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178 Unidade III Unidade III 7 FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Do ponto de vista funcional, o sistema nervoso central (SNC) é considerado mais complexo do que o sistema nervoso periférico, e isso torna a compreensão dos efeitos dos fármacos que atuam sobre ele muito mais difícil. O SNC detecta estímulos externos e internos, tanto físicos quanto químicos, e desencadeia respostas orgânicas adaptativas. Assim, é responsável pela integração do organismo com os ambientes externo e interno, exercendo caráter de organização e controle das funções do organismo. Essas funções são exercidas pela ação conjunta dos neurônios, das células da glia e dos vasos sanguíneos, através dos quais várias substâncias atingem o SNC. Os fármacos com ação no SNC agem fundamentalmente em neurônios, considerando a unidade anatomofuncional do SNC, modificando seu estado fisiológico e a comunicação entre eles. 7.1 Aspectos funcionais 7.1.1 Atividade neuronal Os neurônios são células que se interconectam de modo específico e preciso, formando sinapses, que estabelecem os chamados circuitos neurais. Através deles, o organismo é capaz de produzir respostas fixas e invariáveis (por exemplo, os reflexos) ou respostas variáveis em maior ou menor grau. Existem diversos tipos de neurônios, com diferentes funções, dependendo da sua localização e estrutura morfológica, mas em geral são constituídos pelos mesmos componentes básicos (veja a figura a seguir): • Dendritos: projeções que transmitem os impulsos nervosos para o corpo celular do neurônio ou para o axônio. • Corpo celular: constituído de núcleo, citoplasma e citoesqueleto; dá suporte metabólico a toda a célula. • Axônio: prolongamento que se origina do corpo celular, responsável pela condução do impulso nervoso. 179 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA Dendritos Axônio Bainha de mielina Célula de Schwann Terminal de axônio Nodos de Ranvier Corpo celular Núcleo Figura 71 – Estrutura básica do neurônio Saiba mais Relembre a morfologia dos neurônios em: MEDRADO, L. Citologia e histologia humana: fundamentos de morfofisiologia celular e tecidual. São Paulo: Érica, 2014, p. 143-147. A geração do impulso elétrico na membrana neuronal se dá pelo fato de ela se encontrar polarizada, com cargas elétricas negativas predominantemente no meio intracelular. Ou seja, quando os neurônios estão em repouso, sua membrana está negativamente carregada em relação ao meio extracelular. Quando ocorre o estímulo neuronal, acontece a inversão das cargas elétricas no interior da membrana de forma rápida e brusca, e ela se torna positiva em relação à sua superfície externa. Essas mudanças das cargas elétricas produzem uma diferença no potencial elétrico entre as partes interna e externa da membrana, ao que se dá o nome de potencial de ação. Essa alteração elétrica é determinada pelo deslocamento seletivo dos ions sódio, potássio, cloreto e cálcio através da membrana, e é responsável pela propagação do impulso nervoso ao longo do neurônio. O impulso nervoso se propaga em um único sentido na fibra nervosa. Os dendritos sempre conduzem o impulso em direção ao corpo celular. O axônio, por sua vez, conduz o impulso em direção às extremidades. Inicialmente os íons sódio, presentes em maior quantidade no meio extracelular, entram no neurônio, invertendo a polaridade da membrana; a seguir, os canais de sódio são inativados e a membrana é repolarizada pela saída de íons potássio. Em seguida, a Na+/K+ ATPase atua direcionando os íons sódio que entraram no neurônio para o meio extracelular e os íons potássio que saíram para o meio intracelular, restabelecendo o potencial de repouso (veja a figura a seguir). 180 Unidade III Face extracelular da membrana Face intracelular da membrana Membrana plasmática Potencial de repouso Repolarização Impulso nervoso Íons sódio (Na+) Íons potássio (K+) Canais de sódio Canais de potássio Na+/K+ ATPase Despolarização Potencial de repouso Figura 72 – Representação esquemática do potencial de ação neuronal Quando o estímulo elétrico chega ao terminal nervoso, há ativação de canais de cálcio voltagem dependentes, que promovem a entrada desse íon no interior do neurônio, fazendo com que as vesículas de armazenamento do neurotransmissor se fundam à membrana plasmática do neurônio, levando, assim, à liberação do neurotransmissor na fenda sináptica. Uma vez liberado, o neurotransmissor irá atuar em receptores específicos presentes tanto na membrana pré-sináptica quanto na pós-sináptica. Existem vários subtipos de receptores para um determinado neurotransmissor. Os pré-sinápticos em geral estão relacionados à inibição da liberação de mais neurotransmissor (mecanismo de feedback negativo) e/ou inibição da síntese do neurotransmissor. A ativação de receptores pós-sinápticos desencadeia uma série de eventos celulares que levam à abertura ou fechamento de canais iônicos na membrana celular. Isso pode resultar em despolarização — tornar o interior da célula mais positivo — ou hiperpolarização — tornar o interior da célula mais negativo — dependendo dos íons envolvidos. Posteriormente, o neurotransmissor será recaptado pelo terminal nervoso e/ou poderá ser degradado por enzimas presentes na fenda sináptica e seus metabólitos processados pelo próprio neurônio ou por células da glia. As células da glia, particularmente os astrócitos, que são as principais células não neuronais no SNC, também desempenham importante papel sinalizador. Antes eram consideradas principalmente como células de manutenção e suporte aos neurônios exigentes, porém atualmente estão cada vez mais sendo vistas como células que desempenham papel relevante na comunicação neuronal. Essas células expressam vários receptores e transportadores e também liberam ampla variedade de mediadores, incluindo glutamato, óxido nítrico e metabólitos do ácido araquidônico. Elas respondem a sinais químicos dos neurônios e também dos astrócitos vizinhos e das células microgliais. Os astrócitos respondem a estímulos, controlando assim o ambiente químico no qual os neurônios operam. Embora não 181 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA conduzam potenciais de ação e não enviem sinais para outras partes do corpo, os astrócitos são, em outros aspectos, muito similares aos neurônios e desempenham papel crucial da comunicação dentro do cérebro. Entretanto, o conhecimento de como funcionam e de como respondem aos fármacos é ainda escasso. 7.1.2 Neurotransmissores Os neurotransmissores são moléculas quimicamente diversas sintetizadas pelos neurônios, geralmente no terminal do axônio, a partir de precursores ali presentes. As enzimas de síntese desses neurotransmissores são produzidas no corpo celular do neurônio e transportadas até o terminal neuronal onde eles são sintetizados. Após a síntese, os neurotransmissores são armazenados em vesículas sinápticas, cujo conteúdo é liberado na fenda sináptica por exocitose pelo impulso nervoso. O neurotransmissor é considerado excitatório quando, ao interagir com seu receptor na membrana pós-sináptica, permite a propagação da informação de um neurônio para outro (despolarização da membrana pós-sináptica, com geração do potencial de ação), ou é considerado inibitório quando, ao interagir com seu receptor na membrana pós-sináptica, promove a hiperpolarização da membrana pós-sináptica. A função normal do SNC depende do equilíbrio entre a liberação de neurotransmissores excitatórios e inibitórios. Os fármacos que agem no SNC produzem seus efeitos por interferir em alguma etapa, desde a síntese do neurotransmissor até sua liberação, degradação, armazenamento ou recaptação na fenda sináptica. Os principais neurotransmissores que agem no SNC são os aminoácidos, as aminas biogênicas, a acetilcolina e os neuropeptídios. Eles exercem seus efeitos pela ativação de receptores ionotrópicos (acoplados a canais iônicos) ou metaborópicos (acoplados à proteína G), conforme será discutido posteriormente.• Aminoácidos: os principais inibitórios são o GABA (ácido γ-aminobutírico) e a glicina, e os excitatórios são o glutamato e o aspartato. • Aminas biogênicas: catecolaminas (dopamina e norepinefrina), serotonina e histamina. • Acetilcolina, que não se encaixa em nenhuma das outras categorias estruturais. • Neuropeptídeos: opioides (endorfinas, encefalinas e dinorfinas), substância P, neuropeptídeo Y, entre outros. O GABA (ácido gama-aminobutírico) é um importante neurotransmissor expresso a partir do estágio embrionário e ao longo da vida. No estágio inicial de desenvolvimento, o GABA atua de maneira excitatória e está envolvido em muitos processos de neurogênese, incluindo proliferação neuronal, migração, diferenciação e construção preliminar de circuitos, além do desenvolvimento de períodos críticos. No SNC maduro, o GABA atua de maneira inibitória. 182 Unidade III Existem dois tipos principais de receptores GABA, o receptor GABAA, acoplado a canais de cloreto, e o receptor GABAB, acoplado à proteína G. No cérebro adulto, o GABA atua principalmente através da ativação dos receptores GABAA. Quando o GABA se liga a esses receptores pós-sinápticos, o canal iônico de cloreto se abre e esse íon difunde-se na célula ao longo de seu gradiente de concentração, hiperpolarizando o neurônio. Os receptores GABAB são responsáveis pelo componente posterior e mais lento da transmissão inibitória. Esses receptores são encontrados nos neurônios pré e pós-sinápticos. A ativação desses receptores leva à ativação da proteína G inibitória, o que resulta na ativação dos canais de potássio pós-sinápticos (levando à hiperpolarização) ou à inibição dos canais de cálcio pré-sinápticos (levando à inibição da liberação de neurotransmissores), mecanismo semelhante ao observado após a ativação de receptores opioides (conforme vimos nos tópicos Mecanismo de transmissão da dor e Mecanismo de ação dos analgésicos opioides). Além do mecanismo descrito anteriormente, ocorre a ativação de uma série de outras vias de sinalização intracelular. Os receptores de glicina também são canais de íons cloreto dependentes de ligante, responsáveis por mediar a neurotransmissão inibitória na medula espinhal e no tronco cerebral. Eles estão envolvidos principalmente no controle motor e na percepção da dor no adulto. No entanto, esses receptores também são expressos nas regiões superiores do sistema nervoso central, onde participam de diferentes processos, incluindo a neurotransmissão sináptica. Além disso, os receptores de glicina estão presentes desde os estágios iniciais do desenvolvimento do cérebro e podem influenciar esse processo. O glutamato é um importante neurotransmissor excitatório no cérebro. Existem três famílias de receptores ionotrópicos com canais permeáveis por cátions intrínsecos [N-metil-D-aspartato (NMDA), ácido alfa-amino-3-hidroxi-5-metil-4-isoxazolepropiônico (AMPA) e cainato]. Além disso, existem três grupos de receptores de glutamato acoplados à proteína G (mGluR1 – 3) que modificam a excitabilidade neuronal e glial através de subunidades da proteína G que atuam nos canais iônicos da membrana e segundos mensageiros, como diacilglicerol e AMPc. Um dos debates mais antigos sobre cotransmissão envolve glutamato e o aspartato. Embora o o papel do glutamato como transmissor na maioria das sinapses excitatórias no cérebro tenha sido estabelecido, o papel do aspartato permanece incerto. O aspartato é um agonista altamente seletivo para os receptores de glutamato do tipo NMDA e não ativa os receptores de glutamato do tipo AMPA. A dopamina desempenha um papel importante no aprendizado, no controle da atividade motora, nos mecanismos de recompensa, nas emoções e em funções endócrinas, tanto na saúde quanto na doença. As principais vias dopaminérgicas são: • Via mesolímbica: a dopamina é sintetizada na área tegmentar ventral do mesencéfalo e transmitida ao sistema límbico através do núcleo accumbens. O mesencéfalo está relacionado às funções de sono e vigília, enquanto o sistema límbico é o responsável pela elaboração de reações emocionais e comportamento de punição e recompensa. Essa via é chamada de via de recompensa do cérebro. 183 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA • Via mesocortical: a dopamina é sintetizada na área tegmental ventral do mesencéfalo e transmitida ao córtex frontal. Essa via está associada às funções cognitivas, à linguagem, à memória de trabalho, à atenção, ao apetite, ao pensamento abstrato e às funções motoras, associativas e visuais. • Via nigrostriatal: a dopamina é sintetizada na substância negra mesencefálica e transmitida ao estriado dorsal. Esse caminho está associado ao controle cetral, involuntário, do movimento. • Via tuberoinfundibular: se estende do hipotálamo à eminência média. O hipotálamo comanda funções autonômicas, elabora funções específicas, como sede e fome, apetite por nutrientes específicos, como sal e açúcar, além de ser responsável pela sobrevivência do indivíduo e propagação da espécie (comportamento de luta/fuga e comportamento sexual), através da secreção de diferentes hormônios. Essa via também regula a secreção do hormônio prolactina pela hipófise anterior. Os receptores da dopamina são subdivididos em D1, D2, D3, D4 e D5, de acordo com localização no cérebro e função. São acoplados a proteínas G e podem ser classificados em duas grandes famílias, com base em características bioquímicas, farmacológicas e moleculares: A superfamília dos receptores semelhantes a D1 inclui os receptores D1 e D5, acoplados à proteína Gs, e a superfamília dos receptores semelhantes ao D2 inclui os receptores D2, D3 e D4, acoplados à proteína Gi. A norepinefrina é encontrada nos corpos celulares da ponte e da medula. Esses corpos projetam neurônios para o hipotálamo, tálamo, sistema límbico e córtex cerebral. A noradrenalina contribui para o controle do humor e da excitação e pode afetar os padrões de sono. A hiperatividade desse sistema induz a um estado de insônia, ansiedade, irritabilidade, paranoia, instabilidade emocional e excitação, enquanto a hipoatividade leva a sonolência excessiva, apatia e embotamento emocional. Lembrete Na periferia, a norepinefrina é o neurotransmissor responsável por mediar as respostas do sistema nervoso simpático, a partir da ativação dos receptores adrenérgicos (adrenoceptores) presentes nos órgãos-alvo. A serotonina, ou 5-hidroxitriptamina (5-HT), é um neurotransmissor que contribui para o humor e o estado mental humano. As principais funções da serotonina são: regular o apetite, equilibrar o desejo sexual e controlar a temperatura corporal, a atividade motora e as funções perceptivas e cognitivas. Além disso, a serotonina regula a secreção de hormônios, como o do crescimento. A serotonina interage com sete famílias de seus receptores (5-HT1-7), localizados na membrana celular dos neurônios e de outros tipos celulares, incluindo o músculo liso. Pertencem à classe dos receptores acoplados à proteína G, à exceção do subtipo 5HT-3, acoplado a canais iônicos. No SNC, os neurônios produtores de histamina são encontrados principalmente no hipotálamo, e a histamina está envolvida com várias funções, como vigília, apetite, secreção de hormônios, termorregulação, controle cardiovascular (central), memória, aprendizado, entre outras. 184 Unidade III Observação A histamina também é um importante mediador inflamatório liberado pelos mastócitos e está envolvida no estabelecimento de processos alérgicos, ao promover vasodilatação, broncoconstrição, prurido etc. Há uma ampla distribuição de receptores histaminérgicos por todo os SNC. Há três tipos de receptores para a histamina no SNC: H1, H2 e H3. Os receptores H1 e H2 em geral excitam os neurônios ou potencializam impulsos excitatórios. Já a ativação dos receptores H3 causa autoinibição dos neurônios histaminérgicos e também modula a liberação de outros neurotransmissores, incluindo o glutamato, a serotonina, a dopamina,a acetilcolina, a noradrenalina e o GABA. O bloqueio dos receptores H1 no SNC explica os efeitos colaterais sedativos de muitos anti-histamínicos clássicos (difenidramina, dimenidrinato, prometazina, entre outros). Essa sedação é consequência de sua alta lipossolubilidade, que possibilita a travessia da barreira hematoencefálica e consequente ação no SNC. Esse efeito colateral sedativo dos anti-histamínicos clássicos faz com que sejam empregados como indutores do sono. Os anti-histamínicos mais modernos de segunda geração (loratadina, cetirizina, acrivastina, entre outros) não atravessam a barreira hematoencefálica com facilidade e, portanto, não produzem sedação. No SNC, a acetilcolina exerce um papel muito importante nas funções cognitivas e influencia diretamente no aprendizado, na atenção e na memória. Tanto perifericamente quanto no SNC, a acetilcolina interage com receptores muscarínicos e nicotínicos. Lembrete Na periferia, a acetilcolina é o neurotransmissor responsável por mediar as respostas do sistema nervoso parassimpático, a partir da ativação dos receptores muscarínicos presentes nos órgãos-alvo. Os receptores muscarínicos presentes no SNC são predominantemente do subtipo M1 e se localizam na região pós-sináptica em diferentes regiões do córtex cerebral, hipocampo e estriado. O subtipo M2 é encontrado nas terminações pré-sinápticas e sua função é controlar a liberação da acetilcolina. Os subtipos M3, M4 e M5 são encontrados em quantidades bem menores. Os receptores nicotínicos são inotrópicos, estão localizados em áreas similares às dos receptores muscarínicos no SNC e estão envolvidos em processos de cognição, dor e controle da liberação de dopamina. Os neuropeptídeos estão presentes na maioria das áreas cerebrais e desempenham papel de modulador no SNC, ou seja, são capazes de regular determinados aspectos da função neuronal e atuar 185 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA para a modulação de respostas diversas, como sensibilidade e emoções (substância P e encefalinas), fome, dor, prazer, respostas ao estresse (endorfinas), entre diversos outros processos. Um mesmo neurônio pode conter vários mediadores químicos, que são liberados conjuntamente durante a despolarização neuronal. Ou seja, os neuropeptídeos podem coexistir e ser liberados com neurotransmissores. Os neuropeptídios geralmente são liberados em quantidades bem menores em relação aos neurotransmissores. Porém, os neuropeptídeos possuem em geral uma potência de transmissão de impulsos bem maior do que dos neurotransmissores não peptídicos. 