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Seção 1 ESPELHO DE CORREÇÃO DIREITO PENAL Seção 1 DIREITO PENAL A análise do caso perpassa pela escolha da peça a ser manejada no início do Processo Penal. Em toda audiência de custódia deverá o magistrado posicionar-se quanto à necessidade ou não de conversão da prisão em flagrante em prisão provisória (prisão preventiva ou prisão temporária). Houve uma prisão ilegal, tendo em vista que não fora realizada a audiência de custódia no prazo legal de 24 horas, a peça a ser realizada pelo aluno é o relaxamento de prisão em flagrante. Nesse diapasão é a visão jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça quanto à inexistência de audiência de custódia no prazo legal, determinando-se a sua ilegalidade por atraso injustificado de sua realização. Cita-se o pensamento daquele Sodalício: Em liminar, o ministro Rogerio Schietti determinou o relaxamento da prisão em flagrante. Segundo ele, a ilegalidade presente no caso justifica a não aplicação da Súmula 691 do Supremo Tribunal Federal, a qual, em princípio, impediria o exame do pedido da defesa antes da conclusão do julgamento do HC anterior no tribunal estadual. Segundo o relator, o artigo 1º da Resolução 213 do CNJ — em conformidade com decisão do STF na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 347 — determina que toda pessoa presa em flagrante seja obrigatoriamente apresentada, em até 24 horas, à autoridade judicial competente. Considerando que a prisão em flagrante se caracteriza pela precariedade, de modo a não se permitir a sua subsistência por tantos dias sem a homologação judicial e a convolação em prisão preventiva, identifico manifesta ilegalidade na omissão apontada, afirmou o ministro. Schietti frisou que, apesar de relaxar o flagrante, essa ordem não prejudica a possibilidade de decretação da prisão preventiva, se for concretamente demonstrada sua necessidade, ou de imposição de alguma medida alternativa prevista no artigo 319 do Código de Processo Penal. Ele lembrou a importância de o juiz avaliar a necessidade de manutenção da prisão Na prática! preventiva, pois a medida atinge um dos bens jurídicos mais expressivos do cidadão: a liberdade. (HC 485.355) O fundamento dessa peça processual está na Constituição Federal, em seu artigo 5º, conforme transcrito: LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; Além disso, o Código de Processo Penal também prevê dispositivo agasalhando a sua fundamentação, in verbis: Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) I - relaxar a prisão ilegal A referida peça não possui um prazo legal, uma vez que, quando se trata de liberdade, inexiste prazo para pedir que ela seja prontamente restabelecida. Quanto à competência, tendo em vista que o fato ocorreu na comarca de São Paulo/SP, será endereçada a peça ao juiz dessa jurisdição. Após demonstrar a fundamentação constitucional e legal da peça consubstanciada no relaxamento da prisão em flagrante, o aluno deverá atentar-se para excluir a hipótese de cabimento da conversão em prisão preventiva. Assim, deverá citar o art. 312, CPP, de forma a excluir os seus pressupostos e requisitos de aplicação, a fim de deixar claro que não deve ser a referida prisão em flagrante convertida em prisão preventiva. Cita-se o art. 312, CPP, nesses termos: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art20 Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. In casu, não caberá tal prisão preventiva pelo fato de não ser passível de enquadramento na garantia da ordem pública a simples existência de tratar-se de acusado com posses financeiras, além de inexistir qualquer outro requisito autorizador da referida reprimenda processual. Quanto ao apontamento feito pelo membro do Ministério Público de que o acusado estava dirigindo o seu veículo automotor em alta velocidade e embriagado, o que por si só já o enquadraria na figura do dolo eventual, devendo ser submetido a um julgamento mais severo dentro dos crimes dolosos contra a vida no Tribunal do Júri, tal hipótese não subsiste, pois o aluno deverá demonstrar que a mera soma de velocidade excessiva e embriaguez no volante