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Indaial – 2020 RecuRsos HídRicos Prof. Alexandre Schweitzer 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. Alexandre Schweitzer Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: S413r Schweitzer, Alexandre Recursos hídricos. / Alexandre Schweitzer. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 237 p.; il. ISBN 978-65-5663-254-4 ISBN Digital 978-65-5663-251-3 1. Recursos hídricos - Desenvolvimento. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 551.48 ApResentAção A relação da sociedade com os recursos hídricos é tão próxima que pode passar despercebida por muitos indivíduos. A água é muito mais do que um recurso a nosso alcance, é parte integrante do nosso próprio ser. Somos organismos vivos, organizados em corpos que dependem de água para se manter, afinal, sabemos instintivamente da recomendação de sempre beber água. Apesar da constante necessidade de água que temos, muitos hábitos cotidianos que algumas pessoas possuem podem estar contribuindo para a diminuição da água disponível para o consumo. Com isso, o papel dos profissionais de educação e meio ambiente é fundamental para auxiliar os indivíduos a desenvolverem a percepção da importância da manutenção de um equilíbrio entre utilização e conservação dos recursos hídricos do Planeta. Assim, o livro didático da disciplina de Recursos Hídricos da UNIASSELVI apresenta, em seu conteúdo, um olhar interdisciplinar. A partir da perspectiva da geografia, que considera tanto as questões físicas quanto as questões humanas, os temas abordados neste livro irão acompanhar o principal elemento desta disciplina: a água. A Unidade 1 do livro apresenta primeiramente o aspecto mais elementar dos recursos hídricos, ou seja, a água como elemento químico, com as características e propriedades únicas que regem seu o comportamento. A estrutura molecular da água formada por átomos e seus elétrons resultam em aspectos próprios do elemento químico que são apresentados nessa primeira unidade. As características biológicas, químicas e físicas da água também são discutidas. Assim como as propriedades físicas de coesão, tensão superficial, propriedades térmicas, mudanças de estado físico da água, são abordadas logo na sequência. As características da água são conhecimentos importantes para levar o leitor ao melhor entendimento do tópico seguinte, que trata do ciclo hidrológico, que é o ciclo de renovação da água no Planeta. O ciclo hidrológico complementa a reflexão do tópico seguinte, que trata das águas do planeta terra, em que são apresentadas informações que destacam a diminuta porção de água doce disponível no Planeta. Ainda, descortina uma visão sobre o planeta Terra que permite analisar a perspectiva de hemisfério terrestre e hemisfério oceânico. A quantidade de água disponível no planeta ao longo da história geológica, desde o início até os atuais, reservatórios superficiais e subterrâneos, bem como as reservas de água na atmosfera, que incluem as nuvens – que são apresentadas finalizando a Unidade 1. A Unidade 2 inicia com o conceito de bacia hidrográfica, seguido por uma apresentação dos aspectos importantes na caracterização e delimitação das bacias hidrográficas e do uso e ocupação do solo. Os aspectos físicos da geomorfologia das bacias hidrográficas trazem elementos importantes da dinâmica da evolução das formas, bem como dos fluxos de chuva e a infiltração no solo. Em seguida a classificação da hierarquia fluvial é discutida apresentando as duas metodologias mais aceitas para essa ordenação dos cursos de água. A fisiografia fluvial é apresentada na unidade 2, oferecendo ao conteúdo conceitos importantes que compõe o entendimento da forma dos rios e do aspecto dos canais e dos tipos de drenagem. A distribuição mundial dos recursos é discutida na sequência e leva ao entendimento da escassez do recurso em muitas partes do Mundo, também destaca os grandes aquíferos e as grandes bacias hidrográficas dos cinco continentes, bem como a distribuição das geleiras ao redor do Planeta. Ainda, na unidade 2, são apresentadas as regiões hidrográficas do Brasil. O uso e conservação dos recursos hídricos é o tema da Unidade 3 deste livro. O uso da água é discutido, colocando em pauta os aspectos relacionados à água potável, saneamento básico e recreação e lazer, geração de energia elétrica e as hidrovias brasileiras, que são importantes vias de transporte. A poluição dos recursos hídricos é discutida iniciando pela apresentação do conceito e tipos de poluição. Em seguida, aborda-se o combate à poluição e o tratamento de esgotos. Os riscos à saúde por conta das doenças que podem ser transmitidas através da água são apresentados. Posteriormente, o último tópico do livro aborda o uso legal dos recursos hídricos, destaca a constituição federal, a lei das águas, apresenta a Agência Nacional de Águas e o Plano nacional de recursos hídricos, também descreve o enquadramento em classes dos corpos de água. Os aspectos legais sobre a outorga de uso, a cobrança do uso, e o estabelecimento do sistema de informações sobre recursos hídricos também são apresentados. Assim como as condições e padrões de lançamento de efluentes, uma breve apresentação dos comitês de bacia. Finalizando o livro o aproveitamento das águas pluviais ganha destaque e apresenta algumas ações exitosas de reaproveitamento das águas da chuva. Os conteúdos apresentados neste livro estão fundamentados nas bibliografias descritas nas referências bibliográficas. Todavia, é recomendado a todo acadêmico que busque ampliar o seu saber. Diante disso, vá além, construa a sua própria história, aproveite os seus estudos de nível superior para saber mais. Parabéns por estar aqui. Bons estudos! Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA sumáRioUNIDADE 1 — A ÁGUA ....................................................................................................................... 1 TÓPICO 1 — O QUE É A ÁGUA? ....................................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 ESTRUTURA MOLECULAR DA ÁGUA ........................................................................................ 4 3 CARACTERÍSTICAS DA ÁGUA ..................................................................................................... 7 3.1 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS ................................................................................................ 8 3.2 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS .................................................................................................... 10 3.3 CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DA ÁGUA ..................................................................... 11 4 PROPRIEDADES FÍSICAS DA ÁGUA ......................................................................................... 11 4.1 COESÃO ........................................................................................................................................ 12 4.2 TENSÃO SUPERFICIAL .............................................................................................................. 12 4.3 ADESÃO ......................................................................................................................................... 13 5 PROPRIEDADES TÉRMICAS DA ÁGUA ................................................................................... 14 5.1 MUDANÇA DE FASE DA ÁGUA ............................................................................................. 14 5.2 DENSIDADE ................................................................................................................................. 15 5.3 VISCOSIDADE .............................................................................................................................. 16 6 PARÂMETROS DE ANÁLISE DA ÁGUA ................................................................................... 16 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 21 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 22 TÓPICO 2 — CICLO HIDROLÓGICO ............................................................................................ 25 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 25 2 CICLO DA ÁGUA ............................................................................................................................. 25 3 PROCESSOS DO CICLO HIDROLÓGICO NA RENOVAÇÃO DA ÁGUA DO PLANETA ..................................................................................................................................... 28 4 PRINCIPAIS FORÇAS ATUANTES NO CICLO HIDROLÓGICO ........................................ 36 5 INFLUÊNCIA ANTRÓPICA NAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: AS CONSEQUÊNCIAS PARA O CICLO HIDROLÓGICO ...................................................... 38 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 40 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 42 TÓPICO 3 — AS ÁGUAS DO PLANETA TERRA ......................................................................... 45 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 45 3 ÁGUA NO PLANETA TERRA ........................................................................................................ 48 4 O VOLUME DE ÁGUA NO PLANETA AO LONGO DO TEMPO GEOLÓGICO ................ 