduo infectar-se novamente pelo vírus. Vírus da Hepatite D Genoma viral é uma única fita de RNA; polaridade negativa; pertencente à família Deltaviridae e ao gênero Deltavírus; É um vírus defectivo, OU SEJA, necessita do VHB para infectar e sobreviver no organismo humano - seu envelope é composto por lipídios e por antígenos AgHbs. Assim, ele necessita da presença dos AgHbs da hepatite B para conseguir sobreviver. A hepatite aguda pelo VHD tende a ser grave, evoluindo para morte em cerca de 5% dos casos. A lesão causada pelo VHD é provavelmente devido ao efeito citopático direto do vírus. É frequente a progressão para a cronicidade. Sua transmissão é, principalmente, pela via parenteral e sexual. A infecção pode ocorrer em dois padrões: como coinfecção – em que o indivíduo se infecta simultaneamente pelo HDV e pelo HBV – e superinfecção aguda do HDV em portadores de HBV. Na coinfecção a doença apresenta-se de forma aguda e benigna (poucas evoluções para hepatite fulminante). Já nos casos de superinfecção, o vírus D já encontra no fígado infectado pelo HBV um ambiente propício para replicação, produzindo grave dano hepático. Os principais marcadores são os Anti-HDV IgG e IgM, que podem indicar infecção em andamento ou resolvida. Altos títulos sugerem replicação viral e se correlacionam com outros marcadores, como o AgVHD e RNA viral. Todos os pacientes portadores de hepatite delta são candidatos ao tratamento, que é composto por alfapegintereferona 2ª e/ou um análogo de nucleotídeo (tenofovir ou entecavir) durante 48 semanas, podendo ser renovadas por mais 48 semanas. O objetivo do tratamento é o controle do dano hepático. Vírus da Hepatite E Composto por uma única fita de RNA; polaridade positiva; havia sido classificado como pertencente à família Caliciviridae – alguns autores propuseram sua retirada dessa família (semelhança genética com o togavírus). O VHE provoca doença aguda autolimitada, semelhante à hepatite A. Entretanto, em casos 4 Khilver Doanne Sousa Soares graves, principalmente fatais, foram observadas necroses maciça e submaciça. Sua principal forma de transmissão é pela via fecal-oral e sua ocorrência está relacionada a más condições de higiene e baixos níveis socioeconômicos. A hepatite E é outra forma de hepatite que não evolui para a infecção crônica. Os testes sorológicos incluem Anti-VHE IgG e IgM. Aquele representa infecção passada e pode persistir no soro por anos, enquanto este indica forma aguda da doença. https://www.qualitymedicina.com.br/saude/hepatites-virais-entenda/ Quadro Clínico Não há um quadro clínico patognomônico de hepatite viral. O diagnóstico depende da interpretação correta dos sintomas, achados de exame físico e testes laboratoriais dentro de um contexto clínico apropriado. A hepatite viral aguda pode ter apre- sentação assintomática ou sintomática, anictérica ou ictérica ou, ainda, como formas colestáticas. Em geral o curso clínico da hepatite sintomática é parecido, com algumas peculiaridades: https://www.qualitymedicina.com.br/saude/hepatites-virais-entenda/ 5 Khilver Doanne Sousa Soares Presença de artralgia ocasional – mais associada à infecção pelo vírus B (VHB); Tendência de manifestação clínica inicial mais aguda – hepatite A; Tendência de manifestação clínica inicial mais insidiosa – hepatite C. Período de incubação: varia de semanas a 6 meses; nesse período o paciente costuma permanecer assintomático mesmo com replicação viral presente; Fase pré-ictérica ou prodrômica: o paciente pode ter mal-estar, astenia, febre, anorexia, náuseas, vômitos, cefaleia, desconforto abdominal, mialgia, diarréia ou obstipação, rinorreia, tosse e artralgia, antes do aparecimento da colúria e icterícia. O período pré-ictérico, em geral, dura 1 semana, podendo se estender por 3 semanas. Obs.: presença de urticária, artrite, glomerulonefrite, doença do soro e exantema mais associados à hepatite B. Obs.: essa fase pré-ictérica pode acabar durando por todo o curso da infecção aguda, em formas subclínicas ou anictéricas de hepatite aguda. A forma anictérica é muito frequente, então é importante que a gente não se limite a desconfiar de hepatite viral apenas quando o quadro evolui para icterícia Período ictérico: O início de urina com coloração escura marca o início da fase ictérica. Com seu surgimento a febre tende a desaparecer, mas pode persistir anorexia e sintomas digestivos - a náusea e a fadiga se agravam. Em parte significativa dos paciente há acolia fecal – durando cerca de 7 a 14 dias. Em casos graves pode haver prurido. Ao exame