não pode ser suficiente para consubstanciar-se num crime doloso contra a vida. De forma a espancar qualquer dúvida, essa é a visão do Supremo Tribunal Federal, nesses termos: A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu, na tarde do dia 06.09, Habeas Corpus (HC 107801) a L.M.A., motorista que, ao dirigir em estado de embriaguez, teria causado a morte de vítima em acidente de trânsito. A decisão da Turma desclassificou a conduta imputada ao acusado de homicídio doloso (com intenção de matar) para homicídio culposo (sem intenção de matar) na direção de veículo, por entender que a responsabilização a título “doloso” pressupõe que a pessoa tenha se embriagado com o intuito de praticar o crime. O julgamento do HC, de relatoria da ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, foi retomado hoje com o voto-vista do ministro Luiz Fux, que, divergindo da relatora, foi acompanhado pelos demais ministros, no sentido de conceder a ordem. A Turma determinou a remessa dos autos à Vara Criminal da Comarca de Guariba (SP), uma vez que, devido à classificação original do crime [homicídio doloso], L.M.A havia sido pronunciado para julgamento pelo Tribunal do Júri daquela localidade. A defesa alegava ser inequívoco que o homicídio perpetrado na direção de veículo automotor, em decorrência unicamente da embriaguez, configura crime culposo. Para os advogados, “o fato de o condutor estar sob o efeito de álcool ou de substância análoga não autoriza o reconhecimento do dolo, nem mesmo o eventual, mas, na verdade, a responsabilização deste se dará a título de culpa”. Sustentava ainda a defesa que o acusado “não anuiu com o risco de ocorrência do resultado morte e nem o aceitou, não havendo que se falar em dolo eventual, mas, em última análise, imprudência ao conduzir seu veículo em suposto estado de embriaguez, agindo, assim, com culpa consciente”. Ao expor seu voto-vista, o ministro Fux afirmou que “o homicídio na forma culposa na direção de veículo automotor prevalece se a capitulação atribuída ao fato como homicídio doloso decorre de mera presunção perante a embriaguez alcoólica eventual”. Conforme o entendimento do ministro, a embriaguez que conduz à responsabilização a título doloso refere-se àquela em que a pessoa tem como objetivo se encorajar e praticar o ilícito ou assumir o risco de produzi-lo. O ministro Luiz Fux afirmou que, tanto na decisão de primeiro grau quanto no acórdão da Corte paulista, não ficou demonstrado que o acusado teria ingerido bebidas alcoólicas com o objetivo de produzir o resultado morte. O ministro frisou, ainda, que a análise do caso não se confunde com o revolvimento de conjunto fático-probatório, mas sim de dar aos fatos apresentados uma qualificação jurídica diferente. Desse modo, ele votou pela concessão da ordem para desclassificar a conduta imputada ao acusado para homicídio culposo na direçãode veículo automotor, previsto no artigo 302 da Lei 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro). (HC 107.801/SP, STF) Ao final, o aluno deverá pedir a liberdade do acusado com expedição de alvará de soltura, apontando o flagrante descumprimento ao artigo 310, caput, CPP, cujo prazo de 24 horas não fora atendido. Colocar local, data, assinatura e OAB na peça, mas tomando muito cuidado para não inventar dados, já que isso identificaria a questão e desclassificaria o candidato do certame. EXMO SR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SÃO PAULO – SP Fulano de tal, solteiro, brasileiro, portador da carteira de identidade XXX, residente e domiciliado na rua xxx, nesta capital, vem por meio de seu Advogado (a) (procuração anexa), apresentar RELAXAMENTO DA PRISAO EM FLAGRANTE, com fundamento no art. 5o, LXV, da Constituição Federal e art. 310, I, do Código de Processo Penal, pelos seguintes fatos e fundamentos: DOS FATOS Fulano de tal, brasileiro, solteiro, carteira de identidade número xxx, residente e domiciliado na rua xxx, nesta capital, estava numa boate com seus amigos comemorando seu aniversário de 18 anos. Durante toda a noite, ele bebeu várias taças de vinho, champanhe e cerveja, estando em estado avançado de embriaguez. Não