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TRABALHO DE ANTROPOLOGIA

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Universidade Católica de Moçambique 
Instituição de Ensino a Distancia 
 
 
Tema: 
Reflexões antropológicas sobre o desrespeito das religiões protestantes no âmbito 
educacional em Moçambique 
 
 
 
Lucinda Alberto Mário José, Cod: 708216505 
 
 
Curso: Administração Publica 
Disciplina: Antropologia Cultural 
Ano de Frequência: 2º ano 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quelimane, Setembro 2022 
 
 
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Estrutura 
 
 
 
Aspectos 
organizacionais 
 Capa 0.5 
 Índice 0.5 
 Introdução 0.5 
 Discussão 0.5 
 Conclusão 0.5 
 Bibliografia 0.5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conteúdo 
 
 
 
 
 
Introdução 
 Contextualização 
(Indicação clara do 
problema) 
 
1.0 
 
 Descrição dos 
objectivos 
 
1.0 
 
 Metodologia 
adequada ao objecto 
do trabalho 
 
2.0 
 
 
 
 
 
 
 
 
Análise e 
discussão 
 Articulação e 
domínio do discurso 
académico 
(expressão escrita 
cuidada, coerência / 
coesão textual) 
 
 
 
2.0 
 
 Revisão bibliográfica 
nacional e 
internacionais 
relevantes na área de 
estudo 
 
 
 
2. 
 
 Exploração dos 
dados 
 
2.0 
 
 
Conclusão 
 Contributos teóricos 
práticos 
 
2.0 
 
 
 
Aspectos 
gerais 
 
 
 
Formatação 
 Paginação, tipo e 
tamanho de letra, 
paragrafo, 
espaçamento entre 
linhas 
 
 
 
1.0 
 
 
Referências 
Bibliográficas 
Normas APA 6ª 
edição em 
citações e 
bibliografia 
 
 Rigor e coerência das 
citações/referências 
bibliográficas 
 
 
4.0 
 
Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor 
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Índice 
Capitulo I ......................................................................................................................... 5 
1. Introdução ............................................................................................................... 5 
1.1.0. Objectivos ...................................................................................................... 5 
1.1.1. Objectivo geral.............................................................................................. 5 
1.1.2. Objectivos específicos ....................................................................................... 5 
1.2. Metodologia .......................................................................................................... 5 
Cap. II – Fundamentação teórica .............................................................................. 6 
2.1. Religião ................................................................................................................. 6 
2.2. O Estado colonial, as igrejas missionárias ......................................................... 7 
2.3. Educação religiosa e escolar ................................................................................ 8 
2.4. Perspectivas educacionais em Moçambique após independência ................. 12 
2.5. O desrespeito das religiões protestantes no âmbito educacional em 
Moçambique .............................................................................................................. 16 
2.5.1. Efeitos sobre a aprendizagem ........................................................................ 17 
CAPITULO III ............................................................................................................. 18 
3.1. Conclusão ............................................................................................................... 18 
4.1 Referências bibliográficas ...................................................................................... 19 
 
 
5 
 
Capitulo I 
1. Introdução 
A religião é igualmente uma das questões que para além de fazer parte de todas 
sociedades, integra o leque de debate teórico da Antropologia e outras disciplinas. Ela 
pode representar em algumas sociedades o ponto de partida da vida sócio cultural e da 
vida em geral. Remontado a própria história do surgimento do mundo e da humanidade, 
encontramos uma abordagem religiosa que atribui a Deus a criação do mundo e todo 
universo. 
1.1.0. Objectivos 
1.1.1. Objectivo geral 
 Refletir sobre o desrespeito das religiões protestantes no âmbito educacional em 
Moçambique 
1.1.2. Objectivos específicos 
 Explicar o conceito de religião. 
 Perceber a importância da religião no dia á dia de qualquer sociedade 
 Descrever os meios de intervenção da educação face ao desrespeito das religiões 
protestantes. 
1.2. Metodologia 
A metodologia usada durante a pesquisa para a elaboração deste trabalho foi 
fundamentada, basicamente,na pesquisa bibliográfica. Segundo Gil, a pesquisa 
bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas e 
publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos e páginas de 
web sites. (GIL, 2008). 
6 
 