7.1.3 Relação entre as disfunções na neurotransmissão e as patologias do SNC As diversas patologias que acometem o SNC são resultado do aumento ou da diminuição dos níveis de neurotransmissores em regiões específicas do cérebro, ou ainda em alterações funcionais nos respectivos receptores. As principais relações entre os neurotransmissores e as patologias são: • Glutamato: pode contribuir para a lesão cerebral que ocorre agudamente após o status epilepticus, a isquemia cerebral ou a lesão cerebral traumática. Também pode contribuir para a neurodegeneração crônica em distúrbios como esclerose lateral amiotrófica e coreia de Huntington. Outras condições clínicas que podem responder a fármacos que atuam na transmissão glutamatérgica incluem epilepsia, amnésia, ansiedade, hiperalgesia e psicose. • Dopamina: no sistema mesolímbico desempenha papel importante na neurobiologia da dependência e também está implicada na esquizofrenia. No sistema mesocortical, participa da fisiopatologia da esquizofrenia e do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). A degeneração de neurônios da via nigroestriatal diminui os níveis de dopamina, dando origem à doença de Parkinson. • Norepinefrina: disfunções nos níveis desse neurotransmissor no SNC têm sido associadas a alguns transtornos psiquiátricos, como transtorno de ansiedade, pânico e humor, bem como na esquizofrenia e na demência. • Serotonina: baixos níveis desse neurotransmissor podem provocar sintomas como ansiedade, medo, angústia, agressividade e distúrbios alimentares. • Acetilcolina: diminuição na neurotransmissão colinérgica, causada pela morte neuronal, está associada ao desenvolvimento do mal de Alzheimer. Os receptores nicotínicos centrais também foram implicados em outras doenças neurológicas e psiquiátricas, incluindo o TDAH, a esquizofrenia, a depressão e a epilepsia. 7.2 Fármacos de ação central Os mecanismos de ação dos fármacos no SNC e periférico têm muito em comum. No entanto, é problemático compreender de que forma eles alteram a função cerebral, devido à complexidade da rede neuronal. 186 Unidade III No SNC, existem vários tipos de interconexões neuronais, de forma que os efeitos de fármacos nas ações de um dos neurotransmissores são difíceis de serem previstos e dependerão das várias conexões sinápticas excitatórias e inibitórias e dos impulsos nervosos. Adicionada a essa complexidade está a influência das células da glia. Um fator adicional importante de complicação é que existem respostas adaptativas secundárias geradas por qualquer perturbação do sistema induzida pelo fármaco. Tipicamente, o aumento na liberação do transmissor, ou interferência na captação dele, é contrabalançado pela inibição da síntese do transmissor, pelo reforço na expressão do transportador ou pela diminuição da expressão do receptor. Essas alterações, geralmente, levam tempo (horas, dias ou semanas) para se desenvolver e não são evidentes nas experiências farmacológicas agudas. Numa situação da prática clínica, com frequência, os efeitos de fármacos psicotrópicos demoram semanas para se desenvolver, sendo que é provável que reflitam respostas adaptativas em vez dos efeitos farmacodinâmicos imediatos dele. Assim, tem-se que levar em conta não apenas a interação primária do fármaco com seu alvo, mas também a resposta secundária do cérebro a esse efeito primário; e, frequentemente, é a resposta secundária, não o efeito primário, que leva ao benefício clínico. De uma forma geral, para fins didáticos, os fármacos que atuam no SNC são classificados de acordo com a natureza de seu comportamento farmacodinâmico, por exemplo: ansiolíticos, sedativos e hipnóticos, antidepressivos, hipnoanalgésicos, antipsicóticos, anticonvulsivantes, tratamento de distúrbios degenerativos do SNC (doença de Parkinson e doença de Alzheimer) e anestésicos gerais, entre outros. 7.2.1 Ansiolíticos, sedativos e hipnóticos Os ansiolíticos são uma categoria de fármacos usados para prevenir e tratar a ansiedade relacionada a vários transtornos (por exemplo, ansiedade generalizada, fobia social, síndrome do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, estresse pós-traumático etc.). Alguns também são usados como sedativos antes da anestesia para procedimentos médicos. Os ansiolíticos tendem a agir rapidamente e podem levar ao vício. Por esse motivo, geralmente são prescritos apenas para uso a curto prazo. Eles não são recomendados para pessoas com histórico de abuso ou dependência de drogas. Os ansiolíticos são classificados em: barbitúricos, benzodiazepínicos e não benzodiazepínicos. Barbitúricos Os barbitúricos foram, por muito tempo, os fármacos de escolha para o tratamento da insônia. Entretanto, em virtude de mortes por ingestão acidental e do uso em homicídios e suicídios, o seu uso foi substituído pelos benzodiazepínicos. Hoje em dia, os barbitúricos ainda são utilizados no tratamento de distúrbios convulsivos e na indução da anestesia geral. Os barbitúricos são agonistas dos receptores GABAA. Ao ativar o receptor, ocorre aumento do tempo de abertura do canal de cloreto, o que resulta em aumento do influxo do íon negativo e hiperpolarização celular. 187 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA Além disso, inibem a liberação de neurotransmissores dependentes do cálcio e deprimem a despolarização neuronal induzida pelo glutamato por meio dos receptores AMPA. Em concentraçõeselevadas, são capazes de bloquear os canais de sódio e de potássio. Os barbitúricos são classificados em fármacos de ação ultracurta (tiopental), intermediária (amobarbital) e prolongada (fenobarbital, pentobarbital e secobarbital). O uso dos barbitúricos é bastante limitado, pois esses fármacos apresentam baixo índice terapêutico. O fenobarbital é utilizado por via oral no tratamento da epilepsia e o tiopental (injetável) é empregado na anestesia. Como agentes ansiolíticos e hipnóticos, foram substituídos pelos benzodiazepínicos. Esses fármacos geralmente causam depressão do sistema nervoso central, com sonolência, confusão mental e comprometimento da coordenação. No entanto, em alguns pacientes (principalmente idosos), observa-se excitação. O uso de doses repetidas de barbitúricos está associado ao desenvolvimento de tolerância e dependência, sendo um risco para o uso abusivo. Os sintomas da abstinência consistem em alucinação, convulsão, delírio, excitação e morte. Benzodiazepínicos Os benzodiazepínicos exercem efeitos hipnóticos, ansiolíticos, miorrelaxantes e anticonvulsivantes. Como hipnóticos, os benzodiazepínicos reduzem o tempo de latência para o sono e aumentam a sua duração no estado natural. Como ansiolíticos, os benzodiazepínicos aliviam os sintomas da ansiedade e o estado de agressividade. Os benzodiazepínicos produzem relaxamento do músculo esquelético por ação no SNC, sem comprometimento da atividade voluntária. O clonazepam e o diazepam possuem atividade miorrelaxante mais pronunciada, e doses muito altas deprimem a transmissão muscular. No tratamento da epilepsia, seu uso é limitado, pois há risco do desenvolvimento de tolerância. Os principais benzodiazepínicos estão listados no quadro a seguir. A principal diferença entre esses agentes diz respeito à duração do efeito terapêutico. Existem representantes de ação ultracurta, curta, média e prolongada. Quadro 9 – Principais benzodiazepínicos Fármaco Duração global da ação Principais indicações Midazolam Ultracurta (< 6 h) Adjuvante da anestesia Lorazepam Curta (12-18 h) Ansiolítico, hipnótico Alprazolam Média (24 h) Ansiolítico, antidepressivo Nitrazepam Média (24 h) Hipnótico, ansiolítico Diazepam Prolongada (24-48 h) Ansiolítico, relaxante muscular Flurazepam Prolongada (24-48 h) Ansiolítico Clonazepam Prolongada (24-48 h) Anticonvulsivante, ansiolítico 188 Unidade III Os barbitúricos e os benzodiazepínicos compartilham semelhanças e diferenças no que diz respeito às ações sobre o receptor GABAA. Ambos aumentam a neurotransmissão GABAérgica por interferência direta no receptor, porém os barbitúricos o fazem por conta da ação agonista sobre eles, enquanto os benzodiazepínicos apenas promovem o aumento da afinidade do GABA pelo receptor. Na prática, essa diferença resulta em aumento da frequência de abertura dos canais de cloreto pelos benzodiazepínicos e em aumento do tempo de abertura desses canais pelos barbitúricos, com maior influxo iônico nos últimos, o que justifica seu menor índice terapêutico (veja a figura a seguir). Extracelular Intracelular Cl- Canal iônico Figura 73 – Sítios de ligação dos benzodiazepínicos (BDZ) e dos barbitúricos (BRB) sobre o receptor GABAA. Os sítios de ligação do neurotransmissor GABA também estão indicados Os efeitos adversos dos benzodiazepínicos incluem tonturas, sonolência, má coordenação e sentimentos de depressão. O uso a curto prazo dos benzodiazepínicos geralmente é seguro e eficaz. No entanto, o uso a longo prazo é controverso, devido ao potencial de tolerância e dependência, entre outros. Ingerir álcool com benzodiazepínicos pode ser fatal. Não benzodiazepínicos Os fármacos classificados como não benzodiazepínicos são a buspirona, o zolpidem e a zopiclona. Esses fármacos apresentam diferenças estruturais em relação aos benzodiazepínicos, porém também apresentam ação depressora do SNC por atuar em outros receptores que não o GABAA. São indicados no tratamento do transtorno da ansiedade generalizada e no alívio em curto prazo dos sintomas da ansiedade, acompanhados ou não de depressão. Os não benzodiazepínicos apresentam efeitos ansiolíticos, mas não os efeitos anticonvulsivantes, sedativos e miorrelaxantes que são característicos dos benzodiazepínicos. A buspirona aparentemente não atua sobre a neurotransmissão GABAérgica. Ela é um agonista dos receptores de serotonina 5HT1A que também apresenta ação antagonista pré-sináptica da dopamina, além de modular outros sistemas receptores. É rapidamente absorvida via oral e é menos sedativa do que outros ansiolíticos, não comprometendo significativamente o desempenho funcional dos pacientes. 189 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA Não se deve administrar concomitantemente a buspirona com antidepressivos inibidores da MAO (exemplo: Tranilcipromina), pois pode ocorrer hipertensão arterial. O zolpidem é um agonista seletivo do subtipo ômega do receptor GABAA. Esse fármaco encurta o tempo de indução ao sono, reduz o número de despertares noturnos e aumenta a duração total do sono, porém inibe o sono REM e o sono de ondas lentas, provocando um “desligamento” cerebral, de modo a prejudicar sua qualidade. Esses efeitos estão associados a um perfil eletroencefalográfico específico, diferente daquele observado com os benzodiazepínicos. Os efeitos indesejáveis do zolpidem são sonolência, fadiga, irritabilidade, cefaleia e amnésia no dia seguinte. Esses efeitos são geralmente discretos. Esse fármaco não altera significativamente os resultados dos testes neuropsicológicos de alerta, concentração, memória e coordenação motora em populações de pacientes com insônia em relação aos voluntários normais de diferentes idades. A zopiclona é um agente hipnótico do grupo das ciclopirrolonas que apresenta atividade agonista sobre GABAA, porém, ao contrário do zolpidem, tem ação anticonvulsivante e miorrelaxante, além da ansiolítica. A zopiclona reduz o tempo de início do sono e a frequência dos despertares noturnos, aumenta a duração do sono e melhora a qualidade do sono e do despertar. Nas doses estudadas e recomendadas, os efeitos da zopiclona estão associados a um perfil eletroencefalográfico específico que difere dos benzodiazepínicos. Os efeitos indesejáveis são sonolência, fadiga, irritabilidade, cefaleia e amnésia, e pode causar tolerância e dependência. 7.2.2 Antidepressivos Os fármacos antidepressivos são essenciais no tratamento da depressão. São usados para restaurar o equilíbrio emocional e ajudar as pessoas a realizar as tarefas inerentes à vida cotidiana, porém seu uso deve ser associado à psicoterapia. O principal objetivo do tratamento com antidepressivos é aliviar os sintomas da depressão e impedir que o quadro depressivo se manifeste no indivíduo. Alguns sintomas da depressão incluem: ansiedade, alterações do apetite, de peso e do sono, dor crônica, agitação ou lentificação motora, fadiga ou perda de energia, sentimentos de inutilidade ou de culpa, dificuldade de concentração e de tomar decisões e, nos casos mais graves, pensamentos de morte e ideação suicida. Além dessas manifestações, que devem estar presentes por pelo menos duas semanas, também é necessário considerar a história de vida do paciente ao realizar o diagnóstico. O diagnóstico da depressão é clínico, feito após coleta completa da história do paciente e realização de um exame do estado mental. Não existem exames laboratoriais específicos para diagnosticar depressão. A depressão é altamente prevalente na população em geral e, de acordo com estudo epidemiológico, a prevalência de depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5%. A época comum do aparecimento é no final da 3ª década da vida, mas pode começar em qualquer idade. Estudos mostram prevalência ao longo da vida em até 20% nas mulheres e 12% para os homens. As causas da depressão podem ser: genéticas, fisiológicas (deficiência dos neurotransmissores centrais noradrenalina, serotonina e dopamina) ou fatores externos(eventos estressantes podem desencadear episódios depressivos). 190 Unidade III Há diferentes tipos de depressão, que possuem sintomas e impactos diversos no dia a dia do paciente. O transtorno depressivo maior, ou depressão unipolar, é o tipo de depressão mais frequente e conhecido, caracterizado por um quadro de humor deprimido, perda de interesse e de prazer, energia reduzida, diminuição das atividades e, em casos mais graves, sofrimento, melancolia e incapacidade temporária, especialmente quando não tratado. A depressão bipolar ou transtorno bipolar é diferente da depressão, mas esse tipo consta nessa lista porque a pessoa experimenta episódios de humor extremamente deprimidos, que satisfazem os critérios para depressão. É a alternância de momentos depressivos com períodos de extremos, eufóricos ou irritáveis, chamados de “mania”, ou uma forma menos grave, chamada “hipomania”. A distimia é uma forma de depressão crônica – com duração mínima de dois anos –, de intensidade moderada, quando o indivíduo fica predominantemente triste, desanimado, pessimista e sem vontade de agir, com pouca energia e concentração. Geralmente, as pessoas se mostram excessivamente preocupadas e apresentam um sentimento persistente de preocupação. As alterações de apetite, de libido e psicomotoras não são frequentes, sendo mais comuns sintomas como letargia e falta de prazer pelas coisas que antes eram prazerosas. Na maioria dos casos, se inicia na adolescência ou no princípio da idade adulta. Há também a depressão pós-parto, o transtorno disfórico pré-menstrual (surge quase todos os meses no período que antecede a menstruação), o transtorno afetivo sazonal (ocorre durante os meses de inverno, quando há menos luz solar natural), a depressão psicótica (pessoa tem depressão grave e sintomas psicóticos, como ter falsas crenças, delírios e alucinações) e o transtorno depressivo induzido por substância/medicamento (associado à ingestão, injeção ou inalação de uma substância – droga de abuso –, exposição a uma toxina ou uso de medicamento). A Teoria Monoaminérgica da Depressão propõe que a depressão seja consequência de uma menor disponibilidade de aminas biogênicas (serotonina, noradrenalina e/ou dopamina) nas sinapses cerebrais. Tal proposição é reforçada pelo conhecimento do mecanismo de ação dos antidepressivos, que se baseia, principalmente, no aumento da disponibilidade desses neurotransmissores na fenda sináptica, seja pela inibição (seletiva ou não) de suas recaptações, seja pela inibição da enzima responsável por suas degradações (inibidores da monoaminoxidase). As principais classes de antidepressivos são: (1) os inibidores da monoamina oxidase (MAO); (2) os antidepressivos tricíclicos; e (3) os inibidores seletivos da recaptação de serotonina. Outras classes envolvem os inibidores seletivos da recaptação de noradrenalina e serotonina; os inibidores da recaptação de serotonina que apresentam atividade antagonista alfa; e os inibidores seletivos da recaptação de noradrenalina. Alguns antidepressivos não se encaixam nos mecanismos de ação que acabamos de listar e serão abordados adiante. 191 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA Inibidores da monoamina oxidase (MAO) Os inibidores da MAO atuam inibindo a ação da enzima monoamina oxidase, responsável pela degradação das monoaminas (veja a figura a seguir). Existem dois subtipos dessa enzima, denominados MAO-A e MAO-B, envolvidos na biotransformação da serotonina, da noradrenalina e da dopamina. A ação da MAO é discutida no tópico Neurotransmissores autonômicos: biossíntese e biotransformação. A MAO-A tem preferência pela serotonina e, normalmente, é encontrada no sistema nervoso, no fígado, no trato gastrointestinal e na placenta. A MAO-B metaboliza preferencialmente o substrato feniletilamina e é, normalmente, encontrada no sistema nervoso e nas plaquetas. Tanto MAO-A como MAO-B são encontradas em neurônios e astrócitos do SNC. Metabólitos inativos Vesícula sináptica Fenda sináptica Neurônio pós-sináptico Resposta pós-sináptica Norepinefrina Serotonina Dopamina - Os IMAOs evitam a inativação das monoaminas no interior do neurônio, causando a difusão de um excesso de neurotransmissor para a fenda sináptica Figura 74 – Mecanismo de ação dos inibidores da MAO A isocarboxazida, a fenelzina e a tranilcipromina são inibidores não seletivos da MAO que se ligam de forma irreversível a ambos os subtipos da enzima. A redução na atividade da MAO-A e da MAO-B resulta em aumento na concentração das monoaminas nos locais de armazenamento no SNC, o que está relacionado à sua ação terapêutica, e no sistema nervoso simpático, o que está relacionado ao desenvolvimento de efeitos adversos potencialmente graves. Mais recentemente foram desenvolvidos inibidores seletivos e reversíveis da MAO-A e da MAO-B (moclobemida e selegilina, respectivamente). A inibição reversível e seletiva está relacionada à menor incidência de efeitos adversos. A moclobemida é usada no tratamento da depressão e a selegilina no tratamento da doença de Parkinson, devido à ação significativa dessa enzima sobre a dopamina (cujos níveis estão diminuídos na doença de Parkinson). 