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O objetivo desta obra é apresentar uma visão prática da perícia e da arbitragem, traduzindo a teoria em experiência vivi- da nessa área. Para isso, busca-se nas normas tudo aquilo que é necessário para a realização de um trabalho pericial e de arbitragem com excelência, sempre se atentando para a necessidade de atender à legislação vigente. Com o estudo da perícia e da arbitragem de modo prático, abordando desde os conceitos teóricos elementares até as apli- cações recentes do trabalho pericial com base em recursos tecnológicos, esta obra representa um importante insumo a ser uti- lizado tanto por quem já está atuando na área da perícia e da arbitragem como por aqueles que desejam conhecer aspectos dessa área para nela futuramente adentrar. J O E L P E R E IR A M U N H O Z J U N IO R P E R ÍC IA C O N T Á B IL E A R B IT R A G E M Código Logístico 59455 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6648-3 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 4 8 3 Perícia Contábil e Arbitragem Joel Pereira Munhoz Junior IESDE BRASIL 2020 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: TanahAirStudio/Envato Elements CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ M932p Munhoz Junior, Joel Pereira Perícia Contábil e Arbitragem / Joel Pereira Munhoz Junior. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020 122 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6648-3 1. Contabilidade. 2. Perícia contábil - Brasil. 3. Auditoria - Brasil. I. Título. 20-65223 CDD: 657 CDU: 657(81) Joel Pereira Munhoz Junior Mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista – MBA em Gestão em Finanças e Controladoria pelo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão (IBPEX); extensão em Magistério Superior pela mesma instituição. Graduado em Ciências Contábeis pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Técnico em Contabilidade pela Escola Técnica da Universidade Federal do Paraná (ET-UFPR). Docente nas modalidades presencial e EaD. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Fundamentos da perícia contábil 9 1.1 Fundamentos da perícia 9 1.2 Diferenças entre perícia e auditoria 15 1.3 Conceito e rito de processo 18 1.4 Processo judicial 20 2 Perito e a Legislação 25 2.1 Definição do perito contábil 25 2.2 Características do perito contábil 27 2.3 Impedimento e suspeição 40 2.4 Honorários 42 3 Planejamento da perícia contábil e procedimentos necessários 53 3.1 Planejamento: conceito e objetivos 53 3.2 Fases do procedimento 55 3.3 Objetivos do planejamento da perícia contábil 62 3.4 Desenvolvimento do planejamento da perícia contábil 63 3.5 Cronograma do planejamento da perícia contábil 65 4 O laudo e o parecer pericial contábil 69 4.1 Laudo pericial contábil 69 4.2 Parecer pericial contábil 77 5 Informação e a Arbitragem 82 5.1 Arbitragem – apresentação e terminologia 82 5.2 Reforma da Lei de Arbitragem 89 5.3 O contador e o processo arbitral 96 6 Inovação na perícia contábil e na arbitragem 101 6.1 Mineração de dados 101 6.2 Informação gerada pela Inteligência Artificial 105 6.3 Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) 112 6.4 Eficiência na gestão do contador 117 O objetivo desta obra é trazer uma visão prática da perícia e da arbitragem para perto dos estudantes, traduzindo a teoria em expe- riência vivida nessa área. Para isso, busca-se nas normas tudo aquilo que é necessário para a realização de um trabalho pericial e de ar- bitragem com excelência, sempre se atentando para a necessidade de atender à legislação vigente. Iniciamos o primeiro capítulo discorrendo sobre os fundamen- tos da perícia contábil e demonstrando as diferenças entre perícia e auditoria. Ainda, abordamos o conceito de rito do processo – para isso, falamos de Processo Judicial, Extrajudicial e Arbitral. Concluí- mos o capítulo com um panorama do surgimento da perícia, apon- tando como ela surgiu e evoluiu com o passar dos anos e qual o seu papel nos dias de hoje. No segundo capítulo, apresentamos as normas que regulamen- tam e disciplinam o perito contábil, trazendo características ineren- tes à profissão, assim como situações que poderão ser antecipadas para que o processo transcorra da melhor maneira, sem intercor- rências. Nesse sentido, abordamos a elaboração da proposta de honorários, na qual se deve fazer um levantamento dos custos en- volvidos no decorrer da perícia. É importante que o leitor perceba, nesse ponto, as competências que o perito deve possuir, pois, sem elas, o caminho se torna mais difícil. Também explicamos a forma de construir uma proposta de honorários que vai realmente demons- trar todos os custos envolvidos no processo pericial. A proposta no terceiro capítulo é abordar o planejamento dos trabalhos periciais, em que o perito estabelece os procedimentos gerais dos exames a serem efetuados. Trazemos, assim, a importân- cia de se planejar no sentido de proporcionar uma visão geral sobre o trabalho do perito, de modo a construir um panorama dos traba- lhos a serem realizados, no qual é possível ver todos os objetivos e procedimentos interligados, observando cada relação com muita clareza. Ainda, nesse capítulo, construímos o cronograma da perícia, vivenciando de maneira prática suas implicações e seus prazos. Em seguida, chegamos ao laudo e parecer pericial contábil, no quarto capítulo, quando vemos o trabalho final da perícia. Trata-se do momento em que o perito contábil apresenta seus resultados APRESENTAÇÃOVídeo 8 Perícia Contábil e Arbitragem depois de um trabalho minucioso sobre a matéria que lhe foi solicitada. É impor- tante ressaltar que, quando o laudo for emitido, devem ser seguidas algumas regras de apresentação, estrutura e utilização de termos técnicos, das quais o perito não pode se afastar, pois segui-las implica uma boa receptividade do juiz e das partes envolvidas no processo. Além disso, abordamos a distinção entre laudo pericial e parecer pericial – documentos diferentes, gerados por dois profis- sionais igualmente capacitados, mas que podem divergir na opinião final apresen- tada. Nesse contexto, caso concordem com os cálculos efetuados, podem assinar o mesmo documento, que seria o laudo pericial contábil. Entretanto, se não con- cordarem, há a emissão do laudo pericial pelo perito contador e a emissão do parecer pericial contábil pelo perito contador assistente, apresentando cada qual seus cálculos e seus motivos para ter chegado a determinado resultado. No capítulo quinto, conhecemos o processo de arbitragem, o qual visa esta- belecer a conciliação entre as partes quando os objetos de disputa são direitos patrimoniais disponíveis que podem ser avaliados monetariamente e dos quais as partes podem dispor. Também, nesse capítulo, abordamos a reforma da Lei de Arbitragem, trazendo os principais pontos que foram mudados e qual o seu impacto para a arbitragem. Ainda, vemos de que maneira o envolvimento do pro- fissional contábil é válido e quais são as informações que podem ser geradas pela contabilidade no processo de arbitragem. No último capítulo, tratamos das inovações na perícia e arbitragem. Com a tecnologia a nosso dispor, podemos, cada vez mais,usá-la para o processamen- to de informação. É nesse sentido que trabalhamos as noções sobre mineração de dados, inteligência artificial e uma gestão voltada à evolução da contabilidade dentro dos seus processos. Discorremos, também, sobre o Sistema Público de Escrituração Digital (SPED), uma revolução para a contabilidade em nosso país, pois, para o processamento de uma quantidade enorme de dados, são necessá- rios muitos sistemas trabalhando simultaneamente. Concluímos o capítulo ana- lisando o funcionamento dessa parte tão importante da contabilidade que é o tratamento dos dados gerados. Com o estudo da perícia e da arbitragem de modo prático, abordando desde os conceitos teóricos elementares até as aplicações recentes do trabalho pericial com base em recursos tecnológicos, esta obra representa um importante insumo a ser utilizado tanto por quem já está atuando na área da perícia e da arbitragem como por aqueles que desejam conhecer aspectos dessa área para nela futura- mente adentrar. Bons estudos! Fundamentos da perícia contábil 9 1 Fundamentos da perícia contábil Neste capítulo, vamos iniciar os estudos sobre os primeiros conceitos relacionados à perícia contábil. Mas para começarmos esse processo, temos, primeiramente, que contextualizar o sur- gimento do processo de perícia verificando como este se desen- volveu até chegar aos dias de hoje. É importante entendermos o papel do perito na sociedade e em quais momentos a visão desse profissional pode ser decisiva em um processo litigioso. Ainda neste capítulo, abordaremos as diferenças entre perícia e auditoria, pois são áreas distintas, com objetivos diferentes, afinal, cada uma busca esclarecer a contabilidade para um grupo diferente de pessoas. Conheceremos, também, o rito, ou seja, o ritual seguido pelos processos judiciais, extrajudicial e arbitral. Na leitura sobre o rito, entenderemos como o perito pode ser acionado e como ele deve se comportar diante das solicitações feitas no processo. Uma questão muito importante é a pontualidade e o compro- misso necessário com os prazos do processo, pois caso algum prazo venha a ser perdido, poderá haver sanções previstas em lei. Enfim, neste capítulo faremos uma viagem pela história e pelo rito da perícia contábil. 1.1 Fundamentos da perícia Vídeo A perícia contábil pertence à ciência da contabilidade e tem como principal objetivo comprovar fatos, estando sujeita ao questionamento judicial. Essa atividade é desempenhada pelo perito, profissional que, de acordo com a Lei n. 9.457 (BRASIL, 1997) – que alterou o parágrafo 8 do artigo 163 da Lei n. 6.404/1976 –, tem o notório conhecimento para apurar fatos e, segundo o artigo 145 do Código de Processo Civil (CPC), Lei 5.869 (BRASIL, 1973) pertence à categoria de cientista contábil. 