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Amamentação Anatomia das Mamas A glândula mamária é composta por 15 a 20 lobos secretores de leite. Cada lobo ramifica-se em lóbulos que terminam em grupamentos de células, chamados de alvéolos ou ácinos. Cada alvéolo é composto por epitélio secretor e é circundado por um mioepitélio contrátil. Os ductos lactiferos conduzem o leite até o meio externo da mama. O tecido adiposo é importante para dar forma à mama e proteção mecânica e térmica da glandula Durante a gestação, as glândulas desenvolvem-se sob o estímulo do estrogênio, do hormônio do crescimento e do cortisol. A produção de leite é estimulada pela prolactina liberada pela adeno-hipófise e sua secreção é primariamente controlada pelo hormônio inibidor da prolactina (PIH) secretado pelo hipotálamo. Durante as fases finais da gestação, a secreção do PIH diminui, e a prolactina chega a níveis dez ou mais vezes maiores do que os encontrados em uma mulher não grávida. Após o parto, quando os níveis de estrogênio e de progesterona diminuem, as glândulas produzem quantidades maiores de leite que contêm 4% de gordura e quantidades substanciais de cálcio. A sucção, o estímulo mecânico do bebê sugando o mamilo da mãe, também inibe a produção de PIH. Na ausência do PIH, a secreção da prolactina aumenta, resultando na produção de leite. A ocitocina causa a liberação de leite nos ductos mamários por meio do reflexo de ejeção de leite. O leite formado pelas células glandulares das mamas é armazenado até que o RN comece a sugar ativamente. A estimulação dos receptores sensíveis ao toque na papila mamária desencadeia impulsos nervosos sensitivos que são retransmitidos para o hipotálamo. Em resposta, a secreção de ocitocina pela neuro hipófise aumenta. Transportada pela corrente sanguínea até as glândulas mamárias, a ocitocina estimula a contração das células mioepiteliais que cercam as células e ductos glandulares. A contração cria uma alta pressão nos ductos, que enviam o leite em jatos para a boca do bebê. Embora a liberação de prolactina necessite do estímulo mecânico da sucção, a liberação de ocitocina pode ser estimulada por vários estímulos cerebrais, incluindo pensar na criança. A lactação consiste em produção e ejeção do leite pelas glândulas mamárias. O principal hormônio envolvido na promoção da produção de leite é a prolactina (PRL), que é secretada pela adeno hipófise. Embora os níveis de prolactina aumentem à medida que a gestação avança, a produção de leite não ocorre porque a progesterona inibe os efeitos da prolactina. Após o parto, os níveis de estrogênios e progesterona no sangue da mãe diminuem, e a inibição é removida. O principal estímulo para manter a secreção de prolactina durante a lactação é a ação da sucção do recém nascido. A sucção desencadeia impulsos nervosos nos receptores de estiramento das papilas mamárias ao hipotálamo; os impulsos diminuem a liberação hipotalâmica do hormônio inibidor da prolactina (PIH) e aumentam a liberação do hormônio liberador de prolactina (PRH), de modo que mais prolactina é liberada pela adeno hipófise. Fisiologia da Lactação → Existem fases de produção do leite materno (lactogênese) ● Fase 1: acontece ainda na gestação e está relacionada a função do estrogênio e do progestogênio O estrogênio está relacionado a ramificação dos ductos lactíferos e o progestogênio com a formação dos lóbulos A secreção láctea começa a partir das 16 semanas de gestação. ● Fase 2: Após o parto. RN começa a sugar e ocorre a liberação de ocitocina, aumento dos níveis de prolactina e há então a secreção do leite. Durante os 2 primeiros dias pós parto há apenas secreção de colostro, pelo 3 dia ocorre aumento na consistência das mamas que ficam mais pesadas, congestas e dolorosas. Descida do leite ou ‘’apojadura’’ ocorre no 3 ou 4 dia após o parto. ● Fase 3: Conhecida como Galactopoiese, esta fase se mantém durante toda a lactação e depende da sucção do bebe, do esvaziamento completo da mama, frequência e quantidade de mamadas. Leite materno O leite materno se modifica para atender as necessidades do crescimento da criança e sofre influencia de fatores dietéticos, ambientais, emocionais e fisiológicos. Leite anterior ou leite no início