físico, geralmente, há icterícia e dor à palpação de hipocôndrio direito; e a hepatomegalia e esplenomegalia podem estar presentes nos casos mais graves. Exames laboratoriais mostram hiperbilirrubinemia, - à custa de bilirrubina conjugada (direta) – e as aminotransferases estão elevadas em mais de dez vezes o limite superior da normalidade (LSN). Nessa fase, os níveis virais começam a decair no sangue e no fígado. A mudança no ritmo do sono e prolongamento do tempo de protrombina podem sugerir instalação de insuficiência hepática aguda. Importante perguntar: área de procedência, contato com portadores, transfusões prévias, quadro de icterícia prévio, imunodeficiências, medicamentos em uso, comportamento sexual. No exame físico: ver estado nutricional do paciente, presença de sinais periféricos de hepatopatia (eritema palmar, telangiectasias), características do fígado (tamanho, consistência, superfície, bordas) e do baço (se este estiver palpável), ascite, circulação colateral e edema. Na hepatite aguda, em geral, há hepatomegalia dolorosa, associada a um fígado de consistência elástica, superfície homogênea e bordas lisas. Fase Convalescente: a recuperação geralmente dá os primeiros sinais com o retorno do apetite, normalização sérica de bilirrubinas e aminotransferases e depuração viral. A maioria dos pacientes evolui para cura, em particular nas hepatites A e E - na hepatite pelo VHC, a possibilidade de cura é menor, permanecendo a infecção de forma latente, assintomática e crônica em cerca de 80% dos casos. Cerca de 95% dos recém-nascidos infectados pelo VHB são assintomáticos e permanecem como portadores do vírus. Cerca de 20% das crianças que adquirem hepatite B aguda se tornam cronicamente infectadas. A forma fulminante ocorre em 1% a 2% dos casos, mais frequentemente nas formas B e D, e menos frequentemente na C – denomina-se fulminante quando desenvolve-se encefalopatia hepática, por isso a atenção aos padrões de comportamento e sono. 6 Khilver Doanne Sousa Soares O fator prognóstico mais confiável é o grau de prolongamento do tempo de protrombina. Outros sinais que indicam mau prognóstico incluem: progressão persistente da icterícia, ascite e diminuição do tamanho do fígado. Aminotransferases e carga viral têm pouco valor prognóstico A avaliação minuciosa é de grande valor nesses pacientes: precisamos saber a área de procedência, contato com portadores, exposição a indivíduos infectados e fatores de risco – como transfusão ou procedimento invasivo prévios, quadro anterior de icterícia, imunodeficiências, doenças de base, medicamentos em uso, comportamento sexual e uso de drogas devem ser investigados. O exame físico deve avaliar estado nutricional, sinais periféricos de he- patopatia (como telangiectasias e eritema palmar), características físicas do fígado (tamanho,forma, tex- tura, etc.) e do baço (se palpável), presença de ascite, edema ou circulação colateral. Escoriações na pele podem indicar que paciente teve prurido intenso. Na hepatopatia aguda, temos um fígado doloroso, elástico, homogêneo e com bordas lisas. Muito infrequentemente, haverá esplenomegalia, edema ou ascite. Forma Anictérica: é habitualmente assintomática ou se apresenta de modo mais leve, e parece ser mais frequente do que a forma ictérica. Quando o paciente está assintomático, o diagnóstico é realizado por meio da observação da elevação das aminotransferases séricas e pela detecção de marcadores sorológicos de infecção viral aguda. História natural e exames laboratoriais na hepatite A. Representação esquemática dos marcadores laboratoriais da hepatite A de acordo com as fases clínicas. 7 Khilver Doanne Sousa Soares História natural e exames laboratoriais na hepatite B aguda. Representação esquemática dos marcadores laboratoriais da hepatite B aguda de acordo com as fases clínicas. História natural e exames laboratoriais na hepatite B crônica. Representação esquemática dos marcadores laboratoriais da hepatite B crônica de acordo com as fases clínicas. História natural e exames laboratoriais na hepatite C. Representação esquemática dos marcadores laboratoriais da hepatite C de acordo com as fases clínicas. Diagnóstico / Exames Todos os cinco tipos de hepatite podem apresentar a forma aguda. As hepatites A e E são os dois tipos que nunca se tornam crônicos; enquanto as hepatites B, C e D apresentam uma fase aguda inicialmente e, posteriormente, podem evoluir para a forma crônica. O diagnóstico laboratorial das hepatites agudas virais baseia-se nas alterações das transaminases (revelam