 Cap. II – Fundamentação teórica 
2.1. Religião 
A importância da religião em toda e qualquer sociedade, pode ser percebida a partir de 
uma análise simples ao debate entre religião e a ciência durante o século XIX, visto que 
era normal contrapor a razão (ciência) e a fé (religião). 
Embora seja algo existente em todas as sociedades, existe uma grande variedade de 
religiões no mundo a fora, havendo casos em que dentro de uma sociedade existe apenas 
uma única religião e bem como o contrário, ou seja, sociedades em que coabitam várias 
religiões. 
Dentre as várias definições sobre a religião a mais simples e interessante é de Edward 
Tylor que vê como “uma crença no sobrenatural”. Isto quer dizer que as pessoas têm 
fé/crença em algo sobrenatural (tudo que está acima das leis físicas e naturais), ou seja, 
na religião prevalece a fé e não a razão/conhecimento científico, visto que os princípios 
religiosos são dogmas (verdades que não se questionam). 
Podemos definir a religião como sendo a crença baseada num poder sobrenatural, aliada 
a noções de sagrado, profano e crenças determinadas. 
A religião é importante como um meio de organização da vida social e atribuição de 
sentido a nossa existência como humanos. De igual modo que é religião serve para regrar 
e organizar a sociedade através das suas doutrinas que advoga, ou seja, ela é responsável 
em parte pelo comportamento humano, dando práticas aceites ou não, rituais que devem 
ser seguidos em determinadas cerimónias, etc. 
Garantem a explicação de eventos considerados anormais ou sem explicação lógica, 
fazem com que as pessoas vivam de acordo com os modelos definidos pelos próprios 
rituais e alterando deste modo seus comportamentos, ajudam a honrar e satisfazer os 
antepassados, ajudam a lidar com eventos extremos tais como a morte, nascimento, e bem 
como situações de insegurança resultante de várias situações. 
Colonialismo, cobiça e missões cristãs católicas A empresa misericordiosa de salvar as 
almas para Deus tem de se conciliar com a de educar corpos para o trabalho; o ensino 
religioso precisa abster-se de semear doutrinas, embora verdadeiras, que em espíritos 
rudes e maus possam produzir revoltas contra as leis sociais; a propaganda cristã, em 
suma, deve restringir-se ao possível em relação às capacidades e faculdades dos 
7 
 
catequisandos, e não perder de vista o útil, como entendem os legítimos interesses 
humanos. (ENNES, 1946: 217) 
Em seu relatório de 1893, oferecido ao reino português, na condição de Governador da 
Província de Moçambique, Antônio Ennes, em uma das páginas do referido documento 
informava que só haveria sentido em salvar as almas e conquistar os corpos dos africanos 
se os mesmos fossem educados para o trabalho. Esse Governador da Província ficou 
conhecido por ter empreendido uma nova filosofia no trato da administração colonial. 
Além disso, notabilizouse por ter iniciado uma dura e violenta política indígena, 
principalmente para pacificar os povos que ainda não tinham aceitado o domínio 
português. Ele, com o auxílio de Mouzinho de Albuquerque, foi o principal responsável 
pela pacificação dos Vátuas, consequentemente dominando o império de Gaza e 
destronando de seu posto o imperador Gungunhana.3 No longo relatório de 1893, nota-
se que há pontos de discórdias entre Antônio Ennes e a Prelazia.4 Na verdade, reclamava 
o administrador que só haveria razão para a atuação dos párocos e missionários se 
preparassem os corpos dos africanos para o trabalho. Era necessário arar a terra e plantar; 
abrir estradas; cavar grandes vales; carregar pesos e mercadorias e, além disso, era preciso 
preparar um grande contingente de pessoal subalterno para servir no auxílio da 
administração ou servir aos colonos brancos da província. Nesse sentido, era preciso 
formar engraxates, sapateiros, carpinteiros, pedreiros, carregadores, entre outras funções 
para atender à máquina colonial. Embora divergisse da maneira como as missões vinham 
sendo administradas, Antônio Ennes defendia que elas eram imprescindíveis para a 
manutenção da ordem colonial. Esse administrador direcionava suas críticas às missões 
porque elas eram acusadas de apenas se dedicarem a ensinar aos africanos o catecismo e 
com isso poderia despertar nas almas, segundo ele, dos ditos pretos o gosto pela literatura. 
Para ele, esse método, e da forma como estava sendo conduzido, apenas poderia despertar 
num futuro breve a consciência dos indígenas frente a sua situação de colonizados e 
explorados. (ENNES, 1946: 217) Antônio Ennes, também, defendia que a missão católica 
na África cumpriria o papel de rebater o proselitismo do “maometanismo e debelar as 
superstições gentílicas dos bárbaros e selvagens.” As missões. 
2.2. O Estado colonial, as igrejas missionárias 
Desde tempos remotos até à atualidade, a dimensão religiosa e espiritual das populações 
africanas esteve associada ao seu bem-estar e saúde. A medicina e a religião 
sobrepunham-se, e as sociedades procuravam garantir a manutenção da harmonia, ordem 
https://books.openedition.org/cei/496#tocfrom1n1
8 
 