53 5 PROCESSOS ADIABÁTICOS, DIABÁTICOS E GRADIENTE ADIABÁTICO .................. 63 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 67 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 72 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 74 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 76 UNIDADE 2 — ANÁLISE DE BACIAS HIDROGRÁFICAS ....................................................... 79 TÓPICO 1 — BACIAS HIDROGRÁFICAS ..................................................................................... 81 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 81 2 CONCEITO DE BACIA HIDROGRÁFICA .................................................................................. 81 3 CARACTERIZAÇÃO DE UMA BACIA HIDROGRÁFICA ..................................................... 82 4 DELIMITAÇÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS ..................................................................... 83 5 CURVAS DE NÍVEL .......................................................................................................................... 85 6 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO ...................................................................................................... 85 7 ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS ............................. 88 7.1 FLUXOS DE CHUVA: INFILTRAÇÃO NO SOLO E ESCOAMENTO ................................. 88 7.2 ORDEM DOS RIOS: HIERARQUIA FLUVIAL ........................................................................ 89 7.3 CANAIS: RETILÍNEOS, ANASTOMOSADOS, MEANDRANTES ...................................... 94 7.4 ZONA RIPÁRIA: ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL ....................................................... 98 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 99 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 101 TÓPICO 2 — DISTRIBUIÇÃO MUNDIAL DOS RECURSOS HÍDRICOS ........................... 103 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 103 2 RESERVAS DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS ............................................................................... 104 3 RESERVAS DE ÁGUAS SUPERFICIAIS ................................................................................... 109 3.1 BACIAS HIDROGRÁFICAS DA ÁSIA .................................................................................... 109 3.2 BACIAS HIDROGRÁFICAS DA OCEANIA .......................................................................... 111 3.3 BACIAS HIDROGRÁFICAS DA EUROPA ............................................................................. 112 3.4 BACIAS HIDROGRÁFICAS DA ÁFRICA .............................................................................. 114 3.5 BACIAS HIDROGRÁFICAS DAS AMÉRICAS ...................................................................... 115 4 DISTRIBUIÇÃO DAS GELEIRAS NO PLANETA TERRA .................................................... 119 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 121 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 122 TÓPICO 3 — DIVISÕES HIDROGRÁFICASDO BRASIL....................................................... 125 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 125 2 DIFERENÇAS ENTRE BACIA HIDROGRÁFICA E REGIÃO HIDROGRÁFICA ............ 125 3 A HIDROGRAFIA BRASILEIRA ................................................................................................. 127 3.1 REGIÃO HIDROGRÁFICA TOCANTINS-ARAGUAIA ...................................................... 127 3.2 REGIÃO HIDROGRÁFICA ATLÂNTICO NORDESTE OCIDENTAL .............................. 129 3.3 REGIÃO HIDROGRÁFICA PARNAÍBA ................................................................................ 131 3.4 REGIÃO HIDROGRÁFICA ATLÂNTICO NORDESTE ORIENTAL .................................. 133 3.5 REGIÃO HIDROGRÁFICA SÃO FRANCISCO ..................................................................... 135 3.6 REGIÃO HIDROGRÁFICA ATLÂNTICO LESTE ................................................................. 138 3.7 REGIÃO HIDROGRÁFICA ATLÂNTICO SUDESTE ........................................................... 139 3.8 REGIÃO HIDROGRÁFICA PARANÁ ................................................................................... 141 3.9 REGIÃO HIDROGRÁFICA PARAGUAI ................................................................................ 143 3.10 REGIÃO HIDROGRÁFICA URUGUAI ................................................................................ 145 3.11 REGIÃO HIDROGRÁFICA ATLÂNTICO SUL ................................................................... 146 3.12 REGIÃO HIDROGRÁFICA AMAZÔNICA ......................................................................... 148 4 A IMPORTÂNCIA DA AMAZÔNIA NA DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NA AMÉRICA DO SUL ........................................................................................... 151 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 154 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 155 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 157 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 159 UNIDADE 3 — USO E CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS ............................. 165 TÓPICO 1 — USO DOS RECURSOS HÍDRICOS ....................................................................... 167 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 167 2 ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO BÁSICO E LAZER ....................................................... 168 2.1 POTABILIDADE ......................................................................................................................... 168 2.2 BALNEABILIDADE ................................................................................................................... 169 3 USOS FREQUENTES DA ÁGUA E ASPECTOS AMBIENTAIS RELACIONADOS ........... 169 3.1 ABASTECIMENTO HUMANO ................................................................................................ 169 3.2 CONSUMO INDUSTRIAL ........................................................................................................ 170 3.3 CONSUMO AGROPECUÁRIO ................................................................................................ 170 3.4 RECREAÇÃO .............................................................................................................................. 171 3.5 SANEAMENTO .......................................................................................................................... 172 4 A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA NA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ........................ 172 4.1 ENERGIA HIDRELÉTRICA ...................................................................................................... 173 4.2 ENERGIA MAREMOTRIZ ........................................................................................................ 173 4.3 ENERGIA ONDOMOTRIZ ....................................................................................................... 174 4.4 ENERGIA NUCLEAR ................................................................................................................ 174 4.5 TRANSPORTE: AS HIDROVIAS BRASILEIRAS ................................................................... 176 4.6 HIDROVIA DO SOLIMÕES AMAZONAS............................................................................. 176 4.7 HIDROVIA DO MADEIRA ....................................................................................................... 177 4.8 HIDROVIA DO MERCOSUL .................................................................................................... 178 4.9 HIDROVIA DO PARAGUAI ..................................................................................................... 179 4.10 HIDROVIA DO PARNAÍBA ................................................................................................... 180 4.11 HIDROVIA DO SÃO FRANCISCO ....................................................................................... 181 4.12 HIDROVIA DO TAPAJÓS/TELES PIRES .............................................................................. 182 4.13 HIDROVIA PARANÁ TIETÊ .................................................................................................. 183 4.14 HIDROVIA TOCANTINS-ARAGUAIA ............................................................................... 184 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 186 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 188 TÓPICO 2 — POLUIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS ......................................................... 189 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 189 2 O QUE É POLUIÇÃO? .................................................................................................................... 190 3 TIPOS DE POLUIÇÃO ................................................................................................................... 190 3.1 POLUIÇÃO NATURAL ............................................................................................................. 