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METODOLOGIA DAS LUTAS Beatriz Paulo Biedrzycki Fundamentos teórico- -práticos da capoeira Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Indicar os fundamentos teórico-práticos da capoeira. Descrever a execução técnica dos golpes em pé e circulares da capoeira. Reconhecer a execução técnica dos golpes em pé e incisivos na capoeira. Introdução A capoeira surgiu no século XVII como uma ferramenta de defesa dos escravos aos maus-tratos que sofriam. Seu caminho foi (e ainda é) árido e longo, mas, hoje, tem o reconhecimento e a importância que, por muitos anos, foram-lhe negados. Como toda modalidade esportiva, a capoeira é composta por fun- damentos que formam a sua base e se caracteriza por locais de onde se origina sua história e nos quais as raízes da modalidade estão guardadas para que os seus valores nunca se percam. Neste capítulo, você vai identificar os fundamentos teórico-práticos da capoeira, bem como vai conhecer os golpes que são realizados em pé e têm uma característica circular, diferenciando-os dos golpes em pé incisivos, que também estão presentes na prática da capoeira. Os fundamentos teórico-práticos da capoeira A capoeira é uma prática corporal que nasceu no Brasil, durante o período escravocrata. Tem na sua história importantes marcos, que se misturam com a luta dos negros africanos que foram trazidos como escravos para o país. Essa prática corporal é uma mistura de dança, jogo e arte marcial, uma vez que possui elementos constituintes dos três — essa mistura, aliás, pode ser entendida quando olhamos para o passado. A música surgiu na capoeira como uma forma de ludibriar feitores e capitães do mato, já vez que todo e qualquer tipo de luta tinha sua prática proibida para os escravos. Como toda modalidade esportiva, a capoeira é composta por fundamentos importantes, que formam a base da modalidade, e são: ritual, música, jogo, movimentos e o maculelê. A seguir, acompanhe uma descrição de cada um desses fundamentos. Ritual A capoeira é uma modalidade que mescla a dança e a luta, trazendo consigo diversos rituais que acontecem dentro da roda de capoeira, local em que o “jogo” em si acontece. A capoeira surgiu como um jogo, uma cultura irônica do corpo em que se fi ngia lutar (sem ser só uma arte marcial) e dançar (sem ser apenas uma coreografi a). Os corpos criavam, improvisavam e ressignifi cavam ao ritmo do berimbau e outros instrumentos de percussão (CLEVES, 2014). A roda varia de acordo com os estilos, os instrumentos são utilizados de diferentes formas e em variadas quantidades, e é necessário um conjunto de jogadores e cantadores. A roda se caracteriza por um ritual que apresenta a visão de mundo daqueles que formaram a modalidade, trazendo aspectos de diferentes culturas dos diferentes povos que fundaram a capoeira. Além disso, a roda de capoeira também pode ser vista como um modelo social ou, ainda, como um espaço de saber corporal, ou seja, um lugar de transmissão de conhecimentos sobre o corpo (BRASIL, 2014). A roda é composta por leigos, que assistem ao jogo, e pelos capoeiristas, que estão esperando a sua vez de jogar, pela dupla, que realiza movimentos no seu centro, bem como pelo som das palmas. Ela também engloba a “benção” que se pede ao mestre para entrar no jogo e se caracteriza por outros peque- Fundamentos teórico-práticos da capoeira2 nos rituais, como o afinamento do berimbau, a ordem na roda, as cantigas, os instrumentos. Ressalta-se que a formação da roda tem um significado de restringir o movimento dos capoeirista, evitando que um dos dois que estão no jogo fuja do combate, sendo necessário esquivar e ter uma movimentação ágil (PASSOS NETO, 2011). Dentro desse caráter ritualístico, cabe destacar o ambiente místico que envolve a roda de capoeira. Nesse contexto, entende-se que, dentro da roda, acontecem trocas de energia (axé) e a malícia (sabedoria) da capoeira. Essa mística tem elementos que lembram as religiões de matrizes africanas, como o candomblé. Com isso, entende-se que não participam da roda apenas os que estão no tempo presente, mas todos os antigos mestres e capoeiristas que deixaram sua sabedoria e energia dentro da roda, que é comparada com o próprio movimento do universo. Passos Neto (2011, p. 