e prosperidade da sua linhagem, através da realização de rituais e cerimónias de 
homenagem e agradecimento aos seus antepassados, assim como o cumprimento das 
regras sociais do seu grupo. A cosmovisão assentava, e de modo reconfigurado assenta 
nos dias de hoje, nas relações com a natureza, com os seus pares e com os antepassados, 
em que o equilíbrio de forças e o cumprimento de regras sociais originam a harmonia, 
prosperidade e bem-estar dos elementos da linhagem. 
Desde a fundação do cristianismo que as trocas e contactos com os povos africanos – 
principalmente no norte de África (Sundlker, 2000: 10-20) e nas zonas costeiras – foram 
inúmeros, como resultado dos movimentos expansionistas, civilizadores e conversão dos 
infiéis. Os missionários e administrações coloniais, com uma “missão civilizadora” 
assente na distinção entre a medicina e a religião e entre o corpo e a alma, reprovaram as 
populações africanas e as suas expressões religiosas ancestrais (Honwana, 2002: 121). 
Nessa linha de atuação, a administração colonial portuguesa também as reprimiu 
(Honwana, 2002: 122-123). A expansão do cristianismo surge como estratégia para 
“eliminar” as práticas obscurantistas e supersticiosas da população africana quer através 
das estruturas da igreja colonial católica quer através das igrejas protestantes (Farré, 
2010:3). A descoberta de novos mundos envolvia a expansão da fé cristã, a conversão dos 
infiéis e a consequente civilização dos povos. O acordo entre Portugal e a Santa Sé, 
denominado “Padroado Português”, em 1455, confirmado pela bula Romanus Pontifex do 
Papa Nicolau V, anuncia que a “(…) evangelização tanto dos crentes como dos pagãos 
ao cristianismo devia ocorrer simultaneamente com a invasão, submissão e conquista dos 
povos (…)” (Chidassicua, 2005: 3). A presença missionária portuguesa além-mar esteve 
sujeita às alterações e reformas operadas na corte nacional, entre as quais se destacam o 
papel do marquês de Pombal, a consolidação do liberalismo e a implantação da república. 
A expulsão dos jesuítas, as medidas anticlericais e a lei de separação do Estado da Igreja 
viriam a enfraquecer a “missão civilizadora” de Portugal. Com a Conferência de Berlim 
(1884/1885) e a ditadura militar que deu origem ao Estado Novo, foi reforçada a “missão 
civilizadora” e a conversão à fé cristã, nas províncias coloniais. 
2.3. Educação religiosa e escolar 
componente de educação (religiosa e escolar) assumia uma importância ímpar (ver 
quadro 8.1) na atividade evangelizadora, reforçada pelo Estatuto Missionário(1941) que 
atribuía total responsabilidade à igreja católica e a certificava como a instituição com 
capacidade para civilizar as populações locais (Chidassicua, 2005: 24), cuja educação era, 
9 
 