da mamada: maior claro e fluido, maior teor liquido, menos gordura, mais anticorpos e mais proteínas. Leite posterior ou leite do final da mamada: mais consistente, mais amarelado, mais lipídeos, garante a saciedade do bebe. Componentes do leite materno: 1. Água: 87% do leite materno; 2. Proteínas: a alfalactoalbumina é a principal proteína e corresponde a 80% do conteúdo proteico. A caseína representa 20%. Essa proporção se inverte no leite de vaca; 3. Imunoglobulinas: IgA, imunoglobulinas M (IgM) e imunoglobulina G (IgG); 4. Células: neutrófilos, macrófagos, linfócitos B e T; 5. Lactoferrina: proteína que se liga ao ferro e aumenta sua biodisponibilidade; alta afinidade pelo ferro e, por quelar esse elemento, diminui sua disponibilidade para patógenos como E. coli, Staphylococcus sp. e Candida albicans, inibindo a sua proliferação 6. Fator bífido: promove o crescimento de Lactobacillus bifidus, bactéria não patogênica que acidifica as fezes e evita o crescimento de bactérias patogênicas no intestino. 7. Lisozima: enzima que degrada a parede celular de bactérias; 8. Gorduras 9. Vitaminas: A, C, D, E, K e do complexo B; 10. Minerais: cálcio, fósforo, ferro, zinco; não há necessidade de suplementação até os 6 meses quando em aleitamento materno exclusivo. 11. O carboidrato encontrado em maior quantidade no leite materno é a lactose, sendo o processo da sua síntese o principal responsável pela extração de água para o leite. Estágios do leite materno - Colostro: até o 7 dia Rico em lactoalbumina, tem menos gordura e mais proteínas, tem imunoglobulinas (IgA secretóra) - Leite de transição: até 15 dias - Leite definitivo ou maduro: A partir do 15 o leite maduro já é produzido, este tem maior teor de lipídeos (principal fonte energética da criança ), ele também tem fatores de proteção como IgA, IgM e IgG, lactoferrina (ação bacteriostática) e lisozima (ação bactericida e anti-inflamatória) Observam-se três fases durante a mamada: aquela em que o leite é aquoso, rico em imunoglobulinas e outros fatores de proteção, aquela composta predominantemente por proteínas e a última, em que o leite é rico em gorduras que auxiliam na saciedade e contribuem para o ganho ponderal. Cor do leite: A cor do leite pode variar de acordo com a dieta da mãe. Assim, o leite é mais amarelado na vigência de dieta rica em betacaroteno e esverdeado em dietas ricas em vegetais verdes. A cor do leite também varia ao longo da mamada como decorrência das variações na sua composição. Assim, no início da mamada, o leite é rico em constituintes hidrossolúveis, incluindo anticorpos, adquirindo coloração de água de coco; no meio da mamada, com o aumento da concentração de caseína, o leite tende a ter uma coloração branca opaca; e, no final da mamada, em virtude da concentração dos pigmentos lipossolúveis, o leite é mais amarelado. Diferença do leite de vaca e leite humano Leite de vaca Leite Humano Proteína Caseína (digerida de forma lenta e alergênica) betalactoglobulina como principal proteína (causa alergia como Rinite, Asma, dermatite) Lactoalbumina Alfalactoalbumina como principal proteina Ferro Maior quantidade, porém, tem menor disponibilidade Menor quantidade de ferro, porém, este tem maior disponibilidade Sódio Maior quantidade (pode acabar gerando uma sobrecarga renal) Menor quantidade Calorias Lactose Lípidos obs: A Sociedade Brasileira de Pediatria não recomenda que o leite de vaca seja oferecido antes dos 12 meses. Características gerais das fórmulas infantis A fórmula infantil deve ser indicada na impossibilidade do aleitamento materno. Ela foi criada com o intuito de se assemelhar ao leite materno, no entanto sua composição não se iguala as propriedades fisiológicas dele. As fontes de carboidratos, proteínas e outros componentes presentes nas fórmulas infantis diferem em identidadee qualidade dos componentes do leite materno. A classificação está relacionada à faixa etária e às necessidades nutricionais da criança. Existem as fórmulas infantis de partida (para lactentes do nascimento até seis meses) e as de seguimento (para lactentes a partir dos 6 meses) e as fórmulas infantis de primeira infância (para crianças de 1 a 3 anos). Tem também os compostos lácteos que são direcionados para as