obstante, pegou o seu veículo automotor de marca Porsche e foi embora para casa. Todavia, no meio do caminho, estando em velocidade dentro do permitido, dormiu no volante e subiu na calçada, atropelando duas pessoas que estavam no ponto de ônibus esperando para irem trabalhar, que morreram naquele exato momento. Na sequência, a Polícia Militar chegou até o local e constatou que Fulano de tal estava dormindo no volante, tendo algumas testemunhas no local que presenciaram o atropelamento conversado com os policiais militares. Após Fulano de tal ter recuperado os sentidos, foi sugerido que ele fizesse o teste do bafômetro, sendo que ele se recusou, mas ainda assim os policiais prenderam-no com base nos depoimentos de testemunhas, bem como pelo forte odor etílico que estava saindo de sua boca. Com sua prisão em flagrante, Fulano de tal fora encaminhado para a audiência de custódia que fora realizada duas semanas depois do fato. Questão de ordem! Na audiência de custódia, o membro do Ministério Público requereu seja a prisão em flagrante convertida em prisão preventiva, pois uma pessoa rica, que estava bebendo sem limites e que pega o carro em alta velocidade e atropela duas pessoas que estavam indo trabalhar deve ser mantida presa em razão da ordem pública. Além disso, o membro do Ministério Público entendeu que o crime era doloso contra a vida, uma vez que o agente atuou com dolo eventual por causa da embriaguez somada com a velocidade excessiva. Contudo, o pedido ministerial não deve prosperar, de acordo com os fundamentos a seguir expostos. DOS FUNDAMENTOS DA ILEGALIDADE DA PRISAO EM FLAGRANTE Primeiramente, deve ser destacado que todo acusado preso em flagrante deve ser submetido à audiência de custódia, conforme mandamento processual penal inserto no art. 310, caput, CPP, nesses termos: Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente (omissis) A letra da lei é clara no sentido de que a realização da audiência de custódia deve ser feita no prazo máximo de 24 horas, sendo essa uma imposição legal que fora acrescida pelo Pacote Anticrime, de forma a impedir que as prisões em flagrante fossem eternizadas até a sentença condenatória. Ora, conforme se vê da questão em tela, o acusado foi ouvido pelo juiz apenas duas semanas depois de sua prisão em flagrante, descumprindo-se frontalmente a regra prevista no novo artigo processual penal, o que enseja a pecha de ilegalidade da prisão em flagrante. A citada audiência de custódia serve para garantir ao preso todos os seus direitos constitucionais, notadamente o de ser ouvido por um juiz de direito imediatamente após ter a sua liberdade cerceada. Para o Professor Renato Brasileiro, conceitua-se a audiência de custódia da seguinte forma: Na sistemática adotada pelo Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/19), a audiência de custódia pode ser conceituada como a realização de uma audiência sem demora após a prisão em flagrante (preventiva ou temporária) de alguém, permitindo o contato imediato do custodiado com o juiz das garantias, com um defensor (público, dativo ou constituído) e com o Ministério Público. (LIMA, 2020, p. 1017) Assim, imprescindível que a audiência de custódia seja feita para garantir toda a lisura do auto de prisão em flagrante. DA INEXISTENCIA DOS PRESSUPOSTOS E REQUISITOS DA PRISAO PREVENTIVA De acordo com o artigo 312, CPP, assim transcrito: Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. No caso em tela, inexiste qualquer necessidade de acautelar-se o acusado por garantia da ordem pública, pois seria uma discriminação sem precedentes fazer valer a tese de que pessoa rica, por esse simples fato, deve ficar presa sob pena de poder gerar uma comoção social. Ademais, o membro do Ministério Público não demonstrou que o acusado teria feito qualquer ato atentatório à instrução criminal, como fuga ou ameaça à testemunha. Outra alegação estapafúrdia do membro do Ministério Público e que não merece acolhida por parte desse juízo é de que o simples fato de o agente estar dirigindo o seu veículo automotor embriagado e em velocidade um pouco acima do permitido já ensejaria, por si só, a presença do dolo