192 Unidade III Os principais efeitos adversos dos inibidores da MAO são devidos ao aumento do tônus simpático, decorrente da diminuição da taxa de biotransformação da norepinefrina no neurônio simpático. Esses efeitos incluem a hipotensão postural grave, principalmente ao levantar, e a crise hipertensiva, que cursa com palpitações, cefaleia, dor torácica intensa, midríase, aumento da sudorese e alteração da temperatura corporal, entre outros sintomas – há, inclusive, registros de hemorragia intracraniana decorrentes do quadro de hipertensão. Outros efeitos adversos menos graves incluem diarreia; edema; diminuição do tônus parassimpático; síndrome da secreção inadequada do hormônio antidiurético, que leva à diminuição na produção de urina; visão turva; mioclonias durante o sono; inquietação ou agitação; disfunção sexual feminina e masculina; sonolência; cefaleia leve sem aumento da pressão arterial; aumento de apetite e peso relacionado à fissura por carboidratos; aumento da sudorese; vertigens, tontura, cansaço ou fraqueza leve; abalos musculares ou tremores. A adesão ao tratamento com inibidores da MAO é dificultada devido aos numerosos efeitos adversos. O uso dos fármacos que inibem irreversivelmente a MAO inspira cuidados: durante o tratamento, é necessário adotar dieta pobre em tiramina, aminoácido precursor de catecolaminas, de modo a evitar uma crise hipertensiva potencialmente fatal. São exemplos de alimentos ricos em tiramina: cerveja, vinho, defumados, fígado de galinha, café, frutas cítricas, enlatados, vagens largas, feijão de corda, chocolate e queijo (por esse motivo, essa reação é denominada “reação do queijo”). A crise hipertensiva ocorre pelo seguinte motivo: a MAO presente no trato gastrointestinal e no fígado é responsável por degradar a tiramina. Como essa enzima está inibida, a tiramina atinge a circulação sistêmica e é captada pelo nervo simpático, o que ocasiona a liberação da norepinefrina armazenada, causando vasoconstrição intensa por conta da ativação de adrenoceptores alfa-1 nos vasos. Antidepressivos tricíclicos Os antidepressivos tricíclicos estão no mercado há mais tempo e são considerados antidepressivos de primeira geração. Eles são divididos em dois grupos, de acordo com sua estrutura química: as aminas terciárias (imipramina, amitriptilina, trimipramina e doxepina) e as aminas secundárias (desmetilimipramina, nortriptilina e protriptilina). A maprotilina e a amoxapina são antidepressivos tetracíclicos, com características farmacológicas semelhantes aos antidepressivos tricíclicos. O mecanismo de ação dos antidepressivos tricíclicos é a inibição da recaptação de monoaminas (principalmente da noradrenalina e da serotonina e, em menor proporção, da dopamina) pelo neurônio, o que resulta no aumento dotempo de ação desses neurotransmissores na fenda sináptica e a melhora dos sintomas da depressão (veja a figura a seguir). 193 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA N N Cl CH3 CH2CH2 Inibição da recaptação efeitos terapêuticos Imipramina Bloqueio de receptores efeitos adversos CH2 CH3 5HT NE ACH NE M, H1, α1 Figura 75 – Mecanismo de ação dos antidepressivos tricíclicos: 5HT = serotonina, NE = norepinefrina, ACH = acetilcolina, M = receptores muscarínicos, H1 = receptores H1 de histamina, α1 = adrenoceptores alfa-1 Como esses fármacos apresentam estrutura relativamente semelhante às monaminas, são capazes de bloquear receptores muscarínicos e adrenérgicos nos órgãos-alvo, com consequente diminuição do tônus autonômico. Além disso, ocorre bloqueio de receptores H1 de histamina, o que causa sedação, receptores 5HT de serotonina e receptores de dopamina. Os antidepressivos tricíclicos são usados no tratamento da depressão crônica ou profunda e das fases depressivas da doença bipolar. Também podem ser usados no tratamento da dor neuropática que não responde ao tratamento com opioides, o que possibilita que doses menores de analgésicos sejam empregadas. Essa analgesia possivelmente é decorrente de mudanças na concentração central de serotonina, além do efeito direto ou indireto dos antidepressivos tricíclicos nos sistemas opioides endógenos. Observação A dor neuropática é a dor causada por disfunção nos neurônios das vias centrais da dor. A maioria dos antidepressivos tricíclicos são cardiotóxicos e podem provocar arritmias. Esse efeito é decorrente da inibição periférica da norepinefrina e da epinefrina. Além disso, eles apresentam atividade anticolinérgica periférica, além da central, devido à potente e elevada afinidade de ligação por receptores muscarínicos. O bloqueio de adrenoceptores alfa, por sua vez, resulta em hipotensão postural. 194 Unidade III Outros efeitos adversos incluem taquicardia, sedação, ganho de peso, boca seca, disfunção sexual, hipotensão postural, retenção urinária, constipação intestinal, visão desfocada, tonturas, sudorese, tremores etc. É muito comum o paciente se queixar de sonolência, fraqueza e fadiga, o que, frequentemente, é motivo para a interrupção do uso. Inibidores seletivos da recaptação de serotonina Os antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) constituem uma classe de fármacos tão eficazes quanto os antidepressivos tricíclicos, mas com menos efeitos adversos associados ao seu uso, o que aumenta a adesão ao tratamento. Os principais ISRS são a fluoxetina, a sertralina, o citalopram, a fluvoxamina e a paroxetina. Os ISRS inibem de forma potente e seletiva a recaptação de serotonina, levando ao aumento da concentração de serotonina na fenda sináptica e, consequentemente, resultando em potencialização da neurotransmissão serotonérgica. Esse é o principal mecanismo de ação dos ISRS. Há indicações de que os ISRS possuem ainda efeitos anticolinérgicos, embora em menor proporção do que observado com o uso dos antidepressivos tricíclicos. Os diferentes fármacos ISRS compartilham o principal mecanismo de ação, embora a potência da inibição de recaptação da serotonina varie entre os representantes, sendo a sertralina e a paroxetina os mais potentes inibidores. São fármacos bem tolerados e, inclusive, são os medicamentos de escolha para o tratamento da depressão pediátrica. De forma geral, os efeitos adversos mais frequentemente relatados são: transtornos gastrintestinais (náuseas, vômitos, dor abdominal, diarreia); transtornos psiquiátricos (agitação, ansiedade, insônia); alterações do sono; urticária; fadiga; alterações do peso; e disfunções sexuais (retardo ejaculatório em homens e anorgasmia em mulheres). Na maioria dos pacientes, a fluoxetina apresenta efeito anorexígeno e, por esse motivo, ela é utilizada por algumas pessoas para perder peso. É importante salientar que seu uso para fins de emagrecimento não é indicado pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), pois o efeito anorexígeno é transitório (a parda de peso ocorre somente durante os primeiros 6 meses) e também porque foram relatados efeitos adversos potencialmente graves, que incluem a síndrome do pânico e os distúrbios psicóticos, em indivíduos não depressivos que fazem uso desse fármaco. Outras classes de antidepressivos • A venlafaxina e seu metabólito ativo, a O-desmetilvenlafaxina, são inibidores seletivos da recaptação de serotonina (principalmente) e de noradrenalina. Essas substâncias não apresentam afinidade por receptores adrenérgicos alfa-1, muscarínicos ou histamínicos (veja a figura a seguir). 195 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA Fenda sináptica Neurônio pós-sináptico Neurônio pré-sináptico Resposta pós-sináptica - Venlafaxina Duloxetina Norepinefrina Serotonina O fármaco antidepressivo bloqueia a captação do neurotransmissor Figura 76 – Mecanismo de ação dos inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina • A nefazodona inibe a recaptação neuronal de serotonina e noradrenalina e é um antagonista de receptores 5HT2 e de receptores alfa adrenérgicos. • A trazodona apresenta, como provável mecanismo de ação, a inibição da recaptação de serotonina e de noradrenalina, além de apresentar atividade antagonista de adrenoceptores alfa e atividade anti-histamínica. Esse fármaco está associado à ocorrência de priapismo (ereção peniana prolongada na ausência de estímulo), motivo de interrupção do tratamento. • A reboxetina apresenta atividade seletiva sobre a recaptação de noradrenalina, com atividade antagonista alfa-2. • A bupropiona apresenta mecanismo de ação não completamente conhecido. Propõe-se que esse fármaco apresente atividade noradrenérgica e dopaminérgica, mas não serotoninérgica. Ocorre aumento da liberação de noradrenalina corpórea e fraca inibição in vitro da captação neuronal de noradrenalina e de dopamina. Entre os antidepressivos de nova geração, apresenta o menor potencial de indução de efeitos adversos e a menor incidência de descontinuação do tratamento por intolerância. Além do uso como antidepressivo, é utilizado como suporte para quem deseja parar de fumar. • A ação da mirtazapina se dá através do aumento da atividade noradrenérgica e serotonérgica central. A mirtazapina é um antagonista de receptores alfa-2 adrenérgicos pré-sinápticos e antagonista 5-HT2 e 5-HT3 pós-sináptico. Sua afinidade pelos receptores histamínicos H1 explica o efeito sedativo. Apresenta fraca atividade por receptores muscarínicos e dopaminérgicos. Mesmo estando relacionada com o bloqueio de diferentes sistemas receptores, a mirtazapina apresenta boa tolerabilidade. 196 Unidade III 7.2.3 Estabilizadores do humor De acordo com Ward e Azzaro (2011), os fármacos utilizados no tratamento do transtorno bipolar são conhecidos como estabilizadores do humor. O transtorno bipolar consiste em uma perturbação mental caracterizada pela alternância entre períodos depressivos e períodos de ânimo exacerbado (mania ou hipomania). Durante o período de mania, a pessoa comporta-se ou sente-se anormalmente enérgica, contente ou irritável. Durante as fases depressivas, a pessoa pode chorar, encarar a vida de forma negativa e evitar o contato ocular com outras pessoas. O risco de suicídio entre as pessoas com transtorno bipolar é elevado e de 30% a 40% praticam automutilação. As causas do transtorno bipolar ainda não são totalmente compreendidas, mas tanto fatores ambientais como genéticos têm influência. De todos os fármacos denominados de estabilizadores do humor, o carbonato de lítio é o que tem eficácia mais abrangente. Tem como desvantagem início retardado de efeito (por isso utilizam-se anticonvulsivantes, neurolépticos ou benzodiazepínicos em associação com lítio no início do tratamento) e o índice terapêutico estreito, o que aumenta a chance de intoxicação. O mecanismo de ação exato do lítio não é conhecido.As principais hipóteses são: • Interfere no metabolismo do inositol trifosfato, responsável pela liberação do cálcio de seus depósitos intracelulares, possivelmente através da inibição de enzimas envolvidas na formação do inositol. • Por sua similaridade com outros elementos (sódio, potássio, cálcio e magnésio), o lítio eleva os níveis de serotonina e diminui os níveis de norepinefrina, alterando, ainda, as concentrações de dopamina, GABA e acetilcolina. • Inibe a adenilil ciclase e a inositol-1-fosfatase, ocasionando redução da neurotransmissão noradrenérgica. A inibição da adenilil ciclase leva a uma diminuição dos níveis de AMPc, o que resulta em efeitos variados. A inibição da inositol-1-fosfatase leva a uma depleção relativa de inositol e, consequentemente, a alterações no receptor acoplado ao fosfatidilinositol; porém, os efeitos da administração crônica são provavelmente mediados por mudanças distais ao receptor (por exemplo, em nível de proteína G) ou modificações nas isoenzimas da PKC, responsáveis pelas fosforilações de proteínas nucleares. • Em relação à neurotransmissão noradrenérgica, o lítio diminui a estimulação da adenilatociclase mediada por receptores beta-adrenérgicos e tende a diminuir o número de receptores alfa-2. • Promove o aumento da captação do triptofano (precursor da serotonina) e a diminuição da atividade de receptores serotoninérgicos pré-sinápticos inibitórios, um aumento da liberação de serotonina, especialmente no hipocampo. Também ocorre, no hipocampo, diminuição dos receptores 5-HT2 e aumento à resposta pós-sináptica de receptores 5-HT1. 197 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA • Promove aumento da concentração sináptica de glutamato que, com o tempo, estimula sua atividade do transporte e os receptores de GABA do hipocampo aumentando seus níveis. A desvantagem do lítio é significativa, pois, além de seus efeitos adversos indesejáveis, ele pode ser tóxico para a tireoide, causando hipotireoidismo. Também pode causar insuficiência renal permanente. Recomenda-se monitorar a função desses órgãos a cada 6 meses. Entretanto, em pacientes com transtorno bipolar os seus benefícios geralmente superam sua toxicidade e, por isso, é importante saber usá-lo. Quando possível, deve-se fazer o monitoramento dos níveis séricos de lítio. O lítio não deve ser administrado em casos de insuficiência renal grave ou doença cardiovascular, debilitação significativa, desidratação, depleção de sódio e para os pacientes em uso de diuréticos ou inibidores da enzima conversora da angiotensina, uma vez que o risco de toxicidade é muito alto nesses pacientes. 7.2.4 Neurolépticos Os neurolépticos, também conhecidos como antipsicóticos, tranquilizantes maiores ou antiesquizofrênicos, correspondem a um grupo heterogêneo de fármacos usados principalmente para tratar a esquizofrenia, a psicose, a mania, os delírios e os estados de agitação. A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica comum e grave, que afeta cerca de 1% da população no mundo. A morbidade, a mortalidade e o impacto na qualidade de vida são consideráveis e a doença tem alto custo econômico para a sociedade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a esquizofrenia como a oitava principal causa de incapacidade em todo o mundo na faixa etária de 15 a 44 anos. O portador de esquizofrenia e dos denominados transtornos esquizofrênicos apresenta um conjunto de psicoses endógenas (desorganização do pensamento e/ou do comportamento) cujos sintomas fundamentais apontam para a existência de uma dissociação entre a ação e o pensamento, expressa por uma sintomatologia variada, que pode incluir delírios persecutórios, alucinações, labilidade afetiva, entre outros. Pessoas com esquizofrenia podem parecer que perderam o contato com a realidade. Os aspectos mais característicos da esquizofrenia são alucinações e delírios, transtornos de pensamento e fala, perturbação das emoções e do afeto, e déficits cognitivos. Há diferentes tipos de esquizofrenia (paranoide, hebefrênica, catatônica, indiferenciada, residual, simples etc.). De uma forma geral, independentemente do tipo de esquizofrenia, os sintomas se dividem em três categorias: (1) positiva; (2) negativa; e (3) cognitiva. Os sintomas positivos são aqueles que geralmente respondem ao tratamento com neurolépticos clássicos, enquanto os sintomas negativos e os cognitivos são relativamente difíceis de serem tratados e requerem o uso dos neurolépticos mais modernos (atípicos). Pessoas com sintomas positivos podem “perder contato” com alguns aspectos da realidade. Alucinações, delírios, pensamentos desordenados e distúrbios do movimento (por exemplo, a acatisia, caracterizada por agitação psicomotora) são os principais sintomas positivos. 198 Unidade III Os sintomas negativos estão associados a interrupções nas emoções e nos comportamentos habituais e incluem: redução do afeto (expressão reduzida de emoções através da expressão facial ou tom de voz), anedonia ou perda da capacidade de sentir prazer na vida cotidiana, dificuldade em iniciar e manter atividades do dia a dia, redução de fala e apatia. Para alguns pacientes, os sintomas cognitivos são sutis, mas para outros são mais graves, e os pacientes podem perceber mudanças na memória ou outros aspectos do pensamento. Os sintomas cognitivos incluem: baixo funcionamento intelectual (capacidade de entender informações e usá-las para tomar decisões) e dificuldades para manter-se focado ou prestar atenção em atividades cotidianas. Do ponto de vista etiológico, é difícil estabelecer uma causa única para a esquizofrenia. São necessários fatores predisponentes (genéticos, constitucionais, bioquímicos) associados a fatores ambientais para o desenvolvimento da doença. Teorias dopaminérgica, serotoninérgica e glutamatérgica da esquizofrenia A hipótese dopaminérgica é a mais aceita como sendo associada aos sintomas positivos da esquizofrenia. Os neurônios dopaminérgicos estão presentes no SNC, nas vias mesolímbica, mesocortical, tuberoinfundibular e nigroestriatal, conforme já discutido anteriormente (no tópico Neurotransmissores). O paciente esquizofrênico pode apresentar ilusões na área emocional, mística e sexual, alucinações auditivas e olfativas e distorção da realidade. Esses sintomas estão relacionados ao aumento da dopamina liberada nas sinapses da via mesolímbica e mesocortical e são tratados com neurolépticos que bloqueiam os receptores dopaminérgicos centrais. A teoria dopaminérgica da esquizofrenia foi baseada na observação de que certos fármacos psicoestimulantes (anfetamina) tinham a capacidade de estimular a neurotransmissão da dopamina, causando uma psicose tóxica com características muito semelhantes às da esquizofrenia. A semelhança é tão grande, que pode levar a erros diagnósticos, caso o médico ignore que o paciente tenha ingerido anfetamina. Sabe-se que a anfetamina atua nos terminais dopaminérgicos aumentando a liberação de dopamina, além de impedir sua inativação na fenda sináptica, por inibir o mecanismo neuronal de recaptação existente na membrana pré-sináptica. Assim, acredita-se que os sintomas da esquizofrenia sejam devidos ao excesso de atividade dopaminérgica determinado pela anfetamina. De fato, essas manifestações de psicose cedem rapidamente após a administração de neurolépticos bloqueadores dos receptores dopaminérgicos, sobretudo do tipo D2, ricamente distribuídos nos gânglios da base e áreas mesolímbicas. Além disso, alguns pacientes com doença de Parkinson tratados com L-DOPA, precursor da dopamina, desenvolvem sintomas psicóticos semelhantes. Sabe-se ainda que o efeito antipsicótico de drogas como a clopromazina e o haloperidol deve-se a sua ação em bloquear a atividade dopaminérgica. Atualmente, sabe-se que, além do sistema dopaminérgico, outros sistemas de neurotransmissores centrais desempenham algum papel, sendo provável que vários sistemas estejam envolvidos simultaneamente. De fundamental importância é a teoriaserotoninérgica, que complementa a dopaminérgica no entendimento da gênese dos sintomas negativos e positivos, respectivamente. 