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COLEÇÃO FôRUM OE DIREITOS FUNDAMENTAIS COLEÇÃO FÔRUM OE DIREITOS FUNDAMENTAIS Coordenador ANDRÉ RAMOS TAVARES Carlos Alberto Molinaro Fernanda Luiza Fontoura de Medeiros Ingo Wolfgang Sarlet Tiago Fensterseifer (Organizadores) A DIGNIDADE DA VIDA E OS DIREITOS FUNDAMENfAIS PARA ALÉM DOS HUMANOS UMA DISCUSSÃO NECESSÁRIA PUCRS/BCE Belo Horizonte 111 11111111111111 I � Edlton, F6nnn - 2008 0.944.054-8 PRlllllft IIIAfOIIN U. CQNIIICl•IIO 'O fôRUM OE COLEC"v � :::..:.---:-::-05 FUN'noAM• .. çENTNTAA ll�S OIREIT coordenador ANDRt RAMOS TA VARES PLJCRS • BIBLIO TECA 1 / 11g.5.2.9 - W • S:..,:+I I W f)'5 t-�ll. ,, - ·- l--��� ::::: :::::::::::======== ::::;;ri21oos Editora Fóru m Ltda. alquer meio eletrõni co, tal ou parcral desla obra •. por q u ex ressa do Editor. t proibida a reprod ução t �s xerogrMicos, sem autorização p inclusive por process Editora Fórum Ltda.. ários _ CEP 30130-00 7 2770 - 1 Sº/16 º andar - Funct;; 4900 I 2121.4949 Av. Af l on H si:,�:��Íe - Minas Gerais -_Tel.:1( 31),;@e<iitoraforum.com.br�o m br- e<1i1ora oru yJWW.editoraforum.co · . . 1 Cláudio Rodrigu es Ferreira Editor responsáv el. L� s . . 01 a M. A. Sousa Coordenação ed1tonal. 9 . Reviso�a: Cida. Rib�r�RB 1326 _ 5• Região indexação· Maria Clarice uma Ba1JSta CRB 2900 - 5• Região . F da de Paula Moreira - Bibliotecária: er�an áf formatação: Walter Santos capa. proJeto gr "º e . além dos humanos: uma 'd 5 direitos fundamenta15 para . F nda Luiza 0575 A d����::á: �:C:ss�rfa � Organizad 1 ores: S Ca rt r e lo t s ;,�b 9 ���t��;e�;;;. 0:;:�orizonte: Med · s lngo Wol gang a • Fontoura de eiro • Fó de Direitos Fundamentais, 3). Fórum. 2008. (Coleção rum ��!,��nador da coleção: André Ramo s Tavares. ISBN 978-85-7700-120-0 . . . .5 _ trato. 3. Animais - proteção. 4. 1. Animais - aspectos JurldJCos. 2d · Anim t al n·,mal 6 Rodeio. 7. Brasil [Lei dos . ét' 5 Cruelda e con ra a · · AnimaJS - aspectos JCos. · . C I Alberto II Medeiros. Fernanda Lu 1za Crimes Ambientais (1998)). I. MW 0 1 1 1 ;a ro, :� º:ensterseitei Tiago. v. Tavares, André Fontoura de. Ili. Sarfet. lngo o gang. · . • 1 Ramos. VI. Coleção Fórum de Direitos Fundame ntais. VII. T1tu o. COO: 344.81049 CDU: 34:577.4 Informação bibliográfica deste livro, conforme a NBR 6023:2002 d a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABND: MOUNARO, Carlos Alberto; MEDEIROS, Fernanda Luiza Fontoura de; SARLET, lngo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago (Org.). A dignidade da vida e os direitos fundamentais para além dos humanos: uma discussão necessária. Belo Horizonte: Fórum, 2008. 542 p. ISBN 978-85- 7700-120-0. (Coleção Fórum de Direitos Fundamentais, 3). Sumário Apresentação André Ramos Tavares ....................................... _................. 1 3 Nota dos organizadores .... -................................................ 17 Ética e animais - Reflexões desde o imperativo da alteridade Ricardo Timm de Souza ............................................................... 21 I Introdução ............................................................................. 22 li Da diferença à_objetificação ................................................... 23 a) No princípio era a diferença ................................................... 24 b) O primeiro passo do processo de objetificação/superação da diferença: sobre Ser e Não-ser ........................................... 31 c) O segundo passo na superação da diferença: a espacialização da temporalidade ......................................... 33 d) O terceiro passo na superação da diferença: a objetificação intelectual-neutralizante do real ............................................. 37 Ili Da neutralização da diferença à dignidade da alter idade ........ 39 a) Pó e cinzas ......................................................... - ................... 39 b) Crises, arqueologias e novas descobertas: finitude e temporalidade ....................................................................... 42 c) A reafirmação da dignidade da Alteridade .............................. 44 IV A Alteridade dos animais ................................... - ................... 47 Referências ............................................................................ 50 Liberdade e autonomia prática. Fundamentação ética d� �roteçã? constitucional dos animais � Son1a T. Fehpe ......................................................... -........ -............ 55 Considerações preliminares .............................................................. 5_} Antropocentrismo especista ..................................... __ , ..................... f>8.; Capacidade de sentir dor e de sofrer, ou igualdade racional? ............ 6J Direitos constitucionais para os animais. A proporcionalidade da liberdade na proposta de Steven M. Wise ................................. 'JO .V Autonomia prática, consciência, autoconsciência e a liberdade proporcional que as deve respeitar ............................................... . Implicações do respeito à liberdade animal ..................................... . Da autonomia moral ao direito legal ............................................... . Conclusões ..................................................................................... . Para além de "compaixão e humanidade" - Justiça para animais não-humanos Martha C. Nussbaum ................................................................... 85 "Seres titulares do direito a uma existência digna" ......................... . Contratualismo kantiano: obrigações indiretas, deveres de compaixão ............................................................................. . Utilitarismo e prosperidade animal .................................................. . Tipos de dignidade, tipos de prosperidade: estendendo a abordagem das competências .................................................... 98 Dignidade e encantamento: o ponto de partida intuitivo .................. 99 Por quem e para quem? Os propósitos da cooperação social .......... 101 Quão abrangente? ......................................................................... 102 As espécies e o individuo ............................................................... �j Os níveis de complexidade importam? ............................................ 1 04 A espécie importa? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Avaliando as competências animais: não ao culto à natureza ......... 108 Positivo e negativo, competência e funcionalidade ......................... 111 Em direção a princípios políticos fundamentais: a lista das competências ............................................................................. 114 • As competências humanas centrais ................................................ 114 A impossibilidade de eliminação de conflito ................................... 123 Rumo a uma justiça verdadeiramente global .................................. 12� �mal n�humano .. < Ana ma ria Gonçalves dos Santos -Fe1Jo ..................................... 1J7 Vivissecção: fé cega, faca amolada? Paula Brügger ............................................................................. 145 Resultados pífios e perigos potenciais ............................................ 147 Fé cega: a crença acrítica numa visão mecanicista, reducionista de ciência ................................................................................... 1 51 Faca amolada: é possível "arrancar sob tortura os segredos da natureza"? ............................................................................ 160 Técnicas e procedimentos substitutivos à "experimentação animal": muitas luzes no fim do túnel ...... ·············· ..................... 163 É hora de urdir uma nova trama com a natureza ........................... 165Conclusões articuladas ................................................................... 171 Referências .................................................................................... 1 7 3 Algumas notas sobre a dimensão ecológica da dignidade essoa humana e sobre a dignidade da vida em geral lngo Wolfgang Sarlet, Tiago Fensterseifer .............................. 175 1 A dimensão ecológica da dignidade (da pessoa) humana ..... 176 2 Dignidade da vida para além da humana?............................ 82 2.1 Sobre a necessidade de repensar a concepção individualista e antropocêntrica de dignidade e avançar ·rumo a uma compreensão ecológica da dignidade da pessoa humana e da vida em geral ................................................................ 182 3 A superação do paradigma jurídico antropocêntrico clássico e o reconhecimento da dignidade do animal não-humano e da vida em geral no âmbito jurídico-constitucional brasileiro .......................................... . 4 Algumas questões em aberto - Um novo contrato político-jurídico socioambiental? .......................................... 203 Experimentação em animais e Direito Penal: comentários dogmáticos sobre o art. 32, § 1 º, da Lei nº 9.605/1998, e o bem jurídico "dignidade animal" Paulo Vinicius Sporleder de Souza, João Alves Teixeira Neto, Juliana Cigerza ............................................................................ 207 1 Considerações prévias .......................................................... 208 2 Art. 32, §1 º (Lei nº 9.605/1998) ........................................... 213 2 .1 Tipo objetivo ........................................................................ 213 2.2 Tipo subjetivo ...................................................................... 214 2 .3 Modalidade culposa ............................................................. 215 2.4 Qualificadoras e causas de aumento de pena ....................... 215 2.5 Pena e questões processuais ................................................. 