a lesão dos hepatócitos), associadas às dosagens de bilirrubinas e tempo de protrombina, albumina, fosfatase alcalina, leucograma, sumário de urina algumas vezes, além da positividade para os marcadores sorológicos dos vírus identificados. O diagnóstico laboratorial se baseia na elevação das transaminases – que indica lesão dos hepatócitos – e da bilirrubina; na positividade dos marcadores sorológicos e, em algumas situações, no tempo de protrombina, albumina, fosfatase alcalina, leucograma e sumário de urina. O diagnóstico etiológico é feito pela presença dos marcadores virais. As aminotransferases (AST/TGO e ALT/TGP) começam a se elevar antes mesmo do aparecimento dos sintomas, em ambas as formas ictérica e anictérica. Tipicamente, seus níveis atingem 10 vezes o limite superior da normalidade, entretanto, podem se elevar para níveis muito superiores. As aminotransferases persistem alteradas por cerca de 3 a 19 dias na hepatite A, e por cerca de 35 a 200 dias na hepatite B; na hepatite C, notoriamente, elas também permanecem elevadas por um período mais prolongado. As bilirrubinas conjugadas e não-conjugadas elevam-se nas hepatites agudas virais, todavia, há o predomínio das bilirrubinas conjugadas (direta). Os níveis de bilirrubina variam, mas geralmente são inferiores a 20 mg/dL. Após atingir o pico as bilirrubinas decrescem a uma taxa de 50% por 8 Khilver Doanne Sousa Soares semana; retornam ao normal é média 2 a 8 semanas após início da icterícia. A determinação do tempo de protrombina é útil na avaliação prognóstica. Nas formas habituais das hepatites virais, o tempo de protrombina não se altera significativamente. Por outro lado, nas formas graves ou fulminantes, observa-se seu prolongamento em segundos. Obs.: convém ressaltar que, ao contrário das aminotransferases, o tempo de protrombina tem valor prognóstico em quadros de hepatite aguda. A presença de hipoalbuminemia com hiperglobulinemia, logo no início da fase ictérica, é sugestiva de doença hepática crônica. A fosfatase alcalina se eleva discretamente, com exceção das formas colestáticas, em que o aumento é significativo. Diagnóstico Etiológico da Hepatite A O anticorpo anti-VHA é detectável no soro no início da doença, em média 1 a 2 semanas após o aumento das transaminases. Existem dois tipos: anti-VHA da classe IgM e da classe IgG. Na hepatite A, a resposta inicial do anticorpo é da classe IgM e seu diagnóstico é estabelecido pela positividade do anti-VHA-IgM, obtido de uma amostra de soro durante a hepatite aguda. O pico dos níveis de anti-VHA-IgM é atingido dentro de poucas semanas após o início dos sintomas, declinando, em seguida, de maneira progressiva. Cerca de 4 a 5 meses após o início da doença, metade dos pacientes não tem mais IgM detectável no soro. O anti-VHA IgG passa a ser o anticorpo predominante na fase de convalescença alcançando níveis máximos em 3 a 12 meses após o início da doença e persistindo ao longo da vida do indivíduo. 9 Khilver Doanne Sousa Soares Diagnóstico Etiológico da Hepatite B O diagnóstico da infecção pelo VHB é baseado na presença do antígeno de superfície do vírus (AgHbs). O AgHbs aparece no início da hepatite aguda, antes mesmo da elevação das transaminases, mas não esclarece se a doença é crônica ou aguda. O diagnóstico de um quadro agudo é feito pela detecção do anticorpo para o antígeno de centro (core) da hepatite B da classe IgM (anti-HBc IgM) – se mantém elevado na infecção aguda, declinando após 3 meses, pouco perceptível após 6 meses. O anti-HBc da classe IgG, por sua vez, rapidamente alcança títulos elevados na hepatite aguda, permanecendo, ao que parece, por toda a vida mesmo após a cura. O anticorpo contra o AgHBs (anti-HBs), por sua vez, indica cura da infecção e imunização à reinfecção. Diagnóstico Etiológico da Hepatite C O anticorpo anti-VHC pode ser detectado, atualmente, pelo método de ensaio imunoenzimático (ELISA). É um teste altamente específico e sensível. A detecção do anti-VHC indica, na maioria dos casos, presença de infecção ativa pelo vírus ou infecção passada que evoluiu para cura. O anti-VHC não distingue infecção aguda de infecção crônica. Na hepatite aguda, o anti-VHC sérico é detectado cerca de 1 a 2 meses após exposição ao vírus, sendo, portanto, negativo antes dela. O RNA viral, por sua vez, pode ser identificado no soro poucas semanas após exposição ao vírus, pelo método de reação em cadeia da polimerase (PCR). Sua presença indica replicação viral e infecção ativa. A persistência do RNA viral positivo, 2 a 3 meses após o