104) acredita que todos os movimentos que compõem a capoeira estão dentro de um ritual e: [...] além de terem uma ou várias funções práticas, podem ser entendidos como pequenas parábolas práticas, mostrando a falsidade dos seres humanos e ensinando, na prática de luta física ou de atitude mental, como o capoeirista lida com diferentes situações e com as facetas negativas do ser humano. Nessa citação, podemos perceber toda a filosofia que compreende a prática corporal da capoeira, que se mostra uma possibilidade de enfrentamento de situações cotidianas e filosóficas, como questões de bem versus mal. Isso já se destacava no passado, no século XVII, quando, na capoeira, verificava-se o aspecto de um movimento de enfrentamento à situação na qual os seus fundadores se encontravam, mostrando a resistência de seu espírito e de sua alma por meio do movimento executado pelo corpo. Música A música é um elemento fundamental da capoeira, já que é o que traz o caráter ancestral e, também, o grande diferencial dessa prática em comparação a outras artes marciais. Essa característica, ao mesmo tempo que é tão singular, é a mesma que permitiu que os ensinamentos da capoeira fossem passados de geração em geração em virtude da transmissão oral dos conhecimentos 3Fundamentos teórico-práticos da capoeira (GALLO, 2017). Os mestres capoeiristas equivalem, nesse sentido, a livros vivos, pois têm todo o conhecimento e devem passá-lo para as próximas gerações de maneira orgânica, isto é, sem uma metodologia aplicada e sem que seja explicada. Transmite-se o conhecimento pelo simples fato de “ser”. “O vento soprou nas velas Carregando a minha nau Na roda de capoeira Quem me guia é o berimbau Maré me leva ê, maré me traz Maré me leva ê, maré me traz” No trecho da música “O Capoeira e O Pescador”, é possível verificar que a letra da música traz uma referência aos ancestrais que fundaram a capoeira, que chegaram ao Brasil de navio, bem como a relação da roda de capoeira com o berimbau. Essa ligação musical da capoeira sempre esteve voltada para o cotidiano, uma vez que retratava a vida comum de pessoas reais com os seus problemas cotidianos reais, além da intenção religiosa, quando se buscava reverenciar alguma santidade/entidade, o que demonstra a citação de Ribeiro (2015, p. 33): Enquanto é ouvida a cantiga, não há jogo, pois a atenção de todos deve estar no conteúdo da música. A letra pode trazer uma mensagem ou relatar experi- ências adquiridas ao longo da vida. Pode também rememorar fatos passados, perpetuando a história do jogo e dos capoeiras. O principal instrumento musical da capoeira é o berimbau unido ao caixixi — juntos, esses instrumentos formam o som característico da capoeira e são como a alma da roda. Seus diferentes toques determinam o ritmo em que jogo da capoeira ocorrerá, se será mais rápido ou mais lento. Além da importância rítmica, ao pé do berimbau é o local onde o ritual de entrada para a roda acontece. É importante frisar que o berimbau não é o único instrumento presente na roda de capoeira, mas é o instrumento essencial, já que, sem ele, a roda não estará completa. Assim, considera-se que todos os instrumentos estão subordinados ao grande “mestre dos instrumentos”, o berimbau. Fundamentos teórico-práticos da capoeira4 O berimbau é composto por uma vara envergada de aproximadamente um metro de comprimento e um fio de aço preso nas extremidades da vara. Em uma das extre- midades da vara, coloca-se uma cabaça, que age como um alto-falante. Para tocar o berimbau, utiliza-se uma vara menor unida ao caixixi, que é uma espécie de chocalho. Unidos, os dois instrumentos dão o som característicoda capoeira. Ribeiro (2015) afirma que, além dos instrumentos, podemos pontuar as cantigas, que também se fazem presentes, ressaltando que essas são posteriores à criação da capoeira no século XVII. Normalmente, quem puxa essas músicas é o mestre responsável ou o capoeirista mais velho da roda, mas também podem ser outros integrantes que estão com algum instrumento, desde que previamente autorizados pelo mestre. A música tem um caráter crucial no cenário da capoeira, a função de “alma da roda”, mas também como a entidade que dita o ritmo, influenciando diretamente o funcionamento da roda de capoeira. Além disso, a música e as