215 3 Da dignidade animal ......... ........... ........ ........................ ...... .. 15 3.1 Fundamentos (fatores fundantes ) ......................................... 2 3. 1 . 1 Vida ..................................................................................... 217 3.1.2 Sensciência ........................................................................ . 218 o 3 .1 .3 Capacidade para sofrer ........................................................ 21 ii 3.1.4 Interesse .............................................................................. 9 3.1.5 Racionalidade ..................................................................... . 3.2 Conceito .............................................................................. 223 3.3 Natureza .............................................................................. 225 4 Considerações finais ............................................................. 225 Referências .......................................................................... 228 e��!�: �n�i�:�e�r�s·�-�_i-��'.� .. ��--�'.�.�_i��-�-���i.1�.i-��-··· 231 Introdução .................................................................................... 231 1 A tolerância da crueldade contra os animais não-humanos na legislação brasileira .................................. � 40 2 A tolerância da crueldade contra os animais / não-humanos nos tribunais ................................................. • 43 3 Inovações da legislação ambiental e a crueldade contra ���:,;::::� .�.�·���'.�����. '. i � tê � i � a do � ei ���� i ��······ IReferências ........................................................................... 12 � '=---" ,0'ireito dos a nimais : proteção ou legit imaçã� '&Q_mércio da vid 7 _ _ __ - Fernanda Luiza Fontoura de Medeiros ..................................... 259 1 Introdução ...................................................... '. .................... 259 2 Um olhar acerca da interação entre os animais (hum�no� e/ou não)_ .. _. ............ : ... _. ........................................ �3 Os animais como suJe1tos de direito .................................... �:: 1 4 As duas correntes de proteção: o bem-estar e o direito ,,.. d . . (,"'os an1ma1s .............................................. ........................... ,t..8/ 5 Uma questão de dignidade .................................................. 283 6 Conclusões articuladas ......................................................... 287 Referências .......................................................................... 288 Ação Civil Pública - Processo 2004. 71.00.021481-2 - Sentença 0397 /2005 Cândido Alfredo Silva Leal Júnior ............................................. 291 1 RELATÓRIO .......................................................................... 292 2 FUNDAMENTAÇÃO .............................................................. 296 3 DISPOSITIVO ........................................................................ 328 1Entre anjos e macacos, a prática hu�na� �acrifício ritual de animais Jãyme Wemgartner Neto ........................................................... 331 1 2 3 Introdução ........................................................................... 331 Traços doutrinários .............................................................. � O açougueiro turco de Essen ............................................... � As religiões afro-brasileiras no Rio Grande do Sul ................. 34� Diretrizes para resolução do caso no STF .............................. @ 4 Por uma releitura ética da atuação do Ministério Público 'em prol dos animais: estudo de casos da Primeira Promotoria de Justiça do Meio Ambiente de Salvador (Bahia) Luciano Rocha Santana ............................................................. 361 1 Introdução ........................................................................... 361 2 Das éticas da natureza ......................................................... 363 / 3 Das éticas animalistas e ecológicas ........... .... ....... ................. 6-U Por uma releitura ética do Ministério Público em favor dos animais ...................................................................... J g _ 4.1 Casos práticos ..................................................................... . 5 Conclusão ............................................................................ 392 Referências .......................................................................... 392 O caso da farra do boi no Estado de Santa Catarina: colisão de direitos fundamentais e<'� CiraH·na Meaeiros Bahia ............................................................ 395 1 Introdução ........................................................................... 395 2 Conceito constitucional de cultura. Direito à liberdade de ação cultural como direito fundamental ......... ........ ......... 96 3 Proteção constitucional da fauna. Combate aos maus-tratos e à crueldade como manifestação do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado .................................. 4QO , 4 O caso da farra do boi no Estado de Santa Catarina ............. 404 4.1 Histórico .............................................................................. 404 4.2 Descrição da prática ............................................................. 408 5 Discussão ............................................................................. 411 5.1 A farra do boi como manifestação cultural ........................... 411 5.2 A farra do boi como ato cruel contra os animais .................. 414 6 A colisão no âmbito judiciário: a farra do boi segundo . ' 'b . 416 1os Ju1zes e tn unais ............................................................ _ - 7 Conclusões articuladas ......................................................... 423 Referências ............................................., .. , ......................... 424 O direito à escusa de consciência na experimentação animal Laerte Fernando Levai ................................................................ 429 1 Introdução ........................................................................... 429 2 O altar cientificista ............................................................... 433 3 Métodos alternativos ........................................................... 436 4 A objeção de consciência ..................................................... 440 5 Aspectos jurídicos ................................................................ 442 6 Conclusões articuladas ......................................................... 448 Referências .......................................................................... 449 (cJs animais podem processar? Céfss R. Sunstein ............. � ......................... , .............................. . Dire itos dos animais em ação ........................................................ . Lei estadual: crueldade, uma interpretação ampla ......................... . Lei federal: espécies, mamíferos, cavalos, outros ........................... �56 • Uma declaração de direitos federal para os animais?..................... 7. Legitimidade: seres humanos, direitos humanos e bem-estar animal ... · O Leg islação vigente: legitimidade para informações ......................... 21-60 Legislação vigente: danos da concorrência .................................... 63 Legislação vigente: dano estético ................................................... 464 ,,. ,/ Sem danos e sem planos ............................................................... - Planos, cientistas, visitantes ......................................................... -� Os animais têm legitimidade? ....................................................... l:1-6 O art. 20a da Lei Fundamental da Alemanha e o novo objetivo estatal de proteção aos animais Johannes Caspar, Martin Geissen ............................................. 473 I Introdução ........................................................................... 474 li Do âmbito de proteção do novo fim estatal .......................... 475 1 A "pequena solução" ........................................................... 41-51 2 O termo "anima is" no art. 20a da Le i Fundamental .............. 47,.6 Ili IV 2 V Sobre a natureza jurídica das normas defin idoras de fins do Estado ............................................................................ 47'"'' Sobre o futuro significado do objetivo estatal da " t - . . " 44788) 6a r �:r�:�t��:;:�:;��ídi�·�· d�. ���-��. d�ti�id·�·� ;· ·d·�· ti�� ....... Y) do Estado para o Legislativo ................................................. 478 O significado da norma definidora de fins do Estado para o Judic iário e o Executivo ............................................. . Conclusão ............................................................................ 491 /\Í ( Habe:S Co�us ��Chimpanzé� 1 Dos fatos ............................................................................. 496 2 Da admissibilidade do writ .. ............. ... . ...... .... ....... .. ............. 7 2.1 2.2 2.3 3 Extensão dos direitos humanos aos grandes primatas .......... ,Os ch impanzés como pessoas ............................................. · �� r ;e���� t _ i .��- -�-º-�-��'.��� i -�-�-�'.. ��-����-�-��.:::::::::::::::::::::: :: :: : : 5- Habeas Corpus nº 833085-3/2005 - lmpetrantes: Drs. Heron José de Santana e Luciano Rocha Santana - Promotores de Justiça do Meio Ambiente e Outros - Paciente: Chimpanzé "Suíça" ................................................... 525 Índice ............................................................................................ 