crianças maiores de 1 ano. Aleitamento Materno Tipos - Aleitamento exclusivo: apenas leite materno, pode ser direto da mama ou ordenhado. Exceção ao uso de medicações, vitaminas e suplementos orais - Aleitamento materno predominante: criança também recebe água, chás, suco de frutas e outros fluidos/infusões. - Aleitamento materno complementado: alimentos sólidos ou semissólidos com o objetivo de complementar o leite, mas não substituí-lo. Leites de outras espécies não são considerados alimentos complementares. O Ministério da Saúde preconiza que seja complementado a partir dos 6 meses até 2 anos. - Aleitamento misto ou parcial: leite materno e quaisquer outros tipos de leite > Vantagens da amamentação e desvantagens da introdução precoce de qualquer outro alimento ou líquido (incluindo água e chás): Efeitos benéficos da amamentação, destacando-se a redução da morbimortalidade infantil, inclusive nos países desenvolvidos; a redução de morbidade por diarreia, infecções respiratórias (incluindo otites) e outras infecções; a redução nas taxas de hospitalizações; a proteção contra alergias, incluindo asma e eczemas; a possível proteção contra obesidade, hipertensão, DM, hipercolesterolemia, doença celíaca, doença de Crohn, colite ulcerativa, diabete melito, linfoma, doença de Hodgkin, leucemia; melhor nutrição; melhor desenvolvimento cognitivo; melhor desenvolvimento motor-oral; proteção contra câncer de mama e de ovário e diabete melito tipo 2 nas mulheres que amamentam; efeito anticoncepcional se em aleitamento exclusivo e ausência de menstruação; maior economia e promoção do vínculo afetivo entre a mãe e a criança. O desmame precoce está associado ao maior risco de infecções, diarreia, doenças respiratórias, desnutrição e menor absorção de nutrientes. Recomendação quanto à duração da amamentação: A Organização Mundial de Saúde e o Ministério da Saúde recomendam aleitamento materno exclusivo (leite materno apenas) nos primeiros 6 meses e complementado por 2 anos ou mais. Existem evidências de que não há vantagens em se iniciar os alimentos complementares antes dos 6 meses (salvo em alguns casos individuais), podendo, inclusive, haver prejuízos à saúde da criança. No segundo ano de vida, o leite materno continua sendo uma importante fonte de nutrientes, além de continuar conferindo proteção contra doenças infecciosas. A recomendação internacional quanto à duração da amamentação não estabelece o período máximo. Cabe a cada dupla mãe-bebê e sua família decidir a respeito de manter a amamentação até que a criança a abandone espontaneamente (desmame natural) ou interromper em um determinado momento. Aleitamento materno sob livre demanda: as crianças pequenas mamam com frequência, não havendo regularidade quanto a horários. O tempo de permanência na mama em cada mamada também não deve ser estabelecido, uma vez que a habilidade do bebê em esvaziar a mama varia entre as crianças e, em uma mesma criança, pode variar ao longo do dia, dependendo das circunstâncias. Além disso, a capacidade de armazenamento de leite nas mamas varia entre as mulheres. Independentemente do tempo necessário, é importante que a criança esvazie a mama, pois o leite do final da mamada – leite posterior – contém mais calorias e sacia a criança. Prevenção de traumas/fissuras mamilares: toda mãe deve ser orientada quanto à prevenção de traumas mamilares. As seguintes medidas são úteis: — Praticar a amamentação com a técnica adequada. — Manter as mamas secas, expondo-as ao ar livre ou à luz solar. — Amamentar com frequência. A criança que mama frequentemente vai ao peito com menos fome, com menos chance de sugar com força excessiva. Além disso, mamadas pouco frequentes favorecem o enchimento excessivo das mamas, o que diminui a flexibilidade da aréola e, consequentemente, aumenta o risco de trauma mamilar. — Desaconselhar o uso de protetores de mamilo pois não se mostraram efetivos na prevenção ou no tratamento de trauma/fissura mamilar. — Evitar o uso de sabões, álcool ou qualquer produto secante nos mamilos. Esses produtos tornam os mamilos mais vulneráveis a lesões. — Se for preciso interromper a mamada, introduzir o dedo indicador ou mínimo pela comissura labial do bebê, de maneira que o dedo