10 Perícia Contábil e Arbitragem 1.1.1 História da perícia no mundo À medida que as sociedades foram se desenvolvendo, foi surgindo também a necessidade de um controle sobre seus bens, e, nesse senti- do, a contabilidade evoluiu com a humanidade. Estudos relatam que a contabilidade já existia em um período próximo a 6.000 a.C. Claro que o controle era feito de modo muito rudimentar, com cada pastor ou produtor utilizando uma maneira de controle sobre seus animais ou sua lavoura. Mas não havia nessa época um profissional ou um grupo de profissionais que utilizasse padrões previamente estabelecidos para gerar comparações ou al- guma forma de desempenho. A contabilidade só começou a ter grupos especializados para ge- rar indicadores de desempenho ou padrões de produção após o iní- cio da Revolução Industrial, por volta dos anos de 1760 a 1840. Com o surgimento das indústrias e da capacidade de produção em grandes quantidades, manifestou-se a necessidade de contratação de pessoas especializadas em controle, que pudessem gerar relatórios do que foi produzido, das matérias-primas utilizadas para a produção, da quanti- dade de pessoas a serem contratadas e da quantidade de equipamen- tos necessários para conseguir suprir a demanda existente. Com isso, a contabilidade precisou se estruturar para manter sob controle esse novo fluxo de informações, que até então não existia, devido ao fato de as empresas serem pequenas e artesanais. Nesse sentido, a contabilidade é definida como a ciência voltada ao estudo e controle do patrimônio. Seu objetivo é apoiar a empresa com representações gráficas, refle- tindo sobre as variações ocorridas. Desse modo, ela vem estabelecen- do normas que pautam a interpre- tação das informações geradas pela empresa, auxiliando sua aná- lise e seus processos de auditoria, servindo como ferramenta de to- mada de decisões. Figura 1 Perito contábil checando cálculos. Vo lh a Ba ry se vic h/ sh ut te rs to ck Fundamentos da perícia contábil 11 Uma evolução econômica grande foi a ocorrida na Inglaterra, que era então considerada o Centro do Mundo 1 Um detalhe em relação a isso que permanece até os dias de hoje é o fuso horário, cujo ponto zero é na Inglaterra. Ele existe com base na definição, de 1844, de que o Meridiano de Greenwich se tornaria o Padrão Zero. 1 . Foi do país britânico que a evolução econômica se divulgou para todo o mundo, tornando o papel desenvolvido pelos contadores um dos principais elementos de funcionamento das engrenagens no mundo dos negócios. Isso veio a influenciar o desenvolvimento econômico-financeiro das or- ganizações, com a elaboração de relatórios das informações sobre a gestão e, mais importante, permitindo, com todas esses dados, uma tomada de decisões mais acertada. E o que vem a ser essa “tomada de decisão”? Numa perspectiva profissional, quando tomamos a decisão de produzir o produto “A” ao invés de produzir o produto “B”, pode acontecer um impacto em todo um processo produtivo. Além disso, comprar mais maquinário, ou contratar mais funcionários, ou fechar uma filial, são decisões que precisam estar fundamentadas em informações precisas e con- fiáveis. Afinal, podem gerar consequências futuras, boas ou ruins, para a empresa ou aos que se relacionam com ela, sejam funcioná- rios, sócios, fornecedores, bancos e até o governo. Na história, temos decisões tomadas por líderes em momentos críticos ou para planejar grandes construções com o estudo da situação futura. Nesse contexto, devemos lembrar que a tomada de decisão sempre terá riscos a serem assumidos pelo seu responsável. Riscos esses que poderão ser diminuídos quando há uma informação confiável e um planejamento muito bem feito, que proporcione colocar os prós e os contras da tomada de decisão. A tomada de decisão também se faz presente em nosso cotidiano. Quando, por exemplo, decidimos vestir ou não determinado casaco, considerando informações sobre a temperatura, estamos tomando uma decisão, mesmo que seja pequena e corriqueira. No entanto, decisões maiores, como a de corte de funcionários ou aumento da produção, necessariamente precisam ter suporte em informações e relatórios precisos. Marques e Pires (2007) comentam que a contabilidade se de- senvolveu principalmente nos campos científico e filosófico após o reconhecimento da área como uma ciência social pela Academia de Ciência da França no início do século XIX. Esse desenvolvimento ocorreu devido à maior busca pelos autores por padrões e fórmu- 12 Perícia Contábil e Arbitragem las a serem seguidos, principalmente diante dos problemas que as empresas apresentavam. O que se buscava eram soluções que pu- dessem proporcionar competitividade, colocando as empresas em vantagem em relação às demais. Nesse contexto, a profissão contábil manteve sua essência tendo como base as demandas das pessoas em controlar o patrimônio que possuíam, incluindo seus bens, suas dívidas, seus ganhos, os valores que tinham a receber etc. Ainda no século XIX, existiam influências econômicas da Inglaterra sobre todo o mundo. E o progresso da contabilidade sob essa influência foi de grandevalia, o que comprova que a evolução econômica também ajuda na evolução da contabilidade. Afinal, os contadores precisam atender aos atores responsáveis pela tomada de decisão em todos os níveis hierárquicos, com informações atua- lizadas e confiáveis. Esses tomadores de decisão são ávidos por in- formação útil, o que provoca uma busca incessante pela melhoria contínua no meio contábil. Por ser reconhecida como uma área de controle, quanto maior o patrimônio e a quantidade de movimentações, melhor deve ser o domínio da contabilidade sobre essas movimentações, para poder gerar, assim, uma informação cada vez mais acertada sobre tudo o que ocorre nas organizações. A contabilidade surge para gerar informações úteis para cada ação tomada dentro da empresa, informando de maneira imparcial, sem interesse em resultados, nem em buscar benefícios a qualquer área, pois, acima de tudo, a contabilidade é uma área de controle dentro da organização. De nada vale o controle se ele for tenden- cioso ou tiver falhas, isso fará com que ele caia em descrédito e não consiga manter o status de gerador de informações confiáveis para a tomada de decisão. Nesse sentido, quando temos padrões a serem seguidos por to- das as empresas, começamos a ter formas de comparação entre elas, o que gera mais informações, principalmente para investido- res, bancos e governo. Isso ocorre devido ao fato de que todas as organizações passam a ser passíveis de verificação e comparação. Diante desse panorama, surge uma área mais específica e in- vestigativa dentro da contabilidade, denominada perícia contábil. Fundamentos da perícia contábil 13 Nela, o profissional possui amplo conhecimento do assunto, que permite trazer com propriedade uma quantidade de informações que poderão ser utilizadas como prova na lide que se instaura. A perícia contábil é utilizada pelo juiz como formadora de elemen- tos e provas imparciais para ajudar na justa solução do processo, com a apresentação de laudo pericial contábil ou parecer. Esses dois documentos são construídos com base em procedimentos técnicos e científicos de acordo com as normas jurídicas e profissionais, além da legislação em que cabe o processo (HOOG, 2011). Sá (2011), por sua vez, define a perícia contábil como exame dos fatos (tudo o que puder subsidiar seu olhar à luz de documentos e da legislação pertinente) de cada pessoa, seja física ou jurídica, para emitir opinião de acordo com aquilo que foi questionado pe- las partes integrantes do processo. Para isso, são feitos exames, in- vestigações e qualquer procedimento que a lei permite para trazer uma opinião isenta e útil, no sentido de esclarecer as perguntas do processo. A evolução da perícia se mostra tão antiga quanto à evolu- ção da contabilidade. Esta surgiu em função das atividades mercantis, econômicas e sociais, e aquela, em função das necessidades dos juízes que para melhor aplicarem a justiça, precisavam de relatos acrescidos de análise técnica de assun- tos que não eram de seus domínios. (CALDEIRA, 2000 apud NEVES JUNIOR et al., 2015, p. 3) A palavra perícia tem origem no termo latino peritia, cujo significa- do é voltado para a aquisição do conhecimento pela experimentação. Isso nos leva a conceituar a perícia como um serviço especializado, com bases científicas e contábeis, para as quais se exige formação de nível superior, destinada à resolução de processos judiciais e extrajudiciais (HOOG, 2011). Em nível mais específico, conforme Arruda, Pozzobom e Silva (2007), uma perícia contábil é executada considerando seus resultados, de modo que estes reflitam a realidade baseada em documentação e seja efetuada de modo ético e moral, além de imparcial e justo. Assim, a função da perícia é construir relatórios que sirvam de informação e esclarecimento para o mediador ou juiz em suas deci- sões. A parcela de responsabilidade que cabe ao perito na constru- lide: pleito judicial pelo qual uma das partes faz um pedido e a outra resiste; pendência, litígio. Glossário Uma boa dica para iniciar os estudos na área da perícia contábil é o livro Manual de perícia contábil: exemplos, modelos e exercí- cios, de Silvio Crepaldi. CREPALDI, S. São Paulo: Saraiva, 2019. Livro 14 Perícia Contábil e Arbitragem ção de evidências com base no seu conhecimento de especialista se baseia também na qualidade fundamental da moralidade e honesti- dade (MAGALHÃES; LUNKES, 2008). Sá (2011) pondera que a perícia contábil tem base na formação do conceito de que precisa ser conhecida a opinião de um especialis- ta em contabilidade sobre o patrimônio de uma pessoa física ou jurí- dica, isso em qualquer tempo, sob a ótica qualitativa e quantitativa, para que essa opinião possa direcionar as partes à justa resolução do processo. A perícia, então, é usada para buscar e validar informações que possam ser utilizadas pelos usuários, sejam eles internos ou exter- nos à empresa. Nesse sentido, iniciam-se os procedimentos para definição dos interesses das partes do processo, sendo que o perito poderá escla- recer os pontos de conflito geradores do litígio. Esses pontos são colocados pelas partes diante de um juiz ou de um mediador, que buscam na figura do perito um conhecimento profundo do assunto alvo do litígio. A perícia contábil, portanto, é muito utilizada em todo mundo principalmente quando o juiz ou mediador não possuir informações suficientes para julgar e/ou mediar. Nesse caso, aparece a figura do perito contábil, na tentativa de fornecer informações suficientes para finalizar o processo, sempre buscando o equilíbrio entre as par- tes litigantes. 