533 Apresentação A Coleção Fórum de Direitos Fundamentais faz agregar, como sua terceira composição, a presente obra coletiva A dignida.de da vida e os direitos fundamentais para a/im dos humanos: urna discussão necessária. Estão de parabéns seus organizadores, Carlos Alberto Molinaro, Fernanda Luiza Fontoura de Medeiros, Ingo Wolfgang Sarlet e Tiago Fensterseifer, não só pelo alto padrão de discussões que aqui foram capazes de reunir, mas por permitirem ao público brasileiro uma apro ximação mais segura de um tema extremamente delicado e ainda muito escassamente enfrentado pela literatura jurídica pátria. A riqueza bibliográfica e a reavaliação dos direitos em relação aos seres vivos não-humanos (problematizando a gramática tradicional dos chamados direitos (humanos) fundamentais) permeia todos os estudos desta obra, conferindo-lhe uma robusta coesão e, concomitantemente, uma visão abrangente e compreensiva de todas dimensões que se (im)põem pela questão enfrentada, pelas questões conexas e por suas conseqüências em geral. Os textos vocacionados para o enfrentamento teórico jurídico do assunto rendem uma impressionante variedade de argumentos e texturas valorativo-normativas, na sua bem exposta e sistematizada complexidade. Dentre os autores, e sem pretender aqui adiantar a· totalidade dos pressupostos e conclusões apresentadas, Ingo Sarlet e Tiago Fensterseifer nos falam de uma nova dimensão ecológica , •ERIO MOU NARO, I QRLOS •� GANG s,IRLET. TIA TOURA OE MEDEIR OS. F�Ri::s�:.w::t/(��GANIZAOORfS) G 14 1NGO\\Olf humana: "uma compreensão. . d de da pessoa . . Para a d1gn1 ª . d. sional e não-re duc1omsta da . te rnulu imen , . necessanarnen aquilo que se podera designar . d d pessoa h urnana, . . dign1da e ª /' . ( u quem sabe, so cwambzental) da d' ão eco ogzca o , de uma wzens ue or sua vez, também não poderá d. . dade hurnana , q , p b' l ' . 1gn1 d'mensão puramente 10 ogica ou.· gida a urna 1 ser resu 1�1 1 qualidade de vida como um todo, física pois contemp a ª b ' b' m que a vida humana (mas tam ém inclusive do am iente e _ ) desenvolve". A essa concep çao se faz a nao-hurnana se . - 'd de que a tutela da vida em geral naoacrescer o senu o . _ d e como meramente mstr umental em relaçao po e sustentar-s h no. há um valor intrínseco em sua defesa, umao ser uma , . "valor próprio" da dignidade da vida em geral. E as sim a discussão se desemola entre os diversos autores que compõem a obra, autores do porte de Cass Sunstein, ao qual se juntam Paulo Vinicius Sporleder de Souza, João Alves Teixeira Neto, Juliana Cigerza, Patrícia Azevedo da Silveira, Fernanda Luiza Fontoura de Medeiros, Cândido Alfredo Silva Leal Júnior, J ayme Weingartner Neto, Luciano Rocha Santana, Carolina Medeiros Bahia e Laerte Fernando Levai. Mas não é só. Acrescente-se ainda o texto de J ohannes Caspar e Martin Geissen. . Mas a obra se caracteriza também pela sua "combinação"(imprescindível) - e contribuição - filosófica. Assim é que no . texto de Sônia T Felipe, partindo-se de postura ética de canz constitucional d , · i: 'bil' - emocrat1Co, estas são realocadas, em suare1en idade aos a . fil 'fi rumais. A autora, com sua excelente baseoso 1ca segue a " . direitos � autonomia prática" e defende que "osevem ser conced'd . . , . 1 mente às suas h b'i'd 1 os aos md1viduos proporciona - . a 1 1 ades fís · , . , . d de mteração soc'al . ' Ka e psiqmca, e a sua capacida ei e ambiental :1;,..;,1,,,t/P.' resguardando-se a especip1.,;,...,.,,._ �---- A DIGNIDADE DA VIDA E OS DIREITOS FUNDAMENTAJS PARA AL(M DOS HUMANOS: UMA DISCUSSÃO NECESSÁRIA 1 1 5 dessa liberdade, e assegurando-se a igualdade na consideração dos interesses semelhantes, para todos os animais". Ainda na linha filosófica, Ricardo Timm de Souza fala do processo de diferenciação e de sua "domesticação", em texto que nos obriga a repensar as bases e conexões mais arraigadas de nosso discurso em geral e do discurso jurídico em particular. Desde a idéia de que a "diferença entre o velho e o novo pensamento expressa-se ... na necessidade do Outro",o autor bem desenvolve as principais linhas de uma nova postura que parte da "constatação" daquilo que os animais não têm podido ser "co-autores da sustenta bilidade ético-ecológica do planeta, ou seja, ' outros"'. Martha C. Nussbaum realiza uma abordagem a partir das teorias da Justiça. Contrapõe-se às concepções u·adi cionais de teoria da Justiça, que considera insuficientes para a inclusão de outras formas de vida não-humanas, propondo elementos e critérios para uma teoria da justiça efetiva mente e inteiramente global. Nesse sentido observa: "parece que a melhor razão para se ser contra a escravidão, a tortura e a subordinação vitalícia é uma razão de justiça, não um cálculo empírico de bem-estar médio ou total". Por fim, completam a discussão filosófica os exce lentes textos de Anamaria Gonçalves dos Santos Feijó e de Paula Brügger. A obra está a merecer, por toda sua contribuição crítica ao pensamento mais "tradicional" e menos "global" dos direitos constitucionais, uma leitura atenta de todos aqueles dedicados ao estudo dos direitos e dos pressupostos filo sóficos, éticos e lógicos dessa categoria jurídica tão cara à Teoria do Direito e particularmente à Teoria do Direito Constitucional. Justifica-se, assim, plenamente, a in erção ZA FONTOURA OE MEDEIROS , 1 (AJILOI ALBERTO MOLINA��A6��E:�:R��:FER (ORGANIZADORES) 16 INúO WOLfúANG SAR LET. 1 - que pretende contribuir com Od obra nesta Co eçao , . ª . 1 voltado para o desenvolvimento dospensamento naoon� direitos fundamentais. André Ramos Tavares d d C leça-0 Professor dos programas de doutorado eCoordena or a o d D . e'to da PUC/SP. Visiting Research Scholar na Cardozomestra o em ir 1 . d · · School of Law _ New York. Visiting Foreig11 �fess�r na for; ham u:1iversity _ New York. Professor Visitante da Universidade de Sa?tta.go �e Compostela. Diretor do Instituto Brasileiro de Estudos Const1tuc1ona1s. Nota dos organizadores A dignidade da vida e os direitos fundamentais para além do animal humano é, sem dúvida, um tema que, a despeito de não ser propriamente novo, segue exigindo um enfrentamento adequado e desafia constante debate e reflexão. Embora siga, na essência, alinhada à matriz filo sófica moderna a respeito da dignidade da pessoa humana, designadamente no que diz com a tradição kantiana de que o ser humano não pode ser empregado como simples meio ( ou seja, objeto) para a satisfação de qualquer vontade alheia, mas sempre deve ser tomado como fim em si mesmo (ou seja, há de ser sempre sujeito) em qualquer relação, seja em face do Estado seja em face de outros indivíduos, 1 com a presente coletânea se pretende investir na discussão a respeito do status moral e jurídico-constitucional dos animais não humanos. O objetivo não é apenas o de reforçar a neces sidade de ampliação das premissas e mesmo das fronteiras propostas por KANT, no sentido de afirmar a necessidade do reconhecimento da dignidade de qualquer forma de vida, mas também se pretende enfatizar a correlata supe ração do excessivo antropocentrismo que ainda preside a concepção vigente de dignidade da pessoa humana e dos direitos humanos e fundamentais que lhe são inerentes. Com isso, pretende-se também render homenagem às novas concepções que alimentam as relações sociais contempo râneas e que desafiam uma nova postura ética, notadamente no que diz com o necessário reconhecimento de um valor , KANT, lmmanuel. Crítica da raz�o pura e outros textos filosóficos. São Paulo: Abril Cultural. 1974, p. 229. I CAALOS AJ.8ERTO MOLINARO. FERNANDA LUIZA FONIOURA DE MEDEIROS, 18 INGO WOLFGANG SARLET, TIAGO FENSTERSEIFER (ORGANIZADORES) intrínseco (e não meramente instrumental) inerente às existências animais não-humanas. Como decorrência do reconhecimento da dignidade de tais vidas não humanas, sob o marco-jurídico constitu cional da proteção dos animais, projeta-se um conjunto de deveres fundamentais que vinculam o Estado e a sociedade, questionando-se, inclusive, a respeito da existência de autên ticos direitos atribuídos aos animais, ou pelo menos de interesses fundamentais juridicamente tuteláveis. Essas são, todavia, apenas algumas das indagações subjacentes às diversas contribuições que compõem a presente coletânea, cujo propósito maior é o de, inclusive mediante a tradução de alguns textos estrangeiros, lançar algumas questões para o debate e de algum modo contribuir para o seu desen volvimento, mesmo porque não é a certeza que nos move, mas a inquietude! A única certeza é a de que é preciso refletir e avançar e que está mais do que na hora de investir na construção de uma concepção multidimensional e inclusiva da dignidade. A seleção de trabalhos que ora se apresenta ao público integra textos de diversos autores já consagrados, inclu sive no que diz com o tratamento do tema específico, destacando-se desde logo a perspectiva interdisciplinar e a inserção de peças forenses que dizem respeito à discussão travada no âmbito da litigância em prol da proteção da dignidade da vida não-humana. Desenvolvendo uma abordagem de c unho ético filosófico, destacam-se os ensaios de Ricardo Timm de Souza ("Ética e animais - Reflexões desde o imperativo da alteri dade"), de Sônia I Felipe ("Liberdade e autonomia prática - Fundamentação ética da proteção constitucional dos animais"), de Martha Nussbaum ("(Para) Além de 'compaixão e humani dade': justiça para os animais não-humanos"), d e Anamaria A DIGNIDADE DA VIDA E OS DIRWOS FUNDAMENTAIS PARA AÚM DOS HUMANOS UMA OlSCUSSÃO NECESSÁRIA 1 19 Gonçalves dos Santos Feijó ("A dignidade e o animal não humano") e de Paula Brügger ("Vivissecção: fé cega, faca amolada?"). Já com o olhar voltado para o mundo jurídico, foram incorporadas as contribuições de Ingo Wolfgang Sarlet e Tiago Fensterseifer ("Algumas notas sobre a dimensão ecológica da dignidade da pessoa humana e sobre a dignidade da vida em geral"), de Paulo Vinicius Sporleder de Souza, João Alves Teixeira Neto e Juliana Cigerza ("Experimentação em animais e direito penal: comentários dogmáticos sobre o art. 32, § 1 º, da Lei nº 9.605/1998 e o bem jurídico 'dignidade animal"'), de Patrícia Azevedo Da Silveira ("AniMENOS: a condição dos animais no direito brasileiro"), de Fernanda Luiza Fontoura de Medeiros ("Direito dos animais: proteção ou legitimação do comércio da vida?"), de Cândido Alfredo Silva Leal Júnior ("Íntegra da decisão judicial que proibiu a caça amadora no Estado do Rio Grande do Sul"), deJayme Weingartner Neto ("Entre anjos e macacos, a prática humana· de sacrifício ritual de animais"), de Luciano Rocha Santana ("Por uma releitura ética da atuação do Ministério Público em prol dos animais: estudo de casos da 1 ª Promotoria de Justiça do Meio Ambiente de Salvador - Bahia"), de Carolina Medeiros Bahia ("O caso da Farra do Boi no Estado de Santa Catarina: colisão de direitos fundamentais"), de Laerte Fernando Levai ("O direito à escusa de consciência na expe rimentação animal"), de Cass Sunstein ("Os animais podem processar?"), assim como deJohannes Gaspar e Martin Geissen ("O art. 20 da Lei Fundamental da Alemanha e o novo objetivo estatal de proteção aos animais"). Além do nosso profundo agradecimento aos diversos autores pelo fato de terem prontamente aceito o convite e disponibilizado suas respectivas contribuições, cumpre agra decer aos tradutores dos artigos originalmente publicados I CARLOS ALBERTO MOUNARO. FERNANDA LUIZA FONTOURA DE MEDEIROS. 