191 3.2 POLUIÇÃO INDUSTRIAL ........................................................................................................ 191 3.3 POLUIÇÃO URBANA ............................................................................................................... 192 3.4 POLUIÇÃO AGRÍCOLA ........................................................................................................... 193 3.5 COMO EVITAR A POLUIÇÃO ................................................................................................ 195 3.6 TRATAMENTO DE ESGOTOS ................................................................................................. 196 3.7 TRATAMENTO ESGOTO RURAL ........................................................................................... 196 4 REDE COLETORA DE ESGOTOS URBANOS ......................................................................... 197 4.1 CHUVA ÁCIDA E A POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA .............................................................. 198 5 RISCOS À SAÚDE – DOENÇAS TRANSMITIDAS ATRAVÉS DA ÁGUA ....................... 198 5.1 DOENÇAS E A ÁGUA NO CORPO HUMANO ................................................................... 199 RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................201 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 202 TÓPICO 3 — USO LEGAL DOS RECURSOS HÍDRICOS ........................................................ 203 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 203 2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL ......................................................................................................... 203 2.1 CONAMA .................................................................................................................................... 205 2.2 LEI DAS ÁGUAS – n° 9.433/1997 ............................................................................................. 206 2.3 A AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA) ...................................................................... 207 3 PLANO DE RECURSOS HÍDRICOS........................................................................................... 209 3.1 ENQUADRAMENTO DOS CORPOS DE ÁGUA .................................................................. 209 4 OUTORGA DE USO ....................................................................................................................... 215 5 COBRANÇA DO USO .................................................................................................................... 216 6 SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE RECURSOS HÍDRICOS ....................................... 217 6.1 CONDIÇÕES E PADRÕES DE LANÇAMENTO DE EFLUENTES .................................... 217 6.2 CLASSIFICAÇÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS ................................................................ 218 6.3 COMITÊS DE BACIA ................................................................................................................. 218 6.4 COMPOSIÇÃO DE UM COMITÊ DE BACIA ........................................................................ 218 6.5 APROVEITAMENTO DE ÁGUAS PLUVIAIS ....................................................................... 219 6.6 CISTERNAS NO SERTÃO ......................................................................................................... 220 6.7 CAPTAÇÃO RESIDENCIAL PARA USOS NÃO NOBRES ................................................. 221 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 222 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 227 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 229 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 231 1 UNIDADE 1 — A ÁGUA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender a estrutura molecular da água; • relacionar a estrutura molecular da água com as características físicas e químicas; • relacionar as etapas do ciclo hidrológico com as características da água; • classificar os cursos d’água superficiais; • descrever os diferentes reservatórios de água do Planeta. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A ÁGUA TÓPICO 2 – CICLO HIDROLÓGICO TÓPICO 3 – AS ÁGUAS DO PLANETA TERRA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 O QUE É A ÁGUA? 1 INTRODUÇÃO Iniciaremos a leitura realizando uma reflexão sobre a água. O que vem a sua mente quando ouve a palavra água? Lembra um copo com água fresca para beber? Ou um corpo doente por desidratação? Talvez pense em um rio com águas cristalinas; ou poluídas. Vem a sua mente o racionamento por conta da seca? Ou o temor de uma enxurrada? São muitos os aspectos que envolvem a água como elemento, mas também como recurso hídrico, o recurso natural que nos estrutura como seres vivos. Pois bem, podemos refletir a água de diversas maneiras, com diferentes focos de interesse, pois a água é uma substância que está sempre presente em nossas vidas e, uma coisa é certa: sem água não existiria vida. Já que a vida orgânica na forma que conhecemos “[...] provavelmente, originou-se na água há mais de três bilhões de anos e todas as células vivas ainda dependem dela para existir” (MORAN et al., 2013, p. 29). A reflexão sobre a água pode ser levada muito além, como faz com maestria Petri ao refletir as pesquisas que envolvem o tema água: A consciência de que a água constitui o bem mais precioso para a nossa sobrevivência de que sua falta conduz à morte em tempo mais curto do que a falta de alimento, de que o progresso tecnológico contribui para o prolongamento da expectativa de vida que, somado à explosão populacional, passa a exigir um consumo cada vez maior desse líquido e de que a estabilidade do ciclo hidrológico se apoia em tênue equilíbrio das relações entre diversos fatores ambientais conduziu os pesquisadores à intensificação das investigações sobre esta preciosa substância (2006 apud SUGUIO, 2006, p. 9). A água é um composto único na natureza. Ela apresenta-se no Planeta Terra proporcionando o desenvolvimento da vida por conta do comportamento que esse elemento apresenta, justamente na faixa de amplitude térmica que ocorre no planeta. Trata-se de limites muito restritos na temperatura, que permitem que a água se apresente no planeta dessa maneira, permitindo ao elemento estabelecer as interações nos três estados físicos da matéria. Muitos aspectos podem ser abordados quando o tema central é a água, podemos relacionar a água em nosso cotidiano com aspectos de manutenção da saúde, com os diferentes tipos de florestas, com problemas urbanos, conflitos entre países, ou seja, a água é fundamental para a vida dos indivíduos, das sociedades e para manutenção dos ecossistemas. UNIDADE 1 — A ÁGUA 4 Todavia, afinal, o que podemos afirmar sobre a água? Para contribuir com as suas reflexões, nas próximas páginas o conteúdo apresentado visa oportunizar o entendimento de alguns aspectos importantes da água e suas particularidades. O texto é moldado com um apanhado de conhecimentos sobre a água, como um elemento que atua tanto em processos de modelagem da superfície terrestre, quanto possibilitando a existência da vida no planeta Terra. Como veremos a seguir a água apresenta uma estrutura simples, mas bastante particular. 2 ESTRUTURA MOLECULAR DA ÁGUA O conhecimento básico de química e física do ensino médio é importante para o melhor entendimento do contexto desse tópico. Ao mesmo tempo, todos sabemos que é muito difícil lembrar-se de todos os conteúdos que já aprendemos ao longo da vida de estudante. Assim, talvez uma revisão nos conceitos de química e física que aparecem nesse texto seja um bom auxílio para o melhor entendimento do assunto. Uma vez que os processos naturais que envolvem a água abrangem desde a base para a vida no planeta, até o desgaste de rochas no modelado da superfície da Terra, são regidos por entre outros os aspectos com relação às características específicas da água. Toda matéria é constituída por moléculas ligadas entre si, que são resultado da ligação que ocorre entre átomos. Todo átomo é formado por prótons, elétrons e neutros. A estrutura de um átomo é resultante da força de energia potencial. Essa energia potencial cria nos prótons carga positiva, nos nêutrons carga neutra e nos elétrons carga negativa. Essa é a configuração básica de toda matéria, quando a matéria é sólida as ligações são mais fixas, quando a matéria é líquida ou gasosa essas ligações são mais instáveis (FROEHLICH, 2011).No caso da água, os prótons do oxigênio têm carga elétrica positiva suficiente para atrair os elétrons do átomo de Hidrogênio, que são negativos, estabelecendo ligações suficientes para estabilizar a molécula de água por conta da estrutura molecular que é formada. Muitos já ouviram que “A água pura é um líquido incolor, inodoro, insípido...” (RICHTER; NETTO, 1991, p. 24), ou seja, é um líquido sem cor, sem cheiro e sem sabor. Todavia, dificilmente será possível encontrar água pura na natureza, pois é esperado que sempre exista alguma partícula ou elemento químico na água, mesmo em uma gota de chuva podemos encontrar outros elementos dissolvidos, pois como veremos mais adiante, por conta da eletronegatividade da própria molécula de água, atrai e se liga a outras moléculas e átomos, com isso é denominada de solvente universal. Assim, nunca é