199 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA A teoria serotoninérgica foi formulada a partir da observação de que o LSD, que atua como antagonista dos receptores serotoninérgicos, causa alucinações visuais, auditivas e sensoriais semelhantes às observadas na esquizofrenia. Essa observação levantou a possibilidade de que um déficit de serotonina estivesse envolvido na patogênese dos sintomas negativos da esquizofrenia. De fato, vários experimentos demonstraram que baixos níveis do ácido 5-hidroxi-indolacético (principal metabólito da serotonina) no líquor estão relacionados com sinais de impulsividade e propensão a cometer atos violentos contra si próprios ou contra os outros. Outro neurotransmissor, o glutamato, também parece estar relacionado ao desenvolvimento da esquizofrenia. Segundo a hipótese glutamatérgica, quantidades excessivas desse neurotransmissor exercem um efeito neurotóxico que desencadeia os sintomas da esquizofrenia. Fármacos neurolépticos Os neurolépticos são fármacos usados majoritariamente no tratamento da esquizofrenia. São antagonistas dos receptores D2 de dopamina, embora atuem bloqueando também adrenoceptores alfa-1, receptores colinérgicos muscarínicos M1, receptores histaminérgicos H1 e receptores 5HT2 de serotonina (veja a figura a seguir). De maneira geral: • Quanto maior a atividade antagonista D2, melhor o controle dos sintomas positivos. • Quanto maior a atividade antagonista 5HT2, melhor o controle dos sintomas negativos. A ativação do receptor 5HT2A pré-sináptico está relacionada com a diminuição da liberação de serotonina na fenda sináptica. Portanto, o bloqueio desse receptor causa aumento da neurotransmissão serotoninérgica, com correção dos sintomas negativos. • Quanto maior a atividade antagonista alfa-1, mais evidentes são os efeitos adversos decorrentes da diminuição do tônus simpático. • Quanto maior a atividade antagonista H1, mais intensa é a sedação decorrente do tratamento. - - - - - Particularmente clorpromazina Antipsicóticos Colinérgico (receptor muscarínico) Receptor de dopamina Receptor α-adrenérgico Receptor de serotonina Receptor de histamina H1 Particularmente clorpromazina, clozapina Risperidona, clozapina Todos, mas particularmente haloperidol, flufenazuna, tiotixeno Particularmente tioridazina, clorpromazina Figura 77 – Ação dos neurolépticos (antipsicóticos) sobre diferentes sistemas receptores 200 Unidade III Os neurolépticos são divididos em duas classes: os típicos e os atípicos. Os neurolépticos típicos, também conhecidos como clássicos, incluem o haloperidol, a clorpromazina, a flufenazina, a tioridazina, o flupentixol e a loxapina. Apresentam maior atividade antagonista em receptores D2 do que em receptores 5HT2. Os antipsicóticos atípicos, como a olanzapina, a clozapina, a quetiapina, a risperidona, o supiride e o sertindol, apresentam maior atividade em receptores 5HT2 de serotonina do que em receptores D2. O aripiprazol, um novo antipsicótico, apresenta como principal característica o agonismo parcial em receptores dopaminérgicos. Os antipsicóticos de primeira geração (típicos) de alta potência e de baixa potência promovem o bloqueio pós-sináptico dos receptores da dopamina D2 no sistema nervoso central. Os de baixa potência também possuem atividade anticolinérgica e anti-histaminérgica. Os antipsicóticos de segunda geração (atípicos) promovem o bloqueio pós-sináptico dos receptores da dopamina D2 (menos pronunciada que dos antipsicóticos típicos), atuam antagonizando os receptores serotoninérgicos 5-HT2A e interagem com vários outros receptores (D3, D4, antagonista nos receptores alfa-1 e alfa-2-adrenérgicos e nos receptores histaminérgicos H1). Os antipsicóticos de primeira geração (típicos) são caracterizados por efeitos colaterais indesejáveis, como sintomas extrapiramidais, hiperprolactinemia, discinesia tardia e possível síndrome maligna dos neurolépticos. Os antipsicóticos de segunda geração (atípicos) podem ser diferenciados dos antipsicóticos tradicionais por seus níveis baixos desses efeitos colaterais indesejados, por eficácia e, em geral, por suposta segurança aumentada. Os neurolépticos bloqueiam os receptores dopaminérgicos em todo o SNC; consequentemente, há o bloqueio das vias tuberoinfundibular e nigroestriatal, o que resulta em efeitos colaterais hormonais e extrapiramidais, respectivamente. O bloqueio dopaminérgico indesejável na via tuberoinfundibular traz efeitos colaterais como a galactorreia (produção de leite nas mamas de homens ou de mulheres que não estão amamentando) e a síndrome neuroléptica maligna (caracterizada por aumento da temperatura corporal, alteração do nível de consciência, hipertonia, disfunção autonômica e insuficiência respiratória, entre outros). Na via nigroestriatal, o bloqueio de receptores dopaminérgicos causa efeitos motores (efeitos extrapiramidais), como acatisia (impossibilidade de estar parado ou sentado; caracteriza-se pela inquietação, ansiedade, agitação, vontade de mover-se todo o tempo), o parkinsonismo medicamentoso, a distonia aguda (contrações musculares involuntárias), o tremor perioral e a discinesia tardia (movimentos involuntários, como fazer caretas e trejeitos ou piscar seguidamente). Os sintomas extrapiramidais podem ser tratados com a redução da dose dos neurolépticos ou com antiparkinsonianos (anticolinérgico e antagonista muscarínico central), como biperideno, benzhexol, orfenadrina, benzatropina, prometazina e amantadina. Esses fármacos melhoram o tremor e a rigidez e diminuem a secreção salivar, mas podem ocasionar confusão mental, retenção urinária e visão embaçada 201 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA como efeitos adversos. O biperideno é uma referência para o tratamento dos sintomas extrapiramidais, e a dose prescrita está relacionada com a do neuroléptico utilizado. Os sintomas extrapiramidais são causas importantes da não adesão do paciente ao tratamento psiquiátrico. 7.2.5 Anticonvulsivantes Os fármacos anticonvulsivantes (antiepiléticos) são usados no tratamento da epilepsia. O objetivo do tratamento farmacológico dessa condição é propiciar a melhor qualidade de vida possível para o paciente, pelo alcance de um adequado controle de crises, com um mínimo de efeitos adversos. A epilepsia é um distúrbio crônico caracterizado por episódios recorrentes nos quais o cérebro está sujeito a descargas excessivas anormais (convulsões) em uma população de neurônios do SNC. Observação Não se deve confundir convulsão com epilepsia. A convulsão é a descarga neuronal excessiva, de caráter isolado e sem característica repetitiva (episódio único). A epilepsia caracteriza-se por descarga neuronal excessiva de repetição. Há diferentes tipos de epilepsia. A crise focal (também referida como parcial), apresenta foco restrito a uma (unifocal) ou mais (multifocal) regiões cerebrais. Pode ser uma crise desperceptiva (com perda da consciência) ou perceptiva (com preservação da consciência). Por fim, classifica-se qual a manifestação sintomática (motora versus não motora). Se motora, pode ser clônica, tônica, atônica etc. Se não motora, cognitiva, sensorial, entre outras. Nas epilepsias focais, as crises epilépticas iniciam de forma localizada numa área específica do cérebro, e suas manifestações clínicas dependem do local de início e da velocidade de propagação da descarga epileptogênica. A crise generalizada implica atividade elétrica alterada por todo o encéfalo, com consciência não preservada. Pode ser generalizada e focal, motora e não motora. Se motora, pode envolver movimentos tônicos, clônicos, atônicos etc. Se não motora, por vezes é chamada de “crise de ausência”. As crises generalizadas manifestam-se por crises epilépticas cujo início envolve ambos os hemisférios simultaneamente. As crises de ausência, as crisesmioclônicas e as crises tônico-clônicas generalizadas são seus principais exemplos. A determinação do tipo específico de crise é importante, uma vez que seus mecanismos de geração e propagação diferem para cada situação, e existem anticonvulsivantes apropriados para a reversão de cada tipo de crise. Portanto, a escolha do medicamento é orientada pelo tipo de convulsão. Fármacos anticonvulsivantes Os anticonvulsivantes são classificados em clássicos (mais antigos) ou em mais recentes. Os anticonvulsivantes mais recentes geralmente são mais bem tolerados e têm uma faixa terapêutica mais ampla que os anticonvulsivantes clássicos. 202 Unidade III Todos os anticonvulsivantes têm efeitos colaterais dependentes da dose no SNC, como sonolência e náusea, mas alguns agentes têm efeitos colaterais mais específicos (por exemplo, hiperplasia gengival causada pela fenitoína). Além de sua importância na terapia antiepilética, os anticonvulsivantes também são usados no tratamento da dor (por exemplo, carbamazepina ou gabapentina como coanalgésicos) ou como estabilizadores de humor nos distúrbios bipolares (valproato). O quadro a seguir descreve os principais anticonvulsivantes, seus mecanismos de ação e principais indicações terapêuticas. Quadro 10 – Principais anticonvulsivantes Fármaco Mecanismo de ação Principais usos terapêuticos Ácido valproico/ Valproato de sódio Provável: Inibição da GABA transaminase (enzima que metaboliza o neurotransmissor inibitório GABA) Bloqueio de canais de sódio Tratamento de primeira linha a longo prazo para crises generalizadas tônico- clônicas, convulsões parciais (focais), crises de ausência e convulsões mioclônicas. Também é utilizado no tratamento do transtorno bipolar Carbamazepina Provável: Estabilização da membrana do nervo hiperexcitado Inibição da descarga neuronal repetitiva, por bloqueio dos canais de sódio Redução da propagação sináptica dos impulsos excitatórios glutamatérgicos Tratamento de primeira linha para crises generalizadas e focais tônico-clônicas e como tratamento de primeira linha da neuralgia do nervo trigêmeo Etossuximida Provável: Inibição dos canais de cálcio do tipo T Crises de ausência Fenitoína Provável: Bloqueio de canais de sódio Convulsões tônico-clônicas e profilaxia do estado de mal epilético. Raramente usada para tratamento prolongado de convulsões focais Diazepam (benzodiazepínico) Ligação ao receptor GABAA, com consequente aumento da afinidade do GABA por esse receptor e aumento da resposta mediada por ele Tratamento de primeira linha para o estado de mal epiléptico Lamotrigina Atua principalmente como bloqueador dos canais de sódio e bloqueador de canais de cálcio do tipo L, N e P Possui fraco efeito sobre o receptor serotoninérgico 5HT-3 Tratamento de primeira linha para terapia prolongada de crises focais, de segunda linha para crises generalizadas e crises de ausência e como estabilizador de humor para tratamento do transtorno bipolar Fenobarbital (barbitúrico) Ligação ao receptor GABAA, com consequente aumento do tempo de abertura do canal de cloreto induzida pelo GABA Prevenção de convulsões em indivíduos com epilepsia ou crises convulsivas de outras origens. Eficaz especialmente em crises generalizadas tônico-clônicas e convulsões focais Gabapentina Provável: Bloqueio dos canais de cálcio dependentes de voltagem (tipo T e tipo L) nos neurônios centrais Tratamento de segunda linha para convulsões focais 203 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA Fármaco Mecanismo de ação Principais usos terapêuticos Vigabatrina Provável: Inibição da GABA transaminase (responsável pela degradação do GABA) Crises focais refratárias Topiramato Bloqueio dos canais de sódio, potencialização da ação do GABA, redução da atividade excitatória do glutamato, inibição dos canais de cálcio de alta voltagem e inibição da anidrase carbônica no SNC. Crises epilépticas tônico-clônicas focais e generalizadas e na profilaxia da enxaqueca em alguns pacientes 7.2.6 Antiparkinsonianos A doença de Parkinson é uma condição neurodegenerativa do sistema nervoso central, crônica e progressiva. A etiologia e a patogênese não são completamente compreendidas. O tratamento farmacológico da doença de Parkinson é predominantemente focado no controle dos sintomas motores. O distúrbio do movimento da doença de Parkinson ocorre em grande parte devido à perda seletiva de neurônios dopaminérgicos na substância negra, com consequente depleção de dopamina no estriado. Os fármacos utilizados no tratamento da doença de Parkinson visam substituir essa dopamina no estriado. Isso pode ser alcançado através de fármacos que são metabolizados em dopamina, ou que ativam o seu receptor ou que impedem a quebra da dopamina endógena. Não existe um padrão único de estratégia de tratamento, com regimes de medicação adaptados a cada paciente, com base na gravidade e natureza temporal de seus sintomas, bem como nos efeitos colaterais que eles experimentam. A dopamina é incapaz de atravessar a barreira hematoencefálica e deve ser produzida dentro do sistema nervoso central para atuar no estriado. É sintetizada principalmente nos neurônios dopaminérgicos (neurônios produtores de dopamina) no cérebro, com pequenas quantidades também sendo produzidas na medula das glândulas suprarrenais. Na via biossintética clássica da dopamina, o precursor metabólico direto é a L-di-hidroxifenilalanina (levodopa ou L-dopa) sintetizada diretamente da tirosina (um aminoácido não essencial) ou indiretamente da fenilalanina (um aminoácido essencial). A via clássica da biossíntese da dopamina foi abordada no tópico Neurotransmissores autonômicos: biossíntese e biotransformação. Além disso, em condições específicas, a dopamina também pode ser sintetizada por uma via menor, na qual a L-tirosina é convertida em p-tiramina, com subsequente hidroxilação em dopamina pela enzima CYP2D6 (citocromo P450 2D6) encontrada na substância negra do cérebro humano. A dopamina é metabolizada após a recaptação para neurônios dopaminérgicos ou células da glia. Sofre desaminação oxidativa, catalisada pela enzima monoamina oxidase (MAO), conforme descrito anteriormente (no tópico Neurotransmissores autonômicos: biossíntese e biotransformação). Alternativamente, a dopamina é metabolizada em 3-metoxitiramina por COMT, que por sua vez é convertida em 3-metoxi-4-hidroxiacetaldeído pela MAO. A aldeído desidrogenase, mencionada anteriormente, converte isso em HVA, que é excretada na urina. 204 Unidade III Fármacos usados no tratamento da doença de Parkinson Atualmente, não existem medicamentos modificadores da doença de Parkinson, de forma que os tratamentos utilizados podem oferecer alívio sintomático significativo dos sintomas motores, mas oferecem pouco benefício clínico em termos das manifestações não motoras da doença. É prática comum atrasar o início do tratamento até que os sintomas do paciente se tornem preocupantes, para reduzir o impacto de efeitos adversos. A base do tratamento atual da doença de Parkinson são as preparações à base de levodopa (L-dopa). Como descrito anteriormente, a dopamina em si é incapaz de atravessar a barreira hematoencefálica e não pode ser usada como tratamento. Por outro lado, o precursor da dopamina, levodopa, é capaz de atravessá-la e, portanto, é administrada como terapia. Após absorção e passagem pela barreira hematoencefálica, a levodopa é convertida no neurotransmissor dopamina pela enzima dopa descarboxilase. É prática comum que os pacientes iniciem uma dose baixa de levodopa, com a dose sendo titulada com base na resposta do paciente ao tratamento, equilibrada contra os efeitos adversos experimentados. Geralmente, o efeito clínico da levodopa é percebido rapidamente e pode durar várias horas, principalmente nos estágios iniciais da doença. No entanto, à medida que a doença se torna mais avançada, o efeito do fármaco geralmente desaparece após períodos mais curtos, sendonecessário o aumento da frequência da dosagem. A levodopa, embora eficaz, apresenta efeitos colaterais significativos que constituem uma parte importante da doença vivenciada pelo paciente, particularmente em quadros avançados. Alguns de seus efeitos adversos resultam da conversão de levodopa em dopamina fora do SNC (conversão periférica). Esses efeitos são minimizados através da associação desse fármaco com inibidores periféricos da dopa descarboxilase, conforme discutiremos adiante. O uso prolongado pode resultar em complicações motoras significativas, incluindo discinesias e graves flutuações motoras. Outros efeitos adversos importantes incluem distúrbios gastrointestinais, como náusea e vômito, e hipotensão ortostática. Características neuropsiquiátricas, incluindo ansiedade e alucinações, podem ocorrer devido ao aumento da neurotransmissão dopaminérgica nas regiões mesolímbica e mesocortical, mimetizando um quadro semelhante à esquizofrenia. Observação Em relação à neurotransmissão dopaminérgica, a esquizofrenia e o Parkinson apresentam características opostas: a primeira é caracterizada pelo aumento dos níveis de dopamina e a segunda pela diminuição. Para reduzir seus efeitos colaterais periféricos, a levodopa é administrada em combinação com inibidores da dopa descarboxilase, como a benserazida e a carbidopa. Esses compostos não atravessam a barreira hematoencefálica e impedem seletivamente a conversão periférica de levodopa em dopamina, reduzindo assim os efeitos adversos na periferia. As associações mais frequentemente prescritas são carbidopa/levodopa e benserazida/levodopa. 