20 INGO WOlfGANG SARLET. TIAGO FENSTERSEIFER (ORGANIZADORES) em língua estrangeira. Assim, a tradução do artigo de Martha Nussbaum deve ser creditada a Marcelo Fensterseifer, com revisão de Ivar Alberto Martins Hartmann, ao passo que a tradução do artigo de Cass Sunstein é de autoria de Sérgio Osborne Moreira Alves. Com relação à tradução do artigo em alemão de J ohannes Caspar e Martin Geissen, a mesma foi realizada por Beatriz Bastide Horbach, tendo sido revista por Ingo Wolf gang Sarlet. Tanto no que diz com as traduçõesquanto no concer nente aos textos nacionais, não houve padronização das referências bibliográficas, que, portanto, mantêm o modelo adotado por cada autor. Da mesma forma, sempre convém destacar que cada autor é responsável pelo conteúdo do seu respectivo trabalho, de tal sorte que a inserção da contri buição na coletânea não corresponde necessariamente ao pensamento dos organizadores. Há que ser consignado, ainda, que muitas das discussões que levaram à concepção da presente obra (inclusive o debate sobre os textos estrangeiros) ocorreram no âmbito do NEDF - Núcleo de Estudos de Direitos Fundamentais (CNPq), coordenado por Ingo Wolfgang Sarlet e vinculado ao mes trado e doutorado em Direito da PUC/RS, integrado também pelos demais organizadores. Por derradeiro, resta agradecer à Editora Fórum, na pessoa de seu Presidente e Editor, Luís Cláudio Rodrigues Ferreira, bem como ao coordenador da coleção, Prof. Dr. André Ramos Tavares, por terem acolhido a presente publicação na coleção que tem como tema os direitos fundamentais. Porto Alegre, fevereiro de 2008 Ética e animais - Reflexões desde o imperativo da alteridade Ricardo Timm de Souza Filósofo e ensaísta. Doutor em filosofia pela Universidade de Frtiburg, Alemanha. Autor de 16 livros e cerca de 90 mtigos, capítulos de livros e outras publicações organizadas. Atual111tnte Professor da PUCRS, nos Programas de Pós-Graduação tm Filosofia, Ciências Criminais e Medicina e Ciências da Saúde. Sumário: ! Introdução - li Da diferença à objetificação - a) No princípio era a diferença - b) O primeiro passo do processo de objetificação/superação da diferença: sobre Ser e Não-ser - c) O segundo passo na superação da diferença: a espacialização da temporalidade - d) O terceiro passo na superação da diferença: a objetificação intelectual-neutralizante do real Ili Da neutralização da diferença à dignidade da alteridade - a) Pó e cinzas - b) Crises, arqueologias e novas descobertas: finitude e temporalidade - e) A reafirmação da dignidade da Alteridade - IV A Alteridade dos animais - Referências Die Philosophie ist eigenJlich daz.u da, das ei111.uliisen, was im Bliclr. eines Tieres liegt (ADORNO, Theodo1: ApudJÃGER, Lorenz.Adomo - Eine poütische biographie, p. 11) 1 ' Optamos pela seguinte tradução: "A filosofia existe propriamente par• f� ,ustiçi iO que se dá no olhar de um animal". Wk mum“ u ._'.\ uwvoi R-\ m Minimos _, . A} >\ ital-pm mi ,JfiuALQi‘MRLS' I Introduga'o Afiusc de Adorno cm cpigi‘ale‘ miduz S.‘llllllllilllt‘alllCllte uma dimensiio dc clurilimga‘o dos ierinos em que a leinntica da irlaga’o emit? a éllCil c 05 llllllllillS sc‘ coloca a purlir (1e para‘nietms da élica da alteridade e uma oulra dimensa’o, poderiznnos Chaim-la abixsul. demincizukmi (la complexi- dade d1. questa‘o que pit‘tendemos abm‘dar apenus intro- duloriamente no pnesente texto.~" A primeira questa‘o que se coloca parece ser [ambém uma das principals: alinalnquem é o auuLal‘? Esta questa’o parece impro’pria em muitosw sentidos, pois nos acostu- 111amos.aolongo dos séculos, a rois'lfi'hzr o que estabelecemos como comlato de nosso intelecto todo—poderoso; a pergunta poderia soar. no ma’xiino, como “o que é um animal". E, na'o obstante, pretendemos argumentar neste texto em favor de uma radical reordenaga'o axiolo’gica, que estabelega os animais como Iambe'm deposita’rios de uma estrutura correla- cional de all/eridade irredutivel a‘ simples simetrizaga’o d0 logos classificador. Para tamo, recorremos aqui a uma leitura de estilo aiqueolo'gico, focando. exatamenle, a estruturaga'o do pensa- memo classificante lo’gico/ordenador pela anulaga‘o da 1 As bases argumentanvas geiais do presente texto, que na'o sera‘o aqui referidas em detalhe para NW 0 excesso de Citagoes‘, encontram-se especialmente em nossos Iivr05 Total/Glade & desagregagao" Sable as fronteuas do pensamento e suas alternativas; O tempo 6 a méquma do tempo: estudos de filosofia e po‘s-modernidade; Existéncia em decisa'o: uma Introdugao' ao pensamemo de Franz Rosenzweig; Sujeito, ét/ca e histo'ria: Levmas, O traumatlsmo Inflnlto e 3 (mice da filosofia ocidental; Sent/do e alten‘dade: dez ensaios 50be o lpensamento de Emmanuel Levinas; Razo'es plurals: itinera’rios da racionalidade “109 "0 SECUIO XX: Em tame a dlferenga: aventuras da alteridade na complexudade da[culture contemAporanea e, espeaalmente, em Erica coma fundamento: uma introduga'o 3‘ Veflca contemporanea, bem corno nos amgos e capitulos ‘J‘ustlga, liberdade e alteridadeEnveumca sobreba quiesta'o da radicahdade da justiga desde o pensamento de E. Levinas", Dletas, d, Referéncnas, ao fim do texto, A DIGNIDADE DA WM! 05 DIREHOS mNDAMEmAis PAM MM 005 «um um DISCussAo Mittsm l 23 diferenga real. Embora tenhamos ja’ abordado este tema em muilas oportunidades e publicado textos que representam esta’gios de aperle'igoamento paulatino de nosso algumento, cabc aqui i‘etonla—lo, e por uma raza’o muito simples: a espe- cilicidade (la temzitica que aqui nos ocupa, 05 animals. Pois, sc- 6 vei‘dade que um tal argumento pode assumir aguda pertinéncia no que sc rcle're a" especilicidade do ser humano — e muitas obras tém sido escritas, ncste recéni-findo século XX, a abalizar uma tal constataga'o“ -—, bem como se é verdade que, mutalis mutandix, a articulaga‘o geral das idéias encontl‘a eco claro no que diz respeito a‘ realidade estética’ e as realidades ambientais" em sentido mais amplo, na‘o menos verdade é que 0 exposto se aplica de forma cabal aos animais, por motivos que esperamos esclarecer a0 longo do texto e, especialmente, nas concluso'es. II Da diferenga a‘ objetificaga‘o Como ja’ enunciamos, a presente sega’o se inscreve em uma linha de trabalhos ja’ antiga. Seus temas essenciais ja” esta'o presentes em nosso artigo “Da neutralizaga‘o da dife- renga a‘ dignidade da Alteridade: estago’es de uma histo’ria 3 Apenas como refere”ncia inicial e com o intulto de permanecermos em nosso a‘mbno especifico de abordagem "anlropolo’glca" da questa‘o, velam-se entre oulros nossos Fontes do humanismo Iatino: a condiga‘o humana no pensamento flloso'fico moderno e contempora’neo, "Trés teses sobre a violéncla", "Das neue Denken und die Ermogluchung des Friedens - Franz Rosenzweig und Emmanuel Levmas 1m Zentrum der Evalgnisse des 20‘ Jahrhunderts", "Humanismo e altendade: a filosofia frente a radicalldade do desafio humano", "A dignidade da pessoa humana; uma visa'o contempora"nea". “No‘s e as outros: sobre a questa‘o do humanismo, hoje", bem come 0 cla’ssmo de Levmas. Humanismo do outro homem. ‘ No semido da nota acnma, cf. nosso Metamorfose e extmga‘o: sabre Kafka e a patologla do tempo. 5 Cf. nossos Em torno a diferenga: aventuras da allendade na complexidade da cultma contempora‘nea; "E’tica e amblente: por uma nova étlca ambienlal", bem come as coleténeas Cie'ncra 9 Erica: os glandes desahos e Fenomenalogia hole m. bnoética. bimecnologia, blopolitlca. 24 1 CMLOS ALBERTO MOLINARO, fERNANOA lUIZA FONTOURA OE MEOEIROS, INGO WOlfGANG SARlET, TIAGO fENSTERSEIFER (ORGANIZADORES) multicentenária", apresentado originalmente no Colóquio sobre o Pensamento Judaico Contemporâneo, USP/U niver sidade Hebraica de Jerusalém, São Paulo, agosto de 1999, e publicado originalmente em Sentido e alteridade: dez ensaios sobre o pensamento de Emmanuel Levinas, sendo posterior mente revisto, desenvolvido e reapresentado sob diversos formatos em eventos igualmente muito diversos nas áreas da filosofia, da literatura e do direito; sua última retomada, sob enfoque bastante diverso do original, se encontra em nosso artigo recentemente publicado "'Pensiero debole", diferença e alteridade: uma releitura". 