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ORÇAMENTO E CONTROLES INTERNOS E EXTERNOS W B A 01 09 _v 2. 0 2 Veruska Evanir Pereira Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 ORÇAMENTO E CONTROLES INTERNOS E EXTERNOS 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Henrique Salustiano Silva Juliana Caramigo Gennarini Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Pedro Libaldi Neto Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)__________________________________________________________________________________________ Pereira, Veruska Evanir. P436o Orçamento e controles internos e externos/ Veruska Evanir Pereira, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020. 43 p. ISBN 978-65-5903-045-3 1. Orçamento 2. Finanças públicas 3. Controle financeiro I. Título. CDD 330 ____________________________________________________________________________________________ Raquel Torres - CRB: 6/2786 © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Planejamento e Orçamento Público _________________________________ 05 Modelo Orçamentário no Brasil ____________________________________ 20 Programação e Execução Financeira ________________________________ 35 O Controle da Execução Orçamentária _____________________________ 52 ORÇAMENTO E CONTROLES INTERNOS E EXTERNOS 5 Planejamento e Orçamento Público Autoria: Veruska Evanir Pereira Leitura crítica: Pedro Libaldi Neto Objetivos • Introduzir a questão do orçamento na administração pública. • Demonstrar a importância do planejamento como ferramenta de organização e direcionado a resultado. • Entender os valores basilares na construção desse processo. 6 1. Introdução Em nossa família, na nossa casa, temos necessidades de acordo com nosso estilo de vida e com nossos desejos. Além de nossas próprias necessidades e de nossa família, também devemos nos lembrar dos anseios das pessoas que nos cercam: nossos amigos, nossos familiares e a comunidade como um todo. Dessa forma, devemos nos organizar a fim de termos os recursos necessários para o atendimento das necessidades de todos. Essa organização familiar consiste basicamente em estimar as nossas receitas, fixar as despesas e calcular as possibilidades em que cada recurso poderá ser utilizado. Todo mundo de certa forma já faz isso. Algumas pessoas fazem de uma maneira simples, tendo uma ideia de como será seu orçamento mensal, e outras de um jeito mais consistente, utilizando aplicativos em seus smartphones, planilhas eletrônicas no computador ou em nuvem ou mesmo outros meios, como registros em agendas/cadernos. Independentemente de como é feito, o mais importante é saber a razão pela qual devemos fazer um orçamento. Aliás, fazer orçamento é importante? Para que serve? Vamos imaginar o seguinte cenário: estamos em uma família composta pelo pai, pela mãe e pelos três filhos, com 6, 12 e 17 anos. O pai e mãe trabalham em empregos formais. O filho menor de 6 anos está no primeiro ano do ensino fundamental I, o de 12 está no ensino fundamental II e o de 17 está se preparando para os vestibulares e prestes a ingressar em uma universidade. Além de frequentarem a escola regularmente, todos têm atividades extras, como natação, idiomas, teatro etc. 7 Como essa família se organizaria para atender às necessidades de todos? Uma ideia seria somar as receitas dos salários dos pais e dividir entre as despesas correspondentes a todos os membros da família, certo? Mas quem tem prioridade? Quais necessidades devem ser satisfeitas primeiro ou por último? E se a família resolvesse adquirir um imóvel novo, maior e mais caro do que o atual, deixaria de gastar em alguma atividade extra para direcionar o recurso para esse projeto? Agora vamos pensar um pouco na coletividade. Imaginemos que moramos em um prédio de apartamentos e que mensalmente todos os condôminos pagam a taxa de condomínio para as despesas gerais do prédio. Para a organização desses recursos e o pagamento de todas as despesas, um síndico foi eleito. Acontece que ele resolveu ampliar a área de lazer e construiu mais uma piscina e uma sauna sem a aprovação dos condôminos e sem estimar o impacto desse projeto no futuro, ou seja, quanto custaria a manutenção dessa nova piscina e da sauna. Figura 1 – Coletividade Crédito: AndreyPopov/iStock.com. 8 Vamos considerar que nem todos os condôminos estariam a favor dessa ampliação, já que julgariam outros projetos como prioritários. Então algumas questões vêm à tona: o que deve ser feito primeiro? O que poderia ser deixado para depois? Quais necessidades deveriam ser satisfeitas para que fosse causado o maior bem-estar coletivo? Quais consequências uma decisão sem planejamento poderia gerar? E como a administração pública deve planejar, já que deve levar em consideração a satisfação e o bem-estar da coletividade que representa? Lembrando que essa coletividade representa uma complexidade de ações maior do que organizar os recursos de uma só família ou de um condomínio onde habitam grupos de famílias. 2. Administração pública e gestão por resultados A história da organização da Administração Pública Brasileira pode ser encontrada nos anais do Direito Administrativo. Segundo Di Pietro (2007), a organização da Administração Pública Brasileira teve seu início na Monarquia, como um sistema político em que não havia a separação entre o que era público e o que era privado. Já na República, fez-se necessária a clara separação entre as esferas pública e privada. A partir desse ponto, paradigmas burocráticos foram introduzidos para a realização de suas funções de Estado, os quais mostraram-se ineficazes ao longo do tempo com as mudanças na economia e na sociedade provocadas por crises econômicas, pela globalização, por políticas sociais universais, pela crise fiscal etc. (FERRER, 2010). Dessa forma, tornou-se necessária a introdução de novas práticas, ou reformas administrativas do Estado, com o objetivo principal de aumentar sua eficiência, já que as demandas sociais são presentes e crescentes e os recursos orçamentários são limitados (MARE, 9 1997). Segundo Florência Ferrer (2010), as proposições de um novo gerenciamento público baseiam-se em práticas de mudança na forma de gestão e na incorporação de tecnologia da informação nas estruturas administrativas. Atualmente, há um outro paradigma para a gestão na Administração Pública descrito como Governança para Resultados (BRASIL, 2009). Nesse novo modelo, o Estado deixa de ter o papel principal de executor do desenvolvimento, da gestão de políticas públicas e do provimento de serviços, passando a instrumentar os atores envolvidos, entre eles o próprio Estado, o terceiro setor, os mercados interno e externo etc., com o objetivo de liderar e inspirar as grandes diretrizes e fomentar o desenvolvimento das competências de todas as partes para o bem comum. Assim, para que esseparadigma seja instalado com sucesso, faz-se necessário o desenho de novos modelos burocráticos, tais como: redes, modelos de gestão orgânicos (flexíveis, orientados para resultados, com foco no beneficiário), mecanismos amplos de accountability, controle e permeabilidade (BRASIL, 2009). Esse modelo, então, está fundamentalmente baseado na orientação para resultados, atendendo às demandas ou expectativas de seus clientes/cidadãos, a fim de criar valor público. 3. Planejamento e Orçamento Então, como a Administração Pública se organiza para o atendimento dessas demandas da sociedade? O passo inicial seria o planejamento. Para Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008), o planejamento é uma figura de organização que foi introduzida como atividade recente na história devido ao aumento da complexidade das demandas da sociedade, 10 que passa a exigir maior qualidade, diversidade e disponibilidade dos produtos e serviços ofertados pelos governos e pelo setor privado. Portanto é possível pensarmos que o planejamento da ação governamental pode ser instrumento de intervenção na sociedade e na economia, ora utilizado com maior ou menor inferência. Independentemente da decisão política do tamanho da atuação do Estado, a visão da maioria dos autores de estudos sobre planejamento público é positiva em declarar que o planejamento não pode se limitar somente a aspectos processuais e legais. Ele deve, então, preocupar-se com a alocação dos recursos para o atendimento das demandas atuais da sociedade, levando em consideração a manutenção da implantação de projetos que se tornarão atividades de longo prazo (exemplo: construção de hospitais) e a construção de cenários futuros (novas demandas da sociedade); e a negociação da alocação desses recursos com todos os atores envolvidos nesse processo, como os diversos setores da sociedade e a capacidade da própria Administração Pública de fazer a gestão desse processo com base em sistemas integrados para a otimização de seus resultados. Em resumo, a atividade de planejamento governamental tem como objetivo principal estabelecer, com base em políticas públicas pré-definidas, a forma pela qual o Estado equacionará a oferta à demanda de serviços públicos, em um determinado horizonte de tempo, estabelecendo metas e resultados a serem atingidos, a fim de dimensionar os recursos físicos, humanos e financeiros. A história do orçamento público no Brasil perpassa alguns modelos e algumas técnicas que evoluíram de acordo com a demanda da sociedade. Começamos com o Orçamento Clássico, em que só havia os registros acerca dos recursos, sem considerar o planejamento destes. Em uma segunda fase, temos o Orçamento de Desempenho, no qual existe a leitura de orçamento vinculado aos resultados ou às realizações. Porém, é somente no modelo de Orçamento-Programa, nosso modelo 11 vigente, que a ideia de planejamento vinculado à estratégia se faz presente. 