cantigas podem animar a plateia e contagiá-la de maneira a estimular os jogadores com as mensagens presentes nas suas letras. Cabe ressaltar que essas canções devem ser cantadas com sentimento, com o acompanhamento de todos, na voz e no ritmo, por meio de palmas, mostrando a importância de um bom cantador e, também, da participação de todos para uma boa roda. Jogo Diz-se que a capoeira é jogada, pois ela não busca uma situação de vencedores e vencidos. Nessa concepção, não há adversários, mas, sim, companheiros que se auxiliam mutuamente para que ambos tenham uma boa execução de movi- mentos dentro da roda. Por esse motivo, a capoeira não tem essa característica de combate, o que é característico das lutas, que buscam subjugar o seu oponente. Ainda assim, mesmo que se diga que a capoeira é “jogada”, ela se encontra na categoria das lutas, sendo notória, uma vez que a: [...] capoeira se apresenta em um conjunto de fatores associados à sua diver- sidade cultural, porém, sem perder a essência da competição. [...] aponta a capoeira como um elemento esportivo em maior destaque, pois se demonstra derivada da luta e composta das diversidades culturais atribuídas no jogo (GOMES et al., 2018, p. 25). 5Fundamentos teórico-práticos da capoeira A ideia de jogo também se refere ao fato de haver contato físico nulo ou mínimo entre os participantes. O jogo é o momento em que o capoeirista mostra suas habilidades, diverte-se com movimentos diferenciados de luta combinados a movimentos rítmicos. Parece mais uma situação de perguntas e respostas, e o objetivo central e objeto de maior atenção são o corpo e os gestos do companheiro, o que acarreta para a modalidade uma característica de imprevisibilidade (GONZÁLEZ; DARIDO; OLIVEIRA, 2014). Maculelê Essa dança signifi ca “a dança do canavial”, ou seja, é a dança que os escravos praticavam dentro dos canaviais e tem como Mestre Popó seu criador (ABREU et al., 2016). A dança maculelê conta a lenda de um jovem guerreiro que sozinho de- fendeu sua tribo de um grupo rival usando apenas dois pedaços de pau. Na dança, com dois bastões, os participantes desferem e aparam golpes no ritmo da música. Outros grupos pelo país utilizam facões no lugar dos bastões. Foi inspirada em arte marcial de escravizados malês (BRASIL, 2016, documento on-line). O maculelê é uma dança de forte expressão dramática, que, antigamente, era destinada apenas a participantes do sexo masculino, que dançavam em grupos, batendo as grimas (bastões) ao ritmo dos atabaques e ao som de cânticos em linguagem popular ou em dialetos africanos (CREGE, 2005). Essa dança teve um papel importante na disseminação da capoeira, uma vez que seus movimentos rítmicos serviram de inspiração para camuflar a luta da capoeira, tendo uma contribuição histórica significativa. Neste vídeo, você poderá observar os movimentos do maculelê sendo realizados dentro de uma roda de capoeira. https://qrgo.page.link/71Ykc Fundamentos teórico-práticos da capoeira6 Movimentos O jogo da capoeira é formado por movimentos, o fundamento que dá forma à modalidade. Esses movimentos podem ser de ataque, também conhecidos como golpes, de defesa, conhecidos como esquivas, além de ginga, movimentos rasteiros e movimentos coreográfi cos. Os golpes são entendidos como os movimentos que caracterizam um ataque, ou seja, uma maneira de projetar-se em relação ao adversário, com o intuito de acertá-lo. Os principais golpes na capoeira são: benção, meia-lua de frente, martelo, queixada e rabo de arraia. As esquivas são utilizadas para desviar-se da trajetória de um golpe, ou seja, evitar que ele nos atinja, buscando proteger o corpo (GONZÁLEZ; DARIDO; OLIVEIRA, 2014). A seguir, veja as principais esquivas. Esquiva na ginga: parte do movimento da ginga. É quando o capoei- rista se abaixa com as pernas afastadas, parecendo que está sentando em uma cadeira. Cocorinha: parecida com a esquiva na ginga, diferencia-se pelo uso da mão como proteção do rosto (Figura 1). Figura 1. O movimento da cocorinha. Fonte: Mestre Eliel (2015, documento on-line). A ginga (Figura 2) é o movimento fundamental, permite a descontração, a entrega aos ritmos da capoeira. Funciona como armação para outros movi- 7Fundamentos teórico-práticos da capoeira mentos, permitindo deslocações constantes, e