205 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA Os agonistas dos receptores de dopamina ativam os receptores dopaminérgicos na via nigroestriatal e, assim, restabelecem o movimento. Esses fármacos, que incluem os derivados do ergot (bromocriptina e cabergolina) e os não derivados do ergot (apomorfina, pramipexol, ropinirol e rotigotina), são frequentemente prescritos como terapia inicial para a doença de Parkinson, principalmente em pacientes mais jovens. Essa abordagem permite um atraso no uso da levodopa, o que pode reduzir o impacto das complicações motoras problemáticas discutidas anteriormente. Alguns estudos pré-clínicos e de imagem sugeriram que os agonistas de receptores da dopamina podem possuir propriedades antioxidantes e levar à redução da perda de neurônios dopaminérgicos, embora não haja evidências convincentes de que esses fármacos ofereçam um efeito modificador da doença. Os inibidores da MAO-B (selegilina e rasagilina) inibem a biotransformação da dopamina após sua recaptação neuronal, o que resulta na preservação dos níveis de dopamina endógena. Seu uso alivia os sintomas motores em pacientes com doença de Parkinson e, como os agonistas da dopamina, eles podem ser usados como uma opção inicial de tratamento, para atrasar a necessidade de terapia com levodopa. Os inibidores da MAO-B também podem ser utilizados em combinação com preparações à base de levodopa, para permitir uma redução na sua dose. Os inibidores da COMT (entacapona e tolcapona) também preservam os níveis endógenos de dopamina, reduzindo sua degradação após recaptação pelos tecidos-alvo. Esses fármacos são predominantemente usados como terapia adjuvante à levodopa, prolongando sua duração de ação e aumentando sua meia-vida e sua distribuição. A entacapona, por exemplo, é frequentemente usada em uma preparação combinada, juntamente a carbidopa e levodopa. No entanto, essa associação pode resultar em amplificação dos efeitos adversos induzidos pela levodopa, o que requer a diminuição da sua dose. Todos os fármacos discutidos até agora aumentam a atividade dopaminérgica no estriado. Há, no entanto, um pequeno número de fármacos utilizados no tratamento da doença de Parkinson que atuam através de mecanismos não dopaminérgicos. Uma dessas classes de fármacos são os anticolinérgicos. Os anticolinérgicos de ação central (benzotropina, orfenadrina, prociclidina e triexifenidil e biperideno) são antagonistas dos receptores muscarínicos que reduzem a neurotransmissão colinérgica no sistema nervoso central. Embora seu papel seja limitado e sejam prescritos com pouca frequência, eles podem oferecer algum benefício em melhorar a rigidez e o tremor na doença de Parkinson. A perda de neurônios dopaminérgicos resulta em perturbação do equilíbrio normal entre dopamina e acetilcolina no cérebro, e os medicamentos anticolinérgicos podem levar à restauração e à manutenção do equilíbrio normal entre esses dois neurotransmissores (veja a figura a seguir). 206 Unidade III Neurônio ACh estimulante Neurônio DA inibitório Neurônio GABA inibitório Substância negra Neurônio Neoestriado Neurônio Conexões ao músculo através do córtex motor e da medula espinal 1. Devido à morte celular, ocorre menor liberação de dopamina no neoestriado 2. A perda do efeito inibitório da dopamina resulta em maior produção de acetilcolina que inicia uma sequência de sinalização anormal, comprometendo a motilidade Figura 78 – Envolvimento da neurotransmissão colinérgica na doença de Parkinson Quando são utilizados anticolinérgicos, isso geralmente é feito em combinação com a levodopa e com os outros medicamentos mencionados anteriormente. Geralmente são evitados em pacientes idosos ou com problemas cognitivos, devido ao aumento do risco de confusão mental. O biperideno é um anticolinérgico utilizado no tratamento do parkinsonismo medicamentoso (induzido por neurolépticos), pois, nesse caso, não é recomendado se aumentar a neurotransmissão dopaminérgica, sob o risco do retorno dos sintomas da esquizofrenia. Inicialmente, a amantadina foi desenvolvida como um fármaco antiviral para o tratamento da gripe, mas posteriormente foi usada para o tratamento da doença de Parkinson. Pode ser usado no tratamento de rigidez, tremor de repouso e, às vezes, fadiga, e pode oferecer uma melhora de curta duração nos sintomas. Também pode permitir o uso de uma dose mais baixa de levodopa, reduzindo o risco de discinesia. Entretanto sua propriedade mais útil provavelmente é o fato de poder ser utilizada para limitar a gravidade das discinesias induzidas por levodopa. Não se sabe o mecanismo exato da amantadina que justifique seu efeito antiparkinsoniano, mas há evidências que a amantadina atua como um antagonista fraco do glutamato no receptor N-metil-D-aspartato (NMDA). 7.2.7 Tratamento da doença de Alzheimer A doença de Alzheimer é um distúrbio neurodegenerativo relacionado à idade, progressivo e irreversível, caracterizado por comprometimento cognitivo e de memória, e é a causa mais comum de demência em idosos. A maioria das pessoas com doença de Alzheimer (mais de 95%) tem de forma esporádica ou de início tardio, uma doença multifatorial na qual fatores ambientais e predisposição genética contribuem para a patologia. A outra forma da doença de Alzheimer, familiar ou de início precoce, corresponde a menos de 5% da população com a doença e é devida a mutações em qualquer 207 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA um dos três genes a seguir: (a) o gene da proteína precursora amiloide (APP) no cromossomo 21, (b) o gene da presenilina 1 (PSEN-1) no cromossomo 14 e (c) o gene da presenilina 2 (PSEN-2) no cromossomo 1. A classificação da doença de Alzheimer é baseada em critérios clínicos, incluindo histórico médico, exame físico, exames laboratoriais, exames de imagem e avaliação neuropsicológica. As características neuropatológicas de ambas as formas do Alzheimer são caracterizadas pelo acúmulo extracelular anormal de peptídeo β-amiloide em placas amiloides e proteína tau agregada em emaranhados neurofibrilares intracelulares (NFTs). Existem dados epidemiológicos, clínicos e experimentais que sustentam várias hipóteses de patogênese da doença de Alzheimer: (1) a hipótese da cascata de amiloide propõe que o acúmulo de Aβ como placas neuríticas, placas difusas ou formas oligoméricas no cérebroé o principal evento patogênico; (2) a hipótese da tau sugere hiperfosforilação da tau como evento primário; (3) a hipótese colinérgica propõe que há uma redução na atividade dos níveis de colina acetiltransferase e acetilcolina em áreas como o córtex cerebral; (4) a hipótese da cascata mitocondrial aponta para o comprometimento das mitocôndrias cerebrais como o primeiro evento patogênico que leva à neurodegeneração; (5) a hipótese metabólica sustenta que a doença é causada por alterações nos processos metabólicos, como obesidade, diabetes e hipercolesterolemia; e, finalmente, (6) a hipótese vascular apresenta a redução do fluxo sanguíneo cerebral como principal característica. Fármacos usados no tratamento da doença de Alzheimer A doença de Alzheimer requer diagnóstico preciso e precoce. As opções terapêuticas concentraram-se na melhora dos sintomas e na redução da taxa de progressão da doença. Os tratamentos da doença de Alzheimer são baseados em inibidores da acetilcolinesterase e em um antagonista do glutamato, proporcionando apenas alívio sintomático. A acetilcolina desempenha um papel crucial na mediação da aprendizagem e da memória. Há uma interação direta entre o peptídeo Aβ e o sistema colinérgico, com feedback negativo para a produção do peptídeo. A alteração nesse ciclo de feedback negativo e o acúmulo anormal de Aβ reduzem a eficácia da transmissão colinérgica, focada nos receptores nicotínicos da acetilcolina. Para aumentar a neurotransmissão colinérgica no SNC, são usados anticolinesterásicos, que são fármacos que inibem a enzima acetilcolinesterase responsável pela degradação da acetilcolina na fenda sináptica. Com isso, ocorre aumento do tempo de meia-vida desse neurotransmissor. Os anticolinesterásicos já foram abordados no tópico Parassimpatomiméticos de ação indireta. Os principais inibidores da acetilcolinesterase usados no tratamento da doença de Alzheimer são a rivastigmina, o donepezil e a galantamina. 208 Unidade III Os eventos adversos mais frequentes com o uso desses fármacos são: diminuição do apetite, tontura, cefaleia, tremor, sonolência, diminuição da frequência cardíaca, aumento da pressão arterial, diarreia, desconforto gástrico, sudorese aumentada, espasmos musculares, fraqueza. Quando muito intensos, eles determinam a interrupção do uso da medicação. A superestimulação mediada por glutamato resulta em sobrecarga de cálcio e disfunção mitocondrial, com aumento da geração de óxido nítrico, que pode ser prejudicial para as células, formando altos níveis de oxidantes e provocando apoptose neuronal. Essa superestimulação pode ser bloqueada por antagonistas dos receptores NMDA, como a memantina, com um efeito benéfico na cognição. A memantina pode proteger os neurônios atenuando a fosforilação da tau através de uma diminuição da atividade da enzima glicogênio sintase cinase 3β (GSK-3β). Esse antagonista glutamatérgico não competitivo do receptor NMDA pode ser administrado isoladamente ou em combinação com um anticolinesterásico, embora possa haver poucas mudanças favoráveis significativas na terapia combinada. 8 FARMACOLOGIA DO SISTEMA ENDÓCRINO O sistema endócrino participa, juntamente ao sistema nervoso, do controle das diferentes funções metabólicas do organismo, do crescimento, das funções sexuais masculina e feminina, entre outras ações. Os efetores do sistema endócrino são os hormônios, substâncias químicas secretadas para o sangue por uma célula por um grupo de células, a fim de exercer controle sobre órgãos e tecidos que, muitas vezes, encontram-se distantes do local de secreção dessas substâncias. Por se difundirem pela circulação sanguínea, os hormônios conseguem atingir diferentes órgãos e tecidos simultaneamente e, assim, promover o controle integrado de todo o organismo. A maioria dos hormônios é secretada por glândulas endócrinas específicas. Alguns exemplos são a epinefrina, a norepinefrina e o cortisol, secretados pelas glândulas suprarrenais, e a tiroxina (T4) e a tri-iodotironina (T3), secretados pela tireoide. Alguns órgãos apresentam atividade endócrina em paralelo a outras funções fisiológicas, como os testículos e os ovários. Alguns hormônios exercem seus efeitos virtualmente sobre todos os órgãos, como é o exemplo do hormônio do crescimento (GH) e dos hormônios tireoidianos. Outros são importantes para o controle da atividade de alguns órgãos específicos, como é o exemplo dos hormônios sexuais (estrógeno, progesterona e testosterona). A ação dos hormônios sobre os órgãos-alvo é controlada pela expressão dos receptores para esses hormônios nesses órgãos. O quadro a seguir lista os principais hormônios, seus locais de secreção e principais funções: 209 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA Quadro 11 – Principais hormônios e suas funções Glândula Hormônio Função Hipófise (lobo anterior) Hormônio do crescimento (GH) Promove o crescimento e a diferenciação de praticamente todas as células do organismo Corticotropina (ACTH) Induz a secreção de cortisol pelo córtex da suprarrenal Hormônio tireoestimulante (TSH) Induz a secreção de tiroxina e de tri-iodotironina pela tireoide Hormônio folículo- estimulante (FSH) Induz a maturação dos folículos ovarianos; promove a produção de espermatozoides Hormônio luteinizante (LH) Induz a ovulação e a formação do corpo lúteo; participa do estímulo para a produção dos hormônios sexuais femininos e masculino Prolactina Promove o desenvolvimento das mamas e a secreção de leite Hipófise (lobo posterior) Hormônio antidiurético (ADH) Promove retenção hídrica e vasoconstrição Ocitocina Promove a contração do útero durante o parto e as células mioepiteliais da mama Suprarrenal (córtex) Cortisol Promove o controle de metabolismo intermediário e a regulação do sistema imunológico Aldosterona Promove retenção de sódio e aumento da excreção de potássio pelos rins Suprarrenal (medula) Epinefrina e norepinefrina Controle simpático da função de diferentes órgãos e tecidos Tireoide Tiroxina e tri-iodotironina Elevação do metabolismo corporal Calcitonina Promove a deposição de cálcio nos ossos Paratireoide Paratormônio Controla a concentração dos íons cálcio no líquido extracelular Pâncreas (ilhotas de Langerhans) Insulina Promove a entrada da glicose nas células Glucagon Induz a glicogenólise e, portanto, o aumento da glicemia Ovários Estrógenos Induzem o desenvolvimento dos órgãos sexuais femininos, das mamas e das características sexuais secundárias Progesterona Manutenção do endométrio e desenvolvimento do aparelho secretor das mamas Testículos Testosterona Estimula o crescimento dos órgãos sexuais masculinos e o desenvolvimento das características sexuais secundárias. Juntamente ao FSH, estimula a espermatogênese 8.1 Mecanismos de ação hormonal De acordo com Clark et al. (2013), os hormônios exercem suas ações através da ativação de receptores específicos presentes, na grande maioria das vezes, na membrana e/ou no citoplasma das células. A diversidade das ações hormonais resulta dos diferentes sistemas receptores presentes, de maneira específica, nos diferentes tipos celulares que constituem nossos órgãos e sistemas. Os principais sistemas receptores que medeiam as respostas hormonais são: 210 Unidade III Receptores intracelulares Os hormônios esteroidais (cortisol, aldosterona, testosterona, estrógenos e progesterona) e os hormônios tireoidianos (T3 e T4) ativam receptores específicos (veja o quadro a seguir) presentes no citoplasma e/ou no núcleo das células, o que desencadeia a ativação/repressão da transcrição gênica. Os mecanismos de ação dos receptores intracelulares estão descritos no tópico Receptores intracelulares. Quadro 12 – Classificação dos receptores intracelulares envolvidos nas respostas hormonais Receptor Ligante endógeno GR (receptor de glicocorticoides) Cortisol MR (receptor de mineralocorticoides) Aldosterona AR (receptor de andrógenos) Testosterona, di-hidrotestosterona ER (receptor de estrógenos)Estradiol, estriol, estrona PR (receptor de progesterona) Progesterona TR (receptor dos hormônios tireoidianos) Tiroxina (T4) e tri-iodotironina (T3) Ao regular o padrão de expressão proteica nas células-alvo, os hormônios alteram o funcionamento dessas células de maneira relativamente duradoura. A célula pode, por exemplo, passar a produzir quantidades maiores de determinada enzima, o que resulta no aumento da velocidade da reação bioquímica associada a essa enzima. Receptores acoplados à proteína Gs Os receptores do ACTH, do TSH, do LH, do FSH, da vasopressina, do hormônio paratireoideo, do glucagon, das catecolaminas, da secretina e dos hormônios hipotalâmicos de liberação são acoplados à proteína Gs, que está relacionada à formação do segundo mensageiro AMPc a partir do ATP. O mecanismo de transdução de sinal resultante da ativação dos receptores acoplados à proteína Gs é discutido em detalhes no tópico Receptores acoplados à proteína G. Conforme já abordado nos tópicos Receptores acoplados à proteína G e Simpatomiméticos de ação direta: catecolaminas endógenas, o resultado das ações do AMPc depende do repertório proteico de cada célula. Pode-se observar a síntese de substâncias intracelulares específicas, o desencadeamento da contração ou do relaxamento do músculo liso, a secreção de substâncias para o meio extracelular, a alteração da permeabilidade celular etc. Assim, o AMPc que se encontra aumentado em resposta à ativação dos receptores de TSH numa célula da tireoide resulta na síntese dos hormônios metabólicos tiroxina (T4) e tri-iodotironina (T3), enquanto o mesmo AMPc, aumentado em resposta à ativação de receptores de ACTH numa célula da suprarrenal, causa a secreção de cortisol e de aldosterona. Por outro lado, o AMPc afeta as células epiteliais dos túbulos renais, aumentando sua permeabilidade à água, como resultado da ativação de receptores de vasopressina, que também são acoplados à Gs. 211 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA Receptores acoplados à proteína Gq Os receptores de TRH, de GnRH, de ocitocina e de vasopressina são acoplados preferencialmente à proteína Gq. Conforme descrito no tópico Receptores acoplados à proteína G, a sinalização mediada por esses receptores resulta na ativação da fosfolipase C, com formação de diacilglicerol (DAG) e trifosfato de inositol (IP3). O DAG inicia uma cascata de fosforilações, a partir da ativação da proteína quinase C (PKC), enquanto o IP3 está relacionado com a liberação de íons cálcio do retículo sarcoplasmático, o que aumenta os níveis intracelulares de cálcio. Nesse tipo de sinalização, o cálcio exerce um papel fundamental pois, ao se ligar à calmodulina, permite a consolidação de uma série de ações, que incluem a contração da musculatura lisa e também a secreção de substâncias para o meio extracelular, já que a fusão das vesículas de secreção com a membrana das células é um processo dependente de cálcio. É o que acontece quando o TRH se liga a seus receptores, acoplados à Gq, presentes na hipófise, e estimula a síntese e a secreção de TSH para a circulação. Receptores com função enzimática A insulina é um exemplo de hormônio que ativa receptores com função enzimática. Como resultado da ativação desses receptores, ocorre sua dimerização e ativação dos domínios de quinase localizados na porção carboxi-terminal intracelular dele. Em seguida, ocorre autofosforilação dos resíduos de tirosina do receptor e também a fosforilação de numerosas substâncias diferentes no interior da célula, o que resulta na ação final da insulina sobre as células. O mecanismo de ação dos receptores com função enzimática foi discutido no tópico Receptores enzimáticos. 8.2 O eixo hipotálamo-hipófise e a secreção hormonal Conforme Parker e Schimmer (2012), hipófise é também conhecida como glândula pituitária e está localizada na sela túrcica, na base do cérebro, ligada ao hipotálamo pelo pedúnculo hipofisário. Essa glândula pode ser dividida em duas partes: a hipófise anterior também é conhecida como adenoipófise e secreta seis importantes hormônios (ACTH, TSH, FSH, LH, GH e prolactina), enquanto a hipófise posterior também é conhecida como neuroipófise e secreta dois importantes hormônios (ocitocina e vasopressina). A maioria dos hormônios hipofisários tem sua secreção controlada pelo hipotálamo, que é uma estrutura do sistema nervoso central capaz de interpretar informações relacionadas ao funcionamento geral do organismo, como o estado emocional do indivíduo, os estímulos dolorosos e olfativos, a concentração de eletrólitos nos líquidos extracelulares, os hormônios circulantes etc. A partir desses estímulos, o hipotálamo gera sinais nervosos e hormonais que atuarão sobre a hipófise. Os sinais nervosos referem-se à ativação de neurônios que emergem do hipotálamo em direção à hipófise posterior, a fim de estimular ou inibir a secreção de ocitocina e de vasopressina, enquanto os sinais hormonais referem-se aos hormônios reguladores (GHRH, GnRH, CRH e TRH, por exemplo) produzidos pelo hipotálamo. Esses hormônios atingem a hipófise anterior por meio do sistema porta hipotalâmico-hipofisário e, ao ativarem os respectivos receptores, promovem a secreção dos seis hormônios da hipófise anterior que acabamos de listar. 