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Resumo Gabriela M. Asevedo FAMÍLIA E A PROBLEMÁTICA DO USO ABUSIVO DE DROGAS - Tratando-se especificamente do processo histórico de uso de drogas no Brasil, sabe-se do período de colonização da utilização de bebidas fortes produzidas a partir da fermentação da mandioca (Cauim), assim como a utilização do tabaco, que já se fazia presente nas culturas indígenas antes mesmo de os portugueses chegarem ao nosso país. - Os europeus que colonizaram o Brasil já conheciam o vinho e a cerveja, posteriormente, a partir da extração da cana-de-açúcar, aprenderam a produção da cachaça. - Deste modo, nota-se que o uso de alguns tipos de substâncias psicotrópicas esteve presente na gênese da sociedade brasileira, e, ao longo do tempo, tornaram-se características associadas às manifestações culturais, sendo o seu uso respaldado legalmente. Temos como exemplo o vinho no Natal, o licor na festa de São João e a cerveja no Carnaval. Em contrapartida, outras substâncias sofreram sanções legais, como é o caso da maconha, que, segundo Seibel e Junior (2000), foram introduzidas na cultura brasileira por meio dos escravos oriundos da África. - A utilização de substâncias que provocam alteração no organismo consiste em uma prática antiga, realizada por diferentes povos e culturas em contextos históricos diversos. Segundo Bucher (1992, p. 27), “[...] consumir drogas corresponde a uma prática humana, milenar e universal”. Assim, podemos afirmar que as drogas sempre estiveram presentes ao logo da história da humanidade, envolvendo não somente a medicina e a ciência, mas também a magia, a religião, o deleite e a festa. - Os valores sustentados pelas sociedades variam ao longo do tempo, consequentemente as ideias cultivadas sobre as drogas sofrem alteração. - No plano internacional, a abordagem de guerra às drogas exerceu predomínio historicamente. - As primeiras intervenções do governo brasileiro demonstravam uma opção pela abordagem proibicionista. - O consumo de droga pode deteriorar as condições de vida, mas por outro lado, os processos de vulnerabilidade social podem ser um dos motivos para começar a consumir droga. - Houve um aumento na produção e uso indevido de Novas Substâncias Psicoativas (NSP). - Em nível global, a demanda sobre o consumo geral de drogas tem sido significativamente reduzida. - As mensurações estatísticas capturam todas as dimensões dos transtornos e consequências negativas vividas cotidianamente, nos aspectos subjetivos, físicos, financeiros e sociais pelos usuários, seus familiares e demais pessoas envolvidas nesse processo. - O uso abusivo e a dependência de álcool e outras drogas figuram entre os maiores responsáveis pela morte precoce e pela perda de vida saudável e improdutiva no continente americano. - Em uma convenção social e cultural arbitrária que a droga se tornou aquilo que é socialmente definida como tal pela sociedade, e que é também juridicamente classificado pelo direito. - A terminologia jurídica predominante é entorpecente, que, por sua vez, faz referência apenas àquelas substâncias consideradas ilícitas. - O conceito de dependência química ou de drogas é extremamente recente se comparado ao consumo de substâncias psicoativas pela humanidade. - Drogas psicotrópicas perturbadoras: São exemplos de drogas deste grupo: LSD, ecstasy, maconha, alguns cogumelos e peiote. Tais substâncias causam alterações no funcionamento cerebral quando consumidas, modificando a percepção da realidade. - Drogas psicotrópicas estimulantes: As principais drogas que pertencem a essa categoria são as anfetaminas (medicamentos para emagrecer), cocaína/crack e tabaco. - Drogas psicotrópicas depressoras: As substâncias pertencentes a esse grupo são caracterizadas por diminuírem o ritmo de funcionamento do SNC, fazendo com que seus consumidores fiquem mais “devagar”, ou seja, “lentificados”, e sonolentos. - Entendem-se como fatores de risco situações que aumentam a chances de o indivíduo se expor a comportamentos de perigo, opostos a isso os fatores de proteção os quais são as situações que diminuem a exposição a tais riscos. - Podemos considerar como fonte de socialização primária a família, escola, grupos de amigos. - O hábito de vida refere-se aos papéis sociais valorizados pela pessoa e pelo contexto sociocultural, segundo suas características: idade, sexo, identidade sociocultural etc. - Um facilitador corresponde a um fator social que valoriza a realização dos hábitos de vida. Já aquilo que é denominado como