principalmente, efetuada por moçambicanos batizados e com reduzidas habilitações para 
essas funções. Nos anos 40, o grau de aproveitamento destes alunos nunca ia além do 1% 
do total dos matriculados no ensino rudimentar (Hedges e Rocha, 1999: 121). 
Em 1958, a limitada dispersão geográfica das igrejas missionárias e a adesão ao 
cristianismo pela população local eram expressas pelos seguintes números: católicos (354 
421), outras religiões cristãs (protestantes) (99 271), outras religiões (616 995) e, por 
último, sem religião ou com religião ignorada (4 668 224) (Gonçalves, 1961: 57). 
Os missionários, também, desempenharam um importante papel na esfera sanitária com 
a abertura de centros de saúde e hospitais que permitiram, em primeiro lugar, o acesso a 
assistência médica aos colonos e assimilados e, em segundo plano, à população local. 
Como refere Lock e Nguyen, o serviço missionário de salvar almas e curar corpos estava, 
intrinsecamente, ligado (2010: 162). Esta “missão civilizadora” no campo da saúde 
rejeitava e opunha-se ao uso da medicina tradicional, à consulta de curandeiros e à 
realização de cerimónias − aspetos centrais da cosmologia e filosofia da vida das 
populações locais. Desta forma, a igreja católica torna-se parte integrante e executora do 
projeto colonial. 
Constatam-se relatos (Cruz e Silva, 1996: 264; Almeida, 1997: 24-25; Chidassicua, 2005: 
28-31) de missionários portugueses que se manifestaram contra a política colonial e 
contra o modo diferenciador e explorador da população indígena, nos anos 40. Com a 
escassez de missionários portugueses e a entrada de missionários estrangeiros católicos, 
em Moçambique, o regime colonial português enfrentará a oposição, denúncia e um outro 
modo de cumprir a “missão civilizadora”, assente, agora, na defesa do uso da língua local, 
no acesso universal ao ensino e na formação do clero africano (Chidassicua, 2005: 24). 
Destacam-se as seguintes congregações missionárias: Sociedade dos Missionários de 
África (Padres Brancos) – que abandonaram Moçambique por discordarem da política 
colonial (Helgesson, 1994: 376-377), Padres de Verona (Missionários Combonianos) 
(Sundkler e Steed, 2000: 818), Missionários da Consolata e os Padres Burgos 
(Congregação S. Francisco Xavier de Burgos). 
O incremento das igrejas protestantes, em Moçambique, deveu-se à ação dos missionários 
protestantes junto dos trabalhadores assalariados nas minas da África do Sul e às suas 
vivências em meio urbano (Feliciano, 1998: 113; Agadjanian, 1999: 416). 
10 
 
A frequência de determinada associação religiosa, em solo sul-africano, levou a que 
muitos moçambicanos, no regresso às suas terras de origem, procurassem fundar uma 
nova igreja, inspirados por essa vivência. 
A igreja católica e as igrejas protestantes missionárias opunham-se às práticas 
terapêuticas, cerimoniais e preventivas realizadas pelos curandeiros, consideradas como 
obscurantistas e “primitivas”. A adesão às igrejas missionárias pressupunha um corte com 
o passado e com uma vivência social quer com os antepassadosquer com atores sociais 
como os curandeiros. 
A compartimentação da cosmovisão por parte das igrejas missionárias contribuíram, 
segundo Mazibuko, para a aculturação, a perda de espiritualidade e a desumanização da 
personalidade africana (Mazibuko, 1996: 252). Mas foi, também, com a adesão a estas 
igrejas que a população moçambicana teve o primeiro contacto com a biomedicina, suas 
terminologias, objetos, etiologias e rituais curativos. Aderir a estas igrejas implicava um 
corte com o passado e com a tradição e o assumir de uma nova identidade, pelo menos na 
esfera pública. 
Para as autoridades coloniais portuguesas, a valorização do africano e da sua cultura 
constituíam-se como entraves à “missão civilizadora” e à ordem4 (Seibert, 2001: 234). O 
carácter emancipatório e político das igrejas africanas independentes (incluindo as igrejas 
ziones) durante as lutas anticoloniais é amplamente destacado (Bompani, 2008: 667; 
Kealotswe, 2004: 214; Feliciano, 1998: 115; Cavallo, 2013: 18-19) na prossecução de um 
objetivo único: África para os africanos. 
A educação é problematizada por vários autores, mas, Machava(2015) serviu do 
nossosuporte teórico para melhor abordarmos o assunto. Segundo Machava (2015), a 
educaçãoé um fenômeno muito antigo, assim como a própria aventura da 
humanidade, daí quesempre que se fala do ser humano está subjacente uma forma 
de ver, de interpretar arealidade e de projetar o futuro. Grandes civilizações que 
marcaram a história do passado -a chinesa, grega,latina, egípcia, só para ilustrar, não 
tiveram escolas, pois, apesar de jápossuírem a escrita, a divisão social do trabalho 
não havia ainda atingido um nível decomplexidade que demandasse maior 
racionalidade na transmissão de conhecimentos,aptidões, atitudes e valores específicos 
para o exercício profissional. 
https://books.openedition.org/cei/496#ftn4
11 
 