212 Unidade III À exceção da prolactina, da ocitocina e da vasopressina, todos os demais hormônios hipofisários apresentam, como principal função, estimular a secreção de hormônios em órgãos-alvos específicos: o GH promove a secreção de fatores de crescimento semelhantes à insulina do tipo 1 (IGF-1) pelo fígado, o ACTH estimula a secreção de cortisol pela suprarrenal; o FSH e o LH estimulam, direta ou indiretamente, a secreção dos hormônios sexuais pelos ovários e pelos testículos; e o TSH estimula a secreção de T3 e de T4 pela tireoide (veja a figura a seguir). IGF-1 Cortisol T3 e T4 Estrógeno Progesterona Testosterona TestículoOvário ProlactinaLH (homens)LH (mulheres)FSH Hipófise anterior PRH PIH GnRHCRH GHRH TRH Hipotálamo TSHACTHGH TireoideSuprarrenalFígado Glândulas mamárias Figura 79 – Ações do eixo hipotálamo-hipófise nos diferentes tecidos Essa secreção é autocontrolada pelo mecanismo de retroalimentação negativa (feedback negativo), através do qual os hormônios produzidos nas glândulas-alvo da ação da hipófise (suprarrenal, ovários, testículos e tireoide) ativam seus receptores presentes na hipófise e/ou no hipotálamo, resultando na inibição do eixo e na diminuição da secreção hormonal por essas estruturas. O mecanismo de feedback negativo será explorado em maiores detalhes adiante. A seguir, são abordados os principais sistemas de regulação pertencentes ao eixo hipotálamo-hipófise com importância terapêutica. O eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal já foi descrito, no tópico dedicado ao tratamento da dor e da inflamação (Anti-inflamatórios esteroidais). 8.2.1 O eixo hipotálamo-hipófise-tireoide A glândula tireoide localiza-se imediatamente abaixo da laringe, e sua parte anterior é responsável pela síntese e secreção da tiroxina (T4) e da tri-iodotironina (T3), que exercem profundos efeitos sobre o metabolismo. A tireoide também secreta calcitonina, um importante hormônio relacionado ao metabolismo do cálcio. 213 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA O T3 e o T4 atuam no sentido de aumentar a taxa do metabolismo basal. Assim, a ausência desses hormônios na circulação causa queda do metabolismo basal para cerca de 60% do normal, enquanto o excesso desses hormônios pode até dobrar essa taxa. Os hormônios tireoidianos atuam nos tecidos-alvo através da ativação de receptores intracelulares e, assim, são capazes de alterar a expressão gênica nessas células. Como resultado, são observados: • Aumento do tamanho e do número das mitocôndrias. • Aumento do transporte ativo de substâncias através das membranas celulares. • Aumento da velocidade do crescimento. • Efeitos sobre o metabolismo de carboidratos: aumento da velocidade de captação da glicose,aumento da glicólise e da gliconeogênese e aumento da secreção de insulina, entre outros. • Efeitos sobre o metabolismo de lipídeos: os lipídios são mobilizados do tecido adiposo, o que aumenta a concentração de ácidos graxos livres no plasma e a oxidação dos ácidos graxos livres pelas células. Embora seja observado aumento dos ácidos graxos livres, ocorre diminuição da quantidade de colesterol, de fosfolipídios e de triglicérides no plasma. • Aumento da necessidade de vitaminas, secundário ao aumento do metabolismo basal e de outros processos enzimáticos nos quais as vitaminas participam como cofatores. • Aumento do trabalho cardíaco, da frequência respiratória, do apetite e da velocidade de digestão. • Aumento da velocidade das secreções endócrinas. • Aumento da reatividade muscular. • Efeitos sobre o sistema nervoso central: aumento da velocidade de pensamentos e da vigília. A secreção da tireoide é controlada primariamente pelo hormônio tireoestimulante (TSH), secretado pelo lobo anterior da hipófise. O TSH, por sua vez, tem sua secreção controlada pelo hipotálamo, através da secreção de TRH. Estímulos como o frio, o stress e outros traumas estimulam a síntese e a liberação de TRH por esse órgão, a fim de iniciar a cascata de eventos que culmina com o aumento do metabolismo basal do indivíduo. O eixo hipotálamo-hipófise-tireoide é controlado pelo mecanismo de feedback negativo (veja a figura a seguir). O aumento da concentração dos hormônios tireoidianos, T3 e T4, nos líquidos corporais, diminui principalmente a secreção de TSH pela hipófise anterior e, aparentemente, também a secreção de TRH pelo hipotálamo. Isso garante que, em condições de homeostase, a secreção dos hormônios tireoidianos seja mantida dentro da normalidade. De fato, quando a secreção do hormônio tireoideo aumenta para cerca de 1,75 vez o valor normal, a secreção do TSH torna-se praticamente nula. 214 Unidade III Hipotálamo Hipófise TRH TSH T3, T4 Tireoide Aumento do metabolismo basal Feedback negativo - + + Figura 80 – O eixo hipotálamo-hipófise-tireoide As disfunções da função hipofisária são classificadas em hipotireoidismo, quando há diminuição da síntese e da secreção de T3 e T4, e hipertireoidismo, quando há aumento desses hormônios na circulação. Hipotireoidismo A causa mais frequente do hipotireoidismo é a destruição autoimune das células do folículo tireoidiano, em uma condição denominada tireoidite de Hashimoto. A deficiência de iodo (bócio endêmico) também pode causar essa condição, porém, como o sal que consumimos em nossa alimentação é iodado, o hipotireoidismo por deficiência de iodo só é importante em comunidades isoladas que não fazem uso do sal com suplementação. Observação O iodo é essencial para a síntese de T3 e de T4. A iodação da tirosina é a primeira etapa na produção desses hormônios. O T3 é formado pela junção de uma monoiodotirosina e uma di-iodotirosina, e o T4, pela junção de duas di-iodotirosinas. Os sinais clínicos do hipotireoidismo incluem adinamia, fadiga, aumento do peso corporal, aterosclerose, depressão, irritabilidade, macroglossia, pele seca, intolerância ao frio, entre outros. O diagnóstico dessa condição é feito não só pela observação dos sinais clínicos que acabamos de descrever, mas também pela dosagem hormonal: observa-se diminuição do T4 livre no sangue e aumento dos níveis plasmáticos de TSH, uma vez que não há quantidade suficiente de hormônios tireoidianos para promover o feedback negativo sobre a hipófise. O tratamento farmacológico do hipotireoidismo é feito pela reposição dos hormônios tireoidianos. Para esse fim, utiliza-se a loitironina (sal de T3), a levotiroxina (sal de T4) ou o liotrix (sal de T3 e T4 em proporções fisiológicas). 215 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA Os hormônios T3 e T4 apresentam algumas particularidades em relação ao transporte pela circulação e à potência de ação: o T4 liga-se com maior afinidade às proteínas transportadoras no plasma e, portanto, sua meia-vida plasmática é maior. No entanto, o T3 é cerca de quatro vezes mais potente do que o T4 no que diz respeito à ativação dos receptores. Assim, o T4 é a forma preferencialmente transportada pelo sangue; nos órgãos-alvo, ocorre a conversão do T4 a T3, pela perda de um resíduo de iodeto de sua estrutura, o que garante a ativação ótima dos receptores pelo T3 recém-formados. Por esse motivo, na maioria das vezes a reposição hormonal é realizada com o liotrix, que contém ambos os hormônios, a fim de simular a sua fisiologia. Hipertireoidismo Na maioria dos pacientes com hipertireoidismo, ocorre aumento do tamanho da tireoide e hiperplasia das células do folículo tireoidiano. Isso resulta no aumento da velocidade de secreção de T3 e T4 para a circulação, o que causa produção excessiva de calor, aumento da atividade motora, aumento do tônus simpático, pele quente e úmida, fraqueza muscular, com tremores, aumento do trabalho cardíaco, aumento do apetite, com perda de peso concomitante, insônia e ansiedade. A principal causa do hipertireoidismo também é autoimune, só que, nesse caso, são observados anticorpos que se ligam aos receptores de TSH na tireoide e conseguem ativá-los, o que estimula a síntese e a secreção de T3 e T4 para a circulação. Essa condição é denominada doença de Graves, e pode ser diagnosticada a partir das dosagens hormonais (ao contrário do que se observa no hipotireoidismo, os níveis de T4 livre no plasma estão aumentados e o TSH, diminuído, devido a maior intensidade do feedback negativo sobre a hipófise causado pelo excesso de T3 e T4) e também pela detecção de anticorpos TsAb no plasma. De maneira alternativa, o hipertireoidismo pode ser consequência de um adenoma na glândula tireoide. As células tumorais secretam grandes quantidades de hormônios tireoideos e, por esse motivo, o diagnóstico dessa condição é feito administrando-se iodo radioativo (131I) ao paciente. O iodo administrado será captado em maior quantidade pelas células tumorais hiperfuncionantes, o que permite a visualização do tumor em exames de imagem. Como efeito adicional, ocorre a destruição da maioria, senão de todas, as células tumorais pelo iodo radioativo, que, portanto, constitui não só ferramenta diagnóstica, mas também tratamento. Diversos fármacos são utilizados no tratamento do hipertireoidismo. Esses fármacos visam a diminuição da captação do iodo pelos folículos tireoidianos e a síntese de T3 e T4. Esses fármacos são apresentados no quadro a seguir: Quadro 13 – Principais fármacos utilizados no tratamento do hipertireoidismo Fármaco Mecanismo de ação Tioaminas (propiltiouracil e metimazol) Inibem a iodação das tirosinas e o acoplamento das iodotirosinas para a formação de T3 e T4 Tintura de iodo (lugol) O excesso de iodo promove a inibição do transporte do íon para dentro do folículo tireoidiano. O efeito é observado somente em curto prazo. Usado como medicação pré-cirúrgica nas cirurgias da tireoide Inibidores iônicos (tiocianatos e percloratos) Íons semelhantes ao iodo, inibem a captação de iodo pela tireoide Betabloqueadores (propranolol) Previnem o aumento do trabalho cardíaco provocado pelo excesso de T3 e T4. Usados como medicação pré-cirúrgica nas cirurgias da tireoide 216 Unidade III 8.2.2 O eixo hipotálamo-hipófise-testículo O hormônio sexual masculino é a testosterona. Ela é sintetizada nos testículos, pelas células de Leydig, e participa da espermetogênese e da manutenção da função sexual masculina, entre outras ações que serão exploradas ao longo do texto. Esse hormônio é produzido em concentrações significativas a partir da puberdade. Na puberdade, o eixo hipotálamo-hipófise-testículo torna-se ativo. O hipotálamo inicia a secreção pulsátil de GnRH. Esse hormônio atua sobre a hipófise, induzindo a produção de LH e de FSH. Os hormônios hipofisários, ou gonadotrofinas, atuam sobre as células testiculares, da seguinte maneira: o LH estimula a produção de testosteronapelas células de Leydig e o FSH, juntamente à testosterona recém-produzida, é responsável pela espermatogênese. A secreção de FSH, LH e testosterona é controlada pelo mecanismo de retroalimentação negativa (feedback negativo). A testosterona, quando atinge determinada concentração no plasma, é capaz de inibir a secreção das gonadotrofinas. Assim, à medida que a testosterona é produzida e cai na corrente sanguínea, ela reduz os níveis de FSH e de LH, o que diminui o estímulo sobre as células de Leydig e, portanto, a produção de mais testosterona. De maneira semelhante, as células de Sertoli produzem um hormônio denominado inibina sob ação do FSH; esse hormônio também é capaz de inibir a hipófise (veja a figura a seguir). Hipotálamo Hipófise Feedback negativo Feedback negativo - - + ++ GnRH FSHLH Testosterona Inibina Testículo Células de Leydig Células de Sertoli Regulação das funções sexuais masculinas Figura 81 – Eixo hipotálamo-hipófise-testículo e mecanismo de feedback negativo As ações da testosterona no homem são: regulação da espermatogênese (juntamente ao FSH); desenvolvimento dos órgãos sexuais masculinos durante o período embrionário; desenvolvimento das características sexuais masculinas que surgem durante a puberdade (aumento do pênis, aparecimento dos pelos corporais, engrossamento da voz, aumento da oleosidade da pele, hipertrofia muscular, estirão 217 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA de crescimento etc.); e manutenção da libido. Essas ações são resultado da ativação dos receptores de andrógeno (AR), que são receptores intracelulares cujo mecanismo de ação foi discutido no tópico Receptores intracelulares. Assim as ações da testosterona resultam da alteração da expressão gênica nas células-alvo. A testosterona pode ainda ser convertida em outros hormônios, o estradiol e a di-hidrotestosterona (DHT), a partir da ação de enzimas específicas. Esses hormônios também são fundamentais para a manutenção da fisiologia masculina, a diminuição dos níveis plasmáticos de FSH pode causar infertilidade, pois esse hormônio, mais a testosterona, é essencial para a formação dos espermatozoides. O estradiol é um derivado estrogênico produzido em pequenas quantidades nos indivíduos do sexo masculino, por ação da enzima aromatase. É responsável pela regulação do metabolismo de carboidratos e de gorduras, pela saúde dos ossos (a osteoporose masculina pode ser tratada com estradiol) e, juntamente à testosterona, pela regulação da libido. No homem, altas concentrações de estradiol estão relacionadas com o desenvolvimento de características femininas como o aparecimento de mamas. Essas ações são observadas no sexo masculino porque vários tecidos expressam o receptor de estrógeno (ER) em suas células. A DHT é um hormônio produzido em alguns órgãos (próstata, pele, folículos pilosos, sistema nervoso central e fígado) a partir da ação da enzima 5-alfa redutase sobre a testosterona. Esse hormônio participa, com a testosterona, da diferenciação sexual masculina durante a vida intrauterina, da maturação do pênis e do escroto, do crescimento do cabelo facial e dos pelos corporais, da produção de sebo pela pele e do desenvolvimento e manutenção da próstata. A DHT é mais potente do que a testosterona sobre os receptores AR, o que significa que mesmo pequenas concentrações desse hormônio já são capazes de ativar a expressão gênica de maneira mais eficiente. O excesso de DHT está relacionado com o aparecimento de acne e seborreia, calvície, hirsutismo, hiperplasia e câncer prostático. Os agentes androgênicos estimulam o eixo hipotálamo-hipófise-testículo por diferentes mecanismos. Esses fármacos são utilizados no tratamento da deficiência de testosterona em homens; do hipogonadismo masculino; de desordens hematológicas (pois estimulam a eritropoiese); e de desordens catabólicas (pois são agentes anabolizantes). Além disso, são utilizados na melhora da performance atlética (as conhecidas “bombas”). Os altos níveis plasmáticos de andrógenos decorrentes dessa prática estão relacionados a vários efeitos adversos deletérios. Os agentes antiandrogênicos, por sua vez, inibem a síntese ou as ações da testosterona e/ou da DHT e são utilizados no tratamento das síndromes virilizantes em mulheres, da puberdade precoce em meninos, das doenças da próstata (hipertrofia e câncer) e da alopecia (calvície). Agentes androgênicos Os análogos da testosterona são semelhantes ao hormônio masculino e, portanto, são agonistas do AR. A estrutura química da testosterona e dos principais análogos é apresentada na figura a seguir: 218 Unidade III O O O O O O OH OH OCO(CH2)8CH=CH2 OR OR OH CH3 CH3 H CH3 N O OH R = COCH2CH3 → propinato R = COCH2CH2 → cipionato R = CO(CH2)5CH3 → enantato R = COCH2CH2 → fenilpropionato R = CO(CH2)8CH3 → decanoato Testosterona Testosterona Nortestosterona (nandrolona) Mesterolona Undecanoato de testosterona Metiltestosterona Danazol Figura 82 – Estrutura química da testosterona e de seus principais análogos Os análogos 17-alfa alquilados (metiltestosterona, danazol) apresentam a inserção de um alquil na posição 17-alfa da testosterona, o que retarda o metabolismo hepático, possibilitando a administração por via oral. No entanto, são hepatotóxicos. Os análogos que apresentam modificação nos anéis A-C (mesterolona) também podem ser administrados por via oral e apresentam potencial hepatotóxico significativamente menor, sendo, portanto, mais seguros. Os ésteres de testosterona (undecanoato, propionato, ciprionato e enantato de testosterona, além do fenilpropionato e do decanoato de nandrolona) apresentam inserção de um ácido graxo esterificado na posição 17-beta, tornando o composto mais lipofílico que a testosterona. A administração pode ser feita por via oral (undecanoato de testosterona) ou intramuscular (demais representantes). A testosterona micronizada é uma das formulações mais recentes. É administrada em adesivos; isso permite a liberação transdérmica, o que evita o metabolismo de primeira passagem. Além disso, os níveis séricos de testosterona flutuam menos do que com o uso de preparações administradas por via oral ou intramuscular. Os ésteres de testosterona e as preparações transdérmicas são os agentes androgênicos mais utilizados no tratamento da deficiência de testosterona e do hipogonadismo masculino. O hipogonadismo masculino pode ser primário, quando ocorre por incapacidade de produção de testosterona pelos testículos, ou secundário, quando resulta de deficiência hipotalâmica ou hipofisária, sendo conservada a capacidade de produção de testosterona pelos testículos, que, no entanto, não sintetizam o hormônio masculino por falta de estímulo. 219 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA No caso do hipogonadismo primário, o tratamento baseia-se na administração de análogos da testosterona. No tratamento do hipogonadismo secundário podem ser utilizados análogos do GnRH (gonadorrelina) administrados de maneira pulsátil, a fim de mimetizar a atividade normal do hipotálamo. Observação A administração contínua de análogos do GnRH inibe o eixo hipotálamo-hipófise-testículo e é uma maneira de realizar uma castração química. O tratamento da deficiência de testosterona e do hipogonadismo masculino é feito em longo prazo, senão durante toda a vida do indivíduo. Por esse motivo, é necessário o monitoramento periódico dos níveis séricos de testosterona, a fim de se evitar níveis suprafisiológicos, que podem causar diversos efeitos adversos. A acne, a ginecomastia (devido à conversão periférica da testosterona em estrógeno) e as alterações comportamentais (como a agressividade) são os primeiros efeitos adversos decorrentes dos altos níveis plasmáticos de andrógenos. A hipertrofia e o câncer da próstata, por sua vez, são os efeitos mais tardios. Ocorre também a diminuição dos níveis plasmáticos dos hormônios gonadotróficos, LH e FSH, por conta da exacerbação do mecanismo de feedbacknegativo que os análogos da testosterona exercem não só sobre a hipófise, mas também sobre o hipotálamo. Lembrete A diminuição dos níveis plasmáticos de FSH causa infertilidade, pois esse hormônio, juntamente à testosterona, é essencial para a formação dos espermatozoides (espermatogênese). Agentes antiandrogênicos Os agentes antiandrogênicos são classificados, de acordo com a sua ação, em três categorias distintas: fármacos que inibem o eixo hipotálamo-hipófise-testículo, antagonistas do AR e inibidores da 5-alfa-redutase. Os fármacos que inibem o eixo hipotálamo-hipófise-testículo são os agonistas e os antagonistas dos receptores de GnRH. A gonadorrelina, a buserelina e a leuprorrelina são análogos do GnRH que, quando administrados de forma pulsátil, com picos de liberação a cada 90 minutos, e de modo a mimetizar os níveis normais do hormônio, ativam os receptores de GnRH presentes na hipófise, causando aumento da síntese e da secreção dos hormônios gonadotróficos (LH e FSH). Como resultado, ocorre a normalização dos níveis plasmáticos de testosterona, o que é útil no tratamento da deficiência de testosterona e do hipogonadismo primário, conforme discutido anteriormente. 