obstáculo é um fator social que, ao contrário do facilitador, impede ou dificulta a realização dos hábitos de vida. - A Política Nacional sobre Drogas apresenta como finalidade articular a redução da demanda para o consumo de drogas ilícitas e uso indevido de outras substâncias como o álcool e tabaco. - Procura agregar tipos diferenciados de abordagens e intervenções, considerando como prioridade a prevenção, partindo do pressuposto que se trata da “intervenção mais eficaz e de menor custo para a sociedade” (BRASIL, 2008, p.13). Considera ainda como ações importantes no domínio da redução da demanda: o tratamento, a recuperação e a reinserção social. - A SENAD tem como função gerir os recursos destinados ao Fundo Nacional Antidrogas (Funad), coordenar e integrar as ações de outros órgãos envolvidos, assim como articular enquanto secretaria executiva do Conselho Nacional sobre Drogas (CONAD) o processo de formulação e atualização da Política Nacional Sobre Drogas (PNAD), que ao lado da Política Nacional sobre o Álcool, são as principais políticas públicas brasileiras sobre drogas. - No SISNAD, são articuladas e distribuídas entre os diferentes órgãos governamentais as ações na área de drogas. - Para que uma ação intersetorial, seja coerente, eficaz e efetiva deve ter em conta que as distintas estratégias são complementares e não concorrentes. - O surgimento da interdisciplinaridade na contemporaneidade nasce de uma crítica ao pensamento tradicional, que, por vezes, fragmenta, reduz e simplifica a explicação de fenômenos que são por natureza complexa. - A questão da interdisciplinaridade precisa ser trabalhada numa dimensão diferenciada de conhecimento, daquele conhecimento que não se explica apenas no nível da reflexão, mas, sobretudo no da ação. - Considerando a centralidade da família, a proteção social assume caráter preventivo, buscando sua inclusão social, com o objetivo de garantir direitos e proporcionar a autonomia de convivência. - Os usuários abusivos e dependentes de substâncias psicoativas que se encontram em situação de vulnerabilidade inserem-se na proteção social especial da Política Nacional de Assistência Social. - Entre os objetivos da PNAD, encontra-se a implantação e implementação de uma rede assistencial, para pessoas com transtornos decorrentes do consumo de substâncias psicoativas, contando com organizações de natureza pública e privada. - O campo da assistência social tem catalisado parte significativa das demandas dos usuários de substância psicoativas e seus familiares. - O atendimento psicossocial ofertado pelo Caps-ad inclui as famílias dos usuários. Os grupos de apoio aos familiares de modo geral oferecem acolhimento e troca de experiências entre pessoas que vivenciam dificuldades em decorrência do uso abusivo e dependente de drogas. - Atualmente, são as organizações não governamentais que ofertam a maioria dos serviços disponíveis para tratamento, recuperação e reinserção social dos usuários abusivos e dependentes de álcool e outras drogas. - Uma função importante atribuída aos Caps-ad é a de realizar a articulação de toda rede socioassistencial de atendimento a pessoas com problemas decorrentes do uso abusivo e dependente de drogas. - A questão da exclusão social é amplamente discutida na literatura acadêmica com concepções diversas e por vezes divergentes. - O conceito de reinserção social apresentauma característica ambígua, comportando algumas variantes terminológicas, ou até mesmo epistemológicas. - A reinserção do dependente de drogas se dá em uma sociedade desigual, injusta, marcada pelo consumismo, onde a individualidade, competitividade são erigidas como valores supremos. - Considerando a precarização no mundo do trabalho, sabemos que o fato de o sujeito dispor de um emprego (mesmo regular) não constitui uma proteção automática contra a precariedade ou mesmo contra a vulnerabilidade social. - Segundo Sawaia (2011), “ao falar de exclusão fala-se de desejo, temporalidade e afetividade, ao mesmo tempo que de poder, de economia e de direitos socais”. - A exclusão vista como sofrimento de diferentes qualidades recupera o indivíduo perdido nas análises econômicas e políticas, sem perder o coletivo. Dá força ao sujeito, sem tirar a responsabilidade do Estado. É no sujeito que se objetivam as várias formas de exclusão, a qual é vivida como motivação, carência, emoção e necessidade do eu. (SAWAIA 2011, p.100) - Já de acordo com Carreteiro (2011) todo ser humano é um ser social, ou seja, estão sempre participando de grupos, coletivos, instituições etc. Sendo justamente esse meio social onde o indivíduo está inserido é que se produzem ideias, desejos, normas, sistemas de valores, os quais por vezes se transformam em “projetos”. - Nessa perspectiva, a desfiliação ou exclusão ocorre por meio do controle e limite de opções para escolhas oferecidas e aceitas pelos sujeitos que se encontram em situação de exclusão. - Chama a atenção o aumento do uso de drogas entre as mulheres, tendo em vista que, décadas atrás, tal uso era restrito, pois, em uma perspectiva moralizadora acerca do papel social destinado ao gênero feminino, observava- se a incompatibilidade entre o papel doméstico tradicional da mulher e o uso de drogas. Nesse sentido, argumentava-se que o uso de drogas afetava o comportamento social e suas responsabilidades, inclusive tratando-se do controle de sua sexualidade. - A partir das transformações culturais e no mundo do trabalho, e do avanço das discussões sobre gênero que passam a questionar o patriarcado e a supremacia masculina, alguns comportamentos que eram tidos como exclusivos dos homens passam a ser exibidos também pelas mulheres, dentre os quais o consumo de substâncias psicoativas. - Contudo, entre homens e mulheres, percebem-se diferenças nos padrões do uso de drogas e suas consequências, tanto nos aspectos físicos, psicológico, como nas esferas sociais. Do ponto de vista farmacológico, podemos ressaltar a especificidade de gênero em relação ao uso do álcool, que é explicitado pelo fato de que as mulheres possuem um volume corporal de água menor do que o dos homens, o que por sua vez leva a uma maior concentração do álcool no organismo. - No caso das mulheres gestantes, deve-se associar o tratamento ao acompanhamento obstétrico e nutricional para que se obtenha um melhor resultado. Embora seja amplamente difundida pela literatura especializada a noção de que o uso problemático de drogas seja prejudicial tanto no período obstétrico quanto perinatal. Infelizmente, o contingente de mulheres que submetem os seus filhos à exposição do uso de drogas durante a gestação ainda é levado em relação aos níveis aceitáveis no Brasil, o que se traduz em um grave problema de saúde pública. - O contexto social em que se inserem essas mulheres influencia significativamente nos riscos associados ao uso indevido de drogas inclusive na gravidez. - O uso de substâncias psicoativas entre os idosos se caracteriza pela invisibilidade no qual o problema permanece subestimado e pouco identificado. Os problemas relacionados ao uso abusivo ou dependente de drogas é frequente nessa população, em contrapartida, tal fenômeno é pouco identificado por familiares e também por diagnósticos clínicos. - Diferentemente dos adolescentes e adultos jovens em que a uma significativa prevalência também do uso de drogas ilícitas (maconha, cocaína, crack e heroína), entre as principais substâncias usadas de forma abusiva pela população idosa, além do álcool e tabaco, há uma incidência das drogas prescritas das quais muitas possuem potencial de dependência. - O adolescente normalmente apresenta resistência em admitir que o uso de drogas possa lhe causar problemas como, por exemplo, gerar um quadro de dependência. - O preconceito em torno dos usuários levam os adolescentes à clandestinidade e reforçam os obstáculos para realização de ações preventivas e de atenção que minimizem possíveis danos. - Embora seja notório que não são todos os adolescentes que fazem uso de drogas, observa-se que devido essa fase se caracterizar pela experimentação de vários comportamentos, o uso de substâncias tanto lícitas como ilícitas, pode ser considerada parte do repertório social dos adolescentes. - As modificações no âmbito social e cultural trouxeram diversos desafios para as famílias, tais como: emprego precário, ameaça de desemprego, doenças sexualmente transmissíveis, deslocamento forçado (imigrações), mudanças na dinâmica relacional, gravidez precoce, entre outros fatores. - Pelos motivos acima expressos, percebe-se a necessidade de construção de políticas públicas inclusivas envolvendo o sistema familiar no processo de tratamento do uso abusivo de drogas. - Os problemas relacionados ao uso de drogas transcendem às barreiras socioeconômicas, ou seja, são encontrados em todas as classes sociais. - As relações sociais, valores e padrões culturais hegemônicos em uma determinada sociedade influenciam no tipo de relação que o homem estabelece com as drogas.
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