1.1.2 História da perícia no Brasil O início da contabilidade no Brasil se deu em 1808, período em que o desenvolvimento econômico trouxe consigo uma necessidade de controle maior, controle esse que veio em grande parte influen- ciado pela escola italiana. A regulamentação da profissão contábil ocorreu inicialmente em 25 de junho de 1850, pela Lei n. 556, que em seus dispositivos tornava obrigatória a elaboração do balanço, dos livros diários, do copiador de carta e da escrituração seguindo a ordem cronológica, processo que era também chamado de Juízo Arbitral Obrigatório. Litígio: ação ou controvérsia judicial que tem início com a contestação da demanda. Glossário Fundamentos da perícia contábil 15 Nesse mesmo ano, em 25 de dezembro, foi expedido um regula- mento que teve origem no Código Francês e nas Ordenações Filipinas, regulamentando o perito, sob o n. 737/1850 (CALDEIRA, 2000). As funções da perícia contábil no Brasil somente foram debatidas por um corpo científico em 1924, no 1º Congresso Brasileiro de Con- tabilidade. Nesse debate, chegou-se à conclusão de que a profissão poderia ser dividida em três grandes especialidades: contador, peri- to e guarda-livros. Ainda no mesmo evento ficou definido que deveria se tornar regra e norma a atribuição de toda a perícia judicial apenas aos membros das Câmaras de Contabilidade, excluindo os demais profissionais de assumirem uma perícia contábil. Já no ano de 1928, foi publicado o livro Perícia em Contabilidade Comercial, pelo autor João Luiz Santos, sendo essa a primeira obra da área publicada no Brasil. Desse modo, podemos compreender que a perícia, assim como a contabilidade, teve seu crescimento vinculado ao desenvolvimento econômico da sociedade. Passando por vários períodos e países, a perícia surgiu da necessidade por um profissional especialista, que dominasse o assunto e pudesse dar seu parecer, que seria utilizado como prova diante de um juízo. A que fato se deve a evolução da perícia no Brasil e no mundo? Discorra sobre os principais movimentos que ajudaram nessa evolução. Atividade 1 1.2 Diferenças entre perícia e auditoria Vídeo A perícia contábil e a auditoria são duas vertentes distintas da contabilidade, ou seja, cada uma delas é acionada em diferentes si- tuações, sendo também distinto o consequente resultado alcançado porelas. 1.2.1 Auditoria contábil O objetivo da auditoria, segundo Attie (2011), é testar o controle pa- trimonial segundo as Normas Brasileiras de Contabilidade. A auditoria é uma área especializada em verificar com qual nível de eficiência o controle patrimonial é gerido, emitindo, com isso, um parecer sobre as demonstrações contábeis. 16 Perícia Contábil e Arbitragem Temos a definição de Crepaldi (2013, p. 23) que considera a auditoria “como o levantamento, estudo e avaliação sistemática das transações, procedimentos, operações, rotinas e das demonstrações financeiras de uma entidade”. Dessa forma, corroborando o pensamento de Crepaldi, o objeto da auditoria são as demonstrações contábeis. Com procedimentos padrões, ela emite opinião sobre a empresa e se sua posição patri- monial, expressa em seus relatórios, condiz com a realidade. Acima da verificação dessa realidade está, também, o papel da auditoria em verificar se as demonstrações estão de acordo com as Normas Brasileiras de Contabilidade. Assim, Crepaldi (2013, p. 4) afirma que esse exame “deve ser efetua- do de acordo com as normas usuais de auditoria, inclusive quanto às provas nos registros contábeis e aos procedimentos de auditoria julga- dos necessários nas circunstâncias”. O autor fecha o raciocínio dizendo que o objetivo principal da audi- toria é certificar a verdade nas demonstrações financeiras. Assim são muitas as verificações realizadas por essa área durante o processo de aferição dos controles internos. Nesse trabalho, os auditores vão a to- dos os setores da empresa em busca de falhas na operação de cada um deles. Isso possibilita que o auditor tenha segurança para opinar, pois uma vez que as falhas foram levantadas, é dado um tempo para regula- rização dos processos, dando maior garantia de que os relatórios serão gerados com uma base segura. São amplos os elementos dos quais o auditor pode se servir no exercício de sua atividade. 1.2.2 Perícia contábil A perícia, por sua vez, é considerada uma profissão especializada em determinados assuntos, no nosso caso, a contabilidade. Assim, é necessário ter amplo conhecimento do assunto para que se possa emitir opinião a respeito. Nesse sentido, vejamos alguns autores que falam sobre essa profissão. Sá (2011) conceitua a perícia contábil como a verificação de fatos ligados ao patrimônio, buscando dar uma opinião, mediante os quesi- tos propostos. Ainda segundo o autor, para que o perito possa emitir tal opinião, são realizados exames, vistorias e demais procedimentos. Fundamentos da perícia contábil 17 O objetivo da perícia pode variar de acordo com a finalidade para a qual é requerida, mas sempre será considerada como prova no litígio. Trata-se de uma busca pela verdade contábil apta a auxiliar um juiz ou um mediador em um processo. Nesse sentido, Alberto (2012, p. 37) afirma que “a perícia contábil tem por objetivo geral a constatação, prova, ou demonstração contábil da verdade real sobre o objeto, transferindo-o, através de sua materia- lização – o laudo –, para o ordenamento da instância decisória, judicial ou extrajudicialmente”. 1.2.3 Auditoria versus perícia As duas áreas são consideradas especialidades do mesmo cerne, o da contabilidade. Mas podemos distingui-las da seguinte forma. A auditoria trabalha na verificação do controle patrimonial de uma empresa. O auditor expressa sua opinião por meio do parecer de auditoria, isso acontece somente depois de efetuar uma série de procedimentos de verificação. Sua função é assegurar que os con- troles financeiros e patrimoniais estejam de acordo com as Normas Brasileiras de Contabilidade. A perícia é mais específica, pois se dedica a responder apenas aos questionamentos (quesitos) propostos pelas partes integrantes do lití- gio. Como uma especialidade da contabilidade, ela também busca fatos ligados ao controle do patrimônio, mas bem mais direcionados em for- necer respostas aos questionamentos feitos. A principal função da perícia é dar suporte para a tomada de decisão em um processo de litígio, no qual duas partes não concordam com o resultado apresentado. Em um processo judicial, a perícia pode revelar aspectos importantes que o juiz não consegue perceber, pois não possui conhecimento técnico-contábil. Assim, o relatório construído pela perícia pode auxiliá-lo imensamente, pois existe a possibilidade de vir a ser a base para sua fundamentação a respeito da decisão que tomará. Quanto ao auditor, entretanto, há maiores exigências relacio- nadas à sua competência técnico-profissional. Dele, é exigida for- mação superior e registro como contador, além da participação em programa de formação continuada. Quais são as diferenças entre a perícia contábil e a auditoria contábil? Busque as definições de cada uma e construa com suas palavras um parágrafo diferenciando essas duas espe- cialidades da contabilidade. Atividade 2 18 Perícia Contábil e Arbitragem O perito, por sua vez, poderá ser pessoa idônea escolhida pelo juízo (esfera judicial), árbitro ou entidades (âmbito extrajudicial). Assim, a responsabilidade, seja ela do perito ou do auditor, é enorme, pois suas opiniões são consideradas essenciais para a to- mada de decisões dentro e fora das empresas. Além disso, ambas exigem um profissional com sólidos conhecimentos nas tecnolo- gias contábeis. 1.3 Conceito e rito de processo Vídeo Compondo o rito de processo da perícia contábil está a elaboração do laudo pericial contábil ou do parecer pericial contábil. O perito inclui os quesitos (apresentados somente por uma das partes) na composição do seu laudo pericial e, posteriormente, encerra-o de maneira clara e precisa com a sua conclusão perante a lide. Segundo Ornelas (2003), quando o laudo for construído por meio de perguntas e respostas, é necessário transcrever o quesito e sua resposta em folha específica, destacando a pergunta e, por sua vez, a resposta oferecida. O perito então segue as formalidades descritas na norma para compor a estrutura do laudo pericial. Finalizado o seu trabalho, o perito solicita ao juiz, por meio de petição, que seja jun- tado aos autos o respectivo laudo pericial contábil para os devidos efeitos legais. Para o desenvolvimento do trabalho pericial contábil também é ne- cessário um embasamento teórico do Código de Processo Civil (CPC). Conforme Moura (2010), o novo Código Civil, de janeiro de 2002, que passou a vigorar a partir do dia 10 de janeiro de 2003, dispõe no arti- go 212 que o fato jurídico pode ser provado mediante perícia. Nesse ponto, precisamos deixar claro que o Código de Processo Civil provém do Código Civil. Como vimos, a perícia judicial contábil possui suas regulamenta- ções no Código de Processo Civil e, além disso, é embasada por nor- mas emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade. Apesar disso, essa nobre prestação de serviços possui um caráter superior aos aspectos científicos de alta precisão e complexidade (HOOG, 2011). Perícia contábil é um clássico dentro da área de contabilidade. Antônio Lopes de Sá é um autor indispensável para quem busca se especializar nessa área. Este livro é completo, trazendo ao leitor teoria, doutrina, modelos e exemplos práticos. SÁ, A. L. São Paulo: Atlas, 2011. Livro Fundamentos da perícia contábil 19 Desse modo, cabe citar os artigos que discorrem sobre perícia e o perito contábil e que são relevantes para a atuação do profissional, segundo o Código de Processo Civil: Art.156. Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por perito, segundo o disposto no art. 421. § 1º Os peritos serão escolhidos entre os profissionais de nível universitário, devidamente inscrito no órgão da classe com- petente, respeitado o disposto no Capítulo VI, seção VII, deste Código. § 2º Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre o que deverão opinar, mediante certidão do órgão profis- sional em que estiverem inscritos. § 3º Nas localidadesonde não houver profissionais qualificados que preencham os requisitos dos parágrafos anteriores, a indi- cação dos peritos será de livre escolha do juiz. Art.157. O perito tem o dever de cumprir o ofício, no prazo que lhe assina a lei, empregando toda a sua diligência; pode, toda- via, escusar-se do encargo alegando motivo legítimo. Parágrafo único. A escusa será apresentada dentro de 5 (cinco) dias, contados da intimação ou do impedimento superveniente, sob pena de se reputar renunciado o direito de alegá-la. Art.158. O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas, responderá pelos prejuízos que causar a parte, fica- rá inabilitado, por 2 (dois) anos, a funcionar em outras perícias e incorrerá na sanção penal que a lei estabelecer. (BRASIL, 2015) Segundo o artigo 147 do CPC, o perito que, por dolo ou culpa, pres- tar informações inverídicas, responderá pelos prejuízos que causar à parte, ficando inabilitado, por dois anos, a funcionar em outras perí- cias e incorrerá na sanção que a lei penal estabelecer. Logo, o perito contador, ao executar os seus serviços, deve estar ciente de seus deveres, devendo ser imparcial, isto é, sem tender a nenhum dos lados, limitando-se sempre a responder o que lhe é per- guntado, prestando informações corretas. O artigo 208 do CPC de 1939 dispunha que: “são admissíveis em juízo todas as espécies de prova reconhecidas nas leis civis e comer- ciais” (BRASIL, 1939). Cabe ressaltar ainda os artigos 378 a 380 do CPC de 1973, que são de interesse da perícia contábil, já que evidenciam o patrimônio e versam sobre os livros comerciais bem como a escritu- ração contábil, conforme descritos a seguir: Quais são os requisitos para que uma pessoa possa exercer a profissão de perito contábil? Atividade 3 20 Perícia Contábil e Arbitragem Art. 417. Os livros comerciais provam contra o seu autor. É lí- cito ao comerciante, todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos. Art. 418. Os livros comerciais, que preencham os requisitos exi- gidos por lei, provam também a favor do seu autor no litígio entre comerciantes. Art. 419. A escrituração contábil é indivisível; se os fatos que resultam dos lançamentos, uns são favoráveis ao interesse do seu autor e outros são contrários, ambos serão considerados em conjunto como unidade. (BRASIL, 2015). Isso significa que os livros comerciais e as escriturações contábeis serão utilizados para comprovar a veracidade dos fatos elucidados na lide. Dessa forma, conseguimos visualizar as obrigações do perito con- tábil e a legislação que suporta seus passos, uma vez que todo o rito é baseado consta no Código Civil. 1.4 Processo judicial Vídeo A perícia judicial está contida no CPC entre os artigos 420 a 442, dando embasamento teórico ao juiz de direito a nomear um profissional com conhecimento técnico sobre o assunto do litígio, caso não seja do seu domínio; sendo assim, a perícia tem força de prova, podendo ser contestada pelas partes envolvidas no processo. Assim, conforme Sá (2011, p. 63), “Perícia Contábil judicial é a que visa servir de prova, esclarecendo o juiz sobre assuntos em litígio que merecem seu julgamento, objetivando fatos relativos ao patrimônio aziendal ou de pessoas”. A perícia judicial é verificada quando a questão envolve uma ação no âmbito do Poder Judiciário. Logo, é motivada por uma questão judi- cial e solicitada em juízo, tendo o objetivo de fornecer ao juiz elemen- tos para esclarecer fatos que estejam obscuros, por meio da realização de exames, vistorias e avaliações, com o intuito de certificar a verdade para não prejudicar as partes envolvidas. Para Alberto (2012, p. 38), a perícia judicial é aquela que se realiza dentro dos procedimentos do Poder Judiciário, “por determinação, requerimento Fundamentos da perícia contábil 21 ou necessidades dos seus agentes ativos”, processando-se segundo as re- gras legais e específicas avaliadas em cada lide. A ambiência da perícia contábil na esfera judicial faz-se presente, segundo Hoog (2011), nas Varas Criminais, na Justiça do Trabalho, nas Varas Cíveis Estaduais, nas Varas de Falências e Recuperação Judicial, nas Varas da Fazenda Pública e Execuções Fiscais, nas Varas de Família e na Justiça Federal. Quando o juiz solicita a realização do trabalho pericial, pretende alcançar o convencimento a respeito do assunto da lide por meio da opinião mencionada pelo perito na constituição do laudo pericial, pois a perícia contábil judicial existe pela necessidade em se ter conhecimento técnico ou especializado de um profissional contábil para a tomada de decisão. 1.4.1 Processo extrajudicial A perícia extrajudicial é exercida nos âmbitos arbitral, estatal ou voluntário. Realizada fora do judiciário, tem origem em pendências que surgem entre pessoas físicas e pessoas jurídicas, nas relações pri- vadas, sem envolver os órgãos governamentais. É observada quando há necessidade da opinião de um profissional conhecedor profundo da matéria em questão, como nos casos de cisão, fusão, incorpora- ção e em questões administrativas. Tem por objetivo trazer à tona questões nas quais as partes estão em desacordo, com o propósito de atingir o entendimento sem utilizar recursos judiciais e arbitrais. Conforme Alberto (2012), perícia extrajudicial é aquela realizada fora do Estado, por necessidade e escolha de entes físicos e jurídicos particulares – privados, vale dizer – no sentido estrito, ou seja, não submetíveis a uma outra pessoa encarregada para arbitrar a matéria conflituosa (fora do juízo arbitral, também). A perícia extrajudicial divi- de-se, de acordo com a sua finalidade, em: demonstrativas, discrimina- tivas e comprobatórias. Apesar de todo trabalho realizado pelo perito, é possível que não haja concordância das partes, porém seu trabalho poderá ser usado como prova, caso os envolvidos queiram recorrer em juízo. Nesse caso, o perito deverá observar todas as normas e a legislação que estão sen- do elucidadas no caso. Uma boa maneira de se inteirar no funcionamento de processos que envolvem a perícia contábil é por meio de estudos de casos. O Conselho Regional de Contabilidade do Rio de Janeiro disponibiliza um livro muito interessante com a análise de vá- rios estudos de casos envolvendo a perícia contábil. Disponível em: http://www. crc.org.br/Arquivos/Publica- coes/2018/PericiaCasos.pdf. Acesso em: 24 jul. 2020. Livro http://www.crc.org.br/Arquivos/Publicacoes/2018/PericiaCasos.pdf http://www.crc.org.br/Arquivos/Publicacoes/2018/PericiaCasos.pdf http://www.crc.org.br/Arquivos/Publicacoes/2018/PericiaCasos.pdf 22 Perícia Contábil e Arbitragem 1.4.2 Processo arbitral A perícia arbitral, por sua vez, é criada pela vontade das partes en- volvidas na lide, sendo realizada em instância decisória, na qual serão determinadas as regras a serem aplicadas à arbitragem. Nesse sentido, é considerada, pelos profissionais da área, como uma forma de privati- zação da justiça, pois funciona como sendo o próprio árbitro da causa em questão. Assim, a perícia arbitral é definida por Alberto (2012, p. 39) como “aquela perícia realizada no juízo arbitral – instância decisória criada pela vontade das partes –, não se enquadrando em nenhuma das anteriores por suas características especialíssimas de atuar parcial- mente como se judicial e extrajudicial fosse”. Podemos concluir, então, que na perícia arbitral as partes elegem um indivíduo responsável para ser o árbitro da perícia, elas o obede- cem como se fosse o juiz que delimitasse as regras. Porém, deve fi- car claro que a perícia arbitral não tramita na esfera judicial e não se constitui como extrajudicial. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo do presente capítulo foi trazer os princípios da perícia de uma maneira mais interativa e leve. Afinal, quando começamos a enten- der determinado assunto, ele tende a ser mais fácil e conseguimos ver sentido naquilo que estamos estudando.A perícia é um assunto muito vasto e complexo, portanto não objetivamos esgotar essa discussão em apenas um capítulo. Entretanto, os conteúdos estudados até aqui formam um arcabouço teórico muito importante para a continuidade dos estudos sobre perícia contábil. REFERÊNCIAS ALBERTO, V. L. P. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012. ARRUDA, C. M.; POZZOBOM, D. E.; SILVA, T. M. Perícia contábil na visão dos peritos-contadores e dos magistrados das varas cíveis de Santa Maria. Santa Maria, 2007. Disponível em: http:// w3.ufsm.br/revistacontabeis/anterior/artigos/vVn01/t005.pdf. Acesso em: 7 jun. 2020. ATTIE, W. Auditoria: conceitos e aplicações. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011. BRASIL. Decreto-Lei n. 1.608, de 18 de setembro de 1939. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 18 set. 1939. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto-lei/1937-1946/del1608.htm Acesso em: 23 jul. 2020. BRASIL. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 17 jan. 1973. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l5869impressao.htm Acesso em: 23 jul. 2020. Fundamentos da perícia contábil 23 BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 de março de 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm. Acesso em: 7 jul. 2020. CALDEIRA, S. A influência do laudo pericial contábil na decisão dos juízes em processos nas varas cíveis. Santiago, 2000. Dissertação (Mestrado em Administração) – Programa de Pós- Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Maria. Disponível em: http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/78815. Acesso em: 24 jul. 2020. CREPALDI, S. A. Auditoria contábil: teoria e prática. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2013. HOOG, W. A. Z. Perícia contábil: normas brasileiras. Curitiba: Juruá, 2011. MAGALHÃES, A. D. F.; LUNKES, I. C. Perícia contábil nos processos cível e trabalhista: o valor informacional da contabilidade para o sistema judiciário. São Paulo: Atlas, 2008. MARQUES, V. A.; PIRES, M. A. A. Elementos estruturais da teoria das funções sistemáticas e sua contribuição ao desenvolvimento social. Revista Mineira de Contabilidade, v. 1, n. 13, p. 24-33, abr. 2007. Disponível em: https://revista.crcmg.org.br/index. php?journal=rmc&page=article&op=view&path%5B%5D=478. Acesso em: 7 jul. 2020. MOURA, R. Perícia contábil: judicial e extrajudicial. 3. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2010. NEVES JUNIOR, I. J. et al. Perícia Contábil: Fatores Utilizados para a Escolha e na Manutenção de Peritos Contadores como Peritos do Juízo, na Opinião dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro. In: 6º AdCont – CONGRESSO NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE. Anais [...], Rio de Janeiro: Unigranrio, out. 2015. Disponível em: http://adcont.net/index. php/adcont/adcont2015/paper/viewFile/1891/473. Acesso em: 7 jul. 2020. ORNELAS, M. M. G. Perícia contábil. São Paulo: Atlas, 2003. SÁ, A. L. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011. GABARITO 1. A evolução da auditoria no Brasil e no mundo se deve ao próprio progresso da contabilidade que, por sua vez, é uma consequência da evolução dos sistemas econômicos com base nas Revoluções Industriais. A evolução econômica também ajuda na evolução da contabilidade, afinal os contadores precisam atender aos atores responsáveis pelas tomadas de decisão em todos os níveis hierárquicos, com informações atualizadas e confiáveis. Eles precisam de informação útil, o que provoca no meio contábil uma busca incessante pela melhoria contínua. 2. A perícia visa dar suporte para a tomada de decisão em um processo de litígio, no qual duas partes não concordam com o resultado apresentado. Em um processo judicial, a perícia busca revelar aspectos importantes que o juiz não consegue perceber, pois não possui conhecimento técnico-contábil para isso. Já a auditoria é uma área especializada em verificar com qual nível de eficiência o controle patrimonial é gerido, emitindo com isso um parecer sobre as demonstrações contábeis. 24 Perícia Contábil e Arbitragem 3. De acordo com as Normas Brasileiras de Contabilidade, o perito contábil deve ter, antes de tudo, o curso superior em Ciências Contábeis e ter feito a prova de suficiência no Conselho Regional da sua região. Além disso, precisa ter vasto conhecimento na área em que realizará sua perícia. Assim, o profissional terá base sólida para opinar e construir um laudo suficiente para a tomada de decisão do litígio ou para que o mediador chegue em um ponto comum entre as partes. O perito contábil é pessoa idônea escolhida pelo juízo (esfera judicial), pelo árbitro ou pelas entidades (âmbito extrajudicial), e ambas exigem um profissional com sólidos conhecimentos nas tecnologias contábeis. Perito e a Legislação 25 2 Perito e a Legislação Neste capítulo, vamos explorar as definições da profissão de perito contábil segundo as normas de contabilidade vigentes. Temos que conhecer de perto como funcionam determinados aspectos da profissão e quais requisitos são necessários para que o perito possa atuar nessa área. Então, apresentaremos as características que ele deve demonstrar diante de cada processo em que for requerido. O perito contábil pode tanto ser nomeado por juiz como ser contratado por uma das partes do processo, e em ambas as situa- ções terá de elaborar uma proposta de honorários detalhada, que deverá ser pautada na dificuldade das perguntas (quesitos) dire- cionadas ao perito, como também apresentar o valor da perícia, que vai impactar nos trabalhos, pois quanto maior o valor, maior a responsabilidade em prestar uma opinião justa sem falhas. Nesse capítulo, veremos também as regras que o perito contábil deve seguir durante os procedimentos necessários para construir provas com o maior profissionalismo possível, sempre prezando pela ética e responsabilidade com a emissão de sua opinião. Por fim, no trato com os conteúdos deste capítulo, procuramos trazer a perícia de uma forma descomplicada, mas sempre priori- zando o conhecimento necessário nesse assunto. 2.1 Definição do perito contábil Vídeo Inicialmente, vamos buscar na legislação vigente o que ela discipli- na, ou seja, quais as coordenadas para o perito contábil exercer sua profissão de maneira isenta e com o sigilo que requer o processo. Vejamos a definição de perito contábil segundo as Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC): perito é o contador detentor de conhecimento técnico e científi- co, regularmente registrado em Conselho Regional de Contabili- dade e no Cadastro Nacional dos Peritos Contábeis, que exerce a atividade pericial de forma pessoal ou por meio de órgão técnico ou científico, com as seguintes denominações: (a) perito do juízo é o contador nomeado pelo poder judiciário para exercício da perícia contábil; (b) perito arbitral é o contador nomeado em arbitragem para exercício da perícia contábil; (c) perito oficial é o contador investido na função por lei e perten- cente a órgão especial do Estado; (d) assistente técnico é o contador. (CFC, 2020) O que podemos entender dessa definição é que, em primeiro lugar, para ser perito contábil o profissional deve ter feito o curso superior em Ciências Contábeis e a prova de suficiência no Conselho Regional da região. Essa certificação, por meio do exame de suficiência, é reali- zada em cada estado, por exemplo: no estado de São Paulo, é feita pelo Conselho Regional de Contabilidade do estado de São Paulo (CRC-SP); no Rio Grande do Norte, é realizda pelo Conselho Regional de Contabi- lidade do estado do Rio Grande do Norte (CRC-RN); e assim por diante. Uma vez formado e com registro em conselho profissional, é ne- cessário ter profundo conhecimento na área que irá periciar. Esse conhecimento se deve às leituras dos assuntos que analisará e à expe- riência prática com o tema a ser periciado. Por exemplo, seum peri- to irá atuar na área de processos trabalhistas, é necessário que tenha experiência em atividades do ramo de recursos humanos, como fecha- mento de folha de pagamento, processos de demissão e contratação, indenizações e planos de demissão voluntária (PDV). Essa experiência proporcionará ao profissional uma base sólida para opinar e construir um laudo suficiente para a tomada de decisão do litígio ou para que o mediador chegue em um ponto comum entre as partes. Outro processo pode ser na área tributária, em que também se faz necessário um profundo conhecimento dos tributos e de toda a legisla- ção que os envolve. Temos várias operações que abrangem a questão tributária, a começar pela opção tributária do lucro que uma empre- sa deve fazer. Por exemplo, o lucro da empresa pode ser enquadrar no simples nacional, no lu- Figura 1 O perito é um investigador especializado em uma área. s_ ol eg /S hu tte rs to ck 26 Perícia Contábil e Arbitragem Perito e a Legislação 27 cro presumido ou no lucro real, e essas formas requerem do contador um conhecimento prático de como ocorrem diversos cálculos e apurações de impostos e das particularidade que envolvem cada uma das operações, pois uma vez requerida a opinião do perito, ele tem de conhecer profunda- mente a prática e a teoria (legislação) envolvidas em seu trabalho. Isso porque, uma vez solicitado, o perito tem voz perante o juiz e os litigantes, voz que é concedida a um profissional com amplos conheci- mentos da lide para trazer luz aos que dela precisam. As atribuições do perito têm o objetivo de colocar em questionamento a natureza dos fatos apontados pelo julgador e as partes integrantes do processo, pois é por essa dúvida que o perito é chamado. Nesse senti- do, Caldeira (2000) afirma que o perito deve ter competência de relatar e responder de maneira clara o que o juiz ou mediador não consegue interpretar por se referir a uma área técnica fora da alçada do julgador. Para complementar, Neves Júnior et al. (2014) defendem que o perito, por meio da utilização de técnicas e do conhecimento de ciências e me- todologias, presta um serviço de qualidade principalmente diante das práticas profissionais que lhe são requeridas para o trabalho. Com base nessas definições, podemos dizer que o profissional pe- rito contábil atua em processos que precisam de um olhar profissional contábil isento apenas para trazer luz ao litígio imposto pelas partes. 