início do quadro, indica maior chance de evolução para uma hepatite crônica C. Diagnóstico Etiológico da Hepatite D Os principais marcadores utilizados para diagnóstico da infecção Delta são o anti-HDV- IgG e o anti-HDV-IgM podem indicar infecção em andamento ou infecção passada (resolvida). Altos títulos desse anticorpo sugerem replicação viral. Diagnóstico Etiológico da Hepatite E Os testes sorológicos utilizados para o diagnóstico da hepatite E utilizam antígenos da ORF2 e ORF3. Para o diagnóstico sorológico da hepatite aguda E, é necessário detectar anti-VHE da classe IgM no soro – pode ser realizado por ensaio imunoenzimático (ELISA). O anticorpo IgM está presente na fase aguda e permanece por cerca de 3 a 4 meses. Tratamento O tratamento das hepatites agudas virais é baseado principalmente em medidas de suporte a nível domiciliar. Não é necessário, obrigatoriamente, que o paciente tenha suas atividades físicas restringidas. Não há uma droga específica que proporcione uma evolução mais curta e cura mais rápida da doença. Evitar analgésicos, sedativos, narcóticos e medicamentos em geral; bem como o álcool, que deve ser evitado mesmo em doses baixas. Se náuseas e vômitos estiverem muito intensos, antieméticos podem ser usados. No acompanhamento desses pacientes, deverá haver consulta de reavaliação, sendo as duas primeiras a cada 2 semanas. As consultas seguintes devem ter intervalo de 4 semanas entre si, com seguimento laboratorial de: aminotransferases, tempo de protrombina, bilirrubinas e albuminas,até que haja duas dosagens normais com intervalos de 4 semanas. 10 Khilver Doanne Sousa Soares Inicialmente, convém dosar também gama- GT, fosfatase alcalina e proteínas totais e frações, com repetições a cada 4 semanas, no máximo. Os critérios de alta são: remissão dos sintomas, com no máximo adinamia discreta e sintomas digestivos vagos; normalização das bilirrubinas; normalização do tempo de protrombina e normalização das aminotransferases (estas com intervalo mínimo de 4 semanas). Só devem ser hospitalizados os pacientes com vômitos muito intensos e queda significativa do estado geral; tempo de protrombina muito prolongado; bilirrubinas persistentemente muito elevadas (>15mg/dL a 20mg/ dL) ou se evoluir com encefalopatia hepática. O tratamento da hepatite B crônica inclui o uso de inibidores de transcriptase reversa, imunomoduladores e antivirais: entecavir, tenofovir e alfapeguinterferona são as primeiras escolhas, sendo este último um regime alternativo reservado para os HbeAg reagente. No caso da hepatite C aguda, aguardamos 12 semanas após o início dos sintomas e, se a viremia persistir, iniciamos tratamento antiviral – interferon convencional por 24 semanas. Nos casos em que houve diagnóstico e o indivíduo está assintomático, não se tendo ideia de quando ocorreu a infecção, inicia-se a terapia logo após o diagnóstico. Fármacos: Alfapeginterferona, ribavirina, daclatasvir, sofosbuvir, ledipasvir/sofosbuvir, elbasvir/grazoprevir, glecaprevir/ pibrentasvir, velpatasvir/sofosbuvir, alfaepoetina, filgrastim Não há vacina contra hepatite C, tampouco imunoglobulina ou profilaxias pré e pós-exposição. Todos os pacientes portadores de hepatite delta são candidatos ao tratamento, que é composto por alfapegintereferona 2ª e/ou um análogo de nucleotídeo (tenofovir ou entecavir) durante 48 semanas, podendo ser renovadas por mais 48 semanas. O objetivo do tratamento é o controle do dano hepático. ------------------------------------------------------------ Bate e volta das hepatites: Possui transmissão fecal-oral? A e E! Possui vacina? A e B! Precisa infectar primeiro pra poder ocorrer a hepatite D? B! A que mais cronifica? C! Quais podem evoluir para carcinoma hepatocelular? B e C! Quais podem evoluir para cirrose hepática? B e C! Pode evoluir para hepatite fulminante? A e B! Significado Sorologias *HBsAg indica atividade da doença (agudo ou crônico) HBsAg NUNCA está jundo com: Anti-Hbs Assim como Anti-Hbe NUNCA está jundo com: HbeAg Anti-Hbs significa: cura ou vacina +IgM? Quadro agudo! IgG + ou é crônica ou é situação passada 11 Khilver Doanne Sousa Soares 12 Khilver Doanne Sousa Soares _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ REFERÊNCIAS GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro Ceratti; DIAS, Lêda Chaves. Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. MARTINS, Mílton de Arruda. et. al. Clínica Médica, 1. ed. São Paulo: Manole, 2009. Super Material Sanar Flix – Hepatites Virais.
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