4. Aspectos políticos e econômicos do orçamento público Voltando à analogia do orçamento familiar, em que estão relacionadas as receitas oriundas dos salários do pai e da mãe e as despesas de seus três filhos, podemos perceber que a figura do planejamento orçamentário não se caracteriza apenas como peça de registro financeiro e contábil, e sim como instrumento de ação. Assim também está sinalizado o tratamento ao orçamento para a Administração Pública, não caracterizando essa peça como apenas um quadro frio e contábil das despesas e receitas públicas. O orçamento público atualmente constitui-se como o principal recurso de intervenção estatal, caracterizando-se como um instrumento representativo do consentimento dos contribuintes. O orçamento como processo de fiscalização financeira caracteriza-se a partir do direito de autorizar as receitas seguido pelo direito de controlar as despesas. O aspecto político do orçamento pode ser desenhado a partir da afirmação de que a proposta orçamentária é apresentada pelo Executivo para a aprovação do Legislativo, que é formado por representantes legítimos da sociedade, os quais, por sua vez, aprovarão a peça de acordo com a vontade da massa que representam e nos setores que interessam a ela. Dessa forma, o exame da peça orçamentária poderá nos levar a identificar com clareza que as despesas elencadas para aquele certo período poderão ser em proveito de certos setores, como a saúde em detrimento da cultura, ou de certos grupos sociais (incentivo às 12 microempresas), o que espelha a vontade do direcionamento de um ato baseado em políticas públicas, constituindo assim seu caráter político. O orçamento público pode e deve ser analisado também sob o aspecto econômico, considerando seu caráter de instrumento de otimização na compatibilização dos recursos financeiros efetivamente estimados e ingressados no Tesouro com as necessidades da coletividade. Ainda sob esse aspecto, deve-se considerar o “poder de compra” que o Estado tem. O orçamento como instrumento de determinada política financeira acaba por influenciar a política econômica do Estado. Imaginemos que o Governo Federal resolva investir na malha viária na região nordeste do país nos próximos cinco anos em detrimento do desenvolvimento viário. Todo o segmento de produção ferroviária terá um aquecimento no mercado, trazendo desenvolvimento nesse setor. Consequentemente, o setor viário terá um desaquecimento, e talvez alguns fornecedores desse segmento deixem de existir. Portanto, o orçamento público é um instrumento que pode ser utilizado para estimular ou desestimular a produção, o consumo e o investimento, se necessário. Assim, onde os recursos irão ser alocados é uma questão importante, porém se faz necessário neste momento o questionamento do resultado orçamentário. Para a família mencionada no início desta aula, o que seria melhor: sobrar recurso, faltar recurso ou equilibrar o orçamento? E, para o Estado, como seria um ótimo orçamento? Se faltarem recursos, alguma necessidade prevista não foi atendida; mas, se sobrarem, pode significar que o planejamento não foi bem feito no sentido de subdimensionar as necessidades, pois sabemos que a sociedade não tem atendidas todas as suas necessidades pela capacidade máxima de arrecadação de recursos. O ideal seria então que orçamento público tivesse o saldo “zero” ao final do exercício, pois, assim, ele pode atuar como instrumento de redistribuição de renda 13 nacional e corrigir a desigualdade de patrimônio e de renda das pessoas, quer pela tributação, quer pela realização de despesas. Dessa forma, dentro do contexto de finanças públicas, é possível reconhecer as funções principais do Orçamento Público: alocativa, distributiva e estabilizadora. A função alocativa disponibiliza os recursos em uma tentativa de corrigir possíveis falhas no sistema econômico (mercado); a função distributiva remete a questões afetas à distribuição de renda; e a função estabilizadora está associada à estabilidade econômica. 5. Natureza jurídica do orçamento A Lei n. 4.320, de 17 de março de 1964 (BRASIL, 19664), estatui as normas gerais de Direito Financeiro para a elaboração e o controle dos orçamentos e dos balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Em seu art. 1º, dispõe: Esta lei estatui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, de acordo com o disposto no art. 5º, inciso XV, letra b, da Constituição Federal. (BRASIL, 1964) Como está descrito, essa legislação conjuga dois sistemas de informações de controle: o orçamento e a contabilidade. Em termos de contabilidade, podemos considerar que esse sistema é um grande gerador de informações sob a forma de registros organizados acerca das realizações feitas ou ainda por fazer da Administração Pública em termos financeiros. Já em termos de orçamento, o qual em sua evolução aliou-se ao planejamento, mostra-se como um instrumentode que o gestor dispõe para planejar o futuro com informações reais, como as atividades e os projetos que estão em ação e que compõem os programas de trabalho. 14 Cabe salientar que a contabilidade traz informações importantes e fundamentais para a tomada de decisões, porém o orçamento difere desta, tendo características específicas de informações sobre políticas e programas. Sendo assim, é possível considerar que o orçamento é um instrumento que faz o elo entre os sistemas de planejamento e as finanças, expressando quantitativamente o aspecto financeiro nos programas de trabalho de todas as esferas de governo. Também é possível identificar a utilização do orçamento como ferramenta de descentralização administrativa, de delegação de competência e de apuração de responsabilidades, em que, a partir da alocação dos recursos por atividades, projetos e programas sob a responsabilidade de cada esfera administrativa, dá-se a autorização para a consecução de suas ações. E, por fim, caracteriza-se também como instrumento de controle gerencial, por possibilitar informações para comparações e avaliações de caráter gerencial, tais como de economicidade, eficiência, eficácia e efetividade (REIS; MACHADO JR., 2012). Esse caráter gerencial só é possível pelo fato de a peça orçamentária no Brasil ser instituída por lei que abrange a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, criando certa padronização na existência de normas homogêneas em todo o país. Essa homogeneidade facilita a obtenção das informações, que são trabalhadas sob forma de dados estatísticos financeiros e de efetivação dos programas de trabalho, assim como a junção de forma consolidada dos orçamentos do setor público brasileiro. E quem pode legislar sobre o Orçamento Público no país? O art. 24 da Lei n. 4.320/64 diz: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I -direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; II -orçamento.” (BRASIL, 1964). Entende-se, então, que os Estados e o Distrito Federal poderão legislar concorrentemente com a União sobre matérias orçamentárias e financeiras. 15 Porém, é importante destacar que a União tem a competência de limitar- se a estabelecer normas gerais, sem excluir a competência suplementar dos Estados. Caso não haja determinada lei federal sobre normas gerais, os Estados e o Distrito Federal exercerão a competência legislativa para atender às suas peculiaridades. De acordo com o art. 30, II, da Constituição do Brasil (BRASIL, 1988), o Município poderá legislar de forma suplementar, no que couber, à legislação federal ou estadual. Assim, ele pode estabelecer por lei normas específicas de controle interno e de administração financeira e orçamentária e de contabilidade. 6. Princípios Orçamentários Os princípios podem ser definidos como o instituto basilar, o fundamento, a razão fundamental que norteia as ações de qualquer natureza. Os princípios gerais do direito são normas que permeiam o sistema jurídico como um todo e têm o papel de representar os valores fundamentais de uma sociedade. Assim, o orçamento público também está baseado em princípios, ou naquelas diretrizes gerais oriundas das regras construídas pela sociedade e que tanto são importantes para que compreendamos as razões ou os motivos do arcabouço orçamentário brasileiro. A seguir serão elencados alguns princípios orçamentários encontrados na própria Constituição Federal, de forma expressa ou implícita, segundo Harada (2008). 6.1 Princípio da exclusividade Esse princípio se refere ao conteúdo do orçamento e está descrito no § 8º do art. 165 da CF: 16 A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação da receita, nos termos da lei. (BRASIL, 1988) Tem como norte evitar que existam matérias estranhas no respectivo projeto de lei que de qualquer sorte possam causar um desequilíbrio no planejamento já feito. No entanto, é importante mencionar que a CF (BRASIL, 1988) prevê o que chamamos de alterações orçamentárias, as quais podem ser descritas como suplementações de dotações já existentes ou mesmo novas dotações que estejam previstas como antecipação de receitas. 