2.2 Características do perito contábil Vídeo O perito contábil, ao exercer sua função, deve se atentar a algumas características, essenciais para que seu trabalho possa ser mais tran- quilo. São necessários controle e organização nos procedimentos para que nenhuma informação passe despercebida. O zelo é um dos prin- cipais pontos que o perito deve demonstrar durante todo o processo, seja com as partes, seja com o juiz. 2.2.1 Competência profissional A competência técnico-científica esperada do perito pressupõe que este deve manter adequado nível de conhecimento da ciên- cia contábil, das Normas Brasileiras de Contabilidade, das técnicas contábeis e da legislação relativa à profissão contábil e à atividade 28 Perícia Contábil e Arbitragem pericial, atualizando-se permanentemente mediante programas de capacitação, treinamento, educação continuada e especialização. O perito, portanto, precisa ter um conjunto de capacidades: legais, profissionais, éticas e morais. Nesse sentido, a título de comparação, a NBC PP 01, de 2009, trazia competências profissionais que podem ainda ser consideradas importantes para o trabalho do perito. Assim, a Resolução CFC n. 1.244, de 10 de dezembro de 2009, estabelecia que o perito contábil deve demonstrar capacidade de: (a) pesquisar, examinar, analisar, sintetizar e fundamentar a prova no laudo pericial contábil e no parecer pericial contábil; (b) realizar seus trabalhos com a observância da equidade signi- fica que o perito-contador e o perito-contador assistente devem atuar com igualdade de direitos, adotando os preceitos legais, inerentes à profissão contábil. 6. O espírito de solidariedade do perito não induz nem justifica a participação ou a conivência com erros ou atos infringentes às normas profissionais, técnicas e éticas que regem o exercício da profissão, devendo estar vinculado à busca da verdade fática, a fim de esclarecer o objeto da perícia de forma técnica-científica e o perito-contador assistente para subsidiar na defesa da parte que o indicou. (CFC, 2009) Na alínea “a”, temos a figura de um profissional que pesquisa e examina todas as provas que lhe são confiadas para então sinteti- zar, ou seja, resumir e fundamentar a prova, que seria seu parecer ou laudo pericial. Já na alínea “b”, o perito é aquele que realiza seu trabalho com equilíbrio juntamente com seu colega de profissão, o perito contador assistente, para que ambos possam ter direitos e acessos iguais. Por fim, o item 6 nos esclarece que o perito deve ter o espírito de solidariedade no exercício da profissão, mas nunca ser conivente com coisas erradas. Uma dica muito interessante é o livro Perícia Contábil, de Paulo Cordeiro de Mello. Em uma abordagem didática, são propostas questões detalhando os proce- dimentos técnicos de trabalho de uma forma que possibilita ao leitor entender de maneira prática o funcionamento da área profissional do perito contábil. MELLO, P. C. de. São Paulo: Senac, 2017. Livro 2.2.2 Habilitação profissional Em relação à habilitação profissional, a NBC PP 01 (R1) determina que: 5. O perito deve comprovar sua habilitação por intermédio de Certidão de Regularidade Profissional emitida pelos Conse- lhos Regionais de Contabilidade ou do Cadastro Nacional de Peritos Contábeis do CFC. O perito pode anexá-las no primeiro ato de sua manifestação e na apresentação do laudo ou pare- cer. (CFC, 2020) Perito e a Legislação 29 Ainda, a mesma norma nos fala que o perito poderá usar a certi- ficação digital, desde que esteja de acordo com a legislação vigente e submetida ao ICP Brasil (Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras). Isso faz com que o processo possa ser mais rápido, pois o perito terá acesso on-line a toda documentação necessária. A contratação do perito contábil deve ocorrer pela sua competên- cia em determinado assunto. Caso ele não tenha essa competência ou não possua estrutura profissional, ou seja, pessoas ou equipamentos necessários para efetuar todos os cálculos necessários, deverá declinar do convite, deixando para outro profissional. No trecho a seguir, temos a indicação do perito contador assistente, segundo a NBC PP01 (R1): 6. A indicação ou a contratação de assistente técnico ocorre quan- do a parte ou a contratante desejar ser assistida por contador, ou comprovar algo que dependa de conhecimento técnico-científi- co, razão pela qual o profissional só deve aceitar o encargo se reconhecer estar capacitado com conhecimento, discernimento e independência para a realização do trabalho. (CFC, 2020) Nesse parágrafo, temos a possibilidade de contratação do perito contador assistente, que da mesma forma deverá ter pleno conheci- mento da matéria tratada. O que difere o perito contador contratado em relação ao nomeado é que aquele irá atender aos interesses de uma das partes, a que o contratou. Ainda temos o esclarecimento da NBC PP 01 (R1), no item 29, que afirma: “tratando-se de perícia que abranja mais de uma área de conhe- cimento especializado, o perito deve comunicar ao juízo” (CFC, 2020). A norma nos esclarece que o perito contador deve comunicar o juí- zo caso haja necessidade de especialista em mais de uma determinada área específica. Isso não incapacita o perito, mas mostra profissionalis- mo no que se refere a não opinar sobre um assunto do qual não possui total domínio. Temos também o Código de Processo Civil, que disciplina de acordo com a Lei n. 13.105/2015, Seção II, o seguinte trecho: Art. 156 O juiz será assistido por perito quandoa prova do fato de- pender de conhecimento técnico ou científico. § 1º Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscri- tos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. O site do CRC-PR disponibiliza algumas informações básicas sobre a perícia contábil e apresenta alguns links úteis, como o do site do Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC). Vale uma consulta atenta. Disponível em: https://www. crcpr.org.br/new/content/portal/ fiscalizacao/pericia_contabil.html. Acesso em: 28 jul. 2020. Site https://www.crcpr.org.br/new/content/portal/fiscalizacao/pericia_contabil.html https://www.crcpr.org.br/new/content/portal/fiscalizacao/pericia_contabil.html https://www.crcpr.org.br/new/content/portal/fiscalizacao/pericia_contabil.html 30 Perícia Contábil e Arbitragem § 2º Para formação do cadastro, os tribunais devem realizar con- sulta pública, por meio de divulgação na rede mundial de com- putadores ou em jornais de grande circulação, além de consulta direta a universidades, a conselhos de classe, ao Ministério Públi- co, à Defensoria Pública e à Ordem dos Advogados do Brasil, para a indicação de profissionais ou de órgãos técnicos interessados. § 3º Os tribunais realizarão avaliações e reavaliações periódicas para manutenção do cadastro, considerando a formação pro- fissional, a atualização do conhecimento e a experiência dos pe- ritos interessados. § 4º Para verificação de eventual impedimento ou motivo de suspeição, nos termos dos arts. 148 e 467 , o órgão técnico ou científico nomeado para realização da perícia informará ao juiz os nomes e os dados de qualificação dos profissionais que parti- ciparão da atividade. § 5º Na localidade onde não houver inscrito no cadastro dispo- nibilizado pelo tribunal, a nomeação do perito é de livre escolha pelo juiz e deverá recair sobre profissional ou órgão técnico ou científico comprovadamente detentor do conhecimento neces- sário à realização da perícia. (BRASIL, 2015) O que temos nesse texto legal é a figura de um profissional que deverá ter nível universitário e possuir registro no seu órgão de classe (Conselho Regional de Contabilidade – CRC). Também será necessária a comprovação de sua especialidade e experiência mediante certidão do órgão a que estiver inscrito. Caso não haja pessoal com essas qua- lificações na localidade em que se estabelecer o litígio, o juiz poderá escolher outro profissional, sem a observância desses pré-requisitos. 2.2.3 Educação profissional Em relação à educação continuada, a NBC PP01 (R1), no seu item 4, afirma o seguinte: 4. Aplica-se ao perito a NBC PG 01 – Código de Ética Profissional do Contador, a NBC PG 100 – Cumprimento do Código, dos Prin- cípios Fundamentais e da Estrutura Conceitual e a NBC PG 300 – Contadores que Prestam Serviços (Contadores Externos) e a NBC PG 12 – Educação Profissional Continuada naqueles aspectos não abordados por esta Norma. (CFC, 2020, grifos nossos) O perito obrigatoriamente deve ser um estudioso da matéria con- tábil e gostar de ler a legislação pertinente à área em que atua. Hoje, cada vez menos profissionais aderem à perícia por falta de leitura e http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm Perito e a Legislação 31 conhecimento das legislações. No primeiro momento, fazer a leitura de uma lei traz algum desconforto, pois geralmente está escrita numa linguagem pouco usual. Mas, com dedicação e esforço, o profissional pode se habituar a essa linguagem, tornar a leitura mais agradável e, acima de tudo, ter uma interpretação correta do que lê. É necessário ter domínio da língua portuguesa, pois é por meio dela que o profissional se comunicará. Nesse sentido, o material construído pelo perito deve ser isento de vícios de linguagem, erros de ortografia, erros de concordância ou frases com duplo sentido. Um dos fatores de prestígio para o perito é o conhecimento da matéria contábil que ele possui, mas para isso é necessário algum esforço. Qual a relação da atuação do perito com a educação continuada? Atividade 1 2.2.4 Independência Aqui chegamos em um ponto crucial do trabalho pericial, pois so- mente com independência total do perito se poderá chegar a um resul- tado justo, sem influência de nenhuma das partes interessadas. Essa independência é fundamental, pois se pensarmos num processo tra- balhista movido pelo ex-funcionário de uma grande corporação, por exemplo, para construir um laudo pericial justo é necessário que o pe- rito tenha total independência nos cálculos trabalhistas que estão sen- do questionados. Caso o ex-funcionário tenha algum direito, ele terá a possibilidade de receber; se não tiver, o perito também não fará nada além do que a legislação referente às leis trabalhistas determinam. Assim, estará fazendo justiça na causa que foi demandada, sem parcia- lidade para nenhuma das partes, ou seja, sem pressão do funcionário ou da grande corporação. A NBC PP 01 (R1), no quesito independência, oferece a seguinte instrução: 13. O perito deve declarar-se suspeito quando, após nomeado ou contratado, verificar a ocorrência de situações que venham suscitar suspeição em função da sua imparcialidade ou indepen- dência e, dessa maneira, comprometer o resultado do seu traba- lho em relação à decisão. (CFC, 2020) Sendo assim, o perito não deve permitir nenhuma situação que comprometa sua independência na realização da atividade pericial, ou seja, não poderá sofrer nenhuma pressão por um resultado que venha a favorecer alguma das partes. Deverá ter a independência para fazer seu trabalho de forma imparcial, trazendo provas dignas de justiça ao litígio ora imposto. 