Bolacha (2013), por sua vez, diz que a educação é um processo que vai influenciar o 
modode ser, de pensar, de sentir e agir. Ela não é repetição de algumas informações 
estruturadas num manual. A educação fundamenta-se na aquisição de estratégias, 
conhecimentos, valores, habilidades que nos tornam mais humanos, cidadãos ativos 
de uma sociedade complexa. A educação é problematizada por vários autores, mas, 
Machava(2015) serviu do nossosuporte teórico para melhor abordarmos o assunto. 
Segundo Machava (2015), a educação é um fenômeno muito antigo, assim como a 
própria aventura da humanidade, daí que sempre que se fala do ser humano está 
subjacente uma forma de ver, de interpretar a realidade e de projetar o futuro. Grandes 
civilizações que marcaram a história do passado -a chinesa, grega,latina, egípcia, só 
para ilustrar, não tiveram escolas, pois, apesar de já possuírem a escrita, a divisão 
social do trabalho não havia ainda atingido um nível de complexidade que 
demandasse maior racionalidade na transmissão de conhecimentos, aptidões, atitudes 
e valores específicos para o exercício profissional. 
Bolacha (2013), por sua vez, diz que a educação é um processo que vai influenciar o 
modo de ser, de pensar, de sentir e agir. Ela não é repetição de algumas informações 
estruturadas num manual. A educação fundamenta-se na aquisição de estratégias, 
conhecimentos, valores, habilidades que nos tornam mais humanos, cidadãos ativos 
de uma sociedade complexa. 
 
12 
 
2.4. Perspectivas educacionais em Moçambique após independência 
Segundo Uaciquete (2010), com a obtenção da independência do país em 1975, 
Moçambique se deparou com uma estrutura patrimonial do sistema colonial, tanto 
material como humana, assim como, também, com uma educação que foi implementada 
nas zonas libertadas. 
Na área da educação, o país deparava com a insuficiência das instituições escolares 
e com a falta dos professores e técnicos para atuarem nesta referida área. O autor 
citado afirma que durante muitos anos, vários moçambicanos não frequentaram a 
escola por razões decorrentes do sistema colonial, baseado na descriminação, por 
este motivo, depois da independência, houve a expansão das escolas que se deu 
através das iniciativas das populações e através das campanhas de alfabetização feitas no 
país. 
Segundo Uaciquete (2010), nosetor educacional, por meio do Governo de transição, 
muitas ações foram levadas a cabo para discutir o sistema educacional, tais como: Seminário de Beira (dezembro de 1974 a 1975); 
 Reunião de Macuba (abril de 1975); 
 Seminário Nacional de Alfabetização (abril de 1975); 
 IIIª Reunião do MEC (julho de 1979); 
 Seminário Nacional da Língua Portuguesa (outubro de 1979); 
 Seminário Nacional de Ensino de Matemática (maio de 1980). 
Estes momentos foram considerados como momentos de esforço por parte da 
FRELIMO (Frentede Libertação de Moçambique), nos quais o povo foi mobilizado para 
a construção das escolas e onde a FRELIMO retirou todas as matérias de ensino 
que não estavam ligadas às ideologias da Frente e introduziu outras matérias de 
ensino, destacando-se a história e a geografia de Moçambique. 
Outras mudanças que foram vistas na área da educação foramàs mudanças dos 
mecanismos de gestão e administração de funcionamento das escolas, alterações 
dos currículos escolares e uma participação ativa da população na escola. Muito 
embora, apesar de todos os esforços feitos para garantir uma boa educação que o país 
necessitava tanto, o país se deparava com vários problemas no que refere à cobertura da 
13 
 