220 Unidade III No entanto, quando a administração desses análogos é feita de forma contínua, ocorre uma ativação inicial dos receptores, seguida de sua dessensibilização. Como resultado, ocorre a inibição do eixo hipotálamo-hipófise-testículo, com diminuição dos níveis plasmáticos de testosterona (veja a figura a seguir). Essa estratégia é denominada castração química. Esses fármacos podem ser utilizados no tratamento do câncer prostático, pois, ao inibirem a hipófise, diminuem a secreção de LH, que é o estímulo para a secreção de testosterona. Uma vez que muitas linhagens de tumores de próstata são dependentes de andrógenos, diminui-se o estímulo para a proliferação e a diferenciação das células neoplásicas. Ativação dos receptores Qu an tid ad e lib er ad a FSH LH Hipófise 90 min Administração contínuaAdministração pulsátil Dessensibilização dos receptores Infusão contínua Interrupção da secreção hormonal Castração química Figura 83 – Efeito da administração pulsátil e contínua dos análogos do GnRH Uma outra maneira de se inibir o eixo hipotálamo-hipófise-testículo e promover uma castração química é pela utilização de antagonistas do receptor de GnRH, como o acetato de cetorrelix. Esse fármaco originalmente é utilizado para prevenir a ovulação prematura em mulheres que estão realizando técnicas de reprodução assistida, porém também é capaz de inibir o eixo hipotálamo-hipófise-testículo através do bloqueio dos receptores de GnRH na hipófise. Os antagonistas do AR constituem a segunda classe de agentes antiandrogênicos. Eles atuam bloqueando o receptor de andrógenos e, assim, impedindo as ações da testosterona nos órgãos-alvo. Essa estratégia é útil no tratamento do câncer da próstata metastático, uma vez que essa condição é dependente de andrógenos. A flutamida e a bicalutamida são os principais antagonistas do AR, utilizados no tratamento do câncer prostático e das síndromes virilizantes em mulheres. Não são efetivos se usados sozinhos, já que ocorre bloqueio do AR também na hipófise, o que impede o mecanismo de feedback negativo e causa aumento nos níveis plasmáticos de LH, com consequente aumento da secreção de testosterona para o sangue. Esse aumento não é desejável, já que o objetivo primário do tratamento é exatamente o 221 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA bloqueio do AR para interrupção das ações da testosterona, e o excesso desse hormônio pode retirar os antagonistas do sítio de ligação com o receptor. Por esse motivo, são usados em conjunto aos análogos de GnRH de administração contínua. Para se evitar esse efeito, pode-se lançar mão do acetato de ciproterona, que apresenta atividade antagonista em AR e agonista em receptores de progesterona (PR), uma vez que a hipófise também apresenta receptores para esse último hormônio e sua ativação causa o estabelecimento do mecanismo de feedback negativo sobre o eixo (veja a figura a seguir). Esse fármaco é muito utilizado no tratamento da síndrome dos ovários policísticos, na qual os níveis de andrógenos encontram-se elevados. Hipotálamo Hipotálamo Hipotálamo Testículo Sertoli Leydig Testículo Sertoli Leydig Testículo Sertoli Leydig + + ++ + + + + + FSH FSH FSH Testosterona Testosterona Testosterona LH LH LH GnRH GnRH GnRH - - Testosterona (concentração fisiológica) Flutamida Acetato de ciproterona Adenoipófise AR T Adenoipófise AR F Adenoipófise PR AC T T T T T Figura 84 – Efeito da testosterona (T), da flutamida (F) e do acetato de ciproterona (AC) sobre o eixo hipotálamo-hipófise-testículo A terceira classe de agentes antiandrogênicos engloba os inibidores da 5-alfa-redutase. Esses fármacos impedem a conversão de testosterona em DHT e são utilizados no tratamento do câncer prostático e da alopecia androgênica (calvície), já que essas duas condições são consequência do aumento da concentração de DHT na próstata e no couro cabeludo. O principal fármaco dessa classe é a finasterida. 8.2.3 O eixo hipotálamo-hipófise-ovários Os hormônios femininos (estrógenos e progesterona) são sintetizados nos ovários em resposta aos hormônios hipofisários LH e FSH. Na mulher, o mecanismo de feedback negativo também controla a secreção dos hormônios sexuais de maneira semelhante à observada no homem. No entanto, a quantidade de hormônios secretados varia de acordo com a fase do ciclo sexual da mulher. Assim, dizemos que a secreção de GnRH nos homens é pulsátil, mas não é cíclica, e concentrações semelhantes do hormônio são liberadas na circulação a cada 90 minutos. Na mulher, a secreção desse hormônio, além de ser pulsátil, também é cíclica. 222 Unidade III Hipotálamo Hipófise Feedback negativo Feedback negativo - - - + ++ GnRH LHHFSH Estrógeno Progesterona Ovário Folículo ovariano Corpo lúteo Regulação das funções sexuais femininas Figura 85 – Eixo hipotálamo-hipófise-ovário e mecanismo de feedback negativo O ciclo sexual feminino, que se inicia com a menarca (primeira menstruação) e perdura até a menopausa, engloba o ciclo ovariano e o ciclo menstrual. Tem a duração média de 28 dias, como consequência da liberação cíclica de hormônios sexuais. Durante a primeira metade do ciclo, predomina a secreção de FSH e, durante a segunda fase, a secreção de LH. O dia zero do ciclo sexual feminino é o primeiro dia da menstruação. A partir desse dia, a secreção de FSH e de LH aumentam gradativamente, e os níveis plasmáticos de FSH são aproximadamente o dobro dos de LH. Durante essa fase, o FSH estimula o crescimento e a maturação do folículo ovariano. Como consequência, as células da granulosa do folículo ovariano passam a sintetizar e secretar estrógeno, e os níveis plasmáticos desse hormônio aumentam consideravelmente. O crescimento folicular se completa no 14º dia do ciclo sexual, momento no qual ocorre a ovulação. Os estrógenos estão envolvidos no aparecimento de características sexuais secundárias femininas; pela indução da proliferação das células uterinas (miométrio e endométrio) e de vários outros tecidos; pelo estímulo do crescimento rápido de todos os ossos logo após a puberdade e pelo fechamento das epífises; e pelo comportamento sexual feminino. Durante a primeira metade do ciclo sexual feminino (dias 0 a 14), os estrógenos exercem feedback negativo sobre a hipófise (e, em maiores concentrações, também sobre o hipotálamo). À medida que o ciclo se aproxima do momento da ovulação, os níveis plasmáticos de estrógeno aumentam a ponto de inibir o feedback negativo e promover o feedback positivo sobre a secreção de LH e FSH. Como consequência do feedback positivo, por volta do 14º dia, são observados picos de FSH e de LH. O pico de LH é muito maior do que o de FSH e, por esse motivo, é denominado “surto” de LH. 223 FARMACOLOGIA APLICADA ÀBIOMEDICINA O LH é um hormônio importante durante a fase final do crescimento folicular, pois promove o rompimento do folículo ovariano e a expulsão do ovócito (ovulação). Além disso, sob ação do LH, os ovários passam a produzir mais progesterona, e a secreção de estrógenos diminui. A progesterona é um hormônio essencial durante a segunda fase do ciclo sexual feminino, pois mantém o endométrio, que proliferou intensamente durante a primeira fase. O corpo lúteo também secreta estrógenos, só que em menor concentração. Com a progressão da fase lútea, os estrógenos e a progesterona produzidos pelo corpo lúteo voltam a exercer o feedback negativo sobre a secreção de LH e FSH e, como consequência, a secreção desses hormônios diminui progressivamente. Há ainda secreção de pequenas quantidades de inibina pelas células luteínicas, o que intensifica ainda mais o mecanismo de feedback negativo. A queda dos níveis de LH no sangue em decorrência do mecanismo de feedback negativo impossibilita a manutenção do corpo lúteo. A partir desse momento, que ocorre cerca de 14 dias após a ovulação, observa-se descamação do endométrio (menstruação), e o ciclo é reiniciado. Se, alternativamente, ocorrer implantação de um embrião no útero, a síntese de gonadotrofina coriônica humana (hCG) é iniciada, o que possibilita a manutenção do corpo lúteo e, consequentemente, a continuação da secreção de progesterona por essa estrutura. A progesterona apresenta como principais funções a indução da secreção e decidualização do endométrio, a manutenção da gestação, a inibição das contrações uterinas e o desenvolvimento glandular das mamas. As concentrações plasmáticas dos hormônios hipofisários e ovarianos durante o ciclo sexual feminino estão representadas na figura a seguir: 0 0 0 400 400 800 800 200 200 0 8 600 Ov ul aç ão Progesterona Dias do ciclo sexual feminino LH FSH Estradiol M en st ru aç ão Pr og es te ro na (n g/ m L) FS H e LH (n g/ m L) Es tr ad io l ( pg /m L) Ov ul aç ão 600 4 8 12 16 20 242 6 10 14 18 22 26 28 Figura 86 – Variações nos níveis circulantes de hormônios femininos durante o ciclo sexual 224 Unidade III Os fármacos que atuam sobre o eixo hipotálamo-hipófise-ovários são os análogos do estrógeno e da progesterona, os moduladores seletivos do receptor de estrógenos (Serms) e os antagonistas dos receptores de progesterona (PR). Os análogos do estrógeno e da progesterona são utilizados, em conjunto ou isoladamente, no tratamento de uma série de condições, que incluem a reposição hormonal pós-menopausa, a indução da ovulação em procedimentos de reprodução assistida, a prevenção da osteoporose e a contracepção, entre outros. Derivados estrogênicos Quando nos referimos ao estrógeno, estamos na verdade nos referindo ao conjunto dos três hormônios que são sintetizados pela enzima aromatase presente nas células da granulosa: a estrona, o estriol e o estradiol. O estradiol, também conhecido como 17-beta estradiol, é o principal estrógeno secretado pelos ovários. Apresenta maior potência sobre os receptores de estrógeno (ER). A estrona é um metabólito formado a partir da androstenediona (um derivado da testosterona) e o principal estrógeno circulante na pós-menopausa. Apresenta somente cerca de um terço da potência do estradiol, o que explica sua inabilidade em manter a função sexual feminina. O esfriol é outro metabólito do estradiol, presente em quantidades significativas durante a gestação, já que é o principal estrógeno produzido pela placenta. Os receptores de estrógeno (ER) são receptores intracelulares, cujo mecanismo de ação é equivalente ao observado em outros receptores de hormônios esteroidais (para mais informações, consulte o tópico Receptores intracelulares). Além disso, o estrógeno também exerce algumas de suas ações através da ativação de receptores de membrana, acoplados preferencialmente à proteína Gq. Além da via de sinalização tradicionalmente relacionada com a ativação desses receptores, que inclui os segundos mensageiros DAG e IP3, os efeitos vasculares dos estrógenos (vasodilatação) são mediados pelo óxido nítrico (NO) e pela prostaciclina (PGI2), um prostanoide (ver tópico Mecanismo de ação dos Aines para mais informações a respeito dessa citocina). Várias moléculas com estrutura semelhante ao estradiol compõem preparações de administração oral, parenteral, transdérmica e tópica que são usadas na clínica. Uma preparação de estrogênios obtidos de éguas prenhes, contendo ésteres sulfato de estrona e equilina, é utilizada por via oral nos tratamentos de reposição hormonal pós-menopausa. Diversos derivados estrogênicos de origem vegetal e sintéticos também estão disponíveis. O etinilestradiol, por exemplo, é um derivado sintético que compõe a maioria das pílulas anticoncepcionais e apresenta menor velocidade de biotransformação hepática. Os usos dos derivados estrogênicos incluem a contracepção, a terapia hormonal pós-menopausa, a prevenção da osteoporose (pois regulam a atividade dos osteoblastos e dos osteoclastos) e, em conjunto a outros hormônios, a indução da ovulação em procedimentos de reprodução assistida. 225 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA Os efeitos adversos desses agentes são em geral decorrentes do uso crônico dessa substância e incluem o aumento da probabilidade de desenvolver câncer de mama e de endométrio (principalmente com o uso de doses mais elevadas, como aquelas utilizadas na terapia de reposição hormonal), doenças tromboembólicas, hipertensão, enxaquecas e alterações de humor. As terapias que utilizam estrógenos por um longo período de tempo (contraceptivos orais combinados e terapia de reposição hormonal pós-menopausa, principalmente) são controversas, devido aos efeitos adversos que podem desencadear. O uso de contraceptivos orais combinados aumenta o risco de desenvolver trombos, e por esse motivo, a candidata ao uso da pílula anticoncepcional deve passar por extensa anamnese antes de iniciar o uso. Fatores como o histórico familiar de trombose e os hábitos de vida – tabagismo, sedentarismo, entre outros – aumentam ainda mais a probabilidade de ocorrência de trombose venosa profunda, e é necessário se avaliar, nesses casos, se os riscos da terapia hormonal não superam os benefícios. A trombose venosa profunda (TVP) caracteriza-se pela formação de um coágulo no interior de uma veia, geralmente localizada nas pernas. É uma condição que inspira cuidados, pois uma parte desse coágulo pode se desprender e seguir pela circulação, atingindo, por exemplo, os pulmões e causando um quadro de embolia pulmonar, potencialmente fatal. O derivado estrogênico utilizado nas pílulas anticoncepcionais é o etinilestradiol. Seu uso, mesmo em baixas doses, aumenta o risco de trombose venosa profunda em até seis vezes. O efeito trombogênico é resultado do aumento da expressão de diversos fatores de coagulação (fatores VII, X, XII e XIII) e da diminuição da expressão de fatores anticoagulantes, como a proteína S e a antitrombina. Em relação à terapia hormonal pós-menopausa, ocorre significativo aumento da probabilidade de desenvolver câncer de mama e, portanto, recomenda-se que seja prescrita a menor dose eficaz de hormônio pelo menor tempo possível para aliviar os sintomas da menopausa. Além dos derivados estrogênicos, outro grupo de substâncias, denominadas moduladores seletivos dos receptores de estrógeno (Serms), também atua sobre os receptores de estrógeno. Dependendo do tecido analisado, o tamoxifeno, o raloxifeno e o clomifeno, principais Serms, podem se comportar como agonistas ou como antagonistas do ER. O Serm ideal é aquele que apresenta atividade agonista do ER naqueles tecidos nos quais o estrógeno apresenta um papel protetor (sistema cardiovascular, ossos e sistema nervoso central) e antagonistas nos sítios onde a ação do estrógeno é prejudicial (mama e endométrio). Como ainda não foram sintetizadas moléculas que apresentem todas essas características,a busca por novos compostos continua. O tamoxifeno apresenta atividade antagonista do ER na mama e agonista do ER no útero. É utilizado no tratamento do câncer de mama dependente de estrógeno, e o raloxifeno é utilizado na prevenção da osteoporose pós-menopausa e do câncer de mama. 226 Unidade III Progestinas Nas mulheres, a progesterona promove a manutenção do endométrio secretor, que apresenta as características ideais para que ocorra a implantação do embrião. Se não houver fecundação, a queda abrupta dos níveis de progesterona estimula o início da menstruação. A progesterona e seus derivados (levonorgestrel, desogestrel, norestiterona etc.) exercem seu mecanismo de ação através da ativação dos receptores de progesterona PR, intracelulares, que regulam a expressão gênica por mecanismos análogos àqueles estudados nos receptores de testosterona e estrógeno (conforme vimos no tópico Receptores intracelulares). Como resultado, além dos efeitos sobre o sistema reprodutor, ocorre aumento dos níveis de glicogênio, diminuição da reabsorção de sódio e água, aumento da temperatura corporal, redução de alguns aminoácidos plasmáticos e aumento na excreção de compostos nitrogenados. Os principais efeitos adversos associados ao uso das progestinas são cefaleia, depressão, aumento de massa corporal e alterações na libido. Os principais usos terapêuticos das progestinas são a correção de deficiências no eixo hipotálamo-hipófise-ovário e a contracepção. Também são usadas para o controle do sangramento uterino disfuncional, da dismenorreia, da endometriose e da infertilidade. A mefipristona é um antagonista de progesterona com atividade agonista parcial. Sua administração no início da gestação geralmente resulta em aborto do feto, devido à interferência nas ações da progesterona, necessária para manter a gestação. É geralmente combinada com misoprostol (um análogo de prostaglandina, leia mais no tópico Mecanismo de ação dos Aines), a fim de induzir contrações uterinas. Contraceptivos hormonais Os contraceptivos hormonais são compostos somente de um derivado sintético da progesterona (progestina), ou de uma combinação entre uma progestina e um derivado estrogênico. Ao atingirem a circulação sistêmica, os hormônios presentes nessas formulações simulam o efeito inibitório do estradiol e da progesterona sobre a secreção de FSH, LH e GnRH. A exposição contínua a esses hormônios, mesmo em baixas doses, induz permanentemente o feedback negativo sobre a hipófise e o hipotálamo. Como resultado, os níveis de FSH e LH caem drasticamente, impossibilitando a maturação folicular e a ovulação. Além disso, os contraceptivos hormonais tornam o muco cervical mais espesso e impedem que o endométrio esteja adequadamente preparado para a gravidez. As principais formulações para uso na contracepção são: • Contraceptivo oral combinado: é a associação entre um derivado estrogênico (etinilestradiol ou mestranol) e de uma progestina (linestrenol, norgestrel, acetato de ciproterona, levonorgestrel, desogestrel, gestodene etc.). Existem formulações monofásicas, nas quais a dose dos hormônios é a mesma em todos os comprimidos, e as bifásicas ou trifásicas, nas quais ocorre variação das doses administradas dentro de uma mesma cartela. 