32 Perícia Contábil e Arbitragem No texto da NBG PG 01, constam os deveres do contador, como podemos observar nos trechos a seguir. (a) exercer a profissão com zelo, diligência, honestidade e capa- cidade técnica, observando as Normas Brasileiras de Contabili- dade e a legislação vigente, resguardando o interesse público, os interesses de seus clientes e/ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e independência profissionais; [...] (e) aplicar as salvaguardas previstas pela profissão, pela legisla- ção, por regulamento ou por organização empregadora toda vez que identificar ou for alertado da existência de ameaças mencio- nadas nas normas de exercício da profissão contábil, observan- do o seguinte: (i) tomar medidas razoáveis para evitar ou minimizar conflito de interesses com clientes; e (ii) quando não puder eliminar ou minimizar a nível aceitável o conflito de interesses, adotar medidas de modo a não perder a independência profissional; [...] (g) abster-se de interpretações tendenciosas sobre a matéria que constitui objeto do trabalho, mantendo a independência profis- sional. (CFC, 2019) Com base nesse trecho da resolução do CFC, podemos confirmar que a contabilidade deve sempre ser guiada pelo zelo, pela honestida- de e pelo conhecimento técnico. Sempre que possível, deve-se evitar o conflito de interesses, para não perder a independência profissional e sobretudo evitar interpretações tendenciosas, ou seja, para procurar sempre emitir uma opinião imparcial diante dos fatos. 2.2.5 Sigilo A profissão do contador é cercada de segredos que ele precisa man- ter. São informações referentes aos seus clientes, como o faturamento de uma empresa ou um fornecedor importante de outra, ou ainda os custos para produção de determinado produto. Há também a ques- tão salarial dos funcionários, que não pode ser divulgada aos demais profissionais de uma empresa. Diante de tanto segredo, o profissional perito contábil, assim como o contador, também se depara com essa exigência, pois irá tratar de processos que não devem ser divulgados ou podem trazer uma má reputação a uma empresa ou pessoa. Perito e a Legislação 33 Sampaio e Rodrigues nos instruem a respeito do sigilo que deve existir sobre uma informação privilegiada,e isso gera uma relação de privacidade e publicidade, conforme vemos: analisar o sigilo profissional a partir da ética mostra que se está diante de algo complexo, que não se limita a um preceito legal. Quer dizer, o seu entendimento remete as questões: para quem?; com qual necessidade?; para quê? e em que condições? (SAMPAIO; RODRIGUES, 2014, p. 85) De outro modo, em quais circunstâncias um profissional deve asse- gurar o sigilo profissional? A resposta pode parecer fácil: invocando a lei. Entretanto, vamos conceituar os limites do sigilo, e para isso recor- remos a Ceneviva, que defende que o dever ético, cujo cumprimento é atribuído a uma pessoa em função da sua atividade profissional, possui uma atitude de “obter apenas a informação necessária para o cumpri- mento da missão profissional, e não mais que isso” (1996, p. 17). É necessário termos bem definidos os limites da informação que po- deremos obter para que não caiamos em qualquer situação que possa futuramente nos impedir de opinar com total isenção. Nesse sentido, a alínea “c” da NBC PG 01 disciplina o perito contábil quanto ao sigilo: (c) guardar sigilo sobre o que souber em razão do exercício pro- fissional, inclusive no âmbito do serviço público, ressalvados os casos previstos em lei ou quando solicitado por autoridades competentes, entre estas os Conselhos Federal e Regionais de Contabilidade. (CFC, 2019) Vemos nesse texto a obrigação de guardar sigilo, exceto em casos previstos em lei e quando o juiz ou o mediador solicitarem informa- ções adicionais. Nesse caso, o perito buscará uma quantidade maior de subsídios para o julgamento da lide e, nesses termos, poderá divulgar as informações adicionais a que teve acesso. Vejamos o que o Novo Código de Processo Civil, em seu artigo 166, nos esclarece em relação ao sigilo profissional do perito: Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princí- pios da independência, da imparcialidade, da autonomia da von- tade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada. § 1º A confidencialidade estende-se a todas as informações pro- duzidas no curso do procedimento, cujo teor não poderá ser 34 Perícia Contábil e Arbitragem utilizado para fim diverso daquele previsto por expressa delibe- ração das partes. § 2º Em razão do dever de sigilo, inerente às suas funções, o con- ciliador e o mediador, assim como os membros de suas equipes, não poderão divulgar ou depor acerca de fatos ou elementos oriundos da conciliação ou da mediação. (BRASIL, 2015) Temos a visão do Novo Código de Processo Civil sobre a conciliação ou mediação, que ocorre antes da opinião do juiz. Nesse caso, é disci- plinado o sigilo a todos os membros da equipe envolvidos no processo, buscando sempre a confidencialidade estendida a todas as informa- ções produzidas no período que se estender o processo. A profissão de perito contábil sempre será cercada de informações sensíveis e que podem ter sua divulgação impedida de acordo com as Normas Brasileiras de Contabilidade ou com o Novo Código de Processo Civil, por isso, nesses casos, é melhor pecar por excesso e não divulgar nada que não esteja explícito no processo do que acabar divulgando al- guma informação protegida e que, por isso, não pode ser divulgada. 2.2.6 Responsabilidade Sempre devemos ter em mente nossas responsabilidades, ainda mais como profissionais que lidam com dados e com a interpretação e posterior geração da informação. Sendo de inteira responsabilidade do perito, as informações contidas no laudo pericial ou, ainda, no parecer pericial podem ter impacto social. São consequências de âmbito ético, pois ele sempre vai buscar o que é certo e justo no campo profissional e legal, pois sempre estará sendo avaliado pelos seus pares e por aque- les que utilizam o seu trabalho para chegar a um veredito. Nesse sentido, temos os itens 16 e 17 da NBC PP01 (R1), que discipli- nam essa responsabilidade: 16. O perito deve conhecer as responsabilidades sociais, éticas, profissionais e legais às quais está sujeito no momento em que aceita o encargo para a execução de perícias contábeis judiciais e extrajudiciais, inclusive arbitral. 17. O termo “responsabilidade” refere-se à obrigação do perito em respeitar os princípios da ética e do direito, atuando com lealdade, idoneidade e honestidade no desempenho de suas ati- vidades, sob pena de responder civil, criminal, ética e profissio- nalmente por seus atos. (CFC, 2020) Perito e a Legislação 35 A falta de responsabilidade, de acordo com a norma, será penaliza- da civil, criminal, ética e profissionalmente. Vemos assim a importância de se atentar para esse tópico. Responsabilidade e ética O perito deve sempre ter responsabilidade e ética na forma como atua, devido à relevância da sua atuação, pois pode criar provas que poderão desencadear pagamento milionário. É preciso sempre ter essa responsabilidade em mente, pois se o perito faltar com a ética poderá prejudicar uma empresa ou uma pessoa de ma- neira permanente. Para complementar esse raciocínio, a NBC PP01 (R1) afirma que: 18. Ciente do livre exercício profissional, deve o perito no- meado, sempre que possível e não houver prejuízo aos seus compromissos profissionais e às suas finanças pessoais, em colaboração com o Poder Judiciário, aceitar o encargo confia- do ou escusar-se do encargo, no prazo legal, apresentando suas razões. (CFC, 2020) Vemos nesse texto que o perito deve, sempre que puder e isso não prejudicar seus afazeres cotidianos, aceitar o encargo do juiz. Caso o perito não possa assumir, ele tem um tempo para dar os motivos da escusa. Interessante é o fato de que em vários pontos da norma se apresenta a independência do perito para atuar de maneira impar- cial. Isso se deve ao fato de haver a forte possibilidade de alguma das partes tentar direcionar o trabalho pericial. Um exemplo é o direcio- namento das perguntas que são feitas no processo, que geralmente buscam beneficiar uma das partes interessadas; assim, cabe ao perito responder a todas as perguntas, mas de maneira justa e sobretudo com ética. No artigo Código de Ética Profissional do Contador é atualizado: saiba o que