6.2 Princípio da programação Todo orçamento público está ligado ao plano de ação governamental, o qual é construído sobre os programas de governo de apenas um ano civil ou mais, sendo esse último constante do plano plurianual. Estando então todos os programas autorizados, inicia-se o processo de execução orçamentária, mas nada poderá ser liberado sem prévia programação de despesas. Dessa forma, são assegurados às unidades orçamentárias os recursos financeiros necessários à boa execução de suas atividades e de seus projetos, bem como o possível equilíbrio entre a receita arrecadada e a despesa realizada, para que se evitem ao máximo situações de insuficiência de caixa. O princípio da programação decorre dos artigos 48, II e IV, e 165, § 4º, da CF (BRASIL, 1988) e dos artigos 47 a 50 da Lei n. 4.320/64 (BRASIL, 1964). 6.3 Princípio do equilíbrio orçamentário Este princípio estava embasado na antiga Constituição Federal de 1967 e não está previsto explicitamente na Constituição Federal atual, de 1988, 17 tendo sido considerado a regra de ouro das finanças, no qual as receitas e despesas devem estar equilibradas. A partir da crise econômica de 1929, esse princípio começou a ser discutido, pois o papel do Estado como orientador e regulador do Estado passou a ser mais acentuado. Portanto, em algumas épocas, é necessário, devido às conjunturas, que o Estado estabeleça o mecanismo de gastos em áreas específicas para as quais não havia estabelecido antes. 6.4 Princípio da anualidade O princípio da anualidade orçamentária decorre de vários dispositivos expressos na Constituição Federal (BRASIL, 1988, art. 48, II; art. 165, III e §§; art. 5º; e art. 166). Embora a CF (BRASIL, 1988) não estabeleça que o exercício financeiro deva corresponder ao exercício civil, a Lei n. 4.320/64 (BRASIL, 1964) dispõe que o exercício financeiro vai de 1º de janeiro a 31 de dezembro, coincidindo, portanto, com o ano-calendário. Sabemos que os programas governamentais em sua maioria ultrapassam um ano civil, sendo, assim, plurianuais, mas seu orçamento deve ser previsto e executado em bases anuais, como previsto na lei citada. 6.5 Princípio da unidade Cada entidade de direito público deve possuir apenas um orçamento, ou seja, um para a União, um para o Estado e um para os Municípios, embora o § 5º do art. 165 da CF estabeleça a existência de vários documentos orçamentários: o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; orçamento de investimento das 18 empresas estatais; orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração indireta e direta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. (BRASIL, 1988) Assim, percebemos que a ideia não é de ter apenas um documento como unidade documental, mas sim que os orçamentos estejam estruturados uniformemente, utilizando a mesma metodologia e com base no princípio da programação. Segundo esse princípio, o orçamento deve conter todas as despesas e receitas de todos os entes federativos, e nenhuma instituição pública deve ficar de fora. 6.6 Princípio da legalidade Este princípio transcende a questão do orçamento público. Enquanto administradores públicos, estarão todos sob a égide da subordinação pela lei, e qualquer ato não condizente com essa subordinação poderá se tornar ilícito e inválido. Assim, a Administração Pública subordina-se às prescrições legais, sempre.O campo de atuação do princípio da legalidade orçamentária alcança também os planos, os programas e as alterações orçamentárias (BRASIL, 1988, art. 48, II, IV; art. 166; art. 167, I, III, V, VI e IX). 6.7 Outros princípios Temos ainda o princípio da publicidade orçamentária, baseado no princípio basilar da CF da publicidade na Administração Pública; o princípio da não vinculação da receita de impostos a um órgão, um fundo ou uma despesa (BRASIL, 1988, art. 167, IV); e o da quantificação dos créditos orçamentários (BRASIL, 1988, art. 167, VII), que veda a concessão ou a utilização de créditos ilimitados. 19 Terminamos aqui a apresentação sobre o Orçamento Público e seus princípios. Sabemos que temos atualmente no Brasil por base o método do Orçamento-Programa e que todas as receitas e despesas estão previstas lá, com base em um planejamento e oriundas das necessidades da coletividade. Referências Bibliográficas ALBUQUERQUE, Claudiano; MEDEIROS, Márcio; FEIJÓ, Paulo Henrique. Gestão de Finanças Públicas. 2. ed. Brasília: Gestão Pública, 2008. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 21 out. 2020. BRASIL. Lei n. 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços [...]. Brasília, DF: Presidência da República, [1964]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l4320.htm. Acesso em: 21 out. 2020. BRASIL. Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado. Programa da qualidade e participação na administração pública – Caderno 4. Brasília: MARE, 1997. BRASIL. Ministério do Planejamento, Secretaria de Gestão. Produto 1: Mapeamento bibliográfico e do Estado da Arte sobre indicadores de Gestão. Brasília: Ministério do Planejamento, 2009. Disponível em: http://www.gespublica.gov.br/sites/default/ files/documentos/produto_1_indicadores_versao_final_110809.pdf. Acesso em: 21 out. 2020. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2007. FERRER, Florencia. “Déficit de Avaliação” na Administração Pública e seus Efeitos Perversos. [s.l.]: B2B Magazine, 2010. GIACOMONI, James. Orçamento Público. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2012. HARADA, Kyoshi. Direito Financeiro e Tributário. São Paulo: Atlas, 2008. REIS, Heraldo da Costa; MACHADO JR., José Teixeira. A Lei 4.320 comentada e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012. REZENDE, F. Finanças Públicas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm http://www.gespublica.gov.br/sites/default/files/documentos/produto_1_indicadores_versao_final_110809.pdf http://www.gespublica.gov.br/sites/default/files/documentos/produto_1_indicadores_versao_final_110809.pdf 20 Modelo Orçamentário no Brasil Autoria: Veruska Evanir Pereira Leitura crítica: Pedro Libaldi Neto Objetivos • Apresentar as ferramentas instituídas para a formulação do orçamento no Brasil. • Apresentar as ferramentas instituídas para a validação do orçamento no Brasil. • Apresentar as ferramentas instituídas para a aprovação do orçamento no Brasil. 21 1. Introdução A gestão orçamentária no Brasil está diretamente vinculada ao processo de planejamento público e baseada no conceito de orçamento- programa, com ênfase nas realizações. O orçamento-programa é aquele que apresenta os propósitos, objetivos e metas para as quais a administração solicita os fundos necessários, identifica os custos dos programas propostos para alcançar tais objetivos e os dados quantitativos que se medem as realizações e o trabalho realizado dentro de cada programa. (SÃO PAULO, 2008) Ou “uma sistemática para ordenar a aplicação dos recursos financeiros, visando objetivos definidos, dentro de uma programação e um planejamento coordenados”, ou ainda “instrumento que cumpre o propósito de combinar os recursos disponíveis no futuro imediato para consecução dos objetivos de longo e médio prazo” (SÃO PAULO, 2008). Voltemos ao exemplo da família, que agora decide fazer uma viagem de lazer nas férias. Em primeiro lugar, ela deve declarar o motivo pelo qual deveria viajar nesse período, depois definir para onde ir, quando ir, quanto tempo ficar, quais recursos irão ser consumidos etc. Esse planejamento deveria estar presente no orçamento familiar, a fim de que, ao longo de suas etapas, pudesse ser acompanhado, avaliado e até modificado, sempre de acordo com o objetivo principal. Na Administração Pública, o planejamento e a realização das ações são inicialmente registrados no que chamamos de programas, os quais foram eleitos de acordo com as necessidades da sociedade e definidos como prioritários pelos representantes do povo. Eles são materializados em três instrumentos principais: Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA). 22 2. Leis Orçamentárias Existem três leis orçamentárias de acordo com a Constituição Federal Brasileira, previstas no art. 165 (BRASIL, 1988). Todas são de iniciativa do Executivo: a que institui o plano plurianual, a de diretrizes orçamentárias e a que aprova o orçamento anual. 