6 Tal obstinação de recorrência se justifica pelo simples fato de que tais temas essenciais se constituem, a rigor, na medula do que preten demos seja a nossa produção propriamente dita na área da filosofia, e por isso a esses temas sempre retornamos. a) No princípio era a diferença Não nos parece difícilconstatar um fato histórico filosófico de grande significação: o índice de incisividade e perenidade crítica de uma escola filosófica pode ser aqui latado, em boa medida, pela seriedade com que tal escola trata do tema da "diferença", aqui entendida inicialmente em sentido lato. Autores e escolas que trataram deste a ssunto como se fosse um conceito operativo entre outros, redutível a uma lógica privada ou a um conjunto de procedimentos intelectuais, tendem a ser esquecidos rapidamente quando do advento de modelos mais vigorosos de reflexão filosófica; autores e escolas que abordaram tal temática com extrema • 1n: Alceu - Revista de Comunicação, Cultura e Polftica. Rio de Janeiro, v. 7, p. 254-273. A DIGNIDADE DA VIDA E OS DIREITOS fUNDAMENlAJS PARA AÚM DOS HUMANOS UMA DISCUSSÃO NECES5ÁIUA 1 2 5 seriedade e cuidado (ou melhor, que fizeram de tal temática, de certo modo, o motor de suas construções intelectuais) como é o caso paradigmático do pensamento kantiano ou da filosofia sistemática hegeliana - perduram muito além de sua mera circunscrição histórica, renascendo sempre pela força do real a que se vertem. Por outro lado, haverá, na filosofia mais recente, uma palavra tão maltratada como "diferença"? Sua redescoberta como ponto de torção racional explícito levou, em muitos momentos, a uma verdadeira folclorização deste conceito. Seu poder filosoficamente crítico, levado a patamares inusi tados justamente por Hegel, 7 viu-se em muitos momentos do século XX - e não por culpa de seus detratores, mas primariamente de seus admiradores - reduzido a níveis de inofensividade inéditos, dolorosamente contrastantes com o que acontecia em outros campos da cultura. 8 Todavia, a marca heideggeriana insuflou-se indelevelmente nos autores de estilo mais fenomenológico de escrita. A percepção posterior de que a différance derridiana inaugura uma nova chave interpretativa para o tema que corre pari passu com os temas da exterioridade e da alteridade em Levinas, esta percepção não é absolutamente de domínio comum. O resultado é conhecido: "diferença", termo mal-compreen dido e maltratado, estandarte proclamado de um ou de muitos estilos filosóficos, não diz mais aos contemporâneos aquilo que parecia sugerir originalmente, antes de sua procla mação. A maldição do banal o atingiu. 7 Cf. nosso Sentidos do infinito: a categoria "infinito" nas origens da rac10nalidade ocidental. dos pré-socráticos a Hegel, p. 87 -114. 8 Para um estudo mais detalhado deste tema, d. nosso já citado ·o século XX e ;i desag� da totalidade". bem como nossa "Introdução" a SOUZA. Fontes do humanismo latino: a condição humana no pensamento filosófico moderno e contempor1neo. 26 1 CARLOI ALBERTO MOUNARO. FERNANDA LUIZA fONTOURA OE MEDEIROS, INGO WOLfGANG IARLET. TIAGO fENSTERSElfER (ORGANIZADORES) Mas, não obstante, o pensamento ocidental se esuutura, desde os seus primórdios, exatamente em torno à questão da diferença. É em torno a este núcleo referencial que os grandes problemas clássicos da filosofia, ou seja, o que conhecemos normalmente como raiz do pensamento oci dental logocentrado (o termo não tem aqui, absolutamente, conotação depreciativa, apenas constatativa) se articulam e amadurecem enquanto, exatamente, problemas fundamentais: particular versus universal, necessário versus contingente, finito versus infinito, sensível versus racional, alma versus corpo, chaos versus koS?nos -as dualidades opostas são infindas e remetem, em última análise, sempre ao mesmo problema anterior que as gera: à questão da não-unidade - da diferença - da realidade com relação a si mesma. Houvesse tudo em tudo, e o resultado seria a onisciência e a dispensabilidade do pensar; mas é porque há desvãos, desencontros e desencaixes na estrutura do real (seja esta qual for, porque a concepção de realidade se articula justamente em tomo a estes desencontros, desvãos e desencaixes), que o pensamento se gera, e se gera como urgência, mgência de índole cognoscente classificatória, e isso já desde sua mais remota origem, referida ao "desencontro" pré-original entre ser e pensar. Contraria mente ao senso comum filosófico, cumpre-nos ressaltar aqui com todas as letras: no início, não é o verbo Ser - muito menos a unidade-, mas os desencontros que o verbo Ser tenta de algum modo identificar, retraindo ao presente de (seu indicativo verbal: o verdadeiro Leitmotiv do logos. Se "isso" fosse desde sempre apenas "isso" - {X = X}, uma afirmatividade absoluta, auto-identificante e finalmente tautológica-, não teríamos provavelmente filosofia alguma, pois a tautologia perfeita desaparece em si mesma e para si mesma inclusive enquanto problema, entendendo-se como A DIGNIDADE DA VIDA E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS PARA ALÉM DOS HUMANOS: UMA DISCUSSÃO NECESSÁRIA 1 2] identidade original e originante;9 mas é porque "isso" é também "aquilo", ou não é somente "isso", ou deve ser "aquilo", ou pode ser compreendido de outra forma, ou se constitui em instância de uma síntese maior - {X não é Y} - que o pensamento cognoscente se põe em marcha em seu processo essencialmente identificante - de forma que, ao fim e ao cabo, "isso" "se encontra", ainda que na órbita fechada de uma racionalidade particular, consigo mesmo. Uma série de funções do processo de identificação, do processo cognoscitivo, se une nesta tarefa: a localização, a comparação, a nominalização, a determinação, enfim. Quando, ao final de minhas análises, promulgo que "o pinheiro é um vegetal", isso significa a culminância de um longo e árduo itinerário. Tive de "perceber" a realidade; destacar dali algo especial a ser "classificado"; destacar deste "algo" o seu "conceito" (ou mesmo "construí-lo"); tive de comparar esse "conceito" com semelhantes e dessemelhantes; "atribuir" a esse conceito um "nome"; e, finalmente, propor a identificação entre esse nome e o alvo de minhas atenções. Mas, a rigor, o processo é o desdobramento de uma fórmula mais simples. Inicia com um "o que é isso?" {X=?}; desdobra se em "isso pertence à classe lógica dos vegetais" {X=Y} e desemboca na nominalização onde se pretende que a essência ou o essencial do pinheiro seja dado, coincida com seu nome: 9 Não entraremos aqui na discussão de um outro complicador desta questão: uma vez afirmada a unidade absoluta na origem e que se desdobra logicamente em uma equação, toda diversidade lhe é posterior e subalterna e, portanto, rigorosamente dispensável, a não ser como combustível mental e real da tautologia. Estamos aqui não às voltas com uma lógica mais ou menos sofisticada de identificações e desidentificações, mas em face de uma sutil expressão de violência, bem traduzida por Derrida, a partir da identificação (x=y), como um processo de equalização e subordinação violenta de x a y. Neste sentido, não existe lógica, por mais formal que apareça, que não seja essencialmente onto-lógica, ou seja, expressão de afirmação do ser sobre o não-ser. Esta é a falácia de muitos modelos lógicos aparentemente vazios de conteúdo. � • • :· j '' � ., • - ' � .... I CARLOS ALBERTO MOUNARO, FERNANDA LUIZA FONTOURA DE MEDEIROS, 28 INGO WOLIGANG SARLET. TIAGO FENSTERSEIFER (ORGANIZADORES) "isso é um pinheiro", ou seja, "isso, que é identificado como sendo um pinheiro, é um pinheiro" {X= X}. O que aqui realmente nos interessa - o que esteve por trás e realmente sustenta todo esse procedimento - é um processo ulentificante. E esse processo identificante consiste justamente na tentativa de retirar da diferença seu caráter, exatamente, de" diferente" enquanto tal, transmutando-a em diferença lógica, ou seja, em uma espécie de combustível da máquina identificante do pensamento. E é interessante notar que tal dado é comum a todas as grandes lógicas ocidentais clássicas, sejam de índole formal, sejam de teor dialético. No primeiro campo, temos a articulação da variedade do mundo em torno a uma ref e rência significante que lhe dá sentido: o verbo Ser,a presença do real em tomo às definições da possibilidade de o real ser, exatamente, real. No segundo caso, a diferença - a negação - assume uma posição mais consistente, é levada pretensa mente "mais a sério"; mas, pela sua própria dinâmica, a dialética não cessa, seguindo adiante na direção de uma AufhelJung ou sín-tese que, contendo embora a diferença, não a trata como tal, mas como momento dialético a ser ultrapas sado no momento seguinte que é, de uma ou outra forma, re-identificante. Não podemos deixar aqui de apontar que a Dialética Negativa é uma tentativa extrema e refinadíssima de deter esta compulsão à identidade, este delírio totalizante, que afeta o cerne do movimento que leva a diferença ontolo gicamente a sério; 10 sua grandeza consiste em permanecer ela mesma exatamente pela negação factual de sua estrutura lógica, se quisermos levar a sério o esforço adorniano. 