rede escolar, falta de materiais didáticos, péssima condição da educação e outros 
problemas que afetavam o setor. 
Neste contexto, algumas ideias foram consideradas como prioridades de um 
momento recente que necessita de uma árdua batalha para conquistá-las. Essas 
prioridades foram ilustradas da seguinte maneira: criar uma sociedade nova e um 
‘homem novo’ com a capacidade e mentalidade livre, capaz de ser independente da 
ajuda estrangeira, organizar uma nova nação com o sistema do Estado novo 
equiparada às nações modernas, desenvolver uma economia com a base na 
agricultura e indústria. Chegar a estas metas levaria Moçambique a se tornar um país 
moderno com uma sociedade moderna. 
De acordo com o Relatório publicado pela AfriMAP (2012), após a independência em 
junho de 1975, na área da educação, o padrão que a FRELIMO adotou se baseava 
no padrão utilizado nas zonas libertadas na época da guerra da libertação. O 
referido padrão de ensino se coloca nos seguintes parâmetros: 
1) o ensino tem que funcionar com os seus próprios recursos; 
2) todas as pessoas devem aprender e ensinar; 
3) fazer uma conexão entre a teoria e a prática; 
4) lutar contra o tribalismo, racismo e nepotismo; 
5) fazer uma ligação entre a educação, produção e a comunidade; 
6) tornar a escola um meio democrático. 
De fato, depois do país conquistar a sua independência, o governo de Moçambique 
escolheu a área da educação como um meio possível para o desenvolvimento do 
país, muito embora muitas políticas estabelecidas pelo governo da FRELIMO não 
tivessem êxito, porque se verificava a falta das infraestruturas, muitas reformas 
foramfeitas, mas nem assim o governo era centralizado e este momento foi marcado pelo 
conflito armado, na qual houve a destruição das infraestruturas escolares, o que originou 
o impedimento do desenvolvimento da qualidade educacional de Moçambique. 
14 
 
Num discurso proferido na 2ª Conferência do Departamento de Educação e Cultura 
(DEC), em 1973, Samora Machel afirma que a educação deveria preparar os 
moçambicanos para assumirem a nova sociedade e as suas exigências. 
“A educação deve dar-nos uma personalidade moçambicana, que sem subserviência 
alguma, assumindo a nossa realidade, saiba em contacto com o mundo exterior, 
assimilar criticamente as ideias e experiências de outros povos, transmitindo-lhes 
também o fruto da nossa reflexão e prática.” (MACHEL, 1973). 
Hoje em Moçambique, o sistema de ensino está estruturado da seguinteforma: a) escolas 
pré-primárias, que abarcam as crianças com menos ou igual a seis anos de idade. Essas 
escolas são jardins infantis e creches; b) a educação escolar, abrange o ensino 
geral, ensino técnico profissional e educação superior. A educação escolar inclui as 
formas especiais de ensino, que são: educação especial, educação vocacional, 
alfabetização e formação de professores. Os dois níveis da educação compõem o 
ensino geral, englobando o ensino geral e o ensino secundário. 
O ensino primário corresponde a sete anos de escolaridade com subdivisão em 
duas partes, EP1 (Primeiro nível de ensino primário) da 1ª a 5ª classe e EP2 (Segundo 
nível do ensino primário) da 6ª a 7ª classe. O ensino secundário corresponde a 
cinco anos de escolaridade com subdivisão em dois períodos, o primeiro período, 
ESG1, da 8ª a 10ª classe e o segundo, ESG2, que vai da 11ª a 12ª classe. Por outro lado, 
o ensino técnico profissional correspondente ao EP2, ESG1 e ESG2 do ensino geral, 
relacionado ao nível elementar básico e médio. 
No ano de 1990 com o fim da guerra civil, umanova constituição foi anunciada, 
a Constituição da República de Moçambique, onde o monopartidarismo deu o 
espaço ao multipartidarismo, no qual os valores do socialismo democrático foram 
trocados e o país adotou os valores da democracia liberal. 
Os acordosda paz foram assinados em Roma, capital da Itália em 1992 e em 1994 foram 
organizadas as primeiras eleições multipartidárias. A mudança do sistema foi seguida 
do processo de modernização e reforma das áreas públicas e subsequentemente de 
mudanças na áreada educação. O Ministério da Educação em diálogo com os seus 
parceiros internacionais, que estavam ajudando bastante o país, lançou um plano 
diretor para o ensino técnico e geral em 1994 e neste plano, alguns pontos foram 
estabelecidos como prioridades: 
15 
 