2.1 Plano Plurianual O Plano Plurianual (PPA) é o instrumento legal de planejamento de maior alcance temporal no estabelecimento das prioridades e no direcionamento das ações do governo (ALBUQUERQUE; MEDEIROS; FEIJÓ, 2008). É o documento no qual devem constar todos os programas da administração pública, de forma regionalizada; as diretrizes; as ações; os projetos; e onde os recursos a serem aplicados deverão estar alocados para um período equivalente ao do mandato do chefe do Poder Executivo (quatro anos) deslocado em um exercício. O PPA como forma de instrumento gerencial foi instituído na Constituição Federal de 1998 (BRASIL, 1988), havendo antes disso o Orçamento Plurianual de Investimento (OPI), que se limitava a planejar os investimentos e não chegava a abranger diretrizes, objetivos e metas para toda a administração. Tomaremos como base legal do PPA a legislação federal, valendo para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Em relação à regionalização, assim dispõe o art. 165 da CF de 1988: Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I. o plano plurianual; II. as diretrizes orçamentárias; 23 III. os orçamentos anuais. §1º–A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. (BRASIL, 1988) Essa previsão de regionalização tem como objetivo levar em consideração as diferenças de atuação e de necessidades das diferentes regiões brasileiras e promover a redução das desigualdades, já que o território brasileiro é grandioso e possui diferentes realidades. A regionalização atualmente considera as cinco macrorregiões, que são: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Assim, será possível identificar em cada programa onde estão localizados os beneficiários, ou qual região será alcançada com tal projeto. Ocorre que, em muitos casos, não há como promover a divisão da entrega desse ou aquele benefício, pois se trata de programas abrangentes e de registro em apenas um local. Como exemplificado por Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008), a construção de uma usina de geração de energia em um determinado Estado da federação não é necessariamente contabilizada apenas naquele Estado, mas em todos onde estiverem localizados os beneficiários diretos daquela ação. A regionalização dos planos plurianuais dos Estados,do Distrito Federal e dos Municípios não é regulada pela Constituição Federal. Todavia, mesmo que não haja previsão legal para tal, essa prática deve ser estimulada, pois oferece maior transparência e orientação à aplicação dos recursos. 2.1.1 Abrangência, prazos e vigência Segundo o art. 165 da CF: 24 §1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. (BRASIL, 1988) O PPA influencia as despesas de capital e outras decorrentes delas e as relativas aos programas de duração continuada. A título ilustrativo, vamos imaginar que o Estado de Sergipe inclui em seu PPA o programa de construção de um hospital no ano de XX. Com a finalização da construção desse hospital, o Estado agora aumentou o seu capital. Assim, tipificamos como despesa de capital aquelas que contribuem diretamente para a formação ou a aquisição de um bem de capital. Porém, a partir de XX, esse hospital deverá então ocorrer em despesas para a sua manutenção. Dessa forma, está caracterizada a despesa corrente que representa o incremento de gastos correntes resultantes da ampliação de bens e serviços ofertados pela administração pública. Já as despesas relativas aos programas de duração continuada se referem à manutenção dos bens e serviços públicos ofertados pela administração pública no período de vigência do PPA. Por exemplo, a manutenção do serviço de saúde pública no Estado de Sergipe. Em relação ao prazo, o § 9º do art. 165 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) remete à lei complementar à disposição sobre a vigência, os prazos, a elaboração e a organização do PPA. Sua vigência está definida até o final do primeiro exercício financeiro do mandato subsequente. Considerando o período de quatro anos para o mandato presidencial, que coincide com o ano civil, o qual coincide com o ano financeiro, temos o PPA com vigência de quatro anos, deslocando um exercício em relação ao mandato presidencial, como ilustrado no quadro a seguir: 25 Quadro 1 – Plano Plurianual ano x Mandato Presidencial 1 ano x+1 PPA (x+1 a x+4) ano x+2 ano x+3 ano x+4 Mandato Presidencial 2 ano x+5 PPA (x+5 a x+8)ano x+6 ano x+7 ano x+8 Fonte: elaborado pela autora. 2.1.2 Conteúdo Basicamente o PPA é composto por dois grandes módulos: a base estratégica e os programas. Para Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008), de um modo geral, a base estratégica compreende: • Análise da situação econômica e social. • Diretrizes, objetivos e prioridades de governo propostos pelo Chefe do Poder Executivo e aprovados pelo poder Legislativo. • Previsão dos recursos orçamentários e sua distribuição entre os setores e/ou entre os programas. • Diretrizes, objetivos e prioridades dos órgãos setoriais compatíveis com a orientação estratégica de governo. Já os programas compreendem: • Definição dos problemas a serem solucionados e os objetivos a serem alcançados na superação desses problemas. • Conjunto de ações que deverão ser empreendidas para alcançar os objetivos estabelecidos. 26 Ainda para Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008), programa é um conjunto articulado de ações orçamentárias (projetos, atividades e operações especiais) e não orçamentárias; estruturas; e pessoas motivadas para alcançar um objetivo comum. Esse objetivo é concretizado em um resultado (solução de um problema ou atendimento de uma demanda da sociedade), expresso pela evolução de indicadores no período de execução do programa, possibilitando, assim, a avaliação objetiva da atuação do Governo. É importante salientar que os programas partem de uma necessidade da sociedade inserida na agenda de governo, para que, com o desenvolvimento de ações, seja solucionada. Porém, é fundamental que objetivos sejam descritos, bem como as metas e os indicadores sejam desenhados, para que, então, os resultados possam ser mensurados. 2.2 Lei de Diretrizes Orçamentárias A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) foi a grande inovação no sistema orçamentário nacional introduzida pela CF de 1988 (BRASIL, 1988). Ela é o documento que faz a ligação do PPA com o orçamento anual, estruturando-se em quatro diretrizes operacionais básicas, segundo Reis e Machado Jr. (2012), a saber: • Compreende as metas e as prioridades da Administração, incluindo as Despesas de Capital para o exercício financeiro subsequente. As metas poderão ser de caráter social, econômico e financeiro e estarão refletidas no PPA, enquanto as prioridades dizem respeito às atividades implantadas e já implementadas, entre as quais revelam-se as obrigatórias, como a educação e a saúde, cujas aplicações devem observar regras constantes da Constituição da República. • Orienta a elaboração do orçamento. Essa diretriz tratará da metodologia de elaboração do orçamento que, além de 27 observar os princípios que lhe são inerentes, mostrará como foram projetadas as receitas e as despesas da organização governamental, bem como a atuação integrada dos órgãos da administração governamental. • Dispõe sobre a legislação tributária. Essa diretriz indicará as providências da administração que digam respeito às alterações na legislação tributária e que produzirão efeitos nas projeções das receitas tributárias e na estrutura do orçamento governamental. • Estabelece a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. O projeto de lei de diretrizes orçamentárias será encaminhado até oito meses antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa. Esse papel intermediário entre os programas e as metas contidos no PPA e a previsão da receita e fixação da despesa contidas na Lei de Orçamento Anual mostra que a LDO tem o papel de equilíbrio entre a estratégia proposta no início de um governo e as reais possibilidades que vão se configurando ao longo dos anos da implementação do PPA. Outra função fundamental da LDO é dispor sobre as normas para o controle de custos e a avaliação de resultados dos programas financiados com recursos orçamentários. A questão da avaliação dos programas é um ponto importante a ser tratado, pois é por meio dessa avaliação que será possível programar e reprogramar o planejamento previamente feito. 2.2.1 Anexos da LDO No anexo de Prioridade e Metas da LDO, estarão definidas as despesas que terão precedência na alocação dos recursos no projeto e na Lei 28 do Orçamento do exercício seguinte, bem como em sua execução. É importante salientar que as metas estabelecidas na LDO não se constituem como um limite à programação da despesa, mas sim como uma base para a programação e a execução das despesas incluídas nos Orçamentos. Somente as despesas que constituem a obrigação constitucional ou legal, as ações relativas aos programas sociais existentes e as de funcionamento dos órgãos e entidades que integram o orçamento fiscal e da seguridade social gozam de privilégios em relação àquelas listadas no Anexo de Prioridades e Metas. Por essa razão, e para que não restem dúvidas em relação ao estabelecimento de prioridades, recomenda-se que as despesas obrigatórias de caráter continuado, as das ações de programas sociais existentes e aquelas relativas ao funcionamento dos órgãos e das entidades públicos não constem no Anexo de Prioridades e Metas. 2.2.2 Estrutura e Organização Com o intuito de manter a uniformidade conceitual, a LDO tem definidos: • A estrutura programática dos orçamentos: indicará a que instituição aquele programa se refere. • A classificação institucional e os papéis assumidos pelas instituições no processo orçamentário: deve seguir os preceitos da Portaria MOG n. 42, de 14 de abril de 1999 (BRASIL, 1999). • A finalidade da classificação funcional: mostra-se importante para que os gestores públicos possam ter padronizadasas informações gerenciais para a tomada de decisão. 