11 'º CI. SOUz_A. Estética e restos da história. ln: SOUZA. Totalidade & desagregaçtJo: sobre as fronteiras do pensamento e suas alternativas. op. cit., p. 40-46. II Cf. SOUZA. Razões plurais; itinerários da racionalidade ética no século XX - Adorno, Bergson, Derrida, Levinas, Rosenzvveig, p. 93-126. A OIGNIDAOE DA VIDA E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS PAAA AÚM DOS HUMANOS UMA DISCUSSÃO NECESSÁJ!IA 1 29 Assim, podemos propor tranqüilamente que a diferença é a questão propriamente dita do pensar; é sua condição, como é o impedimento de sua completação, pelo fato de ser, desde sempre, o seu Outro. A questão da diferença é a provocação a um processo de compreensão do "todo", ao mesmo tempo em que bloqueia, por sua recorrência incômoda e indecli nável, qualquer invectiva de universalização totalizante. É por isso que o pensamento - e a filosofia, enquanto deter minada forma de organização do pensamento - tem de se ver continuamente confrontado com o problema das origens, dos fundamentos, dos pressupostos, antes de se preocupar com as conseqüências e com os sistemas, mesmo satendo que nunca chegará totalmente às origens, aos fundamentos e aos pressupostos. É por isso, também, que o pensar é uma tarefa infinita, uma arqueologia interminável, e tem de necessariamente reiniciar a cada momento: tal é explícito no filosofar ocidental, quando se percebe, por exemplo, que para além de suas diferenças de encaminhamento da questão, Parmênides e Heráclito, Platão e Aristóteles e tantos outros exemplos de aparentes opostos intelectuais pensavam, no fundo, o mesmo problema, que não era, a rigo1� senão o problema do mesmo, ou seja, o problema do Ser: a solução da questão da diferença, como veremos adiante de forma mais detalhada. Para além de qualquer fabulação ou imaginação, antes de toda síntese e organização mental, dá-se a diferença: este fato é tão real aqui e agora, nesse exato momento, como o foi para o primeiro pensador que percebeu sua não-coincidência com o que não era ele, e entendeu, segundo sua cosmovisão particular, a necessi dade de superar tal não-coincidência corno condição ou realização do processo compreensivo do real enquanto tal. Superar a diferença é o ato fundante que se concebe, muito RNANDA LUIZA FONT OURA OE MEDEIROS, I c;AAlOS ALBERTO MOU NARiÂ6� FENSTERSEIFER (ORGANIZAD ORES) 30 1Nc;O \\'OLIGANG \ ARLET. no movente do grande projeto dot ramente, co1 prema u ente como a base da possibilidade de seensamento cognosc , . . . . P , . ndição de intehgibihdade do real. ensar a propna co p · · portanto historicamente, o processo deI01oa-se, ' . - api·opriativa" da diferença, ou seJa, de sua"compreensao . _ · - ma ordem maior de sentidos que compoe asmtegraçao a u diversas formas de avançar do pensame nto que pretende conhecer. Tal não se dá por uma escolha con sciente de algum gênio isolado, mas por um an�anjo pré-origi nal d? que se considera implicitamente condição de todo conheci mento: identificar o conhecido consigo mesmo, chegar ao real desde dentro dele mesmo . Constituir-se-á originalmente o corpo hegemônico da filosofia ocidental, em suas grandes linhas, por este viés? Provavelmente. As questões originais que a tradição nos lega, ainda que fragmentariamente, bem o sugerem; as partículas de poemas cosmológicos, as obscuridades e clarezas dos antigos assumem essa tonalidade inquieta. Logo se propõem um antes e um além do visível; à sua procura se �edi�am as mentes mais agudas. Caminha-se por sobre a mqmetude do dado da diferença; mas esta inquietude é a base que segundo A • • • , . ' a convergencia das energias umficantes, e preC1so superar- , , . • . • e necessano chegar à sabedoria, superaras aparenc1as ab d . ' or ar solidamente o existente afrontar evencer a mseguran - . . , . da mulu· 1 .. d ça das nao-comcidências, do umversop ICI ade. Alguns passos sã , . , . Para os fin d o, porem, previamente necessanos.s esta refl -dualidade or· . 1 exao, basta-nos destacar três: a 1. igma ser/não- " . . - ra idade e a ob· ifi ser, a espaciahzaçao" da tempo-, �et icação .que e alvo da. . mtelectual-neutralizante do dad o s energia fil apresenta corn s 1 osóficas ou se1a do que seo real ao · ' J ' intelecto cognoscente. A DIGNIDADE DA VIDA E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS PAM AL' 1 ,M DOS HUMANOS. UMA DISCUSSÃO NECESSÁRIA 31 b) O primeiro passo do processo de objetificação/ superação da diferença: sobre Ser e Não-ser Aconseqüência da percepção de uma "situação original", na qu�l se ancora a possibilidade de o ser humano perceber a realidade com sentido, é que nada se pode perceber de "humano" que não esteja afetado por este "estar situado". Tal é válido também para as comunidades humanas grandes e pequenas, articuladas em coletividade de sentido, e que são, em realidade, pluralidade de mundos em íntima inter penetração. Compartilhamos assim a tese de que, antes que um povo ou conjunto de povos pense em expressar suas vivências originais em termos poéticos, literários ou filo sóficos, estas não somente já existem desde há muito, como assentam sobre bases de difícil -ou, praticamente, impos sível- intelecção por parte deles mesmos e para os pósteros. Ninguém - e aqui se inclui a totalidade das culturas - atinge a plenitude de seus pressupostos, ninguém capta o estertor original que dá origem à vida ou a inspiração prévia a toda expiração. Estes pressupostos são mais antigos que sua expressão, mais fundamentais que qualquer materiali zação ulterior, realidade prévia a toda realidade posterior, base possível de todo pensamento. Qual seria, então, a cosmovisão geral ou pos1çao originária que se expressa e se desdobra pela árdua via do logos ocidental? Trata-se de uma determinada instalação original no mundo, de uma determinada concepçã-0 de realitkule prévia a todas as outras, e que as outras, suas herdeiras, hão de tentar compreender e criticar. Esta realidade toma forma, por vez primeira, na articulação de uma determinada linguagem como expressão de racionalidade. . Esta posição originária se trad�z pela m�ençao de penetração unívoca, racional, na realidade. A ling uagem 32 1 CARLOS AlBERTO MOllNARO. FERNANDA LUIZA FONIOURA OE MEDEIROS, 1NGO WOLIGANG IARUT, TIAGO FENITERIEIFER (ORGANIZADORES) grega, bela tradução desta origem no passado e inspiradora de inúmeras linguagens futuras, tem no verbo Ser sua essência mais profunda, o essencial de sua autocompreensão. No verbo Ser cruzam-se todos os sentidos e suas possibili dades, estabelece-se de forma definitiva a forma equacional já examinada {X = Y}, isto é aquilo, o cavalo é um animal, o homem é um animal racional e político. Antes de ser racional ou político, o homem é alguma coisa, e antes de ser alguma coisa "específica", tem de já "ser" alguma coisa prévia à própria especificação, por habitar desde sempre o verb o "ser" - nisto coincidem os mais antigos metafísicos com os mais recentes filósofos da Fundamentalontologie. É na igualdade, na equalização do diferente, no processo dinâmico desta equalização de uma vez para sempre, que repousaa segurança do logos. É ali que o logos encontra sua origem, como Ulisses, metáfora logocêntrica por excelência, reencontrou sua pátria. Este é o parentesco original de todo realismo com todo o idealismo: um não pode conceber-se, em última análise, sem o outro. A intimidade mais pro funda da lógica grega, determinativa, tem seu peso, seu sentido mais próprio, na conexão dos particulares: tudo é importante na equação, mas ainda mais importante é a marca, o sinal de equalização traduzidos pelo verbo Ser, pois ali repousa, em última análise, o peso da realidade para o logos. A lógica grega é enunciativa, vive de seus enunciados, pais de toda concepção de ciência até algumas reviravoltas contemporâneas ainda não bem compreendidas nem assimiladas pela ortodoxia bem-pensante. Sua preocupação pela precisão é a preocupação por sua vocação maior. A , linguagem grega enunciativa pressupõe assim, a be�_ate mesmo de sua autocompreensão, uma espécie de solulão ou solip · · · z sismo origina , a pretensão intelectual a uma A DIGNIDADE DA VIDA E 01 DIREITOS FUNDAMENTAIS PARA ALtM DOS HUMANOS UMA DISCUSSÃO NECESSÁRIA 1 3 3 unívocidade perfeita de sentido, atualizada ou em potência. A razão, como expressará a mentalidade moderna, tem de ser urna só; pois o contrário seria compatível com a multipli cidade de sentidos, e o sentido está dado, de uma vez para sempre, na expressão da igualdade "equacional", no verbo Ser. Algo é, ou não é: tertium non datur- eis a regra original, da qual dependem todas as outras da lógica de origem grega, inclusive, como já sugerimos, a lógica dialética. O enunciado da razão como razão é a equação do verbo ser: a igualdade redentora afasta da razão o perigo do diferente dela, ou seja, do tempo e da multiplicidade real. Eis, portanto, um primeiro passo fundamental e grandioso no processo de domesticação da diferença: sua subordinação a uma determinada lógica e linguagem que, ao se propor como única possibilidade (ou como "verda deira" possibilidade, o que, na órbita de sentido de uma verdade solitária, vêm a ser categorias mutuamente conver síveis) de abordagem do real, transborda ontologicamente de si mesma e determina também o não-ser, ou seja, o irreal. É nisto que, como já sugerimos, Parmên·ides e Heráclito, quase sempre apresentados como "adversários", concordam definitivamente, e concordam ainda antes que esta inspi ração original possa se conformar em qualquer tipo de organização lógica. E é nisto também que concordarão a imensa maioria dos múltiplos pares digladiantes da história da filosofia greco-ocidental, tais como resgatados pelo senso comum histórico-filosófico. e) O segundo passo na superação da diferença: a espacialização da temporalidade Porém, de nada adiantariam tais esforços lógicos se, no âmbito de um universo mental, a temporalidade fERNANDA LUIZA fONTOURA DE M EDEIROS, I CAALOI ALB(RTO MOU NAAO,GO fENITERSElfER (ORGANIZADORES) 3 4 INGO WOU-GANG SARLH TIA . tinuasse a ocorrer pelas bordas dos sistemassimplesmente con . · . · sofisticados que estes seJam. E a tempora-lógicos, po1 mais . . d Sa-0 da diferença dá-se ongmalmente comolida e, expres ' . fundamento de toda inquietação filosófica, amda que sob nomes os mais diversos: finitude, contingência, acidente, mundo empírico, etc. - e, até mesmo, exatamente, diferença, como em Rosenzweig. Há, portanto, com relação à tempo ralidade, de neutralizá-la; caso contrário, cada categoria lógica teria de ser reinventada a cada passo, para repor na ordem plenamente inteligível da realidade do ser aquilo que o tempo acaba de corroer. A unívocidade do conceito estaria perdida, e cada generalização, indução ou dedução estaria condenada a priori ao fracasso. Esta neutralização, porém, não pode padecer de ingenuidade, pois o poder desagregador da temporalidade real é imenso . .P-ara tratar desta questão são, portanto, mobi lizadas grandiosas potências racionais; e uma das primeiras s�l���es, e das mais clássicas, procura equiparar a nãoV1S1b1l'.dade do tempo à visibilidade do espaço, "logicizando"espacialmente a primeira: quando se pensa em termos dese c · · onstituir o tempo na medida do movimento, pensa-seexatamente em subordinar o que não se dá no espaçoenquanto cate · , · gona aquilo que se dá neste espaço; e,portanto avança d 'd 'd d , ' -se en 1 amente no controle do impon·eravel desagrega t . n e, ma111etando-o à controlabilidade deuma rede de conce· de mais d d . . 