é o primeiro a ser ensinado, uma vez que, dele, surgem outros movimentos. A ginga é iniciada com um pé na frente, mantendo a perna sempre flexionada e o outro pé atrás, formando um triângulo imaginário no chão. É importante lembrar que, além dos membros inferiores, os braços também se movimentam, trocando de posição, sendo o braço da frente sempre contrário da perna, o que favorece o equilíbrio (GONZÁLEZ; DARIDO; OLIVEIRA, 2014). É importante observar a ginga, notando o intenso magnetismo que se desprende da capoeira, com a dança por todo o corpo, o balanço dos braços e o sorriso frente ao adversário, que, por força, quer atingi-lo (ADORNO, 2017). Figura 2. O movimento da ginga. Fonte: Mestre Eliel (2015, documento on-line). Os movimentos rasteiros são movimentos que permitem que o capoeirista se desloque de baixo para cima. Esses movimentos levam o plano do jogo para mais perto do chão, deixando os praticantes mais próximos do solo. A seguir, veja os principais movimentos rasteiros (GONZÁLEZ; DARIDO; OLIVEIRA, 2014). Negativa: é uma espécie de rolamento que acontece com o apoio dos membros superiores e inferiores (Figura 3). Fundamentos teórico-práticos da capoeira8 Figura 3. O movimento da negativa. Fonte: Mestre Eliel (2015, documento on-line). Rolê: muito semelhante à negativa, mas o movimento é executado com a perna estendida. Veja, no link a seguir, um vídeo que exemplifica o rolê na capoeira. https://qrgo.page.link/yG6vg Os movimentos coreográficos são movimentos em que o capoeirista não busca esquivar-se ou atacar o companheiro como um golpe. Pode-se dizer que esses movimentos buscam “embelezar” e “levantar o astral” da roda. Veja, a seguir, os principais movimentos coreográficos (GONZÁLEZ; DARIDO; OLIVEIRA, 2014). Aú: conhecido também como “brincar de estrelinha” (CREGE, 2005), com a diferença que o movimento inicia e termina com o movimento da ginga (Figura 4). 9Fundamentos teórico-práticos da capoeira Figura 4. O movimento do aú. Fonte: Mestre Eliel (2015, documento on-line). Bananeira: é uma postura invertida, ou seja, é quando o capoeirista fica apoiado nas mãos, com o corpo estendido. Veja o vídeo no link e confira o movimento de bananeira na capoeira. https://qrgo.page.link/wdYHp Bananeira de Angola: muito semelhante à bananeira, mas com a diferença que há três apoios: a cabeça aliada às duas mãos. Os movimentos coreográficos, em determinada situação, também podem ser utilizados como esquiva, mas é importante lembrar que não existe uma definição fixa e definitiva quanto aos golpes. Todos esses fundamentos transformam e formam a capoeira na modalidade esportiva que é hoje, com um patamar de reconhecimento mundial que leva a cultura brasileira a todos os cantos do mundo. Compreender tais fundamentos é entender a história do nosso país. Fundamentos teórico-práticos da capoeira10 Os golpes em pé e circulares da capoeira A capoeira é composta por diversos elementos, e uma parte fundamental sãoos golpes que acontecem na posição ereta, ou seja, em pé, e que podem ser divididos em circulares e incisivos. A seguir, serão aprofundados os golpes em pé e circulares da capoeira. Os golpes circulares são aqueles que as pernas realizam relaxando um movimento de círculo, e o capoeirista pode realizar giros sobre o próprio eixo durante a sua execução. São eles: Armada: é um chute que cria um movimento circular com a perna, dando um giro de 360º sobre o próprio corpo por trás. Veja no link um vídeo que mostra como fazer o movimento de armada. https://qrgo.page.link/UnhCq Meia-lua de compasso: o golpe inicia com o capoeirista de costa, com os pés e as mãos tocando o solo. A perna faz um movimento de círculo e as mãos são utilizadas como apoio. O movimento termina com o capoeirista em pé, de frente para o companheiro (Figura 5). Figura 5. O movimento da meia-lua de compasso. Fonte: Conrad (2019, documento on-line). 