29 • A competência dos Orçamentos Fiscal, da Seguridade Social ou de Investimentos (das empresas estatais). • A classificação econômica da despesa. • A estrutura do projeto de lei orçamentária que o Poder Executivo encaminhará ao Poder Legislativo e da respectiva lei. • A estrutura programática: relatará quais são os programas elencados e como eles estão organizados. Como exemplo, vamos tomar as despesas de um programa no Município X para a construção de escolas, bem como despesas semelhantes efetuadas pelo Estado Y. Segundo o Anexo da Portaria MOG n. 42 (BRASIL, 1999), as despesas com a construção de escolas se encaixariam na Função 12 – Educação, mas seria necessário ainda que essa despesa estivesse classificada em uma subfunção. De qualquer forma, a essa altura, teríamos como afirmar quanto o país havia gastado em Educação, somente por essa simples classificação. Em resumo, basicamente, para estruturar a peça orçamentária, é necessário conhecer as informações de quem está propondo a despesa, para qual objetivo e em que será gasto. Vamos imaginar um exemplo: João, pai de Marcelo e Maria e avô de José, está preocupado com os rumos da educação em sua família. Marcelo, pai de José, completou apenas o ensino fundamental, mas tem um emprego relativamente, bom considerando sua escolaridade. No entanto, para alcançar novos horizontes, ele teria que ter dado continuidade aos seus estudos. Assim, João resolveu poupar algum dinheiro para que José, hoje com 6 anos de idade, possa completar seus estudos até o nível universitário, pois dessa forma ele acredita que o neto terá mais chances de conseguir um desenvolvimento profissional que lhe renda mais recursos. 30 Portanto, por analogia, podemos dizer que o Sr. João é a instituição que irá investir no programa “Educação do neto José” para enfrentar o problema de baixa escolaridade de sua família, com o objetivo de proporcionar um bem-estar maior. Assim, para organizar esse investimento, o Sr. João vai nomear essas despesas na rubrica Educação (classificação funcional) para que esses recursos não se confundam com as outras finalidades para a manutenção de sua família. A administração pública também funciona assim, mas, é claro, guardando sua respectiva amplitude. Parece simples, não é? Figura 1 – Recursos e planejamento Fonte: Nadinko/iStock.com. 2.3 Lei do Orçamento Anual 2.1.3 Elaboração da Lei do Orçamento – a proposta orçamentária 31 O art. 22 da Lei n. 4.320/64 (BRASIL, 1964), transcrito a seguir, trata do conteúdo e da forma da proposta orçamentária que o Poder Executivo encaminhará ao Legislativo nos prazos estabelecidos nas Constituições Federal e/ou Estadual e nas Leis Orgânicas dos Municípios, conforme dispõe o § 9º do art. 165 da CF (BRASIL, 1988) : Art. 22. A proposta orçamentária, que o Poder Executivo encaminhará ao Poder Legislativo nos prazos estabelecidos nas Constituições e nas Leis Orgânicas dos Municípios, compor-se-á de: I. Mensagem, que conterá: exposição circunstanciada da situação econômico-financeira, documentada com demonstração a dívida fundada e flutuante, saldos de créditos especiais, restos a pagar e outros compromissos financeiros exigíveis; exposição e justificação da política econômico-financeira do Governo; justificação da receita e despesa, particularmente no tocante ao orçamento de capital; II. Projeto de Lei do Orçamento; III. Tabelas explicativas, das quais, além das estimativas de receita e despesa, constarão, em colunas distintas e para fins de comparação: a. Receita arrecadada nos três últimos exercícios anteriores àquele em que se elaborou a proposta; b. Receita prevista para o exercício em que se elabora a proposta; c. Receita prevista para o exercício a que se refere a proposta; d. Despesa realizada no exercício imediatamente anterior; e. Despesa fixada para o exercício em que se elabora a proposta; e f. Despesa prevista para o exercício a que se refere a proposta. IV. Especificação dos programas especiais de trabalho, custeados por dotações globais, em termos de metas visadas, decompostas em estimativa do custo das obras a realizar e dos serviços a prestar, acompanhadas de justificação econômica, financeira, social e administrativa. Parágrafo único. Constará da proposta orçamentária, para cada unidade administrativa, descrição sucinta de suas principais finalidades, com indicação da respectiva legislação. (BRASIL, 1964) 32 Os incisos desse artigo tratam minuciosamente de organizar a elaboração da proposta orçamentária a fim de padronizar esse documento. Assim: o Inciso I trata da mensagem com alguns pontos obrigatórios, mas também poderá conter um breve histórico dos indicadores e dos resultados do órgão, o que facilitaria a contextualização das demandas pelo Legislativo; enquanto o Inciso II trata do projeto de lei orçamentária, que deverá refletir políticas e programas governamentais, observados os princípios da unidade e da universalidade, com o objetivo de dar mais transparência ao orçamento. O projeto de lei deverá conter, além do determinado no § 5º, I, II e III, do art. 165 da CF (BRASIL, 1988), dispositivos que: • Estabeleçam a previsão da receita e a fixação da despesa. • Determinem as fontes de receita pública. • Determinem as destinações dos recursos orçamentários aos órgãos ou às funções de Governo. • Estabeleçam a previsão das receitas dos órgãos da Administração indireta, bem como as aplicações a serem efetuadas por meio deles, desde que recebam transferências para a conta do orçamento. • Autorizem o Poder Executivo a abrir créditos suplementares até determinado limite. • Autorizem o Poder Executivo a efetuar operações de crédito, inclusive por antecipação da receita, obedecida a legislação em vigor sobre a matéria. O Inciso III trata das tabelas explicativas com as informações básicas indispensáveis para a composição da proposta orçamentária, as quais podem se resumir em duas colunas do quadro a seguir: a da Receita e a da Despesa. 33 Quadro 2 – Receita e despesa Receita Despesa RA – Receita Arrecadada DR – Despesa Realizada RO – Receita Orçamentária DF – Despesa Fixada RP – Receita Prevista DP – Despesa Prevista Fonte: elaborado pela autora. O Inciso IV trata dos programas especiais de trabalho em que o legislador pretendeu dar uma margem de flexibilidade e de descentralização. O art. 32 da Lei n. 4.320/64 descreve: Se não receber a proposta orçamentária no prazo fixado nas Constituições ou nas Leis Orgânicas dos Municípios, o Poder Legislativo considerará como proposta de Lei de Orçamento vigente. (BRASIL, 1964) É importante salientar que orçar significa “dar rumo”; portanto, não é recomendável que a lei do orçamento anual não seja votada em seu prazo legal, pois, dessa forma, a sociedade pode sofrer pela não realização de seus programas como planejado. Infelizmente, ainda hoje esses atrasos costumam ocorrer em todas as esferas de Governo. O desafio do gestor público é fazer com que essas peças orçamentárias caminhem de acordo com o curso planejado, de forma a poder executar seus programas eficazmente. Esses atrasos podem ocorrer por ocasião do recebimento da proposta pelo Legislativo, que pode, nesse momento, receber as emendas desse orçamento, que está regulamentado pelo art. 66 da CF, transcrito a seguir: §3º As emendas ao projeto de Lei do Orçamento anual ou aos projetos que o modifiquem somente podem ser aprovados caso: I. sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias; 34 II. indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os provenientes de anulações de despesa, excluídas as que indicam sobre; a. dotações para pessoal e seus encargos; b. serviços da dívida; e c. transferências tributárias constitucionais para Estados, Municípios e Distrito Federal; ou III. sejam relacionadas: a. com a correção de erros ou omissões; Ou [...]. (BRASIL, 1988) Então, a partirda publicação da LOA, o orçamento poderá ser executado de acordo com o que havia sido planejado, e os programas passam a se materializar de acordo com a estrutura de execução orçamentária. Referências Bibliográficas ALBUQUERQUE, Claudiano; MEDEIROS, Márcio; FEIJÓ, Paulo Henrique. Gestão de Finanças Públicas. 2. ed. Brasília: Gestão Pública, 2008. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 21 out. 2020. BRASIL. Lei n. 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços [...]. Brasília, DF: Presidência da República, [1964]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l4320.htm. Acesso em: 21 out. 2020. BRASIL. Portaria n. 42, de 14 de abril de 1999. Atualiza a discriminação da despesa por funções de que tratam o inciso I do § 1º do art. 2 [...]. Brasília: MOG, [1999]. Disponível em: http://www.orcamentofederal.gov.br/orcamentos-anuais/ orcamento-1999/Portaria_Ministerial_42_de_140499.pdf/. Acesso em: 21 out. 2020. SÃO PAULO. Fundação para o Desenvolvimento Administrativo do Estado de São Paulo. Gestão Orçamentária e Financeira. Programa de Desenvolvimento Gerencial. São Paulo: FUNDAP, 2008. HARADA, Kyoshi. Direito Financeiro e Tributário. São Paulo: Atlas, 2008. REIS, Heraldo da Costa; MACHADO JR., José Teixeira. A Lei 4.320 comentada e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm http://www.orcamentofederal.gov.br/orcamentos-anuais/orcamento-1999/Portaria_Ministerial_42_de_140499.pdf/ http://www.orcamentofederal.gov.br/orcamentos-anuais/orcamento-1999/Portaria_Ministerial_42_de_140499.pdf/ 35 Programação e Execução Financeira Autoria: Veruska Evanir Pereira Leitura crítica: Pedro Libaldi Neto Objetivos • Demonstrar os instrumentos da programação e execução financeira anual. • Discorrer sobre os conceitos e os aspectos de receita e despesa pública. • Apresentar as formas de créditos adicionais existentes no orçamento público. 