1�0s_. E pode-se perceber que, ao longo e o1s m1Ien d uma das qu t - . ios e pensamento filosófico, esta ees oes mais re d metade do , 1 correntes, pelo menos até a segun a. secu o XIX· intemporalid d . como transformar o tempo em. a e, para neut 1· , s1vos das cert ra 1za-lo em seus efeitos corro-. ezas conceptu . ;i , . , . do estilo cont , ais . Esta e a demarcação do mIClOemporaneo d fil e I osofar: quando a percepçao A DIGNIDADE DA VIDA E 01 DIREITOS fUNDAMENTAJI PARA ALÉM 001 HUMANOS. UMA DISCUSSÃO NECESSÁRIA 1 3 5 de que a temporalidade "existe" é inelutável na raiz do próprio pensar, e a questão acima se dilui no imponderável e na inquietude da contemporaneidade, esta crise na qual ainda vivemos.12 Assim, em termos práticos, o tempo que penetra até mesmo a equação do verbo Ser é congelado no verbo Ser. A rigor, não existem propriamente o passado e o futuro, exceto como antevisão e celebração da conquista do Ser. No presente do "é", o passado e o futuro deixam de assustar: encontraram-se a si mesmos, neutralizando-se mutuamente. Não necessitam colocar-se como alternativas p rospectivas ou retrospectivas de realidade, pois a realidade está já resolvida na fixação de alguma espécie de presente eterno ao qual o logos, a iluminação, tem acesso completo. Na construção pré-socrática, na platônica com suas "idealidades realistas" ou na aristotélica com seu "empirismo" que deriva em metafísica, e em todas as suas derivações, inclusive nos processos modernos de subjetivação propedêutica ou.ra dical (inclusive em sua inversão em "objetivação" radICal �o idealismo absoluto) - em cada instância, a preocupaçao "determinativa" é, em análise derradeira, a mesma.13 Mas O que "determina" praticamente e�ta linguage� ao mundo que a utiliza? Desde a perspectlva dafixaç�o do correr do tempo no espaço próprio do presente, sao t, ·s ao menos duas grandes características, que sepercep 1ve1 . _ . . _ . t 1 também como dnnensoes de mterp1etaçao. apresen an - . sobre as fronteiras do pensamento e suas 12 Cf. SOUZA. Totalidade & desagregaçao. alternativas, p. 15-29. . . . . ria "infinito" nas origens da racionalid ade " Cf SOUZA. Sentidos do ,nf,n1to. a cat ego ocidental, dos pré-socráticos a Hegel. I CARLOS AlBERTO MOUNARO. fERNANDA lUIZA FONTOURA DE MEDEIROS, 36 iNGOWOOGANG SARlET. TIAGO fENSTERSElfER (ORGANIZADORES) a) Em primeiro luga1� uma espécie de explícita dualida.de definidora estabelecida na antropologia, já antes sugerida em termos categoriais, que não se opõe, mas antes remete, no fundo, a um monismo radical implícito: o monismo do Ser. A realidade está cindida em dois níveis de difícil aproximação: o empírico, a doxa, o corrnptível, o impuro, o plural, o temporal, e a dimensão da felicidade ideal, a episteme, racional, metaempírica, incorruptível, transcendental, "para além das aparências", pura, singula1� atemporal. Mas esta cisão também pertence ao mundo das aparências,já que, em verdade, somente a realidade atemporal é, conforme vimos, legitimamente real para esta concepção de realidade. A vita activa, com seus percalços e inconstâncias, não participa da realidade plena da contemplação atemporal das essências. O Bem residiria na atemporalidade da Totalidade de sentido do verbo Ser, "presente eterno", totalidade esta que se encontrou consigo mesma: eis o mote de fundo, "inconsciente", a anterioridade da deter minação de realidade do mundo. b) Em segundo lugai� e como conseqüência da concepção de atemporalidade atribuída à realidade plena, percebe-sea radical anti-historicidade que habita esta concepção de verdadeira realidade. A história do desdobramento do logos, apesar das aparências ern contrário, é uma anti-história - uma espécie de história "endógena"-, porque é afinal de contas um encontro consigo mesmo. Mais uma vez, Ulisses nos esclarece isso. Sua aventura tem como ultima ratio a finalidade do retomo à sua pátria, a si mesrn°· A mutabilidade que caracteriza a história aberta - O tempo como condição de efetivação da realidade, A DIGNIDADE DA VIDA E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS PARA ALÉM 001 HUMANOS UMA DISCUISÁO NEaSIÁAJA 1 3 7 a possibilidade do novo - é, na verdade, um desembocadouro do incontrolável, e, portanto, um escândalo para qualquer constelação bem-arranjada de conceitos. É neste sentido que a temporalidade é a expressão última e mais aguda da negatividade enquanto tal, e dela não se pode prescindir em qualquer crítica à Totalidade ontológica. A anti-historicidade se expressa especialmente na redução do imprevisível à inofensibilidade. A cosmovisão original anti-histórica tenderá mais tarde, em seus desdo bramentos modernos, a subsumir o particular, o propriamente concreto da história, no universal e abstrato do Espírito e da Totalidade - tarefa empreendida por Hegel com tanto brilhantismo, e que dará a Benjamin, na intuição do movi mento contrário, oportunidade para tanto trabalho. 14 d) O terceiro passo na superação da diferença: a objetificação intelectual-neutralizante do real Ainda um terceiro elemento é fundamental no processo de inofensibilização da diferença: trata-se da neutralização do real através do crivo neutralizante do objetivismo inte lectual, ao qual chamamos, neste contexto, de "objetificação". E não falamos, aqui, de um "objetivismo" que meramente se oponha a um "subjetivismo", ou de algum tipo de positi vismo ingênuo, mas de algo mais profundo, que remete às origens do fluxo identificante que tem como resultado a articulação lógica intemporal da realidade à qual já fizemos referência. E esta é a dimensão que, em nossa discussão relacionando o tema da ética com o dos animais, assume uma importância singular. ,. Cf. BENJAMIN. Teses sobre o conceito de história. ln: BENJAMIN. Obras escolhidas. FERNANDA LUIZA fONTOURA OE MEDEIROS, 38 1 (ARIOS ALBERTO MOU���GD f!NSITRSEIFER (ORGANIZADORES) ING O WOtJGANG SARL , Em p oucas palavras, o que aqui chamamos de"objetificação" se constitui, exatamente, . �o co_ajunto dosprocessos maiores, chanceladores da leg1t1maçao dos processos parciais aos quais denominamos anteriormente"autopostulação da identidade" e "espacialização da temporalidade". Ou seja: a objetificação é a forma de emprestarlegitimidade às lógicas da postulação absoluta do serenquanto realidade e da temporalidade enquanto não maisque "pré-realidade", lógicas estas que, como vimos, têmcomo impulso inicial e objetivo final despojar a diferençade seu� elementos desagregantes originais: inofensibilizara altendade. As variadas formas de como tal processo setem dado ao longo da história do pensamento desembocamtodas neste mesmo d d d . esagua ouro a pretensa naturalidade,que faz com que em d , . • ca a epoca, se tenha categonas-chavespara entender e 1 · t' d d "d d'c . eg, 1mar ca a passo deste grande processoe es- 1terennaç · " ao , categonas estas tratadas geralmentecomo sagradas ou i t , . quadro 1 1 n ocave,s. E apenas quando u m grandecu tura entra em . em dúvida· . . cnse que esta sacralidade é posta, e, tmed1atament . 1 · • . . - d wande irnpul e, a mte 1genc1a guard ia oso neutraJi 1 . no campo d . • . zante ocahza uma substituta à altura,. as c1enc1as d intelectuais O ou os grandes sistemas políticos eve , . grande horror d . • . . 1 , r as voltas co a consc1enc1a oCidenta e sem ª realidad que a própria cu] e sem as chaves compreensivastura re · , exemplo, com a cat . ena constantemente. E assim, porment · egona de "'nfi · ,, O trazia em b . 1 mtto ; enquanto tal pensa-troláv I seu ºJo um d . . . e , se lhe tinh po er de mqu1etação mcon-geraJ a repug • . " , Pensavain d d nanCia - os gregos de modocosino" es e O ' u"' . 'enquanto O i)' . Ponto de vista da ordem, do"'ª tnstâ · imitado , · ncia de esc' d . ' 0 apezron, permanecia como� an alo, t I . (f nos"'-;---.....___ n e ectual. 15 Foi apenas bemnosso Sent,d OC1den1ai d os do inr; , os Pré- lnflo: a SOcráticos categoria "i fi . .. . ª Hegel. n mito nas origens da racionalidade A DIGNIDADE DA VIDA E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS PARA ALÉM DOS HUMANOS UMA Dt5CUSSÃO NECESSÁRIA 1 3 9 mais tarde, nos inícios da modernidade, que se pôde afi rmara infinitude do universo sem temor do descontrole "caótico"(dos antigos) ou da alteridade absoluta divina (dos medjevajs);e é exatamente este o momento em que inicia propriamentea modernidade. Assim, a "objetificação-neutraljzação" é o próprio exer cício da inteligência, enquanto este exercício visa a preservação de sua segurança original: sua referencialidade em torno ao núcleo auto e heteroidentificante. É por isso que se tem considerado tradicionalmente a inteligência como avessa a condicionalidades que atenuam sua agudeza identificante. Ili Da neutralização da diferença à dignidade da alteridade a) Pó e cinzas Ap6s ela (a filosofia) haver recolhido tudo em si ... 0 ser humano descobre subitamente que ele ... ainda está aqui ... Eu, p6 e cinzas, eu ainda estou aqui. (ROSENZWEIG, Franz. Zweistromland - Kleine-re Schriften ztt Glauben und Denken, p. 359) Três "passos", na verdade dimensões interpe�etrantes d mo grande "movimento", foram anteriormente e um mes ... 'd "definição definitiva" da imposs1b 1hdade do sugen os: a _ diferente do sei� ou melhor, do diferente que ser; a ob�essao I d -0 da temporalidade incontrolável e sua mcor-pe a etença . .. l" - uma espacialidade cósmica ou lógica controláve ; poraçao em . . _ . . . fi las quais tais obJellvos sao aung1dos, ou SeJa, e as ormas pe _ · d d "chancela neutralizante" que se apoem a tat os mo os e - - d cor . ta e que pretendem, com isso, a ev1taçao a re -conqms s . . .. ,, do arência da situação mais ongmaJ de caos , quan 40 1 CARLOS ALBERTO MOUNARO, FERNANDA LUIZA fONTOURA DE MEDEIROS, INGO WOLFGANG SARLET. TIAGO fENSTERSEIFER (ORGANIZADORES) diferença era real e não apenas lógica e metodológ· C . . . 