227 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA • Contraceptivo injetável: os hormônios derivados do estrógeno (por exemplo, valerato de estradiol e enantato de estradiol) e da progesterona (por exemplo, noretisterona e algestona acetofenida) são administrados por via intramuscular, mensalmente ou a cada três meses. São formulados como preparações de depósito, o que garante que a liberação dos hormônios para a circulação ocorra lentamente. É uma alternativa para aquelas mulheres que se esquecem de tomar o contraceptivo oral diariamente. • Adesivo hormonal transdérmico: os hormônios (norelgestromina e etinilestradiol, por exemplo) ficam impregnados em um adesivo que é posicionado na pele e são liberados continuamente durante o ciclo. • Anel vaginal: é um anel fino e flexível que deve ser colocado na vagina. Também contém derivados do estrógeno e da progesterona (etonogestrel e etinilestradiol, por exemplo) que impedem a ovulação pelo mecanismo que acabamos de detalhar. • Contraceptivo hormonal de emergência (pílula do dia seguinte): é constituído de altas doses de uma progestina (levonorgestrel, por exemplo) que, além de inibir a ovulação, torna o muco cervical inviável para a passagem do espermatozoide. Deve ser utilizado após o ato sexual, nas vezes em que a contracepção inicial falhou. • Minipílula: Composta de somente uma progestina (linestrenol, noretisterona ou levonogestrel), também promove feedback negativo sobre a hipófise e altera a viscosidade do muco cervical. Indicada para pacientes cujo uso de derivados do estrógeno sejam contraindicados. Saiba mais Recomendamos as seguintes obras: CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. LÜLLMANN, H.; JÜRGEN, W. Color atlas of pharmacology. Nova York: Thieme, 2000. Resumo Nesta unidade, estudamos os fármacos que atuam sobre o sistema nervoso central e o sistema endócrino. Ambos apresentam funções regulatórias e integrativas importantes, que impactam o organismo como um todo. O sistema nervoso central detecta estímulos externos e internos, tanto físicos quanto químicos, e desencadeia respostas orgânicas adaptativas. 228 Unidade III Assim, é responsável pela integração do organismo com os ambientes externo e interno, exercendo caráter de organização e controle das funções do organismo. Essas funções são exercidas pela ação conjunta dos neurônios, das células da glia e dos vasos sanguíneos, através dos quais várias substâncias atingem o sistema nervoso central. Os fármacos com ação no sistema nervoso central agem fundamentalmente em neurônios, considerados a unidade anatomofuncional desse sistema, modificando seu estado fisiológico e a comunicação entre eles. São fármacos que atuam sobre o sistema nervoso central os ansiolíticos, os neurolépticos, os antidepressivos, os anticonvulsivantes, os antiepiléticos, os antiparkinsonianos etc. O sistema endócrino participa, juntamente ao sistema nervoso, do controle das diferentes funções metabólicas do organismo, do crescimento, da função sexual masculina e feminina, entre outras ações. Os efetores do sistema endócrino são os hormônios, substâncias químicas secretadas para o sangue por uma célula por um grupo de células, a fim de exercer controle sobre órgãos e tecidos que, muitas vezes, encontram-se distantes do local de secreção dessas substâncias. Por se difundirem pela circulação sanguínea, os hormônios conseguem atingir diferentes órgãos e tecidos simultaneamente e, assim, promover o controle integrado de todo o organismo. A maioria dos hormônios é secretada por glândulas endócrinas específicas. Alguns exemplos são a epinefrina, a norepinefrina e o cortisol, secretados pelas glândulas suprarrenais, e a tiroxina (T4) e a tri-iodotironina (T3), secretados pela tireoide. Alguns órgãos apresentam atividade endócrina em paralelo a outras funções fisiológicas, como os testículos e os ovários. Os fármacos que simulam a ação dos hormônios, ou se opõem a elas, são utilizados no tratamento das disfunções da tireoide, na contracepção, no tratamento da infertilidade etc. Exercícios Questão 1. (Enade 2007) Analise as informações apresentadas nos gráficos a seguir, sobre a cinética plasmática do diazepam na mulher obesa e na de peso normal. 229 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA 0 3 10 50 200 500 100 20 2 4 Tempo (dias) Mulher 31 anos 112 kg Diazepam Desmetilidiazepam (metabólito ativo) Concentração ng/mL 6 8 Figura 87 0 3 10 50 200 500 100 20 2 4 Tempo (dias) Mulher 28 anos 53 kg Diazepam Desmetilidiazepam (metabólito ativo) Concentração ng/mL 6 8 Figura 88 Pode-se observar nos gráficos que a meia-vida de eliminação do diazepam na mulher obesa, quandocomparada à meia-vida de eliminação do mesmo medicamento na mulher de peso normal, é cerca de: A) duas vezes menor, o que demonstra que o medicamento tende a acumular-se mais no indivíduo com peso normal. 230 Unidade III B) duas vezes maior, pois esse medicamento é altamente hidrossolúvel, apresentando afinidade maior pela água, sendo eliminado mais rápido pelos rins. C) duas vezes maior, pois esse medicamento é altamente lipossolúvel e tende a acumular-se no tecido adiposo, aumentando a distribuição do medicamento e, consequentemente, a meia-vida de eliminação no indivíduo obeso. D) quatro vezes menor, pois o diazepam, por ser lipossolúvel, demanda maior tempo de metabolização hepática. E) quatro vezes maior, pois esse medicamento é altamente lipossolúvel e tende a acumular-se no tecido adiposo, aumentando a distribuição do medicamento e, consequentemente, a meia-vida de eliminação no indivíduo obeso. Resposto correta: alternativa E. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: o diazepam, por ser um fármaco lipossolúvel, acumula-se no indivíduo obeso por ter afinidade ao tecido adiposo; logo, sua eliminação é mais lenta e sua meia-vida de eliminação é MAIOR no indivíduo obeso. B) Alternativa incorreta. Justificativa: o diazepam é lipossolúvel e não é hidrossolúvel, pois não tem afinidade pela água e sim pelo tecido adiposo, e por isso é pobremente eliminado pelos rins. C) Alternativa incorreta. Justificativa: é maior, e não menor, o acúmulo no indivíduo obeso. D) Alternativa incorreta. Justificativa: a constituição corpórea influencia na distribuição dos fármacos e, consequentemente, em sua meia-vida de eliminação. Quanto mais o fármaco se distribui pelos tecidos, maior é o seu volume de distribuição e mais lenta será sua eliminação. Pessoas obesas podem armazenar grandes quantidades de fármaco no tecido gorduroso, enquanto pessoas muito magras armazenam quantidades muito pequenas. Por se acumular em indivíduos obesos e por ser eliminado mais lentamente, possui maior meia-vida de eliminação. 231 FARMACOLOGIA APLICADA À BIOMEDICINA E) Alternativa correta. Justificativa: o diazepam é altamente lipossolúvel e tende a se acumular no tecido adiposo, o que aumenta a distribuição do fármaco e, consequentemente, a meia-vida de eliminação no indivíduo obeso. A meia-vida do fármaco, ou seja, o tempo necessário para que a concentração plasmática ou a quantidade original do fármaco se reduza a metade, é quatro vezes maior no indivíduo obeso. Questão 2 (Enade 2007) O gráfico apresenta a correlação entre concentração plasmática (ug/mL) e dose prescrita de lamotrigina (mg/kg/dia), medicamento antiepiléptico de segunda geração utilizado para o tratamento de crises convulsivas em pacientes portadores de epilepsia refratária. Por apresentar intervalo terapêutico estreito, situado entre 1 e 4 ug/mL, os indivíduos que utilizam esse fármaco devem ser monitorados constantemente, para impedir possíveis episódios de reações adversas e intoxicações que interferem negativamente no controle da patologia. Atualmente, alguns hospitais da rede pública desenvolvem a monitorização terapêutica de usuários que utilizam essa classe de medicamentos, obtendo resultados como os do gráfico. 0 0,0 0,5 1,5 2,5 3,0 1,0 2,0 3,5 1 y = 0,3778 + 0,3673 x r = 0,4354 2 3 4 5 Dose (mg/kg/dia) ug /m L Figura 89 Observando tais dados, qual a conclusão correta? A) Só um indivíduo usa dose de lamotrigina inferior a 1,0 mg/kg/dia, no qual a concentração plasmática do fármaco também é a menor, situando-se abaixo do intervalo terapêutico, o que deve levar o farmacêutico a sugerir aumento de dose para racionalizar a terapêutica. B) Três pacientes usam doses situadas entre 3,5 e 4,0 mg/kg/dia, nos quais a concentração plasmática do fármaco apresenta diferença significativa, o que pode ser explicado pelo fato de a meia-vida de eliminação da lamotrigina ser menor em indivíduos obesos e idosos. C) Quatro usuários têm concentração plasmática de lamotrigina abaixo do intervalo terapêutico, o que faz crer que não são aderentes ou são pessoas idosas, com alterações fisiológicas que modificam a metabolização e a eliminação dos fármacos. 232 Unidade III D) Alguns pacientes que recebem doses bastante próximas (entre 3,5 e 4,0 mg/kg/dia) têm concentrações plasmáticas distintas, o que pode ser explicado por problemas de adesão ao tratamento ou variações fisiopatológicas individuais, como a obesidade, que aumenta a meia-vida de eliminação da lamotrigina. E) Os nove pacientes apresentam linearidade, quando observada a correlação entre concentração plasmática e dose do medicamento, demonstrando que, quanto maior a dose prescrita de lamotrigina, maior a concentração plasmática do fármaco. Resposta correta: alternativa D. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: a afirmação refere que a menor concentração plasmática é obtida a partir da menor dose; entretanto, a menor concentração plasmática é observada no paciente que recebe a dose de aproximadamente 3,2 mg/kg/dia. B) Alternativa incorreta. Justificativa: a meia-vida de eliminação da lamotrigina em obesos é maior e não menor como informado, devido à afinidade da substância aos tecidos adiposos, conferida pelo seu caráter apolar. C) Alternativa incorreta. Justificativa: a concentração plasmática abaixo do intervalo terapêutico é consequência de variações do comportamento farmacocinético do fármaco nos diferentes indivíduos. As alterações no metabolismo e na eliminação de idosos pode ser uma das causas, mas estados patológicos também podem proporcionar essas alterações; portanto, não se pode concluir que sejam pacientes idosos. D) Alternativa correta. Justificativa: a obesidade aumenta a meia-vida de eliminação da lamotrigina. E) Alternativa incorreta. Justificativa: não existe uma linearidade de resposta entre a concentração plasmática e a dose administrada. Ao se analisar o gráfico pode-se observar a falta de correlação, confirmada pelo cálculo do coeficiente de correlação linear que tem um valor muito baixo (r = 0,4354) quando deveria ser próximo de 1 para que se confirmasse a linearidade. 233 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 1. Figura 2 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 3. Figura 3 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 3. Figura 4 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 6. Adaptada. Figura 5 LÜLLMANN, H.; JÜRGEN, W. Color atlas of pharmacology. Nova York: Thieme, 2000. p. 11. Figura 6 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 7. Figura 7 LÜLLMANN, H.; JÜRGEN, W. Color atlas of pharmacology. Nova York: Thieme, 2000. p. 31. Figura 8 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 15. Figura 9 KATZUNG, B. G. Basic and clinical pharmacology. 9. ed. Nova York: McGraw-Hill Book Co, 2004. p. 13. Adaptada. Figura 10 LÜLLMANN, H.; JÜRGEN, W. Color atlas of pharmacology. Nova York: Thieme, 2000. p. 18. 234 Figura 11 PHARMACOKINETICS_%28CP_OVER_TIME%29_CURVE-IT.SVG. Disponível em: https://upload. wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5c/Pharmacokinetics_%28Cp_over_time%29_curve-it.svg. Acesso em: 20 abr. 2020. Adaptada. Figura 12 LÜLLMANN, H.; JÜRGEN, W. Color atlas of pharmacology. Nova York: Thieme, 2000. p. 49. Figura 13 COMPETITIVE_INHIBITION_DE.SVG. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/7/7b/Competitive_inhibition_de.svg. Acesso em: 20 abr. 2020. Adaptada. Figura 14 HORMONE_RECEPTOR_BINDING.PNG. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/6/6b/Hormone_Receptor_Binding.png. Acesso em: 20 abr. 2020. Adaptada. Figura 15 KATZUNG, B. G. Basic and clinical pharmacology. 9. ed. Nova York: McGraw-Hill Book Co, 2004.p. 31. Figura 16 EGFR_SIGNALING_PATHWAY.PNG. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/ f8/EGFR_signaling_pathway.png. Acesso em: 20 abr. 2020. Adaptada. Figura 17 GPCR_STRUCTURE.PNG. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e8/GPCR_ structure.png. Acesso em: 20 abr. 2020. Adaptada. Figura 18 LÜLLMANN, H.; JÜRGEN, W. Color atlas of pharmacology. Nova York: Thieme, 2000. p. 67. Figura 19 LÜLLMANN, H.; JÜRGEN, W. Color atlas of pharmacology. Nova York: Thieme, 2000. p. 67. 235 Figura 20 LÜLLMANN, H.; JÜRGEN, W. Color atlas of pharmacology. Nova York: Thieme, 2000. p. 65. Figura 21 ACCI%C3%B3N_DE_RECEPTORES_NUCLEARES_II.PNG. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/8/8f/Acci%C3%B3n_de_receptores_nucleares_II.png. Acesso em: 20 abr. 2020. Adaptada. Figura 24 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 34. Figura 25 INVERSE_AGONIST_3.SVG. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6c/ Inverse_agonist_3.svg. Acesso em: 20 abr. 2020. Adaptada. Figura 26 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 39. Figura 27 KATZUNG, B. G. Basic and clinical pharmacology. 9. ed. Nova York: McGraw-Hill Book Co, 2004. p. 103. Figura 29 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 49. Figura 30 HARMAN, J. G. et al. Goodman & Gilman’s: as bases farmacológicas da terapêutica. 10. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2005. p. 101. Adaptada. Figura 31 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 71. Figura 32 TRANSDU%C3%A7%C3%A3O_SINAL_ADREN%C3%A9RGICOS.PNG. Disponível em: https://upload. wikimedia.org/wikipedia/commons/d/da/Transdu%C3%A7%C3%A3o_sinal_adren%C3%A9rgicos.PNG. Acesso em: 20 abr. 2020. Adaptada. 236 Figura 33 A) FICHEIRO:DOPAMIN_-_DOPAMINE.SVG. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Catecolamina#/ media/Ficheiro:Dopamin_-_Dopamine.svg. Acesso em: 20 abr. 2020. B) FICHEIRO:NORADRENALIN_-_NORADRENALINE.SVG. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/ Catecolamina#/media/Ficheiro:Noradrenalin_-_Noradrenaline.svg. Acesso em: 20 abr. 2020. C) FICHEIRO:ADRENALIN_-_ADRENALINE.SVG. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/ Catecolamina#/media/Ficheiro:Adrenalin_-_Adrenaline.svg. Acesso em: 20 abr. 2020. Figura 34 A) FICHEIRO:DOBUTAMINE_SKELETAL.SVG. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Dobutamina#/ media/Ficheiro:Dobutamine_skeletal.svg. Acesso em: 20 abr. 2020. B) FILE:ISOPROTERENOL.PNG. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Isoproterenol. png. Acesso em: 20 abr. 2020. Figura 36 LÜLLMANN, H.; JÜRGEN, W. Color atlas of pharmacology. Nova York: Thieme, 2000. p. 95. Figura 37 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 50. Figura 38 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 54. Figura 39 A) ATROPINE_ENANTIOMERS_STRUCTURAL_FORMULAE_V.2.SVG. Disponível em: https://upload. wikimedia.org/wikipedia/commons/d/da/Atropine_Enantiomers_Structural_Formulae_V.2.svg. Acesso em: 20 abr. 2020. B) L-SCOPOLAMIN.SVG. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/25/L- Scopolamin.svg. Acesso em: 20 abr. 2020. Figura 40 A) FICHEIRO:IPRATROPIUM.SVG. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ipratr%C3%B3pio#/ media/Ficheiro:Ipratropium.svg. Acesso em: 20 abr. 2020. 237 B) FILE:TIOTROPIUM_CATION.SVG. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tiotropium_ cation.svg. Acesso em: 20 abr. 2020. Figura 41 LÜLLMANN, H.; JÜRGEN, W. Color atlas of pharmacology. Nova York: Thieme, 2000. p. 109. Figura 42 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 65. Figura 43 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 67. Figura 46 CARDIAC_ACTION_POTENTIAL.PNG. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/a/a9/Cardiac_action_potential.png. Acesso em: 20 abr. 2020. Adaptada. Figura 47 CARDIAC_ACTION_POTENTIAL.PNG. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/a/a9/Cardiac_action_potential.png. Acesso em: 20 abr. 2020. Adaptada. Figura 48 DIGOXIN_STRUCTURE.PNG. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Digoxin_structure. png. Acesso em: 20 abr. 2020. Figura 49 LÜLLMANN, H.; JÜRGEN, W. Color atlas of pharmacology. Nova York: Thieme, 2000. p. 131. Figura 50 2712_RENIN_ANGIOTENSIN_SYSTEM-01.JPG. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/a/a9/2712_Renin_Angiotensin_System-01.jpg. Acesso em: 20 abr. 2020. Adaptada. Figura 51 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 278. 238 Figura 52 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 235. Figura 53 MANCIA G. et al. 2007 ESH-ESC Practice guidelines for the management of arterial hypertension: ESH- ESC task force on the management of arterial hypertension. Journal of Hypertension, 2007, v. 25, n. 9, p. 1751-1762. Figura 54 GOTTSCHALK, A. et al. New concepts in acute pain therapy: preemptive analgesia. American Family Physician, v. 63, 2001, p. 1981. Adaptada. Figura 55 MU_OPIOID_RECEPTOR.SVG. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/7d/ Mu_opioid_receptor.svg. Acesso em: 20 abr. 2020. Figura 56 GOTTSCHALK, A. et al. New concepts in acute pain therapy: preemptive analgesia. American Family Physician, v. 63, 2001, p. 1981. Adaptada. Figura 59 LÜLLMANN, H.; JÜRGEN, W. Color atlas of pharmacology. Nova York: Thieme, 2000. p. 201. Figura 61 KATZUNG, B. G. Basic and clinical pharmacology. 9. ed. Nova York: McGraw-Hill Book Co, 2004. p. 907. Figura 64 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 334. Figura 65 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 171. Figura 66 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 174. 239 Figura 67 CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 147. Figura 68 LA_AND_NAV.SVG. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/cf/LA_and_NaV. svg. Acesso em: 20 abr. 2020. Figura 69 LÜLLMANN, H.; JÜRGEN, W. Color atlas of pharmacology. Nova York: Thieme, 2000. p. 217. Figura 71 NEURON-NO_LABELS.PNG. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/ba/ Neuron-no_labels.png. Acesso em: 20 abr. 2020. Figura 72 THE_PROCESS_OF_HOW_ACTION_POTENTIAL_PASSES_THROUGH_A_NEURON.SVG. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/02/The_process_of_how_action_potential_ passes_through_a_neuron.svg. Acesso em: 20 abr. 2020. Figura 73 KATZUNG, B. G. 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