eventual, atraindo-se a ideia de um crime doloso contra a vida de competência do Tribunal do Júri, ensejando a necessidade de decretação da prisão preventiva em razão da gravidade do delito. Não foi com outra intenção de afastar o crime doloso contra a vida que o Supremo Tribunal Federal entendeu que a regra nos crimes de embriaguez no volante é a presença do crime culposo, devendo o tipo penal doloso ser claramente demonstrado pelo órgão acusador, o que não ocorrera no presente caso. Segue o pensamento pretoriano: A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu, na tarde do dia 06.09, Habeas Corpus (HC 107801) a L.M.A., motorista que, ao dirigir em estado de embriaguez, teria causado a morte de vítima em acidente de trânsito. A decisão da Turma desclassificou a conduta imputada ao acusado de homicídio doloso (com intenção de matar) para homicídio culposo (sem intenção de matar) na direção de veículo, por entender que a responsabilização a título “doloso” pressupõe que a pessoa tenha se embriagado com o intuito de praticar o crime. O julgamento do HC, de relatoria da ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, foi retomado hoje com o voto-vista do ministro Luiz Fux, que, divergindo da relatora, foi acompanhado pelos demais ministros, no sentido de conceder a ordem. A Turma determinou a remessa dos autos à Vara Criminal da Comarca de Guariba (SP), uma vez que, devido à classificação original do crime [homicídio doloso], L.M.A havia sido pronunciado para julgamento pelo Tribunal do Júri daquela localidade. A defesa alegava ser inequívoco que o homicídio perpetrado na direção de veículo automotor, em decorrência unicamente da embriaguez, configura crime culposo. Para os advogados, “o fato de o condutor estar sob o efeito de álcool ou de substância análoga não autoriza o reconhecimento do dolo,nem mesmo o eventual, mas, na verdade, a responsabilização deste se dará a título de culpa”. Sustentava ainda a defesa que o acusado “não anuiu com o risco de ocorrência do resultado morte e nem o aceitou, não havendo que se falar em dolo eventual, mas, em última análise, imprudência ao conduzir seu veículo em suposto estado de embriaguez, agindo, assim, com culpa consciente”. Ao expor seu voto-vista, o ministro Fux afirmou que “o homicídio na forma culposa na direção de veículo automotor prevalece se a capitulação atribuída ao fato como homicídio doloso decorre de mera presunção perante a embriaguez alcoólica eventual”. Conforme o entendimento do ministro, a embriaguez que conduz à responsabilização a título doloso refere-se àquela em que a pessoa tem como objetivo se encorajar e praticar o ilícito ou assumir o risco de produzi-lo. O ministro Luiz Fux afirmou que, tanto na decisão de primeiro grau quanto no acórdão da Corte paulista, não ficou demonstrado que o acusado teria ingerido bebidas alcoólicas com o objetivo de produzir o resultado morte. O ministro frisou, ainda, que a análise do caso não se confunde com o revolvimento de conjunto fático-probatório, mas sim de dar aos fatos apresentados uma qualificação jurídica diferente. Desse modo, ele votou pela concessão da ordem para desclassificar a conduta imputada ao acusado para homicídio culposo na direção de veículo automotor, previsto no artigo 302 da Lei 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro). (HC 107.801/SP, STF) Dessa forma, não há que se falar em aplicação do artigo 312, CPP, de forma a convolar-se a prisão em flagrante em prisão preventiva. DOS PEDIDOS Diante do exposto, respeitosamente, requer o relaxamento da prisão, haja vista que: a) A audiência de custódia não fora realizada dentro do prazo máximo de 24 horas, na forma do art. 310, caput, CPP; b) Não se enquadra a situação fática em nenhuma hipótese autorizadora da prisão preventiva prevista no art. 312 do CPP; c) Requer, ainda, a imediata expedição de alvará́ de soltura em nome do acusado, para que ele possa, em liberdade, defender-se no curso da ação penal, comprometendo-se a comparecer a todos os atos processuais, d) Por fim, seja ouvido o ilustre representante do Ministério Público, Nestes termos, pede-se deferimento São Paulo, Assinatura OAB