encontrada em estado de absoluta pureza na natureza. NOTA TÓPICO 1 — O QUE É A ÁGUA? 5 Uma vez que os átomos se unem através de ligações e formam as estruturas moleculares, as características e propriedades da estrutura formada estão determinadas. Assim é possível compreender que é a estrutura molecular que determina as características e propriedades, tanto eletrônicas quanto moleculares da água. A estrutura molecular da água é composta pela ligação de três átomos, são dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio, é a conhecida H2O. A molécula de água (Figura 1) se forma quando átomos de Hidrogênio e Oxigênio estabelecem o compartilhamento de seus elétrons formando uma dupla ligação covalente polar, que liga os átomos na molécula de água (MAIA, 2007; MORAN et al., 2013). A ligação entre o átomo de Oxigênio com os dois átomos de Hidrogênio (Figura 2) resulta na molécula polar, ou seja, com polos positivo e negativo (MAIA, 2007). FIGURA 1 – MODELO DE REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DA ESTRUTURA DA MOLÉCULA DE ÁGUA FONTE: Adaptada de Moran et al. (2013, p. 30) Pensando no comportamento eletrônico da molécula de água, é preciso ter em mente que os prótons no núcleo do átomo de Oxigênio têm o número atômico e de massa maior do que o Hidrogênio. Assim os prótons do Oxigênio atraem com mais força os elétrons do Hidrogênio do que o próprio e único próton que cada átomo de Hidrogênio possui. Assim, entendemos que Oxigênio é mais eletronegativo do que o Hidrogênio e por conta disso ocorre uma distribuição desigual da carga elétrica nas ligações da molécula de água, assim o oxigênio fica com carga parcial negativa e o hidrogênio com carga parcial positiva, é o que se chama de dipolo, ou ligação polar (MORAN et al., 2013). Mais especificamente, a polaridade da molécula de água ocorre, pois, o átomo do Oxigênio (O2) é tetravalente, ou seja, possui quatro pares de elétrons. O átomo de oxigênio compartilha dois pares elétrons com dois átomos de Hidrogênio, sendo um par em cada átomo. Esse compartilhamento é o suficiente para estabilizar a molécula de água e ainda ficam disponíveis dois pares de elétrons na molécula para que ocorram outras ligações. Os elétrons são negativos e na molécula de água, o oxigênio compartilha um par de elétrons com os dois hidrogênios, dessa forma sobram elétrons na molécula. Esses elétrons que não se envolvem na ligação, deixam a molécula de água com eletronegatividade. É UNIDADE 1 — A ÁGUA 6 através da eletronegatividade da molécula que é regulado o compartilhamento de elétrons para as ligações químicas (AZEVEDO; FRESQUI; TRSIC, 2014). O que estabelece no composto químico H2O características que somente a água tem. Na molécula de água representada na Figura 2 é possível observar os quatro pares de elétrons do oxigênio, sendo que dois desses pares estão ocupados no compartilhamento com o Hidrogênio e os outros dois pares de elétrons, determinando a eletronegatividade da molécula. Lembre-se: os elétrons são negativos. O compartilhamento de elétrons entre dois átomos de Hidrogênio e um átomo de Oxigênio estabiliza a molécula de água, onde cada átomo de Hidrogênio compartilha um elétron, e assim dois átomos de Hidrogênio compartilham o par de elétrons com o Oxigênio (AZEVEDO; FRESQUI; TRSIC, 2014). Com relação aos aspectos moleculares da água a geometria tetraédrica com quatro pares de elétrons tem um comportamento bastante específico, pois, na molécula de água, a estrutura em forma de V resultante do arranjo dos átomos que estabelecerem um ângulo de 104,5° entre as ligações (MORAN et al., 2013). Isso se dá, pois, o oxigênio compartilha um par de elétrons, porém como destacam Azevedo, Fresqui e Trsic (2014, p. 22) “[...] irão dar à água não uma geometria linear, mas, sim, distorcida, na qual os elétrons irão “empurrar” os hidrogênios de forma a aumentar a distância entre si e minimizar a energia de repulsão entre eles”. Perceba, ainda, na Figura 2, a geometria da molécula de água, onde o oxigênio que é tetravalente, compartilha dois pares de elétrons com dois átomos de hidrogênio, o que estabiliza a molécula de água, mas continuam disponíveis dois pares de elétrons que podem estabelecer outras ligações. É o que explica a eletronegatividade da molécula de água e justifica a denominação de molécula polar. FIGURA 2 – ÂNGULO E ESTRUTURA MOLECULAR DA ÁGUA FONTE: Adaptada de Moran et al. (2013, p. 30) A molécula de água mantém as ligações químicas através da força de ligação do hidrogênio, que são as pontes de ligação do hidrogênio, ou pontes de hidrogênio. A força de ligação do hidrogênio que ocorre entre as moléculas de água é muito fraca se for comparada com uma ligação molecular forte, ao mesmo tempo em relação ao que pode ser considerada uma ligação molecular fraca, a molécula de água apresenta ligações relativamente fortes (AZEVEDO; FRESQUI; TRSIC, 2014). TÓPICO 1 — O QUE É A ÁGUA? 7 É importante ter em mente que as moléculas de água não permanecem es- táveis por muito tempo, porém a força de ligação do hidrogênio permite que, logo após a molécula se desestabilizar separando seus átomos, estes átomos separados busquem imediatamente novos átomos na substância para formar ligações nova- mente, reestabelecendo assim o compartilhamento de elétrons estruturando molé- culas de água. Dessa forma, em uma massa líquida, moléculas de água estão cons- tantemente se desfazendo e se formando novamente em seguida, por isso a água no estado líquido possui um alto calor específico (AZEVEDO; FRESQUI; TRSIC, 2014). Sendo que as moléculas de água estão unidas entre si através das pontes de hidrogênio, como destacado por Suguio (2006, p. 21): [...] o átomo de hidrogênio (H) da molécula da água (H2O) está ligado, de fato, a dois átomos de oxigênio (O), de tal modo que pode ser representado por O-H... O. O oxigênio do O-H, com esse hidrogênio (H), representa o oxigênio (O) de uma molécula de água e... O está ligada a uma outra molécula. No interior de cada molécula de água, o hidrogênio (H) e o oxigênio (O) acham-se fortemente ligados. Ao mesmo tempo, o hidrogênio (H) está também unido ao oxigênio da molécula vizinha. Essa força é chamada de ligação por pontes de hidrogênio. Assim entendemos que as moléculas de água estão constantemente se fazendo e desfazendo, pois a força de ligação dos átomos que a compõe ao mesmo tempo que são fracas, também são fortes o suficiente para que estas ligações sejam refeitas constantemente. E essas ligações são denominadas pontes de hidrogênio e unem as moléculas de água entre si. 3 CARACTERÍSTICAS DA ÁGUA Já sabemos que é a partir da estrutura molecular que as características da água se configuram, sejam as características químicas, físicas, ou até mesmo as características biológicas. Algumas dessas características da água podem ser percebidas ao utilizar a água de forma cotidiana. A água possui características próprias muito particulares, em especial por conta das ligações de hidrogênio, conforme destacaram Azevedo, Fresqui e Trsic (2014, p. 35): Em razão das ligações de hidrogênio, a água comporta-se como uma substânciacom peso molecular cinco vezes maior do que realmente é, porque a interação faz com que as moléculas de água fiquem mais próximas umas das outras, aumentando a coesão entre elas. Também se não fosse pelas ligações de hidrogênio, os pontos de fusão e ebulição da água seriam muito diferentes [...] outra propriedade interessante é a capacidade calorífica da água [...] o que lhe permite adquirir ou perder grande quantidade de energia para mudar de estado físico. Cinco vezes maior, é algo surpreendente, pois afeta diretamente a inteiração da água com outras moléculas e atribui as características e propriedades da água, que são temas abordados a seguir. O entendimento sobre a água é importante para perceber o papel da água não só no ciclo hidrológico, ou no ciclo da vida, mas também em demais sistemas existentes no planeta Terra, como no ciclo das UNIDADE 1 — A ÁGUA 8 rochas, participando dos processos de intemperismo e erosão, ou ainda atuando na formatação da geomorfologia dos terrenos, ou mesmo no entendimento de questões sociais tanto com relação à escassez quanto no aspecto de chuvas excessivas, ou ainda no saneamento básico, na produção de alimentos, entre tantos outros aspectos que envolvem a água. 3.1 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS Dentre as características químicas da água, a denominação de (solvente universal) merece grande destaque, pois reflete a capacidade que a molécula de água tem de dissolver outras moléculas. Todavia, não é qualquer molécula que pode ser dissolvida em água. Para que a água possa dissolver uma molécula qualquer, seja orgânica ou inorgânica, esta deve obrigatoriamente ser uma molécula polar. Então em caso de moléculas apolares, como as gorduras, a dissolução não se dá de forma simples. Isso ocorre, pois, as moléculas de água possuem a capacidade de, através das ligações dos hidrogênios, que são as pontes de hidrogênio, formando os hidratos ou clatratos cristalinos, agrupando moléculas de água em volta de moléculas polares. A formação dos hidratos pode ser percebida quando se observa água e óleo em um mesmo recipiente, o que se vê é que estes não se misturam, justamente por conta do envolvimento das moléculas de água em torno das moléculas apolares do óleo (SPIRO; STIGLIANI; 2009). A eletronegatividade se explica por conta da molécula de água ficar estável ao estabelecer a dupla ligação covalente com o núcleo do oxigênio, que é positivo e por conta de seu grande tamanho consegue atrair elétrons de outras moléculas como os do hidrogênio, que ao compartilhar um par de elétrons estabiliza a molécula de água deixando elétrons ainda livres e, como estes ainda possuem carga elétrica negativa, podem atrair outros elementos ou molécula e, com isso, a água consegue atrair e se ligar a outras moléculas, formando diversos compostos. Essa característica da água de formar hidratos em volta de moléculas apolares é bastante importante. Quando tomamos a perspectiva do aquecimento global, temos o caso das moléculas de metano, que é um dos gases responsáveis pelo efeito estufa do planeta, que na forma de hidrato do metano estão fora da atmosfera, mas com a elevação da temperatura dos oceanos podem rapidamente passar para a atmosfera, ampliando ainda mais o efeito estufa. Água leve, água pesada e água dura ou prótio (¹H), deutério (²H) e trítio (³H), independente da forma de denominação dos três diferentes tipos de isótopos naturais de hidrogênio são relacionados ao peso atômico dos hidrogênios envolvidos na constituição da molécula de água. É como a água pode ser diferenciada entre si com relação ao peso atómico das moléculas, que compõe a substância. Isso se dá, pois o átomo de hidrogênio pode se apresentar naturalmente com três diferentes isótopos, que correspondem ao peso molar. Os valores de massa molar do hidrogênio determinam a denominação da molécula de água em prótio, deutério ou trítio (SUGUIO, 2006). TÓPICO 1 — O QUE É A ÁGUA? 9 Prótio é o isótopo de hidrogênio mais abundante, é uma molécula estável que apresenta apenas um próton e um elétron e tem massa molar igual a 1. Deutério, é outro isótopo estável de hidrogênio, com massa molar igual a dois, apresenta-se por um próton, um elétron e um nêutron. Trítio é o isótopo radioativo do hidrogênio, emite radiação beta, é composto por um próton, um elétron e dois nêutrons apresenta massa molar igual a três. Os isótopos de hidrogênio são naturalmente alterados durante as trocas de fase do ciclo hidrológico (SUGUIO, 2006). FIGURA 3 – ILUSTRAÇÃO DOS ISÓTOPOS DE HIDROGÊNIO, PRÓTIO COM UM ELÉTRON E UM PRÓTON, DEUTÉRIO COM UM ELÉTRON, UM PRÓTON E UM NEUTRON E O TRÍTIO COM UM ELÉTRON, UM PRÓTON E DOIS NEUTRONS FONTE: O autor Água pode ser analisada com relação a sua dureza, que é um aspecto químico determinado através da verificação da presença de íons metálicos na água para determinar a dureza do cálcio (Ca++) e do magnésio (Mg++) e em menor quantidade íons ferrosos (Fe++) e estrôncio (S++). O principal aspecto que leva ao monitoramento da dureza da água é o fato de águas duras não produzem espuma de sabão e criam incrustações em tubulações de água quente, o que em algumas indústrias pode ser um grande problema (RITCHER; NETTO, 1991), águas pesadas podem ter sabor salobra, o que prejudica o sabor para o consumo. O sabor salgado é característico da água oceânica, a salinidade é o parâmetro que indica a concentração de sólidos dissolvidos na água. O Mar Morto, localizado no deserto de Israel, tem em suas águas tamanha concentração de sais que são denominadas como hipersalinas. A concentração de sais segue aumentando conforme o Mar Morto continua evaporando, uma vez que as descargas de água que chegam ao mar morto trazem sais dissolvidos e conforme ocorre a evaporação da água, a concentração de sólidos se eleva (SUGUIO, 2006). UNIDADE 1 — A ÁGUA 10 A quantidade de sais dissolvidos na água determina também a condutividade elétrica, quanto mais sais na água maior será a condutividade (RITCHER; NETTO, 1991). 3.2 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS Uma característica física da água que a difere da maioria das substâncias é o seu comportamento anômalo. A água em estado sólido é menos densa do que no estado líquido. Isso se dá justamente pelo arranjo das moléculas ao se solidificarem formando cristais de água. Apesar de que o princípio geral da matéria faz a relação de que quanto menor a temperatura menor o volume, na água esse comportamento da matéria só é verdadeiro até os 4 °C (quatro graus centígrados). Aos 4 °C a água atinge a densidade máxima, abaixo dessa temperatura a água passa a se expandir por conta da formação de mais pontes de hidrogênio entre as moléculas, que vão se ligando mais fortemente umas às outras até atingir -29 °C, quando o aumento do volume atinge cerca de 9%. Essa expansão diminui a possibilidade de movimento dessas moléculas que se cristalizam quando a temperatura atinge 0 °C formando estruturas hexagonais, ou seja, estruturas com seis lados. Esse comportamento anômalo da água é muito interessante, pois ao mesmo tempo que apresentam a singularidade de que todo cristal de gelo ser diferente um do outro também apresenta a determinismo do princípio físico pois todos os cristais apresentam seis lados (CHRISTOPHERSON, 2012). Ao se arranjarem para a solidificação as moléculas de água passam a formar mais e mais pontes de hidrogênio e, assim, assumem a forma de cristais, ocupando um espaço maior. A densidade do gelo puro é menor do que a da água líquida. Essa diferença na densidade da água líquida para o gelo garante que o gelo flutue. Sem essa característica a água doce do Planeta estaria presa em grandes blocos de gelo no fundo dos oceanos (CHRISTOPHERSON, 2012). Assim fica entendido que o volume da água aumenta no momento da mudança de fase, quando a massa líquida se solidifica formando cristais que, devido ao arranjo hexagonal, fica com menor densidade. Isso confere à água uma característica única, pois primeiro ocorrea solidificação na superfície das massas de água, mantendo a água em estado líquido nas maiores profundidades, permitindo assim que animais possam sobreviver em lagos congelados, uma vez que apenas a superfície do lado estará congelada. TÓPICO 1 — O QUE É A ÁGUA? 11 A cor da água é importante ser analisada. Considerando que a água pura é incolor, a cor é um parâmetro que indica substâncias dissolvidas na água (RICHTER; NETTO, 1991). Em geral, a coloração é proveniente da matéria orgânica, dos metais e ainda por resíduos industriais presentes, o aspecto visual da água não determina se é ou não imprópria para o consumo, mas está bem relacionado, assim cor na água potável não é desejável (BRASIL, 2006). 3.3 CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DA ÁGUA As características biológicas da água indicam a presença ou ausência de organismos patogênicos na água como bactérias, vírus e protozoários, ou ainda algas que geram sabor e odor desagradáveis na água além de causar danos na estrutura de tratamento da água. Para examinar as características biológicas da água são realizadas análises bacteriológicas e hidrobiológicas, que englobam a contagem do número total de bactérias por centímetro cúbico, todavia uma contagem alta de bactérias não significa que há poluição, pois pode haver variações bruscas nesse parâmetro. Em geral, águas com baixos índices de poluição apresentam também baixa contagem de bactérias, porém na razão inversa o resultado não é propriamente indicador de contaminação, mas sim um parâmetro a ser considerado em conjunto com a pesquisa de bactérias coliformes, que são bactérias provenientes de intestinos de animais superiores. A pesquisa de bactérias coliformes indica a eficiência do sistema de tratamento (RICHTER; NETTO, 1991). 4 PROPRIEDADES FÍSICAS DA ÁGUA As propriedades físicas da água estabelecem os limites do comportamento da matéria água, que se apresenta de forma muito particular. Com suas características e propriedades físicas, a água se mostra uma substância única. A Densidade (d) de uma substância é o resultado da divisão da massa (m) pelo volume (V), ou seja, d=m/V. De modo geral, sólidos são mais densos do que líquidos e líquidos são mais densos do que gases, ainda de modo geral quando a temperatura diminui o volume diminui e a densidade aumenta. No caso específico da água o menor volume ocorre aos 4 °C e quando atinge 0 °C as moléculas se organizaram de tal maneira que o volume aumentou por conta do arranjo molecular ocasionado pela mudança de fase, quando a água líquida passa para a fase sólida. NOTA UNIDADE 1 — A ÁGUA 12 4.1 COESÃO A coesão é a propriedade que une as moléculas entre si, criando a resistência contra a separação através das ligações de hidrogênio. Essas ligações são as pontes de hidrogênio que levam as moléculas de água a interagem entre si, aproximando as moléculas umas das outras aumentando assim a união entre as moléculas (AZEVEDO; FRESQUI; TRSIC, 2014). Podemos perceber a força de coesão atuando quando derramamos água em uma superfície inclinada, ao observar tal ação é possível verificar que a água não se espalha completamente e tende a permanecer unida. Também é possível perceber essa força que une as moléculas de água quando estamos nos movendo dentro da água, sentimos certa resistência aos movimentos na água, mas aplicando alguma força podemos usar essa resistência para nadar, por exemplo. 4.2 TENSÃO SUPERFICIAL Na superfície da água a coesão entre as moléculas é explicada como tensão superficial, é o fenômeno que permite por exemplo que pequenos animais caminhem suavemente sobre a lâmina de água. No limite entre o ar e a última camada do líquido um arranjo diferenciado das moléculas do líquido se configuram de forma diferenciada é a tensão superficial. As moléculas se atraem umas pelas outras de moléculas de água se forma a tensão superficial, que é um fenômeno coesivo e ocorre pelo fato de as moléculas de água nessa interface se atraírem umas pelas outras e, assim, tanto as moléculas de água que estão ao lado como as que estão abaixo no líquido exercem força de atração nas moléculas da última camada (Figura 4). O que cria a tendência dessas últimas moléculas de penetrem no líquido, porém esbarram na resistência da massa líquida o que faz com que essas moléculas fiquem mais próximas entre si, mais coesas, na interface ar-água. Com as moléculas mais coesas essa última camada da água na superfície líquida tem um comportamento como o de uma película elástica. A tensão superficial é criada pelas pontes de hidrogênio que une as moléculas de água de forma suficientemente forte a ponto de permitir por exemplo que mosquitos pousem na superfície da água sem afundar, pois não rompem as pontes de hidrogênio da superfície (CHRISTOPHERSON, 2012). A tensão superficial da água é a maior dentre todos os líquidos, é a propriedade que atua em diversos fatores de controle fisiológico nos organismos vivos, mas também implica a formação de gotas e nas inteirações na superfície da água (TORRES, 2014). Devido a essa compressão das moléculas da última camada que confere uma resistência que permite inclusive que alguns animais possam caminhar sobre a superfície da água, como por exemplo a famosa imagem do mosquito da dengue pousado na superfície da água. TÓPICO 1 — O QUE É A ÁGUA? 13 FIGURA 4 – COMPORTAMENTO DAS MOLÉCULAS DE ÁGUA CRIANDO A TENSÃO SUPERFICIAL FONTE: Adaptada de <http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc16/v16_A02.pdf>. Acesso em 28 out. 2020. 4.3 ADESÃO A adesão é resultante da polaridade da molécula de água, pode ser entendida como a força de atração entre moléculas de diferentes tipos através da carga elétrica das moléculas. Assim, a adesão permite que a água possa subir através da capilaridade, por exemplo, as moléculas de água ao interagir com moléculas de uma parede de tijolos a água, no caso, a umidade sobe pela parede, ou em outros exemplos como em um tubo de vidro de laboratório de análises ou em uma mangueira de nível utilizada por pedreiros na construção de casas, onde no contato da água com a parede do tubo ou mangueira as moléculas de água são atraídas pelas moléculas da parede do tubo, fazendo a água junto às paredes ficar um pouco acima devido à ação da capilaridade. Essa forma influenciada pela capilaridade é denominada de menisco (Figura 5). FIGURA 5 – CAPILARIDADE DA ÁGUA NO INTERIOR DE UM TUBO, A) ÁGUA, B) MENISCO FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/37EWRxg>. Acesso em: 30 out. 2020. UNIDADE 1 — A ÁGUA 14 5 PROPRIEDADES TÉRMICAS DA ÁGUA A transformação da água de um estado físico para outro depende da quantidade de energia térmica liberada ou absorvida, ou seja, das mudanças de temperatura. Essa quantidade de energia deve ser capaz de afetar as pontes de hidrogênio e, como já apresentado, são estas que estabelecem as ligações entre as moléculas de água. Os processos atmosféricos estão diretamente relacionados com essas trocas de calor envolvidos nas mudanças de fase da água, tanto que, cerca de 30% (trinta por cento) da energia que movimenta os processos na circulação atmosféricos do planeta são provenientes dessas trocas de calor envolvidas na mudança do estado físico da água (CHRISTOPHENRSON, 2012). 5.1 MUDANÇA DE FASE DA ÁGUA A mudança de fase é a mudança do estado físico de uma substância. Existem três diferentes estados físicos, sólido, líquido e gasoso (AZEVEDO; FRESQUI; TRSIC, 2014). A água em estado líquido quando está a uma atmosfera, ou seja, no nível do mar, funde-se, tornando-se sólida quando a temperatura fica em 0 ºC (zero graus Centigrados) ou abaixo disso (AZEVEDO; FRESQUI; TRSIC, 2014). Para que a água líquida passe para a fase gasosa isso, pode ocorrer por evaporação ou por ebulição. A evaporação é uma mudança de fase lenta sem agitação ou formação de bolhas, já a ebulição ocorre de forma bem mais agitada com formação de bolhas. Ao nível do mar a temperatura de ebulição da água é de 100 ºC (cem graus Centígrados),em locais com maiores altitudes, onde a pressão atmosférica é menor, a temperatura de ebulição da água também será menor. É importante ter em mente que as mudanças de fase da água são resultantes das condições ambientais impostas ao elemento, devemos entender como condições ambientais temperatura e pressão. A pressão é alterada naturalmente pela altitude, quanto maior a altitude menor será a pressão atmosférica, pois haverá uma coluna menor de ar exercendo tal pressão. Dessa maneira, em elevadas altitudes, onde a pressão é menor, as temperaturas de fusão e ebulição são menores, por outro lado quando ocorre um aumento de pressão a temperatura de ebulição será maior (AZEVEDO; FRESQUI; TRSIC, 2014). Existe um ponto triplo, que remete ao estudo do diagrama de fases, que indica um ponto a determinada pressão e temperatura onde se encontram condições muito próximas para que o elemento assuma a fase líquida, sólida ou gasosa, podendo até mesmo existirem em pleno equilíbrio (AZEVEDO; FRESQUI; TRSIC, 2014). Os processos da mudança de fase recebem denominações que indicam as fases da mudança (Figura 6). A sublimação é a denominação do processo de mudança de fase que leva um sólido a passar para vapor sem derreter. Vamos relacionar com a água: assim exemplificando, é a mudança de gelo para vapor, ou o inverso de vapor para gelo. Essa mudança direta do vapor para gelo também pode ser chamada de deposição quando forma geada. A geada é o congelamento TÓPICO 1 — O QUE É A ÁGUA? 15 do vapor de água na superfície. Quando a mudança se dá no sentido inverso, ou seja, quando a transformação se dá do gelo para névoa podemos denominar mais precisamente como sublimação reversa (CHRISTOPHERSON, 2012). FIGURA 6 – MUDANÇAS DE FASE DA ÁGUA FONTE: O autor A condensação ou liquefação é quando o vapor passa para o estado líquido, como ocorre nas nuvens ao iniciar a chuva. Também podemos perceber a condensação quando em um dia quente, colocamos água gelada em um copo, se houver humidade no ar, em pouco tempo o copo ficará com gotas de água no lado externo, que há o vapor de água que compõe a humidade do ar, passando para o estado líquido ao tocar a superfície do copo. A temperatura de fusão em 0 °C e a de ebulição em 100 °C se dá por conta das pontes de hidrogênio, caso as pontes de hidrogênio não estivessem presentes essas temperaturas seriam bem inferiores, quando a fusão iria ocorrer com -110 °C e a ebulição com -90 °C. E, assim, são as pontes de hidrogênio as responsáveis pela capacidade calorífica da água, que é a característica que a água possui de adquirir ou perder grande quantidade de calor para mudar de estado físico (AZEVEDO; FRESQUI; TRSIC, 2014). 5.2 DENSIDADE A densidade é a grandeza que indica a relação entre massa e volume, assim a densidade absoluta, também denominada de massa específica, pode ser conhecida dividindo o valor da massa do corpo pelo seu volume. Por exemplo, no caso da água do mar, com temperatura de 25 °C (vinte e cinco graus Centígrados) a densidade é de 1000kg/m³ (um mil quilogramas por metro cúbico) uma vez que a massa de 1.000 kg (um mil quilogramas), ou seja, uma tonelada, para o volume de 1 m³ (um metro cúbico) (FROEHLICH, 2011). Cabe destacar que se UNIDADE 1 — A ÁGUA 16 encontramos a indicação da densidade da água do mar de 1g/cm³ (um grama por centímetro cúbico) trata-se exatamente da mesma densidade expressa em unidades diferentes. É sempre importante prestar atenção nas unidades que são utilizadas, isso vale não só para densidade da água, mas para a nossa vida cotidiana, muitas vezes a unidade utilizada para expressar determinados valores podem ser utilizadas para manipular a interpretação do leitor mais desavisado. 5.3 VISCOSIDADE Viscosidade é o que podemos entender como capacidade de escoamento, por exemplo, um líquido de baixa densidade escoará facilmente, como a água em estado líquido, por exemplo, diferente de outros produtos com densidade maior, imagine um mingau, ou um pirão, que não escoam tão facilmente como a água. A viscosidade é o parâmetro que quantifica a capacidade de escoamento da água, ou seja, a capacidade de fluir, a fluidez da água varia de acordo com a viscosidade. 6 PARÂMETROS DE ANÁLISE DA ÁGUA Pensando no consumo humano, a água potável deve estar livre de agentes patogênicos, que são microrganismos que podem causar doenças, também não pode haver a presença de bactérias que indiquem a contaminação fecal dessa água. A água destinada ao consumo humano deve ser saudável, isso significa que tal água não deve apresentar material visível em suspensão, assim como deve ser isenta de cor, sabor e odor, bem como desinfetada de organismos patológicos, bem como quaisquer substâncias que possam ser prejudiciais à saúde humana (RICHTER; NETTO; 1991). No Brasil, o Ministério da Saúde estabelece os parâmetros para determinar se a água está potável ou não através de exames bacteriológicos e análises físico-químicas (BRASIL, 2006). Trataremos do que é estabelecido em Lei, mais especificamente no Tópico 3, da Unidade 3, deste livro. Todavia, teremos em mente que conforme é através da composição química, física e bacteriológica da água que a qualidade desta pode ser definida (RITCHER; NETTO, 1991). Por hora, vamos focar no entendimento dos motivos que levam as determinações dos parâmetros das análises de água. O exame bacteriológico verifica a contaminação fecal da água através da quantificação da presença de bactérias Escherichia coli que é a principal espécie que representa o grupo das bactérias Coliformes. As bactérias Coliformes estão presentes nas fezes de animais, incluindo os humanos, assim a análise indica a presença e quantifica o grau de contaminação da água por fezes (BRASIL, 2006). A análise para verificação dos Coliformes totais e termolatentes, a contagem de bactérias heterotróficas é importante ser realizada, pois, grande concentração dessas bactérias pode alterar a detecção de coliformes mascarando o resultado da TÓPICO 1 — O QUE É A ÁGUA? 17 análise. Assim, a análise bacteriológica deve considerar a contagem de coliformes, para identificar contaminação por fezes, bem como contagem heterotrófica, que indica interferências nos resultados (BRASIL, 2006). Análise físico-química da água envolve a verificação dos parâmetros de alcalinidade total, que é a verificação da concentração de hidróxidos, carbonatos e bicarbonatos. A alcalinidade deve ser entendida como a capacidade de neutralização de ácidos. Trata-se de um parâmetro importante, pois no processo de tratamento da água se faz necessário à reação da água com o sulfato de alumínio, e como a quantidade de reagente que será adicionado é estabelecida conforme a alcalinidade da água, a verificação desse parâmetro é fundamental para o bom tratamento da água (BRASIL, 2006). Outro parâmetro que é monitorado no tratamento de água é o gás carbônico livre. O monitoramento se dá não por uma questão de saúde, mas por uma questão estrutural, já que em concentrações elevadas ocasionará corrosão de metais e cimento, materiais empregados nas tubulações de distribuição da água (BRASIL, 2006). Os cloretos, de sódio, cálcio e magnésio, estão presentes na água bruta e na tratada, uma vez que o tratamento convencional de água não é capaz de remover ou reduzir as concentrações de cloretos. Para remover os cloretos da água, podem ser utilizados dois métodos; pois em altas concentrações os cloretos afetam o sabor da água e podem inviabilizar o consumo. A concentração de cloretos na água do mar é de aproximadamente 26.000mg/l, ou seja, 26 gramas para cada litro de água (BRASIL, 2006). Dureza total da água é o parâmetro que apresenta a concentração dos íons metálicos na água, em especial de cálcio (Ca++) e de magnésio (Mg++), mas também ferrosos (Fe++) e estrôncio (S++). A dureza da água pode impedir a formação de espuma e gerar incrustações em tubulações de água quente. A dureza é um parâmetro classificado por duasmaneiras, com relação aos íons metálicos ou com relação aos ânions associados aos íons. A dureza da água pode ser classificada como mole, dureza moderada, dura e muito dura (RICHTER; NETTO, 1991). Também podemos considerar a dureza da água como temporária ou permanente. Cloreto de sódio é um dos muitos sais que podem se formar na natureza. A forma molecular do sal cloreto de sódio é NaCl. Estamos falando do que conhecemos popularmente como sal de cozinha. Considerando a alta concentração de cloretos na água do mar e sabendo que cloreto de sódio equivale a aproximadamente 85% dos sais da água do mar, podemos entender o motivo da água do mar ser salgada. NOTA UNIDADE 1 — A ÁGUA 18 As moléculas que se formam com o cálcio e o magnésio são resistentes a ação dos sabões, podendo se decompor com o calor, ou não, e assim diferenciando a dureza em: dureza temporária e dureza permanente. A dureza temporária é quando se considera a presença de bicarbonatos de cálcio ou de magnésio, é temporária, pois o calor decompõe os bicarbonatos em carbonatos insolúveis, que com isso precipitam formando incrustações, água e gás carbônico. A dureza permanente é quantificada pela presença de sulfatos, cloretos e nitratos, também de cálcio ou de magnésio, são ditas permanentes, pois formam sais solúveis e que não se decompõem com o calor (BRASIL, 2006). Sulfatos podem ter efeito laxante se consumidos com água com altas concentrações e quando associados ao cálcio e magnésio, provocam a geração de moléculas de água com dureza permanente, o que pode indicar lançamento de esgoto industrial, por conta da relação que é encontrada na decomposição da matéria orgânica no ciclo biogeoquímico do enxofre. Alguns tipos de resíduos industriais possuem elevados níveis de sulfatos que devem ser tratados, podemos citar indústrias de papel, tecelagem, curtumes entre outras (RICHTER; NETTO, 1991). Com os sulfatos, os cloretos, bicarbonatos e outros sais podem além do sabor salinizado, incidir um efeito laxante a água, sendo que os cloretos indicam contaminação por esgotos domésticos, assim como a presença do nitrogênio sendo que a quantidade deste pode indicar poluição recente ou remota, o ciclo biogeoquímico do nitrogênio permite avaliar essa distância do agente poluidor, no caso a presença do nitrogênio orgânico ou amoniacal proximidade da fonte poluidora, sendo que nitratos elevados indicam poluição remota (RICHTER; NETTO, 1991). A verificação do oxigênio dissolvido é importante no monitoramento da qualidade da água. Em águas superficiais limpas é esperada a alta concentração de oxigênio dissolvido. No entanto, pode ser consumido rapidamente quando ocorre contaminação por esgoto doméstico, o que elevará a demanda de oxigênio. Essa demanda pode ser química, que é a demanda química de oxigênio (DQO) relacionada com oxidação ou pode ser demanda bioquímica de oxigênio (DBO) relacionada com o metabolismo de bactérias aeróbicas (RICHTER; NETTO, 1991). Titulometria é a análise química que consiste, a grosso modo, de adicionar um reagente a uma determinada solução e verificar quanto reagente foi colocado (titulado) na solução até que se perceba a troca de cor, conhecendo as quantidades utilizadas, o químico responsável pela análise pode conhecer a concentração. NOTA TÓPICO 1 — O QUE É A ÁGUA? 19 A análise do pH verifica o potencial Hidrogeniônico, ou seja, quantifica a concentração do íon hidrogênico na substância. O pH é medido em uma escala que vai de 0 até 14, sendo que, o pH (zero) é o mais ácido, o pH 7 indica uma substância neutra e quando uma substância é neutra significa que a concentração de íons de hidrogênio e de hidroxila são os mesmos, com pH acima de sete a substância é alcalina, ou básica (BRASIL, 2006; RICHTER; NETTO, 1991). No tratamento e distribuição de água potável, o monitoramento do pH é importante. Deve ser testado constantemente e deve estar compreendido entre 6,5 e 9,5 uma vez que a água ácida compromete por corrosão as estruturas metálicas, de cimentos ou de concreto, enquanto com o pH mais alcalino a tendência é de ocorrer a formação de incrustações nas tubulações e reservatórios, que podem diminuir muito o fluxo de vazão e até interromper o fluxo de água (RICHTER; NETTO, 1991). A análise do pH nas diferentes fases do tratamento da água é importante, pois é um indicador de referência no tratamento de água. O sabor é originado no odor, ambos são parâmetros de análise subjetiva, com base em sensações humanas para sua descrição e causados geralmente por conta- minantes orgânicos, como fenóis, clorofenóis, gases dissolvidos ou ainda resíduos industriais. Odores e sabores no tratamento de água potável podem ser diminuídos com aeração e utilização de filtros de carvão ativado (RICHTER; NETTO, 1991). A temperatura da água influencia na velocidade de reações químicas, na solubilidade de gases, na sensação de odor e sabor (RICHTER; NETTO, 1991). Em sistemas de tratamento de água alterações na temperatura ocorrem por fatores relacionados a etapas do tratamento como a fluoretação, mudança do pH, desinfecção com cloro, entre outras (BRASIL, 2006). A turbidez da água indica a presença de materiais sólidos em suspensão, quanto maior a quantidade de sólidos em suspensão na água menor será a transparência. Os sólidos podem ser algas, plâncton, matéria orgânica, zinco, ferro, areia, argila, além de despejos domésticos e industriais (BRASIL, 2006). Segundo Richter e Netto (1991, p. 26) para efetuar a “...determinação da turbidez é fundamentada no método de Jackson. Consiste em se determinar qual a profundidade que pode ser vista a imagem da chama de uma vela, através da água colocada em um tubo de vidro”. A turbidez da água está inversamente relacionada com a eficiência da desinfecção para o consumo (RICHTER; NETTO, 1991). O ferro e o manganês quando presentes na água, em geral, se apresentam de forma associada, deixando a água com sabor amargo, adstringente e deixando o líquido com coloração amarelada e com aspecto turva. Isso ocorre por conta da oxidação que acontece e que resulta na precipitação desses oxidados, interferindo assim no aspecto e no sabor da água (RICHTER; NETTO, 1991). Fenóis e detergentes são compostos resultantes de processos industriais que podem ser encontrados na água por conta de lançamentos irregulares. O fenol é tóxico, além de causar sabor e odor desagradável na água, já os detergentes, a maioria são constituídos de alquilabenzeno (ABS) e são naturalmente indestrutíveis, perdurando na água após o lançamento (RICHTER; NETTO, 1991). UNIDADE 1 — A ÁGUA 20 O cloro residual livre é mais um dos parâmetros testados na água potável, é monitorado pois o cloro é utilizado no tratamento de água, empregado para desinfecção da água. Para consumo deve apresentar concentração abaixo de 2,0mg/l (BRASIL, 2006). A adição de fluoretos na água distribuída para consumo humano é uma medida de prevenção a cárie dental, e assim a medição do flúor é necessária. A dosagem de flúor na água potável é estabelecida por uma relação com a temperatura máxima (BRASIL, 2006) O alumínio deve ser quantificado na água tratada quando o sulfato de alumínio é empregado como coagulante no processo de tratamento (BRASIL, 2006). 21 Neste tópico, você aprendeu que: • A água é a base da vida orgânica, é o bem mais precioso para a sobrevivência da vida no planeta Terra, quando pura, a água não tem cor (incolor), não tem cheiro (inodoro) e não tem sabor (insípida). • A água é um composto químico único na natureza, a molécula de água atrai outros elementos químicos por conta da eletronegatividade. • A forma química da molécula de água é representada por H2O, e indica um átomo de hidrogênio ligado a dois átomos de oxigênio. Ela é estável devido ao compartilhamento de elétrons. • A geometria tetravalente da molécula se apresenta com eletronegatividade, que permite a ligação com outras moléculas polares é considerada solvente universal.• As moléculas de água se unem por conta das pontes de hidrogênio, são ligações nem fortes, nem fracas, suficientes para ao se separarem se religarem em seguida. • O comportamento da molécula de água é semelhante ao de uma molécula cinco vezes maior. • Os diferentes isótopos do hidrogênio nas moléculas de água resultam em água leve, pesada e dura. • A água sólida é mais densa do que a água líquida, por isso o gelo boia, essa característica preserva ambientes aquáticos do congelamento total. • As características biológicas da água apontam a presença ou não de patogênicos ou outros organismos que gerem sabor ou odor desagradáveis na água. • Propriedades como coesão, tensão superficial, adesão, as propriedades térmicas, trocas de fase (sólida, líquida e gasosa), características como densidade, e viscosidade, fazem parte do entendimento sobre a água. • Os parâmetros da análise de água são importantes para o entendimento dos padrões de potabilidade e balneabilidade. O entendimento das particularidades, das características e propriedades da água são importantes na preservação e manutenção das fontes e cursos da água, bem como no uso e ocupação do solo nas bacias hidrográficas. RESUMO DO TÓPICO 1 22 1 Sabemos que a água é a substância que permite a existência da vida no planeta Terra, pois é a base da vida orgânica na forma que conhecemos e isso só é possível por conta de características próprias da água. Com base no exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apesar de ser muito importante para a vida no planeta terra, é muito difícil que ela seja encontrada na natureza em sua forma elementar, ou seja completamente pura. a) ( ) A água é denominada solvente universal, pois pode dissolver qualquer substância existente no universo. a) ( ) Diversos elementos químicos apresentam características semelhantes à água, a grande diferença é que nenhuma outra substância é incolor. a) ( ) As moléculas de água não estão ligadas entre si, apenas utilizam uma ponte de hidrogênio por onde se locomovem. 2 Considere que é a estrutura da molécula de água que confere ao elemento suas características particulares, como a união entre os átomos que ocorre por uma dupla ligação covalente que são ligações nem muito fortes, nem muito fracas, e, assim, permite reestabelecer uma ligação logo após ser rompida, considerando também a eletronegatividade da molécula de água que permite a ligação com outras moléculas desde que sejam polares e, por isso, a água é considerada como o solvente universal. Além disso, considere a grande massa da molécula do Oxigênio em comparação com a massa do Hidrogênio. Assim, considerando seus conhecimentos acerca das características da água, analise as afirmativas a seguir: ( ) Os prótons do Oxigênio atraem os elétrons do Hidrogênio. ( ) Os elétrons do Hidrogênio são apolares. ( ) A massa da molécula do Oxigênio é maior do que a massa da molécula do Hidrogênio. ( ) São os elétrons compartilhados entre o Oxigênio e o Hidrogênio que estabilizam a molécula de água. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – V – V. b) ( ) V – V – V – F. c) ( ) V – V – F – F. d) ( ) F – F – F – V. 3 A água é a base da vida orgânica, é o bem mais precioso para a sobrevivência da vida no planeta Terra, quando pura a água não tem cor, não tem cheiro e não tem sabor. Com base no exposto, avalie as sentenças a seguir e a relação proposta entre elas: AUTOATIVIDADE 23 I - A água por não ter cheiro é inodora, por não ter sabor é insípida e por não ter cor é incolor. PORQUE II - Para ser considerada um solvente universal, a substância deve ser obrigatoriamente insípida, incolor e inodora. a) ( ) A afirmativa I é verdadeira e justifica a afirmativa II. b) ( ) A afirmativa I é verdadeira, mas não justifica a afirmativa II. c) ( ) As afirmativas I e II são falsas. d) ( ) A afirmativa I é falsa e a afirmativa II é verdadeira 4 O potencial Hidrogeniônico, ou pH, indica a concentração do íon hidrogênico nas substâncias, é medido em uma escala de 0 até 14, sendo que o pH 7 indica uma substância neutra. O pH é um importante parâmetro de referência para o controle e verificação do tratamento de água. Com base no pH e no tratamento de água, analise as afirmativas a seguir: ( ) Água ácida causa corrosão nas estruturas e tubulações da rede de distribuição de água. ( ) O pH mais alcalino (básico) favorece o surgimento de incrustações nas tubulações e reservatórios. ( ) Na etapa final do tratamento antes da distribuição, a água tem o pH controlado para que esteja entre 6,5 e 9,5. ( ) Quando mais próximo de zero mais básico é o pH. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – V – V. b) ( ) V – V – V – F. c) ( ) V – F – V – F. d) ( ) F – F – F – V. 24 25 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 CICLO HIDROLÓGICO 1 INTRODUÇÃO Vimos a água como molécula no tópico anterior, o que nos permitiu compreender a importância das características físicas, químicas e biológicas da água e, ainda, as propriedades físicas e térmicas. Agora, aplicaremos esse conhecimento para o entendimento do ciclo hidrológico, que também pode ser chamado de ciclo da água. 2 CICLO DA ÁGUA É de fundamental importância entendermos que o ciclo hidrológico é um dos muitos ciclos geoquímicos que ocorrem no planeta. E, quando falamos de ciclos geoquímicos, precisamos considerar que a atmosfera, a hidrosfera, a litosfera e a biosfera são os reservatórios geoquímicos dos elementos químicos da Terra. Ocorre sempre transporte desses elementos químicos entre os reservatórios e esse fluxo é o que constitui propriamente os ciclos geoquímicos. Quando a biosfera tem função nesses fluxos ou é envolvida como reservatório, então denominamos de ciclos biogeoquímicos (PRESS et al., 2006). O ciclo geoquímico ou ciclo curto, envolve padrões de comportamento físico da água, enquanto o ciclo longo ou ciclo biogeoquímico da água envolve elementos bióticos no ciclo da água, ou seja, considera a passagem da água pelos organismos vivos, considerando processos fisiológicos como a evapotranspiração. FIGURA 7 – ILUSTRAÇÃO DO CICLO DA ÁGUA FONTE: Garcez e Garcer (2017, p. 8) 26 UNIDADE 1 — A ÁGUA Ciclo curto O ciclo curto da água envolve apenas o ciclo geoquímico da água, e pode ser entendido como o pequeno ciclo, pois envolve a evaporação da água, a condensação na atmosfera, além da precipitação, acumulação e do escoamento de volta para o oceano, onde a evaporação impulsionada pelo sol dá sequência ao ciclo. FIGURA 8 – PEQUENO CICLO DA ÁGUA, GEOQUÍMICO FONTE: O autor Ciclo longo – ciclo biogeoquímico Os ciclos biogeoquímicos levam na denominação o termo “Bio”, que é referente a vida, o termo “geo” é referente às rochas, ar e água. A geoquímica trata da composição química do planeta e as trocas que ocorrem na crosta da Terra, na atmosfera e nas águas dos oceanos, rios, lagos e outros corpos de água. São ciclos importantes, pois disponibilizam elementos químicos como carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio entre tantos outros que são fundamentais para a existência dos organismos vivos (ODUM, 1986). Alguns desses elementos químicos são necessários em grandes quantidades, já outros em quantidades mínimas, mas independente do volume necessário, são essenciais à vida. Existem padrões e tipos básicos de ciclos biogeoquímicos. Os elementos químicos, inclusive todos os elementos essenciais do protoplasma, tendem a circular na biosfera em vias características, do ambiente aos organismos e destes, novamente, ao ambiente. Estas vias mais ou menos circulares se chamam ciclos biogeoquímicos. O movimento desses elementos e compostos inorgânicos que são essenciais para a vida pode ser adequadamente denominado ciclagem de nutrientes. Cada ciclo também pode ser convenientemente dividido em dois compartimentos ou pools: o pool reservatório, competente maior, de movimentos lentos, geralmente não
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