11Fundamentos teórico-práticos da capoeira Meia-lua de frente: diferente da meia-lua de compasso, o capoeirista está de frente para o companheiro, e a perna que dará o golpe está posicionada atrás do corpo, sendo levada para cima e para a frente com um movimento circular; o movimento é realizado de trás para a frente (Figura 6). Figura 6. O movimento da meia-lua de frente. Fonte: Pedagogia da Lutas (2014, documento on-line). Queixada: é um golpe circular com a parte interna do pé, muito similar à meia-lua de frente; mas, aqui, o movimento acontece de frente para trás (Figura 7). Figura 7. O movimento da queixada. Fonte: Mestre Eliel (2015, documento on-line). Rabo de arraia: o capoeirista se aproxima do companheiro e se atira ao solo, apoiando as mãos no solo, como um giro sobre o próprio eixo, projetando a perna para cima e para a frente (Figura 8). Fundamentos teórico-práticos da capoeira12 Figura 8. O movimento do rabo de arraia. Fonte: Conrad (2019, documento on-line). Chapa giratória: o capoeirista realiza um giro sobe o próprio eixo em cima de uma só perna, dando as costas para o adversário, desferindo um chute enquanto está de costas (Figura 9). Figura 9. O movimento da chapa giratória. Fonte: Conrad (2019, documento on-line). Cabe ressaltar que esses movimentos são uma pequena parte de todo o rol de movimentos que compõem a capoeira. Também é importante saber que esses movimentos podem ter variação quanto à nomenclatura em cada região do país, bem como de acordo com o estilo de capoeira no qual estão sendo utilizados. Os golpes em pé e incisivos na capoeira Os golpes incisivos podem ser entendidos como aqueles em que o movimento acontece em uma linha reta, tendo a sua trajetória diretamente em relação ao companheiro de jogo. Esses golpes podem ser realizados com projeções, com as pernas fl exionadas, deixando o tronco bem próximo do solo ou, ainda, com o tronco ereto, ou seja, em pé. 13Fundamentos teórico-práticos da capoeira Veja, a seguir, os golpes em pé e incisivos na capoeira. Martelo: este movimento é bastante semelhante à benção, mas a perna faz uma trajetória lateral, uma vez que o corpo também é lateralizado, buscando acertar o adversário com a parte inferior do pé (Figura 10). Figura 10. O movimento do martelo. Fonte: Mestre Eliel (2015, documento on-line). Benção: este movimento tem início na ginga. O capoeirista transpõe a perna que está atrás durante o movimento da ginga e a projeta para a frente, em uma linha reta, inclinando seu corpo para trás, até a altura do quadril. É muito parecido com o movimento de uma pessoa chutando uma porta (Figura 11). Figura 11. O movimento da benção. Fonte: Mestre Eliel (2015, documento on-line). Fundamentos teórico-práticos da capoeira14 Cabeçada: o corpo fica posicionado com as pernas lateralizadas e afastadas. Uma das pernas fica flexionada e a outra estendida, proje- tando todo o tronco de maneira que seja possível acertar com a cabeça o tronco do adversário (Figura 11). Figura 12. O movimento da cabeçada. Fonte: Cabeçadas (2019, documento on-line). Tesoura de costas: o movimento se inicia de pé. Após, acontece um cruzamento de pernas e o capoeirista se lança lateralmente sobre o seu companheiro, buscando colocá-lo no meio das suas pernas com o intuito de derrubá-lo no chão (Figura 13). Figura 13. O movimento da tesoura de costas. Fonte: Conrad (2019, documento on-line). 15Fundamentos teórico-práticos da capoeira Coice: o capoeirista se apoia nos braços, desferindo um “chute” na direção do companheiro com os dois pés (Figura 14). Figura 14. O movimento de coice. Fonte: Conrad (2019, documento on-line). Esses golpes fazem a capoeira e são fundamentais para que ela aconteça, pois, de alguma maneira, buscam contar uma história, seja pelos nomes que têm, seja pela sua execução. Mesmo que muitos dos golpes visem atingir o corpo do com- panheiro, a capoeira é uma modalidade na qual os integrantes praticamente não se encontram, de modo que os golpes são realizados não para acertar e subjugar o companheiro, mas, sim, para permitir que ele realize movimentos de esquiva, produzindo um belo cenário, no qual ambos podem mostrar suas habilidades e valorizar suas origem e raízes, respeitando, dessa forma, sua história. Fundamentos teórico-práticos da capoeira16 ADORNO, C. A arte da capoeira. Goiânia: Goiânia, 2017. BRASIL. Ministério da Cultura. Maculelê, dança de guerreiros, marca passagem da to- cha. 26 jun. 2016. Disponível em: http://memoriadasolimpiadas.rb.gov.br/jspui/bits- tream/123456789/1289/1/CT040%20-%202016_06_20_MinC_Passagem_tocha_Rio_ Branco.pdf. Acesso em: 22 maio 2019. BRASIL. 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