 Descentralizar as escolas e suas gestões, os governos das províncias devem 
passar a tomar decisões em gestão e controle das escolas; 
 Inserir as línguas locais ou línguas maternas nos materiais escolares; 
 Apropriar os métodos do ensino com a realidade dosprofessores; 
 Dar incentivo ao setor privado da área da educação. 
Foi publicada pelo governo a sua Política de Educação em 1995, que estabelecia 
os objetivos da área da educação, suas prioridades, a sua organização e seu modo 
de funcionar. Em seguida o governo estabeleceu um plano estratégico para a área 
da educação focado na prioridade, constituindo então a Política Nacional da Educação 
(PNE). 
Depois de novas discussões com os parceiros internacionais, em 1997, o governo 
apresentou o seu Plano Nacional parao Setor da Educação, este plano além de ajudar a 
coordenar e planejar a médio-prazo as atividades, ajudou também por ser um meio 
tão benéfico para o encaminhamento da ajuda externa, no sentido de apoiar a área 
de educação do país. Em 1997 foi apresentadoo Plano Estratégico para o Setor da 
Educação (PEE-I), que abarcou o período de 1999-2005, neste plano, o Ministério 
da Educação reforçou sua concordância com os pontos prioritário estabelecidos no 
Plano Nacional da Educação, que destacavam o aumento do acesso à educação para o 
povo moçambicano, a melhoria da qualidade da educação e o desenvolvimento das 
instituições educacionais. 
Com o fim da guerra civil, a área da educação se desenvolveu principalmente com 
o esforço que foi dado na reabilitação das infraestruturas e instituições educacionais, 
as escolas afetadas pela guerra, principalmente as escolas primárias e secundárias, 
foram reabilitadas, houve aumento de professores qualificados em nível das escolas 
primárias e secundárias em todo o país, o índice da desistência baixou e o número 
das meninas aumentou nas escolas e foi reorganizado o sistema de alfabetização eeducação de adultos. 
 