mudou, publicado no site do Conselho Federal de Contabilidade, Maristela Girotto fala sobre as alterações concluídas no Código de Ética no ano de 2019. É muito importante que todo profissional da área contábil esteja atento às mudanças que ocorrem na área, e com o Código de Ética isso não é diferente, pois assim pode atuar dentro dos preceitos éticos da profissão. Acesso em: 27 jul. 2020. https://cfc.org.br/noticias/codigo-de-etica-profissional-do-contador-e-atualizado-saiba-o-que-mudou/ Artigo 36 Perícia Contábil e Arbitragem Ainda nesse tema, a NBC PP01 (R1) estabelece: 19. O perito nomeado, no desempenho de suas funções, deve propugnar pela imparcialidade, dispensando igualdade de trata- mento às partes e, especialmente, aos assistentes técnicos. Não se considera parcialidade, entre outros, os seguintes: (a) atender às partes ou a assistentes técnicos, desde que se as- segure igualdade de oportunidades; ou (b) fazer uso de trabalho técnico-científico anteriormente publi- cado pelo perito nomeado que verse sobre matéria em discus- são. (CFC, 2020) Nesse sentido, o perito assistente é o contador contratado por uma das partes que vai acompanhar todos os cálculos e guardar pelos inte- resses dela, mas sempre usando da ética e do que é justo para guiar os seus passos. O perito contador nunca deve tratar o perito contador assistente de maneira hostil, e sim permitir total acesso aos cálculos e documentos referentes ao processo que está sendo analisado. Para subsidiar seu laudo, o perito contador pode, ainda, utilizar ma- teriais já construídos por outros peritos, não imputando parcialidade alguma ao seu laudo. Trazemos ao nosso estudo o olhar de Sá (2011), para o qual o perito, quando delega suas tarefas aos auxiliares ou es- pecialistas, não transfere sua responsabilidade.Já segundo Magalhães e Lunkes (2008), o perito tem uma grande responsabilidade na omissão ou ação de seus atos, pois pode gerar danos às partes, podendo ser acionado civil, penal e profissionalmente. Responsabilidade civil e penal Nesse ponto, o perito tem um grande encargo e responsabilidade naquilo que for nomeado ou escolhido para fazer, pois o dano que uma das partes do processo pode sofrer é muito grande. Vejamos o que a NBC PP01 (R1) nos fala: “20. A legislação civil deter- mina responsabilidades e penalidades para o profissional que exerce a função de perito, as quais consistem em multa, indenização e inabili- tação” (CFC, 2020). O perito precisa ter sempre absoluta certeza da informação que irá passar. É preciso conferir mais de uma vez as planilhas, as fórmulas in- seridas para o cálculo e a confiabilidade da fonte utilizada. Ele sempre deve se cercar de todas as informações possíveis para garantir a con- sistência do laudo ou do parecer contábil. Isso dará segurança diante O perito exerce grande responsa- bilidade social, ética, profissional e legal. Quais impactos essa responsabilidade gera sobre o profissional e sobre o meio em que ele atua? Atividade 2 Perito e a Legislação 37 dos processos em que o perito assinar e diante de qualquer questio- namento do juiz ou de qualquer uma das partes. Assim, ainda evitará pagamento de multas, detenção e reclusão, conforme previsto no item 21 da NBC PP 01 (R1): “a legislação penal estabelece penas de multa e reclusão para os profissionais que exercem a atividade pericial que descumprirem as normas legais” (CFC, 2020). O Novo Código de Processo Civil, no artigo 158, também confirma essa situação: Art. 158. O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas responderá pelos prejuízos que causar à parte e ficará inabilitado para atuar em outras perícias no prazo de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, independentemente das demais sanções previstas em lei, devendo o juiz comunicar o fato ao respectivo órgão de classe para adoção das medidas que en- tender cabíveis. (BRASIL, 2015) Nesse sentido, o erro ou omissão não é algo que o perito possa come- ter diante de um processo em que o destino de empresas e pessoas está sendo julgado. Caso seja confirmado que a falha foi intencional ou ocorreu por falta de zelo, com toda certeza o perito terá que se responsabilizar. 2.2.7 Zelo profissional Quem não gosta de uma refeição bem preparada? Quem já teve que se estressar por um pedido que demorou muito ou veio frio, com algo faltando? Da mesma forma que apreciamos uma comida bem preparada, po- demos trazer esse exemplo para a profissão contábil. Na execução de suas tarefas, o contador tem de ser metódico, ou seja, fazer tudo com muito cuidado e com especial controle sobre todos os documentos. Isso demanda organização, pois ele receberá documentos importantes do processo e a guarda é fundamental para o desenrolar da lide. Outra questão é em relação aos prazos. O perito deve sempre observar os prazos de entrega do processo; caso não consiga cumprir qualquer um deles, deverá protocolar uma solicitação de aumento de prazo antecipadamente para o juiz. Nesse sentido, ele precisa ter um controle extremamente rígido para que nada fique sem cálculo ou jus- tificativa e para que possa, na data determinada no processo, entregar o laudo ou parecer contábil. 38 Perícia Contábil e Arbitragem A NBC PP01 (R1), no item 22, oferece a seguinte instrução: 22. O termo “zelo”, para o perito, refere-se ao cuidado que ele deve dispensar na execução de suas tarefas, em relação à sua conduta, documentos, prazos, tratamento dispensado às autoridades, aos integrantes da lide e aos demais profissio- nais, de forma que sua pessoa seja respeitada, seu trabalho levado a bom termo e, consequentemente, o laudo pericial contábil e o parecer pericial-contábil sejam dignos de fé pú- blica. (CFC, 2020) Já no item 23 da NBC PP01 (R1), temos uma relação das situações em que o zelo profissional é relevante: 23. O zelo profissional do perito na realização dos trabalhos periciais compreende: (a) cumprir os prazos fixados pelo juiz em perícia judicial e nos termos contratados em perícia extrajudicial, inclusive arbitral; (b) comunicar ao juízo, antes do início da perícia, caso o prazo estipulado no despacho judicial para entrega do laudo peri- cial seja incompatível com a extensão do trabalho, sugerindo o prazo que entenda adequado; (c) assumir a responsabilidade pessoal por todas as infor- mações prestadas em matéria objeto da perícia, os quesitos respondidos, os procedimentos adotados, as diligências reali- zadas, os valores apurados e as conclusões apresentadas no laudo pericial contábil e no parecer pericial contábil; (d) prestar os esclarecimentos determinados pela autoridade competente, respeitados os prazos legais ou contratuais; (e) propugnar pela celeridade processual, valendo-se dos meios que garantam eficiência, segurança, publicidade dos atos periciais, economicidade, o contraditório e a ampla defesa; (f) ser prudente, no limite dos aspectos técnico-científicos, e atento às consequências advindas dos seus atos; (g) ser receptivo aos argumentos e críticas, podendo ratificar ou retificar o posicionamento anterior. (CFC, 2020) Nessa parte da norma, podemos perceber claramente a busca por profissionais que cumprem os prazos. Também é importante a responsabilidade sobre o seu pessoal, pois independentemente dos auxiliares e demais profissionais que atuam junto ao perito contábil, a responsabilidade por todo o trabalho é do perito. É interessante observamos que parte do zelo se sustenta na rapi- dez em que são feitos os cálculos ou é construído o laudo. Buscando Perito e a Legislação 39 sempre a eficiência e a economicidade, o perito precisa ser eficiente com o menor recurso possível, sem gastar mais que o necessário, pois isso vai refletir nos honorários da perícia. Na alínea “g”, temos um ponto em que às vezes encontramos alguma dificuldade, tanto em relação aos profissionais quanto aos auxiliares que trabalham na perícia. Nesse ponto, a NBC fala em “ser receptivo aos argumentos e críticas, podendo ratificar ou retificar o posicionamento anterior” (CFC, 2020), e é da natureza humana ter- mos dificuldades em receber críticas, ainda mais sobre o nosso tra- balho. Assim, esse é um ponto que precisa de uma atenção especial, pois isso ocorre com frequência nos tribunais, independentemente de sermos a pessoa que domina o assunto contábil. Sempre haverá alguém com conhecimento suficiente para nos colocar em uma si- tuação difícil se não formos muito cuidadosos. Nesse sentido, sobre ser cauteloso e cuidadoso com o que se es- creve no laudo e como é o tratamento entre as partes interessadas, temos o item 24 da NBC PP01 (R1): 24. A transparência e o respeito recíprocos entre o perito nomeado e os assistentes técnicos pressupõem tratamento impessoal, restringindo os trabalhos, exclusivamente, ao con- teúdo técnico-científico. (CFC, 2020) Nesse ponto, é preciso chamar a atenção para o fato de que a execução de toda a equipe é de responsabilidade do perito conta- dor. O item 40 da NBC PP01 determina que a digitação, as pesquisas, as análises contábeis e os cálculos poderão ser feitos pelos auxilia- res. Assim, o perito deve ter em mente a responsabilidade de toda a sua equipe na busca pelas informações corretas, uma vez que é ele quem responde no final pela perícia. No dia a dia da perícia, é preci- so procurar, juntamente com o contador, fazer o melhor, conferindo o trabalho a todo o momento para que nada saia sem digitação ou sem o devido cálculo. É humanamente impossível que o perito contador confira to- das as digitações, todos os cálculos e todas as análises. Por isso, ele precisa estar cercado de uma equipe sólida que ajude nessas conferências, afinal essa questão é clara no item 25 da NBC PP01 (R1): “o perito é responsável pelo trabalho de sua equipe técnica” (CFC, 2020). 40 Perícia
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