36 1. Introdução Considerando a aprovação do Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei do Orçamento Anual (LOA), a instituição pública pode partir para a execução das receitas e despesas que compõem o orçamento público. Nesta aula, visitaremos o conceito e a estrutura das receitas e das despesas públicas. Em toda organização, seja ela pública ou privada, faz-se necessário adequar o compasso dos pagamentos ou das despesas com os ingressos ou as receitas no caixa. Contudo, isso é um desafio a ser enfrentado por todos os administradores. Essa tarefa exige planejamento, uma vez que a previsão das receitas (entradas) e despesas (saídas) de cada organização deve ser a mais precisa o possível, sendo imprescindível para uma boa gestão nas finanças. Esse tipo de organização financeira também é utilizado em nosso orçamento doméstico. Em nossa família, para efetuarmos as despesas conforme nossa programação, como o pagamento mensal da escola dos filhos, despesa semanal do supermercado, a poupança para a viagem de férias etc., é importante que saibamos quais são as nossas receitas, em que tempo elas ocorrem (ex. mensal, quinzenal, semanal ou por tarefas) e qual o montante delas. Mas por quê? Basicamente para que tenhamos recursos suficientes caso surja uma despesa na ocasião da consecução de uma tarefa. Com esse planejamento, também se procura evitar que tenhamos que pedir “empréstimos” a terceiros, como instituições financeiras, com a incidência de encargos financeiros, o que faz com que as despesas contenham valores adicionais em relação ao valor original, fazendo com que tenhamos que gastar mais do que o devido. Dessa forma, tanto para os indivíduos, as empresas e as organizações em geral quanto 37 para o governo, o planejamento financeiro procura evitar que eventuais desajustes venham a desestabilizar o equilíbrio da economia. A materialização de uma programação financeira de desembolso em nosso país em todos os níveis de governo – União, Estados e Municípios –, foi institucionalizada pela Lei n. 4.320/64 (BRASIL, 1964). Em seus artigos 47 e 48 (BRASIL, 1964), ficou estabelecido que, a cada ano, imediatamente após a promulgação da Lei Orçamentária, o Poder Executivo deverá ajustar o compasso de execução do orçamento ao fluxo provável de recursos financeiros, mediante aprovação de um quadro de cotas trimestrais que cada órgão ficará autorizado a utilizar, com vistas a alcançar os seguintes objetivos: a. Assegurar às unidades orçamentárias, em tempo hábil, os recursos suficientes para a melhor execução do seu programa de trabalho durante o exercício. b. Manter, durante o exercício, na medida do possível, o equilíbrio entre a receita arrecadada e a despesa realizada, visando à redução de eventuais insuficiências financeiras. 2. Instrumentos da Programação Anual A Lei n. 4.320/64 (BRASIL, 1964) preconiza que os objetivos da programação financeira consistam em de certa forma garantir que haja recursos necessários à execução da despesa e prevenir eventuais déficits de caixa. Se ao longo da execução financeira o cenário se realizar com uma frustração da receita estimada ou outras despesas não planejadas, mas imprescindíveis, medidas de precaução deverão ser tomadas pelo Executivo, como deixar de executar parcelas da despesa autorizadas no Orçamento, ou contingenciar ou “cortar” despesas. 38 Porém, outros objetivos também devem ser contemplados para assegurar uma gestão fiscal responsável. Para tanto, a Lei de Responsabilidade Fiscal (BRASIL, 2000) exige a prevenção contra os riscos de desequilíbrio das contas públicas motivados por fatores mais ou menos previsíveis quando da elaboração da Lei Orçamentária, além de se preocupar com a reavaliação das ações do governo concomitantemente com a execução orçamentária e financeira. A Lei de Responsabilidade Fiscal (BRASIL, 2000) instituiu ordenamentos que impõem o estabelecimento de metas fiscais que deverão nortear todo o processo de planejamento e de execução das finanças públicas em cada exercício, devendo ser cumpridas as seguintes etapas: • Inclusão, na LDO, a cada ano, do Anexo de Metas Fiscais, contendo não só a identificação dos resultados esperados, mas também a consistência das estimativas de arrecadação. • Inclusão, na LOA, do demonstrativo de sua compatibilidade com as metas estabelecidas na LDO. • Programação de desembolsos mensais. • Ajustes bimestrais no montante da despesa autorizada, quando novas estimativas indicarem frustração da receita prevista na peça orçamentária. • Publicação bimestral do relatório resumido da execução orçamentária. • Avaliação quadrimestral do cumprimento das metas fiscais, em audiência do Poder Executivo com o Poder Legislativo. 39 2.1 Receita Considerando que a matéria sobre o Orçamento Público trata basicamente do registro, do controle e do resultado das Receitas e Despesas. Assim como temos o nosso limite de capacidade de arrecadação, a administração pública também tem, de forma que sua capacidade de gasto está relacionada com a capacidade dos contribuintes de pagar tributos. Portanto, é clara a relevância da Receita no processo orçamentário, cuja previsão restringe a capacidade do governo de fixar a Despesa, tornando-se, no momento de sua arrecadação, instrumento condicionante da execução orçamentaria da despesa. Dessa forma, a seguir vamos explanar os aspectos e conceitos de receita pública. 2.1.1 Conceito Existem vários conceitos sobre a Receita na Doutrina do Direito Financeiro, mas basicamente a ideia é a deque todo o ingresso de dinheiro nos cofres públicos, que estejam destinados ao atendimento das demandas da sociedade, seja considerado receita. De uma forma geral e resumida, os autores que discorrem sobre finanças públicas caracterizam a receita pública como um conjunto de recursos financeiros que ingressam nos cofres públicos oriundos de seus fatos geradores (orçamentários ou extraorçamentários), sem quaisquer reservas ou correspondências no passivo, e que trarão acréscimos ao patrimônio. Devemos ressaltar uma importante característica da Receita, que é o fato de produzir aumento do patrimônio. Dessa forma, qualquer ingresso em entidade pública que caracterize uma obrigação ou seja um recurso sob “guarda” da entidade, enquanto perdurar a obrigação 40 da entidade para com o terceiro, não deverá ser classificado como receita. A principal receita pública é a receita tributária, aquela proveniente de arrecadação de tributos, que tem como espécie: impostos, taxas e contribuições. A seguir, temos três quadros que ilustram as competências para a criação e cobrança efetiva dos impostos e suas características. No entanto, para que seja possível a compreensão dessas características, segue uma breve descrição dos termos acerca dos tributos: Direto ou Indireto: tributos diretos se referem aos que incidem sobre a renda ou propriedade do cidadão (ex.: Imposto de Renda e IPVA); enquanto os indiretos incidem sobre o produto e os serviços que as pessoas consomem (ex.: ICMS). Progressivo ou regressivo: progressivo é o tributo que aumenta à proporção que os valores sobre os quais incide também aumentam, constituindo uma relação inversa ao nível de renda do contribuinte. Isso quer dizer que o Imposto de Renda e o IPTU são exemplos de tributos progressivos, pois, teoricamente, cobram mais de quem tem mais poder de contribuir. Ao contrário, o regressivo é aquele que diminui à proporção que os valores sobre os quais incide aumentam, ou seja, em tese, cobra proporcionalmente mais de quem possui menor capacidade contributiva. Um exemplo de regressividade são os impostos que incidem sobre o consumo. Vinculado ou não vinculado: os vinculados são aqueles cobrados de acordo com uma prestação de serviço específica. Como exemplos, temos as taxas, as contribuições de melhoria e os empréstimos compulsórios. Os não vinculados são aqueles que se originam de um fato gerador do contribuinte que está previsto em Lei, como o Imposto de Renda. 