16 
 
2.5. O desrespeito das religiões protestantes no âmbito educacional em Moçambique 
Pode-se definir o desrespeito religioso como um conjunto de ideologias e atitudes 
ofensivas, discriminatórias e de desrespeito às diferentes crenças e práticas religiosas ou 
a quem não segue uma determinada religião. Essas atitudes muitas vezes impregnadas na 
sociedade brasileira e que possuem raízes históricas, com frequência está vinculada ao 
racismo, sendo um desrespeito aos Direitos Humanos. 
Moçambique é um país diversificado em relação às culturas e religiões, motivo de ser um 
país laico, contudo, a intolerância religiosa se torna cada vez mais recorrente nos dias 
atuais. E assim, esse problema parece estar enraizado na nossa história, pois desde o início 
da colonização europeus menosprezavam a cultura e principalmente a religião, tanto dos 
índios nativos, como também dos africanos escravizados. Com o passar dos anos, a 
diversidade foi aumentando ao ponto de haver várias vertentes dentro de uma mesma 
crença, e isso é motivo de conflitos ideológicos e causa de discriminação em vários 
grupos. A Constituição de 1998 garante a proteção aos cultos e crenças: 
 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, 
à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: VI - é 
inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos 
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas 
liturgias.” 
No Código Penal também está explicitado um dispositivo que protege a diversidade: 
“Ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo Art. 208 - Escarnecer 
de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar 
cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto 
religioso: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. Parágrafo único - Se há 
emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente 
à violência.” Segundo Elane Souza (2015), uma mera crítica não é o mesmo que 
intolerância. Todos temos o direito à critica, e isso pode se dar também quando o assunto 
é religião e dogmas de uma religião, desde que seja feito sem desrespeito ou ódio, é 
assegurado pelas liberdades de opinião e expressão. Mas, no acesso ao trabalho, à escola, 
à moradia, a órgãos públicos ou privados, não se admite tratamento diferente em função 
da crença ou religião. Isso também se aplica a transporte público, estabelecimentos 
comerciais e lugares públicos, como bancos, hospitais e restaurantes. José Rezende Jr. 
(2013) diz que, em Moçambique, a intolerância religiosa não produz guerras, nem 
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matanças como em outros países mas, muitas vezes, o preconceito e está presente na nossa 
sociedade e se manifesta pela humilhação imposta para com aquele que é “diferente”. 
Outras vezes, o preconceito se manifesta pela violência. No momento em que alguém é 
humilhado, discriminado, agredido devido a sua cor ou a sua crença, ele tem seus direitos 
constitucionais, seus direitos humanos violados. 
A Lei nº 7.716 de 05 de janeiro de 1999, Crimes de Preconceito, define em seu artigo 1º 
que serão punidos os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, 
etnia, religião ou procedência nacional. Há casos em que agressor usa palavras agressivas 
ao se referir ao grupo religioso e aos seus elementos, deuses e hábitos. Outras vezes 
desmoraliza símbolos, destruindo imagens, roupas e objetos ritualísticos. Em situações 
extremas, a intolerância religiosa pode incluir violência física e se tornar uma 
perseguição. Como também ser impedida de acessar a cargos e ser negada de empregos 
por sua religião. 
 Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo 
da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos. 
Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. Parágrafo único. Incorre na mesma pena 
quem, por motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, 
obstar a promoção funcional. 
2.5.1. Efeitos sobre a aprendizagem 
O ensino religioso oferecido atualmente nas escolas brasileiras não tem sido eficiente no 
combate à intolerância no ambiente escolar. O estudo Laicidade e Ensino Religioso no 
Brasil, realizado em 2010 pelas pesquisadoras Debora Diniz, Tatiana Lionço e Vanessa 
Carrião, da Universidade de Brasília, revelou que o foco do ensino está na religião cristã. 
Para chegar a essa conclusão, as pesquisadoras avaliaram as legislações estaduais sobre 
ensino religioso e uma amostra de 25 livros didáticos adotados no país. Com isso, o ensino 
religioso, de modo geral, “ignora a diversidade e o pluralismo cultural da sociedade 
brasileira, estimula a intolerância e transmite preconceitos”, segundo as pesquisadoras. 
Especialistas alertam que as situações de discriminação, ao afetar a autoestima dos 
estudantes, acabam prejudicando seu desempenho escolar, levando à repetência, à evasão 
ou à transferência para outras escolas. O último relatório do Pisa 2015, sobre bem-estar 
dos estudantes, revela que a proporção de estudantes que relataram ter sido vítimas de 
bullying é maior em escolas com percentuais elevados de reprovação, com clima escolar 
negativo e onde os alunos consideram que os professores não os tratam de forma justa. 
18 
 
 
 
CAPITULO III 
3.1. Conclusão 
Informação e diálogo são ferramentas eficazes para combater a intolerância religiosa nas 
escolas. Ao entender que as religiões são manifestações culturais legítimas, os estudantes 
podem aprender a conviver com as diferenças, valorizar a diversidade e construir a 
própria identidade. Uma gestão comprometida com a equidade deve estar atenta à 
questão, desenvolvendo ações de combate ao preconceito e à discriminação no espaço 
escolar. Pode, por exemplo, estimular a realização de projetos e atividades culturais sobre 
o tema que promovam uma reflexão coletiva e envolvam toda a comunidade escolar. O 
ensino religioso na escola pode se dar de forma transversal a diversas disciplinas, como 
Literatura, História, Geografia, Filosofia e Sociologia, entre outras, bem como integrar o 
programa das aulas sobre História e Cultura Africana. 
 
19 
 
 
3.1 Referências bibliográficas 
 
MOÇAMBIQUE. “Educar o homem para vencer a guerra, criar uma sociedade nova e 
desenvolver a pátria”. Mensagem do Camarada Samora Machel, Presidente da Frelimo, 
à 2ªConferência do Departamento de Educação e Cultura–DEC). In: Colecção “Estudos 
e Orientações” Nº 2 nov. 1973. 
UACIQUETE, Adriano Simão. Modelo da administração da educação em Moçambique 
1983-2009. 2010. 124 p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação) –
Departamento de Ciências da Educação, Universidade de Aveiro. Aveiro, 2010. 
BOLACHA, Natália Helena da Fonseca. A mulher moçambicana na ocupação decargos 
de decisão: um estudo de caso no âmbito das direções provinciais denampula.2013. 220p. 
Tese (Doutorado em Ciências da Educação) - Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 
2013.

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