substitua, por um momento, o mamilo. > Alimentação da nutriz: o subcomitê de nutrição durante a lactação da Academia Americana de Ciências faz as seguintes recomendações quanto à alimentação da nutriz: — Evitar dietas e medicamentos que promovam rápida perda de peso (mais de 500 g por semana). — Consumir ampla variedade de pães e cereais, frutas, legumes, verduras, derivados do leite e carnes. — Consumir três ou mais porções diárias de derivados do leite. — Esforçar-se para consumir frutas e vegetais ricos em vitamina A. — Certificar-se de que a sede está sendo saciada. — Consumir com moderação café e outros produtos cafeinizados. Como regra geral, as mulheres que amamentam não precisam evitar determinados alimentos. Entretanto, se as mães relacionarem algum efeito na criança com algum componente de sua dieta, poderão fazer a prova terapêutica: retirar o alimento da dieta por algum tempo e reintroduzi-lo, observando atentamente os sintomas após a reintrodução do alimento. Caso os sintomas da criança melhorem substancialmente com a retirada do alimento e piorem com a reintrodução, ele deve ser evitado.. Técnica da Amamentação -Posição mãe bebe: bebe deve estar com a boca próximo à mama e seu corpo deve estar próximo ao corpo da mãe -Oferecer um seio a cada mamada, esvaziando-o por completo, e complementar com a outra mama após esvaziar completamente a primeira. Nesse caso, deve-se iniciar cada mamada por aquela que terminou. Isso estimula a produção do leite, além de favorecer a sucção do leite posterior, mais rico em gorduras, o que garante a saciedade e o ganho ponderal; -A mãe deve estar sentada, com as costas apoiadas, em posição o mais confortável possível e que permita o adequado posicionamento do bebê; -RN deve abocanhar o mamilo e a aréola para ter sucção efetiva e evitar fissuras. Habitualmente, em tais condições, o queixo do bebê toca a mama, o lábio inferior do bebê está evertido e a aréola é mais visível acima do que abaixo do queixo da criança Dificuldades/Complicações: Posicionamento ou pega inadequada → Fissuras, ingurgitamento mamário, mastites e abscessos Bebê que não suga ou tem disfunção oral Quando a mãe desejar amamentar o bebê e este, por alguma razão, não estiver sugando ou apresentar problemas de sucção, ela deverá ser orientada a estimular a sua mama regularmente (no mínimo 5x/dia), manualmente ou, de preferência, com bomba elétrica de sucção. Isso garantirá a produção de leite, além de o leite poder ser ofertado ao bebê em um copinho ou sonda nasogástrica, dependendo do caso. O bebê pode não sugar por não ter fome (certificar-se de que o bebê não recebeu suplemento), por estar sonolento ou doente, por não ter força para sugar, como nos casos de bebês pré-termo ou hipotônicos, ou ainda porque não está maduro para sugar, o que pode ocorrer mesmo com bebês a termo, com bom peso. Esses bebês devem ser estimulados a sugar, introduzindo-se o dedo mínimo na sua boca, com a ponta tocando na junção do palato duro com o palato mole. A mãe deve ser orientada a fazer esse exercício com o seu bebê. Alguns recém-nascidos podem apresentar movimentos orais atípicos (disfunções orais) durante a mamada, que podem causar dificuldades no estabelecimento do aleitamento materno. Esses distúrbios da sucção são decorrentes de alterações transitórias do funcionamento oral do bebê ou de características anatômicasque dificultam o encaixe adequado entre a boca do bebê e a mama da mãe. As mais comuns são reflexo de procura e sucção débeis, lábios invertidos na pega do complexo areolomamilar, padrão mordedor, tensão oral excessiva, língua posteriorizada e língua hipertônica em posição alta na cavidade oral. Esses distúrbios poderão ser corrigidos, com treinamento oral, utilização de exercícios específicos e de manobras e ajustes aplicados na região orofacial, modificando o funcionamento oral durante a mamada. Atraso na descida do leite Em algumas mulheres, a “descida do leite” ou apojadura, que ocorre em média com 30 horas após o parto, só acontece após alguns dias. Nesses casos, é muito útil o uso de um suplementador alimentar (translactação). Esse dispositivo (pode ser uma seringa ou copo), contendo leite (de preferência leite humano pasteurizado), é colocado entre as mamas