41 Quadro 1 – Impostos Federais Impostos Federais Imposto de Importação (II) Imposto de Exportação (IE) Imposto de Renda (Pessoas Física e Jurídica) (IR) Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) Imposto Territorial Rural (ITR) Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) Indireto Indireto Direto Indireto Indireto Direto Direto Regressivo Regressivo Progressivo Regressivo Regressivo Progressivo Progressivo Não vinculado Não vinculado Não vinculado Não vinculado Não vinculado Não vinculado Não vinculado Fonte: elaborado pela autora. Quadro 2 – Impostos Estaduais Impostos Estaduais Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e sobre Doações (ITCMD) Indireto Direto Direto Regressivo Progressivo Progressivo Não vinculado Não vinculado Não vinculado Fonte: elaborado pela autora. Quadro 3 – Impostos Estaduais Impostos Municipais Imposto sobre Serviços (ISS) Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) Imposto sobre a Transmissão Intervivos de Bens e Imóveis (ITBI) Indireto Direto Direto Regressivo Progressivo Progressivo Não vinculado Não vinculado Não vinculado Fonte: elaborado pela autora. A Lei n. 4.320/64, art. 51, II, trata da Receita: Nenhum tributo será exigido ou aumentado sem que a lei o estabeleça; nenhum será cobrado em cada exercício sem prévia autorização orçamentária, ressalvados a tarifa aduaneira e o imposto lançado por motivo de guerra. (BRASIL, 1964) 42 A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) prevê que nenhum tributo será exigido ou aumentado sem que a lei o estabeleça (BRASIL, 1988, art. 150, I), bem como proíbe cobrar tributos no mesmo exercício financeiro em que havia sido publicada a lei que o instituiu ou aumentou (BRASIL, 1988, art., 150, III, b). Assim, a exigência ou o aumento de tributos só deve ocorrer por meio de lei, a qual deverá entrar em vigor até o último dia do exercício anterior àquele em que a sua cobrança se efetivar, independentemente da prévia autorização orçamentária (BRASIL, 1988). Portanto, um tributo só poderá valer a partir do ano seguinte em que foi criado! É importante destacar quem mesmo que à época de sua criação o orçamento já tenha sido aprovado e publicado, ainda assim entrará em vigor no ano seguinte. A Lei n. 5.172, de 1966 (Código Tributário Nacional) (BRASIL, 1966) não mais se refere à prévia autorização orçamentária, como prescrevia a Constituição de 1946 e a de 1967. A Emenda de 1969 não subordina a aplicação da lei tributária à autorização formal do orçamento, bastando que esteja em vigor até 31 de dezembro. A título de ilustração, trazemos o art. 11 da Lei n. 4.320/64, que trata da classificação da Receita no Brasil. Art. 11 A receita classificar-se-á nas seguintes categorias econômicas: Receita Corrente e Receitas de Capital. § 1º. São receitas correntes as receitas tributárias, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes. §2º. São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito 43 público ou privado destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital e, ainda, o superávit do Orçamento Corrente. §3º. O superávit do Orçamento Corrente, resultante do balanceamento dos totais das receitas e despesas correntes, apurado na demonstração a que se refere o Anexo 1, não constituirá item da receita orçamentária. §4º. A classificação da receita obedecerá ao seguinte esquema: RECEITAS CORRENTES RECEITA TRIBUTÁRIA Impostos Taxas Contribuições de Melhoria RECEITA DE CONTRIBUIÇÕES RECEITA PATRIMONIAL RECEITA AGROPECUÁRIA RECEITA INDUSTRIAL RECEITA DE SERVIÇOS TRANSFERÊNCIAS CORRENTES OUTRAS RECEITAS CORRENTES RECEITAS DE CAPITAL OPERAÇÕES DE CRÉDITO ALIENAÇÃO DE BENS AMORTIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS TRANSFERÊNCIAS DE CAPITAL OUTRAS RECEITAS DE CAPITAL. (BRASIL, 1964) Dessa forma, examinamos bem rapidamente a questão da receita para que fosse possível identificar as principais previsões para a construção do orçamento na Administração Pública. 44 2.2 Despesa Com base na previsão das receitas feita no orçamento, chega a hora de determinar quais serão as despesas que deverão ser contempladas para a realização dos programas elencados no PPA. Cabe lembrar que para essa realização é necessário que seja feita uma priorização, já que as despesas são as mais diversas entre os programas, de acordo com as diretrizes declaradas na LDO. Vamos então, a seguir, estudar a caracterização e a forma como as despesas estão organizadas na Administração Pública. 2.2.1 Classificação da Despesa Orçamentária A despesa orçamentária está dividida em classes/grupos e se estrutura de forma a atender às demandas de necessidades de informação tanto do agente público quanto da sociedade em geral, para que esta possa exercer seu direito de cidadania na participação do processo orçamentário. A classificação da despesa orçamentária tem por finalidade permitir respostas a perguntas como: • Quanto o município do Rio de Janeiro gasta com a Folha de Pagamento?• Quanto o Governo Federal está aplicando no Programa Bolsa Família? • Quanto do total do orçamento é gasto na Função Saúde? • Quanto os governos federais, estaduais ou municipais gastam com investimento? 45 O modelo brasileiro de classificação da despesa orçamentária observa quatro critérios: 1. Classificação Institucional (ou departamental) – responde à questão: quem é responsável pela programação? 2. Classificação Funcional e Estrutura Programática – responde às questões: em que área de ação governamental a despesa será realizada; e o que fazer e para que fazer (finalidade). A partir da descrição do Programa e de seus elementos, outras questões poderão ser respondidas: por que é feito (problema a atender); para quem é feito (público-alvo); quais os resultados esperados (indicadores); “qual o resultado (produto); entre outras. 3. Classificação por natureza de despesa: Categoria Econômica, grupo de natureza, modalidade de aplicação e elemento de despesa. Responde às questões sobre o efeito econômico da realização da despesa, em qual classe de gasto será realizada a despesa, qual a estratégia para a realização da despesa e quais insumos se pretende utilizar ou adquirir. 4. Classificação por fonte de recurso: de onde virão os recursos para determinada despesa? É o agrupamento por natureza das receitas. A partir dessa organização, o orçamento público se torna um instrumento de síntese e análise. Ele proporciona uma representação das variações dos elementos patrimoniais, até os menores níveis de detalhamento, e permite o agrupamento das contas para se ter uma visão sistêmica dos resultados alcançados pela gestão. 2.2.2 Etapas da Execução da Despesa Além dos estágios da despesa previstos na Lei n. 4.320/64 (BRASIL, 1964), que são empenho, liquidação e pagamento, a execução 46 orçamentária passa por várias etapas, podendo ser consideradas as seguintes: • Previsão Orçamentária: engloba todas as fases do planejamento, contendo o PPA, a LDO e a LOA. • Descentralização/movimentação dos créditos orçamentários: distribuição dos valores autorizados pela Lei Orçamentária para a execução das despesas. • Processo licitatório: processo administrativo que compreende a elaboração de projetos para a aquisição de bens ou serviços, locação ou alienação, com a escolha da proposta mais vantajosa para a Administração Pública. • Emissão de nota de empenho: ato administrativo que implica a reserva de parcela do orçamento para a execução da despesa específica. Terminado o processo licitatório, a administração pública emite a nota de empenho ao fornecedor como promessa de contratação e pagamento. É importante ressaltar que a nota de empenho só poderá ser emitida quando houver recursos orçamentários suficientes para a sua cobertura. • Assinatura de contrato: formalização que implica a efetiva assunção de compromisso entre as partes envolvidas na realização da despesa – governo e fornecedor. Somente pode ser realizada após a emissão do respectivo empenho. • Entrega dos bens ou serviços pelas partes contratadas: pode ocorrer muitas vezes em um prazo que se estende para além do exercício correspondente. Dessa forma, as despesas correspondentes a outros exercícios serão inscritas em restos a pagar. • Liquidação da despesa: ato administrativo que implica o reconhecimento formal de que o fornecedor entregou o produto 47 em conformidade com as especificações constantes do contrato. São assumidas a recepção desse bem ou serviço e a obrigação do pagamento. Assim, concretiza-se a fase final da execução orçamentária. • Retenção de tributos, nos casos em que a legislação define o órgão público como substituto tributário na operação. Nos casos de despesa de pessoal, há também retenções (consignações em folha) autorizadas pelos beneficiários. • Efetivação do pagamento ao beneficiário e recolhimento dos valores retidos – tributos e consignações (concretiza-se a execução financeira). É importante destacar a diferença entre a liquidação, que é a assunção da obrigação do pagamento, e o desembolso, que é de fato a execução financeira. 3. Créditos Adicionais E se, após a aprovação da lei de orçamento, houvesse a necessidade de alteração, como aumentar a dotação orçamentária de algum elemento de despesa de um programa específico que não havia sido previsto? Sabemos que o orçamento foi criado como uma ferramenta de controle gerencial e, portanto, não deve ser “engessado”. De alguma forma deve haver mecanismos para que possa ser alterado com o propósito de alcançar seus objetivos. Para isso, temos a figura dos créditos adicionais, uma vez que o orçamento, durante a sua execução, pode ser alterado por vários motivos, como repriorizações dos gastos, variações de preço de mercado de bens e serviços, omissões orçamentárias, correções no planejamento e programação, reformas administrativas etc. O art. 40 da Lei n. 4.320/64 (BRASIL, 1964) trata como créditos adicionais as autorizações de despesas não computadas ou insuficientemente 48 dotadas na Lei do Orçamento e os classifica em seu art. 41 (BRASIL, 1964) em: • Suplementares. • Especiais. • Extraordinários. 3.1 Créditos Suplementares Os créditos suplementares são aqueles destinados ao reforço de dotação orçamentária previsto no art. 41, I, da Lei n. 4.320/64 (BRASIL, 1964). Assim, imaginemos que o programa XYZ não tem recurso suficiente para suas despesas planejadas e que, assim, precise de suplementação. O orçamento inicial poderá ser reforçado com recursos adicionais, aberto por decreto do Poder Executivo, ou por Lei, conforme autorização da lei orçamentária. 3.2 Créditos Especiais Os créditos especiais destinam-se à cobertura de despesas para as quais não havia dotação orçamentária específica, estando previstos no art. 41, II, da Lei n. 4.320/64 (BRASIL, 1964). Esse tipo de crédito destina-se, por exemplo, à introdução de um novo programa, projeto ou atividade, com a necessidade de seus recursos; reforma administrativa em que foram criados novos cargos ou um novo órgão a ser criado. Tanto os créditos suplementares quanto os especiais serão autorizados por lei e abertos por decreto executivo (BRASIL, 1964, art. 42) 49 3.3 Créditos Extraordinários Os créditos extraordinários destinam-se à cobertura de despesas urgentes e imprevisíveis, como em caso de guerra, subversão interna ou calamidade pública (BRASIL, 1988, art. 167, §3º). São abertos por decreto do Poder Executivo, que dará imediato conhecimento ao Poder Legislativo (BRASIL, 1964, art. 41, III e art. 44). Devemos nos atentar para a diferença entre fatos imprevistos e fatos imprevisíveis. A expressão de fatos imprevistos admite o erro de previsão, ao passo que fatos imprevisíveis são aqueles que estão acima ou além da capacidade humana de prevê-los. 3.4 Cobertura de Créditos Adicionais A abertura de crédito suplementar ou especial depende de prévia autorização legislativa e de disponibilidade de recursos indicados especificamente para a sua cobertura (BRASIL, 1988, art. 167, V) e da existência de recursos disponíveis para a cobertura das despesas, devendo sempre ser precedida da exposição de motivos que justifiquem a necessidade do crédito. • Superávit financeiro apurado em balanço patrimonial do exercício anterior, que vem a ser a diferença positiva entre o ativo financeiro e o passivo financeiro, incluídos os saldos dos créditos adicionais transferidos (aqueles aprovados nos últimos quatro meses do exercício anterior) e as operações de crédito a eles vinculadas “superávit líquido”. (BRASIL, 1964, art. 43, §1º, I, e §2º) • Recursos provenientes de excesso de arrecadação, ou seja, o saldo positivo das diferenças, acumuladas mês a mês, entre a arrecadação prevista e a realizada, levando-se em consideração também a tendência do exercício e deduzindo-se a importância dos créditos extraordinários abertos no exercício. (BRASIL, 1964, art. 43, §§ 3º e 4º) 50 • Recursos resultantes de anulaçãoparcial ou total de dotações orçamentárias ou de créditos adicionais autorizados em lei. (BRASIL, 1964, art. 43, § 1º, III) • Produto de operações de crédito autorizadas, em forma que juridicamente possibilite o Poder Executivo realizá-las. (BRASIL, 1964, art. 43, § 1º, IV) Os recursos resultantes de anulação parcial ou total de dotações ou de créditos adicionais devem ser indicados no ato que abre o crédito. É necessário oferecer com cautela os recursos para serem anulados e utilizados na cobertura de créditos, a fim de não reduzir dotações de despesas consideradas essenciais e prioritárias ou de programação em andamento. Nesta aula, pudemos aprender acerca da execução financeira e orçamentária, destacando sua organização e estrutura enquanto receitas e despesas e seus créditos adicionais. Referências Bibliográficas ALBUQUERQUE, Claudiano; MEDEIROS, Márcio; FEIJÓ, Paulo Henrique. Gestão de Finanças Públicas. 2. ed. Brasília: Coleção Gestão Pública, 2008. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 21 out. 2020. BRASIL. Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2000]. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm. Acesso em: 21 out. 2020. BRASIL. Lei n. 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços [...]. Brasília, DF: Presidência da República, [1964]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l4320.htm. Acesso em: 21 out. 2020. BRASIL. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm 51 e Municípios. Brasília, DF: Presidência da República, [1966]. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm. Acesso em: 21 out. 2020. HARADA, Kyoshi. Direito Financeiro e Tributário. São Paulo: Atlas, 2008. REIS, Heraldo da Costa; MACHADO JR, José Teixeira. A Lei 4.320 comentada e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm 52 O Controle da Execução Orçamentária Autoria: Veruska Evanir Pereira Leitura crítica: Pedro Libaldi Neto Objetivos • Introduzir os conceitos e a estrutura sobre Controle Interno e Externo e Controle Social, contextualizados para a Administração Pública. • Caracterizar a funcionalidade dos Controles Externo e Interno na administração financeira e orçamentária no Brasil. • Ressaltar a importância do Controle Social. 53 1. Introdução O Orçamento Público é o instrumento do Estado utilizado para gerenciar as demandas da sociedade. Esse gerenciamento, de uma forma resumida, contém o recebimento das receitas, a execução das despesas e a figura do Controle (ou Fiscalização), que se faz presente para que seja possível acompanhar todo o processo de orçamentação, a fim de verificar se o que foi planejado está sendo executado de forma eficiente, eficaz e efetiva. Assim, temos as figuras dos Controles Externos e Internos e do Controle Social. Para que possamos discorrer sobre o controle da execução orçamentária na Administração Pública, faz-se necessária uma introdução acerca do tema controle. O controle é algo que está presente no nosso dia a dia e é inerente às atividades de todos nós. Segundo o dicionário Aurélio, controle “é a fiscalização exercida sobre a atividade de pessoas, órgãos, departamentos ou sobre produtos etc., para que tais atividades, ou produtos, não se desviem das normas preestabelecidas” (FERREIRA, 2014). De uma forma geral, podemos analogamente afirmar que o controle pode ser comparado à fiscalização. Voltemos ao exemplo do orçamento doméstico. Vamos imaginar uma família composta pelo pai, pela mãe e pelos três filhos. A renda familiar total é composta pelas receitas dos salários do pai e da mãe, e as despesas são divididas entre os integrantes de acordo com suas necessidades e prioridades. À mãe coube a tarefa da distribuição e dos pagamentos das despesas que foram previamente definidas de acordo com a capacidade de receitas e com as prioridades de cada um. Também coube a ela ao marido se os recursos foram aplicados devidamente e se, por exemplo, o dinheiro investido no curso extra de violão de um dos filhos está trazendo resultados positivos no 54 aprendizado desse instrumento. O pai por sua vez irá se apropriar das análises de sua esposa sobre a execução dos gastos e concluir se o desempenho está de acordo com o que foi planejado e acordado para então tomar as decisões sobre o futuro das atividades de sua família. Esse cenário descrito retrata grosso modo a figura do controle interno, feito pela mãe, e do controle externo, feito pelo pai. Dessa mesma forma funciona a Administração Pública. Depois de analisar as necessidades da sociedade, prever as receitas, planejar as despesas de acordo com as prioridades para o período e executar os recursos nos programas de trabalho, faz-se necessária a análise da forma como esses recursos foram aplicados e os resultados que eles trouxeram. Então, podemos concluir que os controles interno e externo também existem e são figuras muito importantes para a Administração Pública e para o desenvolvimento de uma sociedade. 2. Fiscalização e Controle dos Orçamentos Públicos Ao direito de autorizar as receitas orçamentárias, seguiu-se o direito de autorizar as despesas no âmbito da Administração Pública, dando assim o nascimento ao orçamento como instrumento fiscalizador da atividade financeira do Estado, com o escopo de coibir os abusos dos governantes, ou mesmo qualquer desvio do que previamente havia sido planejado. Essa descrição é citada por muitos autores que falam sobre Finanças e Orçamentos Públicos. Já a Constituição Federal Brasileira dispõe sobre esse assunto em seu art. 70. Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das 55 subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder. (BRASIL, 1988) A Lei n. 4.320/64 também traz a questão em seu art. 75. Art. 75. O controle da execução orçamentária compreenderá: I. a legalidade dos atos de que resultem a arrecadação da receita ou a realização da despesa, o nascimento ou a extinção de direitos e obrigações; II. a fidelidade funcional dos agentes da administração responsáveis por bens e valores públicos; e III. o cumprimento do programa de trabalho expresso em termos monetários e em termos de realização de obras e prestação de serviços. (BRASIL, 1964) A análise sobre a atuação da Lei n. 4.320/64 (BRASIL, 1964) sobre o controle da execução do orçamento no art. 75 e em seus Incisos I, II e III pode ser descrita da seguinte forma: No inciso I (BRASIL, 1964), a lei define a universalidade do controle abrangendo todos os atos da Administração, sem exceção, que tratem da receita ou da despesa; quer sejam atos que repercutem o nascimento ou a extinção de direitos (ativos), ou o nascimento ou a extinção de obrigações (passivos). Se a Administração deixar de