1ca. ornisso, toda realidade nada mais é do que uma quest-" h . " h . ao de con ec1mento , e con ec1mento organizado. em torno àprocura daqmlo que temos chamado de "verdad 1 · , · - . e so Jtana",a correlaçao entre um mtelecto cognoscente e um "ob'eto"de sua atenção cognitiva. � Sintetizemos, portanto, o até aqui exposto: 1.? �ode�o ocidental de pensamento, sua dinâmica,eJaex origine um g d d . ran e arco e poderosa afirmati-vidade, provocado 1 e: . . pe O rato ongmante de que antesde tudo, dá-se d · fi fil ª 1 erença: todo pensamento toda1 osofia, toda ciê · � , . ' O l ncia tem a1 sua ongem mais remota.ogos tem aí se , . bi u unico e real problema, o pro-ema em relação uma a· _ ao qual todos os outros assumemimensao sec d , . que part . . un ana, e a inteligência comoe1med1atam (ainda) in , . ente para a conquista desta terracognua 2 · Tal se dá ao 1 · , ongo d t ticação da 1 ° empo, pela paulatina domes-que es ele . no grand mentos que podem introduzn�, e corpo d h . duvida· 0 ° con ec1mento a sombra da· extra 1 ' extrapolar d po ar de categorias - "não-ser"; oacontrol b·1· e desagreg ª 1 idade - o tempo que passal' a o tod . . . 1dade" norm o, e o extrapolar da "intelig1b1-do ai - alg · conhecim O que, atraindo as energiasPo ·b. . ento, dá-ssi Ihdade se por fora ou para além dass Puras d ;;;-_--.____ 0 conhecimento. 16 - t. importa� de a, nte que s em e 9urne ntaçào n: P erceba que hnh Ontraponto ª0 Subsurn n.os é Perfeita . · a ª determina ª esta Qrand e as infinitas . rnente claro que esta linha simplificadas Variações nad nte da civili,aç: dinàrnica· rn vªa"ªntes que, a cada passo se estabelecem a rn · • ao · · s o • deª 1ssão do ocidental é a a _qu e se quer destacar é que a gran que desvios cirna exposta para a qual i·ustamente, neces · ' sitados de correção. A DIGNIDADE DA VIDA E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS PARA ALÉM DOS I HUMANOS UMA DISCUSSÃO NECESSÁRIA 41 As últimas energias positivadas deste espírito identificantese dão, na forma exposta, à época dos grandes sistemastotalizantes do pensamento - até pelo menos meados doséculo XIX. É a partir daí que um grande processo decorrosão interna tem origem.17 E se o logos se traduz emhabilidade extrema na dimensão que identifica as diferenças"externas", tal não se dá no que se refere aos grandes problemas internos da cultura na qual se move; e o problemaque então se propõe é de tal ordem que a totalidade demecanismos legitimadores da positividade da procura écolocada em questão. A partir da segunda metade do século XIX, pelo menos, o grande problema já se conforma inequi vocamente: dá-se a percepção de que, a um Eu claro e distinto, contrapõem-se os "eus" sombrios e indistintos, atuantes do psiquismo "subterrâneo"; a uma compreensão essencialista e formal da realidade, contrapõe-se uma visão "evolutiva", onde o tempo, por tantos séculos recalcado, faz sua reentrada triunfal; a uma matemática "natural", a uma geometria intuitiva, contrapõem-se geometrias "arti ficiais", que nem por isso têm menos validade matemática do que a euclidiana; a uma música tonal, e, portanto, formalmente controlável a priori, contrapõe-se o princípio de desagregação da tonalidade, que conduzirá fatalmente a sendas desconhecidas; a uma arte figurativa "realista", contrapõem-se uma multiplicidade de estilos, que_ c�iamrealidades diferentes daquelas retratadas pela trad1çao; a uma literatura formalmente bem-comportada, propõe-se uma constmção literária infinitamente variável; a uma ciência b · da contrapõe-se uma "ciência" essencialmenteem-orgamza , l.d d, & desagregaçáo· sobre as fronteiras do pensamento e suas " Cf. SOUZA. Tota r a e alternativas, p. 15-29. 42 1 ANDA LUIZA FONTOURA DE MEDEIROS. CARLOS ALBERT O MOUNAAO. �� R �ENSTERSEIFER (ORGANIZADO RES) INGO WOtlGANG SARLH. TI A . · d Tudo parece fugir ao controle: espaço paramdetermma a. · to do grande Medo. 18 Penetra-se, de corpo eO surgimen . alma, na imensa crise civilizatóna na qual estam os mergu- lhados. Na esteira de Rosenzweig, somos obrig ados a constatar: filosofias surgiram, filosofias desapareceram e nós, "pó e cinzas", (ainda) estamos aqui. Após séculos de otimismo e de pretensa obviedade do sentido, a questão do sentido dos sentidos pressupostos pela inteligência do real se re-propõe com inusitada violência, uma violência que é uma contrapartida à altura da violência identificante que habita a raiz da racionalidade solitária, o coração do logos em sua dimensão ancestral. b) Crises, arqueologias e novas descobertas: finitude e temporalidade19 As formas de resistir a tal embate são variadas; desde O consetvadorismo filosoficamente inócuo porém cultural-mente impiedoso t' 1 · · ' · d . , a e arqueo ogias radicais em busca amelhor cncunscriç- d - . . ao a questao do sentido conforme acima sugenda e desde · '. uma vigorosa retrovisão arcaizante ate prospectivas inusit d nenh ª as no encalço do Novo. O fato é que um pensador d · d pensar· igno este nome, no século XX, pode ignorando esta . Totalidade d . situaçao de crise, de colapso de uma . e sentido A t 1. d tnunfal no · empora idade faz sua reentra acampo do , 1 possível igno , _1 . possive , e no século XX já não e dº ra a. esta - . iscursos filosóficos nao-ignorância é o proprium doscontemporâneos. ;;;:;-:::--__(! · nosso M " etamortose . Cf .. a respeito d e extinção: sobr no .Pensament�i�tema geral, nossos Fo e Kafka e a patologia do tempo. raoonalidade éti sófico moderno ntes do humanismo latino: a condição humana ca no séc I e contemp â · da u o XX. or neo e Razões plurais: itinerários A DIGNIDADE DA VIDA E os DIREITOS FUNDAMENTAIS PARA ALÉM DOS HUMANOS: UMA OISCUSSÃO NEass.lJuA 1 43 Com o Tempo, ressurge a Diferença: com o colapso do Conceito identificante, que retira da alteridade apenas e tão somente aquilo que é intelectualmente compreensível, reassume seu lugar a questão da Alteridade real enquanto dimensão que não pode ser, simplesmente, representada ou mesmo "intelectualizada", mas remete às profundezas de uma "indeterminação" original, onde nada é suficien temente "claro", porque a clareza não é a questão original, mas, exatamente, é a diferença que é a questão original. A percepção da radicalidade deste problema não escapa a alguns contados pensadores extremamente agudos: todos sabem que precisam se ver seriamente com este problema. Investem na dilatação da estrutura original de compreensão do real. Filósofos os mais diversos concentram o melhor de suas energias em torno a este problema. Suas soluções variadas contemplam paradoxalmente inquie tações de origem bastante semelhantes, que são propriamente as inquietações filosóficas da contemporaneidade. 20 Conhecemos a história da filosofia contemporânea: a reproposição da questão original da temporalidade é com preendida inicialmente como finitude o� mesm� �om� náusea, assim como a emergência da altendade ongmal e compreendida como negatividade; 21 n:�ª impede que s_e consubstancie um novo terreno prop1c10 a novas cami- nhadas e novas descobertas. . Na particularidade da fenomenologia e d� suas_ den- - H l "resolve" a questão da intenc10nahdadevaçoes, usser intelectual, reabrindo o campo da imponderabilida de do real; -------. _ mpreensiva especialmente em nossos livros To talidade & 'º Defendemos esta pos1çao 'º. . . desagregação ... e Sujeito, ét,ca e h1sr. ó�1ad . � da percepção". ln: SOUZA. Totalidade &21 cf. nosso ensaio "Sartre e ª ambigu, ª desagregação ... , op. cit., P· 81 • 1 OO. I RLOS ALBERTO MOUNARO, FERNANOA LUIZA FONTOURA DE MEDEIROS, 44 �GO WOlfGANG SARLET, TIAGO FENSTERSEIFER (ORGANIZADORES) e, como vimos, Heidegger supera a tradicional proposiçãológica da diferença " invertendo-a" e "positivando-a"enquanto diferença ontológica.22 Está refeito um terrenofilosófico que se presta a uma re-aproximação filosófica daquestão da diferença. e) A reafirmação da dignidade da Alteridade . s_uperamos, porém, a etapas das ingenuidades bemmtenC1on�d�s_: se há uma lição que dois mil e quinhentosanos �e h1st?na e de filosofia bem nos ensinam, é a de ue pela via do mtelecto ilumi . q 'do ·1 · d nante, podemos ir até os limites 1 umma o pelo int I e ecto, e não mais além. 23 Se isto é oque concebemos como d . de pensar e d sen ° ª totalidade das possibilidadeso conceber então h limites da filosofi ' e egamos realmente aos1a e ao fim da h · t , da primeira fras d Ã.r • is ona; se, porém, ao estilob e a ivegatzve D. l k .k d emos aí . ia e ti e Adorno perce-uma un1lateralid d . ' uma estranha . a e que envia por sua vez a. , e provocativa b ·d consc1encia" 24 ° scun ade, a uma "ma' a uma outra h · , · tempo da sincroni _ istona, a um outro tempo que oou a, entao estam I sar enfrentar . os ta vez preparados parad - o receio do d esvao, do fulcro qu ... . esencontro, do paradoxo, docone · e 10c1de" enos. Desde a . na construção do corpo dosem out Cinza da era d , ros termos fi as catastrofes, 25 estaremos,, inalment e preparados para retornar à � máquina ci Husserl e Heide " Cf so o tempo: estud 99er: motivações u�d E UZA. Das neue D os de filosofia e Pó e arqueo-logias. ln: SOUZA. o tempo e a 16 . rnrnanuel Le . en�en Und d' s-modernidade g1ca do se . v1nas irn Ze ie Ermoglich . '' Cf. LEViNA ntida ao sentido � trurn der Ereigni u �g des Friedens - Franz Rosenzweig alteridade S. A tonsciênc· _ª lógica; Levinat se es 20. Jahrhunderts, p. 590 ss. "Da "Cf. SELiGM ia "ªº·intencional 1 � ncontra Platão, entre outros. (Org.), Catã ANN-SILVA. Ah. · n. LEVINAs. Entre nós: ensaios sobre a strofe e R IStória e epresen ta - orna trauma I Çao, P. 73.ga. ' n:
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