da mãe e conectado ao mamilo por meio de uma sonda. A criança, ao sugar o mamilo, recebe o suplemento. Presença de sangue no leite Fenômeno comum em primíparas adolescentes e em mulheres com mais de 35 anos e deve-se ao rompimento de capilares provocado pelo aumento súbito da pressão osmótica intra-alveolar na fase inicial da apojadura. Esse fenômeno é transitório (primeiras 48 horas) e melhora mediante o esvaziamento das mamas por meio de ordenhas. Nesses casos, a amamentação pode ser mantida, desde que o sangue não provoque náuseas ou vômitos na criança. Mamilos planos ou invertidos Mamilos planos ou invertidos podem dificultar o estabelecimento da amamentação, mas não necessariamente o impedem, pois o bebê faz o “bico” com a aréola. O diagnóstico de mamilos invertidos pode ser feito ao pressionar a aréola entre o polegar e o dedo indicador – o mamilo plano protrai, e o invertido retrai. A maioria dos mamilos apresenta melhora com o avançar da gravidez, sem necessidade de qualquer tipo de tratamento. Nos casos de mamilos planos ou invertidos, o que faz a diferença em relação à habilidade da mãe para amamentar é a intervenção logo após o nascimento do bebê, que consiste em: > Ajudar a mãe com a pega. Às vezes, é necessário tentar diferentes posições para ver a qual delas a mãe e o bebê se adaptam melhor. > Ensinar à mãe manobras para protrair o mamilo antes da mamada: rolar e esticar delicadamente os mamilos, compressas frias, realizar sucção com bomba manual ou seringa de 20 mL adaptada (cortada e com o êmbolo inserido na extremidade cortada). O mamilo deve ser mantido evertido com a sucção da seringa por 30 a 60 segundos ou menos, se houver desconforto. A sucção não deve ser muito vigorosa para não causar dor ou mesmo lesar os mamilos. > Orientar as mães a ordenhar o seu leite enquanto o bebê não sugar efetivamente. Isso ajuda a manter a produção do leite e deixa as mamas macias, facilitando a pega. Ingurgitamento mamário O ingurgitamento mamário ocorre como resultado da congestão e do aumento da vascularização, do acúmulo de leite e do edema resultante de obstrução da drenagem linfática causada pelo aumento da vascularização e do enchimento dos alvéolos. O aumento de pressão intraductal faz com que o leite acumulado, por um processo de transformação em nível intermolecular, torne-se mais viscoso, originando o “leite empedrado/muito viscoso”. O ingurgitamento discreto é normal e não requer intervenção. O ingurgitamento excessivo ocorre com mais frequência entre as primíparas, mais comumente no 3o ao 5o dia pós-parto. Leite em abundância, demora para iniciar a amamentação, mamadas infrequentes, restrição da duração e frequência das mamadas e sucção ineficaz favorecem o aparecimento do ingurgitamento. Portanto, amamentação em livre demanda, iniciada logo após o parto e com técnica adequada, são medidas eficazes na prevenção do ingurgitamento. Uma vez instalado, o ingurgitamento deve ser tratado da seguinte maneira: > Mamadas frequentes. Se a aréola estiver tensa, faz-se necessário ordenhar um pouco de leite antes para que ela fique macia o suficiente para o bebê abocanhar a mama adequadamente. Se o bebê não sugar, a mama deverá ser ordenhada manualmente ou com bomba elétrica de sucção, apenas o suficiente para dar conforto à mãe. O esvaziamento da mama é essencial, pois, se o leite não for removido, poderá ocorrer mastite e até mesmo abscesso mamário. > Massagens delicadas das mamas – importante na fluidificação do leite viscoso e no estímulo do reflexo de ejeção do leite. > Analgésicos sistêmicos para a dor, se necessário. > Anti-inflamatórios. > Compressas frias (ou gelo envolto em tecido) depois das mamadas por 15 a 20 minutos. Essa medida reduz o edema. Compressas mornas promovem vasodilatação, aliviando a compressão local, porém posteriormente aumentam o volume de leite nas mamas, o que pode ser desvantajoso na vigência de ingurgitamento mamário. No entanto, compressas mornas ativam o reflexo de ejeção do leite e podem facilitar a retirada do leite da mama. > Uso de sutiã com alças largas e firmes para suspender as mamas, para alívio da dor e para manter os ductos em posição anatômica. Mamilos doloridos/trauma mamilar Uma vez instalados, os traumas mamilares são muito dolorosos e muitas vezes impedem as mães de amamentar. A maioria dos traumas mamilares é causada por má técnica da amamentação. Medidas úteis no tratamento dos traumas mamilares incluem: > Sugerir à mãe que ordenhe um pouco de leite antes de colocar a criança no peito, para estimular o reflexo de ejeção de leite. Essa medida previne as sugadas fortes dos bebês antes de acionado o reflexo de ejeção do leite. > Correção da técnica da amamentação, sempre que for detectado erro de técnica. > Posições alternadas nas mamadas. > Mamadas frequentes. A criança que mama com frequência vai ao peito com menos fome, com menos chance de sugar com força excessiva; além disso, mamadas infrequentes favorecem o enchimento excessivo das mamas, o que diminui a flexibilidade da aréola e, consequentemente, aumenta o risco de trauma. > Agentes tópicos, como lanolina anídrica modificada ou cremes com vitamina A e D em traumas importantes. Eles formam uma barreira, impedindo a perda de umidade das camadas mais profundas da pele, teoricamente facilitando a cicatrização. Os corticoides só devem ser recomendados na ausência de infecção bacteriana ou fúngica e, quando usados, não necessitam ser removidos antes das mamadas. > Uso de “protetores de seios” (como alternativa, pode-se utilizar um coador de plástico pequeno, sem o cabo) entre as mamadas, eliminando a fricção da área traumatizada com a roupa. > Analgésicos sistêmicos para a mãe para alívio da dor, sempre que necessário. Manter secos os mamilos sadios e íntegros é recomendável para a prevenção de fissuras. Quando as lesões forem suficientemente dolorosas, impossibilitando a amamentação, recomenda-se “descanso” da mama afetada por 24 a 48 horas, tempo suficiente para promover a cicatrização das fissuras. Durante esse período, a mama deve ser esvaziada regularmente por meio de ordenha manual. O uso de bombas de extração de leite pode manter as fissuras abertas. Mastite Mastite é a inflamação dolorosa da mama, geralmente acompanhada por infecção. Os patógenos habitualmente envolvidos são: Staphylococcus (aureus, epidermidis, albus), Streptococcus (hemolítico, não-hemolítico) e Escherichia coli. Os sintomas da mastite podem incluir febre alta e sintomas mamários: eritema, endurecimento, sensibilização, dor, edema e calor ao toque. A mastite é diferente da dor e fissuras dos mamilos que muitas vezes acompanham o início da amamentação.A terapia inicial consiste em tratar a dor e o edema com compressas frias e analgésicos, como paracetamol ou anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) como o ibuprofeno. Quando os ductos lactíferos estão cheios, deve-se esvaziar a mama por meio de amamentação ou bombeamento. Incentiva-se a ingestão de líquidos. Essas medidas são suficientes para tratar muitos casos de mastite leve ou moderada. Não é recomendado interromper a lactação. Indicar Massagem e ordenha da mama afetada. Antibiótico – Cefalexina:500mg VO de 6/6 horas. Antiinflamatório – Diclofenaco sódico: 50mg VO de 8/8 horas. Analgésico / antitérmico (optar por um dos seguintes fármacos): o Paracetamol: 500mg VO ou Via Retal de 6/6 horas. o Dipirona: 500mg VO de 6/6 horas. > Ordenha do leite: toda mulher que amamenta deve ser orientada quanto à técnica da ordenha do seu do leite. A ordenha é útil para aliviar o desconforto provocado por uma mama muito cheia, manter a produção de leite quando o bebê não suga ou tem sucção inadequada (p. ex., recém-nascidos de baixo peso ou doente), aumentar o volume de leite e retirar o leite para ser oferecido à criança na ausência da mãe ou ser doado a um banco de leite humano. A ordenha do leite pode ser feita manualmente ou com o auxílio de bombas de extração de leite. A ordenha manual, além de ser eficiente, é mais econômica e prática, possibilitando que a nutriz retire o seu leite mais facilmente em locais e situações diversas. A seguir, são descritos os passos da ordenha manual do leite com técnica correta: — Posição confortável, relaxante. Pensar no bebê pode auxiliar na ejeção do leite. — Massagear delicadamente a mama com a ponta dos dedos com movimentos circulares da base da mama em direção à aréola. — Manter o tórax curvado sobre o abdome, para facilitar a saída do leite e aumentar o fluxo do leite. — Posicionar os dedos da mão em forma de “C”, com o polegar na aréola ACIMA do mamilo e o dedo indicador ABAIXO do mamilo na transição aréola-mama, em oposição ao polegar, sustentando o seio com os outros dedos. — Usar preferencialmente a mão esquerda para a mama esquerda e a mão direita para a mama direita ou as duas mãos simultaneamente (uma em cada mama ou as duas juntas na mesma mama – técnica bimanual). — Fazer leve pressão do polegar e do dedo indicador, um em direção ao outro, e leve pressão em direção à parede torácica. Uma pressão muito forte pode bloquear os ductos lactíferos. — Após a pressão, soltar. Repetir essa manobra tantas vezes quanto necessária. A princípio, o leite pode não fluir, mas depois de pressionar algumas vezes, o leite começa a pingar e pode fluir em jorros se o reflexo de ocitocina for ativado. Lembrar que ordenhar leite de peito adequadamente leva mais ou menos 20 a 30 minutos, em cada mama, especialmente nos primeiros dias. Podem ser ordenhados os dois seios simultaneamente. Se o leite ordenhado for utilizado para ser oferecido ao bebê ou doado a um banco de leite humano, os seguintes cuidados serão necessários: > Dispor de vasilhame de vidro esterilizado para receber o leite, preferencialmente vidros de boca larga com tampas plásticas, que possam ser submetidos à fervura por no mínimo 15 minutos. > Usar touca ou um pano limpo para prender os cabelos. > Evitar falar, espirrar ou tossir durante a ordenha. > Usar máscara ou pano limpo para colocar na boca. > Lavar as mãos e os braços até o cotovelo com bastante água e sabão. As unhas devem estar limpas e de preferência curtas. > Lavar as mamas apenas com água; sabonetes devem ser evitados pois ressecam os mamilos e os predispõem a fissuras. > Secar as mãos e as mamas com toalha individual ou descartável. > Posicionar o recipiente para coletar o leite materno (copo, xícara, caneca ou vidro de boca larga) próximo ao seio. > Desprezar os primeiros jatos; assim, melhora a qualidade do leite pela redução dos contaminantes microbianos. > Rotular o frasco com a data da coleta. > Guardar imediatamente o frasco na geladeira ou freezer, em posição vertical. O leite ordenhado cru (não pasteurizado) pode ser conservado em geladeira por 12 horas e no freezer ou congelador por 15 dias. Para alimentar o bebê com leite ordenhado congelado, este deve ser descongelado, de preferência dentro da geladeira. Uma vez descongelado, o leite deve ser aquecido em banho-maria fora do fogo. Antes de oferecer à criança, o leite deve ser agitado suavemente para homogeneizar a gordura. > Contraindicações e restrições à amamentação: São poucas as contraindicações formais à amamentação: mães soropositivas para HIV e HTLV1 e em uso de medicamentos incompatíveis com a amamentação (antineoplásicos, radiofármacos e drogas de abuso). Nas seguintes situações maternas, recomenda- -se a interrupção temporária da amamentação: — Infecção herpética, quando há vesículas localizadas na pele da mama. A amamentação deve ser mantida na mama sadia. — Doença de Chagas, na fase aguda da doença ou quando houver sangramento mamilar evidente. — Abscesso mamário, até que o abscesso tenha sido drenado e a antibioticoterapia iniciada. Soropositividade para qualquer tipo de hepatite (A, B ou C) não contraindica a amamentação. > Consumo de cigarro e álcool: acredita-se que os benefícios do leite materno para a criança superem os possíveis malefícios da exposição à nicotina via leite materno. Por isso, o cigarro não é uma contraindicação à amamentação. As lactantes que fumam devem ser alertadas sobre os possíveis efeitos deletérios do cigarro para o desenvolvimento da criança. Além disso, elas devem estar conscientes de que o fumo pode afetar a produção e a ejeção do leite. Para minimizar os efeitos do cigarro na criança, as lactantes que não conseguirem parar de fumar devem ser orientadas a reduzirem o máximo possível o número de cigarros, a fazerem a troca por cigarros com baixo teor de nicotina, a não fumarem no mesmo ambiente em que está a criança e a fazer um intervalo de pelo menos 